Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) formam um jovem casal que acaba de se mudar para um apartamento em São Paulo. Enquanto arrumava o imóvel, Ana encontra uma antiga fita K7 dos antigos proprietários, Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Julio Andrade), e passa a fantasiar o que motivou aquela seleção de músicas.
Em "Todas as Canções de Amor" (2018), Chico, Gil, Marisa, Moska, Rita, Cazuza, Melodia e Cartola são porta-vozes do desabafo de Clarice para o marido, e a diretora Joana Mariani usa bem as melodias para contar a história de dois casais em estágios diferentes do relacionamento. O início leve e alegre, e o fim melancólico em tom de despedida.
A direção optou por deixar o longa escuro, quase sempre escondendo os personagens na penumbra, onde eles precisam sentir e "enxergar" com os ouvidos. A claridade só vem quando eles voltam a se conectar por um instante que seja. Como espectador, me senti um pouco incomodado com a opção pela pouca luminosidade. Em boa parte do filme não era possível ver com exatidão as expressões e nuances interpretativas dos atores e acredito que isso prejudicou a imersão. Sobre o elenco, a disparidade entre os casais do passado e do presente é enorme. Julio Andrade e Luiza Mariani fazem um trabalho excelente e isso reflete no interesse por seus personagens, infinitamente mais profundos do que o casal vivido por Gagliasso e Marina Ruy Barbosa. Não por acaso, o roteiro foi bem mais generoso com o conflito de Daniel e Clarice, e teceu para eles os melhores diálogos e dramas. Se alguma lágrima insistir em dançar, embalada por "Drão" ao pé da escada ou no chão da sala, é porque Andrade e Mariani nos fizeram acreditar. Já Ana e Chico são um casal de pouca empatia, com discussões juvenis e pouca química.
Assim, o ponto forte da produção sem duvida alguma é a trilha sonora, escolhida a dedo por alguém que busca ser ouvida.
Aquelas músicas não contam apenas a história de Daniel e Clarice. Na verdade, elas contam o enredo de filmes que muitos de nós já vivemos ou viveremos algum dia. Um desabafo, uma confissão, uma despedida. São veículos, não raramente, utilizados para expressar nosso estado de espírito e as emoções que nem sempre conseguimos verbalizar ao vivo e a cores, pois somos suscetíveis a trocar de sintonia ao menor sinal de fragilidade. Clarice e Daniel sofrem, cada qual do seu jeito. O sofrimento não segue uma cartilha, por isso ele pode ser barulhento ou silencioso, mas sempre será sentido. Clarice criou a playlist do adeus e Daniel, que se recusava a ouvi-la, apertou o play para entender como a esposa se sentia.
Rec é o comando que precisamos apertar para acionar o gravador, que copia sons, dores e amores, expressos em versos de canções. Escolhemos com esmero a sequência exata para passar a mensagem que queremos transmitir. Existe um caminho a seguir. Ouvidos, coração, recordações, olhos marejados e pelos eriçados, ou qualquer sinal de resposta. Quando terminamos a seleção entregamos ao destinatário a compilação dos nossos sentimentos, desejando a atenção da audição, e, quem sabe, quando a música acabar descobrir que ainda há novas canções de amor para tocar.
Quando criança, sonhamos seguir as mais diversas carreiras. Médicos, veterinários, bombeiros ou quem sabe astronautas. Afinal de contas, os sonhos não encontram limites e por isso tudo é possível e incrivelmente especial aos olhos de uma mente jovem. No meu caso, o emprego ideal era o de atendente de videolocadoras, tal como Quentin Tarantino foi um dia, antes de se tornar o famoso diretor de "Pulp Fiction" e "Kill Bill". Passar o dia inteiro rodeado dos filmes, ver os lançamentos em primeiro mão e, principalmente, conhecer e conversar com estranhos sobre cinema me fascinava. Indicar uma fita de acordo com as preferências do cliente, que se tornaria mais íntimo a cada visita, teria sido uma experiência sensacional!
Mais do que um convite a nostalgia, o documentário "Cinemagia: a história das videolocadoras de São Paulo" (2017) é um retrato histórico dos primórdios do home video no Brasil, pois, apesar da produção focar na origem em São Paulo, os efeitos dessa nova onda foram sentidos por todo país.
A partir de depoimentos daqueles que formaram as bases e desbravaram um mercado ainda virgem no cenário nacional, podemos acompanhar o auge e o declínio do segmento das videolocadoras, que começaram e declinaram pelas mãos da pirataria comercial. Talvez, os serviços de streaming, que facilitaram o acesso aos filmes e conteúdo em tempos de rapidez de consumo, tenham dado o golpe final na indústria do home vídeo. Em meio as entrevistas com distribuidoras, antigos proprietários, funcionários e clientes, é perceptível o carinho e o respeito com que os realizadores do documentário, em especial o diretor Alan Oliveira, trataram o tema. Por isso não será incomum se emocionar com os relatos e memórias de um panorama que não existe mais.
É inegável que hoje há uma acessibilidade a cultura infinitamente maior do que há decadas e isso é ótimo, mas no caminho algo se perdeu.
Numa vida cada vez mais acelerada acabamos economizando não apenas o tempo, mas também o contato humano. A interação que antes existia com o balconista da videolocadora, informando os últimos lançamentos ou trocando informações sobre o cinema, cedeu espaço para o controle remoto da tv ou o click do download. Ver filmes também se tornou um programa solitário, bem diferente da época em que dividíamos o sofá da sala com parentes e amigos pra assistir as matanças de Jason Voorhees ou as acrobacias de Van Damme. Assim, o documentário "Cinemagia", além de repassar a estrada das videolocadoras, estimula a discussão sobre essas transformações sociais que implicaram na nossa forma de ver a sétima arte. Vhs, Dvd, Blu-ray são espelhos de um período e cada experiência vinculada a uma mídia pode ser o roteiro de uma saudosa história.
9.0
*Disponível no Youtube e em edição especial em DVD
Quincy Jones pode ser considerado facilmente uma das grandes lendas da música americana. Talentoso arranjador e produtor musical, Quincy firmou parcerias de sucesso com gente do calibre de Frank Sinatra, Ray Charles, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Michael Jackson. A dobradinha com o "Rei do Pop" rendeu o álbum mais vendido da história "Thriller" e alçou a carreira do jovem Michael para outro patamar.
Com contribuições inestimáveis não apenas para a música e cultura, "Q" também se engajou em questões políticas e sociais, abrindo portas que estiveram fechadas por muito tempo. O documentário "Quincy" (2018) faz uma bela retrospectiva de sua vida pessoal e da carreira intercalando imagens de arquivos e depoimentos do próprio Quincy e de pessoas que estiveram intimamente ligadas a ele. Vindo de uma família humilde, o jovem Quincy sobreviveu na América racista e segregadora da época e lutou pelo seu espaço entre os grandes músicos. O reconhecimento inevitável veio de todas as partes. Colegas de profissão, público e crítica especializada se renderam ao talento de Jones. Não à toa, ele faz parte do seleto grupo de profissionais a ter em sua coleção os prêmios do Oscar, Grammy, Emmy e Tony. Sua paixão pelo trabalho é evidenciada durante a projeção e isso custou um pouco de sua saúde e de seus relacionamentos. Algumas palavras proferidas pelo produtor nos ajudam a ter certa noção do homem diferenciado que agarrou as rédeas do destino e fez sua trajetória de sucesso. Em um momento de reflexão, após um difícil período no hospital, Quincy conclui que não há nada melhor para desejar do que uma vida longa cheia de amor para compartilhar, saúde para sobrar e amigos para cuidar, pois isso é o que realmente importa. O velho Quincy realmente sabe das coisas...
Todos têm os seus filmes de cabeceira. Aqueles que você recorre pra buscar a lembrança de uma época, a força pra superar um problema ou o sorriso que te faz esquecer do mundo. Vou citar um destes filmes que assisti quando garoto e sempre que torno a vê-lo revivo antigos sentimentos: "Conta Comigo" (1986)
Grande parte do público desconhece que a autoria do conto que deu origem ao filme dirigido por Rob Reiner ("Harry e Sally") é de Stephe King. Sim, ele mesmo. O autor, celebrado como mestre do terror e responsável por obras como "It - A Obra Prima do Medo" e "Carrie, a Estranha", escreveu essa história intimista sobre a amizade de quatro garotos que partem a procura do corpo de um adolescente desaparecido.
"Conta Comigo" é uma jornada de autodescoberta em que podemos sentir a inocência e as marcas que a vida estava deixando naquelas crianças. Gordie vivia a sombra do irmão falecido; Chris era rotulado pela fama de delinquente juvenil; Teddy tinha problemas de relacionamento com pai, veterano de guerra; e Vern era vítima constante de bullying por ser gordinho. É muito bom ver a cumplicidade e camaradagem entre os garotos, e como eles se ajudavam inconscientemente ("Stranger Things" notadamente buscou inspiração aqui). Juntos, a aventura era o escape para realidade que nem sempre era generosa com os amigos.
O Longa é contado a partir das memórias de um Gordie já adulto e o que sempre me encantou foi isso: Saber que um adulto (King, Reiner, Gordie) não esqueceu a criança que foi um dia e que ele estava prestando atenção em mim, nos meus sentimentos e nos meus medos. Saber que ele entendia. Do mesmo modo, era reconfortante ver que a amizade sincera do quarteto era a certeza que eu não estava sozinho.
Quando a aventura acabou, Gordie e seus amigos não eram mais os mesmo. Eu não era mais o mesmo. "Stand by me".
Quando um filme consegue unir uma boa história, um plot twist eficiente e levantar questões que te deixam refletindo após os créditos finais, é sinal que a experiência cinematográfica foi mais do que um mero entretenimento. Foi recompensadora.
Esse foi meu sentimento ao sair da sessão de "Buscando" (2018), filme que traz a saga de um pai em busca da filha desaparecida. Na trama, o viúvo David Kim (John Cho) precisa seguir os rastros deixados pela jovem Margot (Michelle La) na internet para tentar encontrá-la. O diretor Aneesh Chaganty utiliza imagens de Facetime, YouTube, filmagens de circuito interno e telejornais para contar sua história e trazer o espectador para uma realidade mais próxima ao que vivemos em tempos de conectividade ininterrupta. Tal opção combinou perfeitamente com a proposta do longa. O roteiro bem trabalhado nos deixa apreensivo e ansiosos por pistas que revelem o destino da garota, ao passo que cada descoberta é um convite para formularmos novas teorias. O caminho perseguido por David é um misto de angústia e surpresa, pois as peças do quebra-cabeça que ele vai montando o leva a constatar que, talvez, ele tenha perdido a ligação com a filha que ele julgava conhecer tão bem.
A produção tambem aborda o mundo predatório da internet e das redes sociais. A garota, sem amigos, tem uma popularidade instantânea quando as notícias sobre seu desaparecimento tomam os jornais. Novas amizades surgem a cada tweet ou postagem no Facebook. Os comentários maldosos, que levantam hipóteses sobre a autoria do suposto crime, destilam a falta de humanidade e compaixão com os sentimentos da família, e a espetacularização da investigação retrata bem o que vemos nos noticiários policiais nos dias atuais.
É levantando tantas questões importantes e presentes nesse mundo moderno e conectado, que "Buscando" se destaca entre a leva de filmes do gênero. A busca do protagonista é a busca dos pais em conhecer melhor os filhos. É a busca do respeito pela dor alheia, pela solidariedade e pela amizade real. Busca pela verdadeira conexão. Não entre dispositivos. Entre pessoas.
Apos ficar órfão, o jovem Hugo (Asa Butterfield) passa a morar numa estação de trem em Paris, enquanto tenta dar vida a um robô autômato, pois acredita que a máquina contém a última mensagem deixada por seu falecido pai. O destino do garoto muda quando ele encontra um ilustre desconhecido.
Trazido aos cinemas em 2011, "A Invenção de Hugo Cabret" é um emocionante tributo ao maior mágico da história da sétima arte. Georges Mèlies ("Viagem a Lua"), interpretado respeitosamente pelo ótimo Ben Kingsley, pode ser considerado o primeiro grande cineasta que fez o espectador sonhar. Inventivo, ele ousou e usou toda sua criatividade para fabricar sonhos através de seus filmes recheados com os pioneiros efeitos especiais. Martin Scorsese, diretor de "Hugo Cabret", fez questão de contar de maneira tocante a trajetória de Mèlies, dos primeiros passos na arte cinematográfica, após um encontro decisivo com os irmãos Lumière e seu revolucionário cinematógrafo, passando pelo auge da novidade dos filmes, pelo ostracismo seguinte, que o fez destruir boa parte de suas produções, até o redescobrimento de seu talento pelos novos críticos. Toda essa homenagem é bem conduzida por Scorsese, que a guarda para o terço final do filme como a cereja do bolo. E que cereja. Hugo, que vivia solitário à procura da mensagem para abrir seus caminhos, encontrou muito mais do que isso. O garoto, que se dispôs a consertar o que estava quebrado, restituiu aquilo que cada coisa merece. Assim como um velho relógio merece as horas, os minutos e os segundos, o grande artista merece o reconhecimento de um duradouro aplauso.
Baseado nas memórias da diretora Jennifer Fox, "O Conto" (2018) é drama intenso que toca em questões delicadas, como o abuso infantil.
Jennie (Laura Dern), uma mulher de 48 anos, recebe um telefonema de sua mãe, aflita após descobrir um antigo conto escrito pela filha quando a mesma tinha apenas 13 anos. As palavras da jovem revelam um romance com seu antigo treinador de corrida quase trinta anos mais velho, que Jennie, já adulta, havia reprimido em suas memórias.
Laura Dern ("Parque dos Dinossauros") consegue transmitir a angustia da protagonista, que se recusar a assumir o papel de vítima. A confusão de suas lembranças denotam essa luta em aceitar o abuso sofrido, e desvelar o passado é reconhecer que ela não passou incólume pelo trauma, que inconscientemente repercute em seu atual relacionamento. Seu desejo de controlar a própria vida deu a falsa ilusão de igualdade com os adultos abusadores. A produção do longa ficou a cargo da HBO, que o tratou com o merecido capricho e respeito. Fox, por sua vez, conduziu bem o enredo alternando as recordações do seu alter ego em cena e levantando os questionamentos morais para reflexão. A maneira como desvirtuamos a realidade para que ela pareça mais doce e poética, pode esconder marcas que insistimos em negar, mas evitar as cicatrizes é a omissão com nossos próprios sentimentos. É preciso abrir os olhos para olhar para dentro e nos resgatar da versão que criamos de nós mesmos.
Calcado em fatos reais, "Uma noite de 12 anos" é um documento histórico do período ditatorial vivido pelo Uruguai na década de 70 e início dos anos 80, em que jovens revolucionários foram presos e mantidos como reféns do governo sob condições sub-humanas.
Dentre os vários detidos, acompanhamos os 12 anos de maus tratos vividos por três deles: Maurício Rosencof (Chino Sarín), Eleutério Fernández Huidobro (Alfonso Tort) e José Mujica (Antonio de la Torre), que décadas depois viria a ser eleito presidente de seu país. Durante o cárcere, os três colegas eram proibidos de se comunicar, como num longo voto silêncio instituído pelos militares, e as poucas visitas que recebiam eram controladas sob fortes ameaças. O roteiro do longa consegue transmitir bem a angustia daqueles anos de sofrimento e solidão. Cada um dos amigos tem um porto seguro que os ajuda a resistir. Mãe, esposa e filhos. Pessoas que se importam, que não esquecem quando o mundo parece esquecer. Pessoas que não desistem e não nos deixam desistir, mesmo quando a loucura parece fazer mais sentido do que a realidade sã. O filme é um retrato triste de um momento político conturbado, que gera imediatamente uma análise mais próxima. Viver em um país dividido segrega amigos, presentes e futuros. Separa famílias e descarrilha um trem que deveria levar todos para o mesmo destino. Por que lutamos? Por um lugar justo e próspero, ou apenas pela concretização da nossa visão de justiça? Não sejamos o samba de uma nota só, refém de velhos ritmos em que apenas um irá dançar. Vamos falar e ouvir, pois até o silêncio tem algo a dizer. Utopia? Não. Prefiro chamar de esperança.
O ano era 2000 e eu estava iniciando a vida adulta ainda sem saber bem o rumo que iria seguir ou quem eu estaria destinado a ser. Foi então, nesse período de incertezas, que encontrei no acervo musical do meu pai, um disco que mexeria permanentemente com minha cabeça. "Queen, ao vivo no Rock in Rio". Na verdade, se tratava de um disc laser, que era uma mídia anterior ao DVD, mas que não caiu no gosto popular. Ou seja, era um dvd do tamanho de um disco de vinil contendo o icônico show do grupo britânico no festival de música do Rio de Janeiro. Até aquele dia, nunca tinha visto a banda tocando, nem me recordava da presença marcante de Freddie Mercury. Como aquele cara de roupa extravagante, dentes que mal cabiam na boca e um bigode inconfundível, conseguia segurar a emoção de uma platéia de 200 mil pessoas? A única coisa que eu sabia era que algo havia mudado. Freddie, Brian, Roger e John. Quatro amigos que sabiam o que estavam fazendo e para onde queriam ir. O meu "Rock in Rio" aconteceu na sala de casa, com um atraso de 15 anos. E o show nunca mais parou.
Dito isso, alerto que a resenha a seguir sobre "Bohemian Rhapsody" dificilmente será imparcial. Mas vamos tentar.
Após uma longa gestação, finalmente "Bohemian Rhapsody", cinebiografia da banda de rock Queen, vê a luz do dia!
Envolvida em uma produção conturbada, o filme passou pela mão de vários diretores e por outro protagonista. Sacha Baron Cohen, o eterno Borat, durante muito tempo foi associado ao projeto, mas por divergência criativas com os integrantes do Queen, que tinham outras ideias em mente, ele abandonou o papel de Freddie Mercury. O líder do grupo britânico acabou caindo no colo do ator Rami Malek ("Mr. Robot"), que teria a responsabilidade de encarnar a personalidade marcante do cantor sob a direção de Bryan Singer ("X-men"), que viria a ser demitido já na pós-produção devido a conduta pouco profissional. Ciente disso, fui ao cinema animado pela biografia da minha banda de rock preferida, mas receoso pela qualidade do material que seria entregue. Geralmente, esses problemas de produção costumam afetar o que vemos em tela, e de fato afetou, apesar das virtudes. Mas vamos por partes. A caracterização dos personagens reais, ao meu ver, foi um grande acerto. Rami Malek, apesar do biotipo mais franzino que o de Mercury, se saiu bem ao emular gestos e modo de falar do cantor. Faço uma ressalva para o excesso de closes nos olhos do ator, que poucas semelhanças guardam com o biografado. Brian May e Roger Taylor, guitarrista e baterista do grupo, tiveram bons intérpretes e John Deacon, o baixista, foi discreto e recebeu pouca atenção do roteiro. O enredo, que se propôs a contar a trajetória do Queen até o emblemático show do "Live Aid", para arrecadar fundos para a África, na verdade é uma reconstituição resumida da ascensão de Freddie Mercury como uma lenda da música. Em prol da narrativa, vários fatos verídicos foram alterados e pontos das personalidades dos músicos se perderam no caminho. Roger Taylor virou um mulherengo engraçado, Brian, um músico passivo, e Deacon só fazia caras e bocas com o pouco tempo em cena. Mary Austin, detentora dos royalties da obra de Freddie até 2041, deixado em herança após a morte do cantor, tem um papel de destaque no filme. Não sei até que ponto, foi uma decisão puramente criativa. O humor é recorrente no longa e serve para nos lembrar que o filme não tem a intenção de ser um drama mais intenso. Os momentos no palco tem pouca energia e me parece que faltou química entre os atores. As opções dos takes de câmera distanciaram o Queen de seu público, por isso, na maior parte do tempo o êxtase dos shows ficava para nossa imaginação. Bradley Cooper, por exemplo, em sua estreia como diretor no romance "Nasce uma Estrela" (2018), conseguiu transmitir para o espectador a sensação de subir no palco e tocar para uma multidão. Já a vida pessoal de Freddie foi um mergulho calculado e serviu apenas como um vislumbre do que realmente aconteceu. Mesmo assim, confesso que em dois momentos foi difícil conter a emoção.
O relato de Mercury sobre a experiência de ouvir o público brasileiro cantar suas músicas e a performance no "Live AID" foram de arrepiar.
Passei todo o filme batendo os pés, cantarolando baixinho pra não atrapalhar o vizinho na cadeira ao lado e recordando aquele dia, no ano 2000, quando Freddie me disse: "Nós somos os campeões, meus amigos! E nós continuaremos lutando até o fim!"
Nota: O filme não é perfeito e tenho a noção que ele é menor do que o tamanho da banda, mas é o Queen numa tela de cinema. Freddie Mercury! Então esqueça as críticas e vá se divertir.
Dirigido por Frank Darabont, "Um Sonho de Liberdade" costuma figurar frequentemente nas listas dos maiores filmes da história do cinema e, apesar de ter perdido o Oscar para "Forrest Gump", em 1995, está sempre acima do longa protagonizado por Tom Hanks no gosto dos críticos que elaboram as tais listas.
O roteiro, adaptado a partir de um conto de Stephen King, traz a história do banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins), preso injustamente e condenado a prisão perpétua na penitenciária de Shawshank. Lá ele conhece o detendo Red (Morgan Freeman) com quem faz amizade, e enquanto enfrenta as barbaridades do lugar, se esforça para manter viva a esperança de dias melhores.
Assim como no conto, os acontecimentos do filme são narrados a partir da perspectiva de Red, que desde o princípio simpatiza com a obstinação de Andy em não deixar seu espírito ser consumido pelos maus tratos dos colegas e dos guardas. Estes, por sua vez, são os grande vilões, cobertos de autoritarismo e violência. Nessa inversão de papéis, a exceção de alguns poucos, os detentos são as vítimas de Shawshank, que trabalha para quebrar o espeítiro dos detentos enquanto eles perdem suas referências. A dupla Freeman - Robbins é ponto forte da produção e simboliza a amizade solidária de dois amigos que compartilham desilusões e os pequenos momentos de regozijo, como na cena em que Andy negocia com o guarda carrasco seus serviços de contador em troca de cerveja para os colegas. Mesmo sem beber, ele se realiza apenas por ter proporcionado aquele momento, e deixa escapar um sorriso curto de satisfação. Para Andy, não havia acomodação, resiliência. Ou você se esforça para viver, ou se esforça para morrer. Por isso, por mais que o mundo pareça opressor, procure uma forma fugir para um lugar mais agradável, mesmo que seja através de um livro ou de uma música. Leia, cante, dance, ouça, se movimente, para lembrar que nenhum lugar pode prender nossos sonhos.
Em 22 de Julho de 2011, Anders Breivik assombrou a Noruega ao cometer dois atentados e matar 75 jovens num acampamento na ilha de Utoya, próxima a Oslo. Após o massacre, as famílias das vítimas lutam na justiça pela condenação do assassino.
Paul Greengrass, que já havia dirigido "Voo United 93", sobre os passageiros que conseguiram derrubar o avião sequestrado pelos seguidores de Osama Bin Laden e impedir que ocorresse mais um atentado no 11 de setembro americano, assume a direção do longa "22 de Julho" e entrega um ótimo trabalho. Buscando abordar diferentes ângulos do triste episódio, Greengrass toca em pontos importantes de maneira sutil. Anders, o atirador, é um rapaz extremista que possuía sua própria versão do ideal político e social para a Europa. Xenófobo, ele enxergava nos imigrantes o verdadeiro mal e por isso, ansiava por um golpe de Estado que pudesse reestabelecer a "ordem" em seu país. O advogado, convocado para defender o criminoso é tratado com respeito e compreensão pelo diretor, humanizando o profissional, que apenas estava lá para garantir um julgamento justo para seu cliente.
Ao direcionar a câmera para o governo norueguês e a responsabilidade do primeiro ministro, uma cena emblemática me chamou a atenção. Quando questionada sobre o descuido em fiscalizar a aquisição de uma quantidade relevante de fertilizante utilizada na fabricação da bomba, os responsáveis pela segurança pública da Noruega alegam que a preocupação do governo estava voltada para os terroristas islâmicos.
Nesse ponto refletimos que o mal nem sempre vem de fora e que a intolerância não previne a guerra. Extremismos podem despertar demônios adormecidos que facilmente saem do controle de quem os criou. O rastro deixado por atentados como o de 22 de julho precisa ser lembrado para que as gerações futuras continuem lutando pelo direito de viver, respeitar e amar, tal como as palavras proferidas pelo sobrevivente Viljar no julgamento do caso.
Recém demitida do jornal em que trabalhava, a repórter Ann Mitchell (Barbara Stanwyck) decide publicar uma carta de um fictício desconhecido que anuncia seu suicídio na véspera de natal como forma de protesto a corrupção e a pobreza. Após a repercussão da carta, o jornal decide contratar um mendigo para fingir ser o autor do desabafo, mas o caso toma grandes proporções.
Em "Adorável Vagabundo" (1941), Frank Capra consegue mais uma vez transmitir a esperança no homem comum, que através de pequenos gestos cotidianos, pode fazer a diferença no mundo e inspirar o próximo.
O seu desconhecido John Doe (Cary Cooper) ,que surgiu através de uma carta falsa, ganhou vida porque a ideia manifestada era verdadeira. Ele era apenas o porta voz de milhares de homens e mulheres sem rosto e sem oportunidades. Seu discurso sobre as mudanças e o fim das cercas que nos separam de nossos vizinhos é tão atual como na década de 40, quando o filme foi lançado. Em um mundo que nem sempre preza pela justiça, não adianta olhar para cima em busca de ajuda, pois a transformação da sociedade deve começar do nosso lado. Gentileza, respeito e compreensão derrubam barreiras e estigmas, criando a legítima revolução. Aquela que inicia dentro de nós. Mas nem todos querem a mudança por medo de perder o controle e o poder. Os inconformados tentarão a todo custo desacreditar as ideias e aqueles que a defendem. São os abutres prontos para devorar a carne enquanto lhes convir e desprezá-la quando seus interesses já estiverem saciados.
Capra conduz a história sem nos poupar da face impiedosa da sociedade, mas nunca nos deixa esquecer que a esperança nunca morrerá. E assim, o diretor conseguiu novamente me emocionar, tal como fez em "A Felicidade Não Se Compra", outra jóia de sua filmografia. Então, te convido a conhecer Capra e os desconhecidos ao nosso redor, pois eles podem nos ajudar a conhecermos nossa verdadeira identidade.
"A Casa que Jack Construiu" (2018) é o mais novo filme do polêmico diretor Lars Von Trier. Seu cinema autoral não é de fácil digestão e não agrada a todos os públicos. Nem sempre sou cativado por seus filmes, mas a importância de Lars é fundamental para diversificar e trazer um estilo cinematográfico que foge do mainstream. Fazendo uso de metáforas para tocar em pontos sensíveis da sociedade, o diretor pode soar incompreensível e delirante para alguns, mas Von Trier sempre tem algo a dizer. A mensagem nem sempre é clara e precisa ser decifrada, interpretada, porém, se estiver disposto a uma viagem intensa, pode seguir por essa estrada.
Em "A Casa que Jack Construiu", Jack é um psicopata que reflete sobre os cinco momentos que marcaram sua vida.
A conversa com Virgílio, uma espécie de terapeuta, é um ensaio da mente do serial killer, que acredita na beleza da arte em seus atos. Esse conceito artístico é calcado na beleza advinda de atitudes necessárias. Para ele, a morte é apenas um caminho para a produção de uma obra prima, tal como os camponeses que ceifam a vegetação crescente para garantir a bela paisagem do campo. Ou os líderes genocidas com seus devaneios de paraíso. Ironicamente, o "terapeuta" Virgílio é interpretado pelo ator Bruno Ganz, mundialmente conhecido pelo papel do líder nazista, no filme "As Últimas Horas de Hitler" (2004).
Com formação em engenharia, Jack está empenhado em construir a casa dos sonhos, mas nunca encontra materiais que sustentem suas expectativas. Para o assassino, as pessoas não passam de material a serviço do belo e do divino, mas tentando subir aos céus, ele encontrou o inferno. Quente, vazio e escuro. Tão escuro que nem sua sombra foi capaz de acompanhá-lo. Jack acreditava que era preciso destruir para construir e que suas matanças tinham a licença poética das artes. Pobre Jack.
O filme é longo, verborrágico e tem um ritmo lento, portanto a paciência é um pré-requisito importante para encarar este último trabalho de Lars Von Trier. Algumas cenas fortes de assassinatos podem incomodar os mais sensíveis e o epílogo extremamente simbólico pode causar certo estranhamento para o espectador.
"A Garota na Teia da Aranha" (2018) é mais uma adaptação para a tela grande da série de livros Millennium, do saudoso escritor Stieg Larsson. Larsson, que faleceu precocemente, vítima de um ataque cardíaco enquanto subia as escadas de seu escritório, não deixou sequências finalizadas, mas, anos depois, a editora contratou outro escritor para continuar a obra.
Nos cinemas, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" foi o primeiro a ganhar vida fora das páginas, tanto na Suécia, país de origem do autor, quanto em Hollywood, sob a batuta do diretor David Fincher. Dessa vez, a hacker Lisbeth Salander assume o protagonismo que outrora pertenceu ao jornalista Michael Blomkvist. Clare Foy é a terceira a interpretar Lisbeth e desempenha o papel com personalidade, imprimindo sua marca na personagem. A trama central gira em torno da busca por um código de controle de armas nucleares, mas a verdadeira história está no passado de Lisbeth e seu relacionamento familiar. Dirigido por Fede Alvarez, do ótimo "O Homem nas Trevas" (2016), "A Garota na Teia da Aranha" tem um ritmo mais ágil que os seus antecessores e parece ter pressa em entreter o espectador. Porém, o filme apresenta menos camadas psicológicas, logo, os personagens são pouco aprofundados, o que prejudica na dinâmica. Blomkvist, imprescindível nos outros longas, torna-se uma figura rasa e dispensável, que pouco acrescenta ao enredo. Apesar disso, Clare Foy e seus olhos hipnotizantes seguram a produção e nos fazem querer sempre mais de sua Lisbeth. O pronome possessivo vai bem a calhar, visto que vemos em cena uma versão mais física e letal da persona, que ficou mais conhecida pela inteligência e domínio com computadores. Por isso, recomendo ver "A Garota na Teia da Aranha" sem imagens pré-concebidas, sob o risco de se decepcionar. A comparação pode prejudicar a experiência de acompanhar um filme assumidamente hollywoodiano, com uma trama genérica, conflitos imediatos e ação eficaz. Definitivamente um entretenimento rápido, certeiro e inofensivo.
Dirigido por Julius Avery, "Operação Overlord" (2018) poderia facilmente fazer parte da filmografia de Robert Rodriguez, ao lado do cult "Um Drink no Inferno", de 1996.
Assim como no filme de roubo que se transforma em um banho de sangue com vampiros assassinos, "Operação Overlord" mistura gêneros e o resultado é uma divertida aventura de terror com clara inspiração nos filmes B do cinema. Tais filmes foram criados pelos estúdios entre as décadas de 30 e 40 para completar uma sessão dupla de exibição e angariar mais público aos cinemas. Geralmente possuíam um orçamento mais modesto, não contavam com as grandes estrelas da companhia e suas tramas giravam em torno de ficções científicas, terror e alguns faroestes. O termo "Filme B" acabou se popularizando e mesmo com o fim das sessões duplas, continuou a ser utilizado para nomear produções de baixo orçamento e temática fantástica.
a referência é evidente e bem executada. O enredo acompanha um grupo de paraquedistas com a missão de derrubar uma torre numa pequena cidade dominada pelos alemães em plena segunda guerra mundial, mas eles acabam descobrindo que os nazistas estão escondendo terríveis segredos.
Os primeiros minutos do longa são frenéticos e mostram o pouso forçado dos soldados em terras inimigas. Quando os sobreviventes conseguem abrigo na casa da destemida Chloe, passamos a conhecer melhor a personalidade dos personagens. Temos o protagonista Boyce (Jovan Adepo), cuja moral é maior do que suas habilidade militares, Ford (Wyatt Russel), líder da equipe e obstinado com a missão, e a já citada Chloe (Mathilde Ollivier). Os demais soldados recebem menos destaque do roteiro, mas cumprem bem suas funções na história.
Se no primeiro terço ficamos diante de uma típica produção de guerra, cujo objetivo é driblar as forças rivais para concluir a tarefa militar, a partir da metade da projeção, quando os segredos começam a ser revelados, o gore torna o caminho mais assustador e o terror mostra sua face além dos projéteis disparados pelos alemães.
Historicamente os porões nazistas foram palcos de experiências com cobaias humanas que fugiam de quaisquer valores éticos e morais. Os presos de guerra eram utilizados por médicos e cientistas que buscavam entender a anatomia e fisiologia humana, fazendo os mais diversos testes e tratamentos desumanos. Talvez, por isso esse segmento do filme cause tanto impacto no espectador.
No último ato, o conflito com o chefe da célula nazista (Pilou Asbaek) diminui os níveis do horror em prol da diversão caricata, com heroísmo, vilania e sacrifícios, assumindo de vez sua alma "B".
A direção merece elogios por ter amarrado bem segmentos distintos dentro de um só filme, segurando a atenção do público sem nunca perder o fôlego. Assim, posso afirmar que a missão de "Operação Overlord" foi cumprida com êxito.
Presente na lista das maiores comédias da história do cinema, "O Grande Ditador" (1940) é o primeiro filme falado de Charlie Chaplin e possui uma inteligente sátira aos governos nazista e fascista da Segunda Guerra Mundial.
Chaplin, que produziu, roteirizou e dirigiu o longa, também o protagonizou interpretando o papel do barbeiro judeu que perde a memória e passa 20 anos no hospital sem tomar conhecimento da perseguição ao seu povo, promovida pelo ditador Hynkel (também encarnado por Chaplin em clara alusão a Adolf Hitler). Benito Mussolini também não ficou de fora da acidez do comediante e ganhou uma versão rocambolesca, que vivia numa disputa de vaidade com o colega ditador. A época de seu lançamento, o filme foi censurado em alguns países sob a acusação de ter um conteúdo comunista, mas o que vemos é a genialidade de Chaplin, que usa o humor para transmitir sua crítica social e política em um período de guerra e sofrimento. Essa, na verdade, é uma marca do diretor, que permeia sua filmografia com mensagens que vão além da diversão escapista. Desse modo, a comédia se transformou numa ferramenta de conscientização eficaz sob sua batuta.
A cena do ditador megalomaníaco dançando com o globo terrestre é um dos momentos mais icônicos do cinema e o discurso final de "O Grande Ditador" continua forte e emocionante. Não a toa, a banda irlandesa U2, em turnê pelo mundo, costuma utilizar tal discurso na abertura dos shows.
Disponível no YouTube, essa pérola de Chaplin merece ser vista, pois o eterno Carlitos continua a dizer verdades em forma de graça e a inspirar o mundo a refletir após o riso.
Universo mágico criado pela escritora J. K. Rolling realmente parece infindável. Após concluir a saga do pequeno bruxo Harry Potter e deixar órfãos os fãs da série, Animais Fantásticos resgata a fantasia e volta ao passado para nos contas histórias que antecedem a saga do garoto predestinado, de óculos de grau e raio na testa. "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" (2018) é a sequência direta dos eventos ocorridos em "Animais Fantásticos e Onde Habitam" (2016). Dessa vez, o terrível Grindelwald (Johnny Depp) coloca em prática o plano de angariar seguidores e atrair o jovem Credence (Ezra Miller) para os seus domínios. Enquanto isso Dumbledore (Jude Law) encarrega Newt (Eddie Redmayne) de encontrar o instável Credence, antes que ele seja recrutado por Grindelwald ou assassinado pelo Ministério da Magia de Londres.
Mesmo sem ser um profundo conhecedor da franquia, me diverti bastante em pouco mais de duas horas de duração do longa. O ritmo é intenso e sempre tem algo acontecendo, que nos deixa apreensivos ou curiosos. Visualmente o filme não deixa a desejar, os efeitos são competentes e torna crível aquele ambiente fantástico. Johnny Depp tem mais tempo de tela e pode a acrescentar mais um tipo a sua carreira multifacetada. Seu vilão é astuto e ameaçador na medida certa, passando longe dos exageros que poderiam fazê-lo mais caricato do que o necessário. Redmayne, sempre com o mesmo semblante, que flutua entre o tímido e desajeitado, parece mais a vontade no papel do herói improvável, mas talvez o maior destaque da produção seja a presença de Alvo Dumbledore. A versão mais jovem do célebre professor foi comemorada desde que anunciada sua participação nos novos filmes. Cada cena de Jude Law interpretando o personagem foi um deleite para os fãs, que mal continham a euforia dentro do cinema, na sessão em que estive. Esse na verdade é um grande trunfo de "Animais Fantásticos". Misturar referências familiares aos milhares de seguidores de Harry Potter, a tramas bem trabalhadas, que abram novos enigmas para então conecta-los novamente no futuro. Rowling, que trabalhou no roteiro do filme, também tratou de inserir questionamentos políticos de fácil associação com o mundo real, indo além da simples fantasia. "Os Crimes de Grindelwald" foi uma viagem de montanha russa ainda não tão arriscada, mas de jornada ascendente. A brincadeira ainda não terminou e acredito que ainda iremos subir.
Jason Reitman, diretor da simpática comédia "Juno", retoma a parceria com a roteirista Diablo Cody para contar a história de uma mãe de três filhos exausta com as responsabilidades e sobrecarregada pela pouca participação do marido. Após a insistência do irmão, Marlo (Charlize Theron) concorda em contratar uma babá noturna para ajudar com o bebê recém nascido. Tully (Mackenzie Davis), a babá, vai além de suas atribuições e passa a melhorar a vida pessoal de Marlo, que passa a se sentir mais leve e disposta. O filme de Reitman conta com ótima interpretação de Theron e um roteiro afiado, pronto para nos fazer refletir sobre expectativas e companheirismo. Nos momentos de pressão, quando as obrigações parecem exigir mais do que podemos suportar, buscamos refúgio nos lugares que trazem segurança. Buscamos a força e a energia para salvar o mundo. O mundo particular que construimos. Às vezes só precisamos de alguém pra dividir, compartilhar. O difícil fica mais fácil. O pesado, mais leve. E a vida...Bem, essa só multiplica...
Na Romênia comunista, vários anônimos furam o bloqueio do governo, que censurava a comunicação e informação de todo o povo, através dos filmes e da magia que podiam proporcionar em tempos de mão de ferro. No documentário, que mescla depoimentos e reconstituições, nos deparamos com histórias interessantes e absurdas, como a dubladora Irina Nastir que dava voz a todos os personagens nos filmes ou o órgão censor que cortava uma cena em que havia uma mesa farta, visto que seria um contraste com a realidade dos romenos. Tudo para manter a ordem social. Numa época em que um vídeo cassete custava o preço de um carro novo, a fitas VHS eram contrabandeadas como cigarros e drogas, para abastecer aqueles que só queriam embarcar nas aventuras de Chuck Norris ou se divertir com Dirty Dancing. É lamentável ver como um pensamento político tentou restringir o acesso a cultura a milhões de pessoas. Talvez os homens no poder soubessem que um filme não é apenas um filme. Nunca foi. O cinema inspira e pode mostrar que o mundo pode ser um lugar melhor.
Gina perdeu a visão após um trágico acidente de carro, mas após uma cirurgia para restituir a função, seu casamento começa a sofrer transformações com a nova dinâmica do casal.
Protagonizado por Blake Lively, "Por trás dos seus olhos" flerta com o suspense, mas na verdade é um drama sobre como enxergamos o outro e a dualidade entre a paz de uma situação familiar ou a insegurança das mudanças. Gina dependia do afetuoso marido, que não media esforços para trazer um pouco de luz para sua vida, mas quando ela volta a ver as cores do mundo, nem tudo coincidiu com as imagens que ela criou na mente. Por outro lado, James (Jason Clarke) se ressente ao ver a independência da esposa e passa a ter medo de não se encaixar mais na relação. A direção de Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca) acerta quando aborda a tristeza solitária do casal, mas erra ao exagerar em algumas cenas que possuem um tom mais caricato. Quando a felicidade de duas pessoas entra em rota de colisão é a hora de reavaliar o que nos faz feliz.
Durante uma rápida passagem pela Alemanha, a mochileira Clare (Teresa Palmer) encontra o jovem professor alemão Andi (Max Riemelt), por quem se sente atraída, mas o que deveria ser um rápido romance de viagem torna-se um pesadelo quando ela é forçada a ficar presa no apartamento do affair.
Diferente da síndrome de Estocolmo, em que a vítima cria afeição por seu raptor, em "A Síndrome de Berlin", o carinho inicial se transforma em pavor pelo cárcere privado. O roteiro explora os conflitos e o filme não tem pressa em resolver a história. Teresa Palmer transmite a angustia que pede o papel, mas o grande destaque está na figura controversa do antagonista. Andi é refém dos próprios sentimentos. É um homem que perdeu pessoas queridas e tem dificuldade em lidar com essas emoções. Provavelmente, é a origem da psicopatia do personagem, que foge do clichê bidimensional do gênero. Nos cativeiros da vida, por vezes somos os guardiões das chaves que fecham as portas atrás de nós. Criamos celas, prisões à prova de fugas, mas nunca à prova de sentimentos. Que possamos sempre escolher a liberdade de ficar ou seguir em frente.
Seguindo a mais nova tendência das adaptações, a Disney põe nas telas a versão em live action do Ursinho Pooh. "Christopher Robin" se revela uma adocicada fábula sobre a importância que damos as coisas e as pessoas a nossa volta, e também sobre a maneira como gastamos o nosso tempo.
Ewan MacGregor, dá vida ao ocupado Christopher Robin, que quando criança criou fortes laços com os amigos de pelúcia que acompanhavam as aventuras da infância, em especial o urso Pooh, mas que na vida adulta coloca a família em segundo plano para se dedicar às exigências do trabalho. Após um inesperado reencontro, Christopher embarca numa viagem ao lado de Pooh para descobrir onde os antigos amigos se esconderam. Dirigido por Marc Forster ("Em Busca da Terra do Nunca"), o filme emociona quando aposta na interação do protagonista com o ursinho falante, mas tem alguns problemas de ritmo e sofre pela falta de relevância dos coadjuvantes. O roteiro segue uma linha previsível e os diálogos do terço final exageram na simplicidade. Apesar desses apontamentos, a mensagem transmitida pode te deixar com os olhos marejados. Crescer e assumir as responsabilidades de gente grande não é fácil. Vivemos numa longa corda bamba tentando equilibrar o presente pensando no futuro. Por vezes, para não cair precisamos olhar para o passado e lembrar da nossa versão mais leve e descompromissada. Dos tempos em que os sonhos não tinham preço e dependeriam apenas da vontade de seguir. Definir a importância que cada elemento ao nosso redor precisa receber pode ser o caminho para não esquecermos o que nos motiva sonhar. Talvez seja preciso se perder para se achar, e na vida agitada e corrida que levamos devemos reservar um tempo para o nada. Pois no nada podemos fazer tudo que queremos e não há nada melhor do que não fazer nada com aqueles que queremos bem.
Dois amigos vão para um pequeno vilarejo passar um final de semana bebendo e caçando cervos, mas um acidente coloca os jovens em rota de colisão com os habitantes da região. Calibre é uma crônica de uma tragédia anunciada. Desde o princípio já sabemos que aquela viagem não acabará bem para os amigos e o filme cria uma atmosfera tensa que nos deixa apreensivos. Chega a incomodar ver como uma fatalidade e a dificuldade em lidar com a situação pode transformar vidas de maneira irreversível. As atuações ajudam a sentirmos o drama dos personagens e a história vai alimentando a tensão que culmina com um desfecho impactante, mas que pode decepcionar quem espera por grandes reviravoltas.
Inspirado no livro The Notebook, do escritor Nicholas Sparks, Diário de uma Paixão é um romance que consegue controlar o nível de açúcar da produção, mesmo revisitando em partes, o eterno drama shakespeariano de Romeu e Julieta. Na historia, um senhor conta para a colega no lar de idosos, sobre um romance vivido na década de 40 entre o jovem Noah e Allie. O amor do casal é colocado à prova pela oposição dos pais da garota, pela guerra e pelo tempo. Com o sucesso relativo da produção a carreira do protagonista Ryan Gosling foi alçada a outro patamar. O carisma que emprestou ao introspectivo Noah cativou Allie e o público. Rachel McAdams representa bem a transição da jovem obediente para a mulher que segue suas vontades. Tal como o amor retratado em tela, o filme vem crescendo e resistindo ao tempo. O drama do casal que é separado pelas circunstâncias da vida é atemporal. Viver sob a sombra do que poderia ter sido, é pior do que sofrer as consequências de uma escolha errada. Se é que há escolha errada. Boas histórias precisam ser revisitadas sempre. Como um bom livro, filme ou uma boa música, que nos desperta do transe, numa espécie de gatilho, para reviver as lembranças e não nos deixar esquecer que tudo valeu a pena. Em tempos de separações recorrentes e uniões frágeis, torcer pela vitória de um sentimento verdadeiro é manter viva a esperança que a cerca branca se manterá de pé.
Todas as Canções de Amor
3.6 97Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) formam um jovem casal que acaba de se mudar para um apartamento em São Paulo. Enquanto arrumava o imóvel, Ana encontra uma antiga fita K7 dos antigos proprietários, Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Julio Andrade), e passa a fantasiar o que motivou aquela seleção de músicas.
Em "Todas as Canções de Amor" (2018), Chico, Gil, Marisa, Moska, Rita, Cazuza, Melodia e Cartola são porta-vozes do desabafo de Clarice para o marido, e a diretora Joana Mariani usa bem as melodias para contar a história de dois casais em estágios diferentes do relacionamento. O início leve e alegre, e o fim melancólico em tom de despedida.
A direção optou por deixar o longa escuro, quase sempre escondendo os personagens na penumbra, onde eles precisam sentir e "enxergar" com os ouvidos. A claridade só vem quando eles voltam a se conectar por um instante que seja.
Como espectador, me senti um pouco incomodado com a opção pela pouca luminosidade. Em boa parte do filme não era possível ver com exatidão as expressões e nuances interpretativas dos atores e acredito que isso prejudicou a imersão.
Sobre o elenco, a disparidade entre os casais do passado e do presente é enorme. Julio Andrade e Luiza Mariani fazem um trabalho excelente e isso reflete no interesse por seus personagens, infinitamente mais profundos do que o casal vivido por Gagliasso e Marina Ruy Barbosa. Não por acaso, o roteiro foi bem mais generoso com o conflito de Daniel e Clarice, e teceu para eles os melhores diálogos e dramas. Se alguma lágrima insistir em dançar, embalada por "Drão" ao pé da escada ou no chão da sala, é porque Andrade e Mariani nos fizeram acreditar. Já Ana e Chico são um casal de pouca empatia, com discussões juvenis e pouca química.
Assim, o ponto forte da produção sem duvida alguma é a trilha sonora, escolhida a dedo por alguém que busca ser ouvida.
Aquelas músicas não contam apenas a história de Daniel e Clarice. Na verdade, elas contam o enredo de filmes que muitos de nós já vivemos ou viveremos algum dia. Um desabafo, uma confissão, uma despedida. São veículos, não raramente, utilizados para expressar nosso estado de espírito e as emoções que nem sempre conseguimos verbalizar ao vivo e a cores, pois somos suscetíveis a trocar de sintonia ao menor sinal de fragilidade.
Clarice e Daniel sofrem, cada qual do seu jeito. O sofrimento não segue uma cartilha, por isso ele pode ser barulhento ou silencioso, mas sempre será sentido.
Clarice criou a playlist do adeus e Daniel, que se recusava a ouvi-la, apertou o play para entender como a esposa se sentia.
Rec é o comando que precisamos apertar para acionar o gravador, que copia sons, dores e amores, expressos em versos de canções. Escolhemos com esmero a sequência exata para passar a mensagem que queremos transmitir. Existe um caminho a seguir. Ouvidos, coração, recordações, olhos marejados e pelos eriçados, ou qualquer sinal de resposta.
Quando terminamos a seleção entregamos ao destinatário a compilação dos nossos sentimentos, desejando a atenção da audição, e, quem sabe, quando a música acabar descobrir que ainda há novas canções de amor para tocar.
6.5
CineMagia - A História das Videolocadoras de São Paulo
4.0 109Quando criança, sonhamos seguir as mais diversas carreiras. Médicos, veterinários, bombeiros ou quem sabe astronautas. Afinal de contas, os sonhos não encontram limites e por isso tudo é possível e incrivelmente especial aos olhos de uma mente jovem.
No meu caso, o emprego ideal era o de atendente de videolocadoras, tal como Quentin Tarantino foi um dia, antes de se tornar o famoso diretor de "Pulp Fiction" e "Kill Bill".
Passar o dia inteiro rodeado dos filmes, ver os lançamentos em primeiro mão e, principalmente, conhecer e conversar com estranhos sobre cinema me fascinava. Indicar uma fita de acordo com as preferências do cliente, que se tornaria mais íntimo a cada visita, teria sido uma experiência sensacional!
Mais do que um convite a nostalgia, o documentário "Cinemagia: a história das videolocadoras de São Paulo" (2017) é um retrato histórico dos primórdios do home video no Brasil, pois, apesar da produção focar na origem em São Paulo, os efeitos dessa nova onda foram sentidos por todo país.
A partir de depoimentos daqueles que formaram as bases e desbravaram um mercado ainda virgem no cenário nacional, podemos acompanhar o auge e o declínio do segmento das videolocadoras, que começaram e declinaram pelas mãos da pirataria comercial. Talvez, os serviços de streaming, que facilitaram o acesso aos filmes e conteúdo em tempos de rapidez de consumo, tenham dado o golpe final na indústria do home vídeo.
Em meio as entrevistas com distribuidoras, antigos proprietários, funcionários e clientes, é perceptível o carinho e o respeito com que os realizadores do documentário, em especial o diretor Alan Oliveira, trataram o tema. Por isso não será incomum se emocionar com os relatos e memórias de um panorama que não existe mais.
É inegável que hoje há uma acessibilidade a cultura infinitamente maior do que há decadas e isso é ótimo, mas no caminho algo se perdeu.
Numa vida cada vez mais acelerada acabamos economizando não apenas o tempo, mas também o contato humano. A interação que antes existia com o balconista da videolocadora, informando os últimos lançamentos ou trocando informações sobre o cinema, cedeu espaço para o controle remoto da tv ou o click do download.
Ver filmes também se tornou um programa solitário, bem diferente da época em que dividíamos o sofá da sala com parentes e amigos pra assistir as matanças de Jason Voorhees ou as acrobacias de Van Damme.
Assim, o documentário "Cinemagia", além de repassar a estrada das videolocadoras, estimula a discussão sobre essas transformações sociais que implicaram na nossa forma de ver a sétima arte.
Vhs, Dvd, Blu-ray são espelhos de um período e cada experiência vinculada a uma mídia pode ser o roteiro de uma saudosa história.
9.0
*Disponível no Youtube e em edição especial em DVD
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Quincy
4.3 37 Assista AgoraQuincy Jones pode ser considerado facilmente uma das grandes lendas da música americana. Talentoso arranjador e produtor musical, Quincy firmou parcerias de sucesso com gente do calibre de Frank Sinatra, Ray Charles, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Michael Jackson. A dobradinha com o "Rei do Pop" rendeu o álbum mais vendido da história "Thriller" e alçou a carreira do jovem Michael para outro patamar.
Com contribuições inestimáveis não apenas para a música e cultura, "Q" também se engajou em questões políticas e sociais, abrindo portas que estiveram fechadas por muito tempo.
O documentário "Quincy" (2018) faz uma bela retrospectiva de sua vida pessoal e da carreira intercalando imagens de arquivos e depoimentos do próprio Quincy e de pessoas que estiveram intimamente ligadas a ele.
Vindo de uma família humilde, o jovem Quincy sobreviveu na América racista e segregadora da época e lutou pelo seu espaço entre os grandes músicos. O reconhecimento inevitável veio de todas as partes. Colegas de profissão, público e crítica especializada se renderam ao talento de Jones. Não à toa, ele faz parte do seleto grupo de profissionais a ter em sua coleção os prêmios do Oscar, Grammy, Emmy e Tony. Sua paixão pelo trabalho é evidenciada durante a projeção e isso custou um pouco de sua saúde e de seus relacionamentos.
Algumas palavras proferidas pelo produtor nos ajudam a ter certa noção do homem diferenciado que agarrou as rédeas do destino e fez sua trajetória de sucesso.
Em um momento de reflexão, após um difícil período no hospital, Quincy conclui que não há nada melhor para desejar do que uma vida longa cheia de amor para compartilhar, saúde para sobrar e amigos para cuidar, pois isso é o que realmente importa.
O velho Quincy realmente sabe das coisas...
9.0
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Conta Comigo
4.3 1,9K Assista AgoraTodos têm os seus filmes de cabeceira. Aqueles que você recorre pra buscar a lembrança de uma época, a força pra superar um problema ou o sorriso que te faz esquecer do mundo. Vou citar um destes filmes que assisti quando garoto e sempre que torno a vê-lo revivo antigos sentimentos: "Conta Comigo" (1986)
Grande parte do público desconhece que a autoria do conto que deu origem ao filme dirigido por Rob Reiner ("Harry e Sally") é de Stephe King. Sim, ele mesmo. O autor, celebrado como mestre do terror e responsável por obras como "It - A Obra Prima do Medo" e "Carrie, a Estranha", escreveu essa história intimista sobre a amizade de quatro garotos que partem a procura do corpo de um adolescente desaparecido.
"Conta Comigo" é uma jornada de autodescoberta em que podemos sentir a inocência e as marcas que a vida estava deixando naquelas crianças. Gordie vivia a sombra do irmão falecido; Chris era rotulado pela fama de delinquente juvenil; Teddy tinha problemas de relacionamento com pai, veterano de guerra; e Vern era vítima constante de bullying por ser gordinho. É muito bom ver a cumplicidade e camaradagem entre os garotos, e como eles se ajudavam inconscientemente ("Stranger Things" notadamente buscou inspiração aqui). Juntos, a aventura era o escape para realidade que nem sempre era generosa com os amigos.
O Longa é contado a partir das memórias de um Gordie já adulto e o que sempre me encantou foi isso: Saber que um adulto (King, Reiner, Gordie) não esqueceu a criança que foi um dia e que ele estava prestando atenção em mim, nos meus sentimentos e nos meus medos. Saber que ele entendia. Do mesmo modo, era reconfortante ver que a amizade sincera do quarteto era a certeza que eu não estava sozinho.
Quando a aventura acabou, Gordie e seus amigos não eram mais os mesmo. Eu não era mais o mesmo. "Stand by me".
10.0
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Buscando...
4.0 1,3K Assista AgoraQuando um filme consegue unir uma boa história, um plot twist eficiente e levantar questões que te deixam refletindo após os créditos finais, é sinal que a experiência cinematográfica foi mais do que um mero entretenimento. Foi recompensadora.
Esse foi meu sentimento ao sair da sessão de "Buscando" (2018), filme que traz a saga de um pai em busca da filha desaparecida. Na trama, o viúvo David Kim (John Cho) precisa seguir os rastros deixados pela jovem Margot (Michelle La) na internet para tentar encontrá-la.
O diretor Aneesh Chaganty utiliza imagens de Facetime, YouTube, filmagens de circuito interno e telejornais para contar sua história e trazer o espectador para uma realidade mais próxima ao que vivemos em tempos de conectividade ininterrupta. Tal opção combinou perfeitamente com a proposta do longa.
O roteiro bem trabalhado nos deixa apreensivo e ansiosos por pistas que revelem o destino da garota, ao passo que cada descoberta é um convite para formularmos novas teorias.
O caminho perseguido por David é um misto de angústia e surpresa, pois as peças do quebra-cabeça que ele vai montando o leva a constatar que, talvez, ele tenha perdido a ligação com a filha que ele julgava conhecer tão bem.
A produção tambem aborda o mundo predatório da internet e das redes sociais. A garota, sem amigos, tem uma popularidade instantânea quando as notícias sobre seu desaparecimento tomam os jornais. Novas amizades surgem a cada tweet ou postagem no Facebook. Os comentários maldosos, que levantam hipóteses sobre a autoria do suposto crime, destilam a falta de humanidade e compaixão com os sentimentos da família, e a espetacularização da investigação retrata bem o que vemos nos noticiários policiais nos dias atuais.
É levantando tantas questões importantes e presentes nesse mundo moderno e conectado, que "Buscando" se destaca entre a leva de filmes do gênero.
A busca do protagonista é a busca dos pais em conhecer melhor os filhos. É a busca do respeito pela dor alheia, pela solidariedade e pela amizade real.
Busca pela verdadeira conexão. Não entre dispositivos. Entre pessoas.
9.0
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A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraApos ficar órfão, o jovem Hugo (Asa Butterfield) passa a morar numa estação de trem em Paris, enquanto tenta dar vida a um robô autômato, pois acredita que a máquina contém a última mensagem deixada por seu falecido pai. O destino do garoto muda quando ele encontra um ilustre desconhecido.
Trazido aos cinemas em 2011, "A Invenção de Hugo Cabret" é um emocionante tributo ao maior mágico da história da sétima arte. Georges Mèlies ("Viagem a Lua"), interpretado respeitosamente pelo ótimo Ben Kingsley, pode ser considerado o primeiro grande cineasta que fez o espectador sonhar. Inventivo, ele ousou e usou toda sua criatividade para fabricar sonhos através de seus filmes recheados com os pioneiros efeitos especiais.
Martin Scorsese, diretor de "Hugo Cabret", fez questão de contar de maneira tocante a trajetória de Mèlies, dos primeiros passos na arte cinematográfica, após um encontro decisivo com os irmãos Lumière e seu revolucionário cinematógrafo, passando pelo auge da novidade dos filmes, pelo ostracismo seguinte, que o fez destruir boa parte de suas produções, até o redescobrimento de seu talento pelos novos críticos.
Toda essa homenagem é bem conduzida por Scorsese, que a guarda para o terço final do filme como a cereja do bolo. E que cereja.
Hugo, que vivia solitário à procura da mensagem para abrir seus caminhos, encontrou muito mais do que isso. O garoto, que se dispôs a consertar o que estava quebrado, restituiu aquilo que cada coisa merece. Assim como um velho relógio merece as horas, os minutos e os segundos, o grande artista merece o reconhecimento de um duradouro aplauso.
9.5
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O Conto
4.1 339 Assista AgoraBaseado nas memórias da diretora Jennifer Fox, "O Conto" (2018) é drama intenso que toca em questões delicadas, como o abuso infantil.
Jennie (Laura Dern), uma mulher de 48 anos, recebe um telefonema de sua mãe, aflita após descobrir um antigo conto escrito pela filha quando a mesma tinha apenas 13 anos. As palavras da jovem revelam um romance com seu antigo treinador de corrida quase trinta anos mais velho, que Jennie, já adulta, havia reprimido em suas memórias.
Laura Dern ("Parque dos Dinossauros") consegue transmitir a angustia da protagonista, que se recusar a assumir o papel de vítima. A confusão de suas lembranças denotam essa luta em aceitar o abuso sofrido, e desvelar o passado é reconhecer que ela não passou incólume pelo trauma, que inconscientemente repercute em seu atual relacionamento. Seu desejo de controlar a própria vida deu a falsa ilusão de igualdade com os adultos abusadores.
A produção do longa ficou a cargo da HBO, que o tratou com o merecido capricho e respeito. Fox, por sua vez, conduziu bem o enredo alternando as recordações do seu alter ego em cena e levantando os questionamentos morais para reflexão.
A maneira como desvirtuamos a realidade para que ela pareça mais doce e poética, pode esconder marcas que insistimos em negar, mas evitar as cicatrizes é a omissão com nossos próprios sentimentos.
É preciso abrir os olhos para olhar para dentro e nos resgatar da versão que criamos de nós mesmos.
7.5
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A Noite de 12 Anos
4.3 302 Assista AgoraCalcado em fatos reais, "Uma noite de 12 anos" é um documento histórico do período ditatorial vivido pelo Uruguai na década de 70 e início dos anos 80, em que jovens revolucionários foram presos e mantidos como reféns do governo sob condições sub-humanas.
Dentre os vários detidos, acompanhamos os 12 anos de maus tratos vividos por três deles: Maurício Rosencof (Chino Sarín), Eleutério Fernández Huidobro (Alfonso Tort) e José Mujica (Antonio de la Torre), que décadas depois viria a ser eleito presidente de seu país.
Durante o cárcere, os três colegas eram proibidos de se comunicar, como num longo voto silêncio instituído pelos militares, e as poucas visitas que recebiam eram controladas sob fortes ameaças.
O roteiro do longa consegue transmitir bem a angustia daqueles anos de sofrimento e solidão. Cada um dos amigos tem um porto seguro que os ajuda a resistir. Mãe, esposa e filhos. Pessoas que se importam, que não esquecem quando o mundo parece esquecer. Pessoas que não desistem e não nos deixam desistir, mesmo quando a loucura parece fazer mais sentido do que a realidade sã.
O filme é um retrato triste de um momento político conturbado, que gera imediatamente uma análise mais próxima.
Viver em um país dividido segrega amigos, presentes e futuros. Separa famílias e descarrilha um trem que deveria levar todos para o mesmo destino. Por que lutamos? Por um lugar justo e próspero, ou apenas pela concretização da nossa visão de justiça?
Não sejamos o samba de uma nota só, refém de velhos ritmos em que apenas um irá dançar. Vamos falar e ouvir, pois até o silêncio tem algo a dizer.
Utopia? Não. Prefiro chamar de esperança.
8.0
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraO ano era 2000 e eu estava iniciando a vida adulta ainda sem saber bem o rumo que iria seguir ou quem eu estaria destinado a ser. Foi então, nesse período de incertezas, que encontrei no acervo musical do meu pai, um disco que mexeria permanentemente com minha cabeça. "Queen, ao vivo no Rock in Rio".
Na verdade, se tratava de um disc laser, que era uma mídia anterior ao DVD, mas que não caiu no gosto popular. Ou seja, era um dvd do tamanho de um disco de vinil contendo o icônico show do grupo britânico no festival de música do Rio de Janeiro.
Até aquele dia, nunca tinha visto a banda tocando, nem me recordava da presença marcante de Freddie Mercury. Como aquele cara de roupa extravagante, dentes que mal cabiam na boca e um bigode inconfundível, conseguia segurar a emoção de uma platéia de 200 mil pessoas?
A única coisa que eu sabia era que algo havia mudado.
Freddie, Brian, Roger e John. Quatro amigos que sabiam o que estavam fazendo e para onde queriam ir. O meu "Rock in Rio" aconteceu na sala de casa, com um atraso de 15 anos. E o show nunca mais parou.
Dito isso, alerto que a resenha a seguir sobre "Bohemian Rhapsody" dificilmente será imparcial. Mas vamos tentar.
Após uma longa gestação, finalmente "Bohemian Rhapsody", cinebiografia da banda de rock Queen, vê a luz do dia!
Envolvida em uma produção conturbada, o filme passou pela mão de vários diretores e por outro protagonista. Sacha Baron Cohen, o eterno Borat, durante muito tempo foi associado ao projeto, mas por divergência criativas com os integrantes do Queen, que tinham outras ideias em mente, ele abandonou o papel de Freddie Mercury.
O líder do grupo britânico acabou caindo no colo do ator Rami Malek ("Mr. Robot"), que teria a responsabilidade de encarnar a personalidade marcante do cantor sob a direção de Bryan Singer ("X-men"), que viria a ser demitido já na pós-produção devido a conduta pouco profissional.
Ciente disso, fui ao cinema animado pela biografia da minha banda de rock preferida, mas receoso pela qualidade do material que seria entregue.
Geralmente, esses problemas de produção costumam afetar o que vemos em tela, e de fato afetou, apesar das virtudes. Mas vamos por partes.
A caracterização dos personagens reais, ao meu ver, foi um grande acerto. Rami Malek, apesar do biotipo mais franzino que o de Mercury, se saiu bem ao emular gestos e modo de falar do cantor. Faço uma ressalva para o excesso de closes nos olhos do ator, que poucas semelhanças guardam com o biografado.
Brian May e Roger Taylor, guitarrista e baterista do grupo, tiveram bons intérpretes e John Deacon, o baixista, foi discreto e recebeu pouca atenção do roteiro.
O enredo, que se propôs a contar a trajetória do Queen até o emblemático show do "Live Aid", para arrecadar fundos para a África, na verdade é uma reconstituição resumida da ascensão de Freddie Mercury como uma lenda da música.
Em prol da narrativa, vários fatos verídicos foram alterados e pontos das personalidades dos músicos se perderam no caminho. Roger Taylor virou um mulherengo engraçado, Brian, um músico passivo, e Deacon só fazia caras e bocas com o pouco tempo em cena.
Mary Austin, detentora dos royalties da obra de Freddie até 2041, deixado em herança após a morte do cantor, tem um papel de destaque no filme. Não sei até que ponto, foi uma decisão puramente criativa.
O humor é recorrente no longa e serve para nos lembrar que o filme não tem a intenção de ser um drama mais intenso.
Os momentos no palco tem pouca energia e me parece que faltou química entre os atores. As opções dos takes de câmera distanciaram o Queen de seu público, por isso, na maior parte do tempo o êxtase dos shows ficava para nossa imaginação. Bradley Cooper, por exemplo, em sua estreia como diretor no romance "Nasce uma Estrela" (2018), conseguiu transmitir para o espectador a sensação de subir no palco e tocar para uma multidão. Já a vida pessoal de Freddie foi um mergulho calculado e serviu apenas como um vislumbre do que realmente aconteceu.
Mesmo assim, confesso que em dois momentos foi difícil conter a emoção.
O relato de Mercury sobre a experiência de ouvir o público brasileiro cantar suas músicas e a performance no "Live AID" foram de arrepiar.
Nota: O filme não é perfeito e tenho a noção que ele é menor do que o tamanho da banda, mas é o Queen numa tela de cinema. Freddie Mercury! Então esqueça as críticas e vá se divertir.
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Um Sonho de Liberdade
4.6 2,4K Assista AgoraDirigido por Frank Darabont, "Um Sonho de Liberdade" costuma figurar frequentemente nas listas dos maiores filmes da história do cinema e, apesar de ter perdido o Oscar para "Forrest Gump", em 1995, está sempre acima do longa protagonizado por Tom Hanks no gosto dos críticos que elaboram as tais listas.
O roteiro, adaptado a partir de um conto de Stephen King, traz a história do banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins), preso injustamente e condenado a prisão perpétua na penitenciária de Shawshank. Lá ele conhece o detendo Red (Morgan Freeman) com quem faz amizade, e enquanto enfrenta as barbaridades do lugar, se esforça para manter viva a esperança de dias melhores.
Assim como no conto, os acontecimentos do filme são narrados a partir da perspectiva de Red, que desde o princípio simpatiza com a obstinação de Andy em não deixar seu espírito ser consumido pelos maus tratos dos colegas e dos guardas. Estes, por sua vez, são os grande vilões, cobertos de autoritarismo e violência. Nessa inversão de papéis, a exceção de alguns poucos, os detentos são as vítimas de Shawshank, que trabalha para quebrar o espeítiro dos detentos enquanto eles perdem suas referências.
A dupla Freeman - Robbins é ponto forte da produção e simboliza a amizade solidária de dois amigos que compartilham desilusões e os pequenos momentos de regozijo, como na cena em que Andy negocia com o guarda carrasco seus serviços de contador em troca de cerveja para os colegas. Mesmo sem beber, ele se realiza apenas por ter proporcionado aquele momento, e deixa escapar um sorriso curto de satisfação.
Para Andy, não havia acomodação, resiliência. Ou você se esforça para viver, ou se esforça para morrer. Por isso, por mais que o mundo pareça opressor, procure uma forma fugir para um lugar mais agradável, mesmo que seja através de um livro ou de uma música. Leia, cante, dance, ouça, se movimente, para lembrar que nenhum lugar pode prender nossos sonhos.
9.5
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22 de Julho
3.7 219 Assista AgoraEm 22 de Julho de 2011, Anders Breivik assombrou a Noruega ao cometer dois atentados e matar 75 jovens num acampamento na ilha de Utoya, próxima a Oslo.
Após o massacre, as famílias das vítimas lutam na justiça pela condenação do assassino.
Paul Greengrass, que já havia dirigido "Voo United 93", sobre os passageiros que conseguiram derrubar o avião sequestrado pelos seguidores de Osama Bin Laden e impedir que ocorresse mais um atentado no 11 de setembro americano, assume a direção do longa "22 de Julho" e entrega um ótimo trabalho.
Buscando abordar diferentes ângulos do triste episódio, Greengrass toca em pontos importantes de maneira sutil. Anders, o atirador, é um rapaz extremista que possuía sua própria versão do ideal político e social para a Europa. Xenófobo, ele enxergava nos imigrantes o verdadeiro mal e por isso, ansiava por um golpe de Estado que pudesse reestabelecer a "ordem" em seu país.
O advogado, convocado para defender o criminoso é tratado com respeito e compreensão pelo diretor, humanizando o profissional, que apenas estava lá para garantir um julgamento justo para seu cliente.
Ao direcionar a câmera para o governo norueguês e a responsabilidade do primeiro ministro, uma cena emblemática me chamou a atenção. Quando questionada sobre o descuido em fiscalizar a aquisição de uma quantidade relevante de fertilizante utilizada na fabricação da bomba, os responsáveis pela segurança pública da Noruega alegam que a preocupação do governo estava voltada para os terroristas islâmicos.
Nesse ponto refletimos que o mal nem sempre vem de fora e que a intolerância não previne a guerra.
Extremismos podem despertar demônios adormecidos que facilmente saem do controle de quem os criou.
O rastro deixado por atentados como o de 22 de julho precisa ser lembrado para que as gerações futuras continuem lutando pelo direito de viver, respeitar e amar, tal como as palavras proferidas pelo sobrevivente Viljar no julgamento do caso.
Essa é a mensagem que precisa sobreviver.
8.0
*Disponível ne Netflix
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Adorável Vagabundo
4.0 42 Assista AgoraRecém demitida do jornal em que trabalhava, a repórter Ann Mitchell (Barbara Stanwyck) decide publicar uma carta de um fictício desconhecido que anuncia seu suicídio na véspera de natal como forma de protesto a corrupção e a pobreza. Após a repercussão da carta, o jornal decide contratar um mendigo para fingir ser o autor do desabafo, mas o caso toma grandes proporções.
Em "Adorável Vagabundo" (1941), Frank Capra consegue mais uma vez transmitir a esperança no homem comum, que através de pequenos gestos cotidianos, pode fazer a diferença no mundo e inspirar o próximo.
O seu desconhecido John Doe (Cary Cooper) ,que surgiu através de uma carta falsa, ganhou vida porque a ideia manifestada era verdadeira. Ele era apenas o porta voz de milhares de homens e mulheres sem rosto e sem oportunidades. Seu discurso sobre as mudanças e o fim das cercas que nos separam de nossos vizinhos é tão atual como na década de 40, quando o filme foi lançado. Em um mundo que nem sempre preza pela justiça, não adianta olhar para cima em busca de ajuda, pois a transformação da sociedade deve começar do nosso lado. Gentileza, respeito e compreensão derrubam barreiras e estigmas, criando a legítima revolução. Aquela que inicia dentro de nós.
Mas nem todos querem a mudança por medo de perder o controle e o poder. Os inconformados tentarão a todo custo desacreditar as ideias e aqueles que a defendem. São os abutres prontos para devorar a carne enquanto lhes convir e desprezá-la quando seus interesses já estiverem saciados.
Capra conduz a história sem nos poupar da face impiedosa da sociedade, mas nunca nos deixa esquecer que a esperança nunca morrerá.
E assim, o diretor conseguiu novamente me emocionar, tal como fez em "A Felicidade Não Se Compra", outra jóia de sua filmografia.
Então, te convido a conhecer Capra e os desconhecidos ao nosso redor, pois eles podem nos ajudar a conhecermos nossa verdadeira identidade.
10.0
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A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista Agora"A Casa que Jack Construiu" (2018) é o mais novo filme do polêmico diretor Lars Von Trier. Seu cinema autoral não é de fácil digestão e não agrada a todos os públicos. Nem sempre sou cativado por seus filmes, mas a importância de Lars é fundamental para diversificar e trazer um estilo cinematográfico que foge do mainstream. Fazendo uso de metáforas para tocar em pontos sensíveis da sociedade, o diretor pode soar incompreensível e delirante para alguns, mas Von Trier sempre tem algo a dizer. A mensagem nem sempre é clara e precisa ser decifrada, interpretada, porém, se estiver disposto a uma viagem intensa, pode seguir por essa estrada.
Em "A Casa que Jack Construiu", Jack é um psicopata que reflete sobre os cinco momentos que marcaram sua vida.
A conversa com Virgílio, uma espécie de terapeuta, é um ensaio da mente do serial killer, que acredita na beleza da arte em seus atos.
Esse conceito artístico é calcado na beleza advinda de atitudes necessárias. Para ele, a morte é apenas um caminho para a produção de uma obra prima, tal como os camponeses que ceifam a vegetação crescente para garantir a bela paisagem do campo. Ou os líderes genocidas com seus devaneios de paraíso. Ironicamente, o "terapeuta" Virgílio é interpretado pelo ator Bruno Ganz, mundialmente conhecido pelo papel do líder nazista, no filme "As Últimas Horas de Hitler" (2004).
Com formação em engenharia, Jack está empenhado em construir a casa dos sonhos, mas nunca encontra materiais que sustentem suas expectativas.
Para o assassino, as pessoas não passam de material a serviço do belo e do divino, mas tentando subir aos céus, ele encontrou o inferno. Quente, vazio e escuro. Tão escuro que nem sua sombra foi capaz de acompanhá-lo. Jack acreditava que era preciso destruir para construir e que suas matanças tinham a licença poética das artes. Pobre Jack.
O filme é longo, verborrágico e tem um ritmo lento, portanto a paciência é um pré-requisito importante para encarar este último trabalho de Lars Von Trier. Algumas cenas fortes de assassinatos podem incomodar os mais sensíveis e o epílogo extremamente simbólico pode causar certo estranhamento para o espectador.
5.0
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Millennium: A Garota na Teia de Aranha
3.1 309 Assista Agora"A Garota na Teia da Aranha" (2018) é mais uma adaptação para a tela grande da série de livros Millennium, do saudoso escritor Stieg Larsson. Larsson, que faleceu precocemente, vítima de um ataque cardíaco enquanto subia as escadas de seu escritório, não deixou sequências finalizadas, mas, anos depois, a editora contratou outro escritor para continuar a obra.
Nos cinemas, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" foi o primeiro a ganhar vida fora das páginas, tanto na Suécia, país de origem do autor, quanto em Hollywood, sob a batuta do diretor David Fincher.
Dessa vez, a hacker Lisbeth Salander assume o protagonismo que outrora pertenceu ao jornalista Michael Blomkvist. Clare Foy é a terceira a interpretar Lisbeth e desempenha o papel com personalidade, imprimindo sua marca na personagem.
A trama central gira em torno da busca por um código de controle de armas nucleares, mas a verdadeira história está no passado de Lisbeth e seu relacionamento familiar.
Dirigido por Fede Alvarez, do ótimo "O Homem nas Trevas" (2016), "A Garota na Teia da Aranha" tem um ritmo mais ágil que os seus antecessores e parece ter pressa em entreter o espectador. Porém, o filme apresenta menos camadas psicológicas, logo, os personagens são pouco aprofundados, o que prejudica na dinâmica. Blomkvist, imprescindível nos outros longas, torna-se uma figura rasa e dispensável, que pouco acrescenta ao enredo.
Apesar disso, Clare Foy e seus olhos hipnotizantes seguram a produção e nos fazem querer sempre mais de sua Lisbeth.
O pronome possessivo vai bem a calhar, visto que vemos em cena uma versão mais física e letal da persona, que ficou mais conhecida pela inteligência e domínio com computadores.
Por isso, recomendo ver "A Garota na Teia da Aranha" sem imagens pré-concebidas, sob o risco de se decepcionar.
A comparação pode prejudicar a experiência de acompanhar um filme assumidamente hollywoodiano, com uma trama genérica, conflitos imediatos e ação eficaz. Definitivamente um entretenimento rápido, certeiro e inofensivo.
7.5
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Operação Overlord
3.3 503 Assista AgoraDirigido por Julius Avery, "Operação Overlord" (2018) poderia facilmente fazer parte da filmografia de Robert Rodriguez, ao lado do cult "Um Drink no Inferno", de 1996.
Assim como no filme de roubo que se transforma em um banho de sangue com vampiros assassinos, "Operação Overlord" mistura gêneros e o resultado é uma divertida aventura de terror com clara inspiração nos filmes B do cinema.
Tais filmes foram criados pelos estúdios entre as décadas de 30 e 40 para completar uma sessão dupla de exibição e angariar mais público aos cinemas. Geralmente possuíam um orçamento mais modesto, não contavam com as grandes estrelas da companhia e suas tramas giravam em torno de ficções científicas, terror e alguns faroestes.
O termo "Filme B" acabou se popularizando e mesmo com o fim das sessões duplas, continuou a ser utilizado para nomear produções de baixo orçamento e temática fantástica.
Em "Operação Overlord"
a referência é evidente e bem executada. O enredo acompanha um grupo de paraquedistas com a missão de derrubar uma torre numa pequena cidade dominada pelos alemães em plena segunda guerra mundial, mas eles acabam descobrindo que os nazistas estão escondendo terríveis segredos.
Os primeiros minutos do longa são frenéticos e mostram o pouso forçado dos soldados em terras inimigas. Quando os sobreviventes conseguem abrigo na casa da destemida Chloe, passamos a conhecer melhor a personalidade dos personagens. Temos o protagonista Boyce (Jovan Adepo), cuja moral é maior do que suas habilidade militares, Ford (Wyatt Russel), líder da equipe e obstinado com a missão, e a já citada Chloe (Mathilde Ollivier). Os demais soldados recebem menos destaque do roteiro, mas cumprem bem suas funções na história.
Se no primeiro terço ficamos diante de uma típica produção de guerra, cujo objetivo é driblar as forças rivais para concluir a tarefa militar, a partir da metade da projeção, quando os segredos começam a ser revelados, o gore torna o caminho mais assustador e o terror mostra sua face além dos projéteis disparados pelos alemães.
Historicamente os porões nazistas foram palcos de experiências com cobaias humanas que fugiam de quaisquer valores éticos e morais. Os presos de guerra eram utilizados por médicos e cientistas que buscavam entender a anatomia e fisiologia humana, fazendo os mais diversos testes e tratamentos desumanos. Talvez, por isso esse segmento do filme cause tanto impacto no espectador.
No último ato, o conflito com o chefe da célula nazista (Pilou Asbaek) diminui os níveis do horror em prol da diversão caricata, com heroísmo, vilania e sacrifícios, assumindo de vez sua alma "B".
A direção merece elogios por ter amarrado bem segmentos distintos dentro de um só filme, segurando a atenção do público sem nunca perder o fôlego. Assim, posso afirmar que a missão de "Operação Overlord" foi cumprida com êxito.
8.5
*Nos cinemas
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O Grande Ditador
4.6 803 Assista AgoraPresente na lista das maiores comédias da história do cinema, "O Grande Ditador" (1940) é o primeiro filme falado de Charlie Chaplin e possui uma inteligente sátira aos governos nazista e fascista da Segunda Guerra Mundial.
Chaplin, que produziu, roteirizou e dirigiu o longa, também o protagonizou interpretando o papel do barbeiro judeu que perde a memória e passa 20 anos no hospital sem tomar conhecimento da perseguição ao seu povo, promovida pelo ditador Hynkel (também encarnado por Chaplin em clara alusão a Adolf Hitler). Benito Mussolini também não ficou de fora da acidez do comediante e ganhou uma versão rocambolesca, que vivia numa disputa de vaidade com o colega ditador.
A época de seu lançamento, o filme foi censurado em alguns países sob a acusação de ter um conteúdo comunista, mas o que vemos é a genialidade de Chaplin, que usa o humor para transmitir sua crítica social e política em um período de guerra e sofrimento. Essa, na verdade, é uma marca do diretor, que permeia sua filmografia com mensagens que vão além da diversão escapista. Desse modo, a comédia se transformou numa ferramenta de conscientização eficaz sob sua batuta.
A cena do ditador megalomaníaco dançando com o globo terrestre é um dos momentos mais icônicos do cinema e o discurso final de "O Grande Ditador" continua forte e emocionante. Não a toa, a banda irlandesa U2, em turnê pelo mundo, costuma utilizar tal discurso na abertura dos shows.
Disponível no YouTube, essa pérola de Chaplin merece ser vista, pois o eterno Carlitos continua a dizer verdades em forma de graça e a inspirar o mundo a refletir após o riso.
10.0
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Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraUniverso mágico criado pela escritora J. K. Rolling realmente parece infindável. Após concluir a saga do pequeno bruxo Harry Potter e deixar órfãos os fãs da série, Animais Fantásticos resgata a fantasia e volta ao passado para nos contas histórias que antecedem a saga do garoto predestinado, de óculos de grau e raio na testa.
"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" (2018) é a sequência direta dos eventos ocorridos em "Animais Fantásticos e Onde Habitam" (2016). Dessa vez, o terrível Grindelwald (Johnny Depp) coloca em prática o plano de angariar seguidores e atrair o jovem Credence (Ezra Miller) para os seus domínios. Enquanto isso Dumbledore (Jude Law) encarrega Newt (Eddie Redmayne) de encontrar o instável Credence, antes que ele seja recrutado por Grindelwald ou assassinado pelo Ministério da Magia de Londres.
Mesmo sem ser um profundo conhecedor da franquia, me diverti bastante em pouco mais de duas horas de duração do longa. O ritmo é intenso e sempre tem algo acontecendo, que nos deixa apreensivos ou curiosos. Visualmente o filme não deixa a desejar, os efeitos são competentes e torna crível aquele ambiente fantástico.
Johnny Depp tem mais tempo de tela e pode a acrescentar mais um tipo a sua carreira multifacetada. Seu vilão é astuto e ameaçador na medida certa, passando longe dos exageros que poderiam fazê-lo mais caricato do que o necessário.
Redmayne, sempre com o mesmo semblante, que flutua entre o tímido e desajeitado, parece mais a vontade no papel do herói improvável, mas talvez o maior destaque da produção seja a presença de Alvo Dumbledore.
A versão mais jovem do célebre professor foi comemorada desde que anunciada sua participação nos novos filmes. Cada cena de Jude Law interpretando o personagem foi um deleite para os fãs, que mal continham a euforia dentro do cinema, na sessão em que estive.
Esse na verdade é um grande trunfo de "Animais Fantásticos". Misturar referências familiares aos milhares de seguidores de Harry Potter, a tramas bem trabalhadas, que abram novos enigmas para então conecta-los novamente no futuro. Rowling, que trabalhou no roteiro do filme, também tratou de inserir questionamentos políticos de fácil associação com o mundo real, indo além da simples fantasia.
"Os Crimes de Grindelwald" foi uma viagem de montanha russa ainda não tão arriscada, mas de jornada ascendente. A brincadeira ainda não terminou e acredito que ainda iremos subir.
8.0
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Tully
3.9 562 Assista AgoraJason Reitman, diretor da simpática comédia "Juno", retoma a parceria com a roteirista Diablo Cody para contar a história de uma mãe de três filhos exausta com as responsabilidades e sobrecarregada pela pouca participação do marido.
Após a insistência do irmão, Marlo (Charlize Theron) concorda em contratar uma babá noturna para ajudar com o bebê recém nascido.
Tully (Mackenzie Davis), a babá, vai além de suas atribuições e passa a melhorar a vida pessoal de Marlo, que passa a se sentir mais leve e disposta.
O filme de Reitman conta com ótima interpretação de Theron e um roteiro afiado, pronto para nos fazer refletir sobre expectativas e companheirismo.
Nos momentos de pressão, quando as obrigações parecem exigir mais do que podemos suportar, buscamos refúgio nos lugares que trazem segurança. Buscamos a força e a energia para salvar o mundo. O mundo particular que construimos.
Às vezes só precisamos de alguém pra dividir, compartilhar. O difícil fica mais fácil. O pesado, mais leve. E a vida...Bem, essa só multiplica...
8.5
Chuck Norris vs. Comunismo
4.1 34Na Romênia comunista, vários anônimos furam o bloqueio do governo, que censurava a comunicação e informação de todo o povo, através dos filmes e da magia que podiam proporcionar em tempos de mão de ferro.
No documentário, que mescla depoimentos e reconstituições, nos deparamos com histórias interessantes e absurdas, como a dubladora Irina Nastir que dava voz a todos os personagens nos filmes ou o órgão censor que cortava uma cena em que havia uma mesa farta, visto que seria um contraste com a realidade dos romenos. Tudo para manter a ordem social.
Numa época em que um vídeo cassete custava o preço de um carro novo, a fitas VHS eram contrabandeadas como cigarros e drogas, para abastecer aqueles que só queriam embarcar nas aventuras de Chuck Norris ou se divertir com Dirty Dancing.
É lamentável ver como um pensamento político tentou restringir o acesso a cultura a milhões de pessoas. Talvez os homens no poder soubessem que um filme não é apenas um filme. Nunca foi. O cinema inspira e pode mostrar que o mundo pode ser um lugar melhor.
10.0
Por Trás dos Seus Olhos
2.9 129Gina perdeu a visão após um trágico acidente de carro, mas após uma cirurgia para restituir a função, seu casamento começa a sofrer transformações com a nova dinâmica do casal.
Protagonizado por Blake Lively, "Por trás dos seus olhos" flerta com o suspense, mas na verdade é um drama sobre como enxergamos o outro e a dualidade entre a paz de uma situação familiar ou a insegurança das mudanças.
Gina dependia do afetuoso marido, que não media esforços para trazer um pouco de luz para sua vida, mas quando ela volta a ver as cores do mundo, nem tudo coincidiu com as imagens que ela criou na mente. Por outro lado, James (Jason Clarke) se ressente ao ver a independência da esposa e passa a ter medo de não se encaixar mais na relação.
A direção de Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca) acerta quando aborda a tristeza solitária do casal, mas erra ao exagerar em algumas cenas que possuem um tom mais caricato.
Quando a felicidade de duas pessoas entra em rota de colisão é a hora de reavaliar o que nos faz feliz.
7.5
A Síndrome de Berlim
3.2 165 Assista AgoraDurante uma rápida passagem pela Alemanha, a mochileira Clare (Teresa Palmer) encontra o jovem professor alemão Andi (Max Riemelt), por quem se sente atraída, mas o que deveria ser um rápido romance de viagem torna-se um pesadelo quando ela é forçada a ficar presa no apartamento do affair.
Diferente da síndrome de Estocolmo, em que a vítima cria afeição por seu raptor, em "A Síndrome de Berlin", o carinho inicial se transforma em pavor pelo cárcere privado.
O roteiro explora os conflitos e o filme não tem pressa em resolver a história. Teresa Palmer transmite a angustia que pede o papel, mas o grande destaque está na figura controversa do antagonista.
Andi é refém dos próprios sentimentos. É um homem que perdeu pessoas queridas e tem dificuldade em lidar com essas emoções. Provavelmente, é a origem da psicopatia do personagem, que foge do clichê bidimensional do gênero.
Nos cativeiros da vida, por vezes somos os guardiões das chaves que fecham as portas atrás de nós. Criamos celas, prisões à prova de fugas, mas nunca à prova de sentimentos.
Que possamos sempre escolher a liberdade de ficar ou seguir em frente.
7.8
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível
3.9 457 Assista AgoraSeguindo a mais nova tendência das adaptações, a Disney põe nas telas a versão em live action do Ursinho Pooh. "Christopher Robin" se revela uma adocicada fábula sobre a importância que damos as coisas e as pessoas a nossa volta, e também sobre a maneira como gastamos o nosso tempo.
Ewan MacGregor, dá vida ao ocupado Christopher Robin, que quando criança criou fortes laços com os amigos de pelúcia que acompanhavam as aventuras da infância, em especial o urso Pooh, mas que na vida adulta coloca a família em segundo plano para se dedicar às exigências do trabalho.
Após um inesperado reencontro, Christopher embarca numa viagem ao lado de Pooh para descobrir onde os antigos amigos se esconderam.
Dirigido por Marc Forster ("Em Busca da Terra do Nunca"), o filme emociona quando aposta na interação do protagonista com o ursinho falante, mas tem alguns problemas de ritmo e sofre pela falta de relevância dos coadjuvantes. O roteiro segue uma linha previsível e os diálogos do terço final exageram na simplicidade. Apesar desses apontamentos, a mensagem transmitida pode te deixar com os olhos marejados.
Crescer e assumir as responsabilidades de gente grande não é fácil. Vivemos numa longa corda bamba tentando equilibrar o presente pensando no futuro. Por vezes, para não cair precisamos olhar para o passado e lembrar da nossa versão mais leve e descompromissada. Dos tempos em que os sonhos não tinham preço e dependeriam apenas da vontade de seguir. Definir a importância que cada elemento ao nosso redor precisa receber pode ser o caminho para não esquecermos o que nos motiva sonhar. Talvez seja preciso se perder para se achar, e na vida agitada e corrida que levamos devemos reservar um tempo para o nada. Pois no nada podemos fazer tudo que queremos e não há nada melhor do que não fazer nada com aqueles que queremos bem.
7.5
Calibre
3.4 327 Assista AgoraDois amigos vão para um pequeno vilarejo passar um final de semana bebendo e caçando cervos, mas um acidente coloca os jovens em rota de colisão com os habitantes da região.
Calibre é uma crônica de uma tragédia anunciada. Desde o princípio já sabemos que aquela viagem não acabará bem para os amigos e o filme cria uma atmosfera tensa que nos deixa apreensivos. Chega a incomodar ver como uma fatalidade e a dificuldade em lidar com a situação pode transformar vidas de maneira irreversível.
As atuações ajudam a sentirmos o drama dos personagens e a história vai alimentando a tensão que culmina com um desfecho impactante, mas que pode decepcionar quem espera por grandes reviravoltas.
Diário de uma Paixão
4.1 2,6K Assista AgoraInspirado no livro The Notebook, do escritor Nicholas Sparks, Diário de uma Paixão é um romance que consegue controlar o nível de açúcar da produção, mesmo revisitando em partes, o eterno drama shakespeariano de Romeu e Julieta.
Na historia, um senhor conta para a colega no lar de idosos, sobre um romance vivido na década de 40 entre o jovem Noah e Allie. O amor do casal é colocado à prova pela oposição dos pais da garota, pela guerra e pelo tempo.
Com o sucesso relativo da produção a carreira do protagonista Ryan Gosling foi alçada a outro patamar. O carisma que emprestou ao introspectivo Noah cativou Allie e o público. Rachel McAdams representa bem a transição da jovem obediente para a mulher que segue suas vontades.
Tal como o amor retratado em tela, o filme vem crescendo e resistindo ao tempo.
O drama do casal que é separado pelas circunstâncias da vida é atemporal. Viver sob a sombra do que poderia ter sido, é pior do que sofrer as consequências de uma escolha errada. Se é que há escolha errada.
Boas histórias precisam ser revisitadas sempre. Como um bom livro, filme ou uma boa música, que nos desperta do transe, numa espécie de gatilho, para reviver as lembranças e não nos deixar esquecer que tudo valeu a pena. Em tempos de separações recorrentes e uniões frágeis, torcer pela vitória de um sentimento verdadeiro é manter viva a esperança que a cerca branca se manterá de pé.