Tão leve, mas tão instrutivo. Comecei a assistir em um momento de desânimo e foi muito esclarecedor sobre as coisas que importam na vida para nos sentirmos mais felizes e "preenchidos". Vale a pena ver esse doc.
Com toda a certeza é um documentário interessante, mas muito mal aproveitado. Não toca nem na superfície do problema envolvendo o trabalho dos migrantes durante as construções de estádios no Catar para a Copa Mundial de 2022. Uma pena.
Um dos documentários mais incríveis que pude ver durante o Festival É Tudo Verdade deste ano. É um filme longo, mas a riqueza do depoimento e dos relatos de Brunhilde Pomsel capturou cada segundo da minha atenção.
Quando a Primavera Árabe atinge a Síria, em 2011, a radialista Obaidah Zytoon decide registrar com seus amigos os protestos nas ruas e a rebelião que logo tomaria conta do país. As 200 horas de material bruto produzidas durante este período mostram situações cotidianas bastante pessoais entre eles — um respiro aliviado para o tipo de narrativa que dificilmente esperaríamos ser menos do que brutal e dolorosa — e diversos eventos que antecedem o estado atual da região e sua população.
Dividido em sete capítulos, o documentário é um verdadeiro "antes e depois" dessa primeira revolta armada e de todos os efeitos provocados por ela. A câmera e a narração de Obaidah nos aproxima ainda mais dos personagens que lutam contra a repressão do governo de Bashar al-Assad e do exército sírio e tentam sobreviver aos ataques de grupos extremistas. A divisão dos capítulos constrói uma noção cronológica desses acontecimentos enquanto varia entre as cenas de guerra, os momentos privados passados com seus amigos e breves relatos de sírios que ocuparam as ruas com a genuína esperança de conquistar uma mudança de regime.
A destruição final não é realmente uma novidade e continua a ser estarrecedora, mas nos fornece novo significado após o contato íntimo e humanizado com alguns dos sírios que fazem parte do filme — relação que o noticiário seria incapaz de esboçar.
De todos os aspectos que se espera ver em um conflito como esse, nenhum supera a presença constante das crianças, algo que aparentemente nunca foi tão notável como agora. Algumas seguram armas com o treino do pai, muitas participam ativamente das manifestações e é comovente o tom racional e olhar amadurecido que elas, por falta de opção, acabam assumindo. Não é por acaso que o documentário começa com uma garotinha acompanhando um dos primeiros protestos e falando sobre vários temas sensíveis para ela e sua família. É essencial destacar essa escolha de edição da diretora, pois as tragédias vividas principalmente por essas crianças parecem não ter precedentes e mereciam mesmo um registro mais consistente.
Político e poético, Paris é Uma Festa retrata duas realidades marginalizadas, cada uma a seu modo, na capital francesa. Gravado em preto e branco, o filme intercala imagens de migrantes moradores de rua e jovens manifestantes em protestos organizados após os atentados de 2015, com alguns trechos mais abstratos e metafóricos entre um cenário e outro. O ponto alto surge quando o diretor nos entrega um breve relato de um dos migrantes, ao mesmo tempo triste e chocante, e quando consegue representar sem palavras a tácita semelhança entre eles e os jovens que protestam pelas mesmas ruas onde dormem esses refugiados.
Quase no final, encerrando a sequência de cenas das agressivas manifestações, a câmera foca no papel laminado usado pela equipe de socorros, o mesmo material usado pelos refugiados para se aquecerem e forrar seus colchões, construindo um sutil vínculo entre os dois grupos.
Pelo formato, apenas deixa uma curiosidade sobre as histórias por trás desses personagens, silenciados pela sociedade e igualmente alienados no filme.
Incrível como, através desses personagens cheios de história e uma turnê marcante para a música pop, o documentário conseguiu atravessar vários grandes temas do universo da dança e da cultura LGBT. As ótimas entrevistas ajudaram a tornar o filme ainda mais completo e relevante.
Não é um documentário totalmente desnecessário, mas com certeza longo demais. Compensa da metade para o final o fato de introduzir game designers que não foram entrevistados no primeiro filme e é em geral um bom epílogo, um complemento sobre o processo criativo desses profissionais independentes.
Tive a impressão de que existe muito mais por trás da razão pela qual esses desenvolvedores de games trabalham sozinhos: na busca pela perfeição, eles não aprenderam a trabalhar em grupo. Phil Fish, o criador de Fez, não disfarça sua personalidade intransigente e dificuldades em encarar críticas (não me refiro à grosseria dos haters na internet, esse aspecto foi bastante explorado no doc e é mesmo uma parte desagradável no trabalho de game designers), por exemplo.
No caso de Braid, fiquei chocado com todo o trabalho extra feito pelo desenhista: o criador do jogo, Jonathan Blow, iniciou aquela ideia com o fundo de nuvens e, apesar de dar liberdade para mudanças, nada passou de uma série de desenhos jogados fora para no final retornar ao que ele mesmo queria: o fundo clichê de nuvens. Irritante e desnecessário. Nesse perfeccionismo e excesso de controle, é claro que eles acabam trabalhando com menos pessoas, quase sem equipe, e consequentemente demoram anos para terminar o jogo. Então existe, é claro, o esforço em lançar um bom jogo sem ter que trabalhar para as grandes empresas, mas alguns deles também não conseguem enxergar além de suas próprias ideias, um bom motivo pelo qual é melhor trabalharem sozinhos. O primeiro filme já mostra bem que, entre profissionais independentes, existem caras como Blow e Fish (que inclusive cancelou o desenvolvimento de Fez 2 em um acesso de raiva no Twitter), e existem artistas, como a dupla de Super Meat Boy, que sabem trabalhar com parceiros e aprenderam a lidar melhor com os trolls babacas da internet por experiência própria.
Ótimo modelo de documentário, que seleciona um tema básico, por muitos ignorado, e o destrincha em todos os lados possíveis: origem da fonte Helvetica, influência histórica e cultural, pontos altos e baixos, por que foi uma criação importante na tipografia e por que poucos modelos — possivelmente nenhum — conseguiram alcançar seu sucesso, influência e utilidade até agora.
O documentário registra o desenvolvimento da sexta geração do Ford Mustang, símbolo do amor americano pelo modelo lançado nos anos 60. A direção se concentra muito mais na rotina dentro da empresa, acompanhando o trabalho de Dave Pericak e sua equipe, com os desafios de transformar um produto capaz de chamar tanta atenção e reunir fãs de diferentes gerações — aspecto que também é ilustrado no filme, com os grupos de colecionadores e motoristas de Mustang que se reúnem no país e compõem uma verdadeira comunidade baseada no automóvel.
Uma grande inspiração como profissional, sua escrita honesta, abrangente e simples, ainda que enciclopédica, marcou história. Seu gênio e postura pouco usuais foram desafiados quando participou de programas televisivos ao lado de Gene Siskel, atingindo o público mainstream com meticulosos e controversos comentários sobre os filmes da época. Além de ser um documentário sobre o trabalho de Roger Ebert, este é também um filme sobre as mudanças no formato das críticas de cinema, que irromperam a partir dos anos 70, e as pessoas que fizeram parte delas.
Ao lado desse retrato, acompanhamos o passado de Ebert e mais tarde a família que constituiu com sua esposa, Chaz, com quem casou aos 50 anos, completando esse registro e homenagem sobre sua trajetória, um representação de vida e morte sobre a qual tanto costumava escrever.
Queria muito ter encontrado as nove páginas de perguntas feitas para a entrevista com Ebert, mas não consegui. Deixo registradas as perguntas citadas que chamaram muito a minha atenção, de tão pessoais e bem detalhadas:
- In my life, I inherited certain things from each of my parents. What did you inherit from yours? - How were you influenced by critic Pauline Kael? - Does your father's death hold even greater resonance for you now, given your own medical travails? - Are there places in the city that hold special meaning for you?
Lembro que Aniston foi bem criticada e massacrada pelo público por querer tão de repente passar de comédias para um drama. Cheguei a ler comentários como "quem ela pensa que é?" ou "acha que faz um filme sem maquiagem e já tem o direito de atuar em drama?"
Críticas duras demais se você pensar que um certo artista chamado Matthew McConaughey apostou nesse mesmo caminho e mudou de maneira bem mais drástica, considerando todas as comédias românticas de má qualidade que costumava fazer antes de suas atuações super elogiadas em longas-metragens dramáticos. Injusto e hipócrita demais.
Acho a representação dos russos e chineses no filme bem verossímil, para ser sincero. E o próprio retrato dos americanos é bem realista, ainda que de forma mais branda e "justificada" — mas não patriótica a ponto de tirar nossa atenção.
O final, que pareceu esperançoso e ameno até certo ponto, combina com a ideia não-linear explorada no filme: assisti às primeiras cenas me sentindo bem ansioso e tenso, como seria comum durante o clímax, mas claro que neste caso o roteiro também não foi pensado de forma linear, então isso faz total sentido. Demorou um pouco para cair a ficha, mas foi chocante perceber que a história da filha de Louise aconteceu depois da chegada dos alienígenas.
Só fiquei incomodado com a trilha sonora, pouco conectada com as cenas e invasiva demais... Não ajudou muito. Fora isso, fica a curiosidade sobre respostas que não vêm ao caso para este longa-metragem: o que as doze mensagens vistas em cada "nave" poderão significar quando forem unidas? Por que os heptapods precisarão da ajuda dos humanos três mil anos mais tarde? Detalhes que não foram e nem deveriam ser citados no filme, mas que não consigo evitar de imaginar, ainda mais porque é sempre tão comum em produções de ficção científica não termos todas as respostas entregues de mão beijada.
Amy Adams pode ter sido ignorada pelo Oscar este ano, mas a hora dela vai chegar. É senso comum na Academia que, quando alguém é indicado várias vezes, inevitavelmente será premiado um dia.
E sobretudo, A Chegada é uma ode ao povo de humanas <3 mais motivo para amar.
Se existe algum erro neste filme, só pode ser a tentativa de humanizar Jacqueline Kennedy — não acredito que seja um defeito, mas no máximo um paradigma entre filmes biográficos. Os closeups nos fazem mergulhar extremamente no sofrimento da personagem e na atuação de Natalie Portman, que quase esquecemos de enxergar como atriz durante as cenas.
E a ordem desordenada e sem cronologia dessas cenas não poderia fazer mais sentido, já que um dos objetivos de Paulo Larraín e Noah Oppenheim foi justamente retratar Jackie nos vários papéis que precisou desempenhar, seja como mãe, esposa, primeira-dama, figura pública ou viúva do presidente dos Estados Unidos. Um roteiro em ordem cronológica destruiria essas camadas de forma bem drástica e também diminuiria a consistência da dramaticidade esperada para este tipo de filme, com uma história assim tão trágica. Não faria sentido, tampouco, mostrar outras épocas sobre a vida de Jackie, como muitos observaram, porque a proposta nunca foi essa — e tenho certeza de que seria uma decepção, já que biopics que tentam abordar muito sobre a personagem costumam virar filmes superficiais e apressados. Ainda bem que o diretor não cometeu esse erro.
A trilha sonora de Mica Levi é peça-chave para moldar as sensações pelas quais vemos Jackie passar e, por incrível que pareça, o figurino — produzido pela francesa Madeline Fontaine, que já produziu as roupas de filmes como Yves Saint-Laurent e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain — também assume um papel indispensável nesse aspecto.
Seu terno rosa-morango manchado de sangue, o momento em que tira a roupa marcada pela morte do marido... Até mesmo a cena em que experimenta várias roupas de seu guarda-roupa — uma possível licença poética de Larraín, que afirmou ele próprio considerar improvável que a cena específica tenha acontecido de verdade.
Sobretudo, este é um caso onde as categorias indicadas ao Oscar fazem pleno sentido: melhor atriz, melhor trilha sonora e melhor figurino. Eu teria considerado, ainda, melhor roteiro. Mas torço especialmente por Portman, que brilhou como nunca, fazendo um trabalho impressionante com a voz, sotaque e trejeitos de Jackie. Outro destaque, que não deixa de ser essencial para o filme, foram os cenários, criados em detalhes mínimos, inclusive para as cenas baseadas no documentário televisivo onde Jacqueline apresenta suas mudanças e restaurações feitas dentro da Casa Branca, cujos trechos foram fiéis tanto nas falas como nos movimentos e sequências da primeira-dama.
Muito feliz de ter assistido a este filme lindo. A primeira parte tem uma fotografia marcante e o roteiro faz com que seja fácil construir uma empatia pelos personagens. Nicole Kidman fez um ótimo trabalho, como sempre, Dev Patel cada vez melhor e a história em si é bem emocionante.
Em alguns momentos, pareceu um pouco longo, mas muitos filmes que começam com a infância do protagonista costumam apressar essa introdução e não foi este o caso em Lion. Não foi o foco principal demonstrar a importância da tecnologia na jornada de Saroo, mas é claro que isso não passa despercebido e essa relevância tácita pode ser sentida no roteiro, de maneira geral.
Detalhe que pode ser essencialmente notado nas primeiras cenas aéreas, que introduzem o filme (um recurso cada vez mais raro em produções recentes). Mostrar fotos e cenas do Saroo de verdade com sua família, no final, fez toda a diferença também e colaborou para transformar o longa-metragem em uma grande homenagem à sua trajetória.
Cenas de ação e luta sempre sensacionais, mas o filme passa rápido, quase como se dissesse "toma, taí o final". Tudo meio corrido e mastigado. Talvez isso seja sinal de que Resident Evil daria uma boa série, até me lembro de ter ouvido algum boato sobre isso.
Talvez tenha sido um dos primeiros documentários que me deixaram com vontade de ver muito mais do que vi, 88 minutos não foram muita coisa. Page One não teve a pretensão de ser um filme sobre a história do The New York Times (melhor assim), mas faz um bom retrato da situação atual dos jornais, as mudanças no comportamento dos leitores e a incerteza sobre o futuro e formato do jornalismo de modo geral.
É também uma boa homenagem ao trabalho de David Carr, que morreu em 2015 na própria redação. Seu fervor ao defender o NYT era inspirador e sua trajetória admirável.
Gosto muito de como David personificava o papel realista, sem glamour e sem grande romantismo de um jornalista. Nesse aspecto humano, adorei vê-lo reclamar que achava sua voz estranha no telefone ao conversar com as fontes e o quanto o nome do jornal mais assustava as pessoas do que ajudava no contato com elas. São inseguranças comuns para todo repórter e ninguém costuma comentar ou admitir essas particularidades.
Morri de rir e ao mesmo tempo fiquei chocado com a forma como ele se comportou durante a entrevista com os membros da Vice. Ele não fez questão de economizar o uso de alguns "fuck" quando os jornalistas se meteram a falar mal da cobertura do jornal. Esse cara sabia ser casca grossa no ponto certo e entendia muito bem a profissão. Vai fazer falta.
Se um método desses realmente funciona e encoraja tantas pessoas, o trabalho de Tony Robbins é válido. Mas a semelhança com a estrutura de uma igreja é inegável, só muda o cenário, as crenças e o estilo mais amigável e objetivo. São milhares de pessoas adorando uma figura empenhada em fazê-las amar a si mesmas e aos seus companheiros — mediante o pagamento do ingresso.
Quase consegui me relacionar com uma coisa ou outra que Tony disse, mas acho que é essa a ideia das palestras dele, afinal de contas. E mesmo ignorando o tom propagandista do documentário, eu sinceramente só consegui enxergar uma filosofia barata — ainda que eloquente — capaz de conquistar pessoas desiludidas e frágeis com incrível facilidade. Depois de alguns exemplos específicos de documentários da Netflix, é impossível não levantar uma sobrancelha e duvidar da credibilidade dessas produções. Essa também não precisa de muito para parecer pura forçação de barra feita para as cabeças mais fracas.
Coloquei esse filme na minha lista "Filmes, séries e documentários para jornalistas", porque o desserviço prestado pelos veículos de comunicação mostrados no documentário é um grande exemplo de jornalismo preguiçoso. Um pouco de apuração já teria revelado as verdadeiras motivações dos casos judiciais citados pela diretora Susan Saladoff, mas por ignorância ou desinteresse, certas notícias transformaram a opinião pública e acabaram com a reputação dessas pessoas.
É importante destacar que Winter on Fire é parcial e não mostra, por exemplo, os atos anti-Maidan que ocorreram entre grupos nacionalistas de extrema direita durante os conflitos em Kiev. Um outro documentário, o francês "Masks of the Revolution", consegue retratar esse lado um pouco melhor.
Mas não dá para exigir que o filme assuma tons analíticos sobre as consequências de incluir a Ucrânia na União Europeia, afinal a narrativa nunca seguiu por este caminho e tampouco nos promete esse tipo de abordagem. Já o retrato parcial dos protestos parece ser mesmo intencional e ainda assim não perde seu valor: o documentário é, na verdade, uma representação da força do povo e do abuso de poder aplicado por diversas autoridades nacionais. Não é um documentário sobre geopolítica, portanto não assistam esperando que seja.
Happy: Você é Feliz?
4.2 78Tão leve, mas tão instrutivo. Comecei a assistir em um momento de desânimo e foi muito esclarecedor sobre as coisas que importam na vida para nos sentirmos mais felizes e "preenchidos". Vale a pena ver esse doc.
Untitled Star Trek Sequel
3.6 3Vida longa e próspera para a galera que já assistiu e avaliou o filme.
No Tempo que Chegará
1.0 1Simplesmente não vejo qual é a graça de fazer um filme nesse formato. Não tem sentido.
A Copa dos Trabalhadores
4.1 1Com toda a certeza é um documentário interessante, mas muito mal aproveitado. Não toca nem na superfície do problema envolvendo o trabalho dos migrantes durante as construções de estádios no Catar para a Copa Mundial de 2022. Uma pena.
Uma Vida Alemã
4.4 3Um dos documentários mais incríveis que pude ver durante o Festival É Tudo Verdade deste ano. É um filme longo, mas a riqueza do depoimento e dos relatos de Brunhilde Pomsel capturou cada segundo da minha atenção.
O Show da Guerra
3.5 2Quando a Primavera Árabe atinge a Síria, em 2011, a radialista Obaidah Zytoon decide registrar com seus amigos os protestos nas ruas e a rebelião que logo tomaria conta do país. As 200 horas de material bruto produzidas durante este período mostram situações cotidianas bastante pessoais entre eles — um respiro aliviado para o tipo de narrativa que dificilmente esperaríamos ser menos do que brutal e dolorosa — e diversos eventos que antecedem o estado atual da região e sua população.
Dividido em sete capítulos, o documentário é um verdadeiro "antes e depois" dessa primeira revolta armada e de todos os efeitos provocados por ela. A câmera e a narração de Obaidah nos aproxima ainda mais dos personagens que lutam contra a repressão do governo de Bashar al-Assad e do exército sírio e tentam sobreviver aos ataques de grupos extremistas. A divisão dos capítulos constrói uma noção cronológica desses acontecimentos enquanto varia entre as cenas de guerra, os momentos privados passados com seus amigos e breves relatos de sírios que ocuparam as ruas com a genuína esperança de conquistar uma mudança de regime.
A destruição final não é realmente uma novidade e continua a ser estarrecedora, mas nos fornece novo significado após o contato íntimo e humanizado com alguns dos sírios que fazem parte do filme — relação que o noticiário seria incapaz de esboçar.
De todos os aspectos que se espera ver em um conflito como esse, nenhum supera a presença constante das crianças, algo que aparentemente nunca foi tão notável como agora. Algumas seguram armas com o treino do pai, muitas participam ativamente das manifestações e é comovente o tom racional e olhar amadurecido que elas, por falta de opção, acabam assumindo. Não é por acaso que o documentário começa com uma garotinha acompanhando um dos primeiros protestos e falando sobre vários temas sensíveis para ela e sua família. É essencial destacar essa escolha de edição da diretora, pois as tragédias vividas principalmente por essas crianças parecem não ter precedentes e mereciam mesmo um registro mais consistente.
R.I.P. Fifi
Paris é Uma Festa: Um Filme em 18 Ondas
3.4 1Político e poético, Paris é Uma Festa retrata duas realidades marginalizadas, cada uma a seu modo, na capital francesa. Gravado em preto e branco, o filme intercala imagens de migrantes moradores de rua e jovens manifestantes em protestos organizados após os atentados de 2015, com alguns trechos mais abstratos e metafóricos entre um cenário e outro. O ponto alto surge quando o diretor nos entrega um breve relato de um dos migrantes, ao mesmo tempo triste e chocante, e quando consegue representar sem palavras a tácita semelhança entre eles e os jovens que protestam pelas mesmas ruas onde dormem esses refugiados.
Quase no final, encerrando a sequência de cenas das agressivas manifestações, a câmera foca no papel laminado usado pela equipe de socorros, o mesmo material usado pelos refugiados para se aquecerem e forrar seus colchões, construindo um sutil vínculo entre os dois grupos.
Pelo formato, apenas deixa uma curiosidade sobre as histórias por trás desses personagens, silenciados pela sociedade e igualmente alienados no filme.
Strike a Pose
4.1 39Incrível como, através desses personagens cheios de história e uma turnê marcante para a música pop, o documentário conseguiu atravessar vários grandes temas do universo da dança e da cultura LGBT. As ótimas entrevistas ajudaram a tornar o filme ainda mais completo e relevante.
Indie Game: Life After
3.4 5Não é um documentário totalmente desnecessário, mas com certeza longo demais. Compensa da metade para o final o fato de introduzir game designers que não foram entrevistados no primeiro filme e é em geral um bom epílogo, um complemento sobre o processo criativo desses profissionais independentes.
Tive a impressão de que existe muito mais por trás da razão pela qual esses desenvolvedores de games trabalham sozinhos: na busca pela perfeição, eles não aprenderam a trabalhar em grupo. Phil Fish, o criador de Fez, não disfarça sua personalidade intransigente e dificuldades em encarar críticas (não me refiro à grosseria dos haters na internet, esse aspecto foi bastante explorado no doc e é mesmo uma parte desagradável no trabalho de game designers), por exemplo.
No caso de Braid, fiquei chocado com todo o trabalho extra feito pelo desenhista: o criador do jogo, Jonathan Blow, iniciou aquela ideia com o fundo de nuvens e, apesar de dar liberdade para mudanças, nada passou de uma série de desenhos jogados fora para no final retornar ao que ele mesmo queria: o fundo clichê de nuvens. Irritante e desnecessário. Nesse perfeccionismo e excesso de controle, é claro que eles acabam trabalhando com menos pessoas, quase sem equipe, e consequentemente demoram anos para terminar o jogo. Então existe, é claro, o esforço em lançar um bom jogo sem ter que trabalhar para as grandes empresas, mas alguns deles também não conseguem enxergar além de suas próprias ideias, um bom motivo pelo qual é melhor trabalharem sozinhos. O primeiro filme já mostra bem que, entre profissionais independentes, existem caras como Blow e Fish (que inclusive cancelou o desenvolvimento de Fez 2 em um acesso de raiva no Twitter), e existem artistas, como a dupla de Super Meat Boy, que sabem trabalhar com parceiros e aprenderam a lidar melhor com os trolls babacas da internet por experiência própria.
Helvetica
4.0 28Ótimo modelo de documentário, que seleciona um tema básico, por muitos ignorado, e o destrincha em todos os lados possíveis: origem da fonte Helvetica, influência histórica e cultural, pontos altos e baixos, por que foi uma criação importante na tipografia e por que poucos modelos — possivelmente nenhum — conseguiram alcançar seu sucesso, influência e utilidade até agora.
A Faster Horse
3.7 3O documentário registra o desenvolvimento da sexta geração do Ford Mustang, símbolo do amor americano pelo modelo lançado nos anos 60. A direção se concentra muito mais na rotina dentro da empresa, acompanhando o trabalho de Dave Pericak e sua equipe, com os desafios de transformar um produto capaz de chamar tanta atenção e reunir fãs de diferentes gerações — aspecto que também é ilustrado no filme, com os grupos de colecionadores e motoristas de Mustang que se reúnem no país e compõem uma verdadeira comunidade baseada no automóvel.
Life Itself - A Vida de Roger Ebert
4.2 40Uma grande inspiração como profissional, sua escrita honesta, abrangente e simples, ainda que enciclopédica, marcou história. Seu gênio e postura pouco usuais foram desafiados quando participou de programas televisivos ao lado de Gene Siskel, atingindo o público mainstream com meticulosos e controversos comentários sobre os filmes da época. Além de ser um documentário sobre o trabalho de Roger Ebert, este é também um filme sobre as mudanças no formato das críticas de cinema, que irromperam a partir dos anos 70, e as pessoas que fizeram parte delas.
Ao lado desse retrato, acompanhamos o passado de Ebert e mais tarde a família que constituiu com sua esposa, Chaz, com quem casou aos 50 anos, completando esse registro e homenagem sobre sua trajetória, um representação de vida e morte sobre a qual tanto costumava escrever.
Queria muito ter encontrado as nove páginas de perguntas feitas para a entrevista com Ebert, mas não consegui. Deixo registradas as perguntas citadas que chamaram muito a minha atenção, de tão pessoais e bem detalhadas:
- In my life, I inherited certain things from each of my parents. What did you inherit from yours?
- How were you influenced by critic Pauline Kael?
- Does your father's death hold even greater resonance for you now, given your own medical travails?
- Are there places in the city that hold special meaning for you?
Cake - Uma Razão Para Viver
3.4 698 Assista AgoraLembro que Aniston foi bem criticada e massacrada pelo público por querer tão de repente passar de comédias para um drama. Cheguei a ler comentários como "quem ela pensa que é?" ou "acha que faz um filme sem maquiagem e já tem o direito de atuar em drama?"
Críticas duras demais se você pensar que um certo artista chamado Matthew McConaughey apostou nesse mesmo caminho e mudou de maneira bem mais drástica, considerando todas as comédias românticas de má qualidade que costumava fazer antes de suas atuações super elogiadas em longas-metragens dramáticos. Injusto e hipócrita demais.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraAcho a representação dos russos e chineses no filme bem verossímil, para ser sincero. E o próprio retrato dos americanos é bem realista, ainda que de forma mais branda e "justificada" — mas não patriótica a ponto de tirar nossa atenção.
O final, que pareceu esperançoso e ameno até certo ponto, combina com a ideia não-linear explorada no filme: assisti às primeiras cenas me sentindo bem ansioso e tenso, como seria comum durante o clímax, mas claro que neste caso o roteiro também não foi pensado de forma linear, então isso faz total sentido. Demorou um pouco para cair a ficha, mas foi chocante perceber que a história da filha de Louise aconteceu depois da chegada dos alienígenas.
Só fiquei incomodado com a trilha sonora, pouco conectada com as cenas e invasiva demais... Não ajudou muito. Fora isso, fica a curiosidade sobre respostas que não vêm ao caso para este longa-metragem: o que as doze mensagens vistas em cada "nave" poderão significar quando forem unidas? Por que os heptapods precisarão da ajuda dos humanos três mil anos mais tarde? Detalhes que não foram e nem deveriam ser citados no filme, mas que não consigo evitar de imaginar, ainda mais porque é sempre tão comum em produções de ficção científica não termos todas as respostas entregues de mão beijada.
Amy Adams pode ter sido ignorada pelo Oscar este ano, mas a hora dela vai chegar. É senso comum na Academia que, quando alguém é indicado várias vezes, inevitavelmente será premiado um dia.
E sobretudo, A Chegada é uma ode ao povo de humanas <3 mais motivo para amar.
Jackie
3.4 739 Assista AgoraSe existe algum erro neste filme, só pode ser a tentativa de humanizar Jacqueline Kennedy — não acredito que seja um defeito, mas no máximo um paradigma entre filmes biográficos. Os closeups nos fazem mergulhar extremamente no sofrimento da personagem e na atuação de Natalie Portman, que quase esquecemos de enxergar como atriz durante as cenas.
E a ordem desordenada e sem cronologia dessas cenas não poderia fazer mais sentido, já que um dos objetivos de Paulo Larraín e Noah Oppenheim foi justamente retratar Jackie nos vários papéis que precisou desempenhar, seja como mãe, esposa, primeira-dama, figura pública ou viúva do presidente dos Estados Unidos. Um roteiro em ordem cronológica destruiria essas camadas de forma bem drástica e também diminuiria a consistência da dramaticidade esperada para este tipo de filme, com uma história assim tão trágica. Não faria sentido, tampouco, mostrar outras épocas sobre a vida de Jackie, como muitos observaram, porque a proposta nunca foi essa — e tenho certeza de que seria uma decepção, já que biopics que tentam abordar muito sobre a personagem costumam virar filmes superficiais e apressados. Ainda bem que o diretor não cometeu esse erro.
A trilha sonora de Mica Levi é peça-chave para moldar as sensações pelas quais vemos Jackie passar e, por incrível que pareça, o figurino — produzido pela francesa Madeline Fontaine, que já produziu as roupas de filmes como Yves Saint-Laurent e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain — também assume um papel indispensável nesse aspecto.
Seu terno rosa-morango manchado de sangue, o momento em que tira a roupa marcada pela morte do marido... Até mesmo a cena em que experimenta várias roupas de seu guarda-roupa — uma possível licença poética de Larraín, que afirmou ele próprio considerar improvável que a cena específica tenha acontecido de verdade.
Sobretudo, este é um caso onde as categorias indicadas ao Oscar fazem pleno sentido: melhor atriz, melhor trilha sonora e melhor figurino. Eu teria considerado, ainda, melhor roteiro. Mas torço especialmente por Portman, que brilhou como nunca, fazendo um trabalho impressionante com a voz, sotaque e trejeitos de Jackie. Outro destaque, que não deixa de ser essencial para o filme, foram os cenários, criados em detalhes mínimos, inclusive para as cenas baseadas no documentário televisivo onde Jacqueline apresenta suas mudanças e restaurações feitas dentro da Casa Branca, cujos trechos foram fiéis tanto nas falas como nos movimentos e sequências da primeira-dama.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraMuito feliz de ter assistido a este filme lindo. A primeira parte tem uma fotografia marcante e o roteiro faz com que seja fácil construir uma empatia pelos personagens. Nicole Kidman fez um ótimo trabalho, como sempre, Dev Patel cada vez melhor e a história em si é bem emocionante.
Em alguns momentos, pareceu um pouco longo, mas muitos filmes que começam com a infância do protagonista costumam apressar essa introdução e não foi este o caso em Lion. Não foi o foco principal demonstrar a importância da tecnologia na jornada de Saroo, mas é claro que isso não passa despercebido e essa relevância tácita pode ser sentida no roteiro, de maneira geral.
Detalhe que pode ser essencialmente notado nas primeiras cenas aéreas, que introduzem o filme (um recurso cada vez mais raro em produções recentes). Mostrar fotos e cenas do Saroo de verdade com sua família, no final, fez toda a diferença também e colaborou para transformar o longa-metragem em uma grande homenagem à sua trajetória.
Resident Evil 6: O Capítulo Final
3.0 952 Assista AgoraCenas de ação e luta sempre sensacionais, mas o filme passa rápido, quase como se dissesse "toma, taí o final". Tudo meio corrido e mastigado. Talvez isso seja sinal de que Resident Evil daria uma boa série, até me lembro de ter ouvido algum boato sobre isso.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraCaramba, tem um clima bem melhor que The Avengers, com aquele humor forçadíssimo deles e a briga tácita de egos. Esse promete.
Primeira Página: Por Dentro do New York Times
4.1 6Talvez tenha sido um dos primeiros documentários que me deixaram com vontade de ver muito mais do que vi, 88 minutos não foram muita coisa. Page One não teve a pretensão de ser um filme sobre a história do The New York Times (melhor assim), mas faz um bom retrato da situação atual dos jornais, as mudanças no comportamento dos leitores e a incerteza sobre o futuro e formato do jornalismo de modo geral.
É também uma boa homenagem ao trabalho de David Carr, que morreu em 2015 na própria redação. Seu fervor ao defender o NYT era inspirador e sua trajetória admirável.
Gosto muito de como David personificava o papel realista, sem glamour e sem grande romantismo de um jornalista. Nesse aspecto humano, adorei vê-lo reclamar que achava sua voz estranha no telefone ao conversar com as fontes e o quanto o nome do jornal mais assustava as pessoas do que ajudava no contato com elas. São inseguranças comuns para todo repórter e ninguém costuma comentar ou admitir essas particularidades.
Morri de rir e ao mesmo tempo fiquei chocado com a forma como ele se comportou durante a entrevista com os membros da Vice. Ele não fez questão de economizar o uso de alguns "fuck" quando os jornalistas se meteram a falar mal da cobertura do jornal. Esse cara sabia ser casca grossa no ponto certo e entendia muito bem a profissão. Vai fazer falta.
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraFiz uma lista com todos os documentários vencedores do Oscar. Depois de Amy, quem vence em 2017?
https://filmow.com/listas/os-documentarios-de-longa-metragem-vencedores-do-oscar-l98174/
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraTentando entender por que um filmão desses só está sendo exibido em dois cinemas da cidade de São Paulo INTEIRA.
Tony Robbins: Eu Não Sou Seu Guru
3.3 42 Assista AgoraSe um método desses realmente funciona e encoraja tantas pessoas, o trabalho de Tony Robbins é válido. Mas a semelhança com a estrutura de uma igreja é inegável, só muda o cenário, as crenças e o estilo mais amigável e objetivo. São milhares de pessoas adorando uma figura empenhada em fazê-las amar a si mesmas e aos seus companheiros — mediante o pagamento do ingresso.
Quase consegui me relacionar com uma coisa ou outra que Tony disse, mas acho que é essa a ideia das palestras dele, afinal de contas. E mesmo ignorando o tom propagandista do documentário, eu sinceramente só consegui enxergar uma filosofia barata — ainda que eloquente — capaz de conquistar pessoas desiludidas e frágeis com incrível facilidade. Depois de alguns exemplos específicos de documentários da Netflix, é impossível não levantar uma sobrancelha e duvidar da credibilidade dessas produções. Essa também não precisa de muito para parecer pura forçação de barra feita para as cabeças mais fracas.
Café Quente: A Sociedade do Litígio
4.1 11Coloquei esse filme na minha lista "Filmes, séries e documentários para jornalistas", porque o desserviço prestado pelos veículos de comunicação mostrados no documentário é um grande exemplo de jornalismo preguiçoso. Um pouco de apuração já teria revelado as verdadeiras motivações dos casos judiciais citados pela diretora Susan Saladoff, mas por ignorância ou desinteresse, certas notícias transformaram a opinião pública e acabaram com a reputação dessas pessoas.
Link: https://filmow.com/listas/filmes-series-e-documentarios-para-jornalistas-l47347/
Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom
4.3 184 Assista AgoraÉ importante destacar que Winter on Fire é parcial e não mostra, por exemplo, os atos anti-Maidan que ocorreram entre grupos nacionalistas de extrema direita durante os conflitos em Kiev. Um outro documentário, o francês "Masks of the Revolution", consegue retratar esse lado um pouco melhor.
Mas não dá para exigir que o filme assuma tons analíticos sobre as consequências de incluir a Ucrânia na União Europeia, afinal a narrativa nunca seguiu por este caminho e tampouco nos promete esse tipo de abordagem. Já o retrato parcial dos protestos parece ser mesmo intencional e ainda assim não perde seu valor: o documentário é, na verdade, uma representação da força do povo e do abuso de poder aplicado por diversas autoridades nacionais. Não é um documentário sobre geopolítica, portanto não assistam esperando que seja.