A coisa mais preciosa é a relação, que vai se solidificando ao longo do filme, entre avó e neto. O encontro de duas gerações e tradições diferentes, evitando que os costumes que vieram antes se percam.
o modo como o estupro foi posto em cena, diferente de filmes como Doce Vingança e A Última Casa, em Violation essa violência sexual não precisou ser escancarada para ficar claro que foi grave e gerou muito sofrimento físico e psicológico na vítima. Talvez a cena tenha sido feita dessa forma pelo fato de um dos diretores ser uma mulher, a própria protagonista, Madeleine Sims-Fewer, que possivelmente pode ter considerado que isso pode gerar gatilhos, dependendo de quem assiste, ao tornar tão explícito.
A premissa do filme é boa, porém não muito bem aprofundada. O filme acaba se perdendo e, às vezes, apelando para caminhos que em nada acrescentam ao enredo.
Cheguei nesse filme por meio da indicação do Não inviabilize. Quando a paralisia é relacionada a história da pisadeira, o enredo fica mais interessante apesar de todos os pesares que cercam o conjunto da obra.
"É natural discordar sobre as questões legais que determinaram todo esse processo político. O que me parece inaceitável é que um lado da disputa tem o poder de ligar e desligar as instituições de acordo com os seus próprios interesses. Um ostensivo exercício de poder, que me dava a sensação de que a nossa democracia tava muito doente."
"Espero que ninguém jamais tenha olhado para alguém que amava... através de um vidro."
Desde Moonlight, Barry Jenkins vem mostrando que sabe como fazer um belo romance. Rafael Braga, Babiy Querino, Leonardo Nascimento dos Santos e todas as pessoas negras que foram/são presas injustamente representadas no personagem Fonny. É assim que se fala de racismo de forma responsável e consciente, Green Book.
p.s: ainda tentando compreender o porquê de não estar indicado também na categoria de melhor fotografia.
[/spoiler] “-Desculpe interromper, mas o Mark queria compartilhar algo com todos: -Algo está me incomodando este filme inteiro e eu acabei de descobrir. A coisa toda é liberal.” [spoiler]
A melhor coisa desse filme é quando ele acaba. Não vai ser dessa vez que a Ammy Adams vai ganhar um Oscar.
“ - Nome completo? - Cleodegaria Gutiérrez. - Segundo nome? - Não sei. - Qual a idade? - Não sei. - Dia de nascimento dela? - ... - Qual a sua relação com a paciente? - É minha empregada.”
Como você não sabe coisas fundamentais de alguém que conviveu tanto tempo com você? Apesar de ser um filme arrastado, é carregado de passagens que trazem reflexões interessantes. Dolorosa demais a cena em que Cleo sai apagando todas as luzes da casa porque não há ninguém nos cômodos e logo em seguida vai se exercitar com a outra empregada no ESCURO, por não terem direito de usar a luz.
[/spoiler] Don *personagem negro*: bateu nele por causa do que ele te chamou. Tenho aturado aquele papo a minha vida toda, você poderia aturar ao menos por uma noite. Tony *personagem branco*: não posso me zangar com o que ele dizia porque não sou negro? Sou mais negro que você! - Como é? - Você não sabe nada sobre sua própria gente! O que comem, como falam, como vivem. Você nem sabe quem é Little Richard! - Então saber quem é Little Richard te torna mais negro do que eu? Tony, queria que, às vezes, você se ouvisse. Você não falaria tanto. - Bobagem! Sei exatamente quem eu sou. Sou o cara que viveu na mesma vizinhança no Bronx a vida toda, com a minha mãe, meu pai, meu irmão e agora com a minha mulher e filhos. É isso aí, é quem eu sou. Sou o babaca que tem que se virar todo dia para colocar comida na mesa. Você? O Sr. Figurão? Vive no topo do castelo, viajando pelo mundo dando concertos para ricos. Eu vivo nas ruas, você senta no trono. Então, sim, meu mundo é muito mais negro que o seu! [...] - Sim, eu vivo num castelo, Tony! Sozinho! E brancos ricos me pagam para tocar piano porque isso faz com que se sintam cultos! Mas, assim que deixo o palco, volto a ser apenas mais um crioulo para eles! Porque essa é a verdadeira cultura deles. E sofro sozinho porque não sou aceito pela minha própria gente porque também não sou como eles! Então, se não sou preto o bastante, nem sou branco ou homem ou bastante, então diga-me, Tony, o que sou?”
Meu sonho de princesa era poder entrar no enredo de filmes como Efeito Borboleta e Donnie Darko pra decidir o destino dos personagens. Tinha que ser muito Black Mirror mesmo pra ser possível (ou criar essa ilusão).
"Era injusto que só os gays tivessem de se assumir. [...] Mas depois percebi que, seja em que caso for, anunciarmos quem somos ao mundo é bastante aterrador. E se o mundo não gostar de nós? [...] Não viverei mais com medo. Não viverei mais num mundo onde eu não possa ser quem sou. Mereço uma bela história de amor."
Nos últimos dias, tentei aprender a não confiar nas pessoas, mas estou feliz por ter fracassado. Às vezes dependemos das pessoas, como se fossem um espelho, para nos definirem e dizerem quem somos nós e cada reflexo me faz gostar um pouco mais de mim.
Cheio de críticas e denúncias importantes, com pautas como abuso de poder da polícia, feminicídio e discurso conservador cristão, esse filme nos mostra como a vida, as pessoas e as situações são profundamente complexas e que não dá pra medi-los através de uma régua maniqueísta. Tudo com diálogos bem reais e um roteiro que nos prende durante os 115 minutos. Um dos meus favoritos da premiação.
"O filme que você irá assistir foi totalmente pintado à mão por uma equipe de mais de 100 artistas." Acredito que a homenagem é uma das formas mais bonitas de eternizar alguém. O que esses 100 artistas fizeram foi muito único: dar vida aos traços de Van Gogh para contar a sua trajetória. Que homenagem.
Essa frase já valeu o filme inteiro, mas preto/as, assistam Pantera Negra também porque:
- Praticamente todo elenco é preto; - Tem afrofuturismo; - O respeito aos ancestrais, nossa história e cultura, tanto dos africanos do continente quanto da diáspora; - Tem várias passagens no idioma xhosa e variações linguísticas do inglês falado por africanos; - Contextualiza bem conflitos interessantes que rolam entre nós; - 251854154 coisas que não notei;
E por último e mais importante:
Não estamos representados como negros escravizados. Pantera Negra deixa a mensagem que nossos ancestrais foram muito, MUITO mais do que isso. Eles eram reis e rainhas, um povo inteligente, com tecnologia avançada, responsável por grandes descobertas e que sabem como ninguém governar um povo sem precisar desumanizar ninguém.
P.S: vejam com outras pessoas pretas, melhora a experiência em 1000%.
"- O que eu sou? Eu movo minha boca como ele. Não faço som algum como ele. Isso me faz o quê? Tudo o que eu sou, tudo o que eu fui me trouxe aqui para ele. Quando ele olha pra mim, o modo como ele me olha... Ele não sabe o que falta em mim. Ou quanto sou incompleta. Ele vê o que eu sou, como eu sou e ele fica feliz em me ver. Todas as vezes, todos os dias. E agora eu posso salvá-lo ou deixá-lo morrer. - [...] Elisa! O que nós somos, eu e você? Não somos nada! Não podemos fazer nada! Me desculpe... Mas ele nem é humano! - Se nós não fizermos nada, também não somos!"
Esse filme me trouxe a mesma sensação que senti quando assisti "O Labirinto do Fauno". Guillermo del Toro mais uma vez dando sensibilidade a algo que parece assustador num primeiro momento. Nos faz refletir sobre o que nos torna humano.
O interessante é que, pra esse processo, acompanhamos a humanização da criatura com o apoio de personagens que são desumanizados o tempo todo: Elisa por ser muda, Zelda por ser negra, ambas diminuídas também por trabalhem na faxina, e Giles por ser gay e não saber lidar bem com a velhice. Cada um carregado da vontade de mover todas as esferas da comunicação para, então, estabelecerem um contato com a coisa, visto que são aqueles que não têm medo, não estranham, que acolhem e, principalmente, se identificam com a situação de deslocamento da coisa por saberem o que é passar por isso.
Ao passo que Strickland, homem médio branco norte-americano que segue o "american way of life" é o oposto disso, mas defende aquela velha perspectiva de que o homem branco hétero é mais humano que todos, o padrão universal pra tudo. Inclusive quando diz respeito a espiritualidade. Já que, aos olhos do opressor, quem foi/é desumanizado historicamente é desprovido dela.
A exemplo disso, temos a cena em que ele diz a Zelda: " -Você pode achar que aquela coisa parece humana. Anda com duas pernas, né? Mas nós fomos criados à imagem do Senhor. E você não acha que Deus se pareça com aquilo, não é? - Eu não sei com que Deus se parece, Senhor. - Humano, Zelda. Ele parece um humano, como eu... ou como você. Um pouco mais como eu, acho..."
No desenrolar da história, Del Toro nos apresenta o oposto. Nas cenas seguintes, vemos que é a criatura que mais se aproxima do que seria uma espécie de deus, não por conta do poder de cura ou do não morrer, mas porque, devido a capacidade de ser empática, se mostra mais humana que Strickland.
Acredito que, com isso, Del Toro quer nos perguntar: O que seria ser humano pra você?
P.S: ainda não superei o que rolou com o gatinho. 💔
Viveiro
3.2 771 Assista AgoraUma viagem. Só consegui pensar realmente no que extraterrestres podem ser capazes de fazer.
Fresh
3.5 526 Assista AgoraGostei bastante da crítica que ele traz nas entrelinhas. Nunca, nunca ignore os sinais iniciais.
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraInpedente de algumas incongruências, pela proposta inovadora do filme, vale muito a pena assistir. Fazia tempo que eu não assistia algo tão diferente.
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraO destaque para os vira-latinhas ❤️
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 555 Assista Agora"Eles vêm para América e esquecem de tudo."
A coisa mais preciosa é a relação, que vai se solidificando ao longo do filme, entre avó e neto. O encontro de duas gerações e tradições diferentes, evitando que os costumes que vieram antes se percam.
Violation
3.1 42A fotografia desse filme foi muito bem pensada, mas o que mais chamou minha atenção mesmo foi
o modo como o estupro foi posto em cena, diferente de filmes como Doce Vingança e A Última Casa, em Violation essa violência sexual não precisou ser escancarada para ficar claro que foi grave e gerou muito sofrimento físico e psicológico na vítima. Talvez a cena tenha sido feita dessa forma pelo fato de um dos diretores ser uma mulher, a própria protagonista, Madeleine Sims-Fewer, que possivelmente pode ter considerado que isso pode gerar gatilhos, dependendo de quem assiste, ao tornar tão explícito.
Possessor
3.4 302 Assista AgoraA premissa do filme é boa, porém não muito bem aprofundada. O filme acaba se perdendo e, às vezes, apelando para caminhos que em nada acrescentam ao enredo.
Sono Mortal
2.2 75 Assista AgoraCheguei nesse filme por meio da indicação do Não inviabilize. Quando a paralisia é relacionada a história da pisadeira, o enredo fica mais interessante apesar de todos os pesares que cercam o conjunto da obra.
Queen & Slim
4.3 298 Assista AgoraUm ótimo contraponto a Get Out.
A força do nacionalismo negro na prática em uma grande história sobre a possibilidade de você se relacionar com o outro sendo inteiro.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3K"É natural discordar sobre as questões legais que determinaram todo esse processo político. O que me parece inaceitável é que um lado da disputa tem o poder de ligar e desligar as instituições de acordo com os seus próprios interesses. Um ostensivo exercício de poder, que me dava a sensação de que a nossa democracia tava muito doente."
Aterrorizados
3.0 256Não dava nada por esse filme, aí me caguei toda.
[/spoiler]
De todas as cenas, não esperava aquela criatura aparecendo do nada na janela.
[spoiler]
Se a Rua Beale Falasse
3.7 284 Assista Agora"Espero que ninguém jamais tenha olhado para alguém que amava... através de um vidro."
Desde Moonlight, Barry Jenkins vem mostrando que sabe como fazer um belo romance. Rafael Braga, Babiy Querino, Leonardo Nascimento dos Santos e todas as pessoas negras que foram/são presas injustamente representadas no personagem Fonny. É assim que se fala de racismo de forma responsável e consciente, Green Book.
p.s: ainda tentando compreender o porquê de não estar indicado também na categoria de melhor fotografia.
Vice
3.5 488 Assista AgoraA cena pós-créditos diz tudo:
[/spoiler]
“-Desculpe interromper, mas o Mark queria compartilhar algo com todos:
-Algo está me incomodando este filme inteiro e eu acabei de descobrir. A coisa toda é liberal.”
[spoiler]
A melhor coisa desse filme é quando ele acaba. Não vai ser dessa vez que a Ammy Adams vai ganhar um Oscar.
Roma
4.1 1,4K Assista Agora“ - Nome completo?
- Cleodegaria Gutiérrez.
- Segundo nome?
- Não sei.
- Qual a idade?
- Não sei.
- Dia de nascimento dela?
- ...
- Qual a sua relação com a paciente?
- É minha empregada.”
Como você não sabe coisas fundamentais de alguém que conviveu tanto tempo com você? Apesar de ser um filme arrastado, é carregado de passagens que trazem reflexões interessantes. Dolorosa demais a cena em que Cleo sai apagando todas as luzes da casa porque não há ninguém nos cômodos e logo em seguida vai se exercitar com a outra empregada no ESCURO, por não terem direito de usar a luz.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista Agora[/spoiler]
Don *personagem negro*: bateu nele por causa do que ele te chamou. Tenho aturado aquele papo a minha vida toda, você poderia aturar ao menos por uma noite.
Tony *personagem branco*: não posso me zangar com o que ele dizia porque não sou negro? Sou mais negro que você!
- Como é?
- Você não sabe nada sobre sua própria gente! O que comem, como falam, como vivem. Você nem sabe quem é Little Richard!
- Então saber quem é Little Richard te torna mais negro do que eu? Tony, queria que, às vezes, você se ouvisse. Você não falaria tanto.
- Bobagem! Sei exatamente quem eu sou. Sou o cara que viveu na mesma vizinhança no Bronx a vida toda, com a minha mãe, meu pai, meu irmão e agora com a minha mulher e filhos. É isso aí, é quem eu sou. Sou o babaca que tem que se virar todo dia para colocar comida na mesa. Você? O Sr. Figurão? Vive no topo do castelo, viajando pelo mundo dando concertos para ricos. Eu vivo nas ruas, você senta no trono. Então, sim, meu mundo é muito mais negro que o seu!
[...]
- Sim, eu vivo num castelo, Tony! Sozinho! E brancos ricos me pagam para tocar piano porque isso faz com que se sintam cultos! Mas, assim que deixo o palco, volto a ser apenas mais um crioulo para eles! Porque essa é a verdadeira cultura deles. E sofro sozinho porque não sou aceito pela minha própria gente porque também não sou como eles! Então, se não sou preto o bastante, nem sou branco ou homem ou bastante, então diga-me, Tony, o que sou?”
[spoiler]
Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4KMeu sonho de princesa era poder entrar no enredo de filmes como Efeito Borboleta e Donnie Darko pra decidir o destino dos personagens. Tinha que ser muito Black Mirror mesmo pra ser possível (ou criar essa ilusão).
Com Amor, Simon
4.0 1,2K Assista Agora[/spoiler]
"Era injusto que só os gays tivessem de se assumir. [...] Mas depois percebi que, seja em que caso for, anunciarmos quem somos ao mundo é bastante aterrador. E se o mundo não gostar de nós? [...] Não viverei mais com medo. Não viverei mais num mundo onde eu não possa ser quem sou. Mereço uma bela história de amor."
[spoiler]
Beleza Oculta
3.7 888 Assista Agora"Nunca deixe de perceber a beleza oculta de tudo."
Um Beijo Roubado
3.5 606 Assista Agora[/spoiler]
"Querido Jeremy
Nos últimos dias, tentei aprender a não confiar nas pessoas, mas estou feliz por ter fracassado. Às vezes dependemos das pessoas, como se fossem um espelho, para nos definirem e dizerem quem somos nós e cada reflexo me faz gostar um pouco mais de mim.
Com carinho, Elizabeth."
[spoiler]
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraCheio de críticas e denúncias importantes, com pautas como abuso de poder da polícia, feminicídio e discurso conservador cristão, esse filme nos mostra como a vida, as pessoas e as situações são profundamente complexas e que não dá pra medi-los através de uma régua maniqueísta. Tudo com diálogos bem reais e um roteiro que nos prende durante os 115 minutos. Um dos meus favoritos da premiação.
Com Amor, Van Gogh
4.3 1,0K Assista Agora"O filme que você irá assistir foi totalmente pintado à mão por uma equipe de mais de 100 artistas."
Acredito que a homenagem é uma das formas mais bonitas de eternizar alguém. O que esses 100 artistas fizeram foi muito único: dar vida aos traços de Van Gogh para contar a sua trajetória. Que homenagem.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraSó quem cresceu sem representatividade sabe a importância de Pantera Negra pras gerações que tão crescendo agora.
[/spoiler]
"Branco não fala."
[spoiler]
Essa frase já valeu o filme inteiro, mas preto/as, assistam Pantera Negra também porque:
- Praticamente todo elenco é preto;
- Tem afrofuturismo;
- O respeito aos ancestrais, nossa história e cultura, tanto dos africanos do continente quanto da diáspora;
- Tem várias passagens no idioma xhosa e variações linguísticas do inglês falado por africanos;
- Contextualiza bem conflitos interessantes que rolam entre nós;
- 251854154 coisas que não notei;
E por último e mais importante:
Não estamos representados como negros escravizados. Pantera Negra deixa a mensagem que nossos ancestrais foram muito, MUITO mais do que isso. Eles eram reis e rainhas, um povo inteligente, com tecnologia avançada, responsável por grandes descobertas e que sabem como ninguém governar um povo sem precisar desumanizar ninguém.
P.S: vejam com outras pessoas pretas, melhora a experiência em 1000%.
A Forma da Água
3.9 2,7K"- O que eu sou? Eu movo minha boca como ele. Não faço som algum como ele. Isso me faz o quê? Tudo o que eu sou, tudo o que eu fui me trouxe aqui para ele. Quando ele olha pra mim, o modo como ele me olha... Ele não sabe o que falta em mim. Ou quanto sou incompleta. Ele vê o que eu sou, como eu sou e ele fica feliz em me ver. Todas as vezes, todos os dias. E agora eu posso salvá-lo ou deixá-lo morrer.
- [...] Elisa! O que nós somos, eu e você? Não somos nada! Não podemos fazer nada! Me desculpe... Mas ele nem é humano!
- Se nós não fizermos nada, também não somos!"
Esse filme me trouxe a mesma sensação que senti quando assisti "O Labirinto do Fauno". Guillermo del Toro mais uma vez dando sensibilidade a algo que parece assustador num primeiro momento. Nos faz refletir sobre o que nos torna humano.
O interessante é que, pra esse processo, acompanhamos a humanização da criatura com o apoio de personagens que são desumanizados o tempo todo: Elisa por ser muda, Zelda por ser negra, ambas diminuídas também por trabalhem na faxina, e Giles por ser gay e não saber lidar bem com a velhice. Cada um carregado da vontade de mover todas as esferas da comunicação para, então, estabelecerem um contato com a coisa, visto que são aqueles que não têm medo, não estranham, que acolhem e, principalmente, se identificam com a situação de deslocamento da coisa por saberem o que é passar por isso.
Ao passo que Strickland, homem médio branco norte-americano que segue o "american way of life" é o oposto disso, mas defende aquela velha perspectiva de que o homem branco hétero é mais humano que todos, o padrão universal pra tudo. Inclusive quando diz respeito a espiritualidade. Já que, aos olhos do opressor, quem foi/é desumanizado historicamente é desprovido dela.
A exemplo disso, temos a cena em que ele diz a Zelda:
" -Você pode achar que aquela coisa parece humana. Anda com duas pernas, né? Mas nós fomos criados à imagem do Senhor. E você não acha que Deus se pareça com aquilo, não é?
- Eu não sei com que Deus se parece, Senhor.
- Humano, Zelda. Ele parece um humano, como eu... ou como você. Um pouco mais como eu, acho..."
No desenrolar da história, Del Toro nos apresenta o oposto. Nas cenas seguintes, vemos que é a criatura que mais se aproxima do que seria uma espécie de deus, não por conta do poder de cura ou do não morrer, mas porque, devido a capacidade de ser empática, se mostra mais humana que Strickland.
Acredito que, com isso, Del Toro quer nos perguntar:
O que seria ser humano pra você?
P.S: ainda não superei o que rolou com o gatinho. 💔
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraMuito ruim chegar ao final de um filme com a sensação de "é só isso?"
Ou minha sensibilidade está morta ou não acontece nada demais nesse filme. Mais um white people problems.