Sound of Metal é uma obra que faz jus ao nome "audiovisual", pois proporciona ao espectador uma experiência imersiva e sensorial através da imagem e, principalmente, do som. Eu diria que é quase um exercício prático de empatia. O filme inicia com ruídos do ajuste de som que antecede uma apresentação musical. Então, vemos um homem de cabelos descoloridos, sem camisa, cheio de tatuagens (e a mais visível é uma escrita "Please Kill Me" ao lado de 2 armas no peito) sentado numa bateria e começando a tocá-la. Batidas cada vez mais fortes e violentas formando uma música acelerada numa letra tão densa quanto, sendo cantada por uma mulher de cabelos ruivos. Essa cena de ritmo frenético do show então dá lugar pros mesmos personagens- o protagonista Ruben e a namorada Lou- deitados na cama pela manhã. Plano estático. O total silêncio do despertar. A fotografia utilizando a luz natural do sol e os tons claros do ambiente trazem a leveza que contrapõe à escuridão da noite anterior. Um contraste entre cenas que causa até certa estranheza. Ruben acorda, vê a companheira dormindo (percebemos que ela tem cicatrizes de auto mutilação no braço) e vai preparar o café da manhã. Logo no prólogo, o filme já trabalha com essa dualidade nos fazendo sentir em imagens e sons a destrutividade e a falsa calmaria que acometem os 2 personagens. Até que, em certo momento, Ruben começa a ter dificuldade em ouvir. Nós espectadores somos imersos nesse conflito agoniante do protagonista através de um design de som impecável. As vozes ficando distantes, distorcidas, os lábios movendo sem som, o vácuo sonoro dos ambientes; o ruído adaptando-se ao silêncio. Acho que adaptar é uma palavra bem importante aqui. Adaptar às mudanças bruscas e dolorosas que a vida impõem, a uma nova realidade, a uma nova linguagem e, sobretudo, a uma nova maneira de lidar com a própria destrutividade. O protagonista por meio da perda da audição é obrigado a encarar a si mesmo e a própria capacidade de adaptação. O vazio.
Sem música, sem namorada, sem trabalho, sem drogas, enfim, sem todo o externo que ele costumava utilizar como escape para acolher as angústias e as explosões de violência. Uma jornada nada fácil. Então, ele tem a oportunidade de entrar em sintonia com a "quietude" quando começa a frequentar a comunidade para surdos. Um lugar isolado- o que ilustra também o problema da inclusão na sociedade- onde só pessoas surdas podem habitar. Lá Ruben aprende a comunicar por meio da linguagem de sinais. Faz novas amizades. Tenta sentir a música de outras formas. Porém não consegue desconectar da vida anterior à surdez. "Não tem nada para você consertar aqui", diz o criador do projeto, Joe (um homem que ficou surdo na guerra e é ex-alcoolatra) ao protagonista quando percebe a negação de Ruben diante da nova condição. Essa não aceitação faz o protagonista vender tudo e usar o dinheiro para colocar implantes auditivos com a expectativa de recuperar a antiga vida. "Você age como viciado", diz novamente Joe a Ruben após o comunicado sobre a cirurgia. O vício em fugir da realidade imposta, o apego à ilusão de controle de algo incontrolável e o resgaste das seguranças que ajudaram no passado. Só que não dá pra fugir da realidade do sentido. A audição implantada artificialmente que volta numa frequência perturbadora, robótica, metalizada, falhada e nada natural. O fim da relação com Lou devido a transformação inevitável dos personagens. A tentativa de ficar preso numa estrutura de vida já não sustentável gera mais sofrimento.
Sound of Metal nos leva numa viagem tão sensorial que ficamos sensibilizados junto com o protagonista ao constatar que nada será mesmo como antes. Um trabalho cinematográfico incrível que consegue colocar o espectador dentro das emoções e conflitos de Ruben nesse processo de reabilitação até a total auto aceitação. Apreciar os silêncios que sempre estiveram presentes, mas que ele nunca permitiu ouvir em meio ao caos. Me levou a pensar que a tal "quietude" não é apenas fruto da falta de som, e sim de quando se está plenamente consciente de si mesmo e da realidade.
Achei de uma sincronicidade enorme Soul ser lançado em 2020. Um ano em que todos os dias o tema da morte nos rondou coletivamente. Quando sentimos o peso da morte, sentimos também a importância da vida. E então qual o sentido de estar vivo? Onde está a nossa alma? O filme traz o protagonista Joe Gardner. Joe é um músico extremamente apaixonado por jazz que leciona música para crianças. Soul faz do amor ao jazz e da musicalidade elementos intrínsecos à estrutura da animação, assim como são essenciais na construção do personagem. Do título do filme, roteiro, ambientação, design de produção, design de som à dublagem rítmica(é interessante assistir no idioma original). Joe é insatisfeito com a carreira de professor e tem o sonho de tornar-se famoso, então recebe o convite para tocar na banda de uma musicista renomada. Essa é a oportunidade perfeita e que ele acredita ser o propósito de toda a sua existência. Só que nesse mesmo dia, Joe sofre um acidente.
Ele cai dentro de um bueiro e logo em seguida, já transformado em alma, aparece numa imensidão monocromática onde o colorido é somente o azul dos mortos. Todo o tom de realismo dado ao design da animação até então, desaparece. Joe agora é uma alma azul no universo comandado por seres de formas abstratas, e está numa espécie de esteira que leva centenas de almas em direção à grande luz branca e brilhante. Desesperado por entender que aquilo é a morte, Joe foge no sentido contrário e mergulha num abismo preto e branco. Então, os traços da animação assumem um estilo diferente, mais geométricos e como se fossem desenhados por giz branco numa lousa. O protagonista desliza entre essas linhas e formas como se adentrasse numa viagem aterrorizante entre as cordas e teclas de instrumentos musicais sendo tocados até, enfim, cair num lugar onírico de cores pastéis chamado Pré-Vida. Descobre-se que ali almas crianças são preparadas para nascer no mundo. Fingindo ser outra pessoa para fugir do Além Vida e visando voltar à Terra, Joe torna-se mentor da rebelde Alma 22 e tem o trabalho de ajuda-la a preencher o espaço vazio do passe que
possibilita o nascimento: a missão. Mas a missão seria um propósito? Uma paixão? Uma profissão? Muito interessante como o filme aborda essa questão desconstruindo o conceito capitalista da matéria e de que “produzir muito e ser alguém” é o sentido da vida. Na verdade, quanto mais apegados ao ego e na ilusão de quem somos, mais distantes estamos da nossa verdadeira essência e mais ligados ficamos às ansiedades e angústias. Isso é inserido no filme de maneira bem clara através daqueles personagens monstruosos que vagueiam desconectados deles mesmos (e depois pela própria 22). Já o oposto disso, os heróis que salvam essas almas perdidas, são representados pelos “piratas hippies" que meditam e são o elo entre o universo e a realidade. A saída é o autoconhecimento e assim estar realmente presente no viver. Ou seja, a missão da vida é apreciar cada segundo da existência. Simples assim.
Joe precisou da 22, uma alma criança que nunca fora humana anteriormente, para reaprender essa visão mais instintiva e pura sobre a vida (porém muito sábia). Precisou aprender a “jazzar" no improviso que é viver. A paixão pelo piano é bastante importante sim, mas não é a totalidade. É apenas uma parte do que ele é, e quando entendida a real missão, a música foi também um elo com o universo; com o próprio universo. A arte é um instrumento para sentir a alma. E a partir do momento em que o protagonista aceita a morte do "antigo eu", recebe a oportunidade de renascer. Por outro lado, a 22 também precisou de um mentor como Joe para permitir-se
compreender a beleza -apesar de toda a dureza- da vida. Uma experiência fora do modelo empresarial e mecânico adotado pelo sistema da Escola da Vida. Para então finalmente motivar-se a nascer no mundo. Aprendemos e ensinamos uns aos outros para evoluir. Soul é uma animação que trata de temas fortes de maneira delicada e com uma mensagem acolhedora. Foi um grande presente pro meu final de ano.
O filme é excelente, um suspense muito bem construído, roteiro, direção e com ótimas atuações. Porém quero deixar um aviso pra quem já passou por relações abusivas: o filme tem muito gatilho. Se vc não está bem com isso, evite assistir. É uma metáfora para o abuso: o homem pratica a violência contra a mulher mas quem leva a culpa é a vítima. O homem no papel de agressor é invisível para a nossa sociedade. A mulher sofre psicologicamente e fisicamente, quando tenta sair do relacionamento e contar aos outros é desacreditada e tida como louca. A protagonista Cecília de O Homem Invisível percorre essa trajetória tensa e sufocante da libertação do ciclo abusivo.
Vi o filme como uma metáfora para a transição da adolescência para a fase adulta. Maria tornando-se mulher e precisando sair de casa para enfrentar o mundo que a amedontra (e que na vdd é apenas uma projeção do medo que ela tem de descobrir a si msma). O rompimento com os laços familiares não saudáveis que impedem os irmãos de crescerem e formarem personalidade própria. O confronto com a bruxa mostrando todo o poder que contém dentro dela. A luz e as trevas, bem e mal, que Maria precisa compreender e aceitar para amadurecer. É um filme interessante nesse sentido. Pretende seguir essa onda de filmes como A Bruxa... terror folk+ psicológico. Tem uma estética bonita, fotografia, direção de arte, um conto de fadas que tb contempla o sombrio. Tem um ritmo lento, com bastante diálogo, e isso pode incomodar quem espera por algo mais frenético. Eu gostei do filme, mas gostaria que o diretor tivesse ousado mais nos símbolos e nas imagens. Esse meio termo entre algo comercial e algo "artístico" prejudicou a obra. Não conseguiu um bom equilíbrio. Talvez isso tenha sido com a intenção de emplacar uma nova franquia, mas que no fim não agrada completamente a nenhum dos públicos.
Esse doc me destruiu emocionalmente. Mesmo naquele local isolado da Macedônia o maior vilão é o sistema. A exploração desrespeitosa e inconsequente resulta no desequilíbrio e na morte. O dinheiro aliado à destrutividade e egocentrismo do homem é uma combinação angustiante de assistir. É difícil entender que o ser humano é parte da natureza e não o dono (mesmo quando depende-se essencialmente dela para sobreviver). Precisamos de harmonia, porém como se vivemos num sistema onde a vida é o menos importante? Onde a prioridade é a produção em massa e o lucro? Os mais "fracos" na escala de poder são sempre os que mais sofrem...E Honeyland mostra essa "cadeia exploratória" com poucos diálogos, imagens impressionantes em uma montagem inteligente e ruídos perturbadores ecoando no silêncio. O patriarca da família recém chegada ao local representa o masculino primitivo, a ganância e a agressividade. Os filhos ainda crianças sendo tratados como trabalhadores e ensinados a perpetuar os comportamentos destrutivos. Os animais sofrendo e sendo extremamente mal tratados e explorados. O homem que desumanizou-se para o sistema (representado pelo comprador de mercadorias) e parece que a natureza está sempre tentando o expulsar de lá. Em contraponto, temos a protagonista Hatidze, uma mulher vestida de amarelo e lenço estampado de flores. Ela vive ali e sobrevive da extração do mel, mas entende que o equilíbrio e comunhão com a natureza é primordial. É uma personagem muito cativante e empática. A imersão completa (por vezes quase ficcional) na rotina dela auxilia na construção dessa afetividade. Uma mulher com cicatrizes da existência na pele, porém sem deixar de sentir amor pelos outros seres e respeitar o processo cíclico da natureza (o filme faz aqui tb um paralelo lindo entre a filha cuidando da mãe idosa, além do símbolo literal do relacionamento existe a interpretação de mãe como a "mãe natureza"; a nossa grande mãe). Viver compreendendo que "leva metade e deixa metade" é sábio, mas às vezes pode ser solitário e doloroso dentro dessa sociedade. Pra mim a Hatidze é a síntese dali: beleza e crueldade. A natureza retorna tudo, o bem e o mal. Espero que ela colha esses bons frutos.
Achei que esse segundo filme desenvolve mto pouco os personagens. A Lara Jean mesmo quase sempre gira em torno do Peter e da relação/término. Tive a impressão que no primeiro filme a personalidade dela e de outros personagens foram melhor desenvolvidas e exploradas. Eu sei que é um filme de romance adolescente e tal, mas depois de um certo tempo esse conflito fica cansativo de assistir. O filme é legalzinho e fofo, mas não acrescentou muito. E como disseram em um dos comentários: fez falta uma mulher na direção.
Ps: eu achei a paleta de cor dos cenários, figurinos, e às vezes até da fotografia, extremamente saturada. É até bonito em algumas cenas, mas esse exagero do colorido o tempo todo me incomodou.
Interessante O Farol. Depois de A Bruxa explorando as questões do feminino e da sexualidade demonizada e reprimida, vem esse filme abordando a destrutividade do falocentrismo e da masculinidade tóxica. Ps: serase o Robert Eggers gosta de Tarkovsky, Bergman, Murnau e Dreyer? haha
"E se a protagonista for mulher faça com que ela se case no fim. Ou morra. Um dos dois" diz o agente literário para Jo. Jo é uma jovem mulher que deseja trabalhar como escritora. Adoráveis Mulheres inicia pela fase adulta da protagonista e a dificuldade em consolidar-se na carreira dentro da sociedade patriarcal. O filme é ambientado nos períodos de guerra e pós-guerra civil americana, e acompanha o crescimento de um grupo de irmãs. Os primeiros minutos da obra introduzem as personagens já em suas vidas adultas, e então os tons frios e sombrios contidos nos figurinos e na fotografia transformam-se em tons quentes e acolhedores da juventude. As personagens adultas que foram apresentadas anteriormente são, então, apresentadas na infância/adolescência com toda a inocência, sonhos e medos. O filme tem uma narrativa não-linear, ele transita o tempo todo entre as fases das irmãs. Muitas rimas visuais sutis e interessantes são feitas pela montagem afim de tecer essa cronologia. Mas isso pode ser um pouco confuso para alguém mais desatento, pois essas rimas são feitas entre planos similares porém em épocas diferentes. Percebemos essas transições dos anos através da mudança dos penteados, figurinos, fotografia, ambientação, mas muitas vezes elas ocorrem rapidamente. Oq faz tb do figurino elemento importantíssimo dentro da narrativa. Além de serem lindos de morrer (e é a minha torcida nessa categoria do Oscar) eles são essenciais para contextualizar e compreender o fluir da trama. Trama que utiliza muito bem a metalinguagem. Adoráveis Mulheres prioriza o roteiro, os diálogos e o desenvolvimento das personagens. E devido a isso a atuação também tem um grande destaque. Aborda principalmente as relações entre /das mulheres, os anseios x a realidade, os papéis de gênero, a autonomia da mulher, os dilemas em quebrar o padrão pré-estabelecido, assim como a dificuldade da mulher em consolidar-se artista. Como ser artista numa sociedade onde homens precisam validar o trabalho de mulheres para ser considerado arte? Ou até mesmo algo vendável enquadrado em filtros e construções machistas? A diretora Greta Gerwig faz uma forte crítica a esse tema: somos controladas e julgadas na nossa criação. A liberdade da mulher passa também pela liberdade de construir a própria ficção, a própria representação do mundo. E aí a metalinguagem entra de uma maneira certeira costurando a histórias das personagens com a do livro e, por consequência, com a do filme (que foi dirigido por uma mulher). Claro, com várias décadas de diferença e depois de muitas conquistas já adquiridas, mas ainda com algumas estruturas que continuam sólidas. Existe um final em que nós não precisamos casar se não quisermos e nem morrer, mas qual é oq vc prefere assistir?
A maioria dos indicados ao Oscar de melhor filme desse ano traz a violência como um elemento importante (pra não dizer crucial). Filmes sobre períodos de guerra, máfia, violência social, etc. Estamos vivendo numa época belicosa e o cinema caminha com a história nesse retrato dos tempos atuais e passados. 1917 é um desses indicados, um filme dirigido por Sam Mendes e ambientado na primeira guerra mundial (inspirado em relatos que o avô do diretor contava). A trama é basicamente sobre 2 soldados britânicos que precisam entregar uma mensagem para cessar um ataque e assim impedir um massacre. Os dois tem de atravessar um grande percurso até um determinado horário para conseguirem cumprir essa tarefa. O filme acompanha a jornada desses personagens através da simulação de um único plano-sequência. E isso é algo que realmente funciona nessa temática, pois esse ritmo de perseguição gera uma maior imersão do espectador na narrativa. Porém aí também está o meu problema com a obra: a prioridade em entreter ao invés de aprofundar. Não tenho nem oq dizer sobre a estética e técnica... O design de produção e os efeitos visuais são perfeitos na construção da ambientação (e é a minha aposta no oscar nessa categoria): as trincheiras, as cidades destruídas pela guerra, os cadáveres humanos e de animais, enfim toda a enorme devastação que algo assim ocasiona é retratada de maneira muito realista. Me impressionou bastante. Imagens belíssimas feitas em longos planos em um cenário horrível e cruel, a estetização da violência foi a escolha feita pela fotografia. São escolhas. Os heróis e os vilões bem definidos. A jornada do herói e talvez um esvaziamento do roteiro. Ele entretém, nós ficamos tensos com os obstáculos a serem ultrapassados pelos heróis dali, mas e aí? Oq tem além disso? Tem tantos filmes de guerra que nos propõem muito mais. Acho 1917 um filme visualmente e tecnicamente ótimo, mas que poderia ser muito mais interessante na abordagem e no desenvolvimento. Tudo bem que eu já não morro de amores por esse gênero, mas pra mim foi só mais um "filme bem feito".
"Tem 3:30 hrs de duração" esse foi o meu primeiro pensamento antes de assistir O Irlandês: o tempo, o quanto ele dura. Mas isso é justamente oq move esse filme. O Irlandês abre com um travelling que inicia na porta do corredor de uma casa de repouso. Vemos nesse primeiro plano (que assemelha-se a uma tela) muitas pessoas idosas, enfermeiros, enfim a rotina desse ambiente. Então a câmera nos leva até o protagonista Frank Sheeran: um idoso que está sozinho, sentado numa cadeira de rodas, vestido em roupas datadas e usando alguns objetos de ouro. Logo em seguida, ele começa a contar a própria trajetória dentro da máfia. A narrativa inicia pela fragilidade da velhice, e aos poucos, o começo e meio da história homérica como gangster são expostos. É um filme que brinca com o tempo (numa montagem incrível, por sinal) com o ir e vir, passado, presente e futuro. Com o ritmo, acelera, desacelera, o tempo passa veloz como nas sequências de ação ou vagaroso como nas sequências introdutórias? Os espectadores experimentam essa sensação( e a longa duração da obra tb auxilia nesse quesito). Estamos assistindo às memórias do protagonista, e as memórias são pequenos filmes que existem dentro de nós. Portanto, Frank está ali montando o filme de quase uma vida inteira antes de morrer... Não tem como isso ser rápido. Acho que O Irlandês poderia ser apenas um filme de gênero excelente. Porém ele utiliza a máfia como pano de fundo para propor reflexões mais complexas sobre a vida e a morte, sobre amizade, família, envelhecer e sobre as escolhas que fazemos. É um tanto melancólico. A fotografia sempre em tons frios. As cores sóbrias da existência. Oq existe por trás do glamour de ser um gangster? Scorsese faz tb uma reflexão humana e necessária sobre esse cinema.
Ps: sim, foi difícil engatar nesse filme. Percebi o quão rápido a minha atenção dispersa e o quanto já estou acostumada com as estruturas mais fragmentadas e curtas. Na primeira vez que assisti não consegui ficar imersa td o tempo. Depois do término, compreendi a grandiosidade do filme e decidi rever =) meu site: https://rolinhodefilme.movie.blog/
Como lidar com o fim? Acho que quase ninguém sabe essa resposta. O processo do luto é intenso e doloroso. O luto não precisa ser necessariamente devido a uma morte física, mas pode ser também de ciclos que encerram, relacionamentos, ideias... a morte simbólica de quem já fomos um dia. E para evitar esse sofrimento tentamos ir para um lugar onde só existe a luz, mas esquecemos que onde há luz também há sombra. Uma não existe sem a outra. Quando tudo oq acreditamos pertencer ou ser já não vive mais, oq acontece? Talvez nos apegamos excessivamente a outras pessoas, religião, dogmas, drogas, tudo com a intenção de preencher e não ver o nosso próprio vazio. Esse é o processo que a protagonista atravessa durante o filme. Toda a família dela morre e ela se apega a um namoro falido para superar esse momento. Então o casal e um grupo de amigos viajam para uma comunidade rural na Suécia, onde tem um festival folclórico repleto de rituais psicodélicos e a maior parte do tempo é dia. Um lugar aparentemente muito bonito, florido, ensolarado, pessoas dançando, felizes, quase como num conto de fadas. Porém situações perturbadoras começam a acontecer pra nos lembrar que nem tudo é oq parece ser. Oq existe por trás das máscaras? Então o filme assume o tom de uma bad trip transitando entre o surrealismo (o idealizado) e o terror (a realidade). Em um dos diálogos eles falam sobre como naquele local a morte é tida como uma etapa natural, e que isso causa aversão aos turistas pq a morte é um tabu cultural. Ali todo o caos que estava imerso vem à consciência da protagonista e ela permite ver, sentir e acolher a própria dor para depois transformá-la. Encerra tudo oq já não lhe servia mais e torna-se rainha. Mas não de uma maneira romântica e sim através da destruição desse mito. Porém ela está livre? Ela transforma o sofrimento das relações do passado mas, de certo modo, fica presa nos dogmas daquela comunidade.
"Bacurau" inicia com um plano da terra vista por satélite bem no estilo ficção científica hollywoodiana. E com essa imagem e uma música da Gal Costa vamos nos aproximando aos poucos dessa cidade afastada chamada Bacurau. Desde os primeiros minutos já fica clara a ideia central: a interferência de alguns países tidos como desenvolvidos na nossa sociedade; o processo colonizador x colonizado ainda nos dias atuais. Começamos então a adentrar na rotina dessa pequena comunidade e, de repente, pessoas de lá morrem violentamente, a cidade fica sem sinal de celular e está sumindo do mapa. Descobre-se que existe um grupo de "gringos" que, junto com o prefeito( classe política) e 2 turistas brasileiros( classe média alta e elite), tem o plano de extinguir Bacurau. Os moradores resolvem unir as suas forças, estratégias e armas para resistir e combater o "inimigo". Bacurau talvez seja o Brasil idealizado dos diretores dentro de um possível futuro trágico. Um lugar onde a população vive nas suas diferenças e dificuldades, sem preconceitos, ajudando uns aos outros e unida. Mas em tempos de ódio, a violência é também um forte elemento que o filme traz como protagonista. É uma obra atual e importante. E muito positiva e bem realizada através da montagem a escolha de transitar por diferentes gêneros e referências cinematográficas. Uma hora é ação, outra western, outra suspense, Glauber Rocha, Sganzerla, John Carpenter, Sergio Leone... Um pouco do universo audiovisual dos diretores projetado na tela e bem utilizado como linguagem. Um filme bastante crítico e político, mas que também homenageia quem os formou.
Eu acho que é um filme que não tem a intenção de explicar nada, de ser racional e científico. É um filme sobre emoção, sobre o amor principalmente. Amor pela música, pelos Beatles, pela arte, e o amor por quem está ao seu lado nessa jornada difícil que é ser um artista. Eu fiquei um pouco frustrada até entender isso. Pq eu pensava "tá, mas pq aconteceu isso? E se existe isso pq existe aquilo?" e o filme não entrega essas respostas pq não é o seu propósito. Ele vem pra homenagear e emocionar. De uma maneira bem leve, sem grandes excessos e teorias, é um filme doce e gostoso de assistir. Você se envolve ali nas histórias deles embaladas pelas músicas e se deixa levar. E às vezes essa sensação de leveza após um filme faz muito bem. Eu gostei bastante, me diverti, e fui contagiada pela vibe do filme. Pra quem gosta de Beatles pode ser uma experiência mais interessante pelas referências citadas nele. Não só das músicas mas tb da própria história da banda (é um filme que traz muitos paralelos com a história dos Beatles). Ah e eu fiquei apaixonada pelo Himesh Patel <3
O documentário traz um tema bem interessante e ainda pouco abordado. Acredito que a cultura e arte arte huichol não sejam tão conhecidas pela maioria das pessoas (eu, por exemplo, não conhecia rs). Então no sentido antropológico foi bem assertivo porém, na minha opinião, o documentário poderia ser mais enxuto... um média metragem, talvez. Me incomodou bastante a questão da montagem e as cenas que não dialogavam, deixando o documentário desnecessariamente extenso e desconexo em alguns momentos. Mas, mesmo com essa ressalva, a originalidade da temática faz o filme valer a pena.
Pra mim, Animais Noturnos aborda os conflitos existentes em ser artista. Susan e Edward representam os dois lados desse conflito: um pragmático e o outro criativo. Um cobra resultados práticos e materiais, o outro deseja expressar a sua subjetividade através da arte independente de estrutura financeira. Um se acha incapaz de produzir algo próprio e transpor a sua vida, o outro tem confiança em mostrar aos outros os seus dramas pessoais. Esse conflito desdobra-se ao relacionamento do casal. Apesar do filme adentrar no relacionamento dos dois, ele é todo construído a partir do ponto de vista de Susan, que vive um momento crítico em sua vida. Através da leitura do livro escrito por Edward, ela consegue projetar os seus dramas, e também consegue acessar os seus próprios fantasmas. A protagonista que é sempre centrada e não se permite sentir, acaba fazendo uma reflexão por meio daquela obra. O espectador não conhece Edward de fato, conhece apenas o que Susan projetou dentro daquela ficção, conhece a história ficcional relacionada à realidade conturbada vivida pela protagonista. Tudo o que vemos parte da imaginação e filtro de Susan. O filme faz essa insinuação através da montagem e do roteiro, por várias vezes a imagem dela é fundida com o personagem do livro, assim como as suas ações e lembranças também se fundem com a ficção. Será que o livro que vimos ali foi o livro que Edward escreveu? A arte tem esse viés de nos fazer sentir, de transportar algo de fora pra dentro, de projetar e internalizar. Assim como Susan, o espectador também levará as suas vivências pro filme, e a interpretação do que é exposto na tela mudará de pessoa pra pessoa. E pra mim essa é a grande mágica de Animais Noturnos.
Chorei durante o filme todo praticamente. Uma obra agridoce, assim como a personalidade da protagonista Val. Toda uma falsa suavidade e delicadeza contidas nas cenas que, se olhadas com atenção e sensibilidade, nota-se uma crítica ferrenha e dolorosa a nossa sociedade elitista, xenofóbica, segregacionista e machista. Val encara, superficialmente, com naturalidade as situações abusivas; mas se analisarmos a fundo, nas entrelinhas, vemos a dor e a mágoa que carrega dentro de si. A dor do nosso passado histórico, do "sempre foi assim mesmo e continuará assim", coloco-me no meu papel de abaixar a cabeça e aceitar. Um tapa bem dado na cara! Assistam, apenas!
Acabo de chegar da sessão do filme "Gravidade" e... foi perfeito! Não quero entrar em detalhes sobre os quesitos tecnológicos (como o 3d impecável, efeitos especiais, sonoros) que obviamente são incríveis, e faz valer cada centavo do ingresso de um imax. O filme se passa no espaço, numa trama aparentemente simples sobre astronautas à deriva após um acidente espacial. Vale ressaltar aqui o esmero do diretor com os planos... ah os planos, ah os planos... imagens interessantes, belas, por vezes, experimentais. Como a gravidade zero proporciona liberdade aos ângulos e enquadramentos dos atores; não existe certo ou errado na tela, é de cabeça pra baixo, de lado, girando, no plongèe, contra-plongèe. Mas todas essas qualidades acima não foram o que me fizeram apaixonar pelo filme. Eu me apaixonei pelo significado não literal do enredo. "Gravidade" não é uma aventura ou uma ficção científica. À primeira vista, nos primeiros minutos de exibição, me pareceu erroneamente que sim. Entretanto, no desenvolvimento da trama, nos elementos narrativos e visuais inseridos na trajetória, percebo que é muito mais.
O filme é uma viagem ao interior da protagonista. Explico, Ryan (a protagonista), acaba de perder a filha num acidente trágico e repentino (essa informação é dada logo no início do filme, num diálogo entre ela e o outro astronauta, Matt). "Alguém espera por você lá na Terra, Ryan?" pergunta Matt. O espaço, portanto, é uma alegoria para a viagem que ela faz ao seu próprio universo após a morte da filha.
Ali, distante de tudo e de todos, imersa no seu próprio eu, luta contra os males da existência, c
nquanto os destroços de um objeto espacial tentam atingi-la e mata-la- impedindo seu retorno à Terra (a vida)- Matt tenta salva-la
. As forças negativas e positivas que habitam dentro de nós quando os conflitos, problemas e tristezas nos abatem. Uma parte sempre pensa na desistência e uma outra sempre pensa em prosseguir. Como continuar vivendo? Vale a pena insistir na existência?
Num plano muito belo, Ryan flutua pela nave movimentando-se até atingir uma posição fetal com seu corpo, sendo segurada por cordas que faziam as vezes de cordão umbilical;
nada mais simbólico. Ali, presa dentro dela mesma, passa por um processo de renascimento.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
O Som do Silêncio
4.1 983 Assista AgoraSound of Metal é uma obra que faz jus ao nome "audiovisual", pois proporciona ao espectador uma experiência imersiva e sensorial através da imagem e, principalmente, do som. Eu diria que é quase um exercício prático de empatia.
O filme inicia com ruídos do ajuste de som que antecede uma apresentação musical. Então, vemos um homem de cabelos descoloridos, sem camisa, cheio de tatuagens (e a mais visível é uma escrita "Please Kill Me" ao lado de 2 armas no peito) sentado numa bateria e começando a tocá-la. Batidas cada vez mais fortes e violentas formando uma música acelerada numa letra tão densa quanto, sendo cantada por uma mulher de cabelos ruivos. Essa cena de ritmo frenético do show então dá lugar pros mesmos personagens- o protagonista Ruben e a namorada Lou- deitados na cama pela manhã. Plano estático. O total silêncio do despertar. A fotografia utilizando a luz natural do sol e os tons claros do ambiente trazem a leveza que contrapõe à escuridão da noite anterior. Um contraste entre cenas que causa até certa estranheza. Ruben acorda, vê a companheira dormindo (percebemos que ela tem cicatrizes de auto mutilação no braço) e vai preparar o café da manhã. Logo no prólogo, o filme já trabalha com essa dualidade nos fazendo sentir em imagens e sons a destrutividade e a falsa calmaria que acometem os 2 personagens. Até que, em certo momento, Ruben começa a ter dificuldade em ouvir. Nós espectadores somos imersos nesse conflito agoniante do protagonista através de um design de som impecável. As vozes ficando distantes, distorcidas, os lábios movendo sem som, o vácuo sonoro dos ambientes; o ruído adaptando-se ao silêncio. Acho que adaptar é uma palavra bem importante aqui. Adaptar às mudanças bruscas e dolorosas que a vida impõem, a uma nova realidade, a uma nova linguagem e, sobretudo, a uma nova maneira de lidar com a própria destrutividade. O protagonista por meio da perda da audição é obrigado a encarar a si mesmo e a própria capacidade de adaptação. O vazio.
Sem música, sem namorada, sem trabalho, sem drogas, enfim, sem todo o externo que ele costumava utilizar como escape para acolher as angústias e as explosões de violência. Uma jornada nada fácil. Então, ele tem a oportunidade de entrar em sintonia com a "quietude" quando começa a frequentar a comunidade para surdos. Um lugar isolado- o que ilustra também o problema da inclusão na sociedade- onde só pessoas surdas podem habitar. Lá Ruben aprende a comunicar por meio da linguagem de sinais. Faz novas amizades. Tenta sentir a música de outras formas. Porém não consegue desconectar da vida anterior à surdez. "Não tem nada para você consertar aqui", diz o criador do projeto, Joe (um homem que ficou surdo na guerra e é ex-alcoolatra) ao protagonista quando percebe a negação de Ruben diante da nova condição. Essa não aceitação faz o protagonista vender tudo e usar o dinheiro para colocar implantes auditivos com a expectativa de recuperar a antiga vida. "Você age como viciado", diz novamente Joe a Ruben após o comunicado sobre a cirurgia. O vício em fugir da realidade imposta, o apego à ilusão de controle de algo incontrolável e o resgaste das seguranças que ajudaram no passado. Só que não dá pra fugir da realidade do sentido. A audição implantada artificialmente que volta numa frequência perturbadora, robótica, metalizada, falhada e nada natural. O fim da relação com Lou devido a transformação inevitável dos personagens. A tentativa de ficar preso numa estrutura de vida já não sustentável gera mais sofrimento.
Sound of Metal nos leva numa viagem tão sensorial que ficamos sensibilizados junto com o protagonista ao constatar que nada será mesmo como antes. Um trabalho cinematográfico incrível que consegue colocar o espectador dentro das emoções e conflitos de Ruben nesse processo de reabilitação até a total auto aceitação. Apreciar os silêncios que sempre estiveram presentes, mas que ele nunca permitiu ouvir em meio ao caos. Me levou a pensar que a tal "quietude" não é apenas fruto da falta de som, e sim de quando se está plenamente consciente de si mesmo e da realidade.
Soul
4.3 1,4KAchei de uma sincronicidade enorme Soul ser lançado em 2020. Um ano em que todos os dias o tema da morte nos rondou coletivamente. Quando sentimos o peso da morte, sentimos também a importância da vida. E então qual o sentido de estar vivo? Onde está a nossa alma?
O filme traz o protagonista Joe Gardner. Joe é um músico extremamente apaixonado por jazz que leciona música para crianças. Soul faz do amor ao jazz e da musicalidade elementos intrínsecos à estrutura da animação, assim como são essenciais na construção do personagem. Do título do filme, roteiro, ambientação, design de produção, design de som à dublagem rítmica(é interessante assistir no idioma original).
Joe é insatisfeito com a carreira de professor e tem o sonho de tornar-se famoso, então recebe o convite para tocar na banda de uma musicista renomada. Essa é a oportunidade perfeita e que ele acredita ser o propósito de toda a sua existência. Só que nesse mesmo dia, Joe sofre um acidente.
Ele cai dentro de um bueiro e logo em seguida, já transformado em alma, aparece numa imensidão monocromática onde o colorido é somente o azul dos mortos. Todo o tom de realismo dado ao design da animação até então, desaparece. Joe agora é uma alma azul no universo comandado por seres de formas abstratas, e está numa espécie de esteira que leva centenas de almas em direção à grande luz branca e brilhante. Desesperado por entender que aquilo é a morte, Joe foge no sentido contrário e mergulha num abismo preto e branco. Então, os traços da animação assumem um estilo diferente, mais geométricos e como se fossem desenhados por giz branco numa lousa. O protagonista desliza entre essas linhas e formas como se adentrasse numa viagem aterrorizante entre as cordas e teclas de instrumentos musicais sendo tocados até, enfim, cair num lugar onírico de cores pastéis chamado Pré-Vida. Descobre-se que ali almas crianças são preparadas para nascer no mundo. Fingindo ser outra pessoa para fugir do Além Vida e visando voltar à Terra, Joe torna-se mentor da rebelde Alma 22 e tem o trabalho de ajuda-la a preencher o espaço vazio do passe que
Joe precisou da 22, uma alma criança que nunca fora humana anteriormente, para reaprender essa visão mais instintiva e pura sobre a vida (porém muito sábia). Precisou aprender a “jazzar" no improviso que é viver. A paixão pelo piano é bastante importante sim, mas não é a totalidade. É apenas uma parte do que ele é, e quando entendida a real missão, a música foi também um elo com o universo; com o próprio universo. A arte é um instrumento para sentir a alma. E a partir do momento em que o protagonista aceita a morte do "antigo eu", recebe a oportunidade de renascer. Por outro lado, a 22 também precisou de um mentor como Joe para permitir-se
Soul é uma animação que trata de temas fortes de maneira delicada e com uma mensagem acolhedora. Foi um grande presente pro meu final de ano.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraO filme é excelente, um suspense muito bem construído, roteiro, direção e com ótimas atuações. Porém quero deixar um aviso pra quem já passou por relações abusivas: o filme tem muito gatilho. Se vc não está bem com isso, evite assistir.
É uma metáfora para o abuso: o homem pratica a violência contra a mulher mas quem leva a culpa é a vítima. O homem no papel de agressor é invisível para a nossa sociedade. A mulher sofre psicologicamente e fisicamente, quando tenta sair do relacionamento e contar aos outros é desacreditada e tida como louca. A protagonista Cecília de O Homem Invisível percorre essa trajetória tensa e sufocante da libertação do ciclo abusivo.
Maria e João: O Conto das Bruxas
2.6 527Vi o filme como uma metáfora para a transição da adolescência para a fase adulta. Maria tornando-se mulher e precisando sair de casa para enfrentar o mundo que a amedontra (e que na vdd é apenas uma projeção do medo que ela tem de descobrir a si msma). O rompimento com os laços familiares não saudáveis que impedem os irmãos de crescerem e formarem personalidade própria. O confronto com a bruxa mostrando todo o poder que contém dentro dela. A luz e as trevas, bem e mal, que Maria precisa compreender e aceitar para amadurecer.
É um filme interessante nesse sentido. Pretende seguir essa onda de filmes como A Bruxa... terror folk+ psicológico. Tem uma estética bonita, fotografia, direção de arte, um conto de fadas que tb contempla o sombrio. Tem um ritmo lento, com bastante diálogo, e isso pode incomodar quem espera por algo mais frenético. Eu gostei do filme, mas gostaria que o diretor tivesse ousado mais nos símbolos e nas imagens. Esse meio termo entre algo comercial e algo "artístico" prejudicou a obra. Não conseguiu um bom equilíbrio. Talvez isso tenha sido com a intenção de emplacar uma nova franquia, mas que no fim não agrada completamente a nenhum dos públicos.
Honeyland
4.1 153Esse doc me destruiu emocionalmente. Mesmo naquele local isolado da Macedônia o maior vilão é o sistema. A exploração desrespeitosa e inconsequente resulta no desequilíbrio e na morte. O dinheiro aliado à destrutividade e egocentrismo do homem é uma combinação angustiante de assistir. É difícil entender que o ser humano é parte da natureza e não o dono (mesmo quando depende-se essencialmente dela para sobreviver). Precisamos de harmonia, porém como se vivemos num sistema onde a vida é o menos importante? Onde a prioridade é a produção em massa e o lucro? Os mais "fracos" na escala de poder são sempre os que mais sofrem...E Honeyland mostra essa "cadeia exploratória" com poucos diálogos, imagens impressionantes em uma montagem inteligente e ruídos perturbadores ecoando no silêncio.
O patriarca da família recém chegada ao local representa o masculino primitivo, a ganância e a agressividade. Os filhos ainda crianças sendo tratados como trabalhadores e ensinados a perpetuar os comportamentos destrutivos. Os animais sofrendo e sendo extremamente mal tratados e explorados. O homem que desumanizou-se para o sistema (representado pelo comprador de mercadorias) e parece que a natureza está sempre tentando o expulsar de lá. Em contraponto, temos a protagonista Hatidze, uma mulher vestida de amarelo e lenço estampado de flores. Ela vive ali e sobrevive da extração do mel, mas entende que o equilíbrio e comunhão com a natureza é primordial. É uma personagem muito cativante e empática. A imersão completa (por vezes quase ficcional) na rotina dela auxilia na construção dessa afetividade. Uma mulher com cicatrizes da existência na pele, porém sem deixar de sentir amor pelos outros seres e respeitar o processo cíclico da natureza (o filme faz aqui tb um paralelo lindo entre a filha cuidando da mãe idosa, além do símbolo literal do relacionamento existe a interpretação de mãe como a "mãe natureza"; a nossa grande mãe). Viver compreendendo que "leva metade e deixa metade" é sábio, mas às vezes pode ser solitário e doloroso dentro dessa sociedade. Pra mim a Hatidze é a síntese dali: beleza e crueldade. A natureza retorna tudo, o bem e o mal. Espero que ela colha esses bons frutos.
Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você
3.1 483 Assista AgoraAchei que esse segundo filme desenvolve mto pouco os personagens. A Lara Jean mesmo quase sempre gira em torno do Peter e da relação/término. Tive a impressão que no primeiro filme a personalidade dela e de outros personagens foram melhor desenvolvidas e exploradas. Eu sei que é um filme de romance adolescente e tal, mas depois de um certo tempo esse conflito fica cansativo de assistir. O filme é legalzinho e fofo, mas não acrescentou muito. E como disseram em um dos comentários: fez falta uma mulher na direção.
Ps: eu achei a paleta de cor dos cenários, figurinos, e às vezes até da fotografia, extremamente saturada. É até bonito em algumas cenas, mas esse exagero do colorido o tempo todo me incomodou.
https://rolinhodefilme.movie.blog/
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraInteressante O Farol. Depois de A Bruxa explorando as questões do feminino e da sexualidade demonizada e reprimida, vem esse filme abordando a destrutividade do falocentrismo e da masculinidade tóxica.
Ps: serase o Robert Eggers gosta de Tarkovsky, Bergman, Murnau e Dreyer? haha
https://rolinhodefilme.movie.blog/
Adoráveis Mulheres
4.0 974 Assista Agora"E se a protagonista for mulher faça com que ela se case no fim. Ou morra. Um dos dois" diz o agente literário para Jo. Jo é uma jovem mulher que deseja trabalhar como escritora. Adoráveis Mulheres inicia pela fase adulta da protagonista e a dificuldade em consolidar-se na carreira dentro da sociedade patriarcal. O filme é ambientado nos períodos de guerra e pós-guerra civil americana, e acompanha o crescimento de um grupo de irmãs. Os primeiros minutos da obra introduzem as personagens já em suas vidas adultas, e então os tons frios e sombrios contidos nos figurinos e na fotografia transformam-se em tons quentes e acolhedores da juventude. As personagens adultas que foram apresentadas anteriormente são, então, apresentadas na infância/adolescência com toda a inocência, sonhos e medos. O filme tem uma narrativa não-linear, ele transita o tempo todo entre as fases das irmãs. Muitas rimas visuais sutis e interessantes são feitas pela montagem afim de tecer essa cronologia. Mas isso pode ser um pouco confuso para alguém mais desatento, pois essas rimas são feitas entre planos similares porém em épocas diferentes. Percebemos essas transições dos anos através da mudança dos penteados, figurinos, fotografia, ambientação, mas muitas vezes elas ocorrem rapidamente. Oq faz tb do figurino elemento importantíssimo dentro da narrativa. Além de serem lindos de morrer (e é a minha torcida nessa categoria do Oscar) eles são essenciais para contextualizar e compreender o fluir da trama. Trama que utiliza muito bem a metalinguagem. Adoráveis Mulheres prioriza o roteiro, os diálogos e o desenvolvimento das personagens. E devido a isso a atuação também tem um grande destaque. Aborda principalmente as relações entre /das mulheres, os anseios x a realidade, os papéis de gênero, a autonomia da mulher, os dilemas em quebrar o padrão pré-estabelecido, assim como a dificuldade da mulher em consolidar-se artista. Como ser artista numa sociedade onde homens precisam validar o trabalho de mulheres para ser considerado arte? Ou até mesmo algo vendável enquadrado em filtros e construções machistas? A diretora Greta Gerwig faz uma forte crítica a esse tema: somos controladas e julgadas na nossa criação. A liberdade da mulher passa também pela liberdade de construir a própria ficção, a própria representação do mundo. E aí a metalinguagem entra de uma maneira certeira costurando a histórias das personagens com a do livro e, por consequência, com a do filme (que foi dirigido por uma mulher). Claro, com várias décadas de diferença e depois de muitas conquistas já adquiridas, mas ainda com algumas estruturas que continuam sólidas. Existe um final em que nós não precisamos casar se não quisermos e nem morrer, mas qual é oq vc prefere assistir?
https://rolinhodefilme.movie.blog/
1917
4.2 1,8K Assista AgoraA maioria dos indicados ao Oscar de melhor filme desse ano traz a violência como um elemento importante (pra não dizer crucial). Filmes sobre períodos de guerra, máfia, violência social, etc. Estamos vivendo numa época belicosa e o cinema caminha com a história nesse retrato dos tempos atuais e passados. 1917 é um desses indicados, um filme dirigido por Sam Mendes e ambientado na primeira guerra mundial (inspirado em relatos que o avô do diretor contava). A trama é basicamente sobre 2 soldados britânicos que precisam entregar uma mensagem para cessar um ataque e assim impedir um massacre. Os dois tem de atravessar um grande percurso até um determinado horário para conseguirem cumprir essa tarefa. O filme acompanha a jornada desses personagens através da simulação de um único plano-sequência. E isso é algo que realmente funciona nessa temática, pois esse ritmo de perseguição gera uma maior imersão do espectador na narrativa. Porém aí também está o meu problema com a obra: a prioridade em entreter ao invés de aprofundar. Não tenho nem oq dizer sobre a estética e técnica... O design de produção e os efeitos visuais são perfeitos na construção da ambientação (e é a minha aposta no oscar nessa categoria): as trincheiras, as cidades destruídas pela guerra, os cadáveres humanos e de animais, enfim toda a enorme devastação que algo assim ocasiona é retratada de maneira muito realista. Me impressionou bastante. Imagens belíssimas feitas em longos planos em um cenário horrível e cruel, a estetização da violência foi a escolha feita pela fotografia. São escolhas. Os heróis e os vilões bem definidos. A jornada do herói e talvez um esvaziamento do roteiro. Ele entretém, nós ficamos tensos com os obstáculos a serem ultrapassados pelos heróis dali, mas e aí? Oq tem além disso? Tem tantos filmes de guerra que nos propõem muito mais. Acho 1917 um filme visualmente e tecnicamente ótimo, mas que poderia ser muito mais interessante na abordagem e no desenvolvimento. Tudo bem que eu já não morro de amores por esse gênero, mas pra mim foi só mais um "filme bem feito".
https://rolinhodefilme.movie.blog/
O Irlandês
4.0 1,5K Assista Agora"Tem 3:30 hrs de duração" esse foi o meu primeiro pensamento antes de assistir O Irlandês: o tempo, o quanto ele dura. Mas isso é justamente oq move esse filme. O Irlandês abre com um travelling que inicia na porta do corredor de uma casa de repouso. Vemos nesse primeiro plano (que assemelha-se a uma tela) muitas pessoas idosas, enfermeiros, enfim a rotina desse ambiente. Então a câmera nos leva até o protagonista Frank Sheeran: um idoso que está sozinho, sentado numa cadeira de rodas, vestido em roupas datadas e usando alguns objetos de ouro. Logo em seguida, ele começa a contar a própria trajetória dentro da máfia. A narrativa inicia pela fragilidade da velhice, e aos poucos, o começo e meio da história homérica como gangster são expostos. É um filme que brinca com o tempo (numa montagem incrível, por sinal) com o ir e vir, passado, presente e futuro. Com o ritmo, acelera, desacelera, o tempo passa veloz como nas sequências de ação ou vagaroso como nas sequências introdutórias? Os espectadores experimentam essa sensação( e a longa duração da obra tb auxilia nesse quesito). Estamos assistindo às memórias do protagonista, e as memórias são pequenos filmes que existem dentro de nós. Portanto, Frank está ali montando o filme de quase uma vida inteira antes de morrer... Não tem como isso ser rápido.
Acho que O Irlandês poderia ser apenas um filme de gênero excelente. Porém ele utiliza a máfia como pano de fundo para propor reflexões mais complexas sobre a vida e a morte, sobre amizade, família, envelhecer e sobre as escolhas que fazemos. É um tanto melancólico. A fotografia sempre em tons frios. As cores sóbrias da existência. Oq existe por trás do glamour de ser um gangster? Scorsese faz tb uma reflexão humana e necessária sobre esse cinema.
Ps: sim, foi difícil engatar nesse filme. Percebi o quão rápido a minha atenção dispersa e o quanto já estou acostumada com as estruturas mais fragmentadas e curtas. Na primeira vez que assisti não consegui ficar imersa td o tempo. Depois do término, compreendi a grandiosidade do filme e decidi rever =)
meu site: https://rolinhodefilme.movie.blog/
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraComo lidar com o fim? Acho que quase ninguém sabe essa resposta. O processo do luto é intenso e doloroso. O luto não precisa ser necessariamente devido a uma morte física, mas pode ser também de ciclos que encerram, relacionamentos, ideias... a morte simbólica de quem já fomos um dia.
E para evitar esse sofrimento tentamos ir para um lugar onde só existe a luz, mas esquecemos que onde há luz também há sombra. Uma não existe sem a outra. Quando tudo oq acreditamos pertencer ou ser já não vive mais, oq acontece? Talvez nos apegamos excessivamente a outras pessoas, religião, dogmas, drogas, tudo com a intenção de preencher e não ver o nosso próprio vazio. Esse é o processo que a protagonista atravessa durante o filme. Toda a família dela morre e ela se apega a um namoro falido para superar esse momento. Então o casal e um grupo de amigos viajam para uma comunidade rural na Suécia, onde tem um festival folclórico repleto de rituais psicodélicos e a maior parte do tempo é dia. Um lugar aparentemente muito bonito, florido, ensolarado, pessoas dançando, felizes, quase como num conto de fadas. Porém situações perturbadoras começam a acontecer pra nos lembrar que nem tudo é oq parece ser. Oq existe por trás das máscaras? Então o filme assume o tom de uma bad trip transitando entre o surrealismo (o idealizado) e o terror (a realidade). Em um dos diálogos eles falam sobre como naquele local a morte é tida como uma etapa natural, e que isso causa aversão aos turistas pq a morte é um tabu cultural. Ali todo o caos que estava imerso vem à consciência da protagonista e ela permite ver, sentir e acolher a própria dor para depois transformá-la. Encerra tudo oq já não lhe servia mais e torna-se rainha. Mas não de uma maneira romântica e sim através da destruição desse mito. Porém ela está livre? Ela transforma o sofrimento das relações do passado mas, de certo modo, fica presa nos dogmas daquela comunidade.
https://rolinhodefilme.movie.blog/
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraNem sei oq dizer... apenas outro nível de cinema!
https://rolinhodefilme.movie.blog/
Bacurau
4.3 2,7K Assista Agora"Bacurau" inicia com um plano da terra vista por satélite bem no estilo ficção científica hollywoodiana. E com essa imagem e uma música da Gal Costa vamos nos aproximando aos poucos dessa cidade afastada chamada Bacurau. Desde os primeiros minutos já fica clara a ideia central: a interferência de alguns países tidos como desenvolvidos na nossa sociedade; o processo colonizador x colonizado ainda nos dias atuais.
Começamos então a adentrar na rotina dessa pequena comunidade e, de repente, pessoas de lá morrem violentamente, a cidade fica sem sinal de celular e está sumindo do mapa. Descobre-se que existe um grupo de "gringos" que, junto com o prefeito( classe política) e 2 turistas brasileiros( classe média alta e elite), tem o plano de extinguir Bacurau. Os moradores resolvem unir as suas forças, estratégias e armas para resistir e combater o "inimigo".
Bacurau talvez seja o Brasil idealizado dos diretores dentro de um possível futuro trágico. Um lugar onde a população vive nas suas diferenças e dificuldades, sem preconceitos, ajudando uns aos outros e unida. Mas em tempos de ódio, a violência é também um forte elemento que o filme traz como protagonista.
É uma obra atual e importante. E muito positiva e bem realizada através da montagem a escolha de transitar por diferentes gêneros e referências cinematográficas. Uma hora é ação, outra western, outra suspense, Glauber Rocha, Sganzerla, John Carpenter, Sergio Leone... Um pouco do universo audiovisual dos diretores projetado na tela e bem utilizado como linguagem. Um filme bastante crítico e político, mas que também homenageia quem os formou.
https://rolinhodefilme.movie.blog/
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0KEu acho que é um filme que não tem a intenção de explicar nada, de ser racional e científico. É um filme sobre emoção, sobre o amor principalmente. Amor pela música, pelos Beatles, pela arte, e o amor por quem está ao seu lado nessa jornada difícil que é ser um artista. Eu fiquei um pouco frustrada até entender isso. Pq eu pensava "tá, mas pq aconteceu isso? E se existe isso pq existe aquilo?" e o filme não entrega essas respostas pq não é o seu propósito. Ele vem pra homenagear e emocionar. De uma maneira bem leve, sem grandes excessos e teorias, é um filme doce e gostoso de assistir. Você se envolve ali nas histórias deles embaladas pelas músicas e se deixa levar. E às vezes essa sensação de leveza após um filme faz muito bem. Eu gostei bastante, me diverti, e fui contagiada pela vibe do filme. Pra quem gosta de Beatles pode ser uma experiência mais interessante pelas referências citadas nele. Não só das músicas mas tb da própria história da banda (é um filme que traz muitos paralelos com a história dos Beatles). Ah e eu fiquei apaixonada pelo Himesh Patel <3
https://rolinhodefilme.movie.blog/
O Bebê de Bridget Jones
3.5 552 Assista AgoraNão aceito esse final pra Bridget. Podem refilmar =P
Eco de la Montaña
3.7 3O documentário traz um tema bem interessante e ainda pouco abordado. Acredito que a cultura e arte arte huichol não sejam tão conhecidas pela maioria das pessoas (eu, por exemplo, não conhecia rs). Então no sentido antropológico foi bem assertivo porém, na minha opinião, o documentário poderia ser mais enxuto... um média metragem, talvez. Me incomodou bastante a questão da montagem e as cenas que não dialogavam, deixando o documentário desnecessariamente extenso e desconexo em alguns momentos. Mas, mesmo com essa ressalva, a originalidade da temática faz o filme valer a pena.
Amantes Eternos
3.8 780 Assista AgoraQue direção de arte foda!!!
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraTô apaixonada! Queria morar nesse filme 😍
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraPra mim, Animais Noturnos aborda os conflitos existentes em ser artista. Susan e Edward representam os dois lados desse conflito: um pragmático e o outro criativo. Um cobra resultados práticos e materiais, o outro deseja expressar a sua subjetividade através da arte independente de estrutura financeira. Um se acha incapaz de produzir algo próprio e transpor a sua vida, o outro tem confiança em mostrar aos outros os seus dramas pessoais. Esse conflito desdobra-se ao relacionamento do casal.
Apesar do filme adentrar no relacionamento dos dois, ele é todo construído a partir do ponto de vista de Susan, que vive um momento crítico em sua vida. Através da leitura do livro escrito por Edward, ela consegue projetar os seus dramas, e também consegue acessar os seus próprios fantasmas. A protagonista que é sempre centrada e não se permite sentir, acaba fazendo uma reflexão por meio daquela obra. O espectador não conhece Edward de fato, conhece apenas o que Susan projetou dentro daquela ficção, conhece a história ficcional relacionada à realidade conturbada vivida pela protagonista. Tudo o que vemos parte da imaginação e filtro de Susan. O filme faz essa insinuação através da montagem e do roteiro, por várias vezes a imagem dela é fundida com o personagem do livro, assim como as suas ações e lembranças também se fundem com a ficção. Será que o livro que vimos ali foi o livro que Edward escreveu? A arte tem esse viés de nos fazer sentir, de transportar algo de fora pra dentro, de projetar e internalizar. Assim como Susan, o espectador também levará as suas vivências pro filme, e a interpretação do que é exposto na tela mudará de pessoa pra pessoa. E pra mim essa é a grande mágica de Animais Noturnos.
Marguerite
3.7 68 Assista Agora"Com a vida só há dois caminhos a seguir: ou a sonhamos, ou a vivemos."
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraChorei durante o filme todo praticamente. Uma obra agridoce, assim como a personalidade da protagonista Val. Toda uma falsa suavidade e delicadeza contidas nas cenas que, se olhadas com atenção e sensibilidade, nota-se uma crítica ferrenha e dolorosa a nossa sociedade elitista, xenofóbica, segregacionista e machista. Val encara, superficialmente, com naturalidade as situações abusivas; mas se analisarmos a fundo, nas entrelinhas, vemos a dor e a mágoa que carrega dentro de si. A dor do nosso passado histórico, do "sempre foi assim mesmo e continuará assim", coloco-me no meu papel de abaixar a cabeça e aceitar. Um tapa bem dado na cara!
Assistam, apenas!
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraAcabo de chegar da sessão do filme "Gravidade" e... foi perfeito!
Não quero entrar em detalhes sobre os quesitos tecnológicos (como o 3d impecável, efeitos especiais, sonoros) que obviamente são incríveis, e faz valer cada centavo do ingresso de um imax. O filme se passa no espaço, numa trama aparentemente simples sobre astronautas à deriva após um acidente espacial. Vale ressaltar aqui o esmero do diretor com os planos... ah os planos, ah os planos... imagens interessantes, belas, por vezes, experimentais. Como a gravidade zero proporciona liberdade aos ângulos e enquadramentos dos atores; não existe certo ou errado na tela, é de cabeça pra baixo, de lado, girando, no plongèe, contra-plongèe.
Mas todas essas qualidades acima não foram o que me fizeram apaixonar pelo filme. Eu me apaixonei pelo significado não literal do enredo. "Gravidade" não é uma aventura ou uma ficção científica. À primeira vista, nos primeiros minutos de exibição, me pareceu erroneamente que sim. Entretanto, no desenvolvimento da trama, nos elementos narrativos e visuais inseridos na trajetória, percebo que é muito mais.
O filme é uma viagem ao interior da protagonista. Explico, Ryan (a protagonista), acaba de perder a filha num acidente trágico e repentino (essa informação é dada logo no início do filme, num diálogo entre ela e o outro astronauta, Matt). "Alguém espera por você lá na Terra, Ryan?" pergunta Matt. O espaço, portanto, é uma alegoria para a viagem que ela faz ao seu próprio universo após a morte da filha.
omo a morte de um ser que amava
nquanto os destroços de um objeto espacial tentam atingi-la e mata-la- impedindo seu retorno à Terra (a vida)- Matt tenta salva-la
Num plano muito belo, Ryan flutua pela nave movimentando-se até atingir uma posição fetal com seu corpo, sendo segurada por cordas que faziam as vezes de cordão umbilical;