Não tem outra palavra: isso aqui é um FILMAÇO. Direção, fotografia, atuação, trilha sonora, enfim, tá tudo impecável. Tom Cruise mandou muito bem nesse papel - ele é um protagonista nato, é verdade - e algumas dessas cenas ficam mesmo na cabeça... Este filme tem todos os méritos possíveis, é um deleite aos olhos. Porém, é imperativo lembrar da questão da Tradição, numa época tão pós-moderna como a nossa. Os japoneses "rebeldes", no fim da leitura, são como as forças tradicionalistas da Cultura, responsáveis pela manutenção da história e do imaginário de um povo milenar, constituído por aqueles que ali vivem. É importante lembrar a história dos Samurais, mas também o é perceber que outros povos (e histórias, e encontros) estão se desfazendo à medida que a pós-modernidade avança. O contato entre as culturas é inevitável, uma realidade desde o pós-navegações, mas uma não deve, jamais, sobrepor-se à outra. Seja pela força física, seja pela filosofia, seja pela religião - devemos ter o entendimento maior, a compreensão absurda de que cada um vem de um lugar, cada pessoa tem uma família e um modo de viver que difere dos demais. É isso que torna este mundo tão bonito, tão vasto e complexo. Sejamos, pois, os "últimos samurais" dos nossos próprios rebeldes, e prossigamos na jornada de preservação das coisas belas que só nós conhecemos de verdade. Esplêndido.
"Simon Graham: They say Japan was made by a sword. (...) I say Japan was made by a handful of brave men. Warriors, willing to give their lives for what seems to have become a forgotten word: honor."
Tá bom, aqui já foi demais. Este é o quarto filme da franquia "Alien", baseado no filmaço que foi "O Oitavo Passageiro", de 1979, do Ridley Scott. Depois de uma sequência de prender o fôlego em 1986, do James Cameron, e a finalização questionável porém decisiva em 1992, do David Fincher, simplesmente não dava pra acreditar em um quarto filme, depois da morte de Ripley por uma caldeira nuclear. E por pior que pareça, uma amostra de sangue da nave do segundo filme foi usada para cloná-la e remover o alienígena em seu ventre. Mesmo que façamos o esforço para passar por cima deste argumento, assistimos a um filme que falha em todo o restante a que se propõe. "Alien - A Ressurreição" é um erro como filme de ação/ficção científica, como desenvolvimento da história, como entretenimento - e o que mais fica parecendo é que a 20th CENTURY FOX, no final das contas, se parece mais com a Companhia do filme do que a gente gostaria de admitir. Foi somente pela ganância que lançaram este trabalho - longe de se preocupar com o universo ALIEN de fato, exatamente como os engravatados do filme fazem. Foi um flop, gerou pouquíssima receita, o diretor detestou a edição final e este filme foi esquecido, porque foram más escolhas em todas as decisões - desde o casting até a sonoplastia. É irônico pensar que o primeiro, de 1979, tenha envelhecido melhor que todos os outros, mas foi exatamente isso que aconteceu. O que havia de inovador no universo Alien, aqui, tornou-se completamente estéril e híbrido, se vocês me permitem a referência. As tensões, o clima dark, o pavor foram substituídos por muita violência, sangue e mortes, desculpas para o Alien ficar matando todo mundo sem significado. Sigourney Weaver é, basicamente, a razão de todo o filme não colapsar em si mesmo, e que bom que ela ainda trabalhou neste. Mesmo com esse cenário, ela ainda conseguiu entregar um trabalho de ponta, de sua parte, para aqueles que queriam saber como sua história realmente termina. Em suma, como filme isolado ou como sequência dos anteriores, "Alien - A Ressurreição" não funciona de maneira alguma, sendo, portanto, perfeitamente descartável; é o tipo de sequência que a gente vê uma vez para nunca mais. E nunca mais mesmo.
"Call: Father's dead, asshole. Intruder on level one. All aliens, please proceed to level one."
E a criatura mais misteriosa do espaço ganha outra sequência. De fato, ALIEN 3 tem suas falhas, é certo, mas não é, de todo, um filme insuportável. Desde a sonoplastia trash até os efeitos visuais, quase nada parece funcionar plenamente: atuações coadjuvantes rasas, roteiro bobo, premissa interessante mas sem fôlego... Não se trata do melhor filme da trilogia, mas, como entretenimento, não chega a ser isso que vocês pintam. Primeiro porque a Ripley está mais gloriosa neste volume que em qualquer outro da franquia: Sigourney Weaver carrega o filme nas costas sem fazer esforço. Segundo, há uma sacada muito genial sobre por quê o Alien não ataca a tenente, de todos os humanos, e essa sacada justifica a existência deste volume, é seu ponto alto, tendo até (se me permitem) determinado grau de poesia. Em terceiro lugar, só para ter uma ideia, o filme se passa numa prisão fechada, sem nenhuma arma de fogo, com mais de 600 dutos de ventilação para baixo da terra. E um Alien fazendo ninhos nas proximidades... Quer mais claustrofobia que isso!? Porém, é claro, se colocado ao lado dos anteriores, de fato o capítulo de David Fincher não faz jus às direções de Ridley Scott e James Cameron, cujos filmes também foram seus primeiros "grandes projetos". Evitando comparar propostas e escolhas diferentes, como uma obra separada ALIEN 3 não peca tanto se for pensado como um suspense "menor", por assim dizer. Mas, para um consumo mais profundo e dedicado, está mais para uma mosca de uma asa só. Tenta levantar voo, mas digamos que não chega muito longe... Mediano.
"Ripley: [to the Alien] You've been in my life so long, I can't remember anything else."
Porra, isso é um absurdo. (com spoilers) Não vou abordar os méritos técnicos, já mencionados por tantos, porque WHIPLASH é, de fato, uma obra bem editada, dinâmica, consciente de si e de seu poder de barulho. Meu problema com esse filme é o próprio conceito dele... Trata-se de um relacionamento moralmente abusivo entre professor e aluno. Lembro imediatamente do violentíssimo "A Professora de Piano", do Haneke, que também fala de disciplina, dedicação e fome, questionando, a todo momento, a natureza da agressora. O problema, em WHIPLASH, é justamente essa falta de questonamento. Fletcher é "o maioral" e está à procura do novo Charlie "Bird" Parker, e vai tirar o couro de todo aluno à sua frente para incentivá-lo a ser o maior. Mas pera lá... Que porra de inclinação é essa, cara? Isso é um absurdo. Andrew, o aluno, chega a se acidentar e, sangrando, só pensa em como vai chegar ao ensaio. Defende seu professor a todo custo, numa Estocolmo brabíssima, submetendo-se porque quer ser o melhor - não por paixão à Música, mas pela ambição de se destacar. Substitui o próprio sonho de ter uma carreira como baterista pela aprovação de um único professor, confundindo as duas coisas - chegando ainda a desistir de tocar só porque não conseguiu agradar o babaca. Não fode, Arte não se faz dessa maneira. Não é "irado" tocar bateria até abrir as mãos e respingar sangue na caixa. Não há glamour nessa violência física, verbal e emocional, não tem pra quê, MÚSICA NÃO SE TRATA DE SER O MAIOR DE TODOS OS TEMPOS. Não é uma competição de quem toca mais rápido, nunca deve ser dessa maneira. E no final das contas, depois de todo o abuso moral, o "estopim de genialidade" do garoto resulta apenas num "sorrisinho" de Fletcher, indicando que ele passou por toda aquela tempestade sem tamanho só para isso. O filme inteiro basicamente passa a mão na cabeça do agressor e tudo fica bem, porque agora Andrew ganhou a notoriedade que queria (ou merecia) apesar do quão dispendioso foi para alcançá-la. Não tô defendendo que ninguém tem que ir atrás de seus sonhos. A montanha não vai a Maomé, isso é um fato. A gente tem que ter a fome, mas MÚSICA não se trata de pisar nos outros. Não se esqueçam disso. Trata-se de ser, aos poucos, mais humano para si e para o outro. E se tem algo que nenhum dos dois tentou, foi sê-lo. Lição de merda, hein. Pela mensagem, o filme se atropela todo. E não tenho peito pras coisas que não têm alma. Feio.
"Terence Fletcher: I was there to push people beyond what's expected of them. I believe that's an absolute necessity."
Hollywood fala sobre Hollywood. LA LA LAND é o típico filme do "vamos falar sobre Los Angeles". Trata-se de uma tentativa de ilustrar o sonho americano, suas ambições e percalços, mesmo não soando nova. Esteticamente, sim, é uma obra impecável, palhetas de cores frias com quentes, os dois dançando nas estrelas, coreografias completas, coloridas, vibrantes... Lembra muito os espetáculos do Baz Luhrmann, com seus aclamados "Moulin Rouge!" e "O Grande Gatsby". Ambicioso, "Cantando Estações" procura soar fresco numa era de reciclagens e crises criativas de Hollywood, mesmo que não alce grandes voos neste sentido. De fato, Ryan Gosling tá incrível. Surpreende com sua habilidade de tocar piano, e ainda sapateia e canta com uma voz rouca, gostosa, apropriada para o jazz. Emma Stone trabalha bem, fazendo a "mocinha ingênua e sonhadora", e os dois possuem uma química que ecoa de muitos ensaios, naturalmente. Algumas cenas longas, que misturam canto com sapateado e atuação dos dois, se mostram muito desafiadoras e, de fato, merecedoras dos prêmios que o filme vem recebendo. Mesmo assim, vocês falam muito de "nascer um clássico" ou "cinema inovador" sobre um filme que não vai mais longe que um entretenimento simples, não busca grandes questões e talvez nem vá ser assim tão lembrado daqui a, não sei, 50 anos. As críticas ao tradicionalismo e a busca pela novidade, representadas no personagem do John Legend, são para mim o ponto alto de verdade. O final "diferente" do esperado também tem valor, uma vez que contrasta com aquela entrada clichê e anti-natural do filme, em que todos simplesmente cantam e dançam no meio do viaduto para apresentar a que LA LA LAND veio. É, portanto, um bom filme, tecnicamente bem executado mas pobre de ideias, como a própria Hollywood de hoje. Se há tanta homenagem aos clássicos por ela lançados nas décadas passadas, pode ser mais interessante assistir a eles que a outro filme que os homenageia. "La La Land - Cantando Estações" depende tanto do que já foi feito que acaba não tendo quase nada de novidade. E aí, cabe a você escolher o que assistir. Usando a questão do Keith contra o próprio filme; “Como você quer ser um revolucionário sendo tão tradicionalista?” Serve pra você também, Hollywood. E tenho dito.
Achei que fosse quebrar a cara, mas olha só que grata surpresa! ARRIVAL conta a história de uma linguista chamada para ajudar uma equipe de cientistas que dialogam com uma raça alienígena. Tinha tudo para ser um mais do mesmo, um sci-fi mediano sem momentos marcantes, mas não foi. Contrariando a expectativa, o filme não foi previsível ou vão assim. Desde a aparência dos aliens (não-humanóides, não-cabeçudos e sem olhos grandes) até a maneira de se expressar com os humanos, "A Chegada" apresenta novas formas de abordar um tema antigo que ainda respira em mistério - estamos mesmo sozinhos no Universo? Efeitos especiais e fotografia tinindo, e toda a montagem caminhando direitinho, o filme de Denis Villeneuve entrega um "drama sci-fi" íntegro, com a cereja no bolo da reviravolta final, sem semelhantes no gênero. É curioso quando você monta a história na cabeça, da maneira como imagina que ela deve ser, e isso lhe é tirado sem o menor preparo, sem alisar. É incrível ter o tapete puxado pela última pergunta de Louise. Como podíamos imaginar que aquilo não era o que pensávamos?! Apesar do romantismo talvez exacerbado em alguns momentos, o filme não perde o fôlego e nos carrega por duas horas sem sinais de cansaço. Enfim, vale uma conferida. Não chega a ser um totem, e as referências a "2001 - Uma Odisseia no Espaço" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" sublinham essa hereditariedade. Dá até pra dizer que ARRIVAL é como que um primo distante dos dois, sem a ambição do primeiro e o ineditismo do segundo, mas nada que o torne insuportável de assistir. Curti. Dos mais recentes, este é o mais original.
"Dr. Louise Banks: Despite knowing the journey and where it leads... I embrace it. And I welcome every moment of it."
A comparação entre este e o original de 1979 é bastante questionável. Primeiro, porque o gênero dos filmes difere - um é terror psicológico, outro é ação/aventura. Depois, porque foram diretores diferentes com projetos díspares para a trama. Se no primeiro ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO, Ridley Scott se preocupava mais com uma ambientação claustrofóbica e um suspense crescente, em ALIENS - O RESGATE, James Cameron se preocupa com uma maior intensidade, com mais interação, lutas e envolvimento do público. O filme não é melhor ou pior que o original, são abordagens diferentes, propostas diferentes. Muito embora eu prefira o clima do primeiro, este aqui tem seus momentos de tensão. Por mais que, às vezes, pareça forçado colocar tantos aliens e em tantos momentos, e terminar da maneira como terminou, ALIENS - O RESGATE é uma diversão bem montada, que não perde o fôlego apesar de soar datada. Trata-se do segundo grande projeto de Cameron no cinema, e isso deve ter algum valor. Ademais, parte das questões que o primeiro deixa em aberto são, aqui, satisfatoriamente respondidas, abrindo espaço para mais elementos misteriosos e instigando para o filme seguinte. Curti! Veria de novo fácil.
Cês me desculpem a sinceridade, mas esse filme é péssimo. Uma comédia deve divertir, intrigar, trazer situações cômicas, enfim, fazer rir. O que vocês chamam de "comédia inteligente dos irmãos Coen" para mim foi tudo menos divertida. Um plot bobo, sem grandes ganchos, conta o sequestro do ator Baird Whitlock pelos comunistas e seu plano para derrubar a indústria. Afora os clichês propositais e momentos pontuais em que uma intenção de comédia é percebida, "Ave César!" cai feio na primeira hora e meia e se torna absolutamente insuportável até seu desfecho. Nada vale o tempo em que se fica esperando algo acontecer na tela, quando parece que todos os atores perderam a química cenas atrás para trabalhar naquele filme. É difícil de acreditar que os homens por trás do excelente "Onde Os Fracos Não Têm Vez" assistiram à edição final disso aqui e decidiram levar a cabo do jeito que está. Parece inacabado, mal resolvido, enfim, tudo errado, tudo troncho, sem graça e sal. O tipo de produção que a gente passa batido quando reencontra num catálogo ou locadora. Péssimo, de verdade. Não assista, não vale o esforço.
Não creio que chorei numa animação da Disney, mas sempre há uma primeira vez, né? Essa galera sabe bem o que faz num estúdio. Desde a primeira animação, sobre um emprego que anestesia as pulsões de vida do empregado, até a cena extra no fim dos créditos, MOANA narra muito mais que a saga da heroína polinésia. Trata-se, aqui, da história de vida de todo mundo que tem um sonho, que deseja desbravar de alguma maneira sua própria história, mas vai preferindo deixar tais desejos de lado, por medo, manutenção da situação ou mesmo preguiça. Moana é apaixonada pelo mar e decide enfrentar os pais para velejar e salvar sua família, sua tribo, seu mundo. Isso se aplica de diversas maneiras às vidas das pessoas, é uma mensagem poderosíssima. A animação, em si, possui todos os atributos de uma excelente montagem da Disney, com um 3D muito agradável e roteiro tranquilo, sem brechas ou abusos. Não há, aqui, subversão alguma, mas a pura simplicidade e intenção de criança, que é justamente aquilo de que são feitos os sonhos; é por isso que é um filme tão rico, vasto e poderoso. Faz a gente rever onde estamos, o que estamos fazendo conosco e buscar a boa viagem. Como os já clássicos "Procurando Nemo" e "Monstros S.A.", MOANA entra na lista dos filmes belos e bons que costuram-nos por dentro, por fora, em todas as cores e por todas as ondas. É inestimável um filme ser capaz de te transportar para dentro, carregando todos os teus medos e cuidando, pouco a pouco, dos remendos que lhe faltam. São tempos difíceis, em que o dinheiro fala muito alto e as pessoas já não se conhecem mais, mas ainda há tempo, ainda há beleza, ainda é possível viver uma vida melhor, em busca do bem comum a todos, sem distinção. O todo estará sempre aqui, para que possamos conservá-lo. Caminhemos o belo percurso ao buscá-lo.
"Tamatoa: Are you just trying to get me to talk about myself? Because if you are... I will gladly do so! In song form!"
Depois de uma maratona de Jogos Vorazes, comento o que me incomodou, porque elogio 'cês leem nas resenhas dos outros. Beijo. Primeiramente, a série não é ruim. Mesmo. Trata-se de um sistema social fictício, construído com lógica, que entretém com tranquilidade. Isso, por si só, tem seu valor claro. São filmes ágeis, com trilhas bem compostas e caracterização e efeitos especiais que foram se superando - é tudo verdade, e também lógico: cada filme gerou uma receita maior para o sucessor, o que permitiu um orçamento mais robusto e, assim, capítulos (esteticamente) melhores. Quando falamos em THE HUNGER GAMES, falamos, então, numa franquia bem sucedida entre as "distopias teens" atuais. Ugh. Muito embora os dois primeiros filmes sejam muito menos enrolados, "Jogos Vorazes" conta uma história que podia durar apenas 3 filmes. Esse papo de dividir o último capítulo da saga em dois, quando os livros têm o mesmo tamanho, já é velha - Crepúsculo, Harry Potter e outras foram vítimas desse golpinho. E tudo bem, né? Às vezes funciona, mas aqui, não rolou. O que houve com THE HUNGER GAMES foi, na verdade, uma reestruturação da narrativa, que prejudicou (e muito) o terceiro capítulo, podendo muito bem ter sido mesclado com o último sem grandes perdas no processo. Mas segue o baile! Como não podia faltar, segue minha análise dos furos deste roteiro.
Nada contra Katniss. Sério. A saga do Herói, nela, foi completa. Colocá-la como rosto da Revolução, quando ela mesma detestava os holofotes, foi a melhor parte. Meu problema, de fato, foi com Peeta. Ele é um protagonista fraquíssimo: foi sorteado no Distrito dela, foi sua dupla e par romântico nos QUATRO filmes e mesmo assim ninguém parece conseguir se lembrar dele. É triste que não tenha protagonismo nem na própria história, uma vez que seu background é completamente irrelevante, nunca tendo sido sequer citado nos filmes (tirando aquela única cena do pão jogado na chuva). Ele é tão importante para os Jogos quanto ela, mas seu protagonismo só vem quando se opõe a Katniss, sendo pino político a favor do governo do Presidente Snow. Por falar em coadjuvante, o personagem Gale é descartável DEMAIS da trama. Fica claro, desde o começo, que ele irá perder Katniss para Peeta, porque não tem fibra, porque ela nunca se interessou de verdade, porque apenas "se coloca" na situação, mostrando-se um par quimicamente incompatível com ela. Sua posição de "terceira pessoa" no triângulo romântico deles é forçada e sem grandes momentos, e Gale acaba passando pelos filmes como "o rapaz apaixonado que não a conquistou e foi esquecido". E falando em esquecimento, Prim, irmã de Katniss, e a real razão de tudo aquilo ter acontecido, morre nos últimos momentos da saga e isso quase passa batido até seu desfecho, o que é inexcusável. Katniss se oferece como tributo em lugar dela, que morre na sua frente num combate, e ela acorda sem nem perguntar da menina. A mãe das duas também tem um luto estéril, sem prestar sentimentos à perda, com a cabeça quase que em qualquer outro lugar. Que família unida, né? E o final, bom, como dava para esquecer? Encerrando a saga da maneira mais clichê e besta possível, Katniss e Peeta casados, com dois filhos, vivendo nos destroços do Distrito 12, num dia ensolarado e bonito, Katniss pensando "como amo este homem" e todo aquele papo que a gente já conhece. Olha, para algumas escapadas interessantes do conjunto da obra (como Peeta odiar Katniss no terceiro filme, e a conversa final entre ela e o Presidente Snow), este foi um dos piores finais pensáveis. Não tinha como fechar de uma maneira mais brega, foi foda.
É certo que esta resenha não vai agradar a todos, na real provavelmente nenhum de vocês, mas são só algumas ideias para criar um conflito e gerar debate. Katniss Everdeen, como símbolo de resistência, mudança, dando voz à necessidade do povo, em conflito com o Presidente Snow, conservador, tradicional, imutável, defensor do governo, dos "homens de bem" e uma série de outros elementos. É, de fato, uma dualidade interessante, se bem estudada, que serve de base para a maior parte das lutas que vemos na vida real. A esquerda, a direita, os seus valores e nuances, a voz das minorias, enfim, tudo tem um pouco de retrato na saga THE HUNGER GAMES, basta ter o olho para ver e a empatia para sentir. Mesmo assim, não foi o suficiente para torná-la uma referência do gênero, ou uma contribuição maior para o debate, uma vez que se atém, muito mais, a causar impacto visual que discutir as relações de poder existentes em seu próprio universo. É válida a tentativa, mas não funciona de outra maneira. Mediano.
"President Alma Coin: May her arrow signify the end of tyranny and the beginning of a new era. Mockingjay, may your aim be as true as your heart is pure."
Esqueçam essa história de que "o rapaz tinha uma família distante e por isso matou todo mundo". Deixem isso pra lá, é um clichê bobo. Qualquer outra história que dê conta do assassinato é também leviana, porque o que importa, em 71 FRAGMENTOS..., não é o ato de violência em si, mas todo o panorama em que esta violência se encontra. O fim do filme também não tem importância. O foco, aqui, não é uma razão, um sentido que dê conta daquela destruição absurda, e sim o sistema, a maneira como a violência se desenvolveu numa sociedade constantemente esvaziada de sentido pelo acúmulo de consumo. O "acaso", em Haneke, é o resultado de uma constelação de "não-causalidades", são cotidianos desmembrados e não-relacionados que resultam nos frutos da violência, sem dar, em nenhum momento, um motivo sólido ou uma árvore comum para eles. Seus personagens são profundamente esvaziados de sentido, cinzentos, vivendo mecanicamente, trabalham para voltar para casa, e voltam para trabalhar. Niilismo, agressividade passiva, violência latente, iminente e irrestrita. Diálogos impessoais, importando as relações industriais de produção diretamente para os lares frios de seus protagonistas inexpressivos. A ausência de um mecanismo de descarrego do stress, através de atividades comuns como sexo, televisão, ou mesmo o convívio com o outro, produz nos personagens de Haneke uma existência constantemente estéril, instável, mesmo que aparentemente sob controle. Não há sintomas, não há diagnóstico, não dá pra perceber antes de romper tudo. Como nos anteriores e excelentes "O Vídeo de Benny" e "O Sétimo Continente", os dois outros filmes da sua "Trilogia da Incomunicabilidade", mais importante que encontrar razões para a violência, Haneke busca explorar o sistema como um conjunto de acasos, não diagnosticando um sintoma, mas a extensão do vírus no gigante corpo dócil. E o que mata no cinema dele é que tudo que é visto é aquilo que "não é importante". O foco, em quase todos os 71 fragmentos, é o cotidiano absolutamente 'status quo' dos envolvidos. Refeições simples, discussões sem grandes momentos, conversas ao telefone: Haneke quer o que descartamos como agente da violência. Apesar do silêncio gritante, toda a convivência no universo Hanekiano é ainda opressora, incômoda, sufocante. O esvaziamento de sentidos é tamanho em sua obra que grande parte das vítimas de seus filmes posteriores (como "A Professora de Piano", "Violência Gratuita" e "Amor") também viverão nesta mesma espécie de catatonia, caracterizada, ultimamente, por um processo de destruição sistemática das identidades individuais. E, talvez para libertar-se deste estado de catatonia, sem alavancas ou mecanismos para suportá-lo, todos os protagonistas de Haneke sucumbam à aniquilação, em massa ou específica, de sua realidade, para acabar com a crise identitária. Seja um suicídio coletivo, um assassinato de uma amiga ou o abrir-fogo dentro de um banco aleatório, todos os incomunicáveis, através da violência, se veem obrigados a destruir, de alguma maneira, o exterior, na tentativa de expurgar, de si mesmos, os demônios surgidos da sua própria ausência de sentido. É uma obra desalentadora, sim, mas de fato digna de palmas. Haneke merece todo o reconhecimento. Incrível.
A maneira como a trama é construída (e as grandes convicções que você sendo jogadas pela janela) realmente garante um bom divertimento. EU VOCÊ E A GAROTA QUE VAI MORRER é conciso, tem seus momentos de frescor (como as tomadas "invertidas" e as transições em off) e diverte. Ao que se propõe, entrega bem um drama/comédia tocante. Seu encerramento também chega a ser bonito e triste, de uma rara maneira. Não é o melhor de sua espécie, e está longe de revolucionar o cinema ou ser vanguarda europeia - mas traz bom humor e toca, e é importante que filmes toquem as pessoas. Pode ser interessante, num sábado à tarde, fazer uma pipoca e buscar este título. Mesmo que seja, por vezes, adolescente demais. E por isso mesmo bom.
"Greg: I remember visiting Rachel too. Sometimes she talked, and sometimes she didn't want to. When she didn't want to I talked. Or we watched movies. Sometimes she laughed, sometimes she didn't."
Tá aí um spin-off bom mesmo. Uma história paralela (e anterior) à do "menino que sobreviveu", baseada num livro da própria autora, ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM consegue ter fôlego para levar os mesmos feitiços, os mesmos efeitos e a mesma superstição de Harry Potter de volta para o Cinema, sem Harry ou qualquer outro de seus amigos. Aumentam as teorias, surgem novos embates, alguns segredos são sublinhados (aquilo era uma horcrux? eles falaram mesmo de Dumbledore? que relação teria a família Malfoy com...) e por aí vai, indefinidamente. Para quem conhece a história do bruxinho, já é um programa bom pra caramba, mas mesmo para quem não está ligado, o filme independe da saga original e consegue carregar qualquer um consigo para a aventura de suas criaturas. Aliás, falando nas criaturas, aqueles Obscurials são a MELHOR metáfora para depressão que podia ter sido inventada. Seres sem forma, escuros, como fumaças vivas, exalando de pessoas frustradas, tristes, que "não conseguiram ser bruxos" ou não se permitiram sê-lo. Quanto maior o arrependimento, maior e mais tóxico o animal. Fantástico o paralelo! Enfim, tecer elogios a este filme é rodar em círculos. Assistam, vale a pena, é divertido, inteligente e rápido na medida certa. Mesmo os efeitos especiais em 3-D (que não sou lá grande fã) ficaram excelentes e utilizados nas horas certas. Kudos.
"Jacob Kowalski: Eu amo elfos domésticos. Meu tio mesmo é um."
O tempo passa, a fórmula não muda. Hollywood outra vez exagera nos efeitos especiais, nos 3-Ds, 4-Ds, nas realidades aumentadas, e bota na roda outro filme pipoca-explosão-ai-meu-olho pra galera. Não sou este ranzinza que você imagina, mas sair do cinema com a vista exausta é pra poucos, né? O Benedict tá ótimo, não me leve a mal. Ele é um dos que realmente durarão, sem sombra de dúvidas. Os vilões, coadjuvantes e demais personagens também estão muito bem representados. Fotografia e sonoplastia nota dez. Mesmo assim, a edição do filme, por ser pipoca, é daquelas de epilético, muita informação, seções de dois minutos em cada cenário para não cansar, enfim, cês já conhecem a treta. Trilha sonora das músicas do momento e um balde de efeitos especiais sem fim. NADA NOVO SOB O SOL HEHEHEH Mesmo assim, tudo muito lindo, super-editado, computadorizado e tal, garantindo uma grande imersão do público, sei lá, sabe quando você não se convence com a parada? Foi meio assim comigo. Já vi filmes na tela do celular que me prenderam mais, me interessaram mais e tal - e não foi este o caso de "Doutor Estranho" A título de divertimento no "cinema social com os migos" num shopping da Zona Sul desta cidade, eu recomendo o "Animais Fantásticos e Onde Habitam", porque o achei bem mais gostoso de assistir, ainda mais com o 3-D, mas aí vai de cada um. Há um divertimento neste aqui também, é claro, mas não me moveu tanto quanto outros lançamentos. Infelizmente, não valeu muito a pena para este que vos fala. P.S.: Ainda prefiro este diretor botando fogo nos carros das famílias de "A Entidade".
"Anciã: Arrogância e medo continuam te impedindo de aprender a mais simples das lições. Dr. Strange: Que é? Anciã: Nem tudo é sobre você."
Baita filme besta, mas gostosinho demais para passar o tempo! "Ligados Pelo Amor" é daquelas comédias românticas "para a família", porque cada elo desta família é um reflexo da vivência urbano-apartamentística, por assim dizer. Todo mundo consegue se identificar com alguém daqui, em especial eu mesmo com o Rusty e sua dedicação à escrita. Filme bem conduzido, trilha sonora boa, edição 10/10. Menção especial à aparição de Stephen King, homem de quem também sou fã, e ao casting destes atores, porque eles tiveram tanta química e poder de convencimento que eu mesmo me esqueci que não são pai, mãe, filha e filho. Muito massa poder rir um pouco com isso aqui. Pode pegar no Netflix sem medo. Maneirinho.
"Rusty Borgens: Eu me lembro que doía. Olhar para ela doía."
Acho que a palavra que define este filme é "charmoso". Não está nem perto do auge da carreira do Allen, mas MAGIA AO LUAR trata-se por um filme com seu charme, suas sacadas, suas bobagens. Diálogos tranquilos, história amarradinha, início, meio e fim, previsibilidade e cultura enlatada "light" - mas é justamente em sua simplicidade que esta comédia consegue arrancar alguns suspiros do pessoal, mesmo daqueles que já esperavam aquele final. É educadinho - mas só. Não veria de novo.
"Stanley: Eu não posso te perdoar. Apenas Deus pode te perdoar. Sophie: Mas você disse que não existe um Deus. Stanley: Exatamente."
Certamente aqui não temos um filme para adultos. Todo mundo sabe que, na Arte, não existe censura de verdade. Aos 22, eu posso assistir qualquer coisa que uma mulher de 62 assistiu. O ato da censura só se faz necessário quando o público é, por exemplo, jovem demais, e ainda não viveu determinadas situações para compreender o filme – uma criança de 11 anos, por exemplo, não deveria assistir “O Último Tango em Paris”, né. Pelo menos assim deveria ser. Desde 2006 essa é a nossa realidade. A “Classificação Indicativa” é um órgão da Secretaria Nacional de Justiça que decide para qual idade tal obra é indicada. Tem filme que todo mundo pode ver, como as animações da Disney, e tem filme que precisa de uma faixa etária. O caso de “Esquadrão Suicida”, indicado para a partir dos 12 anos, é certamente o de um filme que não foi feito nem para o seu público, nem para as crianças e principalmente para os adultos. Ele faz parte do gigantesco universo dos heróis de quadrinhos, capitaneados pelas superprodutoras Marvel e DC Comics, que têm produzido novas e abissais adaptações cinematográficas das HQs. É refilmagem, reboot, franquia sob franquia, e sempre com o mesmo plot, caminhando pro mesmo lugar, encerrando do mesmo jeito. Sem entrar no mérito da qualidade artística/intelectual de qualquer outro filme da DC, vamos dar uma olhada na receita de seu mais recente “Esquadrão Suicida”. Grandes aberturas, cortes muito rápidos, tanta velocidade que quase não dá para ler as legendas. Informação despejada aos montes nos primeiros quinze minutos. Ao longo de seu curso, o roteiro apresenta falhas de lógica, como o fato do Esquadrão ser formado antes do “problema” surgir propriamente. Junte isso à pirotecnia incessante e à palheta de cores incandescentes, que dura o filme inteiro. Encha a trilha sonora de hits da música norte-americana dos últimos anos e coloque grandes atores, como Viola Davis e Will Smith, para vender mais. Umas piadinhas idiotas aqui e ali, muita porrada, explosão e culto à virilidade, uma dose cheia de sensacionalismo sobre o valor da família e um final extremamente oportuno, e também dolorosamente previsível. Tudo isso podia ser a cereja do bolo. Mas não... Claro que não. A cereja do bolo é a Arlequina. O seu problema, como muitos disseram, é sua sexualização indevida – todas as feministas e os rapazes sensatos já deram conta dessa questão muitíssimo bem por aqui. Porém, para mim, não se resume a isso: acho preocupante o efeito, a longo prazo, dessa hiper-sexualização aos meninos e principalmente meninas de 12, 13, 14 anos para quem este filme já é indicado. Antes que digam, eu sei que a personagem já estava nos quadrinhos dessa maneira, mas é justamente por isso que devemos refletir, tanto sobre a classificação etária do filme, quanto sobre o lugar REAL da heroína (ou vilã, se preferir) numa trama como esta. Sexualizar um soldado ou herói não é vantajoso porque o público-alvo é masculino e, logo, não quer ver homem gostoso. É de bom tom, portanto, botar uma vilã que todos os personagens querem comer, e quem sabe assim não despertamos, nas mentes desses pequenos entusiastas dos quadrinhos, aquela primeira e gostosa punheta objetificante? Não dá para ignorar que o filme, além de um desserviço para o Cinema como Arte, como manifestação, é também outro dos preocupados apenas na manutenção das estruturas do Machismo e no entretenimento vazio para o afamado consumidor médio. Ser “só” um filme da DC sobre vilões que salvam o mundo é muito pouco, precisa ser épico, piadista, explosivo, visualmente estimulante e superficialmente emocionante. O resultado disso se apresenta esquizofrênico, uma película que não sabe dialogar nem com seu público e nem sobre o seu propósito. Entretenimento pros jovens? Me poupem, não devo nada a vocês. Cada um de nós sabe o que escolhe e o que quer da vida. A minha bronca não é em vocês, mesmo que a carapuça sirva, mas em quem produz esse material para gente em desenvolvimento, que ainda não entende plenamente as coisas do mundo - e que ainda precisa aprender um pouco antes de ver um filme desses. O pior de seu tipo? Não. Mas “Arte”? Pra quê? Certamente aqui não temos um filme para adultos.
“Joker: Would you die for me? Harley Quinn: Yes. Joker: No, no, no. That's too easy... Would you live for me?”
Precursor de filmes igualmente interessantes envolvendo a viagem no tempo-espaço, como "Cubo 2", "O Efeito Borboleta" e mais recentemente "A Viagem", TWELVE MONKEYS tece uma trama robusta, contando uma história de pós-civilização, depois que um vírus mortal a dizimou quase por completo. A esperança, todos sabemos, é Bruce Willis voltar ao passado e resgatar as respostas sobre o acidente, procurando preveni-lo de acontecer. Além de ele próprio estar excelente no filme, temos Brad Pitt ensaiando seu lado psycho, um pré-Tyler Durden, como já falaram embaixo, e Madeleine Stowe como uma surpreendentemente boa coadjuvante. A direção de arte também mandou muito bem, inspirando-se no pós-industrialismo e um pouco no cyberpunk. Alguns dos filmes de ficção científica dos anos 2000 beberam da fonte de "Os 12 Macacos", com certeza. E, no final das contas, é de impressionar o quanto que esse roteiro amarrado impacta. São bons cliffhangers e boas folgas, tem momento de respirar e de prender a respiração. É sístole-diástole o tempo todo. Eu diria, também, que a sonoplastia merece uma puta consideração, porque potencializa o filme todo, mas o desfecho tem um destaque inevitavelmente maior: porra, que final fenomenal! Nunca tinha visto um nó tão bem feito. Tem no Netflix, gente. Catem. Foda.
"Jeffrey Goines: There's no right, there's no wrong, there's only popular opinion."
SAI FORA, GERALDO! Brilhante, engenhoso e jovem ao mesmo tempo, "Procurando Dory" vem para refrescar a memória de quem se emocionou com o premiado "Procurando Nemo". É o tipo de filme que toda a família pode assistir, se identificar, se emocionar, enfim, se divertir sem a menor das preocupações. A Pixar tem um catálogo absurdo de sucessos. O que tem mão desse pessoal tem o selo do maior dos estúdios de animação do mundo, e a complicadíssima tarefa de dar uma sequência a "Procurando Nemo", que muitos consideravam desnecessária, foi, aqui, satisfatoriamente concluída. Novos personagens, novas relações, surpresas, piadas e bordões (especialmente na dublagem brasileira) recheiam a massa. A citação direta de trechos do antecessor dá um charme a mais, e o filme inteiro torna-se um prato cheio de dinamismo, cores incríveis e sonorização afiada. Há quem diga que não tem o mesmo brilho do primeiro, ou a originalidade, mas realmente gostei do que foi feito aqui. Não esperava uma reinvenção completa do universo de Nemo, até porque isso jamais foi cogitado. Muito embora o roteiro deste não seja exatamente complexo ou inédito, há qualquer coisa de novidade aqui que, certamente, vale uma conferida - seja em família, seja em par, seja sozinho. Diversão garantida. Deem uma olhada! Maneirasso.
"Dory: For a guy with three hearts, you are not very nice."
Porrada pura. PAULINA destaca-se no cinema argentino quando, em seu argumento, coloca a esquerda e a direita como constituintes de um mesmo contexto, como visões periféricas (e antagônicas) do mesmo acontecimento. De um lado, o pai, um juiz conservador e influente, buscando caçar os culpados do crime. Do outro, a filha, ativista, guerrilheira e defensora dos Direitos Humanos acima de qualquer influência externa. Paulina e Fernando representam o diálogo insatisfatório e muitas vezes inexistente entre a direita dos fascismos e a esquerda dos socialismos atuais. E nunca tinha visto algo tão perturbador, e que mergulhasse no debate político de maneira tão proveitosa. Este filme aborda a violência contra a mulher, tanto como símbolo, quanto como sintoma de uma estrutura superior que se impõe a todas de maneira quase homogênea. Pincela as causas e explora as consequências, trabalhando inclusive as outras violências que desembocam destas, vindo de policiais, médicos, juízes, noivos... De todos os homens. É uma película que definitivamente sabe o que quer e para quê veio. No fim das contas, o conflito, o front, a luta é isso: educar uma geração imoral, niilista, perdida, violenta e, sobretudo, machista. Encarar o desconforto de um estupro, a humilhação e a dor de um estupro, e continuar. E dar o próximo passo. E prosseguir. E ir além. Assumir essa postura é a grande revolução do nosso tempo, e é nela que o filme alcança o seu melhor momento: Quando Paulina assume a esquerda, uma subversão inaceitável balança o filme inteiro, ecoando até muito depois de seu desfecho. A decisão de Paulina é a decisão acima da situação, do contexto, da vingança; é ser Mulher, num mundo dominado pelo inominável, por aquilo que naturaliza o estado de exceção, o cerceamento das liberdades, a forma dos corpos, o peso das vidas. Viver em sociedade, como mulher, é uma subversão – um desafio real e constante. E isso deve ser sempre lembrado. Não se trata de uma utopia, mas de uma maneira profundamente humana de ser. Tão humana, que só os homens não tem; abdicar-se de certas mentalidades, e perceber, em cada detalhe, algo novo a ser cultivado, criado, gerado, partilhado. E, quem sabe, abençoado. Apesar da dor, ou por causa dela. Veria de novo mil vezes. Assista sem medo. O filme é foda.
“Acredito que somos componentes de uma situação que nós mesmos não conseguimos compreender plenamente.”
O que mais me agrada sobre ORGULHO E PRECONCEITO é a forma como o seu clímax é construído sem explosões, gritarias, cortes rápidos ou trilhas sonoras lancinantes. Pelo contrário, tudo neste drama político é calmo, plácido, edifica-se de lentas imersões, lentas concessões, lentos desenvolvimentos. Do improvável romance entre Lizzie e Mr. Darcy até as questões sociais que foram cuidadosamente exploradas pela gigantesca Jane Austen, tudo nesta obra encaixa-se, conclui-se, reverbera nos tempos. Além da fotografia fantástica (em especial a iluminação nas cenas internas), o filme tem, no trabalho dos figurinistas e maquiadores, excelentes resultados. A coloração alaranjada, tornando-se azulada, para tornar-se novamente alaranjada é outro toque delicado a ser percebido. Toda a estética desta adaptação foi planejada com muito carinho e empenho, e ela torna-se uma delícia para quem quer se aventurar pela paixão enigmática dos protagonistas. Aliás, Keira Knightley não erra uma, né? Impressionante como ela está sempre impecável. Daqueles filmes para rever sempre que puder. Dá uma olhada! Se cê curte filme com desenvolvimento mais lento, esse aqui é o tal!
“Mr. Bennet: Your mother will never see you again if you do not marry Mr. Collins... and I will never see you again if you do. Mrs. Bennet: Mr. Bennet! Elizabeth Bennet: Thank you, Papa.”
Fui a uma exposição de cinema estrangeiro lá no CCBB e este filme era um dos que chamou a atenção. Despretensiosamente, e sem mesmo pensar em escrever a respeito, fui dar uma olhada no que poderia ser um retrato do cinema polonês, e, olha que loucura: ele nem era. O filme, de fato, não tem grandes assinaturas regionais – trata-se muito mais de um suspense “norte-americanizado” do que um suspense polonês. Quase tudo é mais ou menos no estilo família ocidental, sonho americano, vizinhança de casinhas, fofocas, smartphones e por aí vai, e esses elementos não remetem necessariamente à cultura polonesa ou mesmo à sua região. Mesmo os aplicativos que os protagonistas usam são familiares: Whatsapp, Skype, Macbook, entre outros, o que acaba aproximando demais, né. Não que seja exatamente um problema, mas devemos ter em mente que qualquer filme inteiramente produzido numa língua e numa terra estrangeira (e que faz parte de uma exposição de cinema estrangeiro) deveria ter pelo menos algum traço que remetesse à região de onde ele veio. Apesar desse problema de identidade, OBIETNICA é tenso, de fato. Tenso pra cacete. Na questão do suspense, considero um dos bons. Trilha sonora atmosférica, também, densa e quase palpável, e a protagonista leva o filme sem nenhuma dificuldade. O tema, aliás, é um excelente gerador de debate: qual é, ou onde está a linha que separa o amor da obsessão? Como a gente pode evitar passar para o outro lado, quando imerso no desejo de voltar ao amado? Quando sentimos amor, estamos dispostos a fazer QUALQUER coisa pela pessoa? Inclusive roubar, matar, estuprar ou algo do gênero? E o ostinato que “A Promessa” deixa é justamente esse questionamento, ainda mais diante das resoluções da trama; depois de tudo que aconteceu, quem deve, realmente, ser culpado? Será o namorado, a namorada, ou o sentimento humano? É um caso de crime passional ou não? Serão os sentimentos humanos (como toda a Humanidade) falhos ou rasos a ponto de nos destituir-nos de nós mesmos? Seremos vãos como o verdadeiro Amor, ou ele nunca será vão, em primeiro lugar? Fica a dúvida. Maneirinho.
Muita gente costuma dizer que esta é a melhor adaptação do romance de Alexandre Dumas, mas como não vi outra, fico nessa aqui mesmo. Para quem espera um filme eletrizante de vingança, é importante avisar que este aqui tem desenvolvimento lento. Muito embora seja deste século, "O Conde de Monte Cristo" tem uma dinâmica muito própria, e, para o espectador acostumado com filmes de ação rápidos e explosivos, pode se tornar um pouco mareado. Suas tramas são bem enlaçadas, ainda que tomem tempo para ser apreendidas - mas trata-se de uma história que foi escrita há 172 anos, e isso deve ser sempre lembrado. Mesmo assim, o filme tem suas qualidades. A atuação de Guy Pierce é impressionante, e os duelos de espada também. A trilha sonora entra em destaque, e as cenas externas foram bem planejadas. Em si, a trajetória da vingança de Edmond Dantes tem valor especialmente pela fixação que ela projeta, mas talvez, sob a perspectiva de outra adaptação, ela seja mais instigante e, por isso mesmo, mais eficiente. É mediano, mas eu não veria de novo.
"Edmond: Life is a storm, my young friend. You will bask in the sunlight one moment, be shattered on the rocks the next. What makes you a man is what you do when that storm comes. You must look into that storm and shout as you did in Rome. Do your worst, for I will do mine! Then the fates will know you as we know you: as Albert Mondego, the man!"
Depois de anos ouvindo falar, finalmente dei uma chance à versão Cameroniana do transatlântico Titanic, que afundou de verdade em 1912. Três horas de filme para a conta, e não é que me descobri chorando que nem uma criança, pensando na relação entre os pobres e os ricos, e a questão da oportunidade para todos, que alguns ainda pensam ser uma "utopia estúpida"? O preconceito, o desacato, o desgaste das relações humanas do início do século passado ainda soam como novos no início deste século. A história de Jack e Rose é a história da Elite e o Proletariado, do detentor e do subsidiário, do senhor de terras e do agricultor - e do romance impossível entre ambos, como já visto em clássicos como "Orgulho e Preconceito" (1813) e "A Dama e o Vagabundo" (1955), com abordagens diferentes. O choque desses mundos é indispensável porque é ele que causa o desconforto. Como assim a Rose, uma mulher prendada, de família, noiva de um magnata, vai preferir continuar no navio afundando com o pé rapado, pobre e deselegante do Jack? A questão não está, como muitos disseram, no Amor que eles sentem, puro e simples. Pelo contrário, está na posição social em que cada um se encontra, e na impossibilidade contextual em que o romance se apresenta. Uma vida bela, devagar, inocente, ao lado de um rapaz gentil é tudo que a Rose realmente espera (e merece). Que importa uma crise financeira diante da real possibilidade de viver bem, da alternativa para concretizar o bem-viver das tardes? No final das contas, é como se o navio fosse a nossa própria vida, passando pelas águas do cotidiano, com um destino sabido por todos, mas que "chega sempre sem avisar". E cada angústia, cada rancor, cada mágoa, cada atitude de má fé será lembrada quando estivermos próximos do fim. E quando estivermos lá, não vai ser o dinheiro que a gente ganhou, nem a família em que a gente cresceu, nem o casamento que a gente garantiu que vai fazer a diferença, mas a vida que a gente viveu - e, principalmente, o quanto de Amor que a gente cultivou e preservou neste mundo injusto e cada dia mais absurdo. Muitos diálogos em "Titanic" ilustram perfeitamente esta minha análise, mas a citação que quero fazer não vem do filme. Esta é uma letra do Criolo, da música "Esquiva da Esgrima". Fica o papo dele pra vocês. Vejam este filme. Não vão se arrepender mesmo!
"Hoje não tem boca pra se beijar, não tem alma pra se lavar, não tem vida pra se viver, mas tem dinheiro pra se contar. De terno e gravata, teu pai agradar, levar tua filha pro mundo perder, é o céu da boca do inferno esperando você."
O Último Samurai
3.9 940 Assista AgoraNão tem outra palavra: isso aqui é um FILMAÇO.
Direção, fotografia, atuação, trilha sonora, enfim, tá tudo impecável. Tom Cruise mandou muito bem nesse papel - ele é um protagonista nato, é verdade - e algumas dessas cenas ficam mesmo na cabeça... Este filme tem todos os méritos possíveis, é um deleite aos olhos.
Porém, é imperativo lembrar da questão da Tradição, numa época tão pós-moderna como a nossa. Os japoneses "rebeldes", no fim da leitura, são como as forças tradicionalistas da Cultura, responsáveis pela manutenção da história e do imaginário de um povo milenar, constituído por aqueles que ali vivem. É importante lembrar a história dos Samurais, mas também o é perceber que outros povos (e histórias, e encontros) estão se desfazendo à medida que a pós-modernidade avança.
O contato entre as culturas é inevitável, uma realidade desde o pós-navegações, mas uma não deve, jamais, sobrepor-se à outra. Seja pela força física, seja pela filosofia, seja pela religião - devemos ter o entendimento maior, a compreensão absurda de que cada um vem de um lugar, cada pessoa tem uma família e um modo de viver que difere dos demais. É isso que torna este mundo tão bonito, tão vasto e complexo.
Sejamos, pois, os "últimos samurais" dos nossos próprios rebeldes, e prossigamos na jornada de preservação das coisas belas que só nós conhecemos de verdade.
Esplêndido.
"Simon Graham: They say Japan was made by a sword. (...) I say Japan was made by a handful of brave men. Warriors, willing to give their lives for what seems to have become a forgotten word: honor."
Alien: A Ressurreição
3.1 488 Assista AgoraTá bom, aqui já foi demais.
Este é o quarto filme da franquia "Alien", baseado no filmaço que foi "O Oitavo Passageiro", de 1979, do Ridley Scott. Depois de uma sequência de prender o fôlego em 1986, do James Cameron, e a finalização questionável porém decisiva em 1992, do David Fincher, simplesmente não dava pra acreditar em um quarto filme, depois da morte de Ripley por uma caldeira nuclear.
E por pior que pareça, uma amostra de sangue da nave do segundo filme foi usada para cloná-la e remover o alienígena em seu ventre. Mesmo que façamos o esforço para passar por cima deste argumento, assistimos a um filme que falha em todo o restante a que se propõe. "Alien - A Ressurreição" é um erro como filme de ação/ficção científica, como desenvolvimento da história, como entretenimento - e o que mais fica parecendo é que a 20th CENTURY FOX, no final das contas, se parece mais com a Companhia do filme do que a gente gostaria de admitir. Foi somente pela ganância que lançaram este trabalho - longe de se preocupar com o universo ALIEN de fato, exatamente como os engravatados do filme fazem.
Foi um flop, gerou pouquíssima receita, o diretor detestou a edição final e este filme foi esquecido, porque foram más escolhas em todas as decisões - desde o casting até a sonoplastia. É irônico pensar que o primeiro, de 1979, tenha envelhecido melhor que todos os outros, mas foi exatamente isso que aconteceu. O que havia de inovador no universo Alien, aqui, tornou-se completamente estéril e híbrido, se vocês me permitem a referência. As tensões, o clima dark, o pavor foram substituídos por muita violência, sangue e mortes, desculpas para o Alien ficar matando todo mundo sem significado.
Sigourney Weaver é, basicamente, a razão de todo o filme não colapsar em si mesmo, e que bom que ela ainda trabalhou neste. Mesmo com esse cenário, ela ainda conseguiu entregar um trabalho de ponta, de sua parte, para aqueles que queriam saber como sua história realmente termina.
Em suma, como filme isolado ou como sequência dos anteriores, "Alien - A Ressurreição" não funciona de maneira alguma, sendo, portanto, perfeitamente descartável; é o tipo de sequência que a gente vê uma vez para nunca mais.
E nunca mais mesmo.
"Call: Father's dead, asshole. Intruder on level one. All aliens, please proceed to level one."
Alien 3
3.2 543 Assista AgoraE a criatura mais misteriosa do espaço ganha outra sequência.
De fato, ALIEN 3 tem suas falhas, é certo, mas não é, de todo, um filme insuportável. Desde a sonoplastia trash até os efeitos visuais, quase nada parece funcionar plenamente: atuações coadjuvantes rasas, roteiro bobo, premissa interessante mas sem fôlego... Não se trata do melhor filme da trilogia, mas, como entretenimento, não chega a ser isso que vocês pintam.
Primeiro porque a Ripley está mais gloriosa neste volume que em qualquer outro da franquia: Sigourney Weaver carrega o filme nas costas sem fazer esforço. Segundo, há uma sacada muito genial sobre por quê o Alien não ataca a tenente, de todos os humanos, e essa sacada justifica a existência deste volume, é seu ponto alto, tendo até (se me permitem) determinado grau de poesia. Em terceiro lugar, só para ter uma ideia, o filme se passa numa prisão fechada, sem nenhuma arma de fogo, com mais de 600 dutos de ventilação para baixo da terra. E um Alien fazendo ninhos nas proximidades... Quer mais claustrofobia que isso!?
Porém, é claro, se colocado ao lado dos anteriores, de fato o capítulo de David Fincher não faz jus às direções de Ridley Scott e James Cameron, cujos filmes também foram seus primeiros "grandes projetos". Evitando comparar propostas e escolhas diferentes, como uma obra separada ALIEN 3 não peca tanto se for pensado como um suspense "menor", por assim dizer. Mas, para um consumo mais profundo e dedicado, está mais para uma mosca de uma asa só.
Tenta levantar voo, mas digamos que não chega muito longe...
Mediano.
"Ripley: [to the Alien] You've been in my life so long, I can't remember anything else."
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraPorra, isso é um absurdo. (com spoilers)
Não vou abordar os méritos técnicos, já mencionados por tantos, porque WHIPLASH é, de fato, uma obra bem editada, dinâmica, consciente de si e de seu poder de barulho. Meu problema com esse filme é o próprio conceito dele...
Trata-se de um relacionamento moralmente abusivo entre professor e aluno. Lembro imediatamente do violentíssimo "A Professora de Piano", do Haneke, que também fala de disciplina, dedicação e fome, questionando, a todo momento, a natureza da agressora. O problema, em WHIPLASH, é justamente essa falta de questonamento. Fletcher é "o maioral" e está à procura do novo Charlie "Bird" Parker, e vai tirar o couro de todo aluno à sua frente para incentivá-lo a ser o maior. Mas pera lá...
Que porra de inclinação é essa, cara? Isso é um absurdo. Andrew, o aluno, chega a se acidentar e, sangrando, só pensa em como vai chegar ao ensaio. Defende seu professor a todo custo, numa Estocolmo brabíssima, submetendo-se porque quer ser o melhor - não por paixão à Música, mas pela ambição de se destacar. Substitui o próprio sonho de ter uma carreira como baterista pela aprovação de um único professor, confundindo as duas coisas - chegando ainda a desistir de tocar só porque não conseguiu agradar o babaca.
Não fode, Arte não se faz dessa maneira. Não é "irado" tocar bateria até abrir as mãos e respingar sangue na caixa. Não há glamour nessa violência física, verbal e emocional, não tem pra quê, MÚSICA NÃO SE TRATA DE SER O MAIOR DE TODOS OS TEMPOS. Não é uma competição de quem toca mais rápido, nunca deve ser dessa maneira.
E no final das contas, depois de todo o abuso moral, o "estopim de genialidade" do garoto resulta apenas num "sorrisinho" de Fletcher, indicando que ele passou por toda aquela tempestade sem tamanho só para isso. O filme inteiro basicamente passa a mão na cabeça do agressor e tudo fica bem, porque agora Andrew ganhou a notoriedade que queria (ou merecia) apesar do quão dispendioso foi para alcançá-la.
Não tô defendendo que ninguém tem que ir atrás de seus sonhos. A montanha não vai a Maomé, isso é um fato. A gente tem que ter a fome, mas MÚSICA não se trata de pisar nos outros. Não se esqueçam disso.
Trata-se de ser, aos poucos, mais humano para si e para o outro.
E se tem algo que nenhum dos dois tentou, foi sê-lo.
Lição de merda, hein.
Pela mensagem, o filme se atropela todo.
E não tenho peito pras coisas que não têm alma.
Feio.
"Terence Fletcher: I was there to push people beyond what's expected of them. I believe that's an absolute necessity."
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraHollywood fala sobre Hollywood.
LA LA LAND é o típico filme do "vamos falar sobre Los Angeles". Trata-se de uma tentativa de ilustrar o sonho americano, suas ambições e percalços, mesmo não soando nova. Esteticamente, sim, é uma obra impecável, palhetas de cores frias com quentes, os dois dançando nas estrelas, coreografias completas, coloridas, vibrantes... Lembra muito os espetáculos do Baz Luhrmann, com seus aclamados "Moulin Rouge!" e "O Grande Gatsby". Ambicioso, "Cantando Estações" procura soar fresco numa era de reciclagens e crises criativas de Hollywood, mesmo que não alce grandes voos neste sentido.
De fato, Ryan Gosling tá incrível. Surpreende com sua habilidade de tocar piano, e ainda sapateia e canta com uma voz rouca, gostosa, apropriada para o jazz. Emma Stone trabalha bem, fazendo a "mocinha ingênua e sonhadora", e os dois possuem uma química que ecoa de muitos ensaios, naturalmente. Algumas cenas longas, que misturam canto com sapateado e atuação dos dois, se mostram muito desafiadoras e, de fato, merecedoras dos prêmios que o filme vem recebendo. Mesmo assim, vocês falam muito de "nascer um clássico" ou "cinema inovador" sobre um filme que não vai mais longe que um entretenimento simples, não busca grandes questões e talvez nem vá ser assim tão lembrado daqui a, não sei, 50 anos.
As críticas ao tradicionalismo e a busca pela novidade, representadas no personagem do John Legend, são para mim o ponto alto de verdade. O final "diferente" do esperado também tem valor, uma vez que contrasta com aquela entrada clichê e anti-natural do filme, em que todos simplesmente cantam e dançam no meio do viaduto para apresentar a que LA LA LAND veio.
É, portanto, um bom filme, tecnicamente bem executado mas pobre de ideias, como a própria Hollywood de hoje. Se há tanta homenagem aos clássicos por ela lançados nas décadas passadas, pode ser mais interessante assistir a eles que a outro filme que os homenageia. "La La Land - Cantando Estações" depende tanto do que já foi feito que acaba não tendo quase nada de novidade.
E aí, cabe a você escolher o que assistir.
Usando a questão do Keith contra o próprio filme;
“Como você quer ser um revolucionário sendo tão tradicionalista?”
Serve pra você também, Hollywood.
E tenho dito.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraAchei que fosse quebrar a cara, mas olha só que grata surpresa!
ARRIVAL conta a história de uma linguista chamada para ajudar uma equipe de cientistas que dialogam com uma raça alienígena. Tinha tudo para ser um mais do mesmo, um sci-fi mediano sem momentos marcantes, mas não foi. Contrariando a expectativa, o filme não foi previsível ou vão assim.
Desde a aparência dos aliens (não-humanóides, não-cabeçudos e sem olhos grandes) até a maneira de se expressar com os humanos, "A Chegada" apresenta novas formas de abordar um tema antigo que ainda respira em mistério - estamos mesmo sozinhos no Universo? Efeitos especiais e fotografia tinindo, e toda a montagem caminhando direitinho, o filme de Denis Villeneuve entrega um "drama sci-fi" íntegro, com a cereja no bolo da reviravolta final, sem semelhantes no gênero.
É curioso quando você monta a história na cabeça, da maneira como imagina que ela deve ser, e isso lhe é tirado sem o menor preparo, sem alisar. É incrível ter o tapete puxado pela última pergunta de Louise. Como podíamos imaginar que aquilo não era o que pensávamos?! Apesar do romantismo talvez exacerbado em alguns momentos, o filme não perde o fôlego e nos carrega por duas horas sem sinais de cansaço.
Enfim, vale uma conferida. Não chega a ser um totem, e as referências a "2001 - Uma Odisseia no Espaço" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" sublinham essa hereditariedade. Dá até pra dizer que ARRIVAL é como que um primo distante dos dois, sem a ambição do primeiro e o ineditismo do segundo, mas nada que o torne insuportável de assistir.
Curti. Dos mais recentes, este é o mais original.
"Dr. Louise Banks: Despite knowing the journey and where it leads... I embrace it. And I welcome every moment of it."
Aliens: O Resgate
4.0 811 Assista AgoraA comparação entre este e o original de 1979 é bastante questionável.
Primeiro, porque o gênero dos filmes difere - um é terror psicológico, outro é ação/aventura. Depois, porque foram diretores diferentes com projetos díspares para a trama. Se no primeiro ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO, Ridley Scott se preocupava mais com uma ambientação claustrofóbica e um suspense crescente, em ALIENS - O RESGATE, James Cameron se preocupa com uma maior intensidade, com mais interação, lutas e envolvimento do público.
O filme não é melhor ou pior que o original, são abordagens diferentes, propostas diferentes. Muito embora eu prefira o clima do primeiro, este aqui tem seus momentos de tensão. Por mais que, às vezes, pareça forçado colocar tantos aliens e em tantos momentos, e terminar da maneira como terminou, ALIENS - O RESGATE é uma diversão bem montada, que não perde o fôlego apesar de soar datada. Trata-se do segundo grande projeto de Cameron no cinema, e isso deve ter algum valor.
Ademais, parte das questões que o primeiro deixa em aberto são, aqui, satisfatoriamente respondidas, abrindo espaço para mais elementos misteriosos e instigando para o filme seguinte.
Curti! Veria de novo fácil.
"Ripley: Get away from her, you bitch!"
Ave, César!
3.2 311 Assista AgoraCês me desculpem a sinceridade, mas esse filme é péssimo.
Uma comédia deve divertir, intrigar, trazer situações cômicas, enfim, fazer rir. O que vocês chamam de "comédia inteligente dos irmãos Coen" para mim foi tudo menos divertida. Um plot bobo, sem grandes ganchos, conta o sequestro do ator Baird Whitlock pelos comunistas e seu plano para derrubar a indústria. Afora os clichês propositais e momentos pontuais em que uma intenção de comédia é percebida, "Ave César!" cai feio na primeira hora e meia e se torna absolutamente insuportável até seu desfecho. Nada vale o tempo em que se fica esperando algo acontecer na tela, quando parece que todos os atores perderam a química cenas atrás para trabalhar naquele filme.
É difícil de acreditar que os homens por trás do excelente "Onde Os Fracos Não Têm Vez" assistiram à edição final disso aqui e decidiram levar a cabo do jeito que está. Parece inacabado, mal resolvido, enfim, tudo errado, tudo troncho, sem graça e sal. O tipo de produção que a gente passa batido quando reencontra num catálogo ou locadora.
Péssimo, de verdade.
Não assista, não vale o esforço.
"Hobie Doyle: Would that it were so simple?"
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KNão creio que chorei numa animação da Disney, mas sempre há uma primeira vez, né?
Essa galera sabe bem o que faz num estúdio. Desde a primeira animação, sobre um emprego que anestesia as pulsões de vida do empregado, até a cena extra no fim dos créditos, MOANA narra muito mais que a saga da heroína polinésia. Trata-se, aqui, da história de vida de todo mundo que tem um sonho, que deseja desbravar de alguma maneira sua própria história, mas vai preferindo deixar tais desejos de lado, por medo, manutenção da situação ou mesmo preguiça.
Moana é apaixonada pelo mar e decide enfrentar os pais para velejar e salvar sua família, sua tribo, seu mundo. Isso se aplica de diversas maneiras às vidas das pessoas, é uma mensagem poderosíssima. A animação, em si, possui todos os atributos de uma excelente montagem da Disney, com um 3D muito agradável e roteiro tranquilo, sem brechas ou abusos. Não há, aqui, subversão alguma, mas a pura simplicidade e intenção de criança, que é justamente aquilo de que são feitos os sonhos; é por isso que é um filme tão rico, vasto e poderoso. Faz a gente rever onde estamos, o que estamos fazendo conosco e buscar a boa viagem.
Como os já clássicos "Procurando Nemo" e "Monstros S.A.", MOANA entra na lista dos filmes belos e bons que costuram-nos por dentro, por fora, em todas as cores e por todas as ondas. É inestimável um filme ser capaz de te transportar para dentro, carregando todos os teus medos e cuidando, pouco a pouco, dos remendos que lhe faltam. São tempos difíceis, em que o dinheiro fala muito alto e as pessoas já não se conhecem mais, mas ainda há tempo, ainda há beleza, ainda é possível viver uma vida melhor, em busca do bem comum a todos, sem distinção.
O todo estará sempre aqui, para que possamos conservá-lo.
Caminhemos o belo percurso ao buscá-lo.
"Tamatoa: Are you just trying to get me to talk about myself? Because if you are... I will gladly do so! In song form!"
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
3.6 1,9K Assista AgoraDepois de uma maratona de Jogos Vorazes, comento o que me incomodou, porque elogio 'cês leem nas resenhas dos outros. Beijo.
Primeiramente, a série não é ruim. Mesmo. Trata-se de um sistema social fictício, construído com lógica, que entretém com tranquilidade. Isso, por si só, tem seu valor claro. São filmes ágeis, com trilhas bem compostas e caracterização e efeitos especiais que foram se superando - é tudo verdade, e também lógico: cada filme gerou uma receita maior para o sucessor, o que permitiu um orçamento mais robusto e, assim, capítulos (esteticamente) melhores. Quando falamos em THE HUNGER GAMES, falamos, então, numa franquia bem sucedida entre as "distopias teens" atuais. Ugh.
Muito embora os dois primeiros filmes sejam muito menos enrolados, "Jogos Vorazes" conta uma história que podia durar apenas 3 filmes. Esse papo de dividir o último capítulo da saga em dois, quando os livros têm o mesmo tamanho, já é velha - Crepúsculo, Harry Potter e outras foram vítimas desse golpinho. E tudo bem, né? Às vezes funciona, mas aqui, não rolou. O que houve com THE HUNGER GAMES foi, na verdade, uma reestruturação da narrativa, que prejudicou (e muito) o terceiro capítulo, podendo muito bem ter sido mesclado com o último sem grandes perdas no processo.
Mas segue o baile!
Como não podia faltar, segue minha análise dos furos deste roteiro.
OS FUROS DESTE ROTEIRO
Nada contra Katniss. Sério. A saga do Herói, nela, foi completa. Colocá-la como rosto da Revolução, quando ela mesma detestava os holofotes, foi a melhor parte. Meu problema, de fato, foi com Peeta. Ele é um protagonista fraquíssimo: foi sorteado no Distrito dela, foi sua dupla e par romântico nos QUATRO filmes e mesmo assim ninguém parece conseguir se lembrar dele. É triste que não tenha protagonismo nem na própria história, uma vez que seu background é completamente irrelevante, nunca tendo sido sequer citado nos filmes (tirando aquela única cena do pão jogado na chuva). Ele é tão importante para os Jogos quanto ela, mas seu protagonismo só vem quando se opõe a Katniss, sendo pino político a favor do governo do Presidente Snow.
Por falar em coadjuvante, o personagem Gale é descartável DEMAIS da trama. Fica claro, desde o começo, que ele irá perder Katniss para Peeta, porque não tem fibra, porque ela nunca se interessou de verdade, porque apenas "se coloca" na situação, mostrando-se um par quimicamente incompatível com ela. Sua posição de "terceira pessoa" no triângulo romântico deles é forçada e sem grandes momentos, e Gale acaba passando pelos filmes como "o rapaz apaixonado que não a conquistou e foi esquecido".
E falando em esquecimento, Prim, irmã de Katniss, e a real razão de tudo aquilo ter acontecido, morre nos últimos momentos da saga e isso quase passa batido até seu desfecho, o que é inexcusável. Katniss se oferece como tributo em lugar dela, que morre na sua frente num combate, e ela acorda sem nem perguntar da menina. A mãe das duas também tem um luto estéril, sem prestar sentimentos à perda, com a cabeça quase que em qualquer outro lugar. Que família unida, né?
E o final, bom, como dava para esquecer? Encerrando a saga da maneira mais clichê e besta possível, Katniss e Peeta casados, com dois filhos, vivendo nos destroços do Distrito 12, num dia ensolarado e bonito, Katniss pensando "como amo este homem" e todo aquele papo que a gente já conhece. Olha, para algumas escapadas interessantes do conjunto da obra (como Peeta odiar Katniss no terceiro filme, e a conversa final entre ela e o Presidente Snow), este foi um dos piores finais pensáveis. Não tinha como fechar de uma maneira mais brega, foi foda.
É certo que esta resenha não vai agradar a todos, na real provavelmente nenhum de vocês, mas são só algumas ideias para criar um conflito e gerar debate. Katniss Everdeen, como símbolo de resistência, mudança, dando voz à necessidade do povo, em conflito com o Presidente Snow, conservador, tradicional, imutável, defensor do governo, dos "homens de bem" e uma série de outros elementos. É, de fato, uma dualidade interessante, se bem estudada, que serve de base para a maior parte das lutas que vemos na vida real. A esquerda, a direita, os seus valores e nuances, a voz das minorias, enfim, tudo tem um pouco de retrato na saga THE HUNGER GAMES, basta ter o olho para ver e a empatia para sentir.
Mesmo assim, não foi o suficiente para torná-la uma referência do gênero, ou uma contribuição maior para o debate, uma vez que se atém, muito mais, a causar impacto visual que discutir as relações de poder existentes em seu próprio universo.
É válida a tentativa, mas não funciona de outra maneira.
Mediano.
"President Alma Coin: May her arrow signify the end of tyranny and the beginning of a new era. Mockingjay, may your aim be as true as your heart is pure."
71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso
3.7 74 Assista AgoraEsqueçam essa história de que "o rapaz tinha uma família distante e por isso matou todo mundo". Deixem isso pra lá, é um clichê bobo. Qualquer outra história que dê conta do assassinato é também leviana, porque o que importa, em 71 FRAGMENTOS..., não é o ato de violência em si, mas todo o panorama em que esta violência se encontra.
O fim do filme também não tem importância. O foco, aqui, não é uma razão, um sentido que dê conta daquela destruição absurda, e sim o sistema, a maneira como a violência se desenvolveu numa sociedade constantemente esvaziada de sentido pelo acúmulo de consumo. O "acaso", em Haneke, é o resultado de uma constelação de "não-causalidades", são cotidianos desmembrados e não-relacionados que resultam nos frutos da violência, sem dar, em nenhum momento, um motivo sólido ou uma árvore comum para eles.
Seus personagens são profundamente esvaziados de sentido, cinzentos, vivendo mecanicamente, trabalham para voltar para casa, e voltam para trabalhar. Niilismo, agressividade passiva, violência latente, iminente e irrestrita. Diálogos impessoais, importando as relações industriais de produção diretamente para os lares frios de seus protagonistas inexpressivos.
A ausência de um mecanismo de descarrego do stress, através de atividades comuns como sexo, televisão, ou mesmo o convívio com o outro, produz nos personagens de Haneke uma existência constantemente estéril, instável, mesmo que aparentemente sob controle. Não há sintomas, não há diagnóstico, não dá pra perceber antes de romper tudo. Como nos anteriores e excelentes "O Vídeo de Benny" e "O Sétimo Continente", os dois outros filmes da sua "Trilogia da Incomunicabilidade", mais importante que encontrar razões para a violência, Haneke busca explorar o sistema como um conjunto de acasos, não diagnosticando um sintoma, mas a extensão do vírus no gigante corpo dócil.
E o que mata no cinema dele é que tudo que é visto é aquilo que "não é importante". O foco, em quase todos os 71 fragmentos, é o cotidiano absolutamente 'status quo' dos envolvidos. Refeições simples, discussões sem grandes momentos, conversas ao telefone: Haneke quer o que descartamos como agente da violência. Apesar do silêncio gritante, toda a convivência no universo Hanekiano é ainda opressora, incômoda, sufocante. O esvaziamento de sentidos é tamanho em sua obra que grande parte das vítimas de seus filmes posteriores (como "A Professora de Piano", "Violência Gratuita" e "Amor") também viverão nesta mesma espécie de catatonia, caracterizada, ultimamente, por um processo de destruição sistemática das identidades individuais.
E, talvez para libertar-se deste estado de catatonia, sem alavancas ou mecanismos para suportá-lo, todos os protagonistas de Haneke sucumbam à aniquilação, em massa ou específica, de sua realidade, para acabar com a crise identitária. Seja um suicídio coletivo, um assassinato de uma amiga ou o abrir-fogo dentro de um banco aleatório, todos os incomunicáveis, através da violência, se veem obrigados a destruir, de alguma maneira, o exterior, na tentativa de expurgar, de si mesmos, os demônios surgidos da sua própria ausência de sentido.
É uma obra desalentadora, sim, mas de fato digna de palmas.
Haneke merece todo o reconhecimento.
Incrível.
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer
4.0 890 Assista AgoraA maneira como a trama é construída (e as grandes convicções que você sendo jogadas pela janela) realmente garante um bom divertimento. EU VOCÊ E A GAROTA QUE VAI MORRER é conciso, tem seus momentos de frescor (como as tomadas "invertidas" e as transições em off) e diverte. Ao que se propõe, entrega bem um drama/comédia tocante. Seu encerramento também chega a ser bonito e triste, de uma rara maneira.
Não é o melhor de sua espécie, e está longe de revolucionar o cinema ou ser vanguarda europeia - mas traz bom humor e toca, e é importante que filmes toquem as pessoas.
Pode ser interessante, num sábado à tarde, fazer uma pipoca e buscar este título.
Mesmo que seja, por vezes, adolescente demais.
E por isso mesmo bom.
"Greg: I remember visiting Rachel too. Sometimes she talked, and sometimes she didn't want to. When she didn't want to I talked. Or we watched movies. Sometimes she laughed, sometimes she didn't."
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraTá aí um spin-off bom mesmo.
Uma história paralela (e anterior) à do "menino que sobreviveu", baseada num livro da própria autora, ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM consegue ter fôlego para levar os mesmos feitiços, os mesmos efeitos e a mesma superstição de Harry Potter de volta para o Cinema, sem Harry ou qualquer outro de seus amigos.
Aumentam as teorias, surgem novos embates, alguns segredos são sublinhados (aquilo era uma horcrux? eles falaram mesmo de Dumbledore? que relação teria a família Malfoy com...) e por aí vai, indefinidamente. Para quem conhece a história do bruxinho, já é um programa bom pra caramba, mas mesmo para quem não está ligado, o filme independe da saga original e consegue carregar qualquer um consigo para a aventura de suas criaturas.
Aliás, falando nas criaturas, aqueles Obscurials são a MELHOR metáfora para depressão que podia ter sido inventada. Seres sem forma, escuros, como fumaças vivas, exalando de pessoas frustradas, tristes, que "não conseguiram ser bruxos" ou não se permitiram sê-lo. Quanto maior o arrependimento, maior e mais tóxico o animal. Fantástico o paralelo!
Enfim, tecer elogios a este filme é rodar em círculos. Assistam, vale a pena, é divertido, inteligente e rápido na medida certa. Mesmo os efeitos especiais em 3-D (que não sou lá grande fã) ficaram excelentes e utilizados nas horas certas.
Kudos.
"Jacob Kowalski: Eu amo elfos domésticos. Meu tio mesmo é um."
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraO tempo passa, a fórmula não muda. Hollywood outra vez exagera nos efeitos especiais, nos 3-Ds, 4-Ds, nas realidades aumentadas, e bota na roda outro filme pipoca-explosão-ai-meu-olho pra galera. Não sou este ranzinza que você imagina, mas sair do cinema com a vista exausta é pra poucos, né?
O Benedict tá ótimo, não me leve a mal. Ele é um dos que realmente durarão, sem sombra de dúvidas. Os vilões, coadjuvantes e demais personagens também estão muito bem representados. Fotografia e sonoplastia nota dez. Mesmo assim, a edição do filme, por ser pipoca, é daquelas de epilético, muita informação, seções de dois minutos em cada cenário para não cansar, enfim, cês já conhecem a treta. Trilha sonora das músicas do momento e um balde de efeitos especiais sem fim. NADA NOVO SOB O SOL HEHEHEH
Mesmo assim, tudo muito lindo, super-editado, computadorizado e tal, garantindo uma grande imersão do público, sei lá, sabe quando você não se convence com a parada? Foi meio assim comigo. Já vi filmes na tela do celular que me prenderam mais, me interessaram mais e tal - e não foi este o caso de "Doutor Estranho"
A título de divertimento no "cinema social com os migos" num shopping da Zona Sul desta cidade, eu recomendo o "Animais Fantásticos e Onde Habitam", porque o achei bem mais gostoso de assistir, ainda mais com o 3-D, mas aí vai de cada um.
Há um divertimento neste aqui também, é claro, mas não me moveu tanto quanto outros lançamentos. Infelizmente, não valeu muito a pena para este que vos fala.
P.S.: Ainda prefiro este diretor botando fogo nos carros das famílias de "A Entidade".
"Anciã: Arrogância e medo continuam te impedindo de aprender a mais simples das lições.
Dr. Strange: Que é?
Anciã: Nem tudo é sobre você."
Ligados Pelo Amor
4.0 855 Assista AgoraBaita filme besta, mas gostosinho demais para passar o tempo!
"Ligados Pelo Amor" é daquelas comédias românticas "para a família", porque cada elo desta família é um reflexo da vivência urbano-apartamentística, por assim dizer. Todo mundo consegue se identificar com alguém daqui, em especial eu mesmo com o Rusty e sua dedicação à escrita. Filme bem conduzido, trilha sonora boa, edição 10/10.
Menção especial à aparição de Stephen King, homem de quem também sou fã, e ao casting destes atores, porque eles tiveram tanta química e poder de convencimento que eu mesmo me esqueci que não são pai, mãe, filha e filho.
Muito massa poder rir um pouco com isso aqui.
Pode pegar no Netflix sem medo. Maneirinho.
"Rusty Borgens: Eu me lembro que doía. Olhar para ela doía."
Magia ao Luar
3.4 569 Assista AgoraAcho que a palavra que define este filme é "charmoso". Não está nem perto do auge da carreira do Allen, mas MAGIA AO LUAR trata-se por um filme com seu charme, suas sacadas, suas bobagens. Diálogos tranquilos, história amarradinha, início, meio e fim, previsibilidade e cultura enlatada "light" - mas é justamente em sua simplicidade que esta comédia consegue arrancar alguns suspiros do pessoal, mesmo daqueles que já esperavam aquele final.
É educadinho - mas só.
Não veria de novo.
"Stanley: Eu não posso te perdoar. Apenas Deus pode te perdoar.
Sophie: Mas você disse que não existe um Deus.
Stanley: Exatamente."
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraCertamente aqui não temos um filme para adultos.
Todo mundo sabe que, na Arte, não existe censura de verdade. Aos 22, eu posso assistir qualquer coisa que uma mulher de 62 assistiu. O ato da censura só se faz necessário quando o público é, por exemplo, jovem demais, e ainda não viveu determinadas situações para compreender o filme – uma criança de 11 anos, por exemplo, não deveria assistir “O Último Tango em Paris”, né. Pelo menos assim deveria ser.
Desde 2006 essa é a nossa realidade. A “Classificação Indicativa” é um órgão da Secretaria Nacional de Justiça que decide para qual idade tal obra é indicada. Tem filme que todo mundo pode ver, como as animações da Disney, e tem filme que precisa de uma faixa etária. O caso de “Esquadrão Suicida”, indicado para a partir dos 12 anos, é certamente o de um filme que não foi feito nem para o seu público, nem para as crianças e principalmente para os adultos.
Ele faz parte do gigantesco universo dos heróis de quadrinhos, capitaneados pelas superprodutoras Marvel e DC Comics, que têm produzido novas e abissais adaptações cinematográficas das HQs. É refilmagem, reboot, franquia sob franquia, e sempre com o mesmo plot, caminhando pro mesmo lugar, encerrando do mesmo jeito. Sem entrar no mérito da qualidade artística/intelectual de qualquer outro filme da DC, vamos dar uma olhada na receita de seu mais recente “Esquadrão Suicida”.
Grandes aberturas, cortes muito rápidos, tanta velocidade que quase não dá para ler as legendas. Informação despejada aos montes nos primeiros quinze minutos. Ao longo de seu curso, o roteiro apresenta falhas de lógica, como o fato do Esquadrão ser formado antes do “problema” surgir propriamente. Junte isso à pirotecnia incessante e à palheta de cores incandescentes, que dura o filme inteiro. Encha a trilha sonora de hits da música norte-americana dos últimos anos e coloque grandes atores, como Viola Davis e Will Smith, para vender mais. Umas piadinhas idiotas aqui e ali, muita porrada, explosão e culto à virilidade, uma dose cheia de sensacionalismo sobre o valor da família e um final extremamente oportuno, e também dolorosamente previsível.
Tudo isso podia ser a cereja do bolo. Mas não...
Claro que não. A cereja do bolo é a Arlequina.
O seu problema, como muitos disseram, é sua sexualização indevida – todas as feministas e os rapazes sensatos já deram conta dessa questão muitíssimo bem por aqui. Porém, para mim, não se resume a isso: acho preocupante o efeito, a longo prazo, dessa hiper-sexualização aos meninos e principalmente meninas de 12, 13, 14 anos para quem este filme já é indicado. Antes que digam, eu sei que a personagem já estava nos quadrinhos dessa maneira, mas é justamente por isso que devemos refletir, tanto sobre a classificação etária do filme, quanto sobre o lugar REAL da heroína (ou vilã, se preferir) numa trama como esta. Sexualizar um soldado ou herói não é vantajoso porque o público-alvo é masculino e, logo, não quer ver homem gostoso. É de bom tom, portanto, botar uma vilã que todos os personagens querem comer, e quem sabe assim não despertamos, nas mentes desses pequenos entusiastas dos quadrinhos, aquela primeira e gostosa punheta objetificante?
Não dá para ignorar que o filme, além de um desserviço para o Cinema como Arte, como manifestação, é também outro dos preocupados apenas na manutenção das estruturas do Machismo e no entretenimento vazio para o afamado consumidor médio. Ser “só” um filme da DC sobre vilões que salvam o mundo é muito pouco, precisa ser épico, piadista, explosivo, visualmente estimulante e superficialmente emocionante. O resultado disso se apresenta esquizofrênico, uma película que não sabe dialogar nem com seu público e nem sobre o seu propósito.
Entretenimento pros jovens? Me poupem, não devo nada a vocês. Cada um de nós sabe o que escolhe e o que quer da vida. A minha bronca não é em vocês, mesmo que a carapuça sirva, mas em quem produz esse material para gente em desenvolvimento, que ainda não entende plenamente as coisas do mundo - e que ainda precisa aprender um pouco antes de ver um filme desses.
O pior de seu tipo? Não.
Mas “Arte”? Pra quê?
Certamente aqui não temos um filme para adultos.
“Joker: Would you die for me?
Harley Quinn: Yes.
Joker: No, no, no. That's too easy... Would you live for me?”
Os 12 Macacos
3.9 1,1K Assista AgoraPrecursor de filmes igualmente interessantes envolvendo a viagem no tempo-espaço, como "Cubo 2", "O Efeito Borboleta" e mais recentemente "A Viagem", TWELVE MONKEYS tece uma trama robusta, contando uma história de pós-civilização, depois que um vírus mortal a dizimou quase por completo.
A esperança, todos sabemos, é Bruce Willis voltar ao passado e resgatar as respostas sobre o acidente, procurando preveni-lo de acontecer. Além de ele próprio estar excelente no filme, temos Brad Pitt ensaiando seu lado psycho, um pré-Tyler Durden, como já falaram embaixo, e Madeleine Stowe como uma surpreendentemente boa coadjuvante. A direção de arte também mandou muito bem, inspirando-se no pós-industrialismo e um pouco no cyberpunk. Alguns dos filmes de ficção científica dos anos 2000 beberam da fonte de "Os 12 Macacos", com certeza.
E, no final das contas, é de impressionar o quanto que esse roteiro amarrado impacta. São bons cliffhangers e boas folgas, tem momento de respirar e de prender a respiração. É sístole-diástole o tempo todo. Eu diria, também, que a sonoplastia merece uma puta consideração, porque potencializa o filme todo, mas o desfecho tem um destaque inevitavelmente maior: porra, que final fenomenal!
Nunca tinha visto um nó tão bem feito.
Tem no Netflix, gente. Catem.
Foda.
"Jeffrey Goines: There's no right, there's no wrong, there's only popular opinion."
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraSAI FORA, GERALDO!
Brilhante, engenhoso e jovem ao mesmo tempo, "Procurando Dory" vem para refrescar a memória de quem se emocionou com o premiado "Procurando Nemo". É o tipo de filme que toda a família pode assistir, se identificar, se emocionar, enfim, se divertir sem a menor das preocupações.
A Pixar tem um catálogo absurdo de sucessos. O que tem mão desse pessoal tem o selo do maior dos estúdios de animação do mundo, e a complicadíssima tarefa de dar uma sequência a "Procurando Nemo", que muitos consideravam desnecessária, foi, aqui, satisfatoriamente concluída. Novos personagens, novas relações, surpresas, piadas e bordões (especialmente na dublagem brasileira) recheiam a massa. A citação direta de trechos do antecessor dá um charme a mais, e o filme inteiro torna-se um prato cheio de dinamismo, cores incríveis e sonorização afiada.
Há quem diga que não tem o mesmo brilho do primeiro, ou a originalidade, mas realmente gostei do que foi feito aqui. Não esperava uma reinvenção completa do universo de Nemo, até porque isso jamais foi cogitado. Muito embora o roteiro deste não seja exatamente complexo ou inédito, há qualquer coisa de novidade aqui que, certamente, vale uma conferida - seja em família, seja em par, seja sozinho.
Diversão garantida. Deem uma olhada!
Maneirasso.
"Dory: For a guy with three hearts, you are not very nice."
Paulina
3.6 39 Assista AgoraPorrada pura.
PAULINA destaca-se no cinema argentino quando, em seu argumento, coloca a esquerda e a direita como constituintes de um mesmo contexto, como visões periféricas (e antagônicas) do mesmo acontecimento. De um lado, o pai, um juiz conservador e influente, buscando caçar os culpados do crime. Do outro, a filha, ativista, guerrilheira e defensora dos Direitos Humanos acima de qualquer influência externa. Paulina e Fernando representam o diálogo insatisfatório e muitas vezes inexistente entre a direita dos fascismos e a esquerda dos socialismos atuais.
E nunca tinha visto algo tão perturbador, e que mergulhasse no debate político de maneira tão proveitosa. Este filme aborda a violência contra a mulher, tanto como símbolo, quanto como sintoma de uma estrutura superior que se impõe a todas de maneira quase homogênea. Pincela as causas e explora as consequências, trabalhando inclusive as outras violências que desembocam destas, vindo de policiais, médicos, juízes, noivos... De todos os homens.
É uma película que definitivamente sabe o que quer e para quê veio. No fim das contas, o conflito, o front, a luta é isso: educar uma geração imoral, niilista, perdida, violenta e, sobretudo, machista. Encarar o desconforto de um estupro, a humilhação e a dor de um estupro, e continuar.
E dar o próximo passo. E prosseguir.
E ir além.
Assumir essa postura é a grande revolução do nosso tempo, e é nela que o filme alcança o seu melhor momento: Quando Paulina assume a esquerda, uma subversão inaceitável balança o filme inteiro, ecoando até muito depois de seu desfecho. A decisão de Paulina é a decisão acima da situação, do contexto, da vingança; é ser Mulher, num mundo dominado pelo inominável, por aquilo que naturaliza o estado de exceção, o cerceamento das liberdades, a forma dos corpos, o peso das vidas. Viver em sociedade, como mulher, é uma subversão – um desafio real e constante.
E isso deve ser sempre lembrado.
Não se trata de uma utopia, mas de uma maneira profundamente humana de ser. Tão humana, que só os homens não tem; abdicar-se de certas mentalidades, e perceber, em cada detalhe, algo novo a ser cultivado, criado, gerado, partilhado.
E, quem sabe, abençoado.
Apesar da dor, ou por causa dela.
Veria de novo mil vezes.
Assista sem medo. O filme é foda.
“Acredito que somos componentes de uma situação que nós mesmos não conseguimos compreender plenamente.”
Orgulho e Preconceito
4.2 2,8K Assista AgoraO que mais me agrada sobre ORGULHO E PRECONCEITO é a forma como o seu clímax é construído sem explosões, gritarias, cortes rápidos ou trilhas sonoras lancinantes. Pelo contrário, tudo neste drama político é calmo, plácido, edifica-se de lentas imersões, lentas concessões, lentos desenvolvimentos. Do improvável romance entre Lizzie e Mr. Darcy até as questões sociais que foram cuidadosamente exploradas pela gigantesca Jane Austen, tudo nesta obra encaixa-se, conclui-se, reverbera nos tempos.
Além da fotografia fantástica (em especial a iluminação nas cenas internas), o filme tem, no trabalho dos figurinistas e maquiadores, excelentes resultados. A coloração alaranjada, tornando-se azulada, para tornar-se novamente alaranjada é outro toque delicado a ser percebido. Toda a estética desta adaptação foi planejada com muito carinho e empenho, e ela torna-se uma delícia para quem quer se aventurar pela paixão enigmática dos protagonistas. Aliás, Keira Knightley não erra uma, né? Impressionante como ela está sempre impecável.
Daqueles filmes para rever sempre que puder.
Dá uma olhada!
Se cê curte filme com desenvolvimento mais lento, esse aqui é o tal!
“Mr. Bennet: Your mother will never see you again if you do not marry Mr. Collins... and I will never see you again if you do.
Mrs. Bennet: Mr. Bennet!
Elizabeth Bennet: Thank you, Papa.”
A Promessa
2.5 3Fui a uma exposição de cinema estrangeiro lá no CCBB e este filme era um dos que chamou a atenção. Despretensiosamente, e sem mesmo pensar em escrever a respeito, fui dar uma olhada no que poderia ser um retrato do cinema polonês, e, olha que loucura: ele nem era.
O filme, de fato, não tem grandes assinaturas regionais – trata-se muito mais de um suspense “norte-americanizado” do que um suspense polonês. Quase tudo é mais ou menos no estilo família ocidental, sonho americano, vizinhança de casinhas, fofocas, smartphones e por aí vai, e esses elementos não remetem necessariamente à cultura polonesa ou mesmo à sua região. Mesmo os aplicativos que os protagonistas usam são familiares: Whatsapp, Skype, Macbook, entre outros, o que acaba aproximando demais, né. Não que seja exatamente um problema, mas devemos ter em mente que qualquer filme inteiramente produzido numa língua e numa terra estrangeira (e que faz parte de uma exposição de cinema estrangeiro) deveria ter pelo menos algum traço que remetesse à região de onde ele veio.
Apesar desse problema de identidade, OBIETNICA é tenso, de fato. Tenso pra cacete. Na questão do suspense, considero um dos bons. Trilha sonora atmosférica, também, densa e quase palpável, e a protagonista leva o filme sem nenhuma dificuldade. O tema, aliás, é um excelente gerador de debate: qual é, ou onde está a linha que separa o amor da obsessão? Como a gente pode evitar passar para o outro lado, quando imerso no desejo de voltar ao amado? Quando sentimos amor, estamos dispostos a fazer QUALQUER coisa pela pessoa? Inclusive roubar, matar, estuprar ou algo do gênero?
E o ostinato que “A Promessa” deixa é justamente esse questionamento, ainda mais diante das resoluções da trama; depois de tudo que aconteceu, quem deve, realmente, ser culpado? Será o namorado, a namorada, ou o sentimento humano? É um caso de crime passional ou não? Serão os sentimentos humanos (como toda a Humanidade) falhos ou rasos a ponto de nos destituir-nos de nós mesmos? Seremos vãos como o verdadeiro Amor, ou ele nunca será vão, em primeiro lugar?
Fica a dúvida.
Maneirinho.
“Uma palavra pode mudar tudo.”
O Conde de Monte Cristo
4.1 1,2KMuita gente costuma dizer que esta é a melhor adaptação do romance de Alexandre Dumas, mas como não vi outra, fico nessa aqui mesmo.
Para quem espera um filme eletrizante de vingança, é importante avisar que este aqui tem desenvolvimento lento. Muito embora seja deste século, "O Conde de Monte Cristo" tem uma dinâmica muito própria, e, para o espectador acostumado com filmes de ação rápidos e explosivos, pode se tornar um pouco mareado. Suas tramas são bem enlaçadas, ainda que tomem tempo para ser apreendidas - mas trata-se de uma história que foi escrita há 172 anos, e isso deve ser sempre lembrado.
Mesmo assim, o filme tem suas qualidades. A atuação de Guy Pierce é impressionante, e os duelos de espada também. A trilha sonora entra em destaque, e as cenas externas foram bem planejadas. Em si, a trajetória da vingança de Edmond Dantes tem valor especialmente pela fixação que ela projeta, mas talvez, sob a perspectiva de outra adaptação, ela seja mais instigante e, por isso mesmo, mais eficiente.
É mediano, mas eu não veria de novo.
"Edmond: Life is a storm, my young friend. You will bask in the sunlight one moment, be shattered on the rocks the next. What makes you a man is what you do when that storm comes. You must look into that storm and shout as you did in Rome. Do your worst, for I will do mine! Then the fates will know you as we know you: as Albert Mondego, the man!"
Titanic
4.0 4,6K Assista AgoraDepois de anos ouvindo falar, finalmente dei uma chance à versão Cameroniana do transatlântico Titanic, que afundou de verdade em 1912. Três horas de filme para a conta, e não é que me descobri chorando que nem uma criança, pensando na relação entre os pobres e os ricos, e a questão da oportunidade para todos, que alguns ainda pensam ser uma "utopia estúpida"?
O preconceito, o desacato, o desgaste das relações humanas do início do século passado ainda soam como novos no início deste século. A história de Jack e Rose é a história da Elite e o Proletariado, do detentor e do subsidiário, do senhor de terras e do agricultor - e do romance impossível entre ambos, como já visto em clássicos como "Orgulho e Preconceito" (1813) e "A Dama e o Vagabundo" (1955), com abordagens diferentes.
O choque desses mundos é indispensável porque é ele que causa o desconforto. Como assim a Rose, uma mulher prendada, de família, noiva de um magnata, vai preferir continuar no navio afundando com o pé rapado, pobre e deselegante do Jack? A questão não está, como muitos disseram, no Amor que eles sentem, puro e simples. Pelo contrário, está na posição social em que cada um se encontra, e na impossibilidade contextual em que o romance se apresenta. Uma vida bela, devagar, inocente, ao lado de um rapaz gentil é tudo que a Rose realmente espera (e merece). Que importa uma crise financeira diante da real possibilidade de viver bem, da alternativa para concretizar o bem-viver das tardes?
No final das contas, é como se o navio fosse a nossa própria vida, passando pelas águas do cotidiano, com um destino sabido por todos, mas que "chega sempre sem avisar". E cada angústia, cada rancor, cada mágoa, cada atitude de má fé será lembrada quando estivermos próximos do fim. E quando estivermos lá, não vai ser o dinheiro que a gente ganhou, nem a família em que a gente cresceu, nem o casamento que a gente garantiu que vai fazer a diferença, mas a vida que a gente viveu - e, principalmente, o quanto de Amor que a gente cultivou e preservou neste mundo injusto e cada dia mais absurdo.
Muitos diálogos em "Titanic" ilustram perfeitamente esta minha análise, mas a citação que quero fazer não vem do filme. Esta é uma letra do Criolo, da música "Esquiva da Esgrima". Fica o papo dele pra vocês.
Vejam este filme. Não vão se arrepender mesmo!
"Hoje não tem boca pra se beijar, não tem alma pra se lavar, não tem vida pra se viver, mas tem dinheiro pra se contar. De terno e gravata, teu pai agradar, levar tua filha pro mundo perder, é o céu da boca do inferno esperando você."