Embora não seja estupendo quanto A Festa de Babette (Dinamarca, 1987), filme que ficará eternamente marcado pela relação culinária X arte, este O Sabor da Vida é também uma delícia de se acompanhar. Especialmente nos momentos de preparo dos sofisticadíssimos pratos elaborados por Dodin Bouffant (Magimel) e executados por Eugenie (Binoche) e sua auxiliar. Enquanto que em Babette tudo era transparente, aqui não ficamos sabendo se Dodin era um milionário francês que apreciava culinária e oferecia seus banquetes gratuitamente aos amigos e reis, ou outra coisa. No mais, o filme enche os olhos e faz salivar, como em Babette: a fotografia é espetacular nas duas obras.
Revisto recentemente, continua muito interessante: a mistura de literatura (Dostoievski), filosofia (Kant, Kierkegaard, Sartre, Heidegger, Arendt etc.), cinema e crime (Hitchcock) interpretada por atores talentosos (e barrigudos, no caso do Joaquin Phoenix) é o que me faz deixar de lado um bom livro para ficar grudado numa tela de cinema (computador desta vez) por algum tempo. Que venham mais filmes de Woody Allen, inteligentes e espirituosos como este.
Romeno faz parte do grupo latino de línguas, daí que algumas palavras soam parecidas com o nosso português. Também na religião há alguma similaridade, mas os romenos são cristãos ortodoxos em sua maioria. De todo modo o rigor para com os jovens seminaristas deve ser o mesmo nos dois países, então o que interessa é o que eles fazem para quebrar as regras que têm de obedecer estritamente. O início e o final são interessantes, mas o filme é bastante longo e algumas cenas, mesmo diferentes, parecem repetitivas, o que resultou num filme apenas pouco mais que mediano.
Só tem gente estranha nesse filme. Que é muito chato e tem uma trilha sonora abominável. Não vai virar filme cult, porque tá mais pra noncult (isso existe?) mesmo. Não terminei de ver, mas nota 1 está boa demais para ele.
Continuo pensando que meus filmes favoritos de Ceylan permanecem a Arvores dos Frutos Selvagens (2018) e Sono de Inverno (2014). São todos filmes longos, mas que não cansam o espectador porque contam histórias interessantes, têm ótimos atores que dizem longos diálogos que parecem meditações filosóficas por vezes, fotografia esplendorosa, trilha sonora adequada, enfim, são obras que sempre têm algo a nos dizer. Ceylan é fundamentalmente um cineasta humanista, daí que faz filmes que ficam em nossa memória por anos. E que, quando revistos, ainda nos causam muito prazer.
O irlandês (ou inglês) Arthur, com seus poderes de encontrar relíquias ou tesouros arqueológicos na Itália e lidando com ladrões desses objetos e mesmo mercadores de arte, não parece tão deslocado da trama quanto a brasileira interpretada por Carol Duarte. Mas os filmes de Alice Rohrwacher têm não apenas histórias estranhas, personagens também: eles se autoalimentam. E certamente o melhor deles até aqui é Lazzaro Felice (2018).
A sinopse é tão extensa que não tenho o que comentar, exceto que quem vive numa cultura diferente da dos meninos, parece um exagero o tanto que eles discutem religião nesse filme. Se bem que isso parece mais forte no islamismo; em que religião e terrorismo se misturam quando indivíduos radicais se juntam, como na Jihad instalada na Bélgica, de onde partem muitos terroristas para ataques na Europa. E agora temos o Hamas, assassinando crianças e inocentes em Israel, como ocorreu em 7/10/2023. Se adultos permanecessem com suas almas de criança, puras, isso não aconteceria.
Certas cinebiografias, mesmo quando produzidas com inteligência e criatividade, que parece ser o caso de Oppenheimer, podem resultar em tédio e pouca emoção, pouco envolvimento do espectador. O que vai mudar em minha vida se eu souber um pouco mais acerca desse homem e as circunstâncias daquele momento, que repercutem até hoje, ou saber apenas o trivial sobre ele sem, contudo, me aborrecer? Pensando nisso abandonei o filme com uma hora de projeção. Pelo menos Pobres Criaturas era exagerado, fantasioso demais, ao menos deu para ver até o final. Mas espero que ganhe como melhor filme Anatomia de Uma Queda ou Assassinos da Lua das Flores. E até mesmo Os Rejeitados, ora acusado de plágio. De todo modo, qualquer um deles é melhor do que aquela excrescência do ano passado Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, ou aquela bobagem de 2022, No Ritmo do Coração, remake do francês A Família Belier (2014), infinitamente superior que sua adaptação americana.
Baseado em livro de Jaroslav Kalfar essa ficção científica tem momentos interessantes e outros um pouco tediosos (passados na Terra, num centro tcheco para mulheres grávidas). Dá para assistir até o final sem avançar a fita, mas dificilmente eu pensaria em rever o filme no futuro. Tem um Adam Sandler envelhecido num papel dramático, portanto um tanto diferente do ator de comédias que conhecemos, o que prova sua versatilidade, já vista em Joias Brutas, de 2019. Penso que o livro do tcheco Kalfar, sem tradução para o português até o momento, deve ser bem mais interessante que a adaptação para o cinema.
Simpático filme francês passado grande parte em belos cenários ao ar livre, que o valorizou bastante, conta uma história simples mas com dois personagens cativantes, a professora Antoinette e seu burrinho Patrick, meio teimoso mas também amoroso. Agradável e relaxante, parece mostrar que ali naquele recanto da França, as montanhas Cévennes, não se precisava de redes sociais para espalhar fatos ou boatos.
Filme adaptado de uma obra literária, Erasure, de Percival Everett (não traduzida para o português até esta data), tem seus melhores momentos justamente quando trata de literatura, autores, temas, indústria e produtos culturais etc., assuntos que mostram como os americanos tratam a cultura negra no país. Mas perde um tanto de seu vigor quando foca nos relacionamentos familiares e amorosos, cheios de conhecidos clichês (mortes, doenças, conflitos etc.). Tem um bom final (ou finais, porque aqui na ficção tudo é possível) e o ator principal, que eu desconhecia, me pareceu bastante talentoso.
Li o livro homônimo de Martin Amis, no qual o filme foi baseado, e tinha altas expectativas para ele. Literatura é uma coisa, adaptação de livro para o cinema é outra, mas o que vi me pareceu quase irreconhecível. OK, a denúncia da barbárie nazista está lá, mas tanta coisa e personagens foram eliminados da trama original que achei o filme um tanto aborrecido, isso sim.
Visual e tecnicamente impressionante, mas penso que outro diretor tão talentoso quanto Yorgos (lembrei dos filmes de Fellini), sem tanto dinheiro, atores famosos e tecnologia certamente teria feito um filme melhor e mais curto, com muito mais conteúdo. De todo modo, não posso negar que Pobres Criaturas diverte um tanto. Saltburn, que tem certo parentesco com Pobres Criaturas, pelo menos na questão sexual e nos exageros gerais, me pareceu um filme mais interessante. No entanto foi subestimado no Oscar 2024, não tendo indicação a prêmio algum. Coisas de Hollywood...
Não tem muita história, tem uma forte amizade entre um rapaz, Mirales e seu fiel e obediente cão Malabar e também com outro rapaz, Dog, que por momentos parece ser outro cão para Mirales. Este é um pequeno traficante de fumo que sonha em ser chef de restaurante e sente a amizade ameaçada quando uma garota, Elsa, conquista Dog. A amizade deles será posta à prova mais à frente. Os personagens centrais Dog e Mirales são extremamente interessantes, curiosos, e o pensador Montaigne e o escritor alemão Hermann Hesse entram na conversa algumas vezes. Veria novamente um dia.
Melhor coisa é mesmo a interpretação de Souleymane Sy Savane e seu personagem Solo, solidário e não sozinho, como seu nome poderia indicar. Faltou explicar melhor a relação do idoso com o rapaz da bilheteria do cinema. No mais, um filme aborrecido.
Baseado no livro homônimo de Denis Johnson (1949-2017), traz várias histórias sobre drogados, marginalizados e desorientados, narradas por um viciado em heroína por influência da namorada, que depois se manda com outro cara. Ele é apelidado por outro viciado de Fuckhead, ou FH, mas na versão brasileira do livro virou Bostalhão. Coisas absurdas e inimagináveis acontecem em meio ao consumo de muitas drogas, fumo e álcool que incluem traições, brigas, roubos, perdas e mortes, histórias que não seguem uma ordem cronológica e nem sempre terminam de modo tradicional. Elas refletem o estado mental em que se encontra o narrador sob o efeito das drogas e vão fazendo mais sentido à medida que o filme avança porque, de fato, estão todas interligadas. O livro é melhor, claro, mas o filme também diverte e espanta.
Passado em 1937, na antiga Tchecoslováquia, penso ser este o primeiro filme que vi que trata de hermafroditismo, assunto pouco comum no cinema e na literatura (MIddlesex, de Jeffrey Eugenides talvez seja o melhor livro de ficção já publicado sobre isso). Mas não ficamos somente com ele, porque tem uma trama policial e política (eram tempos de ascensão do nazismo) correndo juntamente com o tratamento científico dado pela produção ao tema, que me pareceu bastante sério, convincente para o que se sabia na época. Enfim, um filme que surpreende o espectador. Merecia ser mais conhecido.
Quis ver porque li que Spike Lee vai dirigir uma nova versão com Denzel Washington fazendo o papel que aqui foi do grande Toshiro Mifune, dirigido pelo também grande Akira Kurosawa. O filme é um clássico do cinema japonês (nota 8,4 no IMDb nesta data), baseado numa novela americana (King's Ranson, de Ed McBain) e mistura drama policial com psicológico. Mas confesso que achei a primeira parte mais interessante do que a segunda e o final. De todo modo, Céu e Inferno é um grande filme.
Um filme estranho, rodado num lugar idem (Joanópolis, SP, se anuncia como a capital do lobisomem, daí não ser impossível Irene ter sido Miss Lobisomem), que deve ter deixado os espectadores de Toronto espantados mesmo. Bem, parece uma comedia de humor negro mais para acompanhar atento (não se sabe o que virá na próxima cena) do que propriamente para rir ou sorrir. Eu não ficaria espantado se de repente um lobisomem aparecesse uivando na tela ou até mesmo o Mazzaropi desse suas caras encarnando Jeca Tatu.
Filme prende atenção do início ao fim, mesmo se passando praticamente num único ambiente, o cargueiro, e com poucas mudanças de cenário. É tenso, envolvente, com personagens fortes (interpretados por ótimos atores, praticamente todos desconhecidos) e como foi baseado numa história real, lá pela metade você já imagina que ela não vai terminar muito bem, o que cresce ainda mais o interesse pelo final. Participou do Festival de Veneza de 2022, representando a Romênia.
Filme de temática social, como a maioria das narrativas cinematográficas de Loach, mas aqui com um outro elemento, os imigrantes sírios e como eles são recebidos numa pequena cidade da Inglaterra (Horden), que vivia da atividade de mineração, mas como as minas foram fechadas, a população diminuiu afetando a economia local. Uma minoria de desocupados vê os refugiados como inimigos, o que também é estendido para o dono do pub (TJ), que os acolhe bem, especialmente uma das moças sírias (Yara). Aos poucos, porém, as coisas começam a mudar...
Misturando ficção (a história e os sonhos de Franz), personagens reais (Freud, mulher e filha) e acontecimentos históricos (invasão nazista), numa das mais belas cidades do mundo (Viena), A Tabacaria, baseada num romance homônimo, entretém o cinespectador durante quase duas horas de projeção. Vale a pena dar uma verificada.
Uma espécie de Bastardos Inglórios alemão tão violento quanto o original, mas sem o talento de Tarantino, claro. Todo mundo demora um tanto para morrer nessa história, personagens resistem bravamente à morte, são duros de matar e de morrer. De quebra, tem várias pitadas de humor negro em meio a cenas inacreditáveis em ritmo crescente até o final. Como disse alguém mais abaixo, dá uma boa sessão da tarde.
Hirayama aqui no Brasil seria apenas um limpador de privadas, jamais estaria lendo Palmeiras Selvagens (William Faulkner) ou os contos de Eleven (Patricia Highsmith), ouvindo suas canções dos anos 1960-1970, tendo fotografia como hobby e cultivando suas plantinhas. Mais um filme intimista, com um trabalhador como personagem central, assim como o casal finlandês de Folhas de Outono. Em ambos os filmes quase nada acontece de relevante, mas mesmo assim acompanhamos com interesse a rotina dessas pessoas. São filmes que vemos uma vez e dificilmente queremos revê-los tão cedo para uma melhor avaliação, eu não, pelo menos. Mas se tivesse tempo certamente releria Palmeiras Selvagens, obra-prima de William Faulkner.
Trilha sonora de Dias Perfeitos (fonte IMDb): - The House of the Rising Sun Performed by The Animals - Pale Blue Eyes Written by Lou Reed Performed by The Velvet Underground - (Sittin' on) The Dock of the Bay Written by Otis Redding and Steve Cropper Performed by Otis Redding - Redondo Beach Written by Patti Smith, Leonard J. Kaye and Richard Sohl Performed by Patti Smith - (Walkin' Thru the) Sleepy City Written by Mick Jagger and Keith Richards Performed by The Rolling Stones - Aoi sakana (Blue Fish) Lyrics and music by Sachiko Kanenobu Performed by Sachiko Kanenobu - Perfect Day Written by Lou Reed Performed by Lou Reed - Sunny Afternoon Written by Ray Davies Performed by The Kinks - The House of the Rising Sun Japanese version Written by Maki Asakawa - Brown Eyed Girl Written by Van Morrison Performed by Van Morrison - Feeling Good Written by Leslie Bricusse & Anthony Newly Performed by Nina Simone
O Sabor da Vida
3.8 24Embora não seja estupendo quanto A Festa de Babette (Dinamarca, 1987), filme que ficará eternamente marcado pela relação culinária X arte, este O Sabor da Vida é também uma delícia de se acompanhar. Especialmente nos momentos de preparo dos sofisticadíssimos pratos elaborados por Dodin Bouffant (Magimel) e executados por Eugenie (Binoche) e sua auxiliar. Enquanto que em Babette tudo era transparente, aqui não ficamos sabendo se Dodin era um milionário francês que apreciava culinária e oferecia seus banquetes gratuitamente aos amigos e reis, ou outra coisa. No mais, o filme enche os olhos e faz salivar, como em Babette: a fotografia é espetacular nas duas obras.
O Homem Irracional
3.5 551 Assista AgoraRevisto recentemente, continua muito interessante: a mistura de literatura (Dostoievski), filosofia (Kant, Kierkegaard, Sartre, Heidegger, Arendt etc.), cinema e crime (Hitchcock) interpretada por atores talentosos (e barrigudos, no caso do Joaquin Phoenix) é o que me faz deixar de lado um bom livro para ficar grudado numa tela de cinema (computador desta vez) por algum tempo. Que venham mais filmes de Woody Allen, inteligentes e espirituosos como este.
One Step Behind the Seraphim
3.2 2Romeno faz parte do grupo latino de línguas, daí que algumas palavras soam parecidas com o nosso português. Também na religião há alguma similaridade, mas os romenos são cristãos ortodoxos em sua maioria. De todo modo o rigor para com os jovens seminaristas deve ser o mesmo nos dois países, então o que interessa é o que eles fazem para quebrar as regras que têm de obedecer estritamente. O início e o final são interessantes, mas o filme é bastante longo e algumas cenas, mesmo diferentes, parecem repetitivas, o que resultou num filme apenas pouco mais que mediano.
Esburacando
1.8 2Só tem gente estranha nesse filme. Que é muito chato e tem uma trilha sonora abominável. Não vai virar filme cult, porque tá mais pra noncult (isso existe?) mesmo. Não terminei de ver, mas nota 1 está boa demais para ele.
Ervas Secas
3.9 10Continuo pensando que meus filmes favoritos de Ceylan permanecem a Arvores dos Frutos Selvagens (2018) e Sono de Inverno (2014). São todos filmes longos, mas que não cansam o espectador porque contam histórias interessantes, têm ótimos atores que dizem longos diálogos que parecem meditações filosóficas por vezes, fotografia esplendorosa, trilha sonora adequada, enfim, são obras que sempre têm algo a nos dizer. Ceylan é fundamentalmente um cineasta humanista, daí que faz filmes que ficam em nossa memória por anos. E que, quando revistos, ainda nos causam muito prazer.
La chimera
3.9 8O irlandês (ou inglês) Arthur, com seus poderes de encontrar relíquias ou tesouros arqueológicos na Itália e lidando com ladrões desses objetos e mesmo mercadores de arte, não parece tão deslocado da trama quanto a brasileira interpretada por Carol Duarte. Mas os filmes de Alice Rohrwacher têm não apenas histórias estranhas, personagens também: eles se autoalimentam. E certamente o melhor deles até aqui é Lazzaro Felice (2018).
Gods of Molenbeek
3.1 1A sinopse é tão extensa que não tenho o que comentar, exceto que quem vive numa cultura diferente da dos meninos, parece um exagero o tanto que eles discutem religião nesse filme. Se bem que isso parece mais forte no islamismo; em que religião e terrorismo se misturam quando indivíduos radicais se juntam, como na Jihad instalada na Bélgica, de onde partem muitos terroristas para ataques na Europa. E agora temos o Hamas, assassinando crianças e inocentes em Israel, como ocorreu em 7/10/2023. Se adultos permanecessem com suas almas de criança, puras, isso não aconteceria.
Oppenheimer
4.0 1,0KCertas cinebiografias, mesmo quando produzidas com inteligência e criatividade, que parece ser o caso de Oppenheimer, podem resultar em tédio e pouca emoção, pouco envolvimento do espectador. O que vai mudar em minha vida se eu souber um pouco mais acerca desse homem e as circunstâncias daquele momento, que repercutem até hoje, ou saber apenas o trivial sobre ele sem, contudo, me aborrecer? Pensando nisso abandonei o filme com uma hora de projeção. Pelo menos Pobres Criaturas era exagerado, fantasioso demais, ao menos deu para ver até o final. Mas espero que ganhe como melhor filme Anatomia de Uma Queda ou Assassinos da Lua das Flores. E até mesmo Os Rejeitados, ora acusado de plágio. De todo modo, qualquer um deles é melhor do que aquela excrescência do ano passado Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, ou aquela bobagem de 2022, No Ritmo do Coração, remake do francês A Família Belier (2014), infinitamente superior que sua adaptação americana.
O Astronauta
2.9 116 Assista AgoraBaseado em livro de Jaroslav Kalfar essa ficção científica tem momentos interessantes e outros um pouco tediosos (passados na Terra, num centro tcheco para mulheres grávidas). Dá para assistir até o final sem avançar a fita, mas dificilmente eu pensaria em rever o filme no futuro. Tem um Adam Sandler envelhecido num papel dramático, portanto um tanto diferente do ator de comédias que conhecemos, o que prova sua versatilidade, já vista em Joias Brutas, de 2019. Penso que o livro do tcheco Kalfar, sem tradução para o português até o momento, deve ser bem mais interessante que a adaptação para o cinema.
Minhas Férias com Patrick
3.4 11 Assista AgoraSimpático filme francês passado grande parte em belos cenários ao ar livre, que o valorizou bastante, conta uma história simples mas com dois personagens cativantes, a professora Antoinette e seu burrinho Patrick, meio teimoso mas também amoroso. Agradável e relaxante, parece mostrar que ali naquele recanto da França, as montanhas Cévennes, não se precisava de redes sociais para espalhar fatos ou boatos.
Ficção Americana
3.8 355 Assista AgoraFilme adaptado de uma obra literária, Erasure, de Percival Everett (não traduzida para o português até esta data), tem seus melhores momentos justamente quando trata de literatura, autores, temas, indústria e produtos culturais etc., assuntos que mostram como os americanos tratam a cultura negra no país. Mas perde um tanto de seu vigor quando foca nos relacionamentos familiares e amorosos, cheios de conhecidos clichês (mortes, doenças, conflitos etc.). Tem um bom final (ou finais, porque aqui na ficção tudo é possível) e o ator principal, que eu desconhecia, me pareceu bastante talentoso.
Zona de Interesse
3.6 558 Assista AgoraLi o livro homônimo de Martin Amis, no qual o filme foi baseado, e tinha altas expectativas para ele. Literatura é uma coisa, adaptação de livro para o cinema é outra, mas o que vi me pareceu quase irreconhecível. OK, a denúncia da barbárie nazista está lá, mas tanta coisa e personagens foram eliminados da trama original que achei o filme um tanto aborrecido, isso sim.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraVisual e tecnicamente impressionante, mas penso que outro diretor tão talentoso quanto Yorgos (lembrei dos filmes de Fellini), sem tanto dinheiro, atores famosos e tecnologia certamente teria feito um filme melhor e mais curto, com muito mais conteúdo. De todo modo, não posso negar que Pobres Criaturas diverte um tanto. Saltburn, que tem certo parentesco com Pobres Criaturas, pelo menos na questão sexual e nos exageros gerais, me pareceu um filme mais interessante. No entanto foi subestimado no Oscar 2024, não tendo indicação a prêmio algum. Coisas de Hollywood...
Cão Danado
3.6 4 Assista AgoraNão tem muita história, tem uma forte amizade entre um rapaz, Mirales e seu fiel e obediente cão Malabar e também com outro rapaz, Dog, que por momentos parece ser outro cão para Mirales. Este é um pequeno traficante de fumo que sonha em ser chef de restaurante e sente a amizade ameaçada quando uma garota, Elsa, conquista Dog. A amizade deles será posta à prova mais à frente. Os personagens centrais Dog e Mirales são extremamente interessantes, curiosos, e o pensador Montaigne e o escritor alemão Hermann Hesse entram na conversa algumas vezes. Veria novamente um dia.
Adeus
3.7 28Melhor coisa é mesmo a interpretação de Souleymane Sy Savane e seu personagem Solo, solidário e não sozinho, como seu nome poderia indicar. Faltou explicar melhor a relação do idoso com o rapaz da bilheteria do cinema. No mais, um filme aborrecido.
O Filho de Jesus
3.5 6Baseado no livro homônimo de Denis Johnson (1949-2017), traz várias histórias sobre drogados, marginalizados e desorientados, narradas por um viciado em heroína por influência da namorada, que depois se manda com outro cara. Ele é apelidado por outro viciado de Fuckhead, ou FH, mas na versão brasileira do livro virou Bostalhão. Coisas absurdas e inimagináveis acontecem em meio ao consumo de muitas drogas, fumo e álcool que incluem traições, brigas, roubos, perdas e mortes, histórias que não seguem uma ordem cronológica e nem sempre terminam de modo tradicional. Elas refletem o estado mental em que se encontra o narrador sob o efeito das drogas e vão fazendo mais sentido à medida que o filme avança porque, de fato, estão todas interligadas. O livro é melhor, claro, mas o filme também diverte e espanta.
We Have Never Been Modern
3.6 3Passado em 1937, na antiga Tchecoslováquia, penso ser este o primeiro filme que vi que trata de hermafroditismo, assunto pouco comum no cinema e na literatura (MIddlesex, de Jeffrey Eugenides talvez seja o melhor livro de ficção já publicado sobre isso). Mas não ficamos somente com ele, porque tem uma trama policial e política (eram tempos de ascensão do nazismo) correndo juntamente com o tratamento científico dado pela produção ao tema, que me pareceu bastante sério, convincente para o que se sabia na época. Enfim, um filme que surpreende o espectador. Merecia ser mais conhecido.
Céu e Inferno
4.4 60Quis ver porque li que Spike Lee vai dirigir uma nova versão com Denzel Washington fazendo o papel que aqui foi do grande Toshiro Mifune, dirigido pelo também grande Akira Kurosawa. O filme é um clássico do cinema japonês (nota 8,4 no IMDb nesta data), baseado numa novela americana (King's Ranson, de Ed McBain) e mistura drama policial com psicológico. Mas confesso que achei a primeira parte mais interessante do que a segunda e o final. De todo modo, Céu e Inferno é um grande filme.
Carvão
3.9 89 Assista AgoraUm filme estranho, rodado num lugar idem (Joanópolis, SP, se anuncia como a capital do lobisomem, daí não ser impossível Irene ter sido Miss Lobisomem), que deve ter deixado os espectadores de Toronto espantados mesmo. Bem, parece uma comedia de humor negro mais para acompanhar atento (não se sabe o que virá na próxima cena) do que propriamente para rir ou sorrir. Eu não ficaria espantado se de repente um lobisomem aparecesse uivando na tela ou até mesmo o Mazzaropi desse suas caras encarnando Jeca Tatu.
To The North
4.0 1Filme prende atenção do início ao fim, mesmo se passando praticamente num único ambiente, o cargueiro, e com poucas mudanças de cenário. É tenso, envolvente, com personagens fortes (interpretados por ótimos atores, praticamente todos desconhecidos) e como foi baseado numa história real, lá pela metade você já imagina que ela não vai terminar muito bem, o que cresce ainda mais o interesse pelo final. Participou do Festival de Veneza de 2022, representando a Romênia.
The Old Oak
3.6 6Filme de temática social, como a maioria das narrativas cinematográficas de Loach, mas aqui com um outro elemento, os imigrantes sírios e como eles são recebidos numa pequena cidade da Inglaterra (Horden), que vivia da atividade de mineração, mas como as minas foram fechadas, a população diminuiu afetando a economia local. Uma minoria de desocupados vê os refugiados como inimigos, o que também é estendido para o dono do pub (TJ), que os acolhe bem, especialmente uma das moças sírias (Yara). Aos poucos, porém, as coisas começam a mudar...
A Tabacaria
3.4 31Misturando ficção (a história e os sonhos de Franz), personagens reais (Freud, mulher e filha) e acontecimentos históricos (invasão nazista), numa das mais belas cidades do mundo (Viena), A Tabacaria, baseada num romance homônimo, entretém o cinespectador durante quase duas horas de projeção. Vale a pena dar uma verificada.
Sangue e Ouro
3.2 72 Assista AgoraUma espécie de Bastardos Inglórios alemão tão violento quanto o original, mas sem o talento de Tarantino, claro. Todo mundo demora um tanto para morrer nessa história, personagens resistem bravamente à morte, são duros de matar e de morrer. De quebra, tem várias pitadas de humor negro em meio a cenas inacreditáveis em ritmo crescente até o final. Como disse alguém mais abaixo, dá uma boa sessão da tarde.
Dias Perfeitos
4.2 224 Assista AgoraHirayama aqui no Brasil seria apenas um limpador de privadas, jamais estaria lendo Palmeiras Selvagens (William Faulkner) ou os contos de Eleven (Patricia Highsmith), ouvindo suas canções dos anos 1960-1970, tendo fotografia como hobby e cultivando suas plantinhas. Mais um filme intimista, com um trabalhador como personagem central, assim como o casal finlandês de Folhas de Outono. Em ambos os filmes quase nada acontece de relevante, mas mesmo assim acompanhamos com interesse a rotina dessas pessoas. São filmes que vemos uma vez e dificilmente queremos revê-los tão cedo para uma melhor avaliação, eu não, pelo menos. Mas se tivesse tempo certamente releria Palmeiras Selvagens, obra-prima de William Faulkner.
Trilha sonora de Dias Perfeitos (fonte IMDb):
- The House of the Rising Sun Performed by The Animals
- Pale Blue Eyes Written by Lou Reed Performed by The Velvet Underground
- (Sittin' on) The Dock of the Bay Written by Otis Redding and Steve Cropper Performed
by Otis Redding
- Redondo Beach Written by Patti Smith, Leonard J. Kaye and Richard Sohl Performed by
Patti Smith
- (Walkin' Thru the) Sleepy City Written by Mick Jagger and Keith Richards Performed by
The Rolling Stones
- Aoi sakana (Blue Fish) Lyrics and music by Sachiko Kanenobu Performed by Sachiko
Kanenobu
- Perfect Day Written by Lou Reed Performed by Lou Reed
- Sunny Afternoon Written by Ray Davies Performed by The Kinks
- The House of the Rising Sun Japanese version Written by Maki Asakawa
- Brown Eyed Girl Written by Van Morrison Performed by Van Morrison
- Feeling Good Written by Leslie Bricusse & Anthony Newly Performed by Nina Simone