Thelma é uma jovem que sai de casa para cursar a faculdade, mas o domínio de seus pais continua presente mesmo com a distância. Após alguns episódios de crises convulsivas, a jovem se apega a Anja, uma colega que desperta em Thelma desejos reprimidos.
Usando elementos sobrenaturais, "Thelma" (2017) é um terror recheado de metáforas, que facilmente suscitará comparações com "Carrie, a Estranha", filme de Brian de Palma, que adaptou a obra do escritor Stephen King. Dirigido por Joachim Trier, o filme é uma produção norueguesa que usa as entrelinhas para falar sobre as dificuldades de assumir as rédeas da vida e o controle do próprio destino, rompendo as cordas que prendem o espírito. Parar de negar as vontades para aceitar a natureza das coisas é fundamental para deixar a culpa de lado. Ninguém pode ser culpado pelos desejos, pois não podemos simplesmente deixar de sentir. Os pensamentos devem nos levar além e nunca aquém de quem podemos ser.
Lançado pela Netflix, "Extinção" parece, inicialmente, um filme inspirado nas ficções científica dos anos 50/60. O visual do longa é uma espécie de reimaginação de Guerra dos Mundos de 1953 que mistura sci-fi e terror. Na trama acompanhamos Peter, um homem atormentado por sonhos premonitórios, que precisa proteger a família de uma ameaça vinda do espaço.
Os efeitos especiais são modestos, mas o roteiro compensa a falta de recursos com criatividade. O filme tem um belo plot twist que subverte as expectativas e amarra os elementos apresentados até então. "Extinção" poderia ser facilmente confundido com um episódio da série "Black Mirror" ou do saudoso "Além da Imaginação". Sem sequências memoráveis ou personagens complexos, a força motriz da produção está ancorada no trabalho dos roteiristas. Tudo começa com uma boa história. O céu da Netflix acaba de ganhar uma estrela.
Dirigido e estrelado por Clint Eastwood, As Pontes de Madison é um dos maiores (se não o maior) romances do cinema. A história da dona de casa, absorvida pela rotina do casamento e do lar, que se sente revigorada pela inesperada visita de um fotógrafo, é forte, impactante, e acima de tudo, verdadeira. Meryl Streep interpreta a esposa dedicada à família, que carece de atenção e reconhecimento. A mulher é esquecida e os sentimentos adormecidos. Robert (Eastwood), o fotógrafo, volta a lente de sua câmera para Francesca e mais do que olhar, ele a enxerga. Mas o que fazer quando a paixão e as novas perspectivas de futuro entram em choque com a calma e as responsabilidades da vida que construimos até ali? Esse dilema é retratado de maneira bonita e triste. Alguém sairá despontado. Segurar uma oportunidade pode significar abrir mão de algo ou alguém. E suportar as consequências da escolha. O semáforo fica vermelho esperando por essa decisão. Seguir a paixão é tomar o caminho da mudança. É arriscar e vê que forma o amor terá quando se transformar ou se ainda será amor. O tempo dirá se os dias se perpetuarão junto com a sensação de que certas coisas só acontecem uma vez na vida.
Pela primeira vez, desde que a franquia iniciou em 1996, com Brian de Palma, um diretor retorna para dar sequência ao trabalho no comando de "Missão Impossível". Christopher McQuarrie quebrou a regra e voltou após os bons resultados de "Missão Impossível: Nação Secreta".
Encontrar um ambiente familiar e poder continuar os eventos da produção anterior são algumas das vantagens que podemos perceber em "Efeito Fallout". Ethan Hunt e sua equipe precisam agir sem a chancela do governo, depois que a CIA começa a desconfiar da fidelidade de Hunt. Disposto a recuperar ogivas nucleares, Ethan precisará confrontar um antigo inimigo para cumprir a missão.
Cruise, sempre vigoroso no papel do protagonista, mostra que tem domínio total sobre o personagem e disposição para continuar se arriscando. Praticamente um "Indiana Jones" do mundo da espionagem. A grande ameaça do longa fica por conta do incrível Sean Harris ("Prometheus") que continua exalando perigo, mesmo amarrado e sob a mira de uma arma. Rebecca Ferguson (da série "The Wihite Queen") é outra figura conhecida que volta para reprisar o papel da agente Ilsa Faust. A personagem permanece interessante, mas sinto que o roteiro foi menos generoso com ela. O rosto novo em "Efeito Fallout" fica por conta de Henry Cavill ("O Homem de Aço"), que faz o contraponto brucutu de Hunt. Cavill não compromete e entrega o esperado, mas nada marcante. Apesar do sucesso de público e crítica de "Efeito Fallout", acho "Nação Secreta" um produto mais lapidado, com um roteiro mais esperto e sem algumas bengalas narrativas, como podemos ver neste mais recente capítulo das aventuras do agente Ethan Hunt. Bom filme, mas poderia ter ido além.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota alemã, os oficiais do alto escalão nazista são levados a cidade de Nuremberg para serem julgados por seus atos à serviço de Hitler. O Julgamento de Nuremberg, que já teve uma versão em 1961, desta vez foi retratado em um filme para a Televisão em 2000, encabeçada pelo ator Alec Baldwin. Baldwin que interpreta o principal promotor do caso, Robert Jackson, que assume a tarefa de condenar os réus, para dar o necessário exemplo para o mundo. Brian Cox é Hermann Göring, grande antagonista do filme e personalidade mais importante no julgamento. O veterano ator domina o quadro em cada fala ou expressão, e rouba o protagonismo de Baldwin. Os roteiristas ainda tiveram a infeliz ideia de acrescentar uma trama romântica totalmente deslocada, envolvendo o promotor e sua assessora. As cenas reais do massacre judeu, exibidas durante o julgamento, são chocantes. A ausência de recursos sonoros na cena torna as imagens ainda mais desconfortáveis. Por mais que o assunto tenha sido explorado diversas vezes no cinema, o genocídio da segunda guerra nunca perderá a capacidade de impressionar como foi possível tudo aquilo acontecer. Em certo momento do filme, Göring, acusado de tratar os judeus como seres inferiores, questiona um oficial americano sobre a segregação racial nos Estados Unidos e até que ponto eles teriam legitimidade para julgá-lo. O julgamento de Nuremberg serviu para passar a mensagem para o mundo que os direitos humanos devem estar acima de leis e ordens. Mas será que todos aprenderam a lição?
Ainda desfrutando do prestígio pelo retumbante sucesso de O sexto Sentido, o diretor M. Night Shayamalan retomou a parceria com astro Bruce Willis e nos mostrou como nasce um herói em Corpo Fechado. Após um desastre de trem em que é o único sobrevivente, David Dunn encontra um estranho homem que lhe apresenta uma impressionante teoria para explicar o acontecido. Corpo Fechado pode ser considerado o último grande filme do diretor, que já foi considerado o novo Hitchcock (!!!), antes de embarcar numa leva de produções questionáveis a ruins, e até encontrar a redenção em Fragmentado, quando público e crítica já não apostavam mais no seu talento. Aqui, Shayamalan repetiu a dobradinha com Bruce Willis e trouxe Samuel L. Jackson para ser o contraponto do protagonista. Willis é o herói improvável no meio de uma crise familiar, que não entende a constante tristeza de seus dias. Jackson, sempre uma atração a parte, é Elijah, o homem que nasceu com "ossos de vidro". A fragilidade de seu corpo contrasta com o tom ameaçador de sua mente. O personagem busca encontrar seu lugar no mundo. Qual o propósito de sua vida? O dia precisa da noite, como a escuridão precisa da luz? Dunn e Elijah são pessoas que não encontravam sentido em suas vidas. Dunn carregava o peso de não saber quem era, e suas dúvidas o arrastavam para a melancolia. Aceitar o destino e abraçá-lo fez de Dunn, salvador e salvado. Herói de si mesmo. Quando acreditamos em nós, somos mais fortes, capazes de suportar mais do que achávamos, e descobrimos que aquela força sempre esteve lá, esperando pelo nosso despertar. Os minutos finais encerram o filme em alto nível. O clássico plot twist, que viraria marca registrada do diretor, está presente,
Quando o mundo real nos oprime de alguma forma, por vezes buscamos refúgio nas nossas paixões. Seja o escuro do cinema, as notas de uma canção, a ação frenética dos videogames, ou mesmo, o ombro de um amigo. É uma espécie de fuga para um lugar onde assumimos o protagonismo e esquecemos por um tempo as mazelas da vida. Assim como faz Wade Watts, jovem órfão que mora com a tia em uma favela, no futuro distópico do ano de 2044, onde o jogo on-line OASIS torna a vida das pessoas mais suportável ao imergirem na realidade do game. Após a morte de James Halliday, criador do jogo, inicia-se uma verdadeira caça ao tesouro em busca de um segredo escondido dentro daquele mundo virtual, em que o vencedor terá como prêmio a fortuna de Halliday e o total controle do OASIS. Baseado no livro de Ernest Cline, Jogador N°1 é uma aventura recheada de referências à cultura pop dos anos 80 e possui o DNA de Steve Spielberg, diretor do longa. O "pai" de ET - O extraterrestre e Os Goonies, volta para o terreno que o consagrou. Os jovens fugindo dos adultos malvados e problemáticos, a trilha sonora evocativa, a amizade e a nostalgia estão lá. O criador Halliday acaba funcionando como uma espécie de alter ego de Spielberg. O adulto que não se despede da criança que existe dentro dele. Que criou um jogo (filmes) como uma forma de se conectar com o mundo e com as pessoas. Uma forma de contribuir para melhorar a vida de quem está em frente a tela. O vilão, Nolan Sorrento, é o concorrente que quer enterrar a nostalgia emotiva do OASIS, para imprimir seu modelo modelo de realidade virtual, que pode ser belo tecnicamente, mas sem a bagagem emocional e transformadora de Halliday. Jogador N° 1 é um dos filmes mais divertidos dos últimos anos, além de ser um alívio. Alívio de ver um amigo voltando pra casa após uma longa viagem, pra mostrar que olhar para trás pode ser a melhor forma de caminhar para frente. Menos Nolan, mais Spielberg... Bem-vindo de volta!
Miguel é um garoto que sonha em seguir a carreira musical, mas sua família se opõe. Obstinado, ele vai até o mundos dos mortos buscar a benção de seu tataravô. Em 1995, os estúdios de animação Pixar lançaram o primeiro filme da franquia Toy Story, e sacudiram o mercado com novas técnicas animadas ao criar seus personagens e, principalmente, ao nos mostrar um novo modo de contar histórias. De lá para cá, o estúdio colecionou sucessos de críticas e bilheterias, sempre trazendo histórias lúdicas e maduras, capazes de emocionar crianças e adultos. O pequenos certamente, gostam dos queridos Nemo, Dory, Buzz, Woody, Macqueen, entre outros personagens, mas somos nós, ditos adultos, os atingidos pelo toque mágico do Estúdio. Como não se emocionar, com a introdução de Up!, em que vemos a rápida retrospectiva do jovem Carl e sua esposa Ellie fazendo planos para a vida a dois, ou com o amor de pai e filho, em Procurando Nemo? A Pixar não tem medo de tocar em assuntos delicados e trata-os de forma delicada, sensível. Viva, a vida é uma festa! não foge a regra e acerta em cheio. Os efeitos estão ótimos, a trilha sonora conta com uma bela canção, vencedora do Oscar 2018 e aprendemos um pouco mais sobre a cultura mexicana do Dia de Los Muertos. Muitas coisas são ditas em quase duas horas de projeção e mais uma vez me emocionei. Vivemos para sermos lembrados, sonhamos para sermos felizes. Viva a vida, os sonhos, mas não esqueça daqueles que te amam. Não esqueça daqueles que sempre voltarão pra você e por você. "Remember me...Recorda me...Lembre de mim..."
Dirigido por Ridley Scott, este talvez seja o melhor filme de sua carreira. O primeiro filme da franquia Alien é o concorrente mais forte para o top 1. Em Blade Runner, Ridley nos apresenta um verdadeiro noir distópico. Os elementos do gênero estão lá, a exceção da fotografia em preto e branco. O jogo de sombras, o detetive solitário, a femme fatale e a noite como cenário único são referências extremamente bem utilizadas para contar a história do caçador de andróides Rick Deckard, contratado para "retirar de circulação" os chamados replicantes, seres robóticos criados a semelhança dos homens, porém mais evoluídos e atualmente indesejáveis na Terra. Harrison Ford, sempre envolvido em grandes projetos, esbanja carisma do típico anti herói, já visto em filme como Indiana Jones e em Han Solo da franquia Star Wars, mas em Blade Runner a interpretação irrepreensível vai para conta de Rutger Hauer. Seu monólogo final já garante a qualidade do filme.
O mise en scene é perfeito. A chuva, o andróide consciente da iminente finitude, que se estabelece em um plano alto evidenciando sua superioridade perante o humano prestes a cair, e as lágrimas do ser sintético ao se dar conta que todas as coisas maravilhosas vividas se perderão com o fechar dos olhos.
"Viver com medo é uma experiência e tanto, não é? É o mesmo que ser escravo." O filme se passa no ano de 2019, em um futuro distópico. Será que o nosso presente também não é?
Auggie Pullman é um garoto que nasceu com uma deformidade facial. Depois de anos de educação doméstica, o jovem passará a vivenciar o convívio escolar com as outras crianças. Dotado de uma sensibilidade ímpar, Extraordinário toca em pontos importantes de maneira doce, as vezes lúdica, mas nunca inverossímil. Aceitação, amizade, reconhecimento e humanidade recheiam o filme, que também aborda o bullying, que ultrapassa as ações de uma criança. Júlia Roberts e Owen Wilson acertam no tom como os pais dedicados da família Pullman. Júlia é a mãe que abdica dos próprios sonhos em prol do filho. Owen é candidato a pai do ano. Suas cenas com o pequeno Auggie são delicadas e emocionantes. Izabela Vidovic faz um ótimo trabalho como a irmã mais velha que tenta balancear a solidão e a compreensão, pela falta de atenção dos pais. Jacob Tremblay, que já havia se destacado no oscarizado O Quarto de Jack, é puro carisma na pele de Auggie. Noah Jupe, como o amigo Jack transmite com delicadeza o ideal da amizade.
Quem já foi novato em uma escola, sem amigos para desbravar um novo mundo, sabe das dificuldades. O medo, a insegurança, a busca pela aceitação fazem parte do processo, que as vezes pode ser amargo até adocicar. Nesses momentos como é importante uma família atenta e disposta a ouvir e incentivar. E como são importantes as amizades. As verdadeiras amizades. Aquelas que te aceitam, te acolhem e que lutam com e por você. Até porque nunca se vence uma guerra lutando sozinho. Em algum momento na vida fomos Auggie. Em outros podemos ser Jack Will, o amigo, ou um dos membros da família Pullman. Esse exercício de empatia pode até se extender para a cadelinha Dayse, que estava sempre presente depois dos momentos difíceis. O importante é esquecer as diferenças e sentir o outro. Mais do que extraordinário, esse lindo filme é necessário.
Algumas pessoas não assistem filmes de terror porque acreditam que essas produções atraem energias ruins. Comigo acontece justamente o oposto. Recordo das férias escolares, de dormir tarde e acordar cedo vendo os lançamentos de franquias como Sexta-feira 13 e A Hora do Pesadelo. Lembro também que não sentia medo. Não por uma questão de coragem, mas por estar acompanhado dos melhores amigos. Meus irmãos mais velhos. Com eles o medo dava lugar a diversão segura. IT - A Coisa, me fez reviver esses sentimentos. A primeira parte da adaptação da obra de Stephen King é uma miscelânea de boas referências. Para contar a história do palhaço Pennywise, que assombrava as crianças da cidade de Derry, o diretor Benjamin Wallfisch não teve medo de chocar o público e trouxe elementos de Carrie - A estranha, Conta Comigo, A Garota de Rosa Shocking e A Hora do Pesadelo. Nos primeiros dez minutos já percebemos que não seríamos poupados de cenas fortes, diálogos politicamente incorretos ou insinuações barra pesada. O enredo é bem desenvolvido e o elenco infantil passa a credibilidade necessária para que nos identifiquemos com aquele grupo de "perdedores". A relação de amizade entre eles nos deixa querendo vê-los por mais tempos em tela. Destaque para o protagonista Jaeden Liebeher, Fin Wolfhard (Stranger Things), Jack Dylan Grazer e Sophia Lillis, claramente inspirada na musa dos anos 80, Molly Ringwald. O palhaço Pennywise garante bons sustos com a ajuda dos efeitos especiais e da maquiagem do personagem. Porém, o terror não surge apenas do imaginário ou sobrenatural. "Coisas" reais também podem causar calafrios. Lidar com os nosso temores pode ser a solução. Dessa vez, meus irmãos não estavam comigo. Não lembro a última vez estivemos juntos enfrentando um filme de terror, mas ao final foi como se eu pudesse ouvir o som da fita VHS rebobinando e uma energia. Nostalgia.
Após o sucesso retumbante de Guerra Infinita, a Marvel desacelera, mas continua firme e acerta em apostar novamente em uma aventura de menor escala (sem trocadilhos). Dessa vez, o Homem-Formiga une forças a Hank Pym e sua filha, Hope, para resgatar a Vespa original, Janet Van Dyne, há anos perdida no mundo quântico. Seguindo a receita do primeiro filme, essa sequência não se preocupa em estabelecer vínculos com o universo Marvel, nem utiliza outros heróis do estúdio para turbinar a bilheteria. O foco está na história e na dinâmica entre os personagens, que dão a produção um tom de aventura familiar. Paul Rudd tem o "time" perfeito para o protagonista, que mescla empatia e bravura típica dos heróis das matinês. Os coadjuvantes, por sua vez, estão em sintonia e rendem bons momentos. Desta maneira, Homem-Formiga e Vespa é diversão garantida, que passa a singela mensagem de que não importa o tamanho da ajuda que você pode oferecer a um amigo, mas sim a certeza de poder contar com você.
Calvin é um jovem escritor com dificuldade em equilibrar sua vida profissional e pessoal. Após passar por um bloqueio criativo, ele descreve em seu texto a namorada perfeita em seus atributos físicos e de personalidade. Para sua surpresa, essa idealização feminina se materializa em sua casa sob a forma da radiante Ruby, que traduz tudo que Calvin desejou. Mas nada é perfeito numa natureza humana que muda constantemente de gostos e preferências. Podemos até construir uma imagem fiel às nossas expectativas, mas como podemos buscar algo que não temos a oferecer? São "as imperfeições", que podem soar como virtudes para outra pessoa, que nos garantem individualidade e possibilidade de aprendizado. O reflexo é apenas a projeção de algo intangível. Se apegue a alguém, e não aos seus conceitos. Prefiro as falhas de algo real.
Presente em várias listas que elencam os melhores filmes da história do cinema, Ladrões de Bicicleta é um filme cruel. Lançado em 1948, no pós guerra na Itália, a produção tem como pano de fundo a recessão que o país viveu e a onda de desemprego que assolou várias famílias. No meio dessa crise está Antonio, que finalmente consegue um emprego para sustentar a família, mas para executar o serviço de colar cartazes pelas ruas de Roma ele precisa de uma bicicleta. Essa foi a condição imposta pelo empregador. Após vender os lençóis de casa, Antonio resgata a velha bicicleta da casa de penhor, mas no primeiro dia de trabalho ela é roubada. Com o emprego em risco, Antonio e seu pequeno filho, Bruno, percorrem a cidade a procura da bicicleta. Durante toda exibição do longa torcemos ansiosos pelo final feliz do protagonista, que só queria garantir o sustento de sua família, mas Ladrões de Bicicleta faz parte do chamado Neorrealismo Italiano, e a realidade, meus amigos, é mais dura do que o mais duro dos corações.
SPOILER
Ao final fica a pergunta: o que faz um ladrão? A resposta pode variar, mas a certeza é que a miséria é má conselheira.
Quem nunca pensou em voltar no tempo para corrigir os erros do passado? Efeito Borboleta toca nesse tema ao contar a história de Evan Treborn, universitário que descobre o poder de voltar no tempo, em sua versão mais jovem, para consertar os rumos da vida, mas cada mudança no passado repercute de maneira implacável no futuro. Ashton Kutcher deixa de lado as caretas das comédias bobas para investir drama em um filme, por vezes pesado e angustiante. Como o título do filme sugere, o bater de asas de uma borboleta pode provocar um furacão do outro lado do mundo. Ações e consequências. Risos e lágrimas. Encontros e desencontros. Para manter o rumo às vezes é necessário desviar o caminho. Se for preciso seguir uma nova estrada, ligue o som, sintonize "Stop Crying Your Heart" do Oasis e siga em frente.
Após um inexplicável hiato de 14 anos, finalmente chega aos cinemas a sequência de Os Incríveis. A família de heróis, sucesso em 2004, retorna para uma nova aventura e dessa vez precisam enfrentar a desconfiança do governo, que responsabiliza os mascarados pelos estragos no patrimônio público durante o combate ao crime. Forçados a sair de cena por imposição legal, a família incrível recebe uma nova chance de provar a importância dos vigilantes pelas mãos de dois irmãos milionários dispostos a melhorar a imagem dos heróis. Inferior ao primeiro longa, Os Incríveis 2 é uma aventura divertida e simpática. A Pixar, mais uma vez, mostra que está sempre atenta as transformações sociais do mundo e aborda questões interessantes de forma leve e descontraída. Helena, matriarca da família, ganha destaque na história e assume um protagonismo que chega a incomodar o ego e vaidade do Sr. Incrível, sempre acostumado a liderar o grupo. Agora ele precisa assumir o papel de pai e aprender que as grandes missões podem estar dentro de casa cuidando e educando os filhos. Dividir as atenções e obrigações ajudam a compartilhar alegrias e tristezas, da mesma forma que a confiança e o reconhecimento acolhem aquele que sai da zona de conforto para enfrentar o desafio de uma nova missão.
7.8
PS : Famosa por exibir curta-metragens antes de suas produções, a Pixar me nocauteou com o curta "Bao", que aborda metaforicamente a relação entre mães e filhos. Alerta de cisco no olho!
Dirigido por François Ozon, O Amante Duplo é mais um bom thriller psicológico na filmografia do diretor. Jogando com as noções de realidade dos personagens e do espectador, Ozon conta uma história de traumas e projeções, amparada pela interpretação hipnotizante de Marine Vacth. A atriz tem presença em cena permeada entre sensualidade e fragilidade. Seu olhar me remete a famosa frase utilizada por Machado de Assis para descrever Capitu, em Dom Casmurro: Olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Dividida pelos desejos e pela culpa, a protagonista anseia por descobrir o que se esconde sob a superfície da terra, do ventre ou do seu amante. Os espelhos, recorrentes no filme, são uma alegoria apropriada para abordar a perspectiva da personagem, porque mesmo que você mude o ângulo, o reflexo não é nada mais do que a projeção do seu olhar.
No futebol, a lembrança do Rei dos gramados assombra os talentosos jogadores que surgem a cada década. Pelé tem três Copas no currículo e ostenta mais de mil gols, por isso, tem seu lugar cativo no topo da pirâmide. Podemos traçar um paralelo com os filmes de terror. O Exorcista é quase uma unanimidade entre os aficionados como o melhor filme de terror já produzido. As cenas permanecem aterrorizando o imaginário popular há anos. A interpretação de Linda Blair como a jovem Reagan possuída pelo espírito demoníaco Pazuzu ainda é referência de medo para o cinema. Por isso, boa parte dos lançamentos do gênero que adota uma proposta mais séria, mesclando assombrações e famílias em perigo, surge sob a expectativa de ser o sucessor do clássico de William Peter Blatty (autor de O Exorcista). Assim acontece com Hereditário, filme protagonizado pela ótima Toni Collette, que apresenta as tragédias pessoais da família Graham, envolvida em mistérios que confundem o espectador sobre a origem patológica ou sobrenatural dos fenômenos. O filme acerta no primeiro terço de exibição ao estabelecer o sofrimento dos personagens e a conexão com o público. Gabriel Byrne é quem parece deslocado em atuação insossa. No segundo terço o roteiro fica indeciso entre preparar para os eventos finais e esconder o desfecho da trama. Já o final de Hereditário sobe o tom deixando de lado as insinuações em prol do terror explícito, que pode incomodar alguns. As cenas são fortes e assustam, mas o rumo da história não agradará a todos. Apesar de nos remeter a grandes filmes como O bebê de Rosemary e O Homem de Palha, Hereditário não é o novo "O Exorcista" e nem precisa ser. Não fez mil gols, mas venceu a partida!
Como diria o poetinha Vinícius de Moraes, o amor é a arte do encontro! Nessa pequena pérola de Sofia Coppola, conhecemos duas pessoas perdidas dentro de si que se encontram no outro lado do mundo. Charlotte (Scarlett Johansson) é uma jovem imersa em pensamentos, que acompanha o namorado a trabalho no Japão, mas que passa a maior tempo sozinha tentando encontrar sentido no rumo de sua vida. Bob (Bill Murray) é um veterano ator em campanha publicitária na capital japonesa, entediado com a profissão e com o longo casamento. Compartilhando o mesmo hotel, a afinidade entre os dois é instantânea, como almas que se reconhecem na correria de um mundo que não tem tempo para ouvir o que o nosso silêncio tem a dizer. Ressucitando sorrisos, um empresta ao outro a sensação de segurança, cumplicidade e familiaridade, mesmo estando tão distante de casa e das coisas que te lembram quem você é. Quando nos perdemos, acalma o coração saber que tem alguém disposto a nos achar ou quem sabe, se perder junto. A companhia necessária, que nos ajuda a achar o caminho de volta. Murray e Johansson tem a perfeita simetria, e Sofia Coppola a sensibilidade de captar o que um sussurro final representa para duas pessoas que sempre encontrarão um jeito de se reencontrar.
Thelma
3.5 342 Assista AgoraThelma é uma jovem que sai de casa para cursar a faculdade, mas o domínio de seus pais continua presente mesmo com a distância. Após alguns episódios de crises convulsivas, a jovem se apega a Anja, uma colega que desperta em Thelma desejos reprimidos.
Usando elementos sobrenaturais, "Thelma" (2017) é um terror recheado de metáforas, que facilmente suscitará comparações com "Carrie, a Estranha", filme de Brian de Palma, que adaptou a obra do escritor Stephen King.
Dirigido por Joachim Trier, o filme é uma produção norueguesa que usa as entrelinhas para falar sobre as dificuldades de assumir as rédeas da vida e o controle do próprio destino, rompendo as cordas que prendem o espírito. Parar de negar as vontades para aceitar a natureza das coisas é fundamental para deixar a culpa de lado. Ninguém pode ser culpado pelos desejos, pois não podemos simplesmente deixar de sentir. Os pensamentos devem nos levar além e nunca aquém de quem podemos ser.
Extinção
2.9 434 Assista AgoraLançado pela Netflix, "Extinção" parece, inicialmente, um filme inspirado nas ficções científica dos anos 50/60.
O visual do longa é uma espécie de reimaginação de Guerra dos Mundos de 1953 que mistura sci-fi e terror.
Na trama acompanhamos Peter, um homem atormentado por sonhos premonitórios, que precisa proteger a família de uma ameaça vinda do espaço.
Os efeitos especiais são modestos, mas o roteiro compensa a falta de recursos com criatividade.
O filme tem um belo plot twist que subverte as expectativas e amarra os elementos apresentados até então.
"Extinção" poderia ser facilmente confundido com um episódio da série "Black Mirror" ou do saudoso "Além da Imaginação". Sem sequências memoráveis ou personagens complexos, a força motriz da produção está ancorada no trabalho dos roteiristas. Tudo começa com uma boa história.
O céu da Netflix acaba de ganhar uma estrela.
As Pontes de Madison
4.2 839 Assista AgoraDirigido e estrelado por Clint Eastwood, As Pontes de Madison é um dos maiores (se não o maior) romances do cinema.
A história da dona de casa, absorvida pela rotina do casamento e do lar, que se sente revigorada pela inesperada visita de um fotógrafo, é forte, impactante, e acima de tudo, verdadeira.
Meryl Streep interpreta a esposa dedicada à família, que carece de atenção e reconhecimento. A mulher é esquecida e os sentimentos adormecidos. Robert (Eastwood), o fotógrafo, volta a lente de sua câmera para Francesca e mais do que olhar, ele a enxerga.
Mas o que fazer quando a paixão e as novas perspectivas de futuro entram em choque com a calma e as responsabilidades da vida que construimos até ali?
Esse dilema é retratado de maneira bonita e triste. Alguém sairá despontado. Segurar uma oportunidade pode significar abrir mão de algo ou alguém. E suportar as consequências da escolha. O semáforo fica vermelho esperando por essa decisão. Seguir a paixão é tomar o caminho da mudança. É arriscar e vê que forma o amor terá quando se transformar ou se ainda será amor. O tempo dirá se os dias se perpetuarão junto com a sensação de que certas coisas só acontecem uma vez na vida.
Missão: Impossível - Efeito Fallout
3.9 788Pela primeira vez, desde que a franquia iniciou em 1996, com Brian de Palma, um diretor retorna para dar sequência ao trabalho no comando de "Missão Impossível".
Christopher McQuarrie quebrou a regra e voltou após os bons resultados de "Missão Impossível: Nação Secreta".
Encontrar um ambiente familiar e poder continuar os eventos da produção anterior são algumas das vantagens que podemos perceber em "Efeito Fallout".
Ethan Hunt e sua equipe precisam agir sem a chancela do governo, depois que a CIA começa a desconfiar da fidelidade de Hunt. Disposto a recuperar ogivas nucleares, Ethan precisará confrontar um antigo inimigo para cumprir a missão.
Cruise, sempre vigoroso no papel do protagonista, mostra que tem domínio total sobre o personagem e disposição para continuar se arriscando. Praticamente um "Indiana Jones" do mundo da espionagem. A grande ameaça do longa fica por conta do incrível Sean Harris ("Prometheus") que continua exalando perigo, mesmo amarrado e sob a mira de uma arma.
Rebecca Ferguson (da série "The Wihite Queen") é outra figura conhecida que volta para reprisar o papel da agente Ilsa Faust. A personagem permanece interessante, mas sinto que o roteiro foi menos generoso com ela.
O rosto novo em "Efeito Fallout" fica por conta de Henry Cavill ("O Homem de Aço"), que faz o contraponto brucutu de Hunt. Cavill não compromete e entrega o esperado, mas nada marcante.
Apesar do sucesso de público e crítica de "Efeito Fallout", acho "Nação Secreta" um produto mais lapidado, com um roteiro mais esperto e sem algumas bengalas narrativas, como podemos ver neste mais recente capítulo das aventuras do agente Ethan Hunt. Bom filme, mas poderia ter ido além.
O Julgamento de Nuremberg
3.9 84Após o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota alemã, os oficiais do alto escalão nazista são levados a cidade de Nuremberg para serem julgados por seus atos à serviço de Hitler.
O Julgamento de Nuremberg, que já teve uma versão em 1961, desta vez foi retratado em um filme para a Televisão em 2000, encabeçada pelo ator Alec Baldwin.
Baldwin que interpreta o principal promotor do caso, Robert Jackson, que assume a tarefa de condenar os réus, para dar o necessário exemplo para o mundo.
Brian Cox é Hermann Göring, grande antagonista do filme e personalidade mais importante no julgamento. O veterano ator domina o quadro em cada fala ou expressão, e rouba o protagonismo de Baldwin. Os roteiristas ainda tiveram a infeliz ideia de acrescentar uma trama romântica totalmente deslocada, envolvendo o promotor e sua assessora.
As cenas reais do massacre judeu, exibidas durante o julgamento, são chocantes. A ausência de recursos sonoros na cena torna as imagens ainda mais desconfortáveis.
Por mais que o assunto tenha sido explorado diversas vezes no cinema, o genocídio da segunda guerra nunca perderá a capacidade de impressionar como foi possível tudo aquilo acontecer.
Em certo momento do filme, Göring, acusado de tratar os judeus como seres inferiores, questiona um oficial americano sobre a segregação racial nos Estados Unidos e até que ponto eles teriam legitimidade para julgá-lo.
O julgamento de Nuremberg serviu para passar a mensagem para o mundo que os direitos humanos devem estar acima de leis e ordens. Mas será que todos aprenderam a lição?
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista AgoraAinda desfrutando do prestígio pelo retumbante sucesso de O sexto Sentido, o diretor M. Night Shayamalan retomou a parceria com astro Bruce Willis e nos mostrou como nasce um herói em Corpo Fechado.
Após um desastre de trem em que é o único sobrevivente, David Dunn encontra um estranho homem que lhe apresenta uma impressionante teoria para explicar o acontecido.
Corpo Fechado pode ser considerado o último grande filme do diretor, que já foi considerado o novo Hitchcock (!!!), antes de embarcar numa leva de produções questionáveis a ruins, e até encontrar a redenção em Fragmentado, quando público e crítica já não apostavam mais no seu talento.
Aqui, Shayamalan repetiu a dobradinha com Bruce Willis e trouxe Samuel L. Jackson para ser o contraponto do protagonista.
Willis é o herói improvável no meio de uma crise familiar, que não entende a constante tristeza de seus dias. Jackson, sempre uma atração a parte, é Elijah, o homem que nasceu com "ossos de vidro". A fragilidade de seu corpo contrasta com o tom ameaçador de sua mente. O personagem busca encontrar seu lugar no mundo. Qual o propósito de sua vida? O dia precisa da noite, como a escuridão precisa da luz?
Dunn e Elijah são pessoas que não encontravam sentido em suas vidas. Dunn carregava o peso de não saber quem era, e suas dúvidas o arrastavam para a melancolia. Aceitar o destino e abraçá-lo fez de Dunn, salvador e salvado. Herói de si mesmo. Quando acreditamos em nós, somos mais fortes, capazes de suportar mais do que achávamos, e descobrimos que aquela força sempre esteve lá, esperando pelo nosso despertar.
Os minutos finais encerram o filme em alto nível. O clássico plot twist, que viraria marca registrada do diretor, está presente,
mas a melhor cena acontece na cozinha da casa de Dunn. Onde a cumplicidade entre pai e filho é sussurrada para guardar o segredo do eterno herói.
Como cantava David Bowie: "We can be heroes just for one day..."
Jogador Nº 1
3.9 1,4K Assista AgoraQuando o mundo real nos oprime de alguma forma, por vezes buscamos refúgio nas nossas paixões. Seja o escuro do cinema, as notas de uma canção, a ação frenética dos videogames, ou mesmo, o ombro de um amigo.
É uma espécie de fuga para um lugar onde assumimos o protagonismo e esquecemos por um tempo as mazelas da vida.
Assim como faz Wade Watts, jovem órfão que mora com a tia em uma favela, no futuro distópico do ano de 2044, onde o jogo on-line OASIS torna a vida das pessoas mais suportável ao imergirem na realidade do game.
Após a morte de James Halliday, criador do jogo, inicia-se uma verdadeira caça ao tesouro em busca de um segredo escondido dentro daquele mundo virtual, em que o vencedor terá como prêmio a fortuna de Halliday e o total controle do OASIS.
Baseado no livro de Ernest Cline, Jogador N°1 é uma aventura recheada de referências à cultura pop dos anos 80 e possui o DNA de Steve Spielberg, diretor do longa.
O "pai" de ET - O extraterrestre e Os Goonies, volta para o terreno que o consagrou. Os jovens fugindo dos adultos malvados e problemáticos, a trilha sonora evocativa, a amizade e a nostalgia estão lá. O criador Halliday acaba funcionando como uma espécie de alter ego de Spielberg. O adulto que não se despede da criança que existe dentro dele. Que criou um jogo (filmes) como uma forma de se conectar com o mundo e com as pessoas. Uma forma de contribuir para melhorar a vida de quem está em frente a tela. O vilão, Nolan Sorrento, é o concorrente que quer enterrar a nostalgia emotiva do OASIS, para imprimir seu modelo modelo de realidade virtual, que pode ser belo tecnicamente, mas sem a bagagem emocional e transformadora de Halliday.
Jogador N° 1 é um dos filmes mais divertidos dos últimos anos, além de ser um alívio. Alívio de ver um amigo voltando pra casa após uma longa viagem, pra mostrar que olhar para trás pode ser a melhor forma de caminhar para frente. Menos Nolan, mais Spielberg...
Bem-vindo de volta!
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraMiguel é um garoto que sonha em seguir a carreira musical, mas sua família se opõe. Obstinado, ele vai até o mundos dos mortos buscar a benção de seu tataravô.
Em 1995, os estúdios de animação Pixar lançaram o primeiro filme da franquia Toy Story, e sacudiram o mercado com novas técnicas animadas ao criar seus personagens e, principalmente, ao nos mostrar um novo modo de contar histórias. De lá para cá, o estúdio colecionou sucessos de críticas e bilheterias, sempre trazendo histórias lúdicas e maduras, capazes de emocionar crianças e adultos. O pequenos certamente, gostam dos queridos Nemo, Dory, Buzz, Woody, Macqueen, entre outros personagens, mas somos nós, ditos adultos, os atingidos pelo toque mágico do Estúdio. Como não se emocionar, com a introdução de Up!, em que vemos a rápida retrospectiva do jovem Carl e sua esposa Ellie fazendo planos para a vida a dois, ou com o amor de pai e filho, em Procurando Nemo?
A Pixar não tem medo de tocar em assuntos delicados e trata-os de forma delicada, sensível.
Viva, a vida é uma festa! não foge a regra e acerta em cheio. Os efeitos estão ótimos, a trilha sonora conta com uma bela canção, vencedora do Oscar 2018 e aprendemos um pouco mais sobre a cultura mexicana do Dia de Los Muertos.
Muitas coisas são ditas em quase duas horas de projeção e mais uma vez me emocionei.
Vivemos para sermos lembrados, sonhamos para sermos felizes.
Viva a vida, os sonhos, mas não esqueça daqueles que te amam. Não esqueça daqueles que sempre voltarão pra você e por você.
"Remember me...Recorda me...Lembre de mim..."
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraDirigido por Ridley Scott, este talvez seja o melhor filme de sua carreira. O primeiro filme da franquia Alien é o concorrente mais forte para o top 1. Em Blade Runner, Ridley nos apresenta um verdadeiro noir distópico. Os elementos do gênero estão lá, a exceção da fotografia em preto e branco. O jogo de sombras, o detetive solitário, a femme fatale e a noite como cenário único são referências extremamente bem utilizadas para contar a história do caçador de andróides Rick Deckard, contratado para "retirar de circulação" os chamados replicantes, seres robóticos criados a semelhança dos homens, porém mais evoluídos e atualmente indesejáveis na Terra.
Harrison Ford, sempre envolvido em grandes projetos, esbanja carisma do típico anti herói, já visto em filme como Indiana Jones e em Han Solo da franquia Star Wars, mas em Blade Runner a interpretação irrepreensível vai para conta de Rutger Hauer. Seu monólogo final já garante a qualidade do filme.
O mise en scene é perfeito. A chuva, o andróide consciente da iminente finitude, que se estabelece em um plano alto evidenciando sua superioridade perante o humano prestes a cair, e as lágrimas do ser sintético ao se dar conta que todas as coisas maravilhosas vividas se perderão com o fechar dos olhos.
"Viver com medo é uma experiência e tanto, não é? É o mesmo que ser escravo." O filme se passa no ano de 2019, em um futuro distópico. Será que o nosso presente também não é?
Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraAuggie Pullman é um garoto que nasceu com uma deformidade facial. Depois de anos de educação doméstica, o jovem passará a vivenciar o convívio escolar com as outras crianças. Dotado de uma sensibilidade ímpar, Extraordinário toca em pontos importantes de maneira doce, as vezes lúdica, mas nunca inverossímil. Aceitação, amizade, reconhecimento e humanidade recheiam o filme, que também aborda o bullying, que ultrapassa as ações de uma criança.
Júlia Roberts e Owen Wilson acertam no tom como os pais dedicados da família Pullman. Júlia é a mãe que abdica dos próprios sonhos em prol do filho. Owen é candidato a pai do ano. Suas cenas com o pequeno Auggie são delicadas e emocionantes. Izabela Vidovic faz um ótimo trabalho como a irmã mais velha que tenta balancear a solidão e a compreensão, pela falta de atenção dos pais. Jacob Tremblay, que já havia se destacado no oscarizado O Quarto de Jack, é puro carisma na pele de Auggie. Noah Jupe, como o amigo Jack transmite com delicadeza o ideal da amizade.
Quem já foi novato em uma escola, sem amigos para desbravar um novo mundo, sabe das dificuldades. O medo, a insegurança, a busca pela aceitação fazem parte do processo, que as vezes pode ser amargo até adocicar. Nesses momentos como é importante uma família atenta e disposta a ouvir e incentivar. E como são importantes as amizades. As verdadeiras amizades. Aquelas que te aceitam, te acolhem e que lutam com e por você. Até porque nunca se vence uma guerra lutando sozinho. Em algum momento na vida fomos Auggie. Em outros podemos ser Jack Will, o amigo, ou um dos membros da família Pullman. Esse exercício de empatia pode até se extender para a cadelinha Dayse, que estava sempre presente depois dos momentos difíceis. O importante é esquecer as diferenças e sentir o outro. Mais do que extraordinário, esse lindo filme é necessário.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraAlgumas pessoas não assistem filmes de terror porque acreditam que essas produções atraem energias ruins. Comigo acontece justamente o oposto. Recordo das férias escolares, de dormir tarde e acordar cedo vendo os lançamentos de franquias como Sexta-feira 13 e A Hora do Pesadelo. Lembro também que não sentia medo. Não por uma questão de coragem, mas por estar acompanhado dos melhores amigos. Meus irmãos mais velhos. Com eles o medo dava lugar a diversão segura.
IT - A Coisa, me fez reviver esses sentimentos. A primeira parte da adaptação da obra de Stephen King é uma miscelânea de boas referências. Para contar a história do palhaço Pennywise, que assombrava as crianças da cidade de Derry, o diretor Benjamin Wallfisch não teve medo de chocar o público e trouxe elementos de Carrie - A estranha, Conta Comigo, A Garota de Rosa Shocking e A Hora do Pesadelo. Nos primeiros dez minutos já percebemos que não seríamos poupados de cenas fortes, diálogos politicamente incorretos ou insinuações barra pesada. O enredo é bem desenvolvido e o elenco infantil passa a credibilidade necessária para que nos identifiquemos com aquele grupo de "perdedores". A relação de amizade entre eles nos deixa querendo vê-los por mais tempos em tela. Destaque para o protagonista Jaeden Liebeher, Fin Wolfhard (Stranger Things), Jack Dylan Grazer e Sophia Lillis, claramente inspirada na musa dos anos 80, Molly Ringwald. O palhaço Pennywise garante bons sustos com a ajuda dos efeitos especiais e da maquiagem do personagem. Porém, o terror não surge apenas do imaginário ou sobrenatural. "Coisas" reais também podem causar calafrios. Lidar com os nosso temores pode ser a solução.
Dessa vez, meus irmãos não estavam comigo. Não lembro a última vez estivemos juntos enfrentando um filme de terror, mas ao final foi como se eu pudesse ouvir o som da fita VHS rebobinando e uma energia. Nostalgia.
Homem-Formiga e a Vespa
3.6 990 Assista AgoraApós o sucesso retumbante de Guerra Infinita, a Marvel desacelera, mas continua firme e acerta em apostar novamente em uma aventura de menor escala (sem trocadilhos).
Dessa vez, o Homem-Formiga une forças a Hank Pym e sua filha, Hope, para resgatar a Vespa original, Janet Van Dyne, há anos perdida no mundo quântico.
Seguindo a receita do primeiro filme, essa sequência não se preocupa em estabelecer vínculos com o universo Marvel, nem utiliza outros heróis do estúdio para turbinar a bilheteria. O foco está na história e na dinâmica entre os personagens, que dão a produção um tom de aventura familiar.
Paul Rudd tem o "time" perfeito para o protagonista, que mescla empatia e bravura típica dos heróis das matinês. Os coadjuvantes, por sua vez, estão em sintonia e rendem bons momentos.
Desta maneira, Homem-Formiga e Vespa é diversão garantida, que passa a singela mensagem de que não importa o tamanho da ajuda que você pode oferecer a um amigo, mas sim a certeza de poder contar com você.
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
3.8 1,4KCalvin é um jovem escritor com dificuldade em equilibrar sua vida profissional e pessoal. Após passar por um bloqueio criativo, ele descreve em seu texto a namorada perfeita em seus atributos físicos e de personalidade. Para sua surpresa, essa idealização feminina se materializa em sua casa sob a forma da radiante Ruby, que traduz tudo que Calvin desejou.
Mas nada é perfeito numa natureza humana que muda constantemente de gostos e preferências. Podemos até construir uma imagem fiel às nossas expectativas, mas como podemos buscar algo que não temos a oferecer? São "as imperfeições", que podem soar como virtudes para outra pessoa, que nos garantem individualidade e possibilidade de aprendizado. O reflexo é apenas a projeção de algo intangível. Se apegue a alguém, e não aos seus conceitos. Prefiro as falhas de algo real.
8.5
Ladrões de Bicicleta
4.4 534 Assista AgoraPresente em várias listas que elencam os melhores filmes da história do cinema, Ladrões de Bicicleta é um filme cruel.
Lançado em 1948, no pós guerra na Itália, a produção tem como pano de fundo a recessão que o país viveu e a onda de desemprego que assolou várias famílias.
No meio dessa crise está Antonio, que finalmente consegue um emprego para sustentar a família, mas para executar o serviço de colar cartazes pelas ruas de Roma ele precisa de uma bicicleta. Essa foi a condição imposta pelo empregador. Após vender os lençóis de casa, Antonio resgata a velha bicicleta da casa de penhor, mas no primeiro dia de trabalho ela é roubada.
Com o emprego em risco, Antonio e seu pequeno filho, Bruno, percorrem a cidade a procura da bicicleta.
Durante toda exibição do longa torcemos ansiosos pelo final feliz do protagonista, que só queria garantir o sustento de sua família, mas Ladrões de Bicicleta faz parte do chamado Neorrealismo Italiano, e a realidade, meus amigos, é mais dura do que o mais duro dos corações.
SPOILER
Ao final fica a pergunta: o que faz um ladrão?
A resposta pode variar, mas a certeza é que a miséria é má conselheira.
FIM DO SPOILER
9.0
Efeito Borboleta
4.0 2,9K Assista AgoraQuem nunca pensou em voltar no tempo para corrigir os erros do passado?
Efeito Borboleta toca nesse tema ao contar a história de Evan Treborn, universitário que descobre o poder de voltar no tempo, em sua versão mais jovem, para consertar os rumos da vida, mas cada mudança no passado repercute de maneira implacável no futuro.
Ashton Kutcher deixa de lado as caretas das comédias bobas para investir drama em um filme, por vezes pesado e angustiante. Como o título do filme sugere, o bater de asas de uma borboleta pode provocar um furacão do outro lado do mundo. Ações e consequências. Risos e lágrimas. Encontros e desencontros. Para manter o rumo às vezes é necessário desviar o caminho. Se for preciso seguir uma nova estrada, ligue o som, sintonize "Stop Crying Your Heart" do Oasis e siga em frente.
9.0
Os Incríveis 2
4.1 1,4K Assista AgoraApós um inexplicável hiato de 14 anos, finalmente chega aos cinemas a sequência de Os Incríveis. A família de heróis, sucesso em 2004, retorna para uma nova aventura e dessa vez precisam enfrentar a desconfiança do governo, que responsabiliza os mascarados pelos estragos no patrimônio público durante o combate ao crime.
Forçados a sair de cena por imposição legal, a família incrível recebe uma nova chance de provar a importância dos vigilantes pelas mãos de dois irmãos milionários dispostos a melhorar a imagem dos heróis.
Inferior ao primeiro longa, Os Incríveis 2 é uma aventura divertida e simpática. A Pixar, mais uma vez, mostra que está sempre atenta as transformações sociais do mundo e aborda questões interessantes de forma leve e descontraída. Helena, matriarca da família, ganha destaque na história e assume um protagonismo que chega a incomodar o ego e vaidade do Sr. Incrível, sempre acostumado a liderar o grupo. Agora ele precisa assumir o papel de pai e aprender que as grandes missões podem estar dentro de casa cuidando e educando os filhos.
Dividir as atenções e obrigações ajudam a compartilhar alegrias e tristezas, da mesma forma que a confiança e o reconhecimento acolhem aquele que sai da zona de conforto para enfrentar o desafio de uma nova missão.
7.8
PS : Famosa por exibir curta-metragens antes de suas produções, a Pixar me nocauteou com o curta "Bao", que aborda metaforicamente a relação entre mães e filhos. Alerta de cisco no olho!
O Amante Duplo
3.3 108Dirigido por François Ozon, O Amante Duplo é mais um bom thriller psicológico na filmografia do diretor.
Jogando com as noções de realidade dos personagens e do espectador, Ozon conta uma história de traumas e projeções, amparada pela interpretação hipnotizante de Marine Vacth. A atriz tem presença em cena permeada entre sensualidade e fragilidade. Seu olhar me remete a famosa frase utilizada por Machado de Assis para descrever Capitu, em Dom Casmurro: Olhos de cigana oblíqua e dissimulada.
Dividida pelos desejos e pela culpa, a protagonista anseia por descobrir o que se esconde sob a superfície da terra, do ventre ou do seu amante. Os espelhos, recorrentes no filme, são uma alegoria apropriada para abordar a perspectiva da personagem, porque mesmo que você mude o ângulo, o reflexo não é nada mais do que a projeção do seu olhar.
8.0
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraNo futebol, a lembrança do Rei dos gramados assombra os talentosos jogadores que surgem a cada década. Pelé tem três Copas no currículo e ostenta mais de mil gols, por isso, tem seu lugar cativo no topo da pirâmide.
Podemos traçar um paralelo com os filmes de terror.
O Exorcista é quase uma unanimidade entre os aficionados como o melhor filme de terror já produzido. As cenas permanecem aterrorizando o imaginário popular há anos. A interpretação de Linda Blair como a jovem Reagan possuída pelo espírito demoníaco Pazuzu ainda é referência de medo para o cinema.
Por isso, boa parte dos lançamentos do gênero que adota uma proposta mais séria, mesclando assombrações e famílias em perigo, surge sob a expectativa de ser o sucessor do clássico de William Peter Blatty (autor de O Exorcista).
Assim acontece com Hereditário, filme protagonizado pela ótima Toni Collette, que apresenta as tragédias pessoais da família Graham, envolvida em mistérios que confundem o espectador sobre a origem patológica ou sobrenatural dos fenômenos.
O filme acerta no primeiro terço de exibição ao estabelecer o sofrimento dos personagens e a conexão com o público. Gabriel Byrne é quem parece deslocado em atuação insossa. No segundo terço o roteiro fica indeciso entre preparar para os eventos finais e esconder o desfecho da trama.
Já o final de Hereditário sobe o tom deixando de lado as insinuações em prol do terror explícito, que pode incomodar alguns.
As cenas são fortes e assustam, mas o rumo da história não agradará a todos.
Apesar de nos remeter a grandes filmes como O bebê de Rosemary e O Homem de Palha, Hereditário não é o novo "O Exorcista" e nem precisa ser.
Não fez mil gols, mas venceu a partida!
8.5
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraComo diria o poetinha Vinícius de Moraes, o amor é a arte do encontro!
Nessa pequena pérola de Sofia Coppola, conhecemos duas pessoas perdidas dentro de si que se encontram no outro lado do mundo. Charlotte (Scarlett Johansson) é uma jovem imersa em pensamentos, que acompanha o namorado a trabalho no Japão, mas que passa a maior tempo sozinha tentando encontrar sentido no rumo de sua vida. Bob (Bill Murray) é um veterano ator em campanha publicitária na capital japonesa, entediado com a profissão e com o longo casamento.
Compartilhando o mesmo hotel, a afinidade entre os dois é instantânea, como almas que se reconhecem na correria de um mundo que não tem tempo para ouvir o que o nosso silêncio tem a dizer.
Ressucitando sorrisos, um empresta ao outro a sensação de segurança, cumplicidade e familiaridade, mesmo estando tão distante de casa e das coisas que te lembram quem você é.
Quando nos perdemos, acalma o coração saber que tem alguém disposto a nos achar ou quem sabe, se perder junto. A companhia necessária, que nos ajuda a achar o caminho de volta.
Murray e Johansson tem a perfeita simetria, e Sofia Coppola a sensibilidade de captar o que um sussurro final representa para duas pessoas que sempre encontrarão um jeito de se reencontrar.
9.5