Li Ilusões Perdidas há vários anos mas o livro de Balzac ficou marcado em minha memória para sempre: tornou-se um dos meus favoritos. E seu personagem principal, o ambicioso Lucien de Rubempré tornou-se inesquecível. Não sei quão fiel o diretor Xavier Giannoli foi à obra escrita, mas o que vi na tela me agradou bastante. Cinema francês sempre mostrando que é um dos melhores do mundo. O público agradece.
Começa bem, com escritor com dificuldade para terminar seu livro e uma jovem querendo entrevistá-lo para poder escrever sua tese sobre ele, o relacionamento com a filha etc. Mas depois tudo descamba para os relacionamentos amorosos -- envolvimento entre a jovem e o velho escritor, da filha com um antigo namorado etc. Interesse decai sensivelmente porque vira uma história apenas mediana.
Quis ver depois de O Homem do Norte, em exibição nos cinemas e grande sucesso de bilheteria. Ambos os filmes partem de uma mesma lenda nórdica sobre vingança em família, basicamente. Hamlet é pouco mais que teatro filmado, porque Olivier quis realçar a palavra de Shakespeare, coisa na qual o inglês era mestre, e se deu muito bem. Eggers valorizou a ação e a violência e contou com muitos recursos técnicos, que enchem os olhos do espectador. Olivier provoca reflexão, Eggers valorizou a ação. Foi interessante conhecer as duas versões, uma logo após a outra.
OK, tecnicamente o filme impressiona, mas me pareceu muito violento, com muito sangue escorrendo e pouco conteúdo que se aproveite além do visual. Porque essa história de vingança é bastante conhecida e o diretor não acrescentou muita coisa a ela que atingisse nosso intelecto, não apenas nosso olhar. Melhor cena não tinha nada a ver com luta ou coisa parecida: é o encontro, pela primeira vez, depois da morte do pai, entre Amleth e a mãe, onde esta revela tudo o que se passou então, sua participação nos acontecimentos, o que ela pensava do marido, sua relação com o irmão dele etc. Aproveitando essa mesma lenda nórdica Shakespeare escreveu uma das peças mais importantes da história do teatro, Hamlet. Acho que a diferença entre o talento do diretor Eggers e o de Shakespeare não precisa de explicação. Ou precisa?
Gostei bastante quando vi, especialmente pelo desempenho de suas atrizes. Os filmes de Reichenbach se não eram ótimos eram muito bons. Ele trazia para a tela temas não muito explorados por outros cineastas, seus contemporâneos, caso desse retrato da periferia e o trabalho das professoras. Única coisa desagradável nessa obra é a presença do petista José de Abreu, papagaio de pirata da estocadora de vento e do ex-presidiário amigo do criminoso Putin.
Gostei do título brasileiro, um trocadilho que funcionou muito bem aqui. Filme bastante simpático, história leve (exceto quando o pai do JR estava em cena) e sempre interessante, quase tanto quanto o livro em que foi baseado (J. R. Moehringer já ganhou até um Pulitzer em 2000 por uma reportagem para o Los Angeles Times). Essa é uma história autobiográfica: o livro tem o subtítulo de As memórias de um menino adotado pelo bar da esquina, que é mais ou menos isso mesmo o que ocorre com JR, que na ausência do pai, tem no tio e nos amigos dele, pessoas singulares, modelos masculinos de comportamento. Trilha sonora muito boa (destaque para Paul Simon com a ótima 50 ways to leave your lover), ótimos atores, especialmente o menino Ranieri e o jovem Sheridan, apesar de nem um pouco parecidos. Mas não se pode ter tudo...
Não parece tanto assim Montana (EUA), porque foi filmado em Otago (Nova Zelândia), não se parece com um western porque no fundo é um intenso drama psicológico etc. E o título brasileiro, Ataque dos cães? Na verdade seria o cão (no singular) do original uma referência a um salmo bíblico (22:20), com várias traduções (interpretações?). Tem essa que parece remeter melhor ao filme: “Livra-me da espada, e a minha vida do poder do cão.”, que está citada no início do livro. Cães, conforme o título brasileiro, pode ser entendido aqui como inimigos: os inimigos de Rose, de Peter, de ambos, do próprio Phil, seria isso.
Continuando: a história contém certo homoerotismo que poderia resultar em sexo, mas que acaba em vingança, vingança contra o "cão" e por aí vai. Ótimos atores num filme em que Campion, segundo críticas estrangeiras que li, teria desfigurado um um pouco o livro O Poder do Cão, de Thomas Savage, no qual foi baseado. Como li o livro, posso afirmar que todos os elementos principais da obra escrita foram transportados para a telona. Mas é claro que várias histórias e subtramas foram eliminadas senão o filme teria umas cinco horas de duração. E o livro de Savage é ótimo, não precisa de nenhuma explicação, ao contrário de certas passagens do filme.
Cinco estrelas para este filme é pouco. Se não tivesse levado o Oscar 2012 de produção estrangeira teria sido uma tremenda injustiça. Um filme que surpreende do começo ao fim, envolvente, cheio de tensão. Do mesmo diretor (e com o mesmo ator), também imperdível é Procurando Elly (2009), que mexe com nossos nervos. Tem que ver os dois.
Não penso que seja dos melhores do Farhadi; me pareceu mediano ou pouco mais que isso, menos interessante do que O Passado (2013), O Apartamento (2016) e Todos já Sabem (2018). Também é uma história longa demais, além de não ser lá muito envolvente como outros filmes que vi dele - os melhores sendo À Procura de Elly (2009) e A Separação (2011), ambos imperdíveis. Um Herói é uma história sobre moralidade girando em torno daquela ideia de que se algo está ruim, uma mentira mesmo que bem intencionada pode tornar a coisa pior ainda (ou mais enrolada ainda, como ocorre aqui). Dos candidatos estrangeiros que vi para o Oscar 2022, A Mão de Deus (Itália) continua imbatível. Espero que ganhe.
Sem Coca-Cola, cigarros e outras coisas e pessoas (cada um pode fazer uma lista e sonhar) o mundo poderia ser melhor mesmo, mas sem os Beatles, nunca. Yesterday não é uma história sensacional, porém cativa por ser romântica e comicamente leve, mas especialmente por sua trilha sonora, com tantas canções fenomenais. Não tem pinta de filme cult, não se tornará inesquecível e certamente será reprisado muitas vezes em sessões da tarde no futuro.
Filmes do Wes Anderson costumam ser uma festa, desta vez em Paris, principalmente. Mas o bolo tinha excesso de recheio e cobertura: muitos atores famosos, muitas histórias, muitos elementos cênicos, muita narração, enfim, muito tudo no que prestar atenção e não dava tempo. Ainda por cima, Tilda Swinton falando rapidamente muito tempo, nem dava para ler as legendas, fora que alguns episódios eram aborrecidos mesmo. Acho que desta vez WA pisou no chantili. As melhores coisas: as cores e os cenários remetiam diretamente para a essência da França, impossível não apreciar, assim como algumas canções na trilha sonora. A nudez de Léa Seydoux, por si só, é uma obra de arte. O resto enjoou um pouco. Saudades de O Grande Hotel Budapeste...
Um filme de estrada, só que ferroviário na maior parte. Dois singulares personagens centrais - a pesquisadora finlandesa e o rapaz russo - duas coadjuvantes interessantes - a inspetora do trem e a senhora idosa com seu gato -, muita neve e frio e uma improvável amizade inicial. O rapaz parece ter problemas afetivos, a finlandesa parece insegura no seu relacionamento. E se recupera rapidamente do roubo de um objeto que lhe era imensamente importante, depois nem mais é mencionado. Algumas cenas finais compensam, mas no geral o filme não empolga muito. Dos estrangeiros selecionados para o Oscar 2022, os que vi, ainda acho que A Mão de Deus (Itália) é imbatível.
Quem aprecia verdadeiramente cinema, conhece um pouco de sua história, principalmente filmes e diretores europeus, gosta de diálogos curtos e espirituosos, belas paisagens e cenários, boa trilha sonora, histórias de amor e traição etc., não pode achar esse filme ruim. Se achar estará dizendo muito mais sobre si mesmo, suas limitações como espectador, do que sobre o criador Woody Allen. Se não apreciou, tem de dizer a razão concretamente e não malhar o filme e seu diretor. OK, Wallace Shawn (papel de Mort Rifkin) não era o melhor ator para interpretar o papel principal do filme, mas certamente pelo boicote de outros atores a Woody Allen, foi o que ele conseguiu para essa produção. O Festival do Amor é tão interessante quanto Desconstruindo Harry (1997) ou Meia-Noite em Paris (2011), por exemplo? Não, mas é muito bom, acima da média e isso muitos espectadores irão reconhecer.
Muito bom esse documentário sobre o festival de música negra no Harlem em 1969, mesmo ano em que ocorreu o de Woodstock, esse sim celebrado e conhecido no mundo todo. Fica claro que os negros americanos têm o que comemorar sempre, porque sua música e seus artistas deram ao mundo uma contribuição inigualável. Filme não é perfeito, mas cumpre sua função de resgatar fatos históricos e registrar a tensão racial que eletrizava certos artistas, como Nina Simone.
OK, produção legal, direção, fotografia, trilha sonora, referências a Hollywood (quer dizer, amor ao cinema), ótimos atores - e a melhor coisa do filme é mesmo o garoto Jude Hill e o foco do diretor na história do menino, já que a luta entre protestantes e católicos tomaria muito tempo se se tornasse o objeto do filme - tudo em cima, mas essa obra semiautobiográfica de Kenneth Branagh não é lá muito empolgante, não. Infelizmente.
História com certo mistério, com algumas reviravoltas, mas não prestei atenção suficiente para perceber se comete deslizes, porque nesse tipo de filme é bem fácil incorrer em erro ou malandragem para enganar o espectador. Desconfio que há umas duas cenas que entram nessa categoria, ou então seriam clichês comuns em filmes desse tipo. Mas dá para levar até o final.
Penso que a melhor coisa desse filme vietnamita é mesmo a fotografia, além da raridade de de ver por aqui uma obra desse país, passada grande parte do tempo entre belos arrozais e cursos d'água. Apesar de simpático em diversos trechos, a história que conta é bem fraquinha, cheia de clichês, sempre está chovendo quando ocorre algo dramático etc. Pra ver (quem consegue ir até o fim) e depois esquecer.
Li agora o conto homônimo em que o filme foi baseado (faz parte do livro Homens sem Mulheres) e tenho de reconhecer que a adaptação cinematográfica ficou melhor do que o original. Porque o diretor incluiu outros personagens que não existem no livro, remoçou o amante da mulher do diretor e colocou praticamente uma peça teatral inteira (ou grande parte dela, não sei bem), Tio Vânia, de Anton Tchekhov dentro do filme (no livro a peça é mencionado apenas uma ou duas vezes). Sem os trechos de Tio Vânia, ensaios e representação, Drive My Car não seria tão longo, mas daí perderia parte de seu fascínio sobre o espectador. Já li algum Murakami, além desse conto, mas não sou grande fã dele, como também não apreciei o filme todo, tive de vê-lo em 3 partes, mas no geral achei bom, quatro estrelas depois de compará-lo com o que li no livro.
Americanos não gostam lá muito de filmes com legendas; apenas uma minoria mais culta prestigia filmes estrangeiros ou um arrasa-quarteirão tipo Parasita (2019). Daí que temos essa refilmagem de um simpático filme francês de 2014 - A Família Bélier -, dirigido por Eric Lartigau, que é superior a esse CODA - No Ritmo do Coração. Quando se trata de grana, não tenha dúvida de que os americanos se esforçam mais do que os franceses para obtê-la, isso sem falar de marketing. Daí o sucesso de CODA, que daqui a algum tempo certamente estará sendo exibido em sessões da tarde de dias chuvosos.
Anos atrás li o livro de Emile Ajar, pseudônimo de Romain Gary, que é ótimo, Toda a Vida Pela Frente, recomendo. Já foi adaptado para o cinema uma vez e em 1978 venceu o Oscar de filme internacional. Tinha a grande atriz francesa Simone Signoret como madame Rosa. Aqui, Paris virou Bari (Itália) e temos outra grande atriz, a italiana Sophia Loren, dirigida pelo próprio filho, Edoardo Ponti, numa adaptação modernizada para os dias de hoje, que também não desmerece o livro que a originou. Ator que faz Momo é perfeito. De quebra ainda tem Elza Soares na trilha sonora. Tá muito bom assim.
Revisto na pandemia de 2020. Bem, aceitemos que McGregor (Ian) e Farrell (Terry) sejam irmãos, filhos do mesmo pai e mãe, mesmo sendo tão diferentes facialmente (o que não é impossível, embora meio raro). O título do filme aponta para uma tragédia grega e é da mesma fase dramática de Woody Allen do ótimo Match Point (2005). Ele se dá bem em comédias, romances e dramas e não é diferente aqui. Filme não envelheceu, continua interessante e é um bom exemplo de que a ambição desmedida pode conduzir as coisas para um final trágico.
Não vou avaliar com estrelas porque não vi inteiro, mas provavelmente daria apenas 2,0/5,0. Parei de ver depois de mais ou menos 1h10min. Desconhecendo a música indiana (e não apreciando o que ouvi; provavelmente hindus também achariam estranho forró, sertanejo etc.) e não tendo meu interesse despertado pela história narrada, muito pelo contrário, achei melhor não continuar. Vejo poucos filmes indianos, mas ano passado gostei bastante de O Tigre Branco, que era movimentado, tinha comédia e drama, tudo junto e misturado. O que vi de O Discípulo achei tremendamente aborrecido.
Filme é sobre recomeços, novas formas de amor, sexo reprimido, preconceito, compaixão etc., mas esses temas já foram desenvolvidos de forma melhor por outros cineastas, por outros filmes, com mais verossimilhança, com um roteiro mais sólido, mais realista. Traídos Pelo Desejo (1992), de Neil Jordan, com quem Deserto Particular dialoga, é muito mais impactante e interessante do que o filme de Muritiba, que foi preterido no Oscar deste ano. Ficaria difícil competir com The Hand of God (Itália), que é ótimo, Drive My Car (Japão), que é muito bom, assim como I'm Your Man (Alemanha) e mesmo com um filme ingênuo mas simpático como Lunana (Butão).
Pareceu-me logo nas primeiras cenas que A Mão de Deus seria assim uma espécie de Amarcord (1973) - de Federico Fellini, realizador muito citado no filme (assim como outro cineasta contemporâneo dele, Franco Zeffirelli, mas com temática diferente) - um pouco menos poético do que aquele na segunda parte, mas igualmente cativante. Traz Nápoles e os tempos de Maradona no time local em vez de Rimini (terra de Fellini); senti nele um forte candidato ao Oscar neste ano, superior ao badalado A Pior Pessoa do Mundo (Noruega) e competindo com o Drive My Car (Japão).
Ilusões Perdidas
3.9 22 Assista AgoraLi Ilusões Perdidas há vários anos mas o livro de Balzac ficou marcado em minha memória para sempre: tornou-se um dos meus favoritos. E seu personagem principal, o ambicioso Lucien de Rubempré tornou-se inesquecível. Não sei quão fiel o diretor Xavier Giannoli foi à obra escrita, mas o que vi na tela me agradou bastante. Cinema francês sempre mostrando que é um dos melhores do mundo. O público agradece.
Starting Out in the Evening
3.6 3Começa bem, com escritor com dificuldade para terminar seu livro e uma jovem querendo entrevistá-lo para poder escrever sua tese sobre ele, o relacionamento com a filha etc. Mas depois tudo descamba para os relacionamentos amorosos -- envolvimento entre a jovem e o velho escritor, da filha com um antigo namorado etc. Interesse decai sensivelmente porque vira uma história apenas mediana.
Hamlet
4.2 79Quis ver depois de O Homem do Norte, em exibição nos cinemas e grande sucesso de bilheteria. Ambos os filmes partem de uma mesma lenda nórdica sobre vingança em família, basicamente. Hamlet é pouco mais que teatro filmado, porque Olivier quis realçar a palavra de Shakespeare, coisa na qual o inglês era mestre, e se deu muito bem. Eggers valorizou a ação e a violência e contou com muitos recursos técnicos, que enchem os olhos do espectador. Olivier provoca reflexão, Eggers valorizou a ação. Foi interessante conhecer as duas versões, uma logo após a outra.
O Homem do Norte
3.7 935 Assista AgoraOK, tecnicamente o filme impressiona, mas me pareceu muito violento, com muito sangue escorrendo e pouco conteúdo que se aproveite além do visual. Porque essa história de vingança é bastante conhecida e o diretor não acrescentou muita coisa a ela que atingisse nosso intelecto, não apenas nosso olhar. Melhor cena não tinha nada a ver com luta ou coisa parecida: é o encontro, pela primeira vez, depois da morte do pai, entre Amleth e a mãe, onde esta revela tudo o que se passou então, sua participação nos acontecimentos, o que ela pensava do marido, sua relação com o irmão dele etc. Aproveitando essa mesma lenda nórdica Shakespeare escreveu uma das peças mais importantes da história do teatro, Hamlet. Acho que a diferença entre o talento do diretor Eggers e o de Shakespeare não precisa de explicação. Ou precisa?
Anjos do Arrabalde
3.8 34Gostei bastante quando vi, especialmente pelo desempenho de suas atrizes. Os filmes de Reichenbach se não eram ótimos eram muito bons. Ele trazia para a tela temas não muito explorados por outros cineastas, seus contemporâneos, caso desse retrato da periferia e o trabalho das professoras. Única coisa desagradável nessa obra é a presença do petista José de Abreu, papagaio de pirata da estocadora de vento e do ex-presidiário amigo do criminoso Putin.
Bar Doce Lar
3.5 132 Assista AgoraGostei do título brasileiro, um trocadilho que funcionou muito bem aqui. Filme bastante simpático, história leve (exceto quando o pai do JR estava em cena) e sempre interessante, quase tanto quanto o livro em que foi baseado (J. R. Moehringer já ganhou até um Pulitzer em 2000 por uma reportagem para o Los Angeles Times). Essa é uma história autobiográfica: o livro tem o subtítulo de As memórias de um menino adotado pelo bar da esquina, que é mais ou menos isso mesmo o que ocorre com JR, que na ausência do pai, tem no tio e nos amigos dele, pessoas singulares, modelos masculinos de comportamento. Trilha sonora muito boa (destaque para Paul Simon com a ótima 50 ways to leave your lover), ótimos atores, especialmente o menino Ranieri e o jovem Sheridan, apesar de nem um pouco parecidos. Mas não se pode ter tudo...
Ataque dos Cães
3.7 932Não parece tanto assim Montana (EUA), porque foi filmado em Otago (Nova Zelândia), não se parece com um western porque no fundo é um intenso drama psicológico etc. E o título brasileiro, Ataque dos cães? Na verdade seria o cão (no singular) do original uma referência a um salmo bíblico (22:20), com várias traduções (interpretações?). Tem essa que parece remeter melhor ao filme: “Livra-me da espada, e a minha vida do poder do cão.”, que está citada no início do livro. Cães, conforme o título brasileiro, pode ser entendido aqui como inimigos: os inimigos de Rose, de Peter, de ambos, do próprio Phil, seria isso.
Continuando: a história contém certo homoerotismo que poderia resultar em sexo, mas que acaba em vingança, vingança contra o "cão" e por aí vai. Ótimos atores num filme em que Campion, segundo críticas estrangeiras que li, teria desfigurado um um pouco o livro O Poder do Cão, de Thomas Savage, no qual foi baseado. Como li o livro, posso afirmar que todos os elementos principais da obra escrita foram transportados para a telona. Mas é claro que várias histórias e subtramas foram eliminadas senão o filme teria umas cinco horas de duração. E o livro de Savage é ótimo, não precisa de nenhuma explicação, ao contrário de certas passagens do filme.
A Separação
4.2 725 Assista AgoraCinco estrelas para este filme é pouco. Se não tivesse levado o Oscar 2012 de produção estrangeira teria sido uma tremenda injustiça. Um filme que surpreende do começo ao fim, envolvente, cheio de tensão. Do mesmo diretor (e com o mesmo ator), também imperdível é Procurando Elly (2009), que mexe com nossos nervos. Tem que ver os dois.
Um Herói
3.9 54 Assista AgoraNão penso que seja dos melhores do Farhadi; me pareceu mediano ou pouco mais que isso, menos interessante do que O Passado (2013), O Apartamento (2016) e Todos já Sabem (2018). Também é uma história longa demais, além de não ser lá muito envolvente como outros filmes que vi dele - os melhores sendo À Procura de Elly (2009) e A Separação (2011), ambos imperdíveis. Um Herói é uma história sobre moralidade girando em torno daquela ideia de que se algo está ruim, uma mentira mesmo que bem intencionada pode tornar a coisa pior ainda (ou mais enrolada ainda, como ocorre aqui). Dos candidatos estrangeiros que vi para o Oscar 2022, A Mão de Deus (Itália) continua imbatível. Espero que ganhe.
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0KSem Coca-Cola, cigarros e outras coisas e pessoas (cada um pode fazer uma lista e sonhar) o mundo poderia ser melhor mesmo, mas sem os Beatles, nunca. Yesterday não é uma história sensacional, porém cativa por ser romântica e comicamente leve, mas especialmente por sua trilha sonora, com tantas canções fenomenais. Não tem pinta de filme cult, não se tornará inesquecível e certamente será reprisado muitas vezes em sessões da tarde no futuro.
A Crônica Francesa
3.5 286 Assista AgoraFilmes do Wes Anderson costumam ser uma festa, desta vez em Paris, principalmente. Mas o bolo tinha excesso de recheio e cobertura: muitos atores famosos, muitas histórias, muitos elementos cênicos, muita narração, enfim, muito tudo no que prestar atenção e não dava tempo. Ainda por cima, Tilda Swinton falando rapidamente muito tempo, nem dava para ler as legendas, fora que alguns episódios eram aborrecidos mesmo. Acho que desta vez WA pisou no chantili. As melhores coisas: as cores e os cenários remetiam diretamente para a essência da França, impossível não apreciar, assim como algumas canções na trilha sonora. A nudez de Léa Seydoux, por si só, é uma obra de arte. O resto enjoou um pouco. Saudades de O Grande Hotel Budapeste...
Compartimento Nº 6
3.8 38Um filme de estrada, só que ferroviário na maior parte. Dois singulares personagens centrais - a pesquisadora finlandesa e o rapaz russo - duas coadjuvantes interessantes - a inspetora do trem e a senhora idosa com seu gato -, muita neve e frio e uma improvável amizade inicial. O rapaz parece ter problemas afetivos, a finlandesa parece insegura no seu relacionamento. E se recupera rapidamente do roubo de um objeto que lhe era imensamente importante, depois nem mais é mencionado. Algumas cenas finais compensam, mas no geral o filme não empolga muito. Dos estrangeiros selecionados para o Oscar 2022, os que vi, ainda acho que A Mão de Deus (Itália) é imbatível.
O Festival do Amor
3.3 45 Assista AgoraQuem aprecia verdadeiramente cinema, conhece um pouco de sua história, principalmente filmes e diretores europeus, gosta de diálogos curtos e espirituosos, belas paisagens e cenários, boa trilha sonora, histórias de amor e traição etc., não pode achar esse filme ruim. Se achar estará dizendo muito mais sobre si mesmo, suas limitações como espectador, do que sobre o criador Woody Allen. Se não apreciou, tem de dizer a razão concretamente e não malhar o filme e seu diretor. OK, Wallace Shawn (papel de Mort Rifkin) não era o melhor ator para interpretar o papel principal do filme, mas certamente pelo boicote de outros atores a Woody Allen, foi o que ele conseguiu para essa produção. O Festival do Amor é tão interessante quanto Desconstruindo Harry (1997) ou Meia-Noite em Paris (2011), por exemplo? Não, mas é muito bom, acima da média e isso muitos espectadores irão reconhecer.
Summer of Soul (...ou, Quando A Revolução Não Pôde Ser …
4.3 61 Assista AgoraMuito bom esse documentário sobre o festival de música negra no Harlem em 1969, mesmo ano em que ocorreu o de Woodstock, esse sim celebrado e conhecido no mundo todo. Fica claro que os negros americanos têm o que comemorar sempre, porque sua música e seus artistas deram ao mundo uma contribuição inigualável. Filme não é perfeito, mas cumpre sua função de resgatar fatos históricos e registrar a tensão racial que eletrizava certos artistas, como Nina Simone.
Belfast
3.5 291 Assista AgoraOK, produção legal, direção, fotografia, trilha sonora, referências a Hollywood (quer dizer, amor ao cinema), ótimos atores - e a melhor coisa do filme é mesmo o garoto Jude Hill e o foco do diretor na história do menino, já que a luta entre protestantes e católicos tomaria muito tempo se se tornasse o objeto do filme - tudo em cima, mas essa obra semiautobiográfica de Kenneth Branagh não é lá muito empolgante, não. Infelizmente.
Na Parte Inferior da Floresta
3.1 5 Assista AgoraHistória com certo mistério, com algumas reviravoltas, mas não prestei atenção suficiente para perceber se comete deslizes, porque nesse tipo de filme é bem fácil incorrer em erro ou malandragem para enganar o espectador. Desconfio que há umas duas cenas que entram nessa categoria, ou então seriam clichês comuns em filmes desse tipo. Mas dá para levar até o final.
Dreamy Eyes
3.3 5Penso que a melhor coisa desse filme vietnamita é mesmo a fotografia, além da raridade de de ver por aqui uma obra desse país, passada grande parte do tempo entre belos arrozais e cursos d'água. Apesar de simpático em diversos trechos, a história que conta é bem fraquinha, cheia de clichês, sempre está chovendo quando ocorre algo dramático etc. Pra ver (quem consegue ir até o fim) e depois esquecer.
Drive My Car
3.8 381 Assista AgoraLi agora o conto homônimo em que o filme foi baseado (faz parte do livro Homens sem Mulheres) e tenho de reconhecer que a adaptação cinematográfica ficou melhor do que o original. Porque o diretor incluiu outros personagens que não existem no livro, remoçou o amante da mulher do diretor e colocou praticamente uma peça teatral inteira (ou grande parte dela, não sei bem), Tio Vânia, de Anton Tchekhov dentro do filme (no livro a peça é mencionado apenas uma ou duas vezes). Sem os trechos de Tio Vânia, ensaios e representação, Drive My Car não seria tão longo, mas daí perderia parte de seu fascínio sobre o espectador. Já li algum Murakami, além desse conto, mas não sou grande fã dele, como também não apreciei o filme todo, tive de vê-lo em 3 partes, mas no geral achei bom, quatro estrelas depois de compará-lo com o que li no livro.
No Ritmo do Coração
4.1 751 Assista AgoraAmericanos não gostam lá muito de filmes com legendas; apenas uma minoria mais culta prestigia filmes estrangeiros ou um arrasa-quarteirão tipo Parasita (2019). Daí que temos essa refilmagem de um simpático filme francês de 2014 - A Família Bélier -, dirigido por Eric Lartigau, que é superior a esse CODA - No Ritmo do Coração. Quando se trata de grana, não tenha dúvida de que os americanos se esforçam mais do que os franceses para obtê-la, isso sem falar de marketing. Daí o sucesso de CODA, que daqui a algum tempo certamente estará sendo exibido em sessões da tarde de dias chuvosos.
Rosa e Momo
3.7 302 Assista AgoraAnos atrás li o livro de Emile Ajar, pseudônimo de Romain Gary, que é ótimo, Toda a Vida Pela Frente, recomendo. Já foi adaptado para o cinema uma vez e em 1978 venceu o Oscar de filme internacional. Tinha a grande atriz francesa Simone Signoret como madame Rosa. Aqui, Paris virou Bari (Itália) e temos outra grande atriz, a italiana Sophia Loren, dirigida pelo próprio filho, Edoardo Ponti, numa adaptação modernizada para os dias de hoje, que também não desmerece o livro que a originou. Ator que faz Momo é perfeito. De quebra ainda tem Elza Soares na trilha sonora. Tá muito bom assim.
O Sonho de Cassandra
3.4 232 Assista AgoraRevisto na pandemia de 2020. Bem, aceitemos que McGregor (Ian) e Farrell (Terry) sejam irmãos, filhos do mesmo pai e mãe, mesmo sendo tão diferentes facialmente (o que não é impossível, embora meio raro). O título do filme aponta para uma tragédia grega e é da mesma fase dramática de Woody Allen do ótimo Match Point (2005). Ele se dá bem em comédias, romances e dramas e não é diferente aqui. Filme não envelheceu, continua interessante e é um bom exemplo de que a ambição desmedida pode conduzir as coisas para um final trágico.
O Discípulo
3.3 6 Assista AgoraNão vou avaliar com estrelas porque não vi inteiro, mas provavelmente daria apenas 2,0/5,0. Parei de ver depois de mais ou menos 1h10min. Desconhecendo a música indiana (e não apreciando o que ouvi; provavelmente hindus também achariam estranho forró, sertanejo etc.) e não tendo meu interesse despertado pela história narrada, muito pelo contrário, achei melhor não continuar. Vejo poucos filmes indianos, mas ano passado gostei bastante de O Tigre Branco, que era movimentado, tinha comédia e drama, tudo junto e misturado. O que vi de O Discípulo achei tremendamente aborrecido.
Deserto Particular
3.8 183 Assista AgoraFilme é sobre recomeços, novas formas de amor, sexo reprimido, preconceito, compaixão etc., mas esses temas já foram desenvolvidos de forma melhor por outros cineastas, por outros filmes, com mais verossimilhança, com um roteiro mais sólido, mais realista. Traídos Pelo Desejo (1992), de Neil Jordan, com quem Deserto Particular dialoga, é muito mais impactante e interessante do que o filme de Muritiba, que foi preterido no Oscar deste ano. Ficaria difícil competir com The Hand of God (Itália), que é ótimo, Drive My Car (Japão), que é muito bom, assim como I'm Your Man (Alemanha) e mesmo com um filme ingênuo mas simpático como Lunana (Butão).
A Mão de Deus
3.6 190Pareceu-me logo nas primeiras cenas que A Mão de Deus seria assim uma espécie de Amarcord (1973) - de Federico Fellini, realizador muito citado no filme (assim como outro cineasta contemporâneo dele, Franco Zeffirelli, mas com temática diferente) - um pouco menos poético do que aquele na segunda parte, mas igualmente cativante. Traz Nápoles e os tempos de Maradona no time local em vez de Rimini (terra de Fellini); senti nele um forte candidato ao Oscar neste ano, superior ao badalado A Pior Pessoa do Mundo (Noruega) e competindo com o Drive My Car (Japão).