Os garotos senegaleses pretendiam buscar na Itália dinheiro para dar uma vida melhor para si e familiares. Curiosamente as irmãs de Seydou brincavam com perucas e tecidos aparentemente caros, enquanto a mãe tinha uma penteadeira cheia de produtos de beleza, então não podiam ser miseráveis. Eles mesmos queriam fazer sucesso com sua música na Europa, ver os brancos pedir-lhes autógrafos. Depois vem a bruta realidade para quem usa os serviços dos impiedosos coiotes negros e ou árabes para chegar à Europa ilegalmente (coisa não muito diferente por que passam latino-americanos querendo entrar nos EUA), e essa é justamente a parte mais interessante do filme, assim como o que vem a seguir. Ou seja, Garrone conseguiu fazer um filme bastante humano, que também desperta questões no espectador: desse modo Io Capitano concorre merecidamente ao Oscar de filme estrangeiro em 2024.
Não se trata de um comentário, mas uma sinopse melhorada desse filme. "Uma mulher nua é encontrada assassinada nas estepes da Mongólia. Durante a noite, um policial jovem e inexperiente precisa proteger a cena do crime. Como ele não está familiarizado com os perigos do local, uma pastora local é enviada para ajudá-lo a proteger o corpo. A pastora, de trinta e poucos anos sabe como manejar um rifle – e como espantar os lobos. Ela acende uma fogueira contra o frio. O álcool também os ajuda a se manterem aquecidos. Por instigação dela, os dois se aproximam. Na manhã seguinte, eles seguirão caminhos separados. Quanto a si e ao seu futuro, ela tem um plano próprio, que está relacionado com a paisagem solitária do lugar e os seus mitos." Ondog quer dizer ovo, tanto de dinossauros, mencionados a certa altura do filme, como também óvulo feminino, já que a pastora engravida do jovem soldado. Ela mesma seria uma "mulher dinossauro", vivendo nas condições que vive, forte e valente como é. Filme com desenvolvimento lento, mas com alguns trechos bastante interessantes.
Diferenças de altura à parte (Jacob Elordi bem mais alto do que Elvis e Cailee Spaeny mais baixa que Priscilla), a certa altura Priscilla percebe que o rei do rock se comportava não exatamente como o cavalheiro (ou militar) que ela conhecera na Alemanha. Esse detalhe e outros, que causarão a separação do casal, tornam o filme interessante até o final. Mas o resultado parece ter ficado aquém de outros filmes da diretora, quase sempre acima da média ou até mesmo bons.
Adaptação para o cinema de obra homônima do grande escritor alemão Thomas Mann, que li há muitos anos e da qual tenho poucas lembranças. Mas penso que o filme me entreve suficientemente, com uma boa história, cenários adequados, ótimas interpretações, enfim, me pareceu mais do que simplesmente mediano.
Não fossem pelas notícias sobre a guerra na Ucrânia, a procura de trabalho pela internet e os celulares usados pelos personagens, bem que o filme poderia parecer que se passasse nos anos 1960, por aí. Tudo por conta dos cartazes de filmes, trilha sonora, ambientação e outros detalhes que vão se sucedendo ao longo da história dos encontros e desencontros dos personagens centrais, melancólicos e mesmo meio atrapalhados. É um filme que alguém definiu como tosco, singelo e ao mesmo tempo encantador, que por não ser tão longo ou cansativo rende uma boa tarde no cinema.
Todd Haynes não é um dos grandes do cinema, mas seus filmes são bons, plenamente assistíveis, caso deste em que dirige ótimos atores, ou atrizes, melhor dizendo. Drama familiar com base em uma história de grande repercussão - mulher então casada (Moore), com filhos seduz adolescente, ou como a personagem afirma, o rapaz (Melton) é que estava no comando e a seduziu -, mas cuja situação parecia acomodada até que vinte anos depois, uma atriz (Portman) vem conhecê-los porque um filme será feito sobre o romance deles. A entrada dela em cena pode desestabilizar tudo.
Muito bom, especialmente porque se passa em dezembro, no Natal (1970), mas nos EUA então tem muita neve, gelo e frio, ao contrário do calor insuportável daqui. Uma história sensível e por vezes engraçada, muito propícia para aquela época do ano, em que sentimentos de empatia e compaixão afloram em nós com mais intensidade. Giamatti, ator veterano, e o estreante Dominic Sessa estão irrepreensíveis em seus papeis, assim como a atriz que interpreta a cozinheira Mary. Estarão, filme e atores, no Oscar 2024? Espero que sim.
São muitas cenas de consumo de drogas ilícitas, duas são puramente escatológicas (a cadela do cineasta Silva comendo bosta) e várias outras constrangedoras de vadiagem explícita: seriam elas de fato necessárias para explicar o comportamento dos dois personagens centrais? De todo modo, descontando isso tudo, o filme fica um tanto interessante mais à frente. É quando se torna, digamos assim, uma comédia de humor negro, cheia de reviravoltas, especialmente por conta das trapalhadas da sonsa (sinistra) empregada do cineasta Silva, muito bem interpretada por Catalina Saavedra, a personagem que dá vida ao filme e salva Rotting In The Sun. Que sem ela seria certamente impossível de se ver logo de início.
Uma história íntima de dois meninos e suas "monstruosidades" (para os outros) - quer dizer, sua sexualidade, e nisso o filme foi mais longe do que o belga Close, que era sobre amizade -, mas que se fosse narrada linearmente talvez não causasse o mesmo impacto quando vista episodicamente, com vários pontos de vista diferentes, recurso já usado na literatura e cinema japonês. Penso que outros filmes do Koreeda, especialmente envolvendo crianças, como Pais e Filhos (2013) ou Assunto de Família (2018), somente para citar dois, alcançaram resultados melhores usando narrativas tradicionais.
Eu me diverti bastante com esse filme baseado numa comédia teatral francesa homônima dos anos 1930, já filmada antes por Hollywood (duas vezes, em 1937 e 1946). Apesar de muitos diálogos e poucas trocas de cenários, não é nem um pouco aborrecida, muito pelo contrário, as situações vão evoluindo e mudando para mais confusões, especialmente quando a personagem de Isabelle Huppert entra em cena reclamando que o crime ocorrido é dela (daí o Mon Crime do título original). Diálogos rápidos e espirituosos ditos por ótimos atores e por trás de tudo o ótimo diretor Ozon. Queria mais o quê?
Filme necessariamente longo para poder dar conta de todas as histórias reais contadas por David Grann em seu livro de reportagem homônimo, que tem o subtítulo de Petróleo, Morte e a Criação do FBI. Scorsese trouxe para a tela, ainda que em alguns casos resumidamente, todos os episódios tratados pelo autor do best-seller e contou com um elenco afinado para tal, incluindo aí inúmeros coadjuvantes talentosos. Vale a pena ler o livro (li em 2019) e ver o filme (hoje, 06/01/24).
Filme mediano, misturando drama e comédia de costumes, mas que não encontra um equilíbrio entre uma coisa e outra, como o casamento dos personagens centrais. Assim como os EUA do filme na verdade não passam do Canadá (cenas americanas rodadas em Winnipeg, Manitoba), aquele Bernal de Amores Brutos, E Sua Mãe Também ou Diários de Motocicleta, parece ser aqui um outro ator aceitando o que pintasse como trabalho. Dá para assistir até o final, mas rever um filme desses no futuro seria um castigo.
Tudo é excêntrico e exagerado em Saltburn, a mansão, seus proprietários, os amigos deles, e assim também é o filme, que traz uma porção de personagens singulares e algumas cenas escatológicas, além de parecer citar situações de outros filmes que já vimos, o que é ótimo. Ao mesmo tempo se assemelha a um drama gótico com tintas extraídas de alguma história de Edgard Allan Poe, no que tem de suspense e macabro, mas ao mesmo tempo é bastante moderno, porque usou largas doses de humor negro atrevido (cheeky dark humor, como dizem os britânicos), ironia e crítica social etc. Se você não se fizer muitas perguntas sobre alguns acontecimentos da trama toda, e também não se importar muito com a ausência de polícia e detetives num filme que tem muito de policial (é um thriller, não?), vai se divertir um tanto. E nem vai perceber que o filme tem mais de 2 horas de duração.
Balzac, em grande forma, narra os infortúnios da filha de um avarento apaixonada pelo próprio primo, que não merecia seu amor nem seu dinheiro. Adaptação cinematográfica muito bem realizada, interpretada e dirigida a partir do livro homônimo do genial escritor francês. Vale a pena ler o livro e ver o filme.
O Times colocou o filme na 6a. posição entre os 10 melhores de 2023 (em 1o. ficou Folhas de Outono, da Finlândia), daí que quis vê-lo. Do início até mais ou menos 1 hora de projeção foi cansativo acompanhar a história de Nora e Hae Sung. Quando ele vem para Nova York rever sua antiga paixão coreana as coisas ficam mais interessantes por conta desse inusitado, deles passarem várias horas juntos lembrando suas vidas passadas, conhecer o civilizadíssimo marido americano dela, conversarem sobre o amor, escolhas, destino. Final redentor, para compensar aqueles longos momentos iniciais um tanto aborrecidos, pelo modo como a cineasta Song imaginou/montou seu drama/romance.
Filme finlandês passado em tempo presente, após pandemia da Covid, com praticamente apenas três personagens, marido, mulher e amigo do marido. Aquele viaja e a mulher e o amigo se usufruem, mas nada muito sério. Filme fraco, vale apenas pelas belas paisagens e cenários de um verão finlandês.
Com um diretor apenas mediano, Vadim, mas com outros dois ótimos, Malle e Fellini, poderia ter resultado num filme um pouco melhor, mas não. As histórias extraordinárias de Poe viraram coisa quase ordinária aqui. O que salva o filme é que ele nos faz recordar a juventude e ou a beleza de Jane Fonda (que no primeiro episódio faz parceria com o irmão Peter, já morto), Brigitte Bardot, Alain Delon e Terence Stamp, todos então desfrutando enorme prestígio cinematográfico, assim como os diretores mencionados. Mas o resultado...
Filmes de Aki Kaurismäki sempre têm alguma coisa diferente, inusitada, e aqui temos alguns finlandeses maltratando um refugiado enquanto outros finlandeses tentando ajudá-lo até demais. Ao mesmo tempo a história tenta ser engraçada com muitas mudanças no restaurante do ex-caixeiro-viajante que o protege. Além disso temos um final tanto inverossimel, mas que combina com o restante desse filme pouco mais que mediano.
Apesar de longo (e era necessário que fosse assim), o filme não deixa o interesse do espectador cair em momento algum a partir do momento em que a esposa (Sandra) passa a ser vista como a culpada pela morte do marido (Samuel). Sua vida é revirada pelo avesso e o filho do casal (Daniel) se torna seu principal apoio, além do advogado que a defende, mas nada agora parece colaborar para a inocência dela, pelo contrário. Sandra empurrou o marido para a morte ou ele cometeu suicídio? Excelente história, diálogos pertinentes, ótimos desempenhos.
Filme húngaro que mistura vários estilos cinematográficos e têm ótimos atores que não deixam nunca cair seu ritmo um tanto frenético. Vale pena uma visita, sim.
Muito bom, como qualquer outro filme do Petzold, um dos melhores diretores alemães da atualidade. Cinco atores ótimos, uma história que começa meio morna, com um personagem que parece um grande nerd, preocupado com sua literatura, mas aos poucos revelações e surpresas (Nadja não era uma simples sorveteira) apontam outros caminhos para o filme, que se torna mais interessante ainda em sua segunda metade. Ah, não é só a Amazônia, Canadá ou Portugal com florestas em chamas. O aquecimento global também chegou à "fria" Alemanha.
Baseado no livro Filho do Hamas, que o próprio Mosab escreveu juntamente com o jornalista investigativo americano Ron Brackin, especialista em Oriente Médio. É, verdadeiramente, um relato impressionante sobre terrorismo, traição, intrigas políticas e escolhas impensáveis, porque este não é um filme de ficção, mas um documentário baseado na própria história do filho de um dos fundadores da organização terrorista Hamas. Vale muito a pena ver neste momento em que não se sabe como vai terminar a guerra de Israel contra os assassinos islâmicos. Eles escolheram o terrorismo, agora que aguentem as consequências.
É tanto artista talentoso desperdiçado e tanta coisa para digerir sem o tempo necessário então a melhor coisa (ou a menos pior, depende de sua admiração pelo diretor) é mesmo curtir os cenários fakes, suas cores e um ou outro diálogo e ou cena a se salvar do marasmo quase total dos filmes mais recentes de Anderson.
Um filme escatológico da primeira à última cena, infestado por ratos, sujeira, pobreza e beirando a pornografia por vezes, os diretores dão vida a algumas histórias absurdas, grotescas, mas que jamais deixarão o espectador indiferente, mesmo que não as aprecie. Ciprì e Maresco usam habitantes das favelas de Palermo, Sicília (mesmo os papeis femininos são interpretados por homens), e trazem cenas e enredos capazes de lembrar o cinema de Pasolini (que também usava atores não profissionais e abusava de escatologia e sexo). Consegui chegar ao final, mas dificilmente poderia rever um filme como esse.
Eu, Capitão
4.0 70Os garotos senegaleses pretendiam buscar na Itália dinheiro para dar uma vida melhor para si e familiares. Curiosamente as irmãs de Seydou brincavam com perucas e tecidos aparentemente caros, enquanto a mãe tinha uma penteadeira cheia de produtos de beleza, então não podiam ser miseráveis. Eles mesmos queriam fazer sucesso com sua música na Europa, ver os brancos pedir-lhes autógrafos. Depois vem a bruta realidade para quem usa os serviços dos impiedosos coiotes negros e ou árabes para chegar à Europa ilegalmente (coisa não muito diferente por que passam latino-americanos querendo entrar nos EUA), e essa é justamente a parte mais interessante do filme, assim como o que vem a seguir. Ou seja, Garrone conseguiu fazer um filme bastante humano, que também desperta questões no espectador: desse modo Io Capitano concorre merecidamente ao Oscar de filme estrangeiro em 2024.
Öndög
2.9 1Não se trata de um comentário, mas uma sinopse melhorada desse filme. "Uma mulher nua é encontrada assassinada nas estepes da Mongólia. Durante a noite, um policial jovem e inexperiente precisa proteger a cena do crime. Como ele não está familiarizado com os perigos do local, uma pastora local é enviada para ajudá-lo a proteger o corpo. A pastora, de trinta e poucos anos sabe como manejar um rifle – e como espantar os lobos. Ela acende uma fogueira contra o frio. O álcool também os ajuda a se manterem aquecidos. Por instigação dela, os dois se aproximam. Na manhã seguinte, eles seguirão caminhos separados. Quanto a si e ao seu futuro, ela tem um plano próprio, que está relacionado com a paisagem solitária do lugar e os seus mitos." Ondog quer dizer ovo, tanto de dinossauros, mencionados a certa altura do filme, como também óvulo feminino, já que a pastora engravida do jovem soldado. Ela mesma seria uma "mulher dinossauro", vivendo nas condições que vive, forte e valente como é. Filme com desenvolvimento lento, mas com alguns trechos bastante interessantes.
Priscilla
3.4 159Diferenças de altura à parte (Jacob Elordi bem mais alto do que Elvis e Cailee Spaeny mais baixa que Priscilla), a certa altura Priscilla percebe que o rei do rock se comportava não exatamente como o cavalheiro (ou militar) que ela conhecera na Alemanha. Esse detalhe e outros, que causarão a separação do casal, tornam o filme interessante até o final. Mas o resultado parece ter ficado aquém de outros filmes da diretora, quase sempre acima da média ou até mesmo bons.
As Confissões de Félix Krull: Cavalheiro de Indústria
3.7 7Adaptação para o cinema de obra homônima do grande escritor alemão Thomas Mann, que li há muitos anos e da qual tenho poucas lembranças. Mas penso que o filme me entreve suficientemente, com uma boa história, cenários adequados, ótimas interpretações, enfim, me pareceu mais do que simplesmente mediano.
Folhas de Outono
3.8 99Não fossem pelas notícias sobre a guerra na Ucrânia, a procura de trabalho pela internet e os celulares usados pelos personagens, bem que o filme poderia parecer que se passasse nos anos 1960, por aí. Tudo por conta dos cartazes de filmes, trilha sonora, ambientação e outros detalhes que vão se sucedendo ao longo da história dos encontros e desencontros dos personagens centrais, melancólicos e mesmo meio atrapalhados. É um filme que alguém definiu como tosco, singelo e ao mesmo tempo encantador, que por não ser tão longo ou cansativo rende uma boa tarde no cinema.
Segredos de um Escândalo
3.5 269Todd Haynes não é um dos grandes do cinema, mas seus filmes são bons, plenamente assistíveis, caso deste em que dirige ótimos atores, ou atrizes, melhor dizendo. Drama familiar com base em uma história de grande repercussão - mulher então casada (Moore), com filhos seduz adolescente, ou como a personagem afirma, o rapaz (Melton) é que estava no comando e a seduziu -, mas cuja situação parecia acomodada até que vinte anos depois, uma atriz (Portman) vem conhecê-los porque um filme será feito sobre o romance deles. A entrada dela em cena pode desestabilizar tudo.
Os Rejeitados
4.0 316Muito bom, especialmente porque se passa em dezembro, no Natal (1970), mas nos EUA então tem muita neve, gelo e frio, ao contrário do calor insuportável daqui. Uma história sensível e por vezes engraçada, muito propícia para aquela época do ano, em que sentimentos de empatia e compaixão afloram em nós com mais intensidade. Giamatti, ator veterano, e o estreante Dominic Sessa estão irrepreensíveis em seus papeis, assim como a atriz que interpreta a cozinheira Mary. Estarão, filme e atores, no Oscar 2024? Espero que sim.
Rotting in the Sun
3.5 82São muitas cenas de consumo de drogas ilícitas, duas são puramente escatológicas (a cadela do cineasta Silva comendo bosta) e várias outras constrangedoras de vadiagem explícita: seriam elas de fato necessárias para explicar o comportamento dos dois personagens centrais? De todo modo, descontando isso tudo, o filme fica um tanto interessante mais à frente. É quando se torna, digamos assim, uma comédia de humor negro, cheia de reviravoltas, especialmente por conta das trapalhadas da sonsa (sinistra) empregada do cineasta Silva, muito bem interpretada por Catalina Saavedra, a personagem que dá vida ao filme e salva Rotting In The Sun. Que sem ela seria certamente impossível de se ver logo de início.
Monstro
4.3 260Uma história íntima de dois meninos e suas "monstruosidades" (para os outros) - quer dizer, sua sexualidade, e nisso o filme foi mais longe do que o belga Close, que era sobre amizade -, mas que se fosse narrada linearmente talvez não causasse o mesmo impacto quando vista episodicamente, com vários pontos de vista diferentes, recurso já usado na literatura e cinema japonês. Penso que outros filmes do Koreeda, especialmente envolvendo crianças, como Pais e Filhos (2013) ou Assunto de Família (2018), somente para citar dois, alcançaram resultados melhores usando narrativas tradicionais.
O Crime é Meu
3.4 14Eu me diverti bastante com esse filme baseado numa comédia teatral francesa homônima dos anos 1930, já filmada antes por Hollywood (duas vezes, em 1937 e 1946). Apesar de muitos diálogos e poucas trocas de cenários, não é nem um pouco aborrecida, muito pelo contrário, as situações vão evoluindo e mudando para mais confusões, especialmente quando a personagem de Isabelle Huppert entra em cena reclamando que o crime ocorrido é dela (daí o Mon Crime do título original). Diálogos rápidos e espirituosos ditos por ótimos atores e por trás de tudo o ótimo diretor Ozon. Queria mais o quê?
Assassinos da Lua das Flores
4.1 606Filme necessariamente longo para poder dar conta de todas as histórias reais contadas por David Grann em seu livro de reportagem homônimo, que tem o subtítulo de Petróleo, Morte e a Criação do FBI. Scorsese trouxe para a tela, ainda que em alguns casos resumidamente, todos os episódios tratados pelo autor do best-seller e contou com um elenco afinado para tal, incluindo aí inúmeros coadjuvantes talentosos. Vale a pena ler o livro (li em 2019) e ver o filme (hoje, 06/01/24).
Estás Me Matando Susana
3.0 14 Assista AgoraFilme mediano, misturando drama e comédia de costumes, mas que não encontra um equilíbrio entre uma coisa e outra, como o casamento dos personagens centrais. Assim como os EUA do filme na verdade não passam do Canadá (cenas americanas rodadas em Winnipeg, Manitoba), aquele Bernal de Amores Brutos, E Sua Mãe Também ou Diários de Motocicleta, parece ser aqui um outro ator aceitando o que pintasse como trabalho. Dá para assistir até o final, mas rever um filme desses no futuro seria um castigo.
Saltburn
3.5 846Tudo é excêntrico e exagerado em Saltburn, a mansão, seus proprietários, os amigos deles, e assim também é o filme, que traz uma porção de personagens singulares e algumas cenas escatológicas, além de parecer citar situações de outros filmes que já vimos, o que é ótimo. Ao mesmo tempo se assemelha a um drama gótico com tintas extraídas de alguma história de Edgard Allan Poe, no que tem de suspense e macabro, mas ao mesmo tempo é bastante moderno, porque usou largas doses de humor negro atrevido (cheeky dark humor, como dizem os britânicos), ironia e crítica social etc. Se você não se fizer muitas perguntas sobre alguns acontecimentos da trama toda, e também não se importar muito com a ausência de polícia e detetives num filme que tem muito de policial (é um thriller, não?), vai se divertir um tanto. E nem vai perceber que o filme tem mais de 2 horas de duração.
Eugénie Grandet
4.8 2Balzac, em grande forma, narra os infortúnios da filha de um avarento apaixonada pelo próprio primo, que não merecia seu amor nem seu dinheiro. Adaptação cinematográfica muito bem realizada, interpretada e dirigida a partir do livro homônimo do genial escritor francês. Vale a pena ler o livro e ver o filme.
Vidas Passadas
4.2 723O Times colocou o filme na 6a. posição entre os 10 melhores de 2023 (em 1o. ficou Folhas de Outono, da Finlândia), daí que quis vê-lo. Do início até mais ou menos 1 hora de projeção foi cansativo acompanhar a história de Nora e Hae Sung. Quando ele vem para Nova York rever sua antiga paixão coreana as coisas ficam mais interessantes por conta desse inusitado, deles passarem várias horas juntos lembrando suas vidas passadas, conhecer o civilizadíssimo marido americano dela, conversarem sobre o amor, escolhas, destino. Final redentor, para compensar aqueles longos momentos iniciais um tanto aborrecidos, pelo modo como a cineasta Song imaginou/montou seu drama/romance.
Coincidências da Vida e Grandes Amores
2.9 6Filme finlandês passado em tempo presente, após pandemia da Covid, com praticamente apenas três personagens, marido, mulher e amigo do marido. Aquele viaja e a mulher e o amigo se usufruem, mas nada muito sério. Filme fraco, vale apenas pelas belas paisagens e cenários de um verão finlandês.
Histórias Extraordinárias
3.6 54 Assista AgoraCom um diretor apenas mediano, Vadim, mas com outros dois ótimos, Malle e Fellini, poderia ter resultado num filme um pouco melhor, mas não. As histórias extraordinárias de Poe viraram coisa quase ordinária aqui. O que salva o filme é que ele nos faz recordar a juventude e ou a beleza de Jane Fonda (que no primeiro episódio faz parceria com o irmão Peter, já morto), Brigitte Bardot, Alain Delon e Terence Stamp, todos então desfrutando enorme prestígio cinematográfico, assim como os diretores mencionados. Mas o resultado...
O Outro Lado da Esperança
3.8 35Filmes de Aki Kaurismäki sempre têm alguma coisa diferente, inusitada, e aqui temos alguns finlandeses maltratando um refugiado enquanto outros finlandeses tentando ajudá-lo até demais. Ao mesmo tempo a história tenta ser engraçada com muitas mudanças no restaurante do ex-caixeiro-viajante que o protege. Além disso temos um final tanto inverossimel, mas que combina com o restante desse filme pouco mais que mediano.
Anatomia de uma Queda
4.0 782Apesar de longo (e era necessário que fosse assim), o filme não deixa o interesse do espectador cair em momento algum a partir do momento em que a esposa (Sandra) passa a ser vista como a culpada pela morte do marido (Samuel). Sua vida é revirada pelo avesso e o filho do casal (Daniel) se torna seu principal apoio, além do advogado que a defende, mas nada agora parece colaborar para a inocência dela, pelo contrário. Sandra empurrou o marido para a morte ou ele cometeu suicídio? Excelente história, diálogos pertinentes, ótimos desempenhos.
Morte Sobre Rodas
3.5 3Filme húngaro que mistura vários estilos cinematográficos e têm ótimos atores que não deixam nunca cair seu ritmo um tanto frenético. Vale pena uma visita, sim.
Afire
3.8 50Muito bom, como qualquer outro filme do Petzold, um dos melhores diretores alemães da atualidade. Cinco atores ótimos, uma história que começa meio morna, com um personagem que parece um grande nerd, preocupado com sua literatura, mas aos poucos revelações e surpresas (Nadja não era uma simples sorveteira) apontam outros caminhos para o filme, que se torna mais interessante ainda em sua segunda metade. Ah, não é só a Amazônia, Canadá ou Portugal com florestas em chamas. O aquecimento global também chegou à "fria" Alemanha.
O Príncipe Verde
3.8 9Baseado no livro Filho do Hamas, que o próprio Mosab escreveu juntamente com o jornalista investigativo americano Ron Brackin, especialista em Oriente Médio. É, verdadeiramente, um relato impressionante sobre terrorismo, traição, intrigas políticas e escolhas impensáveis, porque este não é um filme de ficção, mas um documentário baseado na própria história do filho de um dos fundadores da organização terrorista Hamas. Vale muito a pena ver neste momento em que não se sabe como vai terminar a guerra de Israel contra os assassinos islâmicos. Eles escolheram o terrorismo, agora que aguentem as consequências.
Asteroid City
3.1 188É tanto artista talentoso desperdiçado e tanta coisa para digerir sem o tempo necessário então a melhor coisa (ou a menos pior, depende de sua admiração pelo diretor) é mesmo curtir os cenários fakes, suas cores e um ou outro diálogo e ou cena a se salvar do marasmo quase total dos filmes mais recentes de Anderson.
Totò che visse due volte
3.5 1Um filme escatológico da primeira à última cena, infestado por ratos, sujeira, pobreza e beirando a pornografia por vezes, os diretores dão vida a algumas histórias absurdas, grotescas, mas que jamais deixarão o espectador indiferente, mesmo que não as aprecie. Ciprì e Maresco usam habitantes das favelas de Palermo, Sicília (mesmo os papeis femininos são interpretados por homens), e trazem cenas e enredos capazes de lembrar o cinema de Pasolini (que também usava atores não profissionais e abusava de escatologia e sexo). Consegui chegar ao final, mas dificilmente poderia rever um filme como esse.