"O riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé. Se não há temor ao demônio, não é necessário haver Deus.”
É uma pena que as pessoas se prendam demais ao argumento direcionado à igreja e deixem de perceber que a mensagem apresentada pelo filme, e pelo livro, mostra-se muito mais abrangente. Esquecem, ou desconhecem, que a igreja medieval era tanto mais política do que religião – e assim se manteve por muito tempo depois -. Acredito inclusive que é na política e na ideologia que se fomenta muito mais a crença comum – fé comum? – do que na religião – exceto quando esta se torna meramente política.
As instituições que centralizam o poder – e mesmo o que chamamos enganosamente “democracia” as possui – representam o inquestionável, o Deus contra o qual não podemos, ou não devemos, nos pronunciar. Os dogmas aparecem através da normatividade, da ideologia dominante que dita o que devemos ser, querer, pensar, como devemos agir e até como devemos ver a nós mesmos. O medo é sempre a maior e melhor arma de dominação, mesmo que ele se disfarce sob uma aparência não tão ameaçadora. Nossa sociedade nos impõe o medo da exclusão, o medo de ser e pensar diferente, o medo da não-aceitação, o medo das opiniões alheias. O demônio a ser temido é o verdadeiramente diferente, o discordante. Tudo deve ser padronizado – até o pretensamente diferente -, tudo deve seguir normas, ser taxonomizado. Vivemos em um regime cínico, onde o medo se apresenta de forma astuta, como uma simples “advertência”, para que não identifiquemos a extensão de sua função doutrinaria.
A mensagem que se apresenta no filme, portanto, deve ser vista como um comentário geral sobre a dominação ideológica, e deve-se lembrar que o riso vulgar, tão popular, não abala as estruturas de poder, que o riso inteligente, tão raro, é uma das poucas armas realmente eficazes contra um poder tão extenso – quase divino – e tão inabalável em suas estruturas. Nossa realidade não está tão longe quanto se imagina do que se passa no medievalismo de O nome da Rosa.
A primeira aparição da “criatura” é de levar à óbito de tanto rir: Parece uma carniça voadora. Isso sim é entretenimento! E em estado bruto! Sensacional. Saudade de filmes tão lindamente toscos como esse.
Vejo alguns ecos do Stalker de Tarkovsky nessa animação. Tanto visualmente, como na forma como os diálogos surgem e delineiam o fundo existencial do filme.
Os japoneses tem uma habilidade sem comparação para inserir belos cenários em seus desenhos. Há um trabalho de concepção e ambientação, que o ocidente está longe de alcançar. Ainda somos, aliás, assombrados pela ignorantíssima ideia de que desenhos são feitos para crianças, o que impede que algo do calibre de Ghost In The Shell possa ser produzido por aqui – embora deva abrir aqui um paralelo, para fazer notar a exceção que são os curtas animados, em que se encontram produções adultas, complexas e muito bem trabalhadas.
Enfim, um filme instigante, de visual arrebatador, e que faz jus não só à fama que carrega, mas à toda a influência que teve na cultura pop.
Que surpresa reassistir à esse clássico e descobrir que foi dirigido pelo Danny De Vito! Belo trabalho de direção. O filme é uma excelente adaptação da obra de Roald Dahl, que mantém as críticas e reflexões presentes no livro, segue a história deste com fidelidade, e faz a magia de fato acontecer. Além de tudo vem carregado com aquela sensibilidade e competência técnica, que marcava os filmes despretensiosos dos anos 80 e 90.
Daqueles feitos para se ver incontáveis vezes, sem dúvida nenhuma.
“And I find it kind of funny I find it kind of sad The dreams in which I'm dying are the best I've ever had I find it hard to tell you I find it hard to take When people run in circles its a very very Mad world Mad world Enlarging your world”
O final com Mad World de fundo é muito significativo – aliás, não é o único momento em que há um complemento musical da trama -. Talvez muitas pessoas não enxerguem a genialidade de Donnie Darko, por não captarem que é tudo mais simples do que elas acreditam ser. Não adianta buscar uma lógica profunda em um mundo insano: Ela, de certo, vai fugir de você. Para o meu gosto, a versão do diretor foi bastante clara quanto aos significados. Enfim, independente de opiniões pessoais, é preciso admitir que a mítica criada pelo filme é o seu próprio Deus Ex Machina.
Surpreende como um filme de imagens tão soberbas pode ser tão pouco conhecido – a abertura ao som da Sétima sinfonia de Beethoven, é uma inegável obra de arte – mesmo aqui no filmow. A habilidade com que Tarsem seleciona e manipula seus cenários, é algo de encher os olhos – Nada que se possa dizer sobre a direção de arte ou a fotografia pode ter a mínima relevância frente ao impacto das imagens. É lábia gasta em nome do ego de quem escreve: O elogio não faz jus -. A escolha da realidade em lugar da fastidiosa computação gráfica dá ao filme uma dimensão, que de outra forma, jamais poderia ter alcançado – Há aí o tipo de potência imagética que faz com que diretores como Tarkovsky, sejam tão únicos no gênero. Mais do que um drama fabulesco, The Fall é uma aula de cinema do início ao fim.
A versão estendida para este primeiro filme d’O Hobbit, como era de se esperar, é um baita presente para os fans da Terra Média. Amarra alguns fatos que surgem no segundo filme – além de possivelmente introduzir durante o conselho branco alguns fatos que surgirão no terceiro - e equilibra o ritmo da narrativa como um todo – exceto para o gosto daquele público que considerou o filme lento, pois aqui, há mais tempo dedicado à se mostrar Valfenda e o Condado, dois deleites absolutos para os olhos, diga-se de passagem. Também me pareceu que os anões são mais bem trabalhados enquanto personagens, sendo possível uma maior distinção – para além da aparência – entre cada um.
"O que você ganha com o Oscar é favoritismo. As pessoas podem dizer: 'Meu filme favorito era Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.' Mas isso implica que é o melhor filme, e não acho isso possível. Não acho possível fazer esse julgamento. Exceto no atletismo, sabe, onde um cara corre e você vê que ele vence, então, está tudo certo. Ganhei umas provas quando eu era jovem, e foi bem legal porque eu sabia que tinha merecido."
Enquanto isso alguns embusteiros se auto-proclamam como melhores diretores do mundo sem poder.
É incrível a naturalidade com que Kurosawa faz um filme de arte, sem a pretensão que marca uns e outros por aí. É nesta simplicidade transcendental que nós reconhecemos os verdadeiros mestres. Um filme de belas imagens, importantes reflexões, enfim, um filme que reverbera.
A desolação de Smaug foi seguramente tão bom quanto seu antecessor, embora tenha pecado por se afastar mais do livro do que o necessário, dando pouco destaque à personagens importantes no material de origem – como Beorn, que me pareceu inclusive um tanto exagerado visualmente – e esticando a participação de outros que não estavam originalmente lá – como Legolas, que estaria em uma excelente aparição se esta tivesse se mantido limitada ao Reino da floresta. Levá-lo até a Cidade do Lago foi uma decisão um tanto quanto forçada. Igualmente forçado foi a inclusão de uma subtrama de romance, que embora não prejudique o filme, permanece como algo desnecessário.
Em compensação, a deliberação com que cada canto da Terra Média é exibido em seus mínimos detalhes é um abençoado deleite e faz apaziguar os ânimos de qualquer um que realmente goste do trabalho de Tolkien e não seja demasiado puritano. A competência de Peter Jackson para transmitir para a tela o que há nos livros do autor, não se alterou com o tempo. As cenas de Gandalf em Dol Guldur fizeram uma interessante ponte entre O Hobbit e à trilogia do Anel. A escolha do elenco, como sempre, mostra-se acertada, desde o rei élfico Thranduil, com sua aparência extravagante – típica dos elfos de Peter Jackson – e marcante atuação, até o estupendo Smaug – que não será superado pelo cinema tão cedo. Seja pelo trabalho de voz de Benedict Cumberbatch, seja pelo trabalho de computação primoroso que deu vida ao dragão. A esta altura, desnecessário citar Martin Freeman, o Bilbo perfeito.
Enfim, mais um presente para aqueles que não se cansam da Terra Média.
A direção do falado Brian De Palma neste filme, é na maior parte do tempo, prosaica. O roteiro é desgraçadamente fraco, corrido, com a profundidade de uma tampinha de refrigerante. As atuações, à exceção de Piper Laurie e da excelente Sissy Spacek, são sofríveis. Pergunto-me quem incutiu na cabeça de tanta gente que esta bomba, MUITO AQUÉM do livro, não só é um clássico – mal funciona enquanto filme -, como uma boa adaptação. Divertido por render algumas risadas involuntárias. E só.
Ao contrário do que tem ocorrido com frequência em filmes mais recentes, aqui houve uma utilização muito feliz da computação gráfica. Fotografia surpreendente para uma animação, iluminação muito bem trabalhada e cores na medida certa. Realmente me deixa abismado como essa animação consegue ser mais realista do que muitos filmes de efeitos saturados, e muitas vezes desnecessários, que pipocam pelos cinemas hoje em dia.
Um comentário mais abaixo nesta página me fez refletir a respeito do triste destino de Hannibal Lecter enquanto personagem – a crítica vale de igual forma às tramas na qual ele está inserido -. Se o ponto de partida em sua carreira cinematográfica foi um suspense elegante onde a fascinação do espectador nasce pela observação da psicologia atraente e manipulativa do personagem, mais e mais, tornou-se prioritária em sua história a violência vulgar – Característica que está mais exacerbada do que nunca na atual série televisiva -. No Silêncio Dos Inocentes fomos apresentados ao psiquiatra cuja capacidade analítica beira o sherlockiano, como é possível que tenhamos desembocado em um lorpinha cuja marca registrada é fazer receitas culinárias utilizando-se de carne humana – ao mesmo passo em que paradoxalmente esta mesma série se nega a mostrar o doutor em ação como serial killer - ? O lado canibal nunca foi – nem deveria ser - o ponto mais relevante da história. Entristece-me muito ver o intelecto perder lugar para a escatologia. Não acho que uma popularidade tão barata e construída em cima de tamanha pobreza, seja desejável para um dos grandes ícones ficcionais do nosso tempo. No mais, que me perdoem os fanboys e fangirls da série, mas não existe Hannibal para além da atuação magistral de Sir Anthony Hopkins.
William Wilson tem a representação de psicopata mais sóbria que eu já vi em anos. Sem glamurização, sem falso charme, apenas o desejo incontrolável de subjugar e fazer sofrer. No mais, três belos curtas inspirados na obra de Edgar Allan Poe - Embora apenas muito remotamente Fellini se relacione com o autor.
A despeito dos diálogos soberbos, da atuação impecável de Ray Milland e à capacidade ímpar de Hitchcock para executar um suspense em sua plenitude como nenhum outro diretor antes ou depois o faria – E utilizando-se de um único ambiente sem que isto torne o filme maçante* -, sinto-me particularmente decepcionado. O motivo é simples e me surpreende que ninguém o tenha notado até agora:
A conclusão pode ser invalidada por um único furo no roteiro, que resulta em grosseira falha lógica da linha de raciocínio que levaria o Sr. Wendice à cadeia. A conclusão é insustentável, pois no momento em que as chaves são trocadas e o personagem em questão deixa o apartamento, ele não tranca a porta, quando deveria – o que resultaria na descoberta das chaves trocadas. Afinal, uma chave que não abre uma porta, tampouco a fecharia -. Na sequência, o inspetor Hubbard destranca a porta que não foi trancada com a chave original – que estava em seu poder -.
Tratando-se de um de mistério policial, uma falha lógica tão gritante em um gênero que prima por esta, é algo no mínimo, inaceitável e faz com que a conclusão subtraia um tanto do brilhantismo do filme.
* Mérito que outros filmes do diretor apresentam, diga-se de passagem.
Em termos técnicos, sobretudo no que tange à direção, poderia ser absurdamente melhor, mas aparentemente seguir um caminho mais óbvio na execução do filme rende melhores bilheterias – embora a supracitada direção tenha, em determinados momentos, seus méritos -. Acontece, no entanto, que o texto de Moore é tão auto-suficiente, e a encenação verborrágica de Hugo Weaving para o personagem da graphic novel, tão convincente, que fica difícil desgostar. Idéias definitivamente são à prova de balas, e eu arriscaria, que em raros casos, à prova de críticas.
O Nome da Rosa
3.9 775 Assista Agora"O riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé. Se não há temor ao demônio, não é necessário haver Deus.”
É uma pena que as pessoas se prendam demais ao argumento direcionado à igreja e deixem de perceber que a mensagem apresentada pelo filme, e pelo livro, mostra-se muito mais abrangente. Esquecem, ou desconhecem, que a igreja medieval era tanto mais política do que religião – e assim se manteve por muito tempo depois -. Acredito inclusive que é na política e na ideologia que se fomenta muito mais a crença comum – fé comum? – do que na religião – exceto quando esta se torna meramente política.
As instituições que centralizam o poder – e mesmo o que chamamos enganosamente “democracia” as possui – representam o inquestionável, o Deus contra o qual não podemos, ou não devemos, nos pronunciar. Os dogmas aparecem através da normatividade, da ideologia dominante que dita o que devemos ser, querer, pensar, como devemos agir e até como devemos ver a nós mesmos. O medo é sempre a maior e melhor arma de dominação, mesmo que ele se disfarce sob uma aparência não tão ameaçadora. Nossa sociedade nos impõe o medo da exclusão, o medo de ser e pensar diferente, o medo da não-aceitação, o medo das opiniões alheias. O demônio a ser temido é o verdadeiramente diferente, o discordante. Tudo deve ser padronizado – até o pretensamente diferente -, tudo deve seguir normas, ser taxonomizado. Vivemos em um regime cínico, onde o medo se apresenta de forma astuta, como uma simples “advertência”, para que não identifiquemos a extensão de sua função doutrinaria.
A mensagem que se apresenta no filme, portanto, deve ser vista como um comentário geral sobre a dominação ideológica, e deve-se lembrar que o riso vulgar, tão popular, não abala as estruturas de poder, que o riso inteligente, tão raro, é uma das poucas armas realmente eficazes contra um poder tão extenso – quase divino – e tão inabalável em suas estruturas.
Nossa realidade não está tão longe quanto se imagina do que se passa no medievalismo de O nome da Rosa.
O Ataque Vem do Polo
2.7 23A primeira aparição da “criatura” é de levar à óbito de tanto rir: Parece uma carniça voadora.
Isso sim é entretenimento! E em estado bruto! Sensacional. Saudade de filmes tão lindamente toscos como esse.
O Fantasma do Futuro
4.1 395 Assista AgoraVejo alguns ecos do Stalker de Tarkovsky nessa animação. Tanto visualmente, como na forma como os diálogos surgem e delineiam o fundo existencial do filme.
Os japoneses tem uma habilidade sem comparação para inserir belos cenários em seus desenhos. Há um trabalho de concepção e ambientação, que o ocidente está longe de alcançar. Ainda somos, aliás, assombrados pela ignorantíssima ideia de que desenhos são feitos para crianças, o que impede que algo do calibre de Ghost In The Shell possa ser produzido por aqui – embora deva abrir aqui um paralelo, para fazer notar a exceção que são os curtas animados, em que se encontram produções adultas, complexas e muito bem trabalhadas.
Enfim, um filme instigante, de visual arrebatador, e que faz jus não só à fama que carrega, mas à toda a influência que teve na cultura pop.
Matilda
3.7 1,6K Assista AgoraQue surpresa reassistir à esse clássico e descobrir que foi dirigido pelo Danny De Vito! Belo trabalho de direção. O filme é uma excelente adaptação da obra de Roald Dahl, que mantém as críticas e reflexões presentes no livro, segue a história deste com fidelidade, e faz a magia de fato acontecer. Além de tudo vem carregado com aquela sensibilidade e competência técnica, que marcava os filmes despretensiosos dos anos 80 e 90.
Daqueles feitos para se ver incontáveis vezes, sem dúvida nenhuma.
Donnie Darko
4.2 3,8K Assista Agora“And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying are the best I've ever had
I find it hard to tell you
I find it hard to take
When people run in circles its a very very
Mad world
Mad world
Enlarging your world”
O final com Mad World de fundo é muito significativo – aliás, não é o único momento em que há um complemento musical da trama -. Talvez muitas pessoas não enxerguem a genialidade de Donnie Darko, por não captarem que é tudo mais simples do que elas acreditam ser. Não adianta buscar uma lógica profunda em um mundo insano: Ela, de certo, vai fugir de você.
Para o meu gosto, a versão do diretor foi bastante clara quanto aos significados.
Enfim, independente de opiniões pessoais, é preciso admitir que a mítica criada pelo filme é o seu próprio Deus Ex Machina.
Dublê de Anjo
4.2 336Surpreende como um filme de imagens tão soberbas pode ser tão pouco conhecido – a abertura ao som da Sétima sinfonia de Beethoven, é uma inegável obra de arte – mesmo aqui no filmow. A habilidade com que Tarsem seleciona e manipula seus cenários, é algo de encher os olhos – Nada que se possa dizer sobre a direção de arte ou a fotografia pode ter a mínima relevância frente ao impacto das imagens. É lábia gasta em nome do ego de quem escreve: O elogio não faz jus -. A escolha da realidade em lugar da fastidiosa computação gráfica dá ao filme uma dimensão, que de outra forma, jamais poderia ter alcançado – Há aí o tipo de potência imagética que faz com que diretores como Tarkovsky, sejam tão únicos no gênero.
Mais do que um drama fabulesco, The Fall é uma aula de cinema do início ao fim.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraA versão estendida para este primeiro filme d’O Hobbit, como era de se esperar, é um baita presente para os fans da Terra Média. Amarra alguns fatos que surgem no segundo filme – além de possivelmente introduzir durante o conselho branco alguns fatos que surgirão no terceiro - e equilibra o ritmo da narrativa como um todo – exceto para o gosto daquele público que considerou o filme lento, pois aqui, há mais tempo dedicado à se mostrar Valfenda e o Condado, dois deleites absolutos para os olhos, diga-se de passagem. Também me pareceu que os anões são mais bem trabalhados enquanto personagens, sendo possível uma maior distinção – para além da aparência – entre cada um.
Woody Allen: Um Documentário
4.2 134"O que você ganha com o Oscar é favoritismo. As pessoas podem dizer: 'Meu filme favorito era Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.' Mas isso implica que é o melhor filme, e não acho isso possível. Não acho possível fazer esse julgamento. Exceto no atletismo, sabe, onde um cara corre e você vê que ele vence, então, está tudo certo. Ganhei umas provas quando eu era jovem, e foi bem legal porque eu sabia que tinha merecido."
Enquanto isso alguns embusteiros se auto-proclamam como melhores diretores do mundo sem poder.
Sonhos
4.4 380 Assista AgoraÉ incrível a naturalidade com que Kurosawa faz um filme de arte, sem a pretensão que marca uns e outros por aí. É nesta simplicidade transcendental que nós reconhecemos os verdadeiros mestres. Um filme de belas imagens, importantes reflexões, enfim, um filme que reverbera.
O Hobbit: A Desolação de Smaug
4.0 2,5K Assista AgoraA desolação de Smaug foi seguramente tão bom quanto seu antecessor, embora tenha pecado por se afastar mais do livro do que o necessário, dando pouco destaque à personagens importantes no material de origem – como Beorn, que me pareceu inclusive um tanto exagerado visualmente – e esticando a participação de outros que não estavam originalmente lá – como Legolas, que estaria em uma excelente aparição se esta tivesse se mantido limitada ao Reino da floresta. Levá-lo até a Cidade do Lago foi uma decisão um tanto quanto forçada. Igualmente forçado foi a inclusão de uma subtrama de romance, que embora não prejudique o filme, permanece como algo desnecessário.
Em compensação, a deliberação com que cada canto da Terra Média é exibido em seus mínimos detalhes é um abençoado deleite e faz apaziguar os ânimos de qualquer um que realmente goste do trabalho de Tolkien e não seja demasiado puritano. A competência de Peter Jackson para transmitir para a tela o que há nos livros do autor, não se alterou com o tempo. As cenas de Gandalf em Dol Guldur fizeram uma interessante ponte entre O Hobbit e à trilogia do Anel. A escolha do elenco, como sempre, mostra-se acertada, desde o rei élfico Thranduil, com sua aparência extravagante – típica dos elfos de Peter Jackson – e marcante atuação, até o estupendo Smaug – que não será superado pelo cinema tão cedo. Seja pelo trabalho de voz de Benedict Cumberbatch, seja pelo trabalho de computação primoroso que deu vida ao dragão. A esta altura, desnecessário citar Martin Freeman, o Bilbo perfeito.
Enfim, mais um presente para aqueles que não se cansam da Terra Média.
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraA direção do falado Brian De Palma neste filme, é na maior parte do tempo, prosaica. O roteiro é desgraçadamente fraco, corrido, com a profundidade de uma tampinha de refrigerante. As atuações, à exceção de Piper Laurie e da excelente Sissy Spacek, são sofríveis. Pergunto-me quem incutiu na cabeça de tanta gente que esta bomba, MUITO AQUÉM do livro, não só é um clássico – mal funciona enquanto filme -, como uma boa adaptação. Divertido por render algumas risadas involuntárias. E só.
As Aventuras de Tintim
3.7 1,8K Assista AgoraAo contrário do que tem ocorrido com frequência em filmes mais recentes, aqui houve uma utilização muito feliz da computação gráfica. Fotografia surpreendente para uma animação, iluminação muito bem trabalhada e cores na medida certa. Realmente me deixa abismado como essa animação consegue ser mais realista do que muitos filmes de efeitos saturados, e muitas vezes desnecessários, que pipocam pelos cinemas hoje em dia.
O Silêncio dos Inocentes
4.4 2,8K Assista AgoraUm comentário mais abaixo nesta página me fez refletir a respeito do triste destino de Hannibal Lecter enquanto personagem – a crítica vale de igual forma às tramas na qual ele está inserido -. Se o ponto de partida em sua carreira cinematográfica foi um suspense elegante onde a fascinação do espectador nasce pela observação da psicologia atraente e manipulativa do personagem, mais e mais, tornou-se prioritária em sua história a violência vulgar – Característica que está mais exacerbada do que nunca na atual série televisiva -. No Silêncio Dos Inocentes fomos apresentados ao psiquiatra cuja capacidade analítica beira o sherlockiano, como é possível que tenhamos desembocado em um lorpinha cuja marca registrada é fazer receitas culinárias utilizando-se de carne humana – ao mesmo passo em que paradoxalmente esta mesma série se nega a mostrar o doutor em ação como serial killer - ? O lado canibal nunca foi – nem deveria ser - o ponto mais relevante da história. Entristece-me muito ver o intelecto perder lugar para a escatologia. Não acho que uma popularidade tão barata e construída em cima de tamanha pobreza, seja desejável para um dos grandes ícones ficcionais do nosso tempo.
No mais, que me perdoem os fanboys e fangirls da série, mas não existe Hannibal para além da atuação magistral de Sir Anthony Hopkins.
Histórias Extraordinárias
3.6 54 Assista AgoraWilliam Wilson tem a representação de psicopata mais sóbria que eu já vi em anos. Sem glamurização, sem falso charme, apenas o desejo incontrolável de subjugar e fazer sofrer.
No mais, três belos curtas inspirados na obra de Edgar Allan Poe - Embora apenas muito remotamente Fellini se relacione com o autor.
Disque M Para Matar
4.4 680 Assista AgoraA despeito dos diálogos soberbos, da atuação impecável de Ray Milland e à capacidade ímpar de Hitchcock para executar um suspense em sua plenitude como nenhum outro diretor antes ou depois o faria – E utilizando-se de um único ambiente sem que isto torne o filme maçante* -, sinto-me particularmente decepcionado. O motivo é simples e me surpreende que ninguém o tenha notado até agora:
A conclusão pode ser invalidada por um único furo no roteiro, que resulta em grosseira falha lógica da linha de raciocínio que levaria o Sr. Wendice à cadeia. A conclusão é insustentável, pois no momento em que as chaves são trocadas e o personagem em questão deixa o apartamento, ele não tranca a porta, quando deveria – o que resultaria na descoberta das chaves trocadas. Afinal, uma chave que não abre uma porta, tampouco a fecharia -. Na sequência, o inspetor Hubbard destranca a porta que não foi trancada com a chave original – que estava em seu poder -.
* Mérito que outros filmes do diretor apresentam, diga-se de passagem.
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraEm termos técnicos, sobretudo no que tange à direção, poderia ser absurdamente melhor, mas aparentemente seguir um caminho mais óbvio na execução do filme rende melhores bilheterias – embora a supracitada direção tenha, em determinados momentos, seus méritos -. Acontece, no entanto, que o texto de Moore é tão auto-suficiente, e a encenação verborrágica de Hugo Weaving para o personagem da graphic novel, tão convincente, que fica difícil desgostar. Idéias definitivamente são à prova de balas, e eu arriscaria, que em raros casos, à prova de críticas.