Esta versão de "Imitation of Life" (Imitação da Vida) é uma adaptação do filme lançado em 1934, porém, como as circunstâncias presentes no roteiro original já haviam se tornado um tanto improváveis no final da década de 50, a história foi atualizada para retratar o famoso 'american dream', tão presente no imaginário americano e bastante difundido pelas produções de Hollywood.
Os filmes das décadas de 50 e 60 primavam pelo glamour, pela exuberância e promoviam o ideal da beleza, do sucesso e do poder. Assim, os sonhos e ambições da personagem principal se aprimoraram e modernizaram. Lora (Lana Turner) agora almeja o sucesso na carreira teatral e seu par romântico, Steve (John Gavin), transformou-se no CEO de uma próspera empresa de bebidas. Entretanto, seu lado materno - antes doce, protetor e amoroso - foi substituído por uma versão mais egoísta e ambiciosa.
Já a trama secundária, envolvendo Annie (Juanita Moore) e sua filha Sarah Jane (Susan Kohner), que trata de questões delicadas como o racismo e a falta de oportunidades resultantes dele, apresenta maior intensidade em relação ao filme de 1934. Nesta versão foram incluídas cenas muito mais chocantes e violentas, retratando um preconceito racial aberto e declarado, manifestado em graus e formas diferentes, mas disseminado entre todos os personagens do filme.
A versão de 1959, inclusive, diminui a relevância da protagonista negra, agora retratada unicamente como a criada que sobrevive da bondade de sua patroa. No filme original, pelo menos ela tinha direito a uma parte dos lucros com a venda de suas panquecas. Entretanto, foram destacadas na personagem características como a humildade, altruísmo e a religiosidade, talvez como demonstração dos verdadeiros valores humanos.
Assim como na vida, cada um dos personagens demonstrará suas fraquezas ou virtudes, que irão levá-los a fazer suas escolhas e traçar seus destinos. Vale muito a pena assistir as duas versões desta história emocionante.
Estava me perguntando o porquê de ter me emocionado tanto com este filme. Talvez pela mensagem que o próprio título já entrega: "Imitation of Life" (Imitação da Vida).
Além da atuação das maravilhosas Claudette Colbert e Louise Beavers, o filme mostra, em vários aspectos, que se parece mesmo com a vida. Apesar desta versão de 1934 ser bastante datada, retratando uma desigualdade racial institucionalizada da época (de um lado, a subserviência e o conformismo, e de outro, a vergonha e a não aceitação da própria cor), sabemos que ainda hoje o preconceito racial existe, causando inúmeros desconfortos e injustiças.
O filme mostra o período de 18 anos na vida de Bea (Claudette) e Delilah (Louise), ao longo dos quais é possível ver que há sonhos que se realizam, outros que simplesmente naufragam; que não há garantias ou certezas para os sucessos, para os amores ou para a felicidade. Ainda que a vida nem sempre nos presenteie com um final feliz, não há dores ou sofrimentos que um dia não terminem. O que fica mesmo são as consequências do bem ou do mal que se causa a alguém. Ou seja, uma hora a conta sempre chega...
"Imitation of Life" recebeu três indicações ao Oscar em 1935 e foi refilmado em 1959. Aliás, o Oscar de 1935 teve três filmes estrelados por Claudette Colbert concorrendo na categoria Melhor Filme: 'Cleópatra', 'Aconteceu Naquela Noite' e 'Imitação da Vida'. Foi o ano em que ela ganhou a estatueta de Melhor Atriz, por 'Aconteceu Naquela Noite'.
"King Solomon's Mines" (As Minas do Rei Salomão) não é um filme surpreendente, mas é uma boa diversão, especialmente a partir da sua segunda metade. Na primeira parte da trama, a narrativa é muito arrastada, previsível e pouco interessante. Na verdade, o roteiro todo pode ser antecipado desde o início, mas ainda assim o filme guarda alguns méritos para aqueles que o assistem até o final.
Apesar da história estar ambientada no ano de 1897 e o comportamento dos personagens basear-se nos estereótipos da época, dá um pouco de preguiça acompanhar a dupla Stewart Granger e Deborah Kerr... ele, o arquétipo do herói másculo e destemido, capaz de matar uma naja com as mãos; ela, demasiadamente frágil e indefesa (perdi as contas de quantas vezes desmaiou durante a viagem...). O romance que surge entre eles também é insosso, insípido e inodoro.
Existem diversas outras versões cinematográficas sobre as Minas do Rei Salomão, mas esta foi vencedora de 2 Oscar, em 1951, nas categorias Melhor Edição/Montagem e Melhor Cinematografia/Fotografia. Realmente, a fotografia é notável, repleta de belas e amplas imagens das savanas africanas e de seus animais selvagens. Destacam-se também as sequências da tribo Watusi que dão um toque diferenciado e intenso ao desfecho.
Um filme datado mas bacana, no estilo sessão da tarde.
À primeira vista, “Hiroshima, Mon Amour” (Hiroshima, Meu Amor) é um documentário dramático sobre o bombardeio atômico que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial. O material mostrado é bastante forte, com imagens das vítimas e de toda a devastação causada pelo ataque nuclear. Nas cenas iniciais, Alain Resnais incluiu fotografias e filmes disponíveis no Museu de Hiroshima, alguns bastante difíceis de olhar, dado o grau de horror envolvido. Mas, à medida que a narrativa avança sobre o casal de protagonistas, o enredo sofre uma mudança.
É um enredo multidimensional, que evolui de forma complexa e poética, bem ao estilo dos filmes franceses da nouvelle vague. Os personagens centrais - um casal de amantes - a princípio é retratado durante o sexo e, depois, os dois passam a conversar de um modo tão íntimo, que vão adentrando camadas cada vez mais profundas de seu passado e de suas vidas. O filme mostra com delicadeza o quanto essa proximidade pode ser maior que o envolvimento físico, pois é necessário confiança e entrega para desnudar sua alma ao outro.
À medida que a mulher compartilha o passado com seu amante, evidencia-se um paralelo entre a destruição de Hiroshima e a devastação que aconteceu em sua vida, quando jovem. Conscientes da impossibilidade de seu amor, mas já unidos por suas almas, os amantes sabem que nunca mais precisarão dizer adeus, e mesmo que o tempo passe e a lembrança de seus rostos desapareça, o sentimento que os uniu permanecerá dentro de cada um. Uma parte dela ficará com ele, em Hiroshima. Uma parte dele irá com ela, para Paris. A eternidade para eles durará enquanto um lembrar-se do outro.
Impressiona como o cinema europeu consegue retratar a intimidade com tamanha delicadeza. O encontro breve entre duas pessoas que nunca haviam se visto, tornou-as mais próximas do aqueles que muitas vezes convivem uma vida inteira. O desfecho é ainda mais perfeito, com a referência ao filme ‘Casablanca’. A realidade se encarrega de fazê-los sentarem-se em mesas separadas, e o tempo fará com que um não enxergue mais o outro.
“Hiroshima, Mon Amour” é uma história sobre cicatrizes e recomeços, sobre o passado que temos guardado silenciosamente em nosso museu particular, sobre a vida que sobra depois das grandes tragédias e que precisa ergue-se sobre as cinzas e os destroços.
Sempre que possível, é bom assistir aos filmes sem ler sinopses ou críticas sobre eles, tentando absorver a experiência sem interferências externas. Talvez por este motivo eu tenha imaginado que "The Waterloo Bridge" (A Ponte de Waterloo) era mais um filme sobre a guerra e, por isso, não tenha despertado meu interesse antes de outros clássicos.
Ledo engano. Trata-se de um drama romântico pesado que, desde a primeira cena já deixa claro o quanto seu enredo será amargo. Nesta refilmagem de 1940 (o filme original é de 1931), Robert Taylor (Roy) e Vivien Leigh (Myra) estão maravilhosos como o oficial e a bailarina que se apaixonam durante um bombardeio, sendo capazes de emocionar na medida exata e necessária. Virginia Field (Kitty) também está formidável como a melhor amiga de Myra.
Aliás, Vivien Leigh era uma atriz excepcional, daquelas que transmitiam paixão ou aflição apenas com o olhar. Na cena final de 'Anna Karenina', por exemplo, a expressão em seus olhos é impressionante... e agora, neste filme (lançado 8 anos antes), descubro uma surpreendente semelhança no destino das duas personagens, com a mesma atuação admirável de Vivien.
Inigualável. O sentimento que se tem ao ter assistido a uma obra prima é uma enorme satisfação ao acompanhá-la e um respeitoso silêncio ao vê-la terminar.
O filme "Cleopatra" (Cleópatra), co-escrito e dirigido por Joseph L. Mankiewicz, é extraordinário. De uma grandiosidade e beleza indescritíveis, raramente vistas nas produções passadas e, dificilmente encontradas nas atuais (especialmente em tempos dominados por efeitos visuais feitos por computação gráfica, roteiros rasos e interpretações pífias), o filme é superlativo em tudo.
Foi uma obra caríssima, que quase levou a 20th Century Fox à falência, pois a arrecadação de bilheteria não chegou nem perto dos custos estratosféricos com sua realização. Mas, ao final, rendeu 4 premiações no Oscar de 1964 e um definitivo lugar ao sol como verdadeira arte, pois tudo neste filme é raro, perfeito e irretocável. A única nota triste fica a cargo da própria história: uma tragédia real que se abate sobre o destino dos três personagens centrais - Júlio César, Marco Antônio e Cleópatra.
Elizabeth Taylor personificou a poderosa rainha do Nilo com enorme beleza e força. Seus ricos figurinos e joias Bulgari também tornaram-se um espetáculo a parte. As cenas da chegada de Cleópatra a Roma dificilmente podem ser esquecidas. Ponto a ponto, esta é uma obra singular, inclusive por ter sido um dos mais longos filmes da história do cinema, com mais de 6 horas de duração em sua versão original e que, depois, por exigência da Fox, foram reduzidas a 4 horas (fascinantes, do início ao fim).
Esta redução de tempo, entretanto, teve inevitáveis efeitos sobre o desenvolvimento narrativo. O roteiro, que já havia sido reescrito anteriormente, sofreu cortes de cenas importantes, que conduziriam a história em um ritmo diferente. Mank chegou a propor à Fox que a exibição fosse dividida em dois filmes: um sobre César/Cleópatra e o segundo sobre Marco Antônio/Cleópatra, porém tal sugestão foi rejeitada. Apesar deste e de outros percalços, o épico permanece como obrigatório e memorável.
"Samson and Delilah" (Sansão e Dalila) possui a chancela de Cecil B. DeMille e a maioria dos elementos que ele costumava trazer para os seus filmes. Este roteiro baseia-se na saga épica de Sansão, o homem mais forte de uma tribo subjugada pelos Filisteus. Uma história bíblica que fala de amor, fé, traição e perdão.
A exuberância dos cenários está presente, o cuidado e o luxo dos figurinos também, o grande número de figurantes e um elenco cheio de estrelas, mas por algum motivo, este filme não parece ter o mesmo alcance de outras produções do diretor. Hedy Lamarr, no papel de Dalila, transpira beleza e sensualidade; já Victor Mature, como Sansão, parece um mix de Silvester Stalone com Cigano Igor. O papel inicialmente seria de Burt Lancaster, mas ele o recusou.
Apesar disso, o filme foi um enorme sucesso e teve a maior arrecadação de bilheteria no ano de lançamento. Destaque para duas cenas grandiosas: a luta de Sansão com o leão e a famosa destruição do templo. Vale muito a pena conferir, inclusive porque o streaming está com uma cópia restaurada da obra, com a qualidade Technicolor original.
"Cleopatra" (Cleópatra), de 1934, é mais um filme grandioso de Cecil B. DeMille, nas dimensões de 'Os Dez Mandamentos', 'Sansão e Dalila' e 'O Sinal da Cruz', com elenco numeroso, cenários deslumbrantes, figurinos femininos ousados e carregados de sensualidade, tudo extremamente luxuoso e exuberante, para contar o drama histórico de Cleópatra, interpretada por Claudette Colbert: a poderosa e sedutora rainha do Egito que, para defender o seu reino, envolveu-se com dois imperadores romanos: Júlio César (Warren William) e Marco Antônio (Henry Wilcoxon).
Em 1935 este filme concorreu ao Oscar em 5 categorias, mas acabou recebendo somente o de Melhor Fotografia, pelas mãos de Victor Milner. Sem dúvida, trata-se de uma obra fascinante e, embora a atriz Elizabeth Taylor tenha se tornado posteriormente a mais festejada Cleópatra do cinema, neste longa de DeMille temos uma exuberante e já premiada Claudette Colbert, capaz de encantar e arrebatar o coração dos valentes guerreiros romanos e do público em geral, pois o filme foi um sucesso de bilheteria na época.
"Cleopatra" é mais uma produção de destaque na extensa filmografia e carreira de Cecil B. DeMille, que merece ser conhecida e apreciada pelas novas gerações de cinéfilos.
Imaginar que este filme foi lançado em 1932! Incrível...
Vale a pena cada minuto deste épico memorável de Cecil B. DeMille. Um filme ousado para a época que, inclusive, durante a vigência do Código Hayes sofreu censura em várias sequências, por serem consideradas imorais; afinal, o filme carrega no erotismo, traz cenas de nudez, traições e massacres terríveis contra os cristãos. Atualmente, a obra pode ser apreciada em sua integralidade, sendo possível imaginar o furor que deve ter causado na década de 30.
O elenco de "The Sign of the Cross" (O Sinal da Cruz) traz um jovem e atlético Fredric March no papel principal, seu par romântico a bela Elissa Landi, um impagável Charles Laughton, como Nero, e a divina Claudette Colbert que, apesar de não ser a protagonista, monopoliza todas as cenas em que aparece, começando pela primeira delas: o célebre banho de leite da imperatriz. A atriz era pura dinamite e, em 1934, iria participar de mais dois filmes de Cecil B. DeMille: 'Four Frightened People' e 'Cleopatra'.
A história é contada em Roma, durante o império de Nero, e narra a perseguição dos romanos ao povo cristão. O prefeito de Roma Marcus Superbus (Fredric March) acaba se apaixonando por Mércia (Elissa Landi), uma jovem humilde que segue o cristianismo juntamente com seu padrasto. O romance é considerado uma traição a Nero e desperta o ciúme e a vingança da imperatriz Popeia (Claudette Colbert), que era apaixonada por Marcus.
A produção é grandiosa, com cenários extravagantes, figurinos luxuosos, fotografia elaborada, cheia de ângulos e detalhes precisos, muitas vezes não poupando o público das imagens mais cruéis. Uma obra memorável e obrigatória para os amantes do cinema, com um desfecho super emocionante.
"The Desperate Hours" (Horas de Desespero), de 1955, é o penúltimo filme de Humphrey Bogart. Como já tinha se tornado usual, neste longa ele também interpreta um bandido. Ao seu lado, como protagonistas, temos também Fredric March, Arthur Kennedy e Martha Scott. A direção é de William Wyler e o roteiro é uma adaptação de uma peça teatral de Joseph Hayes.
O filme é um clássico que registra a única vez em que Bogart e March trabalharam juntos. O enredo tem momentos crescentes de suspense, quando a casa da família Hilliard é invadida por três bandidos fugitivos que os aterrorizam e os mantêm reféns por várias horas. Aqueles momentos de tensão demonstraram o sentimento que unia aquela família, tornando-a ainda mais fortalecida, a ponto de serem um motivo de inveja para um dos invasores.
Este filme foi mais uma obra a ganhar uma refilmagem pífia, em 1991, acrescida de elementos desnecessários como drogas e violência explícita. Nem vou perder tempo conferindo.
O original de Wyler, sim, preserva intactas as qualidades que o definem como um bom filme.
"10 Cloverfield Lane" (Rua Cloverfield, 10) à primeira vista parece ser mais um filme sobre o fim do mundo ou sobre invasões alienígenas, mas não. Na verdade, a maneira como tudo isso acontece, ou o porquê, não fará muita diferença para a história. É somente uma moldura para o argumento central, que contará a forma como três pessoas enfrentarão esse momento.
Uma dessas pessoas é Michelle (Mary Elizabeth Winstead), que após sofrer um acidente de carro acorda num lugar que mais parece um matadouro, sem entender como chegou até ali. Logo, ela descobre que o lugar é um bunker pertencente a Howard (John Goodman), um homem estranho que mais parece um bandido, mas que alega ter salvo sua vida e lhe informa que, lá fora, um apocalipse aconteceu. Assustador é pouco.
O terceiro elemento é um jovem chamado Emmett (John Gallagher), que afirma ter ajudado Howard a construir aquele bunker e confirma sua versão de que houve realmente um bombardeio químico e que o ar do lado de fora está contaminado. A atmosfera criada pelo diretor Dan Trachtenberg é de constante suspense, medo e terror. O bunker, que deveria ser um abrigo, mais parece uma prisão; e o suposto salvador, a cada ato parece mais perigoso e paranoico.
Um filme intenso, daqueles que te deixam com a respiração suspensa.
"I Bury the Living" (Eu Enterro os Vivos) é um filme de terror bacana, com um roteiro diferente, que mantém uma boa dose de suspense, mas não exagera nas surpresas. Prende a atenção à medida que a trama avança, e evita apelar para os velhos clichês do gênero. Uma ressalva apenas para o desfecho, que não faz jus à atmosfera criada pelo filme.
"Swallow" (Devorar) é um filme diferente, que fala de um distúrbio alimentar pouco conhecido: a alotriofagia, que envolve a compulsão por comer objetos ou substâncias estranhos, às vezes perigosos e sem nenhum valor nutritivo. O longa tem uma fotografia primorosa, um bom elenco e um roteiro interessante, mas não compreendi para onde desejava ir, ou se havia alguma mensagem a repassar. Durante todo o tempo acompanhamos o drama de Hunter (Haley Bennett), a bela e jovem esposa de Richie (Austin Stowell), um jovem empresário bem sucedido. Hunter ocupa seus dias apenas com tarefas triviais e é tratada com certa indiferença pelo marido e pelos sogros. Ao descobrir sua gravidez e, juntamente com traumas do passado, ela se desestabiliza e começa a dar sinais de que está desequilibrada psicologicamente, passando a colocar em risco sua vida e seu casamento. As imagens realmente chocam, causam desconforto mas, como dito acima, a trama não fica muito clara, inclusive quanto à trajetória da personagem. Se o problema principal tinha alguma relação com a passividade com que Hunter encarava sua vida, deveria ter tido um desfecho diferente. Enfim, poderia ser um filme melhor aproveitado.
"The Night Tide" (A Noite do Terror) é um filme de 1961, em preto e branco, dirigido por Curtis Harrington. A obra foi restaurada em 2017, pois o original estava severamente danificado.
Embora considerado um filme de terror, "The Night Tide" poderia ser melhor descrito como uma obra de fantasia, com ênfase no mistério. Seu enredo é sombrio e meio sinistro, mas sem que o medo prevaleça. Temos como protagonistas Dennis Hopper - ainda bem jovem e já bastante competente - e Linda Lawson, que também encanta no papel de Mora, a sereia do parque de diversões.
Um filme com temática diferente e com uma bela fotografia.
Este filme "Dementia 13" (Demência 13) de 2017 não deve ser considerado literalmente um remake do filme homônimo de 1963, dirigido e escrito por Francis Ford Coppola. Este longa procurou adaptar a história original, mas acabou modificando-a em sua essência, transformando-se em uma imitação inferior e pouco interessante.
A obra original desenvolve-se a partir de uma situação de horror psicológico, com ênfase no drama familiar resultante da morte trágica da filha caçula Kathleen, em circunstâncias misteriosas e relevantes para o desfecho. Nesta versão americana, o diretor parece não saber que rumo dar à trama, pois ora parece um slasher, ora um terror sobrenatural com fantasma vingativo, mas nem de longe tem a atmosfera do filme de Coppola.
Os personagens estão excessivamente caricatos, especialmente Lady Haloran - interpretada por Julia Campanelli. Alguns outros elementos e argumentos foram adicionados à narrativa, porém sem qualquer relevância. Então, para que nem tudo pareça perdido, restam algumas cenas assustadoras com as bonequinhas de Kathleen.
"Dementia 13" (Demência 13) é o primeiro longa de Francis Ford Coppola. A obra atualmente é considerada um clássico e, em 2017 ganhou um remake americano (para surpresa de absolutamente ninguém), sob a direção de Richard LeMay. Trata-se de um filme de horror/suspense psicológico, com fotografia em preto e branco, ambientado num castelo Irlandês. O enredo mostra como a culpa, o luto e a ambição mantém uma família reunida, ano após ano, sem que haja entre eles quaisquer traços de afeto. Sem dúvida, um ambiente propício à insanidade.
Interessante como o ritual fúnebre serve como fator de ligação e reencontro familiar. Junto com a dor da perda, perpetuam-se sentimentos de culpa e raiva. Ali, cada uma das pessoas padece com seus demônios interiores, levando-os muitas vezes a ultrapassar os limites do que se considera racional. Não há no filme o fator sobrenatural, mas a atmosfera fantasmagórica está presente, talvez por influência de Roger Corman.
Algumas curiosidades sobre "Dementia 13": O filme foi produzido por Roger Corman, famoso por vários outros filmes no gênero terror B. Naquele ano de 1963, Corman estava filmando 'The Young Racers' na Irlanda e Coppola era o seu assistente de direção. Os cineastas então aproveitaram as mesmas locações e atores para o filme de estreia de Coppola. E por que o número 13? Uma explicação encontrada é que já havia um filme intitulado 'Dementia', lançado em 1955, então, Coppola acrescentou o número 13. Ficou bacana.
Perguntas que não querem calar, após ter assistido "The Guilty" (O Culpado), do diretor Antoine Fuqua e estrelado por Jake Gyllenhaal: 1 - qual a necessidade de se fazer um remake (cópia na cara dura) de um filme ainda tão atual quanto o original dinamarquês ('Den Skyldige'), que foi lançado em 2018? 2 - qual a finalidade de inserir na trama, logo de início, uma ocorrência tão trágica quanto um incêndio na cidade, já que tal evento não terá nenhuma relevância para a história? Um desastre de tal magnitude certamente aumentaria exponencialmente o número de telefonemas para a central de emergência, mas não é isso que ocorre no filme.
Ao contrário do que se vê no original, os americanos parecem não entender ou não saber como utilizar o silêncio como fortíssimo elemento de desespero e tensão, então, tentam construir a atmosfera de suspense usando fórmulas muito batidas: reproduzindo diálogos nervosos, com gritos ou vozes alteradas e, até mesmo inventando um cão raivoso para atacar um policial na residência do suspeito.
Outro ponto que vale destacar é que, no filme original, o diretor Gustav Möller vai contando a conta gotas o drama vivido pelo policial Asger, num crescente que coincide com a parte mais relevante do desfecho. Na cópia, o diretor parece não ter achado suficiente aquele tipo de problema, então acrescentou outros ao personagem, criando um melodrama desnecessário com as ligações que o policial faz para a esposa e para o parceiro.
O desempenho de Jake Gyllenhaal me deixou num impasse. No trecho mais catastrófico do filme, quando se faz necessário o assombro e o desespero, ele parece uma estátua de cera, sem nenhum abalo ou emoção; e logo depois, explode num turbilhão comovente, rumo à sempre obrigatória redenção heroica.
Bem, até para copiar é preciso ter arte mas, não é o que acontece com as refilmagens feitas pelos americanos.
P.s: Esqueci de comentar a heresia de modificarem alguns dos principais argumentos do roteiro. Deve ser difícil mesmo sustentar as crueldades que se assemelham à vida real.
"Den Skyldige" (Culpa), sem nenhuma dúvida, pode ser classificado como um super filme, daqueles que se embasam em apenas dois elementos: o roteiro e o protagonista. Evidente que a habilidade do diretor fará toda a diferença na maneira como a história será contada, deixando o ritmo crescer aos poucos, à medida que vai inserindo informações importantes sobre a vida do personagem, o policial Asger, interpretado cirurgicamente por Jakob Ulrik Lohmann.
Há uma versão americana deste longa, já disponível em streaming. Vale a pena conferir, para ver se o diretor Antoine Fuqua se sai tão bem quanto Gustav Möller e se o desempenho de Jake Gyllenhaal consegue passar ao público a tensão e angústia que Jakob soube fazer somente com a modulação de voz e praticamente nenhuma expressão facial.
Mais uma prova de que, para um filme ser bom, não há necessidade de se investir milhões.
Como produzir um filme com baixíssimo orçamento, elenco enxuto, praticamente sem locações, poucos figurinos, efeitos visuais mínimos e, ainda assim, deixá-lo interessante? Parece que Andrew Patterson conseguiu isso, com "The Vast of Night" (A Vastidão da Noite).
O roteiro me lembrou um episódio real envolvendo Orson Welles, em 1938, e que o tornou mundialmente conhecido. A história deste longa se passa na pequena cidade de Cayuga - Novo México, em uma noite peculiar. Naquela noite praticamente todos os habitantes da pequena cidade estarão reunidos em um ginásio escolar, para acompanharem um jogo de basquete contra uma equipe de fora.
A experiência misteriosa se inicia sem que ninguém perceba, de forma sutil, quando as luzes locais passam a falhar. Em seguida, um som estranho é percebido pela jovem Fay (Sierra McCormick), que está operando a central telefônica da cidade enquanto ouve o programa de rádio transmitido por seu amigo Everett (Jake Horowitz). A inquietação piora quando Fay começa a receber telefonemas com relatos esquisitos, como o de um militar reformado, chamado Billy, que tem uma história bem assustadora para contar.
O mérito do cineasta está na condução do enredo que, apesar de ter uma narrativa muito lenta no primeiro ato, vai adquirindo tensão sem expor nada, trabalhando somente com a sugestão e o mistério. O suspense é mantido praticamente até o último terço do filme, quando então Fay e Everett se encontram com a Sra. Blanche (Gail Cronauer) e o público consegue finalmente compreender o que estava ocorrendo.
"Antebellum" (A Escolhida) foi um filme que prendeu minha atenção imediatamente pela belíssima fotografia. Logo nas cenas iniciais, os planos abertos encantam, a ambientação nos transporta ao século XIX; e logo em seguida vemos que se trata de uma fazenda escravagista, com muitos soldados torturando ou caçando os negros. Uma escrava fugitiva é violentamente caçada. Seu nome é Eden (Janelle Monáe); os maus tratos que ela sofre se alongam, sem que sejam explicados. Percebe-se apenas que naquele lugar os negros são obrigados a trabalhar e a manter total silêncio e subserviência.
Em seguida, a trama aparentemente dá um salto no tempo e somos apresentados a Veronica, interpretada também por Janelle Monáe. Veronica vive nos dias atuais, é uma ativista na luta das mulheres e dos negros, escritora/palestrante respeitada e bem sucedida, entretanto, sofre preconceitos e é vítima do racismo, na forma como o conhecemos no presente.
Somente ao final do segundo ato do filme é que iremos perceber que fomos ludibriados com essas duas linhas temporais. Entretanto, a trama fica atrapalhada, sem mostrar claramente qual mensagem que deseja transmitir. Talvez os diretores quisessem demonstrar o quanto o racismo se mantém forte e presente até hoje; mas, para isso, não precisariam das cenas de tortura física, já que os efeitos nocivos desse preconceito racial se fazem sentir em diversas esferas da vida atual e, por si, já maltratam e destroem vidas.
Foi bacana a virada na trama, mas por outro lado, ela não fez sentido algum. Também fiquei sem compreender uma determinada cena em que aparece uma garotinha fantasmagórica. Até então, ok, parecia um filme de horror. Mas não. Então... ???
Finalizando, o filme prometia algo que não entregou. A fotografia é bonita, mas o roteiro é um balaio de gatos. O elenco é bom, mas sozinho não faz milagres. A bandeira do empoderamento feminino transformou os personagens masculinos em seres inexpressivos e, junto com a pretensa crítica ao racismo, não chegou a lugar nenhum...
O filme "Old" (Tempo), de M. Night Shyamalan, dividiu opiniões positivas e negativas. Há quem goste e há quem critique sem dó. Inegável que o roteiro trouxe elementos inovadores que ofereciam material valioso para torná-lo uma obra memorável, mas dissolveram-se na praia (sim, um trocadilho infame). Entretanto, essa superficialidade não surpreende muito; é uma das características do cineasta, que procura tornar seus filmes simples, diretos, sem muito espaço para discursos lógicos, filosóficos ou outros aprofundamentos. Shyamalan talvez queira ser um contador de fábulas - dos bons - mas apenas isso...
Assim, "Old" pode ser mais uma fábula na filmografia de Shyamalan, mas também é um filme de horror ou drama. Embora a trama não tenha a pretensão de ser profunda, destaco um diálogo que me emocionou: Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps), que no início do filme pretendiam separar-se, agora sentam-se em frente ao mar sentindo os efeitos de seu envelhecimento. Naquele momento, nada mais parece ter importância... a urgência em fugir dali perdeu o sentido, as brigas e mágoas tornaram-se irrelevantes e as palavras que expressam sentimentos ficaram desnecessárias.
A sequência me emocionou e pensei que talvez essa seja a equação da vida... quando a maturidade nos faz perceber que todas as variáveis são ilusórias e somente o tempo é capaz de fazer a diferença, apagando momentos ruins e ligando as pessoas pelos sentimentos que cultivaram. Considerei essa cena emocionante, capaz de trazer beleza à temática do filme, em contraponto aos tormentos que ele desperta.
Pois é. Uma gotinha de profundidade no oceano de Shyamalan já me cativou, mas "Old" também pode agradar aqueles que gostam de um bom suspense, com pitadas de horror. Eu gostei.
Assisti "A Menina que Matou os Pais" logo após ter visto seu filme irmão ('O Menino que Matou Meus Pais') e reitero aqui todas as impressões que deixei descritas para o filme anterior...
Acrescentaria apenas alguns aspectos técnicos que não mencionei antes, mas que se aplicam aos dois filmes: as interpretações estão bastante sofríveis, os diálogos soam irreais e a caracterização que fizeram em Carla Diaz ficou bem rudimentar.
Lamentável que um assassinato tão torpe e brutal tenha sido abordado pelo ponto de vista da defesa dos criminosos. É desta forma que a história alcançará os mais jovens e o público estrangeiro: uma Suzane vítima de relacionamentos abusivos dentro e fora de casa, o casal Richthofen como vilão da história e Daniel como o pobre garoto apaixonado que quis vingar sua namorada.
Comecei a ver os filmes sobre o assassinato do casal Richthofen pelo "O Menino que Matou Meus Pais". A proposta para existência de dois filmes complementares talvez tenha sido apenas abordar o crime sob duas versões diferentes: uma com a ótica atribuída a Suzane, e a outra com a de Daniel Cravinhos. Ressaltando que as versões contadas nos filmes foram as usadas na "defesa" dos acusados, ficando a dever uma versão que contasse os fatos apresentados pela promotoria.
Nem vou mencionar aqui os aspectos técnicos da obra, pois minhas principais impressões recaíram mesmo sobre o roteiro. Eu não sei porquê, mas esperava muito mais deste filme. Aliás, esperava que - no mínimo - fizesse um relato sério e real do evento criminoso que chocou o Brasil inteiro e que, até hoje, reverbera em nossas mentes devido à motivação torpe e, principalmente, por ter como autora a própria filha do casal.
O que assisti, entretanto, foram dois filmes fracos e com conteúdo questionável, baseados supostamente nas alegações dos criminosos quando inquiridos em julgamento. Sem qualquer valor histórico, os filmes sequer podem ser considerados um relato dos fatos. Os roteiros, entretanto, fazem o desserviço de construir uma motivação para que Suzane tenha agido daquela forma; afinal, o filme retrata um pai ríspido que saía com prostitutas, bebia, agredia sua esposa e abusava da filha; a mãe, por seu turno, mantinha em segredo um relacionamento homoafetivo, era uma esnobe que desprezava pessoas humildes e proibia o namoro de Suzane com Daniel. Enfim, é como se os Richthofen - no filme - fossem os responsáveis pelas atrocidades que sofreram.
Não dá para afirmar que houve algum interesse em amenizar a imagem fria e hedionda de Suzane para a geração pós 2002, mas, para alguém que como eu, acompanhou os eventos em tempo real, talvez o filme cause aversão. Para os mais jovens (e para aqueles que irão conhecer a história somente por meio do filme), aquela bonita jovem com ar angelical parece ter sido a vítima de uma família disfuncional. Bem, isso pode ser oportuno, afinal, em breve ela estará em liberdade e pronta para recomeçar sua vida fora da prisão.
"Dream House" (A Casa dos Sonhos) tem roteiro e direção de Jim Sheridan e um elenco de peso, com Daniel Craig, Rachel Weisz, Chris Owens e Naomi Watts. Temos aqui um suspense, com uma narrativa centrada no personagem de Craig, que atravessa o primeiro ato do filme vivenciando um processo de renovação. Essa primeira parte do roteiro é a mais interessante, pois lentamente vai inserindo o mistério juntamente com o perigo, indicando que aqueles momentos de felicidade e paz serão breves.
No segundo ato as perguntas se multiplicam, embora parte dos segredos e mistérios sejam logo compartilhados com o público. Falta entretanto uma explicação e uma motivação para tudo o que ocorreu naquela casa. Essa é a chave para o terceiro e último ato, quando o arco do protagonista se completa e sua vida pode enfim prosseguir, apesar das cicatrizes.
O filme não é memorável, mas é um bom entretenimento.
Imitação da Vida
4.2 94 Assista AgoraEsta versão de "Imitation of Life" (Imitação da Vida) é uma adaptação do filme lançado em 1934, porém, como as circunstâncias presentes no roteiro original já haviam se tornado um tanto improváveis no final da década de 50, a história foi atualizada para retratar o famoso 'american dream', tão presente no imaginário americano e bastante difundido pelas produções de Hollywood.
Os filmes das décadas de 50 e 60 primavam pelo glamour, pela exuberância e promoviam o ideal da beleza, do sucesso e do poder. Assim, os sonhos e ambições da personagem principal se aprimoraram e modernizaram. Lora (Lana Turner) agora almeja o sucesso na carreira teatral e seu par romântico, Steve (John Gavin), transformou-se no CEO de uma próspera empresa de bebidas. Entretanto, seu lado materno - antes doce, protetor e amoroso - foi substituído por uma versão mais egoísta e ambiciosa.
Já a trama secundária, envolvendo Annie (Juanita Moore) e sua filha Sarah Jane (Susan Kohner), que trata de questões delicadas como o racismo e a falta de oportunidades resultantes dele, apresenta maior intensidade em relação ao filme de 1934. Nesta versão foram incluídas cenas muito mais chocantes e violentas, retratando um preconceito racial aberto e declarado, manifestado em graus e formas diferentes, mas disseminado entre todos os personagens do filme.
A versão de 1959, inclusive, diminui a relevância da protagonista negra, agora retratada unicamente como a criada que sobrevive da bondade de sua patroa. No filme original, pelo menos ela tinha direito a uma parte dos lucros com a venda de suas panquecas. Entretanto, foram destacadas na personagem características como a humildade, altruísmo e a religiosidade, talvez como demonstração dos verdadeiros valores humanos.
Assim como na vida, cada um dos personagens demonstrará suas fraquezas ou virtudes, que irão levá-los a fazer suas escolhas e traçar seus destinos. Vale muito a pena assistir as duas versões desta história emocionante.
Imitação da Vida
4.0 39Estava me perguntando o porquê de ter me emocionado tanto com este filme. Talvez pela mensagem que o próprio título já entrega: "Imitation of Life" (Imitação da Vida).
Além da atuação das maravilhosas Claudette Colbert e Louise Beavers, o filme mostra, em vários aspectos, que se parece mesmo com a vida. Apesar desta versão de 1934 ser bastante datada, retratando uma desigualdade racial institucionalizada da época (de um lado, a subserviência e o conformismo, e de outro, a vergonha e a não aceitação da própria cor), sabemos que ainda hoje o preconceito racial existe, causando inúmeros desconfortos e injustiças.
O filme mostra o período de 18 anos na vida de Bea (Claudette) e Delilah (Louise), ao longo dos quais é possível ver que há sonhos que se realizam, outros que simplesmente naufragam; que não há garantias ou certezas para os sucessos, para os amores ou para a felicidade. Ainda que a vida nem sempre nos presenteie com um final feliz, não há dores ou sofrimentos que um dia não terminem. O que fica mesmo são as consequências do bem ou do mal que se causa a alguém. Ou seja, uma hora a conta sempre chega...
"Imitation of Life" recebeu três indicações ao Oscar em 1935 e foi refilmado em 1959. Aliás, o Oscar de 1935 teve três filmes estrelados por Claudette Colbert concorrendo na categoria Melhor Filme: 'Cleópatra', 'Aconteceu Naquela Noite' e 'Imitação da Vida'.
Foi o ano em que ela ganhou a estatueta de Melhor Atriz, por 'Aconteceu Naquela Noite'.
As Minas do Rei Salomão
3.3 19 Assista Agora"King Solomon's Mines" (As Minas do Rei Salomão) não é um filme surpreendente, mas é uma boa diversão, especialmente a partir da sua segunda metade. Na primeira parte da trama, a narrativa é muito arrastada, previsível e pouco interessante. Na verdade, o roteiro todo pode ser antecipado desde o início, mas ainda assim o filme guarda alguns méritos para aqueles que o assistem até o final.
Apesar da história estar ambientada no ano de 1897 e o comportamento dos personagens basear-se nos estereótipos da época, dá um pouco de preguiça acompanhar a dupla Stewart Granger e Deborah Kerr... ele, o arquétipo do herói másculo e destemido, capaz de matar uma naja com as mãos; ela, demasiadamente frágil e indefesa (perdi as contas de quantas vezes desmaiou durante a viagem...). O romance que surge entre eles também é insosso, insípido e inodoro.
Existem diversas outras versões cinematográficas sobre as Minas do Rei Salomão, mas esta foi vencedora de 2 Oscar, em 1951, nas categorias Melhor Edição/Montagem e Melhor Cinematografia/Fotografia. Realmente, a fotografia é notável, repleta de belas e amplas imagens das savanas africanas e de seus animais selvagens. Destacam-se também as sequências da tribo Watusi que dão um toque diferenciado e intenso ao desfecho.
Um filme datado mas bacana, no estilo sessão da tarde.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista AgoraÀ primeira vista, “Hiroshima, Mon Amour” (Hiroshima, Meu Amor) é um documentário dramático sobre o bombardeio atômico que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial. O material mostrado é bastante forte, com imagens das vítimas e de toda a devastação causada pelo ataque nuclear. Nas cenas iniciais, Alain Resnais incluiu fotografias e filmes disponíveis no Museu de Hiroshima, alguns bastante difíceis de olhar, dado o grau de horror envolvido. Mas, à medida que a narrativa avança sobre o casal de protagonistas, o enredo sofre uma mudança.
É um enredo multidimensional, que evolui de forma complexa e poética, bem ao estilo dos filmes franceses da nouvelle vague. Os personagens centrais - um casal de amantes - a princípio é retratado durante o sexo e, depois, os dois passam a conversar de um modo tão íntimo, que vão adentrando camadas cada vez mais profundas de seu passado e de suas vidas. O filme mostra com delicadeza o quanto essa proximidade pode ser maior que o envolvimento físico, pois é necessário confiança e entrega para desnudar sua alma ao outro.
À medida que a mulher compartilha o passado com seu amante, evidencia-se um paralelo entre a destruição de Hiroshima e a devastação que aconteceu em sua vida, quando jovem. Conscientes da impossibilidade de seu amor, mas já unidos por suas almas, os amantes sabem que nunca mais precisarão dizer adeus, e mesmo que o tempo passe e a lembrança de seus rostos desapareça, o sentimento que os uniu permanecerá dentro de cada um. Uma parte dela ficará com ele, em Hiroshima. Uma parte dele irá com ela, para Paris. A eternidade para eles durará enquanto um lembrar-se do outro.
Impressiona como o cinema europeu consegue retratar a intimidade com tamanha delicadeza. O encontro breve entre duas pessoas que nunca haviam se visto, tornou-as mais próximas do aqueles que muitas vezes convivem uma vida inteira. O desfecho é ainda mais perfeito, com a referência ao filme ‘Casablanca’. A realidade se encarrega de fazê-los sentarem-se em mesas separadas, e o tempo fará com que um não enxergue mais o outro.
“Hiroshima, Mon Amour” é uma história sobre cicatrizes e recomeços, sobre o passado que temos guardado silenciosamente em nosso museu particular, sobre a vida que sobra depois das grandes tragédias e que precisa ergue-se sobre as cinzas e os destroços.
Doloroso, mas lindo...
A Ponte de Waterloo
4.2 38 Assista AgoraSempre que possível, é bom assistir aos filmes sem ler sinopses ou críticas sobre eles, tentando absorver a experiência sem interferências externas. Talvez por este motivo eu tenha imaginado que "The Waterloo Bridge" (A Ponte de Waterloo) era mais um filme sobre a guerra e, por isso, não tenha despertado meu interesse antes de outros clássicos.
Ledo engano. Trata-se de um drama romântico pesado que, desde a primeira cena já deixa claro o quanto seu enredo será amargo. Nesta refilmagem de 1940 (o filme original é de 1931), Robert Taylor (Roy) e Vivien Leigh (Myra) estão maravilhosos como o oficial e a bailarina que se apaixonam durante um bombardeio, sendo capazes de emocionar na medida exata e necessária. Virginia Field (Kitty) também está formidável como a melhor amiga de Myra.
Aliás, Vivien Leigh era uma atriz excepcional, daquelas que transmitiam paixão ou aflição apenas com o olhar. Na cena final de 'Anna Karenina', por exemplo, a expressão em seus olhos é impressionante... e agora, neste filme (lançado 8 anos antes), descubro uma surpreendente semelhança no destino das duas personagens, com a mesma atuação admirável de Vivien.
Filme belo, com uma trilha sonora marcante.
Cleópatra
4.0 307 Assista AgoraInigualável.
O sentimento que se tem ao ter assistido a uma obra prima é uma enorme satisfação ao acompanhá-la e um respeitoso silêncio ao vê-la terminar.
O filme "Cleopatra" (Cleópatra), co-escrito e dirigido por Joseph L. Mankiewicz, é extraordinário. De uma grandiosidade e beleza indescritíveis, raramente vistas nas produções passadas e, dificilmente encontradas nas atuais (especialmente em tempos dominados por efeitos visuais feitos por computação gráfica, roteiros rasos e interpretações pífias), o filme é superlativo em tudo.
Foi uma obra caríssima, que quase levou a 20th Century Fox à falência, pois a arrecadação de bilheteria não chegou nem perto dos custos estratosféricos com sua realização. Mas, ao final, rendeu 4 premiações no Oscar de 1964 e um definitivo lugar ao sol como verdadeira arte, pois tudo neste filme é raro, perfeito e irretocável. A única nota triste fica a cargo da própria história: uma tragédia real que se abate sobre o destino dos três personagens centrais - Júlio César, Marco Antônio e Cleópatra.
Elizabeth Taylor personificou a poderosa rainha do Nilo com enorme beleza e força. Seus ricos figurinos e joias Bulgari também tornaram-se um espetáculo a parte. As cenas da chegada de Cleópatra a Roma dificilmente podem ser esquecidas. Ponto a ponto, esta é uma obra singular, inclusive por ter sido um dos mais longos filmes da história do cinema, com mais de 6 horas de duração em sua versão original e que, depois, por exigência da Fox, foram reduzidas a 4 horas (fascinantes, do início ao fim).
Esta redução de tempo, entretanto, teve inevitáveis efeitos sobre o desenvolvimento narrativo. O roteiro, que já havia sido reescrito anteriormente, sofreu cortes de cenas importantes, que conduziriam a história em um ritmo diferente. Mank chegou a propor à Fox que a exibição fosse dividida em dois filmes: um sobre César/Cleópatra e o segundo sobre Marco Antônio/Cleópatra, porém tal sugestão foi rejeitada. Apesar deste e de outros percalços, o épico permanece como obrigatório e memorável.
Sansão e Dalila
3.7 64 Assista Agora"Samson and Delilah" (Sansão e Dalila) possui a chancela de Cecil B. DeMille e a maioria dos elementos que ele costumava trazer para os seus filmes. Este roteiro baseia-se na saga épica de Sansão, o homem mais forte de uma tribo subjugada pelos Filisteus. Uma história bíblica que fala de amor, fé, traição e perdão.
A exuberância dos cenários está presente, o cuidado e o luxo dos figurinos também, o grande número de figurantes e um elenco cheio de estrelas, mas por algum motivo, este filme não parece ter o mesmo alcance de outras produções do diretor. Hedy Lamarr, no papel de Dalila, transpira beleza e sensualidade; já Victor Mature, como Sansão, parece um mix de Silvester Stalone com Cigano Igor. O papel inicialmente seria de Burt Lancaster, mas ele o recusou.
Apesar disso, o filme foi um enorme sucesso e teve a maior arrecadação de bilheteria no ano de lançamento. Destaque para duas cenas grandiosas: a luta de Sansão com o leão e a famosa destruição do templo.
Vale muito a pena conferir, inclusive porque o streaming está com uma cópia restaurada da obra, com a qualidade Technicolor original.
Cleópatra
3.8 28"Cleopatra" (Cleópatra), de 1934, é mais um filme grandioso de Cecil B. DeMille, nas dimensões de 'Os Dez Mandamentos', 'Sansão e Dalila' e 'O Sinal da Cruz', com elenco numeroso, cenários deslumbrantes, figurinos femininos ousados e carregados de sensualidade, tudo extremamente luxuoso e exuberante, para contar o drama histórico de Cleópatra, interpretada por Claudette Colbert: a poderosa e sedutora rainha do Egito que, para defender o seu reino, envolveu-se com dois imperadores romanos: Júlio César (Warren William) e Marco Antônio (Henry Wilcoxon).
Em 1935 este filme concorreu ao Oscar em 5 categorias, mas acabou recebendo somente o de Melhor Fotografia, pelas mãos de Victor Milner. Sem dúvida, trata-se de uma obra fascinante e, embora a atriz Elizabeth Taylor tenha se tornado posteriormente a mais festejada Cleópatra do cinema, neste longa de DeMille temos uma exuberante e já premiada Claudette Colbert, capaz de encantar e arrebatar o coração dos valentes guerreiros romanos e do público em geral, pois o filme foi um sucesso de bilheteria na época.
"Cleopatra" é mais uma produção de destaque na extensa filmografia e carreira de Cecil B. DeMille, que merece ser conhecida e apreciada pelas novas gerações de cinéfilos.
O Sinal da Cruz
4.0 16Imaginar que este filme foi lançado em 1932! Incrível...
Vale a pena cada minuto deste épico memorável de Cecil B. DeMille. Um filme ousado para a época que, inclusive, durante a vigência do Código Hayes sofreu censura em várias sequências, por serem consideradas imorais; afinal, o filme carrega no erotismo, traz cenas de nudez, traições e massacres terríveis contra os cristãos. Atualmente, a obra pode ser apreciada em sua integralidade, sendo possível imaginar o furor que deve ter causado na década de 30.
O elenco de "The Sign of the Cross" (O Sinal da Cruz) traz um jovem e atlético Fredric March no papel principal, seu par romântico a bela Elissa Landi, um impagável Charles Laughton, como Nero, e a divina Claudette Colbert que, apesar de não ser a protagonista, monopoliza todas as cenas em que aparece, começando pela primeira delas: o célebre banho de leite da imperatriz. A atriz era pura dinamite e, em 1934, iria participar de mais dois filmes de Cecil B. DeMille: 'Four Frightened People' e 'Cleopatra'.
A história é contada em Roma, durante o império de Nero, e narra a perseguição dos romanos ao povo cristão. O prefeito de Roma Marcus Superbus (Fredric March) acaba se apaixonando por Mércia (Elissa Landi), uma jovem humilde que segue o cristianismo juntamente com seu padrasto. O romance é considerado uma traição a Nero e desperta o ciúme e a vingança da imperatriz Popeia (Claudette Colbert), que era apaixonada por Marcus.
A produção é grandiosa, com cenários extravagantes, figurinos luxuosos, fotografia elaborada, cheia de ângulos e detalhes precisos, muitas vezes não poupando o público das imagens mais cruéis. Uma obra memorável e obrigatória para os amantes do cinema, com um desfecho super emocionante.
Horas de Desespero
3.9 27"The Desperate Hours" (Horas de Desespero), de 1955, é o penúltimo filme de Humphrey Bogart. Como já tinha se tornado usual, neste longa ele também interpreta um bandido. Ao seu lado, como protagonistas, temos também Fredric March, Arthur Kennedy e Martha Scott. A direção é de William Wyler e o roteiro é uma adaptação de uma peça teatral de Joseph Hayes.
O filme é um clássico que registra a única vez em que Bogart e March trabalharam juntos. O enredo tem momentos crescentes de suspense, quando a casa da família Hilliard é invadida por três bandidos fugitivos que os aterrorizam e os mantêm reféns por várias horas. Aqueles momentos de tensão demonstraram o sentimento que unia aquela família, tornando-a ainda mais fortalecida, a ponto de serem um motivo de inveja para um dos invasores.
Este filme foi mais uma obra a ganhar uma refilmagem pífia, em 1991, acrescida de elementos desnecessários como drogas e violência explícita.
Nem vou perder tempo conferindo.
O original de Wyler, sim, preserva intactas as qualidades que o definem como um bom filme.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9K"10 Cloverfield Lane" (Rua Cloverfield, 10) à primeira vista parece ser mais um filme sobre o fim do mundo ou sobre invasões alienígenas, mas não. Na verdade, a maneira como tudo isso acontece, ou o porquê, não fará muita diferença para a história. É somente uma moldura para o argumento central, que contará a forma como três pessoas enfrentarão esse momento.
Uma dessas pessoas é Michelle (Mary Elizabeth Winstead), que após sofrer um acidente de carro acorda num lugar que mais parece um matadouro, sem entender como chegou até ali. Logo, ela descobre que o lugar é um bunker pertencente a Howard (John Goodman), um homem estranho que mais parece um bandido, mas que alega ter salvo sua vida e lhe informa que, lá fora, um apocalipse aconteceu. Assustador é pouco.
O terceiro elemento é um jovem chamado Emmett (John Gallagher), que afirma ter ajudado Howard a construir aquele bunker e confirma sua versão de que houve realmente um bombardeio químico e que o ar do lado de fora está contaminado. A atmosfera criada pelo diretor Dan Trachtenberg é de constante suspense, medo e terror. O bunker, que deveria ser um abrigo, mais parece uma prisão; e o suposto salvador, a cada ato parece mais perigoso e paranoico.
Um filme intenso, daqueles que te deixam com a respiração suspensa.
Eu Enterro os Vivos
3.1 9 Assista Agora"I Bury the Living" (Eu Enterro os Vivos) é um filme de terror bacana, com um roteiro diferente, que mantém uma boa dose de suspense, mas não exagera nas surpresas.
Prende a atenção à medida que a trama avança, e evita apelar para os velhos clichês do gênero.
Uma ressalva apenas para o desfecho, que não faz jus à atmosfera criada pelo filme.
Devorar
3.7 366 Assista Agora"Swallow" (Devorar) é um filme diferente, que fala de um distúrbio alimentar pouco conhecido: a alotriofagia, que envolve a compulsão por comer objetos ou substâncias estranhos, às vezes perigosos e sem nenhum valor nutritivo.
O longa tem uma fotografia primorosa, um bom elenco e um roteiro interessante, mas não compreendi para onde desejava ir, ou se havia alguma mensagem a repassar. Durante todo o tempo acompanhamos o drama de Hunter (Haley Bennett), a bela e jovem esposa de Richie (Austin Stowell), um jovem empresário bem sucedido. Hunter ocupa seus dias apenas com tarefas triviais e é tratada com certa indiferença pelo marido e pelos sogros.
Ao descobrir sua gravidez e, juntamente com traumas do passado, ela se desestabiliza e começa a dar sinais de que está desequilibrada psicologicamente, passando a colocar em risco sua vida e seu casamento.
As imagens realmente chocam, causam desconforto mas, como dito acima, a trama não fica muito clara, inclusive quanto à trajetória da personagem. Se o problema principal tinha alguma relação com a passividade com que Hunter encarava sua vida, deveria ter tido um desfecho diferente.
Enfim, poderia ser um filme melhor aproveitado.
A Noite do Terror
3.4 21 Assista Agora"The Night Tide" (A Noite do Terror) é um filme de 1961, em preto e branco, dirigido por Curtis Harrington. A obra foi restaurada em 2017, pois o original estava severamente danificado.
Embora considerado um filme de terror, "The Night Tide" poderia ser melhor descrito como uma obra de fantasia, com ênfase no mistério. Seu enredo é sombrio e meio sinistro, mas sem que o medo prevaleça. Temos como protagonistas Dennis Hopper - ainda bem jovem e já bastante competente - e Linda Lawson, que também encanta no papel de Mora, a sereia do parque de diversões.
Um filme com temática diferente e com uma bela fotografia.
Demência 13
2.0 15 Assista AgoraEste filme "Dementia 13" (Demência 13) de 2017 não deve ser considerado literalmente um remake do filme homônimo de 1963, dirigido e escrito por Francis Ford Coppola. Este longa procurou adaptar a história original, mas acabou modificando-a em sua essência, transformando-se em uma imitação inferior e pouco interessante.
A obra original desenvolve-se a partir de uma situação de horror psicológico, com ênfase no drama familiar resultante da morte trágica da filha caçula Kathleen, em circunstâncias misteriosas e relevantes para o desfecho. Nesta versão americana, o diretor parece não saber que rumo dar à trama, pois ora parece um slasher, ora um terror sobrenatural com fantasma vingativo, mas nem de longe tem a atmosfera do filme de Coppola.
Os personagens estão excessivamente caricatos, especialmente Lady Haloran - interpretada por Julia Campanelli. Alguns outros elementos e argumentos foram adicionados à narrativa, porém sem qualquer relevância. Então, para que nem tudo pareça perdido, restam algumas cenas assustadoras com as bonequinhas de Kathleen.
Demência 13
3.2 46 Assista Agora"Dementia 13" (Demência 13) é o primeiro longa de Francis Ford Coppola. A obra atualmente é considerada um clássico e, em 2017 ganhou um remake americano (para surpresa de absolutamente ninguém), sob a direção de Richard LeMay. Trata-se de um filme de horror/suspense psicológico, com fotografia em preto e branco, ambientado num castelo Irlandês. O enredo mostra como a culpa, o luto e a ambição mantém uma família reunida, ano após ano, sem que haja entre eles quaisquer traços de afeto. Sem dúvida, um ambiente propício à insanidade.
Interessante como o ritual fúnebre serve como fator de ligação e reencontro familiar. Junto com a dor da perda, perpetuam-se sentimentos de culpa e raiva. Ali, cada uma das pessoas padece com seus demônios interiores, levando-os muitas vezes a ultrapassar os limites do que se considera racional. Não há no filme o fator sobrenatural, mas a atmosfera fantasmagórica está presente, talvez por influência de Roger Corman.
Algumas curiosidades sobre "Dementia 13": O filme foi produzido por Roger Corman, famoso por vários outros filmes no gênero terror B. Naquele ano de 1963, Corman estava filmando 'The Young Racers' na Irlanda e Coppola era o seu assistente de direção. Os cineastas então aproveitaram as mesmas locações e atores para o filme de estreia de Coppola. E por que o número 13? Uma explicação encontrada é que já havia um filme intitulado 'Dementia', lançado em 1955, então, Coppola acrescentou o número 13.
Ficou bacana.
O Culpado
3.0 452 Assista AgoraPerguntas que não querem calar, após ter assistido "The Guilty" (O Culpado), do diretor Antoine Fuqua e estrelado por Jake Gyllenhaal: 1 - qual a necessidade de se fazer um remake (cópia na cara dura) de um filme ainda tão atual quanto o original dinamarquês ('Den Skyldige'), que foi lançado em 2018? 2 - qual a finalidade de inserir na trama, logo de início, uma ocorrência tão trágica quanto um incêndio na cidade, já que tal evento não terá nenhuma relevância para a história? Um desastre de tal magnitude certamente aumentaria exponencialmente o número de telefonemas para a central de emergência, mas não é isso que ocorre no filme.
Ao contrário do que se vê no original, os americanos parecem não entender ou não saber como utilizar o silêncio como fortíssimo elemento de desespero e tensão, então, tentam construir a atmosfera de suspense usando fórmulas muito batidas: reproduzindo diálogos nervosos, com gritos ou vozes alteradas e, até mesmo inventando um cão raivoso para atacar um policial na residência do suspeito.
Outro ponto que vale destacar é que, no filme original, o diretor Gustav Möller vai contando a conta gotas o drama vivido pelo policial Asger, num crescente que coincide com a parte mais relevante do desfecho. Na cópia, o diretor parece não ter achado suficiente aquele tipo de problema, então acrescentou outros ao personagem, criando um melodrama desnecessário com as ligações que o policial faz para a esposa e para o parceiro.
O desempenho de Jake Gyllenhaal me deixou num impasse. No trecho mais catastrófico do filme, quando se faz necessário o assombro e o desespero, ele parece uma estátua de cera, sem nenhum abalo ou emoção; e logo depois, explode num turbilhão comovente, rumo à sempre obrigatória redenção heroica.
Bem, até para copiar é preciso ter arte mas, não é o que acontece com as refilmagens feitas pelos americanos.
P.s: Esqueci de comentar a heresia de modificarem alguns dos principais argumentos do roteiro. Deve ser difícil mesmo sustentar as crueldades que se assemelham à vida real.
Culpa
3.9 355 Assista Agora"Den Skyldige" (Culpa), sem nenhuma dúvida, pode ser classificado como um super filme, daqueles que se embasam em apenas dois elementos: o roteiro e o protagonista.
Evidente que a habilidade do diretor fará toda a diferença na maneira como a história será contada, deixando o ritmo crescer aos poucos, à medida que vai inserindo informações importantes sobre a vida do personagem, o policial Asger, interpretado cirurgicamente por Jakob Ulrik Lohmann.
Há uma versão americana deste longa, já disponível em streaming. Vale a pena conferir, para ver se o diretor Antoine Fuqua se sai tão bem quanto Gustav Möller e se o desempenho de Jake Gyllenhaal consegue passar ao público a tensão e angústia que Jakob soube fazer somente com a modulação de voz e praticamente nenhuma expressão facial.
Mais uma prova de que, para um filme ser bom, não há necessidade de se investir milhões.
A Vastidão da Noite
3.5 575 Assista AgoraComo produzir um filme com baixíssimo orçamento, elenco enxuto, praticamente sem locações, poucos figurinos, efeitos visuais mínimos e, ainda assim, deixá-lo interessante? Parece que Andrew Patterson conseguiu isso, com "The Vast of Night" (A Vastidão da Noite).
O roteiro me lembrou um episódio real envolvendo Orson Welles, em 1938, e que o tornou mundialmente conhecido. A história deste longa se passa na pequena cidade de Cayuga - Novo México, em uma noite peculiar. Naquela noite praticamente todos os habitantes da pequena cidade estarão reunidos em um ginásio escolar, para acompanharem um jogo de basquete contra uma equipe de fora.
A experiência misteriosa se inicia sem que ninguém perceba, de forma sutil, quando as luzes locais passam a falhar. Em seguida, um som estranho é percebido pela jovem Fay (Sierra McCormick), que está operando a central telefônica da cidade enquanto ouve o programa de rádio transmitido por seu amigo Everett (Jake Horowitz). A inquietação piora quando Fay começa a receber telefonemas com relatos esquisitos, como o de um militar reformado, chamado Billy, que tem uma história bem assustadora para contar.
O mérito do cineasta está na condução do enredo que, apesar de ter uma narrativa muito lenta no primeiro ato, vai adquirindo tensão sem expor nada, trabalhando somente com a sugestão e o mistério. O suspense é mantido praticamente até o último terço do filme, quando então Fay e Everett se encontram com a Sra. Blanche (Gail Cronauer) e o público consegue finalmente compreender o que estava ocorrendo.
A Escolhida
3.5 291"Antebellum" (A Escolhida) foi um filme que prendeu minha atenção imediatamente pela belíssima fotografia. Logo nas cenas iniciais, os planos abertos encantam, a ambientação nos transporta ao século XIX; e logo em seguida vemos que se trata de uma fazenda escravagista, com muitos soldados torturando ou caçando os negros. Uma escrava fugitiva é violentamente caçada. Seu nome é Eden (Janelle Monáe); os maus tratos que ela sofre se alongam, sem que sejam explicados. Percebe-se apenas que naquele lugar os negros são obrigados a trabalhar e a manter total silêncio e subserviência.
Em seguida, a trama aparentemente dá um salto no tempo e somos apresentados a Veronica, interpretada também por Janelle Monáe. Veronica vive nos dias atuais, é uma ativista na luta das mulheres e dos negros, escritora/palestrante respeitada e bem sucedida, entretanto, sofre preconceitos e é vítima do racismo, na forma como o conhecemos no presente.
Somente ao final do segundo ato do filme é que iremos perceber que fomos ludibriados com essas duas linhas temporais. Entretanto, a trama fica atrapalhada, sem mostrar claramente qual mensagem que deseja transmitir. Talvez os diretores quisessem demonstrar o quanto o racismo se mantém forte e presente até hoje; mas, para isso, não precisariam das cenas de tortura física, já que os efeitos nocivos desse preconceito racial se fazem sentir em diversas esferas da vida atual e, por si, já maltratam e destroem vidas.
Foi bacana a virada na trama, mas por outro lado, ela não fez sentido algum. Também fiquei sem compreender uma determinada cena em que aparece uma garotinha fantasmagórica. Até então, ok, parecia um filme de horror. Mas não. Então... ???
Finalizando, o filme prometia algo que não entregou. A fotografia é bonita, mas o roteiro é um balaio de gatos. O elenco é bom, mas sozinho não faz milagres. A bandeira do empoderamento feminino transformou os personagens masculinos em seres inexpressivos e, junto com a pretensa crítica ao racismo, não chegou a lugar nenhum...
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraO filme "Old" (Tempo), de M. Night Shyamalan, dividiu opiniões positivas e negativas. Há quem goste e há quem critique sem dó. Inegável que o roteiro trouxe elementos inovadores que ofereciam material valioso para torná-lo uma obra memorável, mas dissolveram-se na praia (sim, um trocadilho infame). Entretanto, essa superficialidade não surpreende muito; é uma das características do cineasta, que procura tornar seus filmes simples, diretos, sem muito espaço para discursos lógicos, filosóficos ou outros aprofundamentos. Shyamalan talvez queira ser um contador de fábulas - dos bons - mas apenas isso...
Assim, "Old" pode ser mais uma fábula na filmografia de Shyamalan, mas também é um filme de horror ou drama. Embora a trama não tenha a pretensão de ser profunda, destaco um diálogo que me emocionou: Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps), que no início do filme pretendiam separar-se, agora sentam-se em frente ao mar sentindo os efeitos de seu envelhecimento. Naquele momento, nada mais parece ter importância... a urgência em fugir dali perdeu o sentido, as brigas e mágoas tornaram-se irrelevantes e as palavras que expressam sentimentos ficaram desnecessárias.
A sequência me emocionou e pensei que talvez essa seja a equação da vida... quando a maturidade nos faz perceber que todas as variáveis são ilusórias e somente o tempo é capaz de fazer a diferença, apagando momentos ruins e ligando as pessoas pelos sentimentos que cultivaram. Considerei essa cena emocionante, capaz de trazer beleza à temática do filme, em contraponto aos tormentos que ele desperta.
Pois é. Uma gotinha de profundidade no oceano de Shyamalan já me cativou, mas "Old" também pode agradar aqueles que gostam de um bom suspense, com pitadas de horror.
Eu gostei.
A Menina que Matou os Pais
3.1 679 Assista AgoraAssisti "A Menina que Matou os Pais" logo após ter visto seu filme irmão ('O Menino que Matou Meus Pais') e reitero aqui todas as impressões que deixei descritas para o filme anterior...
Acrescentaria apenas alguns aspectos técnicos que não mencionei antes, mas que se aplicam aos dois filmes: as interpretações estão bastante sofríveis, os diálogos soam irreais e a caracterização que fizeram em Carla Diaz ficou bem rudimentar.
Lamentável que um assassinato tão torpe e brutal tenha sido abordado pelo ponto de vista da defesa dos criminosos. É desta forma que a história alcançará os mais jovens e o público estrangeiro: uma Suzane vítima de relacionamentos abusivos dentro e fora de casa, o casal Richthofen como vilão da história e Daniel como o pobre garoto apaixonado que quis vingar sua namorada.
O Menino que Matou Meus Pais
3.0 515 Assista AgoraComecei a ver os filmes sobre o assassinato do casal Richthofen pelo "O Menino que Matou Meus Pais". A proposta para existência de dois filmes complementares talvez tenha sido apenas abordar o crime sob duas versões diferentes: uma com a ótica atribuída a Suzane, e a outra com a de Daniel Cravinhos. Ressaltando que as versões contadas nos filmes foram as usadas na "defesa" dos acusados, ficando a dever uma versão que contasse os fatos apresentados pela promotoria.
Nem vou mencionar aqui os aspectos técnicos da obra, pois minhas principais impressões recaíram mesmo sobre o roteiro. Eu não sei porquê, mas esperava muito mais deste filme. Aliás, esperava que - no mínimo - fizesse um relato sério e real do evento criminoso que chocou o Brasil inteiro e que, até hoje, reverbera em nossas mentes devido à motivação torpe e, principalmente, por ter como autora a própria filha do casal.
O que assisti, entretanto, foram dois filmes fracos e com conteúdo questionável, baseados supostamente nas alegações dos criminosos quando inquiridos em julgamento. Sem qualquer valor histórico, os filmes sequer podem ser considerados um relato dos fatos. Os roteiros, entretanto, fazem o desserviço de construir uma motivação para que Suzane tenha agido daquela forma; afinal, o filme retrata um pai ríspido que saía com prostitutas, bebia, agredia sua esposa e abusava da filha; a mãe, por seu turno, mantinha em segredo um relacionamento homoafetivo, era uma esnobe que desprezava pessoas humildes e proibia o namoro de Suzane com Daniel. Enfim, é como se os Richthofen - no filme - fossem os responsáveis pelas atrocidades que sofreram.
Não dá para afirmar que houve algum interesse em amenizar a imagem fria e hedionda de Suzane para a geração pós 2002, mas, para alguém que como eu, acompanhou os eventos em tempo real, talvez o filme cause aversão. Para os mais jovens (e para aqueles que irão conhecer a história somente por meio do filme), aquela bonita jovem com ar angelical parece ter sido a vítima de uma família disfuncional. Bem, isso pode ser oportuno, afinal, em breve ela estará em liberdade e pronta para recomeçar sua vida fora da prisão.
A Casa dos Sonhos
3.2 1,4K Assista Agora"Dream House" (A Casa dos Sonhos) tem roteiro e direção de Jim Sheridan e um elenco de peso, com Daniel Craig, Rachel Weisz, Chris Owens e Naomi Watts. Temos aqui um suspense, com uma narrativa centrada no personagem de Craig, que atravessa o primeiro ato do filme vivenciando um processo de renovação. Essa primeira parte do roteiro é a mais interessante, pois lentamente vai inserindo o mistério juntamente com o perigo, indicando que aqueles momentos de felicidade e paz serão breves.
No segundo ato as perguntas se multiplicam, embora parte dos segredos e mistérios sejam logo compartilhados com o público. Falta entretanto uma explicação e uma motivação para tudo o que ocorreu naquela casa. Essa é a chave para o terceiro e último ato, quando o arco do protagonista se completa e sua vida pode enfim prosseguir, apesar das cicatrizes.
O filme não é memorável, mas é um bom entretenimento.