Quando a professora de Inglês Thamara convoca os pais do pequeno Gustavo para discutir o comportamento estranho do garoto uma tensa conversa tem início. A partir dessa premissa "Volume Morto" (2019), produção nacional com Julia Rabello e Fernanda Vasconcelos (ótimas), provoca o espectador e põe o dedo na ferida.
A trama é quase que exclusivamente filmada dentro da sala de aula onde a longa discussão acontece. Essa decisão trouxe um tom claustrofóbico, de clausura que nos deixa ainda mais tensos porque a sensação é de que algo muito ruim está para acontecer. Basta um pensamento mal explicado ou uma palavra mal colocada. A pauta de colocar professores e pais em lados opostos infelizmente me parece um retrato bem atual. As crianças tem cada vez menos espaço nas agendas superlotadas dos pais, que delegam toda responsabilidade sobre a educação e atenção à escola, numa espécie de terceirização de uma competência intransferível. E quando algo não vai bem e a conversa torna-se inevitável, o professor torna-se o portador de más notícias, incompetente em sua função, que desperdiça o valioso tempo do papai e da mamãe. Por esses pecados ela merece ser punida. Para os pais o prejuízo é evidente e o dinheiro pago em caras mensalidades requer plena satisfação. É aí que entra a dona do comércio, a diretora do colégio. O cliente tem sempre razão, não é verdade?! A criança é a cifra, o tempo desperdiçado, é aquela que abre a boca, mas não fala...ou não é ouvida. E de quem é a responsabilidade? O papai e a mamãe poderiam responder, mas o celular tocou e não pára de chegar mensagem no Whatsapp. Gustavinho fica pra depois...
Numa época que o cinema de terror era visto como um gênero menor, ou marginalizado por boa parte da crítica especializada, Roman Polanski decide adaptar o livro de Ira Levin, "O Bebê de Rosemary" (1968). Para dar mais respaldo a produção, Polanski trouxe Mia Farrow e John Cassavetes. O filme inclusive acabou com o casamento de Mia com Frank Sinatra, após a atriz recusar a participação em um filme do marido para filmar com Polanski. A decisão profissional foi acertada visto que o longa de terror impulsionou a carreira da atriz e rendeu elogios.
O roteiro escrito pelo diretor fez um excelente trabalho de adaptação da obra literária. Li o texto de Ira Levin e posso afirmar que o filme é praticamente o livro em sua fidelidade na tela. A historia versa sobre um jovem casal que acaba de se mudar para um charmoso apartamento em Nova York. O lugar também é cercado por um histórico de eventos macabros, mas isso não tornou o endereço menos cobiçado. Guy é um ator em busca de oportunidades e reconhecimento, e Rosemary, uma jovem que deixou a família para viver os sonhos de construir a própria história na cidade grande. Logo após a mudança, são agraciados com a hospitalidade efusiva dos vizinhos e em seguida uma onda de boas notícias invade a vida do casal. Guy passa a receber convites profissionais e Rosemary descobre a gravidez. A partir desse ponto acompanhamos uma série de situações estranhas, nunca explícitas, mas suspeitas que vão deixando a protagonista desconfiada que ela e seu bebê fazem parte de algo sombrio.
Não recorrer a sustos genéricos, litros de sangue ou ao horror gráfico fazem de "O Bebê de Rosemary" um filme fora da curva. O terror é totalmente psicológico, mas não menos assustador. Toda tensão é gerada pela expectativa, pelas suspeitas e pela iminência de algo ruim acontecer. A interpretação de Mia Farrow é espetacular e o papel de John Cassavetes é daqueles que nos deixa revoltados com a canalhice do personagem.
O reconhecimento do longa veio imediatamente e acabou abrindo portas para produções caprichadas que levaram o gênero para outro patamar frente aos críticos, como foi o caso de "O Exorcista" (1973) e "A Profecia" (1976). Sua influência no cinema ainda pode ser sentida e se tornou modelo comparativo quando um novo filme aposta no horror mais focado no ritmo lento, voltado a psique humana. Sem dúvida, um marco para o Terror Cinematográfico que se mantém intocável entre os melhores do gênero.
10.0
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Quando os diretores e amigos Robert Rodriguez e Quentin Tarantino decidiram compartilhar o projeto "Grindhouse" para homenagear as antigas sessões duplas de filmes de terror B dos anos 70, a ideia pareceu bastante promissora. Entretanto, na prática as coisas não andaram tão bem assim e a investida ficou bem aquém da qualidade artística dos envolvidos e não foi bem recebida pelo público. Durante o "Especial Quentin Tarantino", que você pode encontrar no feed, já relatei minhas impressões sobre "À Prova de Morte" (2007), segmento do motorista louco que coube à Tarantino. Agora é a vez de falarmos sobre "Planeta Terror" (2007), o filme trash de zumbis assinado por Robert Rodriguez.
Para participar da brincadeira sanguinolenta Rodriguez convocou Rose MacGowan, Josh Brolin, Bruce Willis e uma dúzia nomes facilmente reconhecidos por pequenos papéis em outras produções de Hollywood. A trama coloca um grupo de pessoas em meio à um apocalipse zumbi e conspirações militares. Repleto de gore e esteticamente calculado para emular aqueles filmes de baixo orçamento, muita criatividade e sequências absurdas, "Planeta Terror" diverte em boa parte de sua projeção. Certamente você vai rir dos exageros, das frases de efeito e das caricaturas.
Entretanto Rodriguez, na ânsia pela homenagem, cometeu alguns equívocos. Ao meu ver, há um excesso de personagens que tira o foco daqueles que poderiam render mais, como por exemplo o casal de médicos e a Go Go Dancer. O diretor também não traça um bom antagonista, que só aparece no início e no fim, além de exagerar o exagero. Se é que vocês me entendem. Os filmes de terror da década de 70, alvo da referência de "Planeta Terror" tinham inúmeras situações absurdas, que desafiavam a lógica do mundo real, mas por algum motivo o espectador acreditava que aquilo era possível. Talvez porque seus realizadores inseriam aquelas tomadas com a crença na melhor experiência de seu público. Já no filme de Rodriguez é nítida a intenção da paródia e isso nos tira totalmente da história.
Ainda assim, "Planeta Terror" é um produto mais absorvido pela "brincadeira" proposta pelo projeto "Grindhouse". Diferente de Tarantino, que fez questão de deixar clara sua assinatura, Rodriguez estava imbuído na obra e não no autor.
6.5
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squeça "Um Lobisomem Americano em Londres". "Dog Soldiers: Cães de Caça" (2002) é o melhor filme de Lobisomem que você vai ver e sem dúvida o mais divertido.
Durante um treinamento na floresta, um grupo de soldados ingleses se depara com criaturas sedentas por sangue. Os Lobisomens, responsáveis por chacinar outra equipe militar, cercam os britânicos que buscam refúgio numa casa isolada tentando sobreviver até o nascer do sol.
Em "Dog Soldiers" não veremos grandes cenas de transformação de homens em lobos pois a aposta da produção é na adrenalina e dinâmica entre caça e caçador. Os efeitos práticos são usados com sabedoria e assustam. As criaturas foram desenhadas com alta estatura, postura quase ereta e capricho no semblante aterrorizante. Em pelo menos 90% das aparições elas convencem bem. As sequências de ação vêm com boas doses de gore, sem economizar no sangue. O roteiro traz uma ou outra surpresa, mas sua maior virtude é criar o clima de perigo no ambiente fechado da casa, onde ameaça pode vir tanto de fora quanto de dentro.
Não espere até a próxima noite de luz cheia e vá conferir "Dog Soldiers"!
9.0
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Na comédia romântica "Palm Springs", Nyles, acompanhando a namorada a contragosto em um casamento, encontra Sarah, a irmã da noiva. Visivelmente chateada na cerimônia ela se envolve com Nyles para fugir da festa, mas aquele dia parece não ter fim.
"Palm Springs" é o tipo de filme que quanto menos você souber da trama, mais aproveitará. Assim, te aconselho a assistir o filme e só então voltar aqui para ler a resenha. Aviso dado, vamos a ela.
Após ouvir muitos elogios à esse lançamento de 2020, segui as recomendações que acabei de dar e fui conferir sem muitas informações sobre o enredo. Tive a grata surpresa do mote da viagem no tempo, mas a história do dia que se repete para que seus personagens aprendam a valorizar as pequenas coisas, se arrependam de antigas posturas e encontrem sua redenção não é lá uma grande novidade. Quem já viu o excelente "Feitiço do Tempo", estrelado por Bill Murray, sabe.
Felizmente "Palm Springs" tem suas próprias virtudes, a começar pela dupla principal do elenco. Andy Samberg, conhecido pela série de comédia "Brooklyn 99", e Cristin Milioti, facilmente reconhecida pelos fãs de "How I Met Your Mother". Samberg acerta no tom fazendo graça sem apelar para o pastelão ou o pedantismo. Ele consegue se encaixar em um meio termo perfeito para o papel, intercalando piadas e momentos mais pessoais, como aquele palhaço que tenta em vão esconder a lágrima. Já Milioti é aquela atriz que a gente quer guardar numa caixinha. Vinda do teatro, ela guarda uma certa melancolia em cada papel interpretado, que provoca imediata empatia com o espectador. Foi assim na série "How I Met Your Mother" (Aquele final é imperdoável!), no episódio de "Modern Love" que participou, e agora como a irmã da noiva em "Palm Springs". Seus olhos expressivos é quase a versão live action da expressão hipnotizante do Gato de Botas dos filmes da franquia "Shrek".
O roteiro não enrola muito, diverte, emociona e reserva um pequeno plot twist. Mesmo não compartilhando da demasiada empolgação de outros críticos, vejo em "Palm Springs" uma boa opção para os dias em que tudo que você deseja é um filme good vibes.
8.0
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Com forte influência da antiga série de TV "Além da Imaginação", que trazia contos de ficção científica e tramas fantásticas, "A Vastidão da Noite" (2020) estreou no streaming da Amazon Prime Vídeo chamando atenção do público.
Ambientada nos anos 50, em uma pequena cidade dos Estados Unidos, o filme inicia exatamente como um programa de TV a contar uma história extraordinária de contatos alienígenas e abdução. O longa se passa inteiramente a noite durante um evento esportivo colegial quando um jovem radialista e sua amiga que trabalha no centro de telecomunicações captam um estranho som que eles suspeitam se tratar de mensagens extraterrestres. "A Vastidão da Noite" tem roteiro enxuto, sem sobras, que aproveita bem seus personagens no meio do clima de nostalgia, suspense e mistério. Há um senso de urgência contínuo e a tensão para descobrir a veracidade de um possível contato alienígena nos deixa apreensivo. A situação fica ainda mais interessante quando pequenas doses de terror são acrescidas em uma breve, mas assustadora sequência que envolve uma carona pouco amigável. Mas se você não curte filmes de terror não se preocupe que "A Vastidão da Noite" segue mais a linha de suspense e ficção científica do que horror espacial. Sem dúvida alguma o filme já está entre as melhores opções do catálogo da Amazon Prime Vídeo.
9.0
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Como o subtítulo já indica "Ruas de Fogo" é uma grande fábula Rock N Roll, situada numa realidade que mistura a moda dos anos 50 e o visual colorido meio cafona da década de 80. O filme atualmente é muito lembrado pela trilha sonora poderosa que inclui hits como "Nowhere Fast" e "Tonight Is What Means To Be Young", mas é bem mais do que canções inesquecíveis. Na trama Tom Cody (Michael Paré) retorna a sua cidade natal e descobre que a ex-namorada Ellen Aim (Diane Lane), uma cantora em ascensão, foi sequestrada por uma gangue de motoqueiros liderada por Raven (Willem Dafoe). Inicialmente Tom parece não se importar, mas a pedido de sua irmã ele aceita o pagamento do empresário e atual namorado de Ellen e parte para resgatar a cantora.
Michael Paré nunca foi um Al Pacino e Diane Lane em início de carreira não impressionou a crítica especializada, mas dentro do universo paralelo criado pelo diretor Walter Hill é possível comprar aqueles personagens cheios de estilo. Daquele elenco podemos dizer que apenas Dafoe e Bill Paxton, que faz um pequeno papel, vingaram com trabalhos mais relevantes no cinema. Porém "Ruas de Fogo" não se transformou em um filme cult, com uma legião de fãs por suas qualidades técnicas. Uma produção que junta duas eras musicais emblemáticas, intercala cenas de ação com clipes de Diane Lane mandando aquele playback empolgado, o herói silencioso de sobretudo e suspensórios caipira, Rick Morranis interpretando o panaca de sempre e Willlen Dafoe vestindo um macacão de látex e gel no cabelo já nasceu cool! Entretanto a cereja no bolo é a briga de marretas no clímax do filme. Mais old school que isso só a corrida de trator em "Footlose".
9.0
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Talvez "Prelúdio Para Matar" seja o grande trabalho da carreira do diretor Dario Argento, mesmo que "Suspiria" receba mais atenção. Esse típico giallo, suspense italiano em que temos um assassino oculto perfilando vítimas, é um primor técnico, de narrativa eficaz e desfecho sagaz. O enredo traz um pianista que acaba presenciando o assassinato de uma sensitiva e a partir daí passa a investigar o crime em busca do culpado. "Prelúdio Para Matar" é um filme que requer sua atenção do início ao fim tanto pelos detalhes da trama quanto pela beleza de sua fotografia. Argento capricha nos enquadramentos e faz um sublime uso das cores fortes. Alguns planos mereciam molduras. A trilha sonora também se destaca e marca a primeira parceria entre o diretor e a banda de rock progressivo Goblin.
O título original, "Profondo Rosso", evidencia melhor a aura do longa. Um vermelho profundo de sangue, mortes e suspense.
9.5
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A conclusão da Trilogia Baztan, produção espanhola presente no catálogo da Netflix, deixa um sabor bem menos palatável do que poderia ser. Essa foi a tônica da trilogia, que ao misturar suspense e flertar com o sobrenatural desperdiçou o plot principal e personagens interessantes. Neste terceiro ato da investigação iniciada em "O Guardião Invisível" (2017), a investigadora Amaia descobre detalhes dos rituais macabros de sua cidade natal e a morte de bebês utilizados como oferendas. Da metade para o final o longa se rende aos clichês dos thrillers policiais, brinca de "Silêncio dos Inocentes" (1991) e falha miseravelmente em surpreender o espectador com a revelação de uma importante figura por trás dos crimes. Fernando González Molina, o diretor, mostrou tremenda falta de habilidade em trabalhar o mistério, a história e seus personagens. Uma ótima carro nas mãos de um motorista recém habilitado.
5.5
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A segunda parte da Trilogia Baztan, "Legado nos Ossos" (2019), traz de volta a inspetora Amaia Salazar a cidade onde cresceu, no interior da Espanha. Dessa vez ela retorna, ao lado do marido e de seu filho recém nascido, para investigar mais uma série de assassinatos que aparenta guardar relação com os crimes vistos em "O Guardião Invisível" (2017). A trama se aprofunda no plot que envolve bruxaria, mas continua sem desenvolver suas ideias principais, mesmo contando com mais de duas horas de exibição. A relação da Inspetora com o amigo e mentor e todo o papo sobre intuição continua sem explicação, a família da protagonista poderia ser melhor explorada e possíveis interesses amorosos são insinuados sem apresentar a menor função narrativa. O suspense funciona em algumas sequências e serve para mostrar como o filme tinha potencial de ser algo maior do que se provou. A ambientação continua bacana e as atuações seguram os momentos de tensão. Amaia, a irmã mais velha, a tia e a mãe são ótimas personagens. Mais desenvolvimento para elas faria muito bem ao filme. Insistente, sigo para a terceira parte da Trilogia esperançoso que os elementos que parecem jogados até então façam sentido quando analisados dentro de um único filme de três segmentos.
7.0
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"De Olhos Bem Fechados" (1999) é o último filme do consagrado Stanley Kubrick. O diretor de "O Iluminado" e "Laranja Mecânica" faleceu poucos dias após entregar o derradeiro filme concluído. Sua produção durou espantosos 400 dias de filmagens e contou com o casal do momento Tom Cruise e Nicole Kidman nos papéis principais. O roteiro explora fantasias, sexualidade e a suposta sensação de controle que ilude os homens. Bill (Cruise) é um médico bem sucedido, casado com Alice (Kidman) e pai da pequena Helena. Tudo caminhava bem, até que Alice revela que quase traiu o marido em uma de suas viagens e abandonou aquilo que tinham construído juntos. Afetado com a revelação, Bill vê toda sua segurança ser abalada e ao receber uma ligação para atender um cliente descobre uma seita secreta cercada por luxúria e perigo.
Apesar das críticas negativas na época de seu lançamento, "De Olhos Bem Fechados" é um filme cheio de camadas, interpretações, que garantem boas reflexões. É para ser visto e revisto. Tecnicamente não é surpresa encontrarmos um primor na sua produção. Stanley Kubrick, famoso pelo perfeccionismo, não deixa escapar nada, por isso seus filmes são tão bonitos de se ver. As metáforas também são abundantes e cada visita ao último trabalho de Kubrick pode te fazer descobrir novas mensagens. Mas vamos falar um pouco sobre Bill. O médico inicia o filme cheio de si, assediado por belas jovens, requisitado por membros da alta sociedade e bastante seguro ao ver sua esposa sendo cortejada por outro homem. Até então, o ciúme não havia ultrapassado seu egocentrismo. Ele julgava conhecer Alice e todos seus pensamentos, mas quando fechamos os olhos os sonhos deixam os limites e a censura para trás. Alguns nunca confessados, nem ditos em voz alta. Sonhos que um dia cogitaram se tornar realidade, e quem garante que nunca poderão se tornar? Diante disso, Bill se apavora, perde sua falsa sensação de domínio sobre a relação e percebe que sua boa aparência, poder aquisitivo e prestígio social não valem muita coisa por trás das máscaras. A conversa final entre o casal é emblemática e gera bom conteúdo para discussão. Um grande filme para quebrar ilusões.
9.0
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Christian Bale é Patrick Baterman, um executivo bem sucedido de Wall Street que alterna a vida luxuosa de boates e restaurantes com assassinatos em série.
A sinopse relativamente simples envolve mais nuances que você pode imaginar. Em "Psicopata Americano" (2000) temos um estudo de caso bem interessante do protagonista. Narcisismo, complexo de inferioridade, carência, psicopatia e outros elementos da psicologia humana podem ser pinçadas por aqui. Patrick tem uma vida próspera, frequenta bons lugares e goza de boa aparência, mas nada disso parece deixá-lo satisfeito. Frequentemente ele se compara aos colegas de trabalho e se irrita quando um deles é mais elogiado. A comparação dos cartões de visita é simbólica no mundo daqueles homens que disputam o posto mais alto da cadeia alimentar. Porém, mesmo diante de todo o respaldo que o protagonista conquistou até ali, ainda é ignorado no Olimpo do ambiente que transita. Sempre tem alguém acima, em um nível que Patrick não pertence e isso o corrói. Nesse andar mais alto é visto com desdém e seu nome constantemente confundido. Toda essa frustração é descontada na fantasia assassina que ele desenvolve. Suas vítimas, via de regra, mendigos e prostitutas. Pessoas em condições de fragilidade que direcionam o olhar de Patrick não mais para cima. Agora, para baixo. Assim ele pode se exibir. O apartamento requintado, a cultura musical, os finos modos. Por fim ele subjuga aquelas pessoas para esconder suas fraquezas e voltar ao círculo social que não se importa nem um pouco com suas confissões. Christian Bale está excelente nessa comédia de humor negro ambientada no fim dos anos 80. A trilha sonora também é um atrativo.
9.0
*Disponível no Amazon Prime Vídeo **Acompanhem o canal " Resenha100nota Oficial" no Youtube
E se você pudesse viver em outra época qual escolheria? Saborear as intrigas palacianas da corte francesa, a era hippie de paz e amor dos anos 70, ou vivenciar e conversar com a turma de escritores e artistas famosos de outras décadas. Dentre as opções também pode escolher reviver as lembrança de um período específico de sua vida, que a saudade e o carinho nunca te deixou esquecer, seja pelos amigos ou pelos amores. É a vontade de sentir novamente o cheiro, ouvir mais uma vez a música, como se fosse a primeira vez com o frescor da novidade e o prazer a descoberta. Acho que todos, em algum momento já alimentaram esse desejo. Principalmente quando nos sentimentos tão deslocados no presente que o futuro se torna uma vista para o concreto frio e o passado é a paisagem verde e acolhedora pra onde sonhamos voltar.
Toda essa atmosfera de pertencimento, nostalgia e reconquista permeia a história do cartunista Victor que em meio à uma grande crise no casamento aceita reviver dias marcantes do ano de 1974 quando conheceu sua esposa. A viagem ao passado acontece através da empresa do amigo de seu filho, especializada em recriar épocas de acordo com o desejo dos clientes, reconstituindo ambientes, cenas e encontros, dos casuais aos determinantes, como num grande teatro.
"La Belle Époque" é um romance com suaves doses de comédia extremamente agradável de acompanhar. A trilha sonora de primeiríssima qualidade embala a nostalgia e substancia as emoções. A forma como o tempo impacta a vida de cada pessoa é significativo. Às vezes os ponteiros do relógio parecem girar num compasso mais rápido para nós ou para quem está ao nosso lado. Essa quebra de sintonia coloca um casal em tempos diferentes, épocas dissonantes. Eu não posso conversar com você no presente se ainda estou no passado, tampouco apagar o que passou te fará bem resolvida com o futuro que bate à porta. Tentando entender esse sentido jogamos o jogo de tabuleiro em que se faz necessário, vez por outra, voltar duas casas para em seguida avançar.
8.0
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Em um não tão belo dia aquele relacionamento amoroso chega ao fim e então é hora de achar o culpado, nomear bandidos e mocinhos. Mas será que é preciso?
Em "500 Dias Com Ela" (2009) Tom, um romântico declarado, se apaixona por Summer, uma jovem com pensamentos bem diferentes sobre relacionamentos, já que se mostra bem menos apegada à ideia de um compromisso engessado ou algo que lhe amarre à planos futuros. Com visões tão distintas, o namoro que começou intenso, leve e divertido foi minguando até a extrovertida Summer substituir o calor do início do romance pelo frio da indiferença. Tom, persistente no propósito de reconquistar a ex-namorada e ainda crente na felicidade do casal, repassa os dias que viveu ao lado de Summer para entender o que deu errado.
O filme dirigido por Marc Webb, lançado em 2009, divide opiniões pois parte do público coloca Summer como a namorada insensível que descarta o amor de Tom com requintes de crueldade, enquanto a outra parcela dos espectadores enxerga no rapaz uma figura extremamente carente, que transfere a responsabilidade sobre sua felicidade para outra pessoa e com isso cobra a reciprocidade desejada. Tentando analisar os dois lados da moeda, e sem o menor compromisso de estabelecer o lado certo ou errado da questão, faço a seguir as minhas considerações sobre essa comédia romântica que desconstrói, em certa medida, o romantismo clássico do cinema.
O filme começa com uma introdução bem apropriada e importante para entendermos um pouco a visão diferente que Tom e Summer têm sobre relacionamentos. E a origem de tudo vem da infância e das experiências do período. Enquanto Tom cresceu acreditando que a felicidade estava conectada a união com a pessoa predestinada, Summer, após o divórcio dos pais, desenvolveu o conceito do desapego para evitar sofrer por aquilo que pode ir embora.
Vamos retroceder ao primeiro dia. Como é bom descobrir a paixão! Coisas em comum, gostos que se cruzam, assuntos intermináveis e à primeira vista você pensa: "Meu Deus, eu passaria o resto da minha vida com ela!". Em contrapartida, o fim de uma relação é melancólico. As diferenças se acentuam, os interesses seguem caminhos opostos e o silêncio é a constante. É aí que tudo muda. Ninguém é obrigado a ficar com ninguém. Se não há mais sentido, não há porque viver acorrentado às boas lembranças sem analisar o contexto geral. O lado bom e o ruim. Ainda no início do clima entre os dois, Summer avisou Tom que dali não surgiria um compromisso sério, tampouco uma promessa de namoro, mesmo que durantes meses eles tenham vivenciado o que costumamos chamar de "namoro", mas sem nomeá-lo. Tom queria essa definição. Querer cobrar respeito à essa cláusula é mirar o impossível, visto que sentimentos não obedecem contratos ou condições. Summer tem uma aura sedutora e sempre colheu os frutos da atenção que recebia das pessoas. Ela também sabia o quanto Tom estava envolvido. Para mim, espectador, ela encarou a relação como uma temporada numa zona de conforto em que se divertia ao lado de uma pessoa bacana, que a colocava em uma posição de destaque em sua vida. (Quem não gosta de ser visto assim?) Porém, quando começou a se sentir mais cobrada para inserir o "namorado" de fato em sua vida, partiu para uma tática até certo ponto comum nos relacionamentos, esfriar o contato e tratar com indiferença até que a outra pessoa se toque que algo não vai bem e tudo acabe de uma vez. O problema é que essa artimanha não torna o desfecho natural e só transforma a imagem que irá ficar daquela história.
Após a separação, Tom "curtiu" a fossa. A ideia de perder o "amor de sua vida" e de nunca mais encontrar alguém tão especial, não o deixou entender que a vida é cíclica e constantemente nos coloca em posição de nos reinventar, pois o tempo não pára por conta de desilusões. O sol continua nascendo dia após dia, e as estações se sucedem, alternando flores, calor, folhas caídas e frio. Sempre.
Talvez, se puder apontar um grande pecado de Summer diria: "Nunca! Nunca alimente a esperança de alguém que gosta de você caso não tenha intenção de corresponder. É cruel!" Por isso, é tão incômodo ver a realidade destruir as expectativas quando Tom surge na festa na casa de Summer após ser convidado por ela e percebe que a ex-namorada está noiva. Próximo do final do filme, ao ser questionada sobre aquele convite, mesmo ciente que estava comprometida, ela responde: "Porque senti vontade!" Como falei acima, ninguém é obrigado a escrever o futuro com ninguém, mas cuidado com os sentimentos de quem gosta de você é fundamental. Empatia. Seguindo seu mantra pessoal, ela desapegou sem olhar para trás. É possível que Tom e Summer tenham se encontrado em estações diferentes, ou quem sabe um tenha cruzado o destino do outro com o único propósito de amadurecer pelo amor ou pela dor. Ele queria fazer as pessoas enxergarem a beleza que via na paisagem, mas as coisas são como são e cada um tem sua própria percepção. Uma hora alguém vai sentar ao seu lado no banco e compartilhar a mesma vista.
PS.: A trilha sonora é sensacional, assim como são todas aquelas mixtapes de relacionamentos.
10.0
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Se você gosta de suspense policiais no estilo de "Seven", provavelmente irá curtir "Morte às Seis da Tarde", produção polonesa que você encontra no catálogo da Netflix. Mas, calma, que a película de David Fincher ainda é superior.
O filme já inicia com um ritmo frenético quando corpos são encontrados em ambientes públicos marcados e mutilados pela tortura. Buscando a identidade do assassino, a investigadora Helena segue as pistas enquanto lida com um trauma do passado. Com cenas fortes e um enredo simples, mas bem desenvolvido, o longa tem mais força na primeira parte que foca na caçada ao assassino. Ao revelar a identidade do criminoso, o diretor opta por explicar da forma mais didática possível a motivação do antagonista, o que acaba tirando alguns pontos da produção por mastigar demais e subjulgar a capacidade do espectador em conectar os elementos da trama. Mesmo assim, "Morte às Seis da Tarde" funciona pela energia inicial, boa protagonista e pelo desfecho satisfatório.
8.0
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Para muita gente Chuck Norris é uma figura folclórica do cinema de ação da década de 80, mas para mim a imagem do ator transcende as brincadeiras que costumam fazer sobre sua fama de durão.
Chuck Norris me lembra meu pai. Não pela aparência ou pelas habilidade de luta. Meu "Velho" não resgatou soldados, nem ficou preso na selva vietnamita, tampouco ajudou refugiados de guerra. Porém, ele sempre alugava o novo filme de Norris para vermos durante as minhas férias quando ia visitá-lo em outro estado. Filho de pais separados, morava com minha mãe e só via meu pai praticamente duas vezes ao ano, nas férias escolares. Talvez minha paixão pelo cinema tenha começado aí. Assistindo filmes com ele, dividindo o sofá ou o tapete da sala de TV. Víamos de tudo, mas sem dúvida os filmes de ação eram os mais frequentes. Stallone, Van Damme, Schwarzenegger, Dudikoff, Bronson e...Chuck Norris.
Como o cinema não vive só de primor técnico, grandes atores e diretores renomados, as boas lembranças e as experiências daquele recorte específico da minha vida ao ver "Braddock" conferem grande valor ao longa sobre o Coronel James Braddock (Norris) lutando para sobreviver junto à seus colegas em uma prisão no Vietnã sob o comando do ditador Yin. Os eventos contados aqui antecedem a trama do primeiro filme da trilogia e funciona como uma espécie de prequel. Toda trama se passa no acampamento e segue uma sequência de torturas infligidas aos soldados americanos. O Ditador promete liberar os presos e cessar o martírio caso o Coronel Braddock aceite assinar um documento confessando que lutou por uma pátria sem honra e cometeu crimes de guerra, mas o instinto patriota não permite que o militar aceite os termos.
Seguindo o bom e velho manual oitentista do gênero, Braddock resolve a parada quase sozinho, eliminando um a um os inimigos até o combate final, no braço, com o Ditador vietnamita. Destaque para a cena que Norris mata um rato no dente.
Não é preciso dizer que "Braddock 2 - O Início da Missão" foi um sucesso da produtora Cannon, famosa por produzir filmes baratos e populares. Caso queiram saber mais sobre a Cannon, existem pelo menos dois ótimos documentários sobre ela. É preciso deixar claro também que o filme tem uma visão bem particular da guerra do Vietnã, logo, não há o menor comprometimento histórico. É diversão pura. A título de curiosidade, o guitarrista da banda Queen, Brian May, foi o compositor da trilha sonora de "Braddock 2". Só melhora! Rs.
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Trash com "T" maiúsculo, "A Bolha Assassina" (1988) completa 32 anos em plena forma.
A trama absurda sobre um meteoro que cai numa cidadezinha de interior e vai consumindo seus habitantes na forma de uma bolha que cresce a cada vítima, é um deleite para os amante do subgênero e reúne vários elementos que o torna tão gostoso de ver. A ambientação com cara de filme B, o inimigo racionalmente ridículo que o espectador compra logo de cara e todos aqueles personagens caricatos colocados em situações surreais e proferindo frases de efeito. Impossível não se divertir. "A Bolha Assassina" também inclui conspirações do governo e cientistas malvados. Os efeitos e maquiagem estão "excelentes" e condizentes com a produção. Boa sequências de morte, gore em dia e o diretor Chuck Russel (O Maskara) não poupa nem os pequenos fãs de terror. O roteiro é um caldeirão trash devidamente harmonizado por Frank Darabont. Sim, meus amigos, o mesmo cara que anos mais tarde dirigiu "Um Sonho de Liberdade" e "A Espera de Um Milagre" para o cinema e responsável pela primeira temporada de Walking Dead. Por incrível que pareça essa é uma história baseada em fatos reais ou pelo menos levemente inspirada. O primeiro longa a abordar o fato foi a produção de 1958 estrelada por Steve McQueen, mas o remake de 88 é que ficou na memória de quem acompanhava as sessões de cinema do SBT.
9.0
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Primeira parte da Trilogia Baztán, "O Guardião Invisível" é um suspense policial espanhol que mescla mistério, crimes e um toque sobrenatural. Na trama a Detetive Amaia Salazar precisa voltar a sua cidade natal para resolver o caso de um assassino em série que tem como vítimas jovens adolescentes. Como não poderia deixar de ser, Amaia precisará confrontar o próprio passado para superar traumas e resolver o crime.
O filme tem um clima sombrio bem interessante e alguns elementos apresentados no início aguça a curiosidade sobre as mortes. As informações da família de Amaia e as histórias sobre uma criatura que vigia os bosques também nos deixa intrigados e esperançosos por um filme fora da curva, daqueles que giram em torno da pergunta: "Quem matou?"
Infelizmente o diretor Fernando González Molina se perde no desenvolvimento do roteiro. Questões são levantadas, mas ficam pelo caminho como se a intenção fosse apenas plantar uma semente para colher os frutos nos filmes seguintes. O problema é que um filme deve ser analisado dentro daquilo que apresenta, e não em conceitos futuros. Logo, muitas pontas ficam soltas e soam desnecessárias para o andamento do enredo. O plot que envolve bruxaria e a entidade da floresta é um bom exemplo.
No que diz respeito ao passado da protagonista, temos informações importantes, mas incompletas. Entretanto, os flashbacks rendem uma sequência assustadora que já vale o recurso narrativo. É provável que a resolução do caso não seja o mais surpreendente. As conexões são um pouco forçadas, mas dá pra aceitar numa boa. Acredito que faltou investir mais na linha investigativa da Detetive para formar a descoberta do criminoso e seus motivos. O elenco é bom, apesar dos olhos eternamente lacrimosos de Marta Etura, que interpreta Amaia. À atriz poderia nos passar emoção, dúvida ou melancolia, sem ostentar o constante semblante de choro preso. Em breve, falaremos da segunda parte da trilogia com fé no melhor aproveitamento das ideias jogadas em "O Guardião Invisível".
7.5
*Disponível na Netflix
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Quem nunca tentou reunir a família ou os amigos, com a melhor das intenções mas as coisas não saíram conforme planejado?
Clark Griswald (Chevy Chase) só queria aproveitar o tempo com a família, viajando pelos Estados Unidos de carro até o famoso parque de diversões Walley World, porém a viagem vira uma sucessão de perrengues inimagináveis.
Dirigido por Harold Ramis (Feitiço do Tempo), com roteiro de John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado), "Férias Frustradas" é um dos melhores filmes de comédia já feito. O enredo, baseado nas lembranças de uma viagem que Hughes fez com os parentes durante a infância, funciona até hoje por ser uma história que poderia acontecer tranquilamente comigo, com você ou com algum conhecido. Assim, assistimos ora nos colocando na pele do protagonista, ora agradecendo por sermos apenas espectadores para rirmos das situações contragedoras e pelos percalços da trip. Além do texto repleto de gags engraçadíssimas, as piadas politicamente incorretas permeiam boa parte do filme. Os mais sensíveis, que tendem a problematizar o humor da época, devem manter distância. Mas caso não faça parte desse time é pouco provável que não dê boas risadas com Chevy Chase e companhia. O ator é mais um dos grandes nomes da comédia americana que surgiu no famoso programa Saturday Night Live.
"Férias Frustradas" ainda ganhou outras sequências de qualidade variável. Nenhuma tão boa quanto o original, mas mesmo assim ainda valem a conferida.
10.0
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Na década de 80 o auge dos filmes de vampiros já tinha passado há muito tempo. Desde que Bela Lugosi assustou multidões o gênero deixou de provocar interesse no público que trocou as criaturas da noite pelos assassinos mascarados dos filmes slasher. Entretanto em 1985 "A Hora do Espanto" trouxe novo frescor a figura do vampiro tornando-o cool e assim mais atrativo à audiência jovem.
O enredo nos apresenta Charley, fã de programas de terror, que descobre que o novo vizinho é um vampiro e após ser ameaçado pede auxílio à Peter Vincent, um apresentador de TV que se intitula "Caçador de Vampiros".
Em linhas gerais "A Hora do Espanto" é um terror adolescente que flerta com a comédia, mas sem perder a mão na hora de assustar. Os efeitos continuam bem competentes mesmo 35 anos depois. A aura oitotentista está intacta com muito gelo seco, estilo e neon. Chris Sarandon, que interpreta o vizinho do mal, faz bem o papel do inimigo sedutor e William Ragsdale, que não chegou a alçar voos altos em Hollywood, segura o protagonismo com eficiência. Já o personagem Peter Vincent, vivido por Roddy McDowall é uma grata homenagem aos grandes nomes do terror, Vicent Pryce, Peter Cushing e Bela Lugosi. A direção é de Tom Holland, também responsável por "Brinquedo Assassino".
"A Hora do Espanto" foi um sucesso na época de seu lançamento e hoje é considerado um cult movie importante por reacender a mitologia dos vampiros no cinema. Em 1988 ganhou uma sequência e em 2011 o remake sem graça com Colin Farrell. Fiquem como original.
9.0
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Quem aqui lembra do programa da TV Globo, "Você Decide"? Nele o espectador decidia o desfecho da história apresentada ligando para escolher entre o SIM e o Não sobre a polêmica da semana. Via de regra eram escolhas difíceis, que envolviam muitas questões éticas e morais. A sociedade se dividia e qualquer das opções envolvia algum tipo de renúncia.
Fiz toda essa introdução para falar do filme cujo final não foi decidido pelo público, mas que levantou acaloradas discussões mundo afora. Dirigido por Adrian Lyne, conhecido pelos filmes que abordam relacionamentos intensos e traições, tal como "Atração Fatal" e "Infidelidade", "Proposta Indecente" contou a história de um casal apaixonado, Diana (Demi Moore) e David (Woody Harrelson), envolto em dificuldades financeiras, que passa pelo grande dilema de aceitar ou não a proposta feita por um ricaço: Um milhão de dólares para passar uma noite com Diana.
Para muitos não existiria dilema algum. A proposta era realmente indecente, ultrajante e imoral. Algo que vem de quem detém o poder financeiro e pretende comprar o que lhe agrada aos olhos. Porém o filme de Lyne levanta outros questionamentos. O que de fato é importante em um relacionamento e o que configura a traição? O amor genuíno é capaz de superar um ato desprovido de sentimentos? Quanto mais o roteiro entra na dinâmica do casal, mais camadas são reveladas e a decisão que parecia simples assume contornos mais complexos. Sem dúvida um filme para refletir sem julgamentos apressados.
8.0
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O sucesso do longa "Pantera Negra" (2018) vai além da farta bilheteria que acumulou durante o tempo que esteve em cartaz nos cinemas. Ao saber da triste notícia do falecimento precoce de seu protagonista, o ator Chadwick Boseman, me peguei refletindo sobre o filme mais emblemático de sua carreira.
Quando o assunto é representatividade na cultura há um constante debate sobre a importância do público se sentir representado na tela e a naturalidade da mensagem transmitida para que realmente alcance o objetivo. "Pantera Negra" e Boseman tiveram extremo êxito na tarefa. Wakanda deixou de ser um país fictício para se tornar um lugar abstratamente real para muita gente, em especial para as crianças. Sejam elas jovens na idade ou no espírito. É bonito ver a identificação, o "nascimento" de um herói que espelha o espectador que há muito tempo queria participar da brincadeira se sentindo parte significante daquilo e não apenas um coadjuvante da história. Quando voltou para o papel em "Guerra Infinita" e nos minutos finais pereceu ao estalo do vilão Thanos, assim como metade dos heróis, sua partida foi uma das mais sentidas no cinema. Não foi a toa. T'Challa era o rei que o mundo precisava e ainda precisa. Justo, sábio, honrado, leal à família, amigos e seu povo, protetor e amoroso. O legado de T'Challa e Boseman ficará para sempre, não só na cultura pop, mas também no âmbito social. As pessoas descobriram Wakanda e ela não deve ser esquecida. Wakanda vive e agora seu Rei descansa no poder.
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Quando filmou "Cães Raivosos" (1974) Mario Bava já estava na reta final de sua carreira, mas antes do último suspiro no cinema o diretor entrou no pessimismo cru dos anos 70 e entregou um roadmovie sujo e impactante. O enredo de "Cães Raivosos" traz três bandidos que raptam uma mulher durante a fuga de um roubo e em seguida sequestram um homem e seu filho doente, obrigando-o a levá-los de carro até seu esconderijo. O filme de uma hora e meia se passa quase totalmente dentro do carro. O terrorismo físico e psicológico não dá trégua, e o desconforto com a situação vivida pelas vítimas é imediato. A tensão acompanha o espectador do início ao fim. "Cães Raivosos" é "O Massacre da Serra Elétrica" sobre rodas, com o tanque cheio da maldade humana. O final surpreendente só ressalta mais uma vez o brilhantismo de Bava em subverter expectativas e pegar o público de calça curta. Infelizmente o diretor não viveu para ver sua obra no cinema. O filme foi cancelado quando o produtor faliu e só foi lançado na década de 90.
8.0
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Hollywood não foi formada apenas por grandes cineasta. Algumas figuras tentaram provar que entusiasmo e força de vontade podem substituir o talento. Nessa equação o resultado nem sempre é positivo mas geram boas histórias. Esse é o caso do produtor e diretor Ed Wood Júnior, que ficou conhecido como o pior diretor de todos os tempos e responsável pela pérola, "Plano 9 do Espaço Sideral", de 1963. Especialista em trabalhar com poucos recursos e usar a criatividade para suprir as limitações no orçamento, Wood tem em sua filmografia produções B de terror e ficção científica.
Disposto a contar a história do folclórico diretor, Tim Burton realizou uma grande homenagem a Ed e prestou merecido tributo a outra lenda do cinema de horror da década de 30, Bela Lugosi. Lugosi materializou a imagem do Conde Drácula no longa de 1931, mas viu sua carreira decair junto ao gênero do terror.
A sensibilidade com que Burton conduz a cinebiografia abordando seus personagens, denota o tamanho do respeito por aquelas pessoas e pelo que elas fizeram pelo cinema. A fotografia em preto e branco do filme é irretocável. Burton brinca com as sombras e usa o contraste a seu favor. Há de se destacar também o elenco. Johnny Depp, Bill Murray, Jeffrey Jones e o maravilhoso Martin Landau (Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante).
"Ed Wood" é um dos pontos altos da carreira de Burton. Um filme nostálgico, sentimental, engraçado e acima de tudo respeitoso. Talvez esteja entre os menos badalados, mas sem dúvida está entre os melhores.
9.0
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Volume Morto
2.8 43 Assista AgoraQuando a professora de Inglês Thamara convoca os pais do pequeno Gustavo para discutir o comportamento estranho do garoto uma tensa conversa tem início.
A partir dessa premissa "Volume Morto" (2019), produção nacional com Julia Rabello e Fernanda Vasconcelos (ótimas), provoca o espectador e põe o dedo na ferida.
A trama é quase que exclusivamente filmada dentro da sala de aula onde a longa discussão acontece. Essa decisão trouxe um tom claustrofóbico, de clausura que nos deixa ainda mais tensos porque a sensação é de que algo muito ruim está para acontecer. Basta um pensamento mal explicado ou uma palavra mal colocada.
A pauta de colocar professores e pais em lados opostos infelizmente me parece um retrato bem atual. As crianças tem cada vez menos espaço nas agendas superlotadas dos pais, que delegam toda responsabilidade sobre a educação e atenção à escola, numa espécie de terceirização de uma competência intransferível.
E quando algo não vai bem e a conversa torna-se inevitável, o professor torna-se o portador de más notícias, incompetente em sua função, que desperdiça o valioso tempo do papai e da mamãe.
Por esses pecados ela merece ser punida. Para os pais o prejuízo é evidente e o dinheiro pago em caras mensalidades requer plena satisfação. É aí que entra a dona do comércio, a diretora do colégio. O cliente tem sempre razão, não é verdade?! A criança é a cifra, o tempo desperdiçado, é aquela que abre a boca, mas não fala...ou não é ouvida.
E de quem é a responsabilidade? O papai e a mamãe poderiam responder, mas o celular tocou e não pára de chegar mensagem no Whatsapp. Gustavinho fica pra depois...
8.0
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraNuma época que o cinema de terror era visto como um gênero menor, ou marginalizado por boa parte da crítica especializada, Roman Polanski decide adaptar o livro de Ira Levin, "O Bebê de Rosemary" (1968). Para dar mais respaldo a produção, Polanski trouxe Mia Farrow e John Cassavetes. O filme inclusive acabou com o casamento de Mia com Frank Sinatra, após a atriz recusar a participação em um filme do marido para filmar com Polanski.
A decisão profissional foi acertada visto que o longa de terror impulsionou a carreira da atriz e rendeu elogios.
O roteiro escrito pelo diretor fez um excelente trabalho de adaptação da obra literária. Li o texto de Ira Levin e posso afirmar que o filme é praticamente o livro em sua fidelidade na tela.
A historia versa sobre um jovem casal que acaba de se mudar para um charmoso apartamento em Nova York. O lugar também é cercado por um histórico de eventos macabros, mas isso não tornou o endereço menos cobiçado.
Guy é um ator em busca de oportunidades e reconhecimento, e Rosemary, uma jovem que deixou a família para viver os sonhos de construir a própria história na cidade grande.
Logo após a mudança, são agraciados com a hospitalidade efusiva dos vizinhos e em seguida uma onda de boas notícias invade a vida do casal. Guy passa a receber convites profissionais e Rosemary descobre a gravidez.
A partir desse ponto acompanhamos uma série de situações estranhas, nunca explícitas, mas suspeitas que vão deixando a protagonista desconfiada que ela e seu bebê fazem parte de algo sombrio.
Não recorrer a sustos genéricos, litros de sangue ou ao horror gráfico fazem de "O Bebê de Rosemary" um filme fora da curva. O terror é totalmente psicológico, mas não menos assustador.
Toda tensão é gerada pela expectativa, pelas suspeitas e pela iminência de algo ruim acontecer.
A interpretação de Mia Farrow é espetacular e o papel de John Cassavetes é daqueles que nos deixa revoltados com a canalhice do personagem.
O reconhecimento do longa veio imediatamente e acabou abrindo portas para produções caprichadas que levaram o gênero para outro patamar frente aos críticos, como foi o caso de "O Exorcista" (1973) e "A Profecia" (1976).
Sua influência no cinema ainda pode ser sentida e se tornou modelo comparativo quando um novo filme aposta no horror mais focado no ritmo lento, voltado a psique humana.
Sem dúvida, um marco para o Terror Cinematográfico que se mantém intocável entre os melhores do gênero.
10.0
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Planeta Terror
3.7 1,1KQuando os diretores e amigos Robert Rodriguez e Quentin Tarantino decidiram compartilhar o projeto "Grindhouse" para homenagear as antigas sessões duplas de filmes de terror B dos anos 70, a ideia pareceu bastante promissora. Entretanto, na prática as coisas não andaram tão bem assim e a investida ficou bem aquém da qualidade artística dos envolvidos e não foi bem recebida pelo público.
Durante o "Especial Quentin Tarantino", que você pode encontrar no feed, já relatei minhas impressões sobre "À Prova de Morte" (2007), segmento do motorista louco que coube à Tarantino. Agora é a vez de falarmos sobre "Planeta Terror" (2007), o filme trash de zumbis assinado por Robert Rodriguez.
Para participar da brincadeira sanguinolenta Rodriguez convocou Rose MacGowan, Josh Brolin, Bruce Willis e uma dúzia nomes facilmente reconhecidos por pequenos papéis em outras produções de Hollywood.
A trama coloca um grupo de pessoas em meio à um apocalipse zumbi e conspirações militares.
Repleto de gore e esteticamente calculado para emular aqueles filmes de baixo orçamento, muita criatividade e sequências absurdas, "Planeta Terror" diverte em boa parte de sua projeção. Certamente você vai rir dos exageros, das frases de efeito e das caricaturas.
Entretanto Rodriguez, na ânsia pela homenagem, cometeu alguns equívocos. Ao meu ver, há um excesso de personagens que tira o foco daqueles que poderiam render mais, como por exemplo o casal de médicos e a Go Go Dancer. O diretor também não traça um bom antagonista, que só aparece no início e no fim, além de exagerar o exagero. Se é que vocês me entendem. Os filmes de terror da década de 70, alvo da referência de "Planeta Terror" tinham inúmeras situações absurdas, que desafiavam a lógica do mundo real, mas por algum motivo o espectador acreditava que aquilo era possível. Talvez porque seus realizadores inseriam aquelas tomadas com a crença na melhor experiência de seu público. Já no filme de Rodriguez é nítida a intenção da paródia e isso nos tira totalmente da história.
Ainda assim, "Planeta Terror" é um produto mais absorvido pela "brincadeira" proposta pelo projeto "Grindhouse". Diferente de Tarantino, que fez questão de deixar clara sua assinatura, Rodriguez estava imbuído na obra e não no autor.
6.5
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Dog Soldiers: Cães de Caça
3.5 209 Assista Agorasqueça "Um Lobisomem Americano em Londres". "Dog Soldiers: Cães de Caça" (2002) é o melhor filme de Lobisomem que você vai ver e sem dúvida o mais divertido.
Durante um treinamento na floresta, um grupo de soldados ingleses se depara com criaturas sedentas por sangue. Os Lobisomens, responsáveis por chacinar outra equipe militar, cercam os britânicos que buscam refúgio numa casa isolada tentando sobreviver até o nascer do sol.
Em "Dog Soldiers" não veremos grandes cenas de transformação de homens em lobos pois a aposta da produção é na adrenalina e dinâmica entre caça e caçador. Os efeitos práticos são usados com sabedoria e assustam. As criaturas foram desenhadas com alta estatura, postura quase ereta e capricho no semblante aterrorizante. Em pelo menos 90% das aparições elas convencem bem. As sequências de ação vêm com boas doses de gore, sem economizar no sangue.
O roteiro traz uma ou outra surpresa, mas sua maior virtude é criar o clima de perigo no ambiente fechado da casa, onde ameaça pode vir tanto de fora quanto de dentro.
Não espere até a próxima noite de luz cheia e vá conferir "Dog Soldiers"!
9.0
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Palm Springs
3.7 468 Assista AgoraNa comédia romântica "Palm Springs", Nyles, acompanhando a namorada a contragosto em um casamento, encontra Sarah, a irmã da noiva. Visivelmente chateada na cerimônia ela se envolve com Nyles para fugir da festa, mas aquele dia parece não ter fim.
"Palm Springs" é o tipo de filme que quanto menos você souber da trama, mais aproveitará. Assim, te aconselho a assistir o filme e só então voltar aqui para ler a resenha. Aviso dado, vamos a ela.
Após ouvir muitos elogios à esse lançamento de 2020, segui as recomendações que acabei de dar e fui conferir sem muitas informações sobre o enredo. Tive a grata surpresa do mote da viagem no tempo, mas a história do dia que se repete para que seus personagens aprendam a valorizar as pequenas coisas, se arrependam de antigas posturas e encontrem sua redenção não é lá uma grande novidade. Quem já viu o excelente "Feitiço do Tempo", estrelado por Bill Murray, sabe.
Felizmente "Palm Springs" tem suas próprias virtudes, a começar pela dupla principal do elenco. Andy Samberg, conhecido pela série de comédia "Brooklyn 99", e Cristin Milioti, facilmente reconhecida pelos fãs de "How I Met Your Mother".
Samberg acerta no tom fazendo graça sem apelar para o pastelão ou o pedantismo. Ele consegue se encaixar em um meio termo perfeito para o papel, intercalando piadas e momentos mais pessoais, como aquele palhaço que tenta em vão esconder a lágrima.
Já Milioti é aquela atriz que a gente quer guardar numa caixinha. Vinda do teatro, ela guarda uma certa melancolia em cada papel interpretado, que provoca imediata empatia com o espectador. Foi assim na série "How I Met Your Mother" (Aquele final é imperdoável!), no episódio de "Modern Love" que participou, e agora como a irmã da noiva em "Palm Springs". Seus olhos expressivos é quase a versão live action da expressão hipnotizante do Gato de Botas dos filmes da franquia "Shrek".
O roteiro não enrola muito, diverte, emociona e reserva um pequeno plot twist.
Mesmo não compartilhando da demasiada empolgação de outros críticos, vejo em "Palm Springs" uma boa opção para os dias em que tudo que você deseja é um filme good vibes.
8.0
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A Vastidão da Noite
3.5 575 Assista AgoraCom forte influência da antiga série de TV "Além da Imaginação", que trazia contos de ficção científica e tramas fantásticas, "A Vastidão da Noite" (2020) estreou no streaming da Amazon Prime Vídeo chamando atenção do público.
Ambientada nos anos 50, em uma pequena cidade dos Estados Unidos, o filme inicia exatamente como um programa de TV a contar uma história extraordinária de contatos alienígenas e abdução. O longa se passa inteiramente a noite durante um evento esportivo colegial quando um jovem radialista e sua amiga que trabalha no centro de telecomunicações captam um estranho som que eles suspeitam se tratar de mensagens extraterrestres.
"A Vastidão da Noite" tem roteiro enxuto, sem sobras, que aproveita bem seus personagens no meio do clima de nostalgia, suspense e mistério. Há um senso de urgência contínuo e a tensão para descobrir a veracidade de um possível contato alienígena nos deixa apreensivo. A situação fica ainda mais interessante quando pequenas doses de terror são acrescidas em uma breve, mas assustadora sequência que envolve uma carona pouco amigável. Mas se você não curte filmes de terror não se preocupe que "A Vastidão da Noite" segue mais a linha de suspense e ficção científica do que horror espacial.
Sem dúvida alguma o filme já está entre as melhores opções do catálogo da Amazon Prime Vídeo.
9.0
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Ruas de Fogo
3.6 239 Assista AgoraComo o subtítulo já indica "Ruas de Fogo" é uma grande fábula Rock N Roll, situada numa realidade que mistura a moda dos anos 50 e o visual colorido meio cafona da década de 80.
O filme atualmente é muito lembrado pela trilha sonora poderosa que inclui hits como "Nowhere Fast" e "Tonight Is What Means To Be Young", mas é bem mais do que canções inesquecíveis.
Na trama Tom Cody (Michael Paré) retorna a sua cidade natal e descobre que a ex-namorada Ellen Aim (Diane Lane), uma cantora em ascensão, foi sequestrada por uma gangue de motoqueiros liderada por Raven (Willem Dafoe). Inicialmente Tom parece não se importar, mas a pedido de sua irmã ele aceita o pagamento do empresário e atual namorado de Ellen e parte para resgatar a cantora.
Michael Paré nunca foi um Al Pacino e Diane Lane em início de carreira não impressionou a crítica especializada, mas dentro do universo paralelo criado pelo diretor Walter Hill é possível comprar aqueles personagens cheios de estilo. Daquele elenco podemos dizer que apenas Dafoe e Bill Paxton, que faz um pequeno papel, vingaram com trabalhos mais relevantes no cinema.
Porém "Ruas de Fogo" não se transformou em um filme cult, com uma legião de fãs por suas qualidades técnicas. Uma produção que junta duas eras musicais emblemáticas, intercala cenas de ação com clipes de Diane Lane mandando aquele playback empolgado, o herói silencioso de sobretudo e suspensórios caipira, Rick Morranis interpretando o panaca de sempre e Willlen Dafoe vestindo um macacão de látex e gel no cabelo já nasceu cool!
Entretanto a cereja no bolo é a briga de marretas no clímax do filme. Mais old school que isso só a corrida de trator em "Footlose".
9.0
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Prelúdio Para Matar
4.0 255 Assista AgoraTalvez "Prelúdio Para Matar" seja o grande trabalho da carreira do diretor Dario Argento, mesmo que "Suspiria" receba mais atenção.
Esse típico giallo, suspense italiano em que temos um assassino oculto perfilando vítimas, é um primor técnico, de narrativa eficaz e desfecho sagaz.
O enredo traz um pianista que acaba presenciando o assassinato de uma sensitiva e a partir daí passa a investigar o crime em busca do culpado. "Prelúdio Para Matar" é um filme que requer sua atenção do início ao fim tanto pelos detalhes da trama quanto pela beleza de sua fotografia. Argento capricha nos enquadramentos e faz um sublime uso das cores fortes. Alguns planos mereciam molduras. A trilha sonora também se destaca e marca a primeira parceria entre o diretor e a banda de rock progressivo Goblin.
O título original, "Profondo Rosso", evidencia melhor a aura do longa. Um vermelho profundo de sangue, mortes e suspense.
9.5
*Disponível gratuitamente no YouTube
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Oferenda à Tempestade
3.2 109 Assista AgoraA conclusão da Trilogia Baztan, produção espanhola presente no catálogo da Netflix, deixa um sabor bem menos palatável do que poderia ser. Essa foi a tônica da trilogia, que ao misturar suspense e flertar com o sobrenatural desperdiçou o plot principal e personagens interessantes.
Neste terceiro ato da investigação iniciada em "O Guardião Invisível" (2017), a investigadora Amaia descobre detalhes dos rituais macabros de sua cidade natal e a morte de bebês utilizados como oferendas. Da metade para o final o longa se rende aos clichês dos thrillers policiais, brinca de "Silêncio dos Inocentes" (1991) e falha miseravelmente em surpreender o espectador com a revelação de uma importante figura por trás dos crimes.
Fernando González Molina, o diretor, mostrou tremenda falta de habilidade em trabalhar o mistério, a história e seus personagens. Uma ótima carro nas mãos de um motorista recém habilitado.
5.5
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Legado nos Ossos
3.2 141 Assista AgoraA segunda parte da Trilogia Baztan, "Legado nos Ossos" (2019), traz de volta a inspetora Amaia Salazar a cidade onde cresceu, no interior da Espanha. Dessa vez ela retorna, ao lado do marido e de seu filho recém nascido, para investigar mais uma série de assassinatos que aparenta guardar relação com os crimes vistos em "O Guardião Invisível" (2017). A trama se aprofunda no plot que envolve bruxaria, mas continua sem desenvolver suas ideias principais, mesmo contando com mais de duas horas de exibição. A relação da Inspetora com o amigo e mentor e todo o papo sobre intuição continua sem explicação, a família da protagonista poderia ser melhor explorada e possíveis interesses amorosos são insinuados sem apresentar a menor função narrativa.
O suspense funciona em algumas sequências e serve para mostrar como o filme tinha potencial de ser algo maior do que se provou. A ambientação continua bacana e as atuações seguram os momentos de tensão. Amaia, a irmã mais velha, a tia e a mãe são ótimas personagens. Mais desenvolvimento para elas faria muito bem ao filme. Insistente, sigo para a terceira parte da Trilogia esperançoso que os elementos que parecem jogados até então façam sentido quando analisados dentro de um único filme de três segmentos.
7.0
*Disponível na Netflix]
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De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista Agora"De Olhos Bem Fechados" (1999) é o último filme do consagrado Stanley Kubrick. O diretor de "O Iluminado" e "Laranja Mecânica" faleceu poucos dias após entregar o derradeiro filme concluído.
Sua produção durou espantosos 400 dias de filmagens e contou com o casal do momento Tom Cruise e Nicole Kidman nos papéis principais.
O roteiro explora fantasias, sexualidade e a suposta sensação de controle que ilude os homens.
Bill (Cruise) é um médico bem sucedido, casado com Alice (Kidman) e pai da pequena Helena. Tudo caminhava bem, até que Alice revela que quase traiu o marido em uma de suas viagens e abandonou aquilo que tinham construído juntos. Afetado com a revelação, Bill vê toda sua segurança ser abalada e ao receber uma ligação para atender um cliente descobre uma seita secreta cercada por luxúria e perigo.
Apesar das críticas negativas na época de seu lançamento, "De Olhos Bem Fechados" é um filme cheio de camadas, interpretações, que garantem boas reflexões. É para ser visto e revisto. Tecnicamente não é surpresa encontrarmos um primor na sua produção. Stanley Kubrick, famoso pelo perfeccionismo, não deixa escapar nada, por isso seus filmes são tão bonitos de se ver. As metáforas também são abundantes e cada visita ao último trabalho de Kubrick pode te fazer descobrir novas mensagens.
Mas vamos falar um pouco sobre Bill.
O médico inicia o filme cheio de si, assediado por belas jovens, requisitado por membros da alta sociedade e bastante seguro ao ver sua esposa sendo cortejada por outro homem. Até então, o ciúme não havia ultrapassado seu egocentrismo. Ele julgava conhecer Alice e todos seus pensamentos, mas quando fechamos os olhos os sonhos deixam os limites e a censura para trás. Alguns nunca confessados, nem ditos em voz alta. Sonhos que um dia cogitaram se tornar realidade, e quem garante que nunca poderão se tornar?
Diante disso, Bill se apavora, perde sua falsa sensação de domínio sobre a relação e percebe que sua boa aparência, poder aquisitivo e prestígio social não valem muita coisa por trás das máscaras.
A conversa final entre o casal é emblemática e gera bom conteúdo para discussão.
Um grande filme para quebrar ilusões.
9.0
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Psicopata Americano
3.7 1,9K Assista AgoraChristian Bale é Patrick Baterman, um executivo bem sucedido de Wall Street que alterna a vida luxuosa de boates e restaurantes com assassinatos em série.
A sinopse relativamente simples envolve mais nuances que você pode imaginar. Em "Psicopata Americano" (2000) temos um estudo de caso bem interessante do protagonista. Narcisismo, complexo de inferioridade, carência, psicopatia e outros elementos da psicologia humana podem ser pinçadas por aqui.
Patrick tem uma vida próspera, frequenta bons lugares e goza de boa aparência, mas nada disso parece deixá-lo satisfeito. Frequentemente ele se compara aos colegas de trabalho e se irrita quando um deles é mais elogiado. A comparação dos cartões de visita é simbólica no mundo daqueles homens que disputam o posto mais alto da cadeia alimentar. Porém, mesmo diante de todo o respaldo que o protagonista conquistou até ali, ainda é ignorado no Olimpo do ambiente que transita. Sempre tem alguém acima, em um nível que Patrick não pertence e isso o corrói. Nesse andar mais alto é visto com desdém e seu nome constantemente confundido.
Toda essa frustração é descontada na fantasia assassina que ele desenvolve. Suas vítimas, via de regra, mendigos e prostitutas. Pessoas em condições de fragilidade que direcionam o olhar de Patrick não mais para cima. Agora, para baixo. Assim ele pode se exibir. O apartamento requintado, a cultura musical, os finos modos. Por fim ele subjuga aquelas pessoas para esconder suas fraquezas e voltar ao círculo social que não se importa nem um pouco com suas confissões.
Christian Bale está excelente nessa comédia de humor negro ambientada no fim dos anos 80. A trilha sonora também é um atrativo.
9.0
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Belle Epoque
3.8 47 Assista AgoraE se você pudesse viver em outra época qual escolheria? Saborear as intrigas palacianas da corte francesa, a era hippie de paz e amor dos anos 70, ou vivenciar e conversar com a turma de escritores e artistas famosos de outras décadas. Dentre as opções também pode escolher reviver as lembrança de um período específico de sua vida, que a saudade e o carinho nunca te deixou esquecer, seja pelos amigos ou pelos amores. É a vontade de sentir novamente o cheiro, ouvir mais uma vez a música, como se fosse a primeira vez com o frescor da novidade e o prazer a descoberta. Acho que todos, em algum momento já alimentaram esse desejo. Principalmente quando nos sentimentos tão deslocados no presente que o futuro se torna uma vista para o concreto frio e o passado é a paisagem verde e acolhedora pra onde sonhamos voltar.
Toda essa atmosfera de pertencimento, nostalgia e reconquista permeia a história do cartunista Victor que em meio à uma grande crise no casamento aceita reviver dias marcantes do ano de 1974 quando conheceu sua esposa. A viagem ao passado acontece através da empresa do amigo de seu filho, especializada em recriar épocas de acordo com o desejo dos clientes, reconstituindo ambientes, cenas e encontros, dos casuais aos determinantes, como num grande teatro.
"La Belle Époque" é um romance com suaves doses de comédia extremamente agradável de acompanhar. A trilha sonora de primeiríssima qualidade embala a nostalgia e substancia as emoções. A forma como o tempo impacta a vida de cada pessoa é significativo. Às vezes os ponteiros do relógio parecem girar num compasso mais rápido para nós ou para quem está ao nosso lado. Essa quebra de sintonia coloca um casal em tempos diferentes, épocas dissonantes. Eu não posso conversar com você no presente se ainda estou no passado, tampouco apagar o que passou te fará bem resolvida com o futuro que bate à porta. Tentando entender esse sentido jogamos o jogo de tabuleiro em que se faz necessário, vez por outra, voltar duas casas para em seguida avançar.
8.0
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(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraTexto contem Spoilers!
Em um não tão belo dia aquele relacionamento amoroso chega ao fim e então é hora de achar o culpado, nomear bandidos e mocinhos. Mas será que é preciso?
Em "500 Dias Com Ela" (2009) Tom, um romântico declarado, se apaixona por Summer, uma jovem com pensamentos bem diferentes sobre relacionamentos, já que se mostra bem menos apegada à ideia de um compromisso engessado ou algo que lhe amarre à planos futuros. Com visões tão distintas, o namoro que começou intenso, leve e divertido foi minguando até a extrovertida Summer substituir o calor do início do romance pelo frio da indiferença. Tom, persistente no propósito de reconquistar a ex-namorada e ainda crente na felicidade do casal, repassa os dias que viveu ao lado de Summer para entender o que deu errado.
O filme dirigido por Marc Webb, lançado em 2009, divide opiniões pois parte do público coloca Summer como a namorada insensível que descarta o amor de Tom com requintes de crueldade, enquanto a outra parcela dos espectadores enxerga no rapaz uma figura extremamente carente, que transfere a responsabilidade sobre sua felicidade para outra pessoa e com isso cobra a reciprocidade desejada.
Tentando analisar os dois lados da moeda, e sem o menor compromisso de estabelecer o lado certo ou errado da questão, faço a seguir as minhas considerações sobre essa comédia romântica que desconstrói, em certa medida, o romantismo clássico do cinema.
O filme começa com uma introdução bem apropriada e importante para entendermos um pouco a visão diferente que Tom e Summer têm sobre relacionamentos. E a origem de tudo vem da infância e das experiências do período. Enquanto Tom cresceu acreditando que a felicidade estava conectada a união com a pessoa predestinada, Summer, após o divórcio dos pais, desenvolveu o conceito do desapego para evitar sofrer por aquilo que pode ir embora.
Vamos retroceder ao primeiro dia. Como é bom descobrir a paixão! Coisas em comum, gostos que se cruzam, assuntos intermináveis e à primeira vista você pensa: "Meu Deus, eu passaria o resto da minha vida com ela!".
Em contrapartida, o fim de uma relação é melancólico. As diferenças se acentuam, os interesses seguem caminhos opostos e o silêncio é a constante. É aí que tudo muda.
Ninguém é obrigado a ficar com ninguém. Se não há mais sentido, não há porque viver acorrentado às boas lembranças sem analisar o contexto geral. O lado bom e o ruim.
Ainda no início do clima entre os dois, Summer avisou Tom que dali não surgiria um compromisso sério, tampouco uma promessa de namoro, mesmo que durantes meses eles tenham vivenciado o que costumamos chamar de "namoro", mas sem nomeá-lo. Tom queria essa definição. Querer cobrar respeito à essa cláusula é mirar o impossível, visto que sentimentos não obedecem contratos ou condições. Summer tem uma aura sedutora e sempre colheu os frutos da atenção que recebia das pessoas. Ela também sabia o quanto Tom estava envolvido. Para mim, espectador, ela encarou a relação como uma temporada numa zona de conforto em que se divertia ao lado de uma pessoa bacana, que a colocava em uma posição de destaque em sua vida. (Quem não gosta de ser visto assim?) Porém, quando começou a se sentir mais cobrada para inserir o "namorado" de fato em sua vida, partiu para uma tática até certo ponto comum nos relacionamentos, esfriar o contato e tratar com indiferença até que a outra pessoa se toque que algo não vai bem e tudo acabe de uma vez. O problema é que essa artimanha não torna o desfecho natural e só transforma a imagem que irá ficar daquela história.
Após a separação, Tom "curtiu" a fossa. A ideia de perder o "amor de sua vida" e de nunca mais encontrar alguém tão especial, não o deixou entender que a vida é cíclica e constantemente nos coloca em posição de nos reinventar, pois o tempo não pára por conta de desilusões. O sol continua nascendo dia após dia, e as estações se sucedem, alternando flores, calor, folhas caídas e frio. Sempre.
Talvez, se puder apontar um grande pecado de Summer diria: "Nunca! Nunca alimente a esperança de alguém que gosta de você caso não tenha intenção de corresponder. É cruel!"
Por isso, é tão incômodo ver a realidade destruir as expectativas quando Tom surge na festa na casa de Summer após ser convidado por ela e percebe que a ex-namorada está noiva. Próximo do final do filme, ao ser questionada sobre aquele convite, mesmo ciente que estava comprometida, ela responde: "Porque senti vontade!"
Como falei acima, ninguém é obrigado a escrever o futuro com ninguém, mas cuidado com os sentimentos de quem gosta de você é fundamental. Empatia. Seguindo seu mantra pessoal, ela desapegou sem olhar para trás.
É possível que Tom e Summer tenham se encontrado em estações diferentes, ou quem sabe um tenha cruzado o destino do outro com o único propósito de amadurecer pelo amor ou pela dor.
Ele queria fazer as pessoas enxergarem a beleza que via na paisagem, mas as coisas são como são e cada um tem sua própria percepção.
Uma hora alguém vai sentar ao seu lado no banco e compartilhar a mesma vista.
PS.: A trilha sonora é sensacional, assim como são todas aquelas mixtapes de relacionamentos.
10.0
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Morte às Seis da Tarde
2.9 162 Assista AgoraSe você gosta de suspense policiais no estilo de "Seven", provavelmente irá curtir "Morte às Seis da Tarde", produção polonesa que você encontra no catálogo da Netflix. Mas, calma, que a película de David Fincher ainda é superior.
O filme já inicia com um ritmo frenético quando corpos são encontrados em ambientes públicos marcados e mutilados pela tortura. Buscando a identidade do assassino, a investigadora Helena segue as pistas enquanto lida com um trauma do passado.
Com cenas fortes e um enredo simples, mas bem desenvolvido, o longa tem mais força na primeira parte que foca na caçada ao assassino. Ao revelar a identidade do criminoso, o diretor opta por explicar da forma mais didática possível a motivação do antagonista, o que acaba tirando alguns pontos da produção por mastigar demais e subjulgar a capacidade do espectador em conectar os elementos da trama. Mesmo assim, "Morte às Seis da Tarde" funciona pela energia inicial, boa protagonista e pelo desfecho satisfatório.
8.0
*Disponível na Netflix
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Braddock 2: O Início da Missão
3.0 70 Assista AgoraPara muita gente Chuck Norris é uma figura folclórica do cinema de ação da década de 80, mas para mim a imagem do ator transcende as brincadeiras que costumam fazer sobre sua fama de durão.
Chuck Norris me lembra meu pai. Não pela aparência ou pelas habilidade de luta. Meu "Velho" não resgatou soldados, nem ficou preso na selva vietnamita, tampouco ajudou refugiados de guerra. Porém, ele sempre alugava o novo filme de Norris para vermos durante as minhas férias quando ia visitá-lo em outro estado. Filho de pais separados, morava com minha mãe e só via meu pai praticamente duas vezes ao ano, nas férias escolares.
Talvez minha paixão pelo cinema tenha começado aí. Assistindo filmes com ele, dividindo o sofá ou o tapete da sala de TV. Víamos de tudo, mas sem dúvida os filmes de ação eram os mais frequentes. Stallone, Van Damme, Schwarzenegger, Dudikoff, Bronson e...Chuck Norris.
Como o cinema não vive só de primor técnico, grandes atores e diretores renomados, as boas lembranças e as experiências daquele recorte específico da minha vida ao ver "Braddock" conferem grande valor ao longa sobre o Coronel James Braddock (Norris) lutando para sobreviver junto à seus colegas em uma prisão no Vietnã sob o comando do ditador Yin. Os eventos contados aqui antecedem a trama do primeiro filme da trilogia e funciona como uma espécie de prequel. Toda trama se passa no acampamento e segue uma sequência de torturas infligidas aos soldados americanos. O Ditador promete liberar os presos e cessar o martírio caso o Coronel Braddock aceite assinar um documento confessando que lutou por uma pátria sem honra e cometeu crimes de guerra, mas o instinto patriota não permite que o militar aceite os termos.
Seguindo o bom e velho manual oitentista do gênero, Braddock resolve a parada quase sozinho, eliminando um a um os inimigos até o combate final, no braço, com o Ditador vietnamita. Destaque para a cena que Norris mata um rato no dente.
Não é preciso dizer que "Braddock 2 - O Início da Missão" foi um sucesso da produtora Cannon, famosa por produzir filmes baratos e populares. Caso queiram saber mais sobre a Cannon, existem pelo menos dois ótimos documentários sobre ela.
É preciso deixar claro também que o filme tem uma visão bem particular da guerra do Vietnã, logo, não há o menor comprometimento histórico. É diversão pura.
A título de curiosidade, o guitarrista da banda Queen, Brian May, foi o compositor da trilha sonora de "Braddock 2". Só melhora! Rs.
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A Bolha Assassina
3.1 662 Assista AgoraTrash com "T" maiúsculo, "A Bolha Assassina" (1988) completa 32 anos em plena forma.
A trama absurda sobre um meteoro que cai numa cidadezinha de interior e vai consumindo seus habitantes na forma de uma bolha que cresce a cada vítima, é um deleite para os amante do subgênero e reúne vários elementos que o torna tão gostoso de ver.
A ambientação com cara de filme B, o inimigo racionalmente ridículo que o espectador compra logo de cara e todos aqueles personagens caricatos colocados em situações surreais e proferindo frases de efeito. Impossível não se divertir. "A Bolha Assassina" também inclui conspirações do governo e cientistas malvados.
Os efeitos e maquiagem estão "excelentes" e condizentes com a produção. Boa sequências de morte, gore em dia e o diretor Chuck Russel (O Maskara) não poupa nem os pequenos fãs de terror.
O roteiro é um caldeirão trash devidamente harmonizado por Frank Darabont. Sim, meus amigos, o mesmo cara que anos mais tarde dirigiu "Um Sonho de Liberdade" e "A Espera de Um Milagre" para o cinema e responsável pela primeira temporada de Walking Dead.
Por incrível que pareça essa é uma história baseada em fatos reais ou pelo menos levemente inspirada. O primeiro longa a abordar o fato foi a produção de 1958 estrelada por Steve McQueen, mas o remake de 88 é que ficou na memória de quem acompanhava as sessões de cinema do SBT.
9.0
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O Guardião Invisível
3.3 229 Assista AgoraPrimeira parte da Trilogia Baztán, "O Guardião Invisível" é um suspense policial espanhol que mescla mistério, crimes e um toque sobrenatural.
Na trama a Detetive Amaia Salazar precisa voltar a sua cidade natal para resolver o caso de um assassino em série que tem como vítimas jovens adolescentes.
Como não poderia deixar de ser, Amaia precisará confrontar o próprio passado para superar traumas e resolver o crime.
O filme tem um clima sombrio bem interessante e alguns elementos apresentados no início aguça a curiosidade sobre as mortes. As informações da família de Amaia e as histórias sobre uma criatura que vigia os bosques também nos deixa intrigados e esperançosos por um filme fora da curva, daqueles que giram em torno da pergunta: "Quem matou?"
Infelizmente o diretor Fernando González Molina se perde no desenvolvimento do roteiro. Questões são levantadas, mas ficam pelo caminho como se a intenção fosse apenas plantar uma semente para colher os frutos nos filmes seguintes. O problema é que um filme deve ser analisado dentro daquilo que apresenta, e não em conceitos futuros. Logo, muitas pontas ficam soltas e soam desnecessárias para o andamento do enredo. O plot que envolve bruxaria e a entidade da floresta é um bom exemplo.
No que diz respeito ao passado da protagonista, temos informações importantes, mas incompletas. Entretanto, os flashbacks rendem uma sequência assustadora que já vale o recurso narrativo.
É provável que a resolução do caso não seja o mais surpreendente. As conexões são um pouco forçadas, mas dá pra aceitar numa boa. Acredito que faltou investir mais na linha investigativa da Detetive para formar a descoberta do criminoso e seus motivos.
O elenco é bom, apesar dos olhos eternamente lacrimosos de Marta Etura, que interpreta Amaia. À atriz poderia nos passar emoção, dúvida ou melancolia, sem ostentar o constante semblante de choro preso.
Em breve, falaremos da segunda parte da trilogia com fé no melhor aproveitamento das ideias jogadas em "O Guardião Invisível".
7.5
*Disponível na Netflix
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Férias Frustradas
3.5 295Quem nunca tentou reunir a família ou os amigos, com a melhor das intenções mas as coisas não saíram conforme planejado?
Clark Griswald (Chevy Chase) só queria aproveitar o tempo com a família, viajando pelos Estados Unidos de carro até o famoso parque de diversões Walley World, porém a viagem vira uma sucessão de perrengues inimagináveis.
Dirigido por Harold Ramis (Feitiço do Tempo), com roteiro de John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado), "Férias Frustradas" é um dos melhores filmes de comédia já feito. O enredo, baseado nas lembranças de uma viagem que Hughes fez com os parentes durante a infância, funciona até hoje por ser uma história que poderia acontecer tranquilamente comigo, com você ou com algum conhecido. Assim, assistimos ora nos colocando na pele do protagonista, ora agradecendo por sermos apenas espectadores para rirmos das situações contragedoras e pelos percalços da trip.
Além do texto repleto de gags engraçadíssimas, as piadas politicamente incorretas permeiam boa parte do filme. Os mais sensíveis, que tendem a problematizar o humor da época, devem manter distância.
Mas caso não faça parte desse time é pouco provável que não dê boas risadas com Chevy Chase e companhia. O ator é mais um dos grandes nomes da comédia americana que surgiu no famoso programa Saturday Night Live.
"Férias Frustradas" ainda ganhou outras sequências de qualidade variável. Nenhuma tão boa quanto o original, mas mesmo assim ainda valem a conferida.
10.0
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A Hora do Espanto
3.6 588 Assista AgoraNa década de 80 o auge dos filmes de vampiros já tinha passado há muito tempo. Desde que Bela Lugosi assustou multidões o gênero deixou de provocar interesse no público que trocou as criaturas da noite pelos assassinos mascarados dos filmes slasher. Entretanto em 1985 "A Hora do Espanto" trouxe novo frescor a figura do vampiro tornando-o cool e assim mais atrativo à audiência jovem.
O enredo nos apresenta Charley, fã de programas de terror, que descobre que o novo vizinho é um vampiro e após ser ameaçado pede auxílio à Peter Vincent, um apresentador de TV que se intitula "Caçador de Vampiros".
Em linhas gerais "A Hora do Espanto" é um terror adolescente que flerta com a comédia, mas sem perder a mão na hora de assustar. Os efeitos continuam bem competentes mesmo 35 anos depois. A aura oitotentista está intacta com muito gelo seco, estilo e neon.
Chris Sarandon, que interpreta o vizinho do mal, faz bem o papel do inimigo sedutor e William Ragsdale, que não chegou a alçar voos altos em Hollywood, segura o protagonismo com eficiência.
Já o personagem Peter Vincent, vivido por Roddy McDowall é uma grata homenagem aos grandes nomes do terror, Vicent Pryce, Peter Cushing e Bela Lugosi.
A direção é de Tom Holland, também responsável por "Brinquedo Assassino".
"A Hora do Espanto" foi um sucesso na época de seu lançamento e hoje é considerado um cult movie importante por reacender a mitologia dos vampiros no cinema. Em 1988 ganhou uma sequência e em 2011 o remake sem graça com Colin Farrell. Fiquem como original.
9.0
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Proposta Indecente
3.3 421 Assista AgoraQuem aqui lembra do programa da TV Globo, "Você Decide"? Nele o espectador decidia o desfecho da história apresentada ligando para escolher entre o SIM e o Não sobre a polêmica da semana. Via de regra eram escolhas difíceis, que envolviam muitas questões éticas e morais. A sociedade se dividia e qualquer das opções envolvia algum tipo de renúncia.
Fiz toda essa introdução para falar do filme cujo final não foi decidido pelo público, mas que levantou acaloradas discussões mundo afora. Dirigido por Adrian Lyne, conhecido pelos filmes que abordam relacionamentos intensos e traições, tal como "Atração Fatal" e "Infidelidade", "Proposta Indecente" contou a história de um casal apaixonado, Diana (Demi Moore) e David (Woody Harrelson), envolto em dificuldades financeiras, que passa pelo grande dilema de aceitar ou não a proposta feita por um ricaço: Um milhão de dólares para passar uma noite com Diana.
Para muitos não existiria dilema algum. A proposta era realmente indecente, ultrajante e imoral. Algo que vem de quem detém o poder financeiro e pretende comprar o que lhe agrada aos olhos. Porém o filme de Lyne levanta outros questionamentos. O que de fato é importante em um relacionamento e o que configura a traição? O amor genuíno é capaz de superar um ato desprovido de sentimentos? Quanto mais o roteiro entra na dinâmica do casal, mais camadas são reveladas e a decisão que parecia simples assume contornos mais complexos.
Sem dúvida um filme para refletir sem julgamentos apressados.
8.0
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Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraChadwick Boseman
O sucesso do longa "Pantera Negra" (2018) vai além da farta bilheteria que acumulou durante o tempo que esteve em cartaz nos cinemas. Ao saber da triste notícia do falecimento precoce de seu protagonista, o ator Chadwick Boseman, me peguei refletindo sobre o filme mais emblemático de sua carreira.
Quando o assunto é representatividade na cultura há um constante debate sobre a importância do público se sentir representado na tela e a naturalidade da mensagem transmitida para que realmente alcance o objetivo. "Pantera Negra" e Boseman tiveram extremo êxito na tarefa. Wakanda deixou de ser um país fictício para se tornar um lugar abstratamente real para muita gente, em especial para as crianças. Sejam elas jovens na idade ou no espírito. É bonito ver a identificação, o "nascimento" de um herói que espelha o espectador que há muito tempo queria participar da brincadeira se sentindo parte significante daquilo e não apenas um coadjuvante da história.
Quando voltou para o papel em "Guerra Infinita" e nos minutos finais pereceu ao estalo do vilão Thanos, assim como metade dos heróis, sua partida foi uma das mais sentidas no cinema. Não foi a toa. T'Challa era o rei que o mundo precisava e ainda precisa. Justo, sábio, honrado, leal à família, amigos e seu povo, protetor e amoroso. O legado de T'Challa e Boseman ficará para sempre, não só na cultura pop, mas também no âmbito social. As pessoas descobriram Wakanda e ela não deve ser esquecida. Wakanda vive e agora seu Rei descansa no poder.
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Cães Raivosos
4.1 99 Assista AgoraQuando filmou "Cães Raivosos" (1974) Mario Bava já estava na reta final de sua carreira, mas antes do último suspiro no cinema o diretor entrou no pessimismo cru dos anos 70 e entregou um roadmovie sujo e impactante.
O enredo de "Cães Raivosos" traz três bandidos que raptam uma mulher durante a fuga de um roubo e em seguida sequestram um homem e seu filho doente, obrigando-o a levá-los de carro até seu esconderijo.
O filme de uma hora e meia se passa quase totalmente dentro do carro. O terrorismo físico e psicológico não dá trégua, e o desconforto com a situação vivida pelas vítimas é imediato. A tensão acompanha o espectador do início ao fim. "Cães Raivosos" é "O Massacre da Serra Elétrica" sobre rodas, com o tanque cheio da maldade humana.
O final surpreendente só ressalta mais uma vez o brilhantismo de Bava em subverter expectativas e pegar o público de calça curta. Infelizmente o diretor não viveu para ver sua obra no cinema. O filme foi cancelado quando o produtor faliu e só foi lançado na década de 90.
8.0
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Ed Wood
4.0 583 Assista AgoraHollywood não foi formada apenas por grandes cineasta. Algumas figuras tentaram provar que entusiasmo e força de vontade podem substituir o talento. Nessa equação o resultado nem sempre é positivo mas geram boas histórias.
Esse é o caso do produtor e diretor Ed Wood Júnior, que ficou conhecido como o pior diretor de todos os tempos e responsável pela pérola, "Plano 9 do Espaço Sideral", de 1963. Especialista em trabalhar com poucos recursos e usar a criatividade para suprir as limitações no orçamento, Wood tem em sua filmografia produções B de terror e ficção científica.
Disposto a contar a história do folclórico diretor, Tim Burton realizou uma grande homenagem a Ed e prestou merecido tributo a outra lenda do cinema de horror da década de 30, Bela Lugosi.
Lugosi materializou a imagem do Conde Drácula no longa de 1931, mas viu sua carreira decair junto ao gênero do terror.
A sensibilidade com que Burton conduz a cinebiografia abordando seus personagens, denota o tamanho do respeito por aquelas pessoas e pelo que elas fizeram pelo cinema.
A fotografia em preto e branco do filme é irretocável. Burton brinca com as sombras e usa o contraste a seu favor. Há de se destacar também o elenco. Johnny Depp, Bill Murray, Jeffrey Jones e o maravilhoso Martin Landau (Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante).
"Ed Wood" é um dos pontos altos da carreira de Burton. Um filme nostálgico, sentimental, engraçado e acima de tudo respeitoso. Talvez esteja entre os menos badalados, mas sem dúvida está entre os melhores.
9.0
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