O filme de 2021 que chegou recentemente em canais de streaming é de uma beleza e sensibilidade únicas em torno de pessoa com doença degenerativa cerebral.
Apesar de não explicitamente dito, imagina-se tratar-se de alguém com Alzheimer.
O fato de a maioria maciça das cenas acontecer no apartamento de Anne, a filha com quem o pai do título (Anthony) vai morar, ajuda a imprimir e/ou restaurar uma marcação típica do teatro. (Não nos esqueçamos que a estória encerra, originalmente, uma peça.)
Certos enquadramentos mais se parecem uma obra de arte e creio ser proposital, já que em cada cômodo há uma peça digna de uma galeria, loja de antiguidades ou de penhor.
O mais interessante para mim é a multiplicidade de perspectivas: a quase todo momento uma mesma cena é revista com personagens em papéis distintos, apesar de corpos idênticos, o que imagino ser algo ínsito à condição.
Há uma mistura equilibrada de emoções, sensações e sentimentos e um dos grandes trunfos da película é mostrar como a (re)construção da memória é um processo falho e cheio de vieses cognitivos e morais, a todo tempo se digladiando com o Ego e o Superego.
No ponto mais alto de ARGENTINA, 1985, o personagem magistralmente interpretado por Ricardo Darín - o promotor Júlio César Strassera - lê o equivalente às Alegações Finais no processo cível em que funciona e se apropria, com o devido crédito, de uma expressão que havia ganhado as ruas: NUNCA MAIS.
A expressão em causa é muito congruente com a lógica que preside julgamentos dessa magnitude - Srassera se refere ao Julgamento das Juntas [Militares] como a versão portenha do Tribunal de Nuremberg, em virtude de sua excepcionalidade: não se pode apagar o passado, mas se pode construir um futuro sem os mesmos erros.
Pelo mérito de remexer numa ferida ainda tão aberta para os argentinos já vale a pena assistir ao filme. Afinal, a ditadura ainda está na esquina da memória da maioria dos povos latinos.
Por outro lado, é sempre interessante ter uma ideia de como funcionam os atores do processo judicial em outras plagas, sobretudo porque é recorrente no imaginário popular o formato do tribunal de júri norte-americano, bem diferente do brasileiro, por exemplo, inclusive em termos de competência e rito processual.
Por fim, a direção de arte. Sem ser quesito de desfile de escola de samba, é Nota 10!
E Jane Campion - a diretora do filme - retornou às telas em marcante estilo!!!
Questões humanas profundas são abordadas com argumentos visuais despretensiosos - é, fios, nunca mais perguntem a alguém 'Entendeu, ou quer que eu desenhe?', em cenas com aparente desimportância, a exemplo do "desfloreio" de uma flor de papel pelo polegar grosso e intrusivo do personagem de Benedict Cumberbatch, Phil, da "visão" de um cachorro em posição de ataque pelo jovem Peter ao olhar para as montanhas que circundam a fazenda também gerenciada pelo irmão de Phil, George, com quem sua mãe, uma viúva interpretada por Kirsten Dunst, se casa, a entrega das jóias da família pela matriarca à nova "dona" do rancho e o cuidado com a sela que pertenceu ao falecido cowboy BH que forjou Phil na arte de ser um frágil travestido de forte. SQN.
Para aqueles de nós que não suportam diálogos em profusão, os silêncios dos takes mais belos são pérolas da fina eloquência em meio a tamanha crueza geográfico-relacional, nem de longe ominosos, a exemplo do beijo do casal que retorna do funeral, testemunhado da janela por um Peter satisfeito com o êxito de seu plano de proteção da mãe alcoolizada pela opressão constante de um Phil enciumado, perseguidor e rancoroso.
Aliás, quase nada ou ninguém é odiento no filme. Nenhuma das figuras humanas é plana, totalmente previsível, boa ou má, bandido ou mocinho, straight ou gay. Quase tudo é circunstancial, relativo, ponderável aos olhos de quem julga o tempo todo pelo olhar prenhe de pré-conceitos.
Pensando bem, nem a casa antropomorfizada mete medo integralmente com seus rangeres e ruídos à guisa de demonstrações de pouco acolhimento e muita revolta em direção aos forasteiros.
"Ataque dos cães" - melhor seria ter preservado o singular do verso bíblico original, e os mais atentos concordarão - não tem pressa em se descortinar aos olhos de quem se propõe a assisti-lo, de preferência, em um vazio pandêmico, que pode ou não coincidir com um domingo. Por isso, cure a ansiedade com um balde de pipoca esborrotando pela beiradas, relaxe e enjoy your time!
Para mim, o grande mérito do filme é se aproximar com bastante fidedignidade dos microdramas diuturnos e reafirmar aquilo que o Liberalismo, dentre outras correntes, sustenta: somos, essencialmente, fruto de nossas escolhas, sejam elas boas ou más. A liberdade de agir, na maioria das vezes, manda a fatura diariamente e se você não a quita, torna-se eterno devedor, sem ninguém para pagar a fiança e retirá-lo do fundo do poço. Nem você mesmo, aliás, que acaba por abraçar e desposar a desgraça. (And they lived unhappily ever after.) No caso de Era uma vez um sonho, em vez do mito do self-made man, tão caro aos americanos e coaches motivacionais, temos alguém (J. D. Vance) que, a cada dia, teve que rolar a pedra ladeira acima, consciente de que poderia até mesmo ser esmagado por ela se não rompesse o "DNA" da falibilidade (You, losers!) via educação. O desempenho dos atores é excelente e, claro, Glenn Close e Amy Adams são fortes candidatas a arrebatar prêmios por suas respectivas atuações.
Um filme cujo argumento é a velha e batida estória de abandono de um cônjuge por uma carteira de cigarros pode funcionar?
Sim!
É o caso de 'Elvira, te daria minha vida, mas a estou usando', em que, logo de cara, o espectador saca o enredo. Isso não o impede de seguir Elvira na estrada da busca pelo marido para dele ouvir a verdade, algo desconfortável, porém, necessário, para seguir a vida. Todos os atos da protagonista são bastante verossímeis, incluindo aquele de telefonar para o trabalho do marido e arrancar da secretária as informações que queria por puro desespero e sororidade.
Os cenários e figurinos kitsch reconstituem a época a contento - apesar do style à la Menudo. É uma "viagem no tempo" rever televisores de todos os tamanhos e celulares Nokia que, no máximo, só ligavam ou recebiam ligações, com seus toques monofônicos e o inesquecível jogo da cobrinha.
Para mim é perfeitamente compreensível que Elvira veja Gustavo, o marido, em todo lugar que vá, é mais do que isso, se aproprie e transfira o rosto de Adrián, o amante do esposo, para o de Ricardo, "fica" do trabalho que arruma na funerária da amiga Eloy.
Os diálogos são bem marcados, sem maiores elucubrações filosóficas, e a trilha sonora contempla uma versão bacana do clássico Suavecito, hit dos anos 1990 de Laura León - uma espécie de Gretchen loira, repaginado na voz de Julieta Venegas, mexicana nascida em Los Angeles, cuja infância foi passada na Ciudad de México, onde se desenvolve boa parte da trama.
O filme não tem "moral" definida e a cena final no mar de Acapulco apenas confirma que a liberdade, inclusive para amar, é o que termina não por nos reduzir a gêneros ou categorias, mas a grandes possibilidades de redenção e fuga dos padrões do Establishment.
Um filme pode ser considerado bom, mesmo que haja falhas técnicas (excesso de som desviante, roteiro subadaptado, narrativa fílmica alongada para além do necessário) etc.
Mas e daí? A maioria de nós só quer mesmo é assistir ao desenrolar de uma estória que prende do começo ao fim. Deixemos a crítica aos críticos, lembrando sempre da personagem de Anton Ego de Ratatouille.
Milagre na cela 7 entrega, do seu modo, o que talvez outras versões não o fizeram, nem farão. Afinal, são olhares diferentes para um mesmo fato: a prisão injusta de um pai com deficiência mental (Memo) que demonstra infinito amor pela filha Ova. Nessa linha básica, descritiva, tudo pode ser enxertado.
Alguns podem até sustentar a previsibilidade de cenas como a chacota dos colegas de classe, o desaparecimento e a posterior execução da única testemunha do pretenso crime, a morte da avó de Ova, a paquera entre o diretor do presídio e a professora que assume a guarda de Ova, a alteração do nível de entendimento entre os presos com a entrada de Memo no ambiente e a "compensação" final do avô de Ova.
Entretanto, outros podem argumentar que nem todos estamos a fim de quebrar a cabeça o tempo todo para entender o que se passa, a exemplo de O poço.
No frigir dos ovos, o que cala mais alto é a catarse provocada nestes tempos escuros de pandemia. Cada um de nós tem a chance de chorar pelo que teve e não teve. Relembremos, pois, "Memo" e sua memória do amor.
CYRANO: Que j'emporte, et ce soir, quand j'entrerai chez Dieu, Mon salut balaiera largement le seuil bleu, Quelque chose que sans un pli, sans une tache, j'emporte malgré vous, et c'est...
ROXANNE: C'est...?
CYRANO: Mon panache.
Panache, depois desse uso pelo personagem de Edmond Rostand, assumiu uma conotação maior do que a etimologia da palavra e que seus usos anteriores. Magistral, e olha que a peça toda é em versos!
Como o filme é um belo exercício estético em si, tendo contado com a participação de 100 pintores, recomendo dar uma olhada nos quadros mais famosos de Van Gogh antes de assisti-lo para extrair o máximo de referências.
O traslado de um plano ou frame estético (a tela da pintura) a outro (a tela de cinema) é genial!
Eu particularmente gostei dessa iniciativa de "desprendimento" do traçado original de Shakespeare em Hamlet. É claro que chega a ser quase impossível não ficar comparando as estórias o tempo todo, mas a curiosidade pelos efeitos da troca de perspectiva fala mais alto e ainda dá para garimpar referências a outras obras do Bardo ao longo do filme, a exemplo da presença de bruxas (como em O rei Lear), do teatro em si (recurso ao metatexto presente na maior parte das obras de Shakespeare) e do corte de cabelo e uso de vestimentas masculinas em dado momento (lembremos Portia, de O mercador de Veneza).
O elenco é muito bom, mas as interpretações são entregues à tela de forma superficial ou didática demais. Talvez o filme se preste a uma discussão com alunos de Literatura Anglo-saxã ou mesmo do 3° ano do ensino médio. Para arrebatar prêmios por aí, tenho minhas dúvidas.
O filme mostra a trajetória da Justice Ruth Bader Ginsburg, em torno de quem está crescendo um certo culto nos meios jurídicos norte-americanos ultimamente, por seu papel na luta pela igualdade de gêneros, algo para a qual nem ela mesma estava preparada para enfrentar na Suprema Corte em termos de sustentação oral.
É bem interessante acompanhar a construção de argumentos e a percepção da viragem jurisprudencial a partir de fatos e ideias embaladas também na racionalidade das relações com o Governo e na prática não-discriminatória.
Não chega a ser um "court movie", porém, alunos e professores de Direito podem certamente aproveitar ao máximo as discussões travadas e, sobretudo, a principal dica: é possível empreender debates sobre questões grandiosas, delicadas, polêmicas ou até espinhosas sem recorrer ao coitadismo, vitimismo ou eterno discurso da dívida histórica, com a dose adequada de autocontrole, confiança na capacidade de redarguir sem toque pessoal e com humor cintado pela reconstrução da memória legal.
Filme injustamente reconhecido pela Academy Awards (Oscar), certamente por causa do nítido link entre o discurso de David Duke (o ótimo Topher Grace, de That 70's show) e Donald Trump no terreno dessa ferida ainda aberta chamada Racismo na sociedade americana. Melhor sorte ele teve em Cannes, onde arrebatou o Grand Prix de um júri exigente.
A direção de Spike Lee continua forte e sensível, sendo o domínio de cena seu maior trunfo, embora a história real de per se já ajude bastante na mistura balanceada de comédia, drama e ação.
Os personagens estão muito bem interpretados e a participação de Alec Baldwin vociferando palavras de ordem em torno da necessidade de devolver a América a seus legítimos proprietários é um luxo.
Não pisque os olhos, pois algum detalhe interessante pode lhe escapar!
"O banquete" tornou-se sinônimo para mim de uma chatice sem fim, a exemplo do jantar servido, seja por causa da pegada excessivamente teatral ou mesmo caricata dos personagens, seja por força da literal masturbação de sentimentos e emoções da parte de cada um dos convivas.
A impressão que me ficou foi a de que a diretora conseguiu reunir atores amigos em torno de um roteiro pré-pago, que deveria ser filmado a todo custo. Só isso justifica a perda de mão do início ao fim.
É o tipo de filme que embaralha presente, passado e futuro e permite que você tome banho, se alimente, ligue para alguém ou dê atenção ao seu pet, e descubra, ao retornar à exibição, que não há absolutamente nada de novo no Quartel de Abrantes.
Lançado em 2014, só agora reuni coragem para assistir à versão fílmica de A menina que roubava livros. Não pretendo fazer comparações entre o livro e o filme, pois acredito que cada gênero narrativo tem seus valores e setbacks próprios e, por evidente, tirantes as obras da saga de Harry Potter em que J. K. Rowling praticamente roteirizou tudo aos mínimos detalhes, nenhuma obra filmográfica reproduzirá com total fidedignidade aquilo escrito em um livro.
Achei a película bem feita, com doses equilibradas de emoções boas e ruins, medo e pavor, passagens leves e até poéticas, com a necessária referência à guerra, ao terror institucionalizado e à violência perpretada pelo III Reich através do Nazismo.
Há um quê de Fahrenheit 451 na cena da fogueira de livros censurados antes mesmo de a 2@ Guerra Mundial ser decretada. Pelo semblante da multidão reunida, percebe-se o quão poucos foram aqueles a se sentir incomodados ou mal com a queima de patrimônio intelectual e como os dirigentes do Nacional-Socialismo se apropriaram de técnicas de controle das massas via discursos e gestualística também.
Nada parece fora do tom, nem mesmo quando o personagem Hans Hubermann, pai socioafetivo de Liesel, a protagonista, toca acordeon após retornar do front com deficiência auditiva.
Por fim, o voice-over da Morte é um detalhe à parte. Pela primeira vez senti "um suave acolhimento" em alguém tão letal, no sentido literal da palavra.
In a nutshell, gostei! E reveria tantas vezes quantas pudesse.
Decepcionante, inclusive pela direção do ex de Madonna, e absolutamente previsível, a começar da cena inicial. É um filme de dois personagens: o genial Gênio interpretado por Will Smith e Rajah, o Tigre de Bengala de estimação. O Aladdin com seu cabelinho lambido de progressiva mal feita e um grão-vizir que não convence por sua juventude, aliados a uma dublagem meia-boca (alguém do estúdio já ouviu falar em lip synching?), terminam por matar a bela história milenar do menino pobre que reúne mais dignidade do que aqueles a quem furta e junto a quem muitas vezes granjeia simpatia. Yasmim até tenta parecer forte e altiva, mas seu protagonismo não soa verdadeiro, na medida em que o Sultão, seu pai, lhe transmite o sultanato muito mais por força das circunstâncias (idade avançada, ausência de herdeiro, desconfiança ou insegurança no futuro genro, dentre elas.), do que por livre consentimento de que é o melhor a fazer ou de que é o curso natural do poder. Além disso, a narrativa espalha fios soltos como a relação entre o Gênio e Dahlia, a dama de companhia da Princesa. Salvas só às músicas e coreografias, incluindo a releitura do parkour, já que os efeitos especiais são default para esse gênero de filme.
Nelson Rodrigues escreveu as crônicas reunidas sob o título "A vida como ela é", legando à literatura brasileira o estilo jornalista de escrever. Adam Mckay, diretor, produtor e roteirista em "Vice," aprofunda o mesmo olhar sobre questões econômicas, financeiras e políticas, mostrando o quão interdependentes estão na sociedade norte-americana e, lentamente, começa a cavar seu lugar no mesmo panteão de colegas como Michael Moore e suas verdades inconvenientes. Não julga. Faz da câmera a retina através da qual o espectador vai recebendo luzes sobre a forma de fazer política de Dick Cheney, VP de George W. Bush por 8 anos.
Vice é visceral na construção de como um homem se torna quem ele é (uma das ótimas frases em voice over do narrador engraçado, cuja relação com Dick Cheney não se revela até o final).
Pois bem, HOW DOES A MAN GO ON TO BECOME WHO HE IS é a frase-mestra do filme que, apesar de ter mais de duas horas, não entendia. E mais: é um instigante curso de Ciência Política e Direito, sobretudo o Constitucional, com pinceladas no Direito Internacional Público. Nesse particular, quem é da área vai gostar da clareza das explicações sobre The Unitary Executive Theory, que converte o Presidente e o Vice-Presidente, antes de Cheney, um João-Ninguém, em legítimos sucessores de faraós, reis e ditadores, dada a incontrastabilidade de suas decisões, e de um Alfred Molina apresentando categorias jurídicas concebidas para justificar práticas antijurídicas pelos Estados Unidos como se fossem pratos de um menu ('Enemy Combatent', ''Extraordinary rendition', 'Extraterritorialidade de Guantanamo Bay' e alterações ao War Powers' Act). Atenção aos dizeres nos pórticos da Suprema Corte: TO RENDER EVERY MAN HIS DUE e WHERE LAW ENDS TYRANNY BEGINS. Anthony Scalia, juiz constitucional, costura habilmente a interpretação pró-Bush e Cheney que sepulta a possibilidade de revisão do pleito eleitoral e asfalta a assunção do cargo de maior representatividade e poder pelos dois Republicanos unidos por carência circunstancial.
Não à toa vemos um Cheney crescendo à sombra dos conselhos granjeados na época de assessor do mordaz Don Rumsfeld (Steve Carell at his best) no Congresso Nacional (Seja leal, Fique de boca calada e Faça o que lhe mandam) e forjando seu papel de conselheiro-mor do apatetado George W. Bush, cujo maior sonho era parecer grande aos olhos do pai, George Bush.
Digna de registro é a participação de Amy Adams como Linney Cheney. É dela o contínuo esforço para o marido virar não só gente, mas gente importante, com poder institucionalizado e estômago para resistir aos constantes ataques e achaques. Detentora de diploma de universidade da Ivy League, é a ela que Cheney escuta, inclusive quando precisa orientar a filha candidata a um cargo eletivo pelo conservador Wyoming a não apoiar a causa LGBT, mesmo a um custo familiar altíssimo.
Não faltam, a propósito, momentos de contraste entre os valores da típica família-ao-redor-da-mesa e da crueldade ou crueza das ações tomadas em nome da segurança e defesa do povo americano no matter where.
Enfim, que me perdoem aqueles que pensam diferente, mas Vice é viciante e bem poderia virar a série sucessora de House of Cards, como afirmou alguém aqui nos Comentários. Ah, uma dica: observem a pertinência do uso de iscas estilizadas nos créditos. Tudo a ver também com o esporte favorito de Cheney e todas as implicações subliminares da arte de fazer política como um exercício de técnica, silêncio e paciência desenvolvidos ao longo de décadas na pesca.
Resumo da obra:
"Beware the quiet man. For while others speak, he watches. And while others act, he plans. And when they finally rest ... he strikes."
Gosto de ver certos filmes algum tempo depois de seu lançamento, a fim de me distanciar ao máximo da influência das resenhas dos críticos profissionais, dos comentários dos colegas e amigos e do próprio trabalho de promoção e distribuição.
Com a última versão de "Nasce uma estrela" agi assim. E não me arrependi. O filme é muito bom e tem como maior mérito recontar uma história clássica e conhecida de forma atual e didática, mesmo que, em dados momentos, por evidente, seja previsível e cheia de velhos clichês.
Lady Gaga e Bradley Cooper deram liga na tela, tanto em termos vocais, quanto em termos físicos. Combinam e convencem como um casal às voltas com o alcoolismo e o gap entre as carreiras, que usa a música para se comunicar dentro e fora dos palcos. São duas pessoas comuns, cheias de desertos - ambos não têm mais mãe - e a escolha da árida região do Arizona é emblemática para o cantor de country romantizado Jackson Maine, interpretado por Cooper, ator, diretor e roteirista. Ufa!
Foi também um prazer encontrar Sam Elliott no papel de Bobby, o irmão-pai de Maine, pois seu timbre de voz, sotaque e physique du rôle têm tudo a ver com essa versão de Nasce uma estrela.
As canções do filme são bem legais e vale a pena ao menos baixar no streaming para escutar no carro ou no banho. Se tocar um instrumento, arranhe 'Shalow' sem pudor. Os vizinhos vão gostar.
Apesar de o final ser bastante antecipável, ainda emociona e provoca lágrimas, algo que, para mim, é sinal de 'missão cumprida'.
Recomendo assistir, inclusive com uma caixa de Kleenex por perto. Em caso de...
Com todas as escusas a opiniões diferentes, a cinebiografia de Hank Williams lançada em Blu-ray e DVD em 2016 é muito interessante, mesmo para quem não é tão fã desse gênero.
Tom Hiddleston, (Lóki, irmão-vilão de Thor, em Os vingadores), encarna com perfeição até mesmo vocal - é ele quem canta, toca e dança de verdade no filme - o grande astro da música country e do chamado honky tonk, que influenciou Elvis Presley e Willie Nelson décadas depois de sua repentina morte aos 29 anos, em decorrência do abuso crônico de álcool e morfina para controlar as dores da espinha bífida congênita.
A escolha de Elizabeth Olsen para interpretar a esposa ambiciosa e equivocada, além da experiente atriz Cherry Jones como Lillie, a mãe-road manager do cantor, em permanente disputa por poder e atenção, só reforça o cuidado historiográfico que o diretor Marc Abraham teve ao transpor para a telona a biografia de um ícone da indústria fonográfica, inclusive em termos de repertório. Apesar de pouco letrado, Hank chegava a gravar quatro ou cinco músicas por dia - uma fábrica de sucessos - e até hoje figura nos rankings da revista especializada Billboard. Por alguns, foi considerado não apenas um mero songwriter, contente em ficar com os louros da composição, mas um verdadeiro poeta, com grande capacidade de compreensão das dores de seus ouvintes. Hank, cria do rádio, sempre recebeu cartas ardorosas, em tempos bons e ruins.
O casamento tumultuado, a vida na estrada, a paixão pelas mulheres, suas raízes do Alabama e do Deep South, a vida simples com amigos, mas, sobretudo, sua profunda solidão e medo da escuridão dentro de si foram os motes para as composições que marcaram o country das décadas de 1940 e 1950.
Para aqueles que gostam de 'whodunits' o filme de Juan Carlos Medina não agradará tanto, pois o olhar treinado em coletar pequenos gestos e palavras ditas displicentemente logo apontará o autor dos crimes no bairro de Limehouse da Londres do final do século XIX (e toda a atmosfera vitoriana). De fato, a direção não foi feliz ao transportar para o cinema a narrativa originalmente escrita pelo aclamado escritor inglês Peter Ackroyd (Dan Leno and the Limehouse Golem), seja porque abusa de clichês e flashbacks na vã tentativa de enganar os espectadores, seja porque deixa vários fios soltos ao longo da trama, que, muitas vezes, se arrasta sem a menor necessidade. Temas ricos como homossexualidade na Polícia, abuso sexual, transformismo, dominação sexual, teatro de vaudeville ou burlesco, a figura mística judaica do homúnculo, além da desigualdade social mal são pincelados. Bill Nighy, de "Love, actually", "Piratas do Caribe" e dublador em "Rango", no papel do Detetive Kildare, responsável pela investigação dos crimes do serial killer autodenominado de Golem, e Olivia Cooke, da série Bates motel, na pele da mulher suspeita de assassinato por envenenamento do próprio marido, encarnam muito bem seus personagens, porém, não chegam a salvar a história que mescla fatos à ficção.
Um filme sobre o amor. Amor a alguém, sem importar o sexo e o gênero, à família, a uma arte - de fazer bolos e cookies, à memória dos bons momentos, à cidade em que se vive o amor, amor ao amor, enfim. A narrativa parece lenta, mas os temas abordados (sexualidade, tradição religiosa, desigualdade de gêneros, traição, vida dupla, clash de culturas) são águas profundas. Exigem atenção e cautela o tempo todo do espectador, que mais parece um cliente espiando pelo buraco da porta do café para dentro da cozinha, onde a ação se desenrola. Se é verdade que se seduz alguém pelo paladar ou estômago, a história de Thomas, o confeiteiro alemão, atrai pelos olhos, os quais não desgrudam da tela. Somos massa nas mãos dos personagens e o final aberto, antes de ser frustrante ou inverossímil, é um convite à discussão em torno de uma boa mesa. Com nossos amores, de preferência.
Filme morno, para ser generosa. A maquiagem de Travolta o deixou travado na maior parte das cenas. Um verdadeiro desperdício de talentos, apesar de o tema da Máfia (Cosa Nostra) ser sempre cativante. O roteiro matou o enredo e a direção se encarregou de sepultar o filme.
Thi Mai - Rumo ao Vietnã é uma comédia espanhola que consegue arrancar gargalhadas ao mesmo tempo que lágrimas, e nos momentos certos.
Não entendi a classificação indicativa de 14 anos, pois as situações cômicas e não tão engraçadas são tratadas com leveza pela diretora, que parece estar pouco preocupada com a verossimilhança e realidade.
Os atores estão afinadíssimos e o tema da adoção de uma criança estrangeira é um mote para revelar o drama pessoal de cada uma das três senhoras de Pamplona (Cármen, Elvira e Rosa) que desembarcam em Hanoi com zero experiência com a cultura oriental na bagagem e na mente, sem falar nos problemas do compatriota com quem esbarram ainda no aeroporto (Andrès) e no aparente formalismo do guia local, Dan.
Elenco de primeira grandeza da constelação britânica. Prato cheio para quem curte sotaque RP, à la BBC.
Lily James, de algumas temporadas de 'Downtown Abbey', 'Guerra e Paz', a série, 'O destino de uma nação' e 'Orgulho e preconceito e zumbis', encarna com perfeição a jovem escritora inglesa em início de carreira, Juliet Ashton, que, sob pretexto de escrever um artigo para o jornal Times de Londres, se descola de seu noivo americano e de compromissos acadêmicos para conhecer a peculiar estória da Sociedade Literária do título, pequena, mas, muito ativa.
A Londres recém-saída da 2.ª Guerra Mundial, ainda bastante arrasada, e a ilha de Guernsey, no Canal da Mancha, com suas praias e paisagens bucólicas, constituem locações ricas de detalhes de época, que, aos poucos, em doses homeopáticas, vão sendo revelados por meio de flashbacks das vidas do grupo de ilhéus, especialmente da misteriosa Elizabeth e da órfã Kit, e mesmo insights da própria Juliet.
Os figurinos são um show à parte - inclusive dos personagens mais simples, - e só me ressenti da falta de uma trilha sonora à altura do tema, algo que sempre reforça as ideias e sentimentos que se quer passar.
Um verdadeiro mimo aos olhos de booklovers, livreiros, críticos em geral e praticantes da correspondência no estilo penfriend, além dos amantes da literatura das irmãs Brontë e de Charles & Mary Lamb, até por causa do clima de "Nunca te vi, sempre te amei", outro clássico do gênero.
Ignorem solenemente a capa de trabalho do filme, pois ela é enganosa! O filme, de roteiro e produção simples, tem um quê de "sessão da tarde" e outro de "sessão coruja", sendo correto no tratamento de uma questão histórica esquecida: a revolta em uma cidade da Coreia do Sul em face da intervenção militar e da decretação de lei marcial no ano de 1980 que só se fez conhecer ao mundo por causa da intrepidez de um motorista de táxi de Seul. Em época de clamor pela volta dos militares - ou seus valores - ao poder, vale a pena assistir e compartilhar, nem que seja para ilustrar argumentos pró-democracia.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraA•v•a•s•s•a•l•a•d•o•r.
O filme de 2021 que chegou recentemente em canais de streaming é de uma beleza e sensibilidade únicas em torno de pessoa com doença degenerativa cerebral.
Apesar de não explicitamente dito, imagina-se tratar-se de alguém com Alzheimer.
O fato de a maioria maciça das cenas acontecer no apartamento de Anne, a filha com quem o pai do título (Anthony) vai morar, ajuda a imprimir e/ou restaurar uma marcação típica do teatro. (Não nos esqueçamos que a estória encerra, originalmente, uma peça.)
Certos enquadramentos mais se parecem uma obra de arte e creio ser proposital, já que em cada cômodo há uma peça digna de uma galeria, loja de antiguidades ou de penhor.
O mais interessante para mim é a multiplicidade de perspectivas: a quase todo momento uma mesma cena é revista com personagens em papéis distintos, apesar de corpos idênticos, o que imagino ser algo ínsito à condição.
Há uma mistura equilibrada de emoções, sensações e sentimentos e um dos grandes trunfos da película é mostrar como a (re)construção da memória é um processo falho e cheio de vieses cognitivos e morais, a todo tempo se digladiando com o Ego e o Superego.
Psicanalistas e psicólogos vão amar "Meu Pai"!
Argentina, 1985
4.3 334No ponto mais alto de ARGENTINA, 1985, o personagem magistralmente interpretado por Ricardo Darín - o promotor Júlio César Strassera - lê o equivalente às Alegações Finais no processo cível em que funciona e se apropria, com o devido crédito, de uma expressão que havia ganhado as ruas: NUNCA MAIS.
A expressão em causa é muito congruente com a lógica que preside julgamentos dessa magnitude - Srassera se refere ao Julgamento das Juntas [Militares] como a versão portenha do Tribunal de Nuremberg, em virtude de sua excepcionalidade: não se pode apagar o passado, mas se pode construir um futuro sem os mesmos erros.
Pelo mérito de remexer numa ferida ainda tão aberta para os argentinos já vale a pena assistir ao filme. Afinal, a ditadura ainda está na esquina da memória da maioria dos povos latinos.
Por outro lado, é sempre interessante ter uma ideia de como funcionam os atores do processo judicial em outras plagas, sobretudo porque é recorrente no imaginário popular o formato do tribunal de júri norte-americano, bem diferente do brasileiro, por exemplo, inclusive em termos de competência e rito processual.
Por fim, a direção de arte. Sem ser quesito de desfile de escola de samba, é Nota 10!
O Destino de Haffmann
3.8 27 Assista AgoraPlot twist bem interessante!
Apesar de a trama se passar na França ocupada pelos nazistas, o foco reside mais nos dramas pessoais do que na 2@ Guerra Mundial em si.
Reconstituição de época apurada e diálogos a um só tempo ágeis e densos.
Vale a pena assistir!
Ataque dos Cães
3.7 932E Jane Campion - a diretora do filme - retornou às telas em marcante estilo!!!
Questões humanas profundas são abordadas com argumentos visuais despretensiosos - é, fios, nunca mais perguntem a alguém 'Entendeu, ou quer que eu desenhe?', em cenas com aparente desimportância, a exemplo do "desfloreio" de uma flor de papel pelo polegar grosso e intrusivo do personagem de Benedict Cumberbatch, Phil, da "visão" de um cachorro em posição de ataque pelo jovem Peter ao olhar para as montanhas que circundam a fazenda também gerenciada pelo irmão de Phil, George, com quem sua mãe, uma viúva interpretada por Kirsten Dunst, se casa, a entrega das jóias da família pela matriarca à nova "dona" do rancho e o cuidado com a sela que pertenceu ao falecido cowboy BH que forjou Phil na arte de ser um frágil travestido de forte. SQN.
Para aqueles de nós que não suportam diálogos em profusão, os silêncios dos takes mais belos são pérolas da fina eloquência em meio a tamanha crueza geográfico-relacional, nem de longe ominosos, a exemplo do beijo do casal que retorna do funeral, testemunhado da janela por um Peter satisfeito com o êxito de seu plano de proteção da mãe alcoolizada pela opressão constante de um Phil enciumado, perseguidor e rancoroso.
Aliás, quase nada ou ninguém é odiento no filme. Nenhuma das figuras humanas é plana, totalmente previsível, boa ou má, bandido ou mocinho, straight ou gay. Quase tudo é circunstancial, relativo, ponderável aos olhos de quem julga o tempo todo pelo olhar prenhe de pré-conceitos.
Pensando bem, nem a casa antropomorfizada mete medo integralmente com seus rangeres e ruídos à guisa de demonstrações de pouco acolhimento e muita revolta em direção aos forasteiros.
"Ataque dos cães" - melhor seria ter preservado o singular do verso bíblico original, e os mais atentos concordarão - não tem pressa em se descortinar aos olhos de quem se propõe a assisti-lo, de preferência, em um vazio pandêmico, que pode ou não coincidir com um domingo. Por isso, cure a ansiedade com um balde de pipoca esborrotando pela beiradas, relaxe e enjoy your time!
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraPara mim, o grande mérito do filme é se aproximar com bastante fidedignidade dos microdramas diuturnos e reafirmar aquilo que o Liberalismo, dentre outras correntes, sustenta: somos, essencialmente, fruto de nossas escolhas, sejam elas boas ou más. A liberdade de agir, na maioria das vezes, manda a fatura diariamente e se você não a quita, torna-se eterno devedor, sem ninguém para pagar a fiança e retirá-lo do fundo do poço. Nem você mesmo, aliás, que acaba por abraçar e desposar a desgraça. (And they lived unhappily ever after.)
No caso de Era uma vez um sonho, em vez do mito do self-made man, tão caro aos americanos e coaches motivacionais, temos alguém (J. D. Vance) que, a cada dia, teve que rolar a pedra ladeira acima, consciente de que poderia até mesmo ser esmagado por ela se não rompesse o "DNA" da falibilidade (You, losers!) via educação.
O desempenho dos atores é excelente e, claro, Glenn Close e Amy Adams são fortes candidatas a arrebatar prêmios por suas respectivas atuações.
Elvira - Te Daria Minha Vida, mas a Estou Usando
3.6 30 Assista Agora[spoiler][/spoiler]
Um filme cujo argumento é a velha e batida estória de abandono de um cônjuge por uma carteira de cigarros pode funcionar?
Sim!
É o caso de 'Elvira, te daria minha vida, mas a estou usando', em que, logo de cara, o espectador saca o enredo. Isso não o impede de seguir Elvira na estrada da busca pelo marido para dele ouvir a verdade, algo desconfortável, porém, necessário, para seguir a vida.
Todos os atos da protagonista são bastante verossímeis, incluindo aquele de telefonar para o trabalho do marido e arrancar da secretária as informações que queria por puro desespero e sororidade.
Os cenários e figurinos kitsch reconstituem a época a contento - apesar do style à la Menudo. É uma "viagem no tempo" rever televisores de todos os tamanhos e celulares Nokia que, no máximo, só ligavam ou recebiam ligações, com seus toques monofônicos e o inesquecível jogo da cobrinha.
Para mim é perfeitamente compreensível que Elvira veja Gustavo, o marido, em todo lugar que vá, é mais do que isso, se aproprie e transfira o rosto de Adrián, o amante do esposo, para o de Ricardo, "fica" do trabalho que arruma na funerária da amiga Eloy.
Os diálogos são bem marcados, sem maiores elucubrações filosóficas, e a trilha sonora contempla uma versão bacana do clássico Suavecito, hit dos anos 1990 de Laura León - uma espécie de Gretchen loira, repaginado na voz de Julieta Venegas, mexicana nascida em Los Angeles, cuja infância foi passada na Ciudad de México, onde se desenvolve boa parte da trama.
O filme não tem "moral" definida e a cena final no mar de Acapulco apenas confirma que a liberdade, inclusive para amar, é o que termina não por nos reduzir a gêneros ou categorias, mas a grandes possibilidades de redenção e fuga dos padrões do Establishment.
Milagre na Cela 7
4.1 1,2K Assista Agora[/spoiler]
Um filme pode ser considerado bom, mesmo que haja falhas técnicas (excesso de som desviante, roteiro subadaptado, narrativa fílmica alongada para além do necessário) etc.
Mas e daí?
A maioria de nós só quer mesmo é assistir ao desenrolar de uma estória que prende do começo ao fim. Deixemos a crítica aos críticos, lembrando sempre da personagem de Anton Ego de Ratatouille.
Milagre na cela 7 entrega, do seu modo, o que talvez outras versões não o fizeram, nem farão. Afinal, são olhares diferentes para um mesmo fato: a prisão injusta de um pai com deficiência mental (Memo) que demonstra infinito amor pela filha Ova. Nessa linha básica, descritiva, tudo pode ser enxertado.
Alguns podem até sustentar a previsibilidade de cenas como a chacota dos colegas de classe, o desaparecimento e a posterior execução da única testemunha do pretenso crime, a morte da avó de Ova, a paquera entre o diretor do presídio e a professora que assume a guarda de Ova, a alteração do nível de entendimento entre os presos com a entrada de Memo no ambiente e a "compensação" final do avô de Ova.
Entretanto, outros podem argumentar que nem todos estamos a fim de quebrar a cabeça o tempo todo para entender o que se passa, a exemplo de O poço.
No frigir dos ovos, o que cala mais alto é a catarse provocada nestes tempos escuros de pandemia. Cada um de nós tem a chance de chorar pelo que teve e não teve.
Relembremos, pois, "Memo" e sua memória do amor.
[spoiler]
Cyrano Mon Amour
3.9 31 Assista AgoraLA MORT DE CYRANO DE BERGERAC
(Acte V, Scène 6)
CYRANO:
Que j'emporte, et ce soir, quand j'entrerai chez Dieu,
Mon salut balaiera largement le seuil bleu,
Quelque chose que sans un pli, sans une tache, j'emporte malgré vous, et c'est...
ROXANNE:
C'est...?
CYRANO:
Mon panache.
Panache, depois desse uso pelo personagem de Edmond Rostand, assumiu uma conotação maior do que a etimologia da palavra e que seus usos anteriores.
Magistral, e olha que a peça toda é em versos!
Com Amor, Van Gogh
4.3 1,0K Assista AgoraComo o filme é um belo exercício estético em si, tendo contado com a participação de 100 pintores, recomendo dar uma olhada nos quadros mais famosos de Van Gogh antes de assisti-lo para extrair o máximo de referências.
O traslado de um plano ou frame estético (a tela da pintura) a outro (a tela de cinema) é genial!
Ofélia
3.3 65 Assista AgoraEu particularmente gostei dessa iniciativa de "desprendimento" do traçado original de Shakespeare em Hamlet.
É claro que chega a ser quase impossível não ficar comparando as estórias o tempo todo, mas a curiosidade pelos efeitos da troca de perspectiva fala mais alto e ainda dá para garimpar referências a outras obras do Bardo ao longo do filme, a exemplo da presença de bruxas (como em O rei Lear), do teatro em si (recurso ao metatexto presente na maior parte das obras de Shakespeare) e do corte de cabelo e uso de vestimentas masculinas em dado momento (lembremos Portia, de O mercador de Veneza).
O elenco é muito bom, mas as interpretações são entregues à tela de forma superficial ou didática demais.
Talvez o filme se preste a uma discussão com alunos de Literatura Anglo-saxã ou mesmo do 3° ano do ensino médio. Para arrebatar prêmios por aí, tenho minhas dúvidas.
Suprema
3.9 105 Assista AgoraO filme mostra a trajetória da Justice Ruth Bader Ginsburg, em torno de quem está crescendo um certo culto nos meios jurídicos norte-americanos ultimamente, por seu papel na luta pela igualdade de gêneros, algo para a qual nem ela mesma estava preparada para enfrentar na Suprema Corte em termos de sustentação oral.
É bem interessante acompanhar a construção de argumentos e a percepção da viragem jurisprudencial a partir de fatos e ideias embaladas também na racionalidade das relações com o Governo e na prática não-discriminatória.
Não chega a ser um "court movie", porém, alunos e professores de Direito podem certamente aproveitar ao máximo as discussões travadas e, sobretudo, a principal dica: é possível empreender debates sobre questões grandiosas, delicadas, polêmicas ou até espinhosas sem recorrer ao coitadismo, vitimismo ou eterno discurso da dívida histórica, com a dose adequada de autocontrole, confiança na capacidade de redarguir sem toque pessoal e com humor cintado pela reconstrução da memória legal.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraFilme injustamente reconhecido pela Academy Awards (Oscar), certamente por causa do nítido link entre o discurso de David Duke (o ótimo Topher Grace, de That 70's show) e Donald Trump no terreno dessa ferida ainda aberta chamada Racismo na sociedade americana. Melhor sorte ele teve em Cannes, onde arrebatou o Grand Prix de um júri exigente.
A direção de Spike Lee continua forte e sensível, sendo o domínio de cena seu maior trunfo, embora a história real de per se já ajude bastante na mistura balanceada de comédia, drama e ação.
Os personagens estão muito bem interpretados e a participação de Alec Baldwin vociferando palavras de ordem em torno da necessidade de devolver a América a seus legítimos proprietários é um luxo.
Não pisque os olhos, pois algum detalhe interessante pode lhe escapar!
O Banquete
3.2 79"O banquete" tornou-se sinônimo para mim de uma chatice sem fim, a exemplo do jantar servido, seja por causa da pegada excessivamente teatral ou mesmo caricata dos personagens, seja por força da literal masturbação de sentimentos e emoções da parte de cada um dos convivas.
A impressão que me ficou foi a de que a diretora conseguiu reunir atores amigos em torno de um roteiro pré-pago, que deveria ser filmado a todo custo. Só isso justifica a perda de mão do início ao fim.
É o tipo de filme que embaralha presente, passado e futuro e permite que você tome banho, se alimente, ligue para alguém ou dê atenção ao seu pet, e descubra, ao retornar à exibição, que não há absolutamente nada de novo no Quartel de Abrantes.
Um desperdício de recursos e talentos, enfim!
A Menina que Roubava Livros
4.0 3,4K Assista AgoraLançado em 2014, só agora reuni coragem para assistir à versão fílmica de A menina que roubava livros. Não pretendo fazer comparações entre o livro e o filme, pois acredito que cada gênero narrativo tem seus valores e setbacks próprios e, por evidente, tirantes as obras da saga de Harry Potter em que J. K. Rowling praticamente roteirizou tudo aos mínimos detalhes, nenhuma obra filmográfica reproduzirá com total fidedignidade aquilo escrito em um livro.
Achei a película bem feita, com doses equilibradas de emoções boas e ruins, medo e pavor, passagens leves e até poéticas, com a necessária referência à guerra, ao terror institucionalizado e à violência perpretada pelo III Reich através do Nazismo.
Há um quê de Fahrenheit 451 na cena da fogueira de livros censurados antes mesmo de a 2@ Guerra Mundial ser decretada. Pelo semblante da multidão reunida, percebe-se o quão poucos foram aqueles a se sentir incomodados ou mal com a queima de patrimônio intelectual e como os dirigentes do Nacional-Socialismo se apropriaram de técnicas de controle das massas via discursos e gestualística também.
Nada parece fora do tom, nem mesmo quando o personagem Hans Hubermann, pai socioafetivo de Liesel, a protagonista, toca acordeon após retornar do front com deficiência auditiva.
Por fim, o voice-over da Morte é um detalhe à parte. Pela primeira vez senti "um suave acolhimento" em alguém tão letal, no sentido literal da palavra.
In a nutshell, gostei! E reveria tantas vezes quantas pudesse.
Aladdin
3.9 1,3K Assista AgoraDecepcionante, inclusive pela direção do ex de Madonna, e absolutamente previsível, a começar da cena inicial.
É um filme de dois personagens: o genial Gênio interpretado por Will Smith e Rajah, o Tigre de Bengala de estimação.
O Aladdin com seu cabelinho lambido de progressiva mal feita e um grão-vizir que não convence por sua juventude, aliados a uma dublagem meia-boca (alguém do estúdio já ouviu falar em lip synching?), terminam por matar a bela história milenar do menino pobre que reúne mais dignidade do que aqueles a quem furta e junto a quem muitas vezes granjeia simpatia.
Yasmim até tenta parecer forte e altiva, mas seu protagonismo não soa verdadeiro, na medida em que o Sultão, seu pai, lhe transmite o sultanato muito mais por força das circunstâncias (idade avançada, ausência de herdeiro, desconfiança ou insegurança no futuro genro, dentre elas.), do que por livre consentimento de que é o melhor a fazer ou de que é o curso natural do poder.
Além disso, a narrativa espalha fios soltos como a relação entre o Gênio e Dahlia, a dama de companhia da Princesa.
Salvas só às músicas e coreografias, incluindo a releitura do parkour, já que os efeitos especiais são default para esse gênero de filme.
Vice
3.5 488 Assista Agora[spoiler][/spoiler]
Nelson Rodrigues escreveu as crônicas reunidas sob o título "A vida como ela é", legando à literatura brasileira o estilo jornalista de escrever. Adam Mckay, diretor, produtor e roteirista em "Vice," aprofunda o mesmo olhar sobre questões econômicas, financeiras e políticas, mostrando o quão interdependentes estão na sociedade norte-americana e, lentamente, começa a cavar seu lugar no mesmo panteão de colegas como Michael Moore e suas verdades inconvenientes.
Não julga. Faz da câmera a retina através da qual o espectador vai recebendo luzes sobre a forma de fazer política de Dick Cheney, VP de George W. Bush por 8 anos.
Vice é visceral na construção de como um homem se torna quem ele é (uma das ótimas frases em voice over do narrador engraçado, cuja relação com Dick Cheney não se revela até o final).
Pois bem, HOW DOES A MAN GO ON TO BECOME WHO HE IS é a frase-mestra do filme que, apesar de ter mais de duas horas, não entendia. E mais: é um instigante curso de Ciência Política e Direito, sobretudo o Constitucional, com pinceladas no Direito Internacional Público.
Nesse particular, quem é da área vai gostar da clareza das explicações sobre The Unitary Executive Theory, que converte o Presidente e o Vice-Presidente, antes de Cheney, um João-Ninguém, em legítimos sucessores de faraós, reis e ditadores, dada a incontrastabilidade de suas decisões, e de um Alfred Molina apresentando categorias jurídicas concebidas para justificar práticas antijurídicas pelos Estados Unidos como se fossem pratos de um menu ('Enemy Combatent', ''Extraordinary rendition', 'Extraterritorialidade de Guantanamo Bay' e alterações ao War Powers' Act).
Atenção aos dizeres nos pórticos da Suprema Corte:
TO RENDER EVERY MAN HIS DUE e WHERE LAW ENDS TYRANNY BEGINS.
Anthony Scalia, juiz constitucional, costura habilmente a interpretação pró-Bush e Cheney que sepulta a possibilidade de revisão do pleito eleitoral e asfalta a assunção do cargo de maior representatividade e poder pelos dois Republicanos unidos por carência circunstancial.
Não à toa vemos um Cheney crescendo à sombra dos conselhos granjeados na época de assessor do mordaz Don Rumsfeld (Steve Carell at his best) no Congresso Nacional (Seja leal, Fique de boca calada e Faça o que lhe mandam) e forjando seu papel de conselheiro-mor do apatetado George W. Bush, cujo maior sonho era parecer grande aos olhos do pai, George Bush.
Digna de registro é a participação de Amy Adams como Linney Cheney. É dela o contínuo esforço para o marido virar não só gente, mas gente importante, com poder institucionalizado e estômago para resistir aos constantes ataques e achaques.
Detentora de diploma de universidade da Ivy League, é a ela que Cheney escuta, inclusive quando precisa orientar a filha candidata a um cargo eletivo pelo conservador Wyoming a não apoiar a causa LGBT, mesmo a um custo familiar altíssimo.
Não faltam, a propósito, momentos de contraste entre os valores da típica família-ao-redor-da-mesa e da crueldade ou crueza das ações tomadas em nome da segurança e defesa do povo americano no matter where.
Enfim, que me perdoem aqueles que pensam diferente, mas Vice é viciante e bem poderia virar a série sucessora de House of Cards, como afirmou alguém aqui nos Comentários.
Ah, uma dica: observem a pertinência do uso de iscas estilizadas nos créditos. Tudo a ver também com o esporte favorito de Cheney e todas as implicações subliminares da arte de fazer política como um exercício de técnica, silêncio e paciência desenvolvidos ao longo de décadas na pesca.
Resumo da obra:
"Beware the quiet man. For while others speak, he watches. And while others act, he plans. And when they finally rest ... he strikes."
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraGosto de ver certos filmes algum tempo depois de seu lançamento, a fim de me distanciar ao máximo da influência das resenhas dos críticos profissionais, dos comentários dos colegas e amigos e do próprio trabalho de promoção e distribuição.
Com a última versão de "Nasce uma estrela" agi assim. E não me arrependi. O filme é muito bom e tem como maior mérito recontar uma história clássica e conhecida de forma atual e didática, mesmo que, em dados momentos, por evidente, seja previsível e cheia de velhos clichês.
Lady Gaga e Bradley Cooper deram liga na tela, tanto em termos vocais, quanto em termos físicos. Combinam e convencem como um casal às voltas com o alcoolismo e o gap entre as carreiras, que usa a música para se comunicar dentro e fora dos palcos. São duas pessoas comuns, cheias de desertos - ambos não têm mais mãe - e a escolha da árida região do Arizona é emblemática para o cantor de country romantizado Jackson Maine, interpretado por Cooper, ator, diretor e roteirista. Ufa!
Foi também um prazer encontrar Sam Elliott no papel de Bobby, o irmão-pai de Maine, pois seu timbre de voz, sotaque e physique du rôle têm tudo a ver com essa versão de Nasce uma estrela.
As canções do filme são bem legais e vale a pena ao menos baixar no streaming para escutar no carro ou no banho. Se tocar um instrumento, arranhe 'Shalow' sem pudor. Os vizinhos vão gostar.
Apesar de o final ser bastante antecipável, ainda emociona e provoca lágrimas, algo que, para mim, é sinal de 'missão cumprida'.
Recomendo assistir, inclusive com uma caixa de Kleenex por perto. Em caso de...
A Jornada de Hank Williams
3.0 29Com todas as escusas a opiniões diferentes, a cinebiografia de Hank Williams lançada em Blu-ray e DVD em 2016 é muito interessante, mesmo para quem não é tão fã desse gênero.
Tom Hiddleston, (Lóki, irmão-vilão de Thor, em Os vingadores), encarna com perfeição até mesmo vocal - é ele quem canta, toca e dança de verdade no filme - o grande astro da música country e do chamado honky tonk, que influenciou Elvis Presley e Willie Nelson décadas depois de sua repentina morte aos 29 anos, em decorrência do abuso crônico de álcool e morfina para controlar as dores da espinha bífida congênita.
A escolha de Elizabeth Olsen para interpretar a esposa ambiciosa e equivocada, além da experiente atriz Cherry Jones como Lillie, a mãe-road manager do cantor, em permanente disputa por poder e atenção, só reforça o cuidado historiográfico que o diretor Marc Abraham teve ao transpor para a telona a biografia de um ícone da indústria fonográfica, inclusive em termos de repertório.
Apesar de pouco letrado, Hank chegava a gravar quatro ou cinco músicas por dia - uma fábrica de sucessos - e até hoje figura nos rankings da revista especializada Billboard. Por alguns, foi considerado não apenas um mero songwriter, contente em ficar com os louros da composição, mas um verdadeiro poeta, com grande capacidade de compreensão das dores de seus ouvintes. Hank, cria do rádio, sempre recebeu cartas ardorosas, em tempos bons e ruins.
O casamento tumultuado, a vida na estrada, a paixão pelas mulheres, suas raízes do Alabama e do Deep South, a vida simples com amigos, mas, sobretudo, sua profunda solidão e medo da escuridão dentro de si foram os motes para as composições que marcaram o country das décadas de 1940 e 1950.
Recomendo assistir aos Bônus!
Os Crimes de Limehouse
3.1 55 Assista AgoraPara aqueles que gostam de 'whodunits' o filme de Juan Carlos Medina não agradará tanto, pois o olhar treinado em coletar pequenos gestos e palavras ditas displicentemente logo apontará o autor dos crimes no bairro de Limehouse da Londres do final do século XIX (e toda a atmosfera vitoriana).
De fato, a direção não foi feliz ao transportar para o cinema a narrativa originalmente escrita pelo aclamado escritor inglês Peter Ackroyd (Dan Leno and the Limehouse Golem), seja porque abusa de clichês e flashbacks na vã tentativa de enganar os espectadores, seja porque deixa vários fios soltos ao longo da trama, que, muitas vezes, se arrasta sem a menor necessidade.
Temas ricos como homossexualidade na Polícia, abuso sexual, transformismo, dominação sexual, teatro de vaudeville ou burlesco, a figura mística judaica do homúnculo, além da desigualdade social mal são pincelados.
Bill Nighy, de "Love, actually", "Piratas do Caribe" e dublador em "Rango", no papel do Detetive Kildare, responsável pela investigação dos crimes do serial killer autodenominado de Golem, e Olivia Cooke, da série Bates motel, na pele da mulher suspeita de assassinato por envenenamento do próprio marido, encarnam muito bem seus personagens, porém, não chegam a salvar a história que mescla fatos à ficção.
O Confeiteiro
3.7 102 Assista AgoraUm filme sobre o amor. Amor a alguém, sem importar o sexo e o gênero, à família, a uma arte - de fazer bolos e cookies, à memória dos bons momentos, à cidade em que se vive o amor, amor ao amor, enfim.
A narrativa parece lenta, mas os temas abordados (sexualidade, tradição religiosa, desigualdade de gêneros, traição, vida dupla, clash de culturas) são águas profundas. Exigem atenção e cautela o tempo todo do espectador, que mais parece um cliente espiando pelo buraco da porta do café para dentro da cozinha, onde a ação se desenrola.
Se é verdade que se seduz alguém pelo paladar ou estômago, a história de Thomas, o confeiteiro alemão, atrai pelos olhos, os quais não desgrudam da tela. Somos massa nas mãos dos personagens e o final aberto, antes de ser frustrante ou inverossímil, é um convite à discussão em torno de uma boa mesa. Com nossos amores, de preferência.
Gotti: O Chefe da Máfia
2.7 41Filme morno, para ser generosa.
A maquiagem de Travolta o deixou travado na maior parte das cenas.
Um verdadeiro desperdício de talentos, apesar de o tema da Máfia (Cosa Nostra) ser sempre cativante.
O roteiro matou o enredo e a direção se encarregou de sepultar o filme.
Thi Mai
3.5 43 Assista AgoraThi Mai - Rumo ao Vietnã é uma comédia espanhola que consegue arrancar gargalhadas ao mesmo tempo que lágrimas, e nos momentos certos.
Não entendi a classificação indicativa de 14 anos, pois as situações cômicas e não tão engraçadas são tratadas com leveza pela diretora, que parece estar pouco preocupada com a verossimilhança e realidade.
Os atores estão afinadíssimos e o tema da adoção de uma criança estrangeira é um mote para revelar o drama pessoal de cada uma das três senhoras de Pamplona (Cármen, Elvira e Rosa) que desembarcam em Hanoi com zero experiência com a cultura oriental na bagagem e na mente, sem falar nos problemas do compatriota com quem esbarram ainda no aeroporto (Andrès) e no aparente formalismo do guia local, Dan.
O enredo é simples, porém, bem conduzido.
Bacaninha!
A Sociedade Literária e A Torta de Casca de Batata
4.0 486 Assista AgoraElenco de primeira grandeza da constelação britânica. Prato cheio para quem curte sotaque RP, à la BBC.
Lily James, de algumas temporadas de 'Downtown Abbey', 'Guerra e Paz', a série, 'O destino de uma nação' e 'Orgulho e preconceito e zumbis', encarna com perfeição a jovem escritora inglesa em início de carreira, Juliet Ashton, que, sob pretexto de escrever um artigo para o jornal Times de Londres, se descola de seu noivo americano e de compromissos acadêmicos para conhecer a peculiar estória da Sociedade Literária do título, pequena, mas, muito ativa.
A Londres recém-saída da 2.ª Guerra Mundial, ainda bastante arrasada, e a ilha de Guernsey, no Canal da Mancha, com suas praias e paisagens bucólicas, constituem locações ricas de detalhes de época, que, aos poucos, em doses homeopáticas, vão sendo revelados por meio de flashbacks das vidas do grupo de ilhéus, especialmente da misteriosa Elizabeth e da órfã Kit, e mesmo insights da própria Juliet.
Os figurinos são um show à parte - inclusive dos personagens mais simples, - e só me ressenti da falta de uma trilha sonora à altura do tema, algo que sempre reforça as ideias e sentimentos que se quer passar.
Um verdadeiro mimo aos olhos de booklovers, livreiros, críticos em geral e praticantes da correspondência no estilo penfriend, além dos amantes da literatura das irmãs Brontë e de Charles & Mary Lamb, até por causa do clima de "Nunca te vi, sempre te amei", outro clássico do gênero.
O Motorista de Táxi
4.3 159 Assista AgoraIgnorem solenemente a capa de trabalho do filme, pois ela é enganosa!
O filme, de roteiro e produção simples, tem um quê de "sessão da tarde" e outro de "sessão coruja", sendo correto no tratamento de uma questão histórica esquecida: a revolta em uma cidade da Coreia do Sul em face da intervenção militar e da decretação de lei marcial no ano de 1980 que só se fez conhecer ao mundo por causa da intrepidez de um motorista de táxi de Seul.
Em época de clamor pela volta dos militares - ou seus valores - ao poder, vale a pena assistir e compartilhar, nem que seja para ilustrar argumentos pró-democracia.