Que horror, que horror, que horror! ZUZU ANGEL é um daqueles filmes que a gente não espera nada, mas acaba nos atropelando com sua força e seu poder (de silêncio). Abordando não apenas a vida e obra da famosa estilista brasileira, o filme retrata que relação havia entre os desaparecimentos em série que ocorriam na Ditadura Militar e o governo Geisel, quando tornou-se comum falar que “opositores do governo estão desaparecidos”. Tema pesado, mas uma escolha perfeita de núcleo: a artista, seu ex-marido distante e seu filho, Stuart Angel, torturado e morto pelas mãos daquele mesmo governo. Em tempos de uma direita emergente, cada vez mais simpática com a volta dessa forma de governo, é importante assistir e refletir sobre filmes como este, produções brasileiras criticando o Brasil (e suas instituições). É preciso exaltar a edição deste filme. Cortes rápidos, dinâmicos, concisos. Uma boa montagem, apesar de por vezes parecer caótica. ZUZU ANGEL entrega um moderado suspense, com boa cenografia e ambientação nos anos 60 e 70 (chegando a citar “O Beijo”, do Magritte, numa das cenas mais icônicas). Reconheço falhas de atuação, sobretudo dos coadjuvantes, e até de dicção mesmo, por parte dos que falam inglês no filme, mas nada chega a comprometer a entrega da mensagem e seu inevitável impacto no público. É um must-see a todos os que se interessam por estudar o que passou a ocorrer pós-68, envolvendo as revoltas estudantis e universitárias, o choque entre os ideais de esquerda e direita (o socialismo que se propôs na França daquele ano) e quão longe podem ir as decisões de um governo que deseja calar sua oposição – mesmo que essas pessoas não tenham feito mais que expor ideias contrárias ou quebrado vidraças de bancos. A vida vale mais que isso. Muito mais. E não devemos esquecer do legado dessas pessoas, que lutaram por nosso direito de fala, de escolha, de decisão. E temos que permitir que esta mesma consciência se reflita no nosso voto este ano, quando realmente teremos a oportunidade de eleger aquelx que nos representará nos próximos quatro anos. Que sejamos todos conscientes disso tudo. E que venham tempos melhores adiante. Maneiríssimo!
“Zuzu: Desacato é impedir o direito sagrado de uma mãe de enterrar o seu filho!"
O tema deste filme é muito pertinente, mas sua execução deixa a desejar... SNOWDEN retrata a trajetória acadêmica e profissional de Edward Snowden, sob a perspectiva ligeiramente espetacular e lugar-comum de Oliver Stone, um diretor que há muito tempo mistura política com um “cinema de entretenimento”, se podemos falar assim. Abordar uma história polêmica, como a tão recente do ex-funcionário da CIA, é um esforço que merece reconhecimento. O filme em si tem vários bons momentos, sendo que os melhores estão nos primeiros e últimos quarenta minutos – o que significa dizer que há, de fato, uma barriga ali no meio, que o comprometeu sem possibilidade de se retratar. Talvez SNOWDEN não precisasse ser tão longo, nem abordar com tantas cenas o namoro (pouco relevante para a trama) com Lindsay Mills. Há uma semi-nudez desnecessária, alguns estereótipos de países que me incomodaram, e o trabalho de colorização do filme ficou meio confuso – parece que se usou um filtro “de documentário político” para um filme prosaico da vida de um hacker, e as cores (e seu significado) foram pro caralho com isso. A obra soa um pouco superficial – sobretudo nos momentos de “discurso inspirador” em que personagens falam coisas do tipo ‘todos merecemos liberdade na internet’ e ‘o governo está errado em nos espionar!’ – porque, no fundo, não se trata disso: o rastreamento de padrões de consumo e regiões de interesse segue sendo uma realidade (que Stone não chegou a denunciar), e a interceptação de conversas criptografadas, o alinhamento dos anúncios por grupos de interesse e os processos de reconhecimento facial são tentáculos do mesmo polvo: o ‘big data’, que no filme é exatamente o index que Snowden propõe com o projeto Heartbeat; a catalogação “pesquisável” de qualquer termo, qualquer interesse, qualquer verbalização de vontade de uma pessoa com um celular ou notebook. Capitalizar este interesse consumista quando ele se manifesta no âmbito particular é, talvez, a mais recente atualização do capitalismo oligopolista moderno. E o jeito é, mesmo, abandonar esses recursos eletrônicos em alguns anos, porque a situação daqui pra lá só vai ficar mais perigosa. Já não lemos termos e condições dos próprios aparelhos, sites e aplicativos que usamos – enviamos fotos de rosto, coletâneas de gosto e nossa própria localização para terceiros que, garantem os aparelhos, não usarão nossas informações para nada. Mas devemos acreditar... nos próprios aparelhos? Só o tempo vai dizer. Abramos o olho.
“Corbin O'Brian: Sigilo é segurança e segurança é vitória.”
Acho que este é o trabalho definitivo do livro de Stephen King. Não entrarei em detalhes sobre como esta adaptação é mais fiel e bem conduzida do que a versão (super-produzida) de 2017, que aborda metade da história, e na qual chovem efeitos especiais mas sobram cafonices do gênero. Falo isso aqui direto, mas é sempre bom ressaltar: boas molduras nunca salvam quadros ruins. Aqui, Tommy Lee Wallace dirige uma minissérie para TV mais extensa, que detalha muito bem o Clube dos Otários e seus antagonistas principais (Pennywise e Henry Bowers). Por ser mais longa, é de fato uma experiência mais áspera de se assistir, mas nem por isso perde o fôlego, mantendo a linha de raciocínio sem deixar faltar quase nada do trampo original de King (adicionando aqui e ali alguns absurdos que funcionam perfeitamente dentro de sua lógica). Por ser uma produção mais antiga, tem efeitos especiais que soam datados, e algumas convenções de "filmes dos anos 80" que também dão vergonha alheia de se assistir (como Bill e Mike andando na Silver num parquinho); mas num geral, tomando as duas obras lado a lado (1990 e 2017), é impossível comparar, mesmo que a recente tenha se valido de boa parte do storyboard desta aqui: dá de 10 a 0 na recente, como estória e como experiência num geral. Não tendo exageros de sangue, nem forçações de barra para dar jumpscares gratuitos, "It - Uma Obra Prima do Medo" sabe aonde assustar e como criar suspense, evitando uma série de erros que o de 2017 cometeu (tornando-se desinteressante e caindo no lugar-comum dos filmes de Terror). No mais, indico a todxs que tenham gostado do recente que leiam o livro, e em seguida assistam a esta minissérie. Chega a ser catártica de tão fiel e emocionante, passando longe de ser "apenas uma história de terror" que se propõe a assustar sem compromisso e nos esvaziar de nosso próprio sentido. Incrível.
"Pennywise: I'm every nightmare you've ever had. I'm your worst dream come true. I'm everything you ever were afraid of."
Achei bem fraco... Ainda falando em Oscar, "Trama Fantasma", indicado a Melhor Filme, oscila entre um filme estonteante (pelo figurino e cenografia) e absolutamente enfadonho, com ritmo vagaroso demais e poucas informações para justificar sua duração. O drama, último na carreira de Day-Lewis, conta a história de um relacionamento afetivo altamente questionável entre um estilista e sua modelo-musa. A começar pela ausência completa de background da musa, Alma, o longa apresenta vários outros defeitos; o uso constante de silêncios absolutos, para dar mais peso em muitas cenas, nem sempre consegue sugerir alguma coisa. A repetição dos mesmos três temas na trilha sonora, depois de uma hora e meia de filme, prejudica a experiência e, apesar da boa interpretação de Day-Lewis, a falta de propósito e o amor incondicional de Alma por seu personagem salientam o aspecto abusivo e doente deste relacionamento: a mulher que, mesmo sendo a protagonista no mundo da Moda, é secundarizada pelo olhar inequívoco do estilista, que é mais importante que todos, inclusive dos que vivem com ele no mesmo apartamento. É muito doido que o mesmo cara que dirigiu o fantástico "Magnólia" em 1999 tenha lançado um filme tão sem objetivos em 2017. Entendo a intenção em dissecar a psiquê de Woodcock, mas isso não consegue tornar o filme relevante o suficiente para ser lembrado. Quem já viu "Magnólia" não deve se surpreender com o final bizarro que "Trama Fantasma" propõe para este relacionamento. Cê já fez mais, viu, Paul? Mas não desisto de ti não! Boas molduras não salvam quadros ruins.
"Reynolds Woodcock: It's comforting to think the dead are watching over the living. I don't find that spooky at all."
É fraco, mas não chega ao pior que a franquia já produziu. Acho que, depois do sexto, quando os produtores começaram a investir em espaços abertos, uso da luz do sol e colorização mais viva, a coisa toda foi pro brejo - aquela estética obscura que foi tão explorada nos primeiros quatro longas (e que mais tarde apresentaria sinais de exaustão) foi deixada de lado, e uma versão mais exagerada da carnificina, com sangue rosa, decapitações estúpidas e corpos mutilados "só para serem mutilados" foi colocada em seu lugar. JIGSAW, porém, consegue entregar uma história crível dentro de seu contexto. Se safa bem da especulação sobre a sobrevivência de John Kramer depois da própria autópsia, e é um filme razoavelmente redondo. Seu antecessor, o sétimo, tido como o "capítulo final", foi um fiasco cinematográfico em todos os sentidos - roteiro, desenvolvimento dúbio, exageros e etc... E talvez por ter esperado algo neste nível, eu tenha me surpreendido positivamente com "Jogos Mortais - Jigsaw". Este filme também tem seus defeitos graves: parece o tempo inteiro querer reviver o modelo antigo da trama (traços do tenente Riggs, da Amanda Young e do Detetive Hoffman aparecem nos novos personagens). As atuações das vítimas e dos policiais encarregados pelo novo caso são pífias - sobretudo de Halloran, Logan e Eleanor. Os backgrounds dos personagens, que em Jogos Mortais 2 e 3 foram melhor explorados, aqui parecem histórias lançadas para evitar o esvaziamento completo dessas vítimas desinteressantes. As questões morais, que também eram chamariz da série, aqui são pano de fundo para mais carnificina e morte-pela-morte. Há um confronto final (que lembra o do primeiro filme), mas se amarra de maneira pouco satisfatória - a história de Kramer devia ter acabado no terceiro filme, depois de sua morte, e não continuar indefinidamente com ajudantes secretos, seguidores antigos e armadilhas "usadas antes dos primeiros jogos". Parece que o interesse está em criar um folclore em cima de uma história que já acabou há dez anos, mas teima em tentar se fazer relevante num ambiente diferente, com personagens diferentes e praticamente sem nenhuma ligação concreta com os filmes anteriores. Como oitavo da franquia, é ruim. Como experiência isolada, não tanto: se comparado com o seu antecessor, JIGSAW consegue pelo menos prender a nossa atenção. Mesmo assim, fico besta como Leigh Wannel e James Wan foram os produtores executivos disso aqui, depois de terem criado com tanto cuidado a estética e abordagem "filosófica" dos primeiros filmes. Como disse o IO9, "é um dos melhores filmes da franquia. Infelizmente, isso não é dizer muito". E concordo bastante com isso. Este é para fãs mesmo. E eu mesmo não indicaria a eles. Descartável!
Plácido e ao mesmo tempo intenso. A BRUXA é um filme de Terror com uma direção não-convencional. Uma produção moderadamente lenta, com o objetivo de te fazer acompanhar a cadência da narrativa na medida em que ela flui - uma escolha estilística que o difere de seus contemporâneos. Consegue a proeza de ser "calmo" e ao mesmo tempo construir uma tensão exponencial - mesmo que, para mim, tenha sido "calmaria demais" para um filme que se propõe assustador. Me recordo dos excelentes "A Vila", do Shyamalan, pela ameaça iminente de uma entidade que se impõe, e "Anticristo", do Von Trier, pela estética do "rural sombrio", a trilha sonora bastante percussiva e o trabalho com as sombras... A BRUXA é sobre esperar - entrar no clima, se ambientar e mergulhar em sua proposta. A única questão que tive é que, pela falta de "ações", boa parte do filme se torna estritamente contemplativa, e como o roteiro é bastante reduzido, não há muito o que se "ver" (além do que se espera). Depois de uma hora, o ritmo se agita e a gente entende melhor quem é o quê, digamos assim. Mesmo assim, a experiência (apesar da ótima fotografia) não vale tanto a pena, pelos poucos momentos inspirados que o filme realmente tem. Vale pela sensação provocada durante o percurso, mas não vai mais longe. Mediano.
"Caleb: She desires of my blood. She sends 'em upon me. They feed upon her teats, her nether parts. She sends 'em upon me."
Falar qualquer coisa a respeito do cinema de Andrei Tarkovski é sempre falar pouco - devemos revisitar periodicamente a sua obra, reconhecendo trechos, espaços, abordagens e toda uma organicidade que é própria de seu cinema. Quem dera se, para cada filme que ele fez, existisse um "Tempo de Viagem" abordando os processos artísticos e o seu momento de vida naquela obra... TEMPO DI VIAGGIO é autobiográfico, mas não se limita a isso - mesmo pondo-se em evidência pelos olhos de Tonino Guerra, Tarkovski acaba "sobressaindo" nas cenas, pulsando poeticamente mesmo em frames em que não aparece. A imagem deste homem concentrado, pensativo, contemplando o seu redor fica marcada no coração de cada um que já conheceu a beleza de seu cinema. Abordando o fazer artístico, o trabalho e a poesia, os dois realizadores têm no longa uma conversa que ressoa para além de seu tempo, que inclui pensamentos do russo sobre filmes comerciais e ainda suas maiores influências no audiovisual(!!!). Exaltar as qualidades é redundante, e por isso prefiro deixar o resto desta resenha com um dos três grandes momentos de Tarkovski aqui, que vai além das próprias palavras e sedimenta talvez o aspecto mais importante de toda a sua obra. Obrigado, grande poeta, pelas palavras que você falou.
"Se tivesse que falar com alguns diretores jovens, qual seria seu principal conselho?"
Hoje em dia todo o mundo faz filmes, todo o mundo acredita que é capaz de fazer filmes, entende? Qualquer um que não seja preguiçoso demais... Não é difícil aprender como montar o filme, como usar uma câmera... Mas o conselho que posso dar aos que começam é que não separem seu trabalho, seu filme, seu cinema, de sua própria vida. Que o filme não seja diferente de sua própria vida. Porque... um diretor é como qualquer outro artista: um pintor, um poeta, um músico... E desde que se lhe é exigido que contribua a si mesmo, é estranho ver diretores que tomam seu trabalho como se estivessem em uma posição privilegiada, que lhes foi dada pelo destino, e simplesmente tiram proveito de sua profissão. Assim, vivem de uma forma, mas fazem filmes sobre outras coisas. E gostaria de dizer aos diretores, especialmente aos jovens, que devem ser moralmente responsáveis pelo que fazem enquanto estão rodando seu filme. Entende? Isso é o mais importante de tudo. Em segundo lugar, deveriam estar preparados para pensar que o cinema é uma arte difícil e séria. Que exige sacrifício de si mesmo. Você deveria pertencer a ele, ele não deveria pertencer a você. O cinema utiliza sua vida, e não o contrário. Portanto creio que isto é o mais importante... Você deveria se sacrificar pela arte. Isto é o que tenho estado pensando ultimamente sobre minha profissão.
Absolutamente fantástico! Zira e Cornelius devem ser os únicos macacos que levam um filme todo nas costas só na base do carisma. Quanta verdade sentimos assistindo à sua saga, nos três primeiros filmes da franquia PLANETA DOS MACACOS! Muita torcida e engajamento pelo êxito dos chimpanzés em sua fuga da Terra, este planeta dominado por seres perigosos e deploráveis (que somos todos nós). É outro filme com os personagens de Pierre Boule que vai além do entretenimento comum, trazendo questões sobre preconceito, crueldade e os limites da violência - se macacos farão o que fazemos com eles no futuro, estarão eles errados? Deverão ser julgados? E o que isso faz de nós...? "A Fuga..." é daqueles longas que tem um fôlego surpreendente (ajudado por uma excelente trilha sonora) e conta uma história crível e relevante, que se expande para além de macacos e humanos e supera o gênero que a consagrou. Trata-se de um verdadeiro exame de consciência no nosso preconceito, e um tapa na cara muito bem dado de cada um de nós que insiste em ser como os humanos do filme - e nunca um dos macacos. Pimenta no dos outros é refresco, parceiro. Cinema de ensinamento precioso e num formato de facílima absorção. Pérola de 1971. Assistam!
"Cornelius: At first, they just grunted their refusal. But then, on an historic day, which is commemorated by my species and fully documented in the sacred scrolls, there came Aldo. He did not grunt. He articulated. He spoke a word which had been spoken to him time without number by humans. He said 'No.' So that's how it all started."
Como adaptação de um livro do King, é uma das melhores - entrega substancialmente a mesma (primeira parte da) história de 1986. Como filme de terror, porém, não traz nada novo e fracassa em quase todas as tentativas de assustar o espectador. "IT: A Coisa" é uma releitura do clássico livro do 'palhaço assassino' de Stephen King. Muito embora seja fiel o suficiente para ser respeitado pelos leitores, tem diversos exageros que comprometem a possibilidade do público de levar a narrativa a sério. Aqui, como no livro, a Amizade e o Amor são os temas centrais, e os sete amigos devem se unir para combater a força do Mal que é a "Coisa". IT é um longa essencialmente bem executado, tem efeitos especiais tinindo e ótima sonorização, como qualquer superprodução norte-americana - mas não convence nem a si mesmo que monstros como o "leproso" ou a "senhora velha" são assustadores de verdade: a caracterização chega às vezes a provocar risadas. Algumas cenas com Pennywise também entram naquele limiar entre o "assustador" e o "estúpido" - culminando naquela babaquice dele dançando polca num circo enferrujado pegando fogo. O que compromete o filme para quem não leu são seus excessos, que tornam tudo que foi feito para ser assustador uma piada involuntária.
As divergências mais problemáticas com o livro: Stan e Mike são personagens descartáveis - Stan nem corta as mãos das crianças para fazer a promessa, Bill o faz. Existe um furo no roteiro quando as crianças encontram Mike - a princípio, elas não o conhecem, mas já se conheceram antes e isso é mal explicado. Victor e Arroto são descartáveis, eles aparecem duas vezes no filme e só como apoio do antagonista Henry. Este, inclusive, cai num poço na primeira perseguição, o que traz um estranhamento para quem conhece o desfecho dele. A redução de Patrick Hockstetter à vítima logo no início também causa um estranhamento - que piora à medida que cenas excelentes do livro (como a voz na pia de Beverly e a primeira ida em grupo à casa da rua Neibolt) são decididamente "grotesquisadas", na intenção de causar sustos baratos que nem se sustentam sozinhos.
A caracterização "séria" do Pennywise de Skarsgard é a melhor parte - ele é o ator que mais se destaca aqui. Fiel ao aterrorizante palhaço desde a cena do bueiro, infelizmente contracena com meninos que parecem nunca ter atuado na vida - Stan e Mike, muitas das vezes, parecem ter a mesma expressão para toda situação. Apesar de ser estruturalmente o mesmo percurso, e de ter contornado algumas lacunas com boas costuras, a adição de duas cenas me chamou atenção pela maneira como foram bem conduzidas: o projetor na garagem e o quarto dos palhaços, na casa Neibolt. Dois sustos absolutamente surpreendentes e bem feitos - sem contar a briga de Beverly com outro personagem, lá na frente. No fim das contas, como passatempo, é um filme que se assiste sem grandes problemas, mas não vai mais longe. E se você quer fidelidade, é melhor ler o livro mesmo. Um balão murchou.
"Richie Tozier: Hey Eddie, are these your birth control pills? Eddie Kaspbrak: Yeah, I'm saving them for your sister!"
Baita farofagem... Mais fraco que o antecessor, que, ao que parece, condensou e esgotou todas as ideias para a história desta maldição de uma vez só, O GRITO 2 tenta alcançar o status de filme respeitável como o primeiro, mas fracassa miseravelmente em quase toda a sua execução. "The Grudge 2" conseguiu ser mais lento e morno, tendo uma carga mais de Drama que Terror em si, e, excluindo-se uma cena muito bem executada num motel (com Miyuki), o filme parece uma sofrível enrolação para o desfecho previsível que a própria maldição profetiza. Trata-se de uma produção descartável, apesar de ter aqui e ali certas justificativas para sua existência (explora a origem da fantasma Kayako e continua o arco de Karen, a personagem de Sarah Michelle Gellar no anterior). Mesmo assim, os fins não justificam os meios, e isso aqui mais parece um grande monte de nada que qualquer outra coisa. É um argumento sobre o ciclo da raiva, a violência como a única resposta possível quando há ódio no coração dos outros. Ele não se interessa em ir mais além na questão moral da maldição, bastando-se apenas nas consequências mortais para todos os que pisarem naquela casa. Mesmo que tenha uma boa fotografia, e trabalhe alguns sustos de maneira arriscada, no fim das contas não vale a pena. É decepcionante como a maioria das continuações de um bom filme de terror. Meh.
"Eason: She used to take evil spirits out from a person and feed them to her daughter."
"Mãe, acho que esse é o segredo da vida: ser uma boa pessoa." Harmory Korine é um diretor que costuma ter muito a dizer. Em sua filmografia, jazem os perturbadores "Vidas Sem Destino" e "Trash Humpers", que exploram o 'white trash' sob uma ótica profundamente niilista, pessimista e por vezes nojenta. Se o primeiro trata da infância e juventude branca que cresce numa cidade fadada ao fracasso, o segundo explora a juventude no cume de seu prazer carnal anti-capitalista: fornicadores de lixo, contra o consumo e que encaram o sexo como uma forma de "antropofagia do todo". É interessante notar, numa carreira de filmes underground e com forte rechaçamento do público geral, um cara como este lançar um filme como "Spring Breakers", estrelando Vanessa Hudgens, Selena Gomez e James Franco. Só desse filme existir já temos um ponto fora da curva, um questionamento, e quando a gente assiste, aí é que são elas. White trash, white trash. Falamos de Korine, e seu distorcido ponto de vista sobre a Juventude. Quatro colegiais querem ir para o "Spring Break", um evento lotado em que jovens vão para abusar de drogas, dos outros e deles mesmos. Logo no começo fica claro, pela quantidade de gente seminua se entorpecendo, o ponto no qual Korine tem tocado nos últimos anos: o desgaste humano. Desgaste sob a forma de uma cultura que se impõe aos jovens, que dita a eles a maneira como devem se portar, se vestir, como devem se divertir, transar, amar, gozar. O retrato de uma Juventude que se perdeu de Deus (isso fica muito evidente no arco de Faith, personagem de Selena Gomez) e busca, no vazio de seus excessos, o sentido de sua própria existência. "Parece um sonho. Acho que nos encontramos aqui." Se entorpecer, fugir. Da escola, das responsabilidades, da família, de tudo aquilo que nos "prende", e correr atrás da Liberdade, este bem tão precioso e raro aos olhos dos jovens. Sem perceber que nem toda liberdade é Libertadora, as quatro amigas viajam juntas para acabar descobrindo que nem todas querem essa vida, essa ausência de sentido, esse niilismo. Uma não vai precisar ver muito - ela já está acordada. Outra vai passar por um tipo de violência para entender que nada ali é de graça, e ainda haverá quem defenda esses mesmos homens, que colocam jovens assim nessa situação e no final culpam elas mesmas, meninas que estão tão inseridas no contexto da violência que já deixaram de perceber o caráter opressor de sua própria situação. "Sabe por que eu vou comer a sua buceta? Porque você é uma vagabunda." Não estamos falando, porém, do melhor filme do diretor nem nada do tipo. O uso constante dos diálogos indiretos (a cena que aparece na tela não é a do diálogo que corre no som) e a câmera lenta, empregada quase a cada cinco takes, contribuem para o filme ficar repetitivo. Adicione a isso a repetição sistemática de várias linhas de diálogo, lá para o final, e o fato de que, no fim das contas, não ficamos sabendo como ficaram cada uma das meninas - sobretudo as que desistiram deste caminho, e estão procurando algo melhor. O objetivo do filme não é contar uma história, mas mandar um aviso, para a Juventude, na linguagem que ela conhece, sobre justamente tudo aquilo que ela é, se lhe forem abertas todas as "possibilidades" para ser. Pesado.
"Faith: Sempre vou lembrar dessa viagem. Quero voltar aqui com você ano que vem. Mágico! Algo tão bonito. A sensação de que o mundo é perfeito. Como se nunca fosse acabar."
Parece que este filme se preocupa mais em ser colorido que ser interessante. Li o livro ano passado e queria saber como tinha ficado a história - em particular as crianças, e a relação que elas têm umas com as outras em sua jornada. A primeira impressão que tive é que O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES, como filme, começa muito abrupto - em meia hora já estamos de volta a 1943, dentro do dito Lar, correndo praticamente com toda a construção do protagonista. A rapidez com a qual o background de Jake é contado me incomodou bastante: a mãe praticamente não existe, ele não tem amigos na escola e sua amiga do trabalho é irredutível para a trama. De fato, o filme é recheado de efeitos especiais, mas eles não somam nada na fraca adaptação (dolorosamente previsível mesmo quando foge) do livro de Ransom Riggs. Duas personagens foram invertidas (nome e peculiaridade), alguns outros foram suprimidos, o grande dilema de Jake é pouco abordado (se ele quer ficar na ilha com o pai ou seguir com as crianças rumo ao desconhecido) e, se a gente faz o balanço geral, "O Lar..." não vale tanto a pena assim para duas horas sentado. Mesmo conhecendo a história, a mão de Tim Burton (mais uma vez) deixa a desejar quando o quesito é entretenimento, trazendo uma história com ótima premissa, mas que é executada aos trancos e barrancos, como alguns de seus filmes recentes. Parece estar mais preocupado em ser colorido que interessante, mas boas molduras não salvam quadros ruins - a atuação de Asa Butterfield (Jake) é péssima, a falta de trilha sonora em certos momentos faz diálogos soarem ainda mais artificiais, o vilão de Samuel Jackson tenta ser engraçado e sinistro, mas não consegue nenhum dos dois, e o final, inconclusivo, parece ao mesmo tempo encerrar a história e abrir margem para uma continuação - e, quem sabe, uma franquia. Enquanto mira no público infanto-juvenil, é um prato cheio pelo amplo uso de cores fortes e efeitos especiais de primeira. Mas quando pensamos no "restante da família", que assiste junto aos pequenos a filmes como este, "O Lar..." certamente está longe de ser um dos que entretém a todos - e como cinema, é decepcionantemente fraco. Passem longe!
"Emma Bloom: If I show you the rest, you have to promise not to run away."
Eu entendo porque falam que ele é "enfadonho" - este é um dos poucos filmes sobre os quais podemos falar em nuances, assimilações e a lentidão como processo de amadurecimento de tristezas ainda mais profundas que as que conhecemos. Mesmo entendendo que um público mais acostumado com explosões considere este filme "tedioso" por hábito, é preciso ressaltar o quanto ele é inédito, na história do Cinema, em sua própria natureza. MOONLIGHT é uma mágoa muito, muito grande. Trata-se de um filme LGBT que passeia por diversos outros assuntos - a violência nas escolas, o vício das drogas, as perdas do tráfico - e só por isso ele já deve ser considerado relevante. Tem mais: o diretor, os roteiristas e todos os atores do filme são negros - protagonismo e representatividade às pessoas que até outro dia eram excluídas por serem "de cor". E MOONLIGHT levou o Oscar de melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado, também. É bom lembrar que, até outro dia, não havia sequer um negro concorrendo a uma categoria do Oscar. Assisti mais tarde que os outros, mas assino embaixo dos que discordam que MOONLIGHT seja "enfadonho": trata-se de um filme muito delicado, que se propõe a ser o retrato de um complicadíssimo processo interior (a descoberta, a aceitação, a negação e a possibilidade de um retorno à homossexualidade), narrado por três pontos de vista diferentes - a infância, a juventude e a idade adulta. Ele não pretende ser totalizante, dando conta de cada um dos temas que sublinhou - e sim um espelho, para algumas pessoas que, também no Brasil, vivem em situação semelhante. Tem um caminhar lento, mas só o suficiente para nos fazer mergulhar na água salgada de suas lágrimas. É uma história triste, mas bela como poucas são, sobre todas aquelas coisas não-ditas que existem, e são reais como nós somos. Lindo...
"Kevin: I wasn't never worth shit. Never did anything I actually wanted to do, was all I could do to do what other folks thought I should do. I wasn't never myself."
Foda. Simplesmente foda. TRÊS ANÚNCIOS... é uma poderosa mistura de drama com violência. O filme de Martin McDonagh consegue ao mesmo tempo chocar, quebrar expectativas pelo menos quatro vezes e não fica parado em momento algum (o final não deixa por menos, inclusive). É um longa que exige muito de seus atores principais - e por isso a atuação de Frances McDormand, digna do Oscar, tem sido tão fortemente elogiada pela crítica.
É interessante perceber que a filha, vítima de um estupro, aparece em um único momento no filme - ele não se propõe examinar o crime que ocorreu, mas de que maneira a comunidade vai reagir aos cartazes que denunciam a violência sofrida - e o consequente descaso das autoridades.
Em vários momentos lembrei daquele igualmente pesado "Onde os Fracos Não Têm Vez", que trabalha os vários níveis da Violência numa cidade abandonada, que de certa maneira conversa diretamente com Ebbing, Missouri. Como diz Charlie num trecho do filme, "o ódio acarreta no ódio", e, de fato, o papo do filme é bem esse - tudo que você plantar, você irá colher, então esteja preparado para encarar as consequências daquilo que escolheu semear.
E o melhor e mais importante de tudo é que, nas esferas da maior parte dos personagens, eles mudam; o amor é a única saída, a única maneira de transformar as pessoas e, assim, transformar o mundo. É muito interessante ver o processo de reconstrução de cada um dos personagens afetados pelos cartazes, à medida que vão aprendendo com seus erros a serem pessoas melhores.
Apesar da trilha sonora meio didática e de algumas cenas talvez violentas demais (dignas de "Onde os Fracos Não Têm Vez"), em sua linguagem e escatologia o filme é fantástico, e entrega uma mensagem foda demais a respeito do ciclo vicioso da violência - aqui se faz, aqui se paga. O problema do olho por olho, dente por dente, né. Como discurso, como entretenimento e como candidato ao Oscar, este é o filme mais surpreendente entre os indicados. Vale a pena: junto de "Corra!" e "Me Chame Pelo Seu Nome", forma a trinca das melhores produções do ano a serem lembradas pela premiação. Foda. Assistam! Não vão se arrepender!
"Charlie: All this anger, man, it just begets greater anger."
Nolan decepcionando... DUNKIRK é um filme esteticamente bem trabalhado, tem uma dinâmica boa (apesar de apressada), mas entrega seu enredo de maneira pouco interessante. Tratam-se de três histórias diferentes, ocorrendo "ao mesmo tempo" em lapsos de tempo variados, cujos personagens praticamente não têm nome e estão ligados por um barco, que busca refugiados da II Guerra na costa francesa. Não há intenção em diferir seus personagens - todos parecem o mesmo rapaz branco, de cabelo liso e preto, da mesma altura e falando do mesmo jeito - soldados anônimos do fim da guerra. A dificuldade que isso acarreta ao espectador é uma falha do filme, porque sem ter um "protagonista" que conduza a trama (nem que seja o Harry Styles do OneDirection), a gente fica perdido, não lembra nomes e a ação toma forma inesperadamente. Como concorrente do Oscar, acho dos mais fracos - aborda o lado da retirada das tropas, que "O Destino de uma Nação" citou, mas se limita a contar a história de maneira suficientemente linear para virar filme, mas estruturalmente confusa para conseguir agradar de verdade. Depois de 40 minutos perdidos no filme, acostumamo-nos com seu caos e simplesmente deixamos de tentar lembrar quem é quem, focando no mais importante: a saída da costa. No fim das contas, a linguagem do filme acaba por fadá-lo a ser apenas "mais um filme de guerra", sem causar grandes impressões ou momentos memoráveis, dignos de serem revistos em outra oportunidade. Mediano, Nolan. Você estava melhor no Espaço.
EITA, GENTE. ASSIM NÃO CONSIGO ESCOLHER. "Me Chame pelo seu Nome", do Luca Guadagnino, é uma das histórias mais bonitas já filmadas. Muito bem editado, bem fotografado e com direção delicada, precisa, o longa tem em seus diálogos "incompletos" e sua ambiguidade os pontos mais altos. Há um profundo desenvolvimento dos protagonistas e um trabalho esforçado dos atores em entregar um enredo que é "mais do que um romance", por assim dizer. A trilha é eficaz, o roteiro é pouco 'amarrado', dando liberdade para viajarmos em suposições francesas, e entrega respostas o suficiente para sairmos extasiados e satisfeitos de uma sessão. Para além dos aspectos técnicos, "Call Me by your Name" tem um recado muito bonito para aqueles que partilham da questão LGBT - trata-se de uma família pouco comum em filmes do gênero, e ele tem um desfecho que também nunca foi visto antes; evitando tragédias de DST's e finais semelhantes, este filme se revela o mais impressionante nos últimos 20 minutos, quando Elio se senta para conversar com seu pai sobre a relação que teve com Oliver. Num geral, é um filme muito interessante - traz novidade para o Drama, abre debates e contribui para o Cinema progredir como bandeira sobretudo da representatividade, para aqueles que tanto necessitam dela. "Me Chame pelo seu Nome" é, sem medo de falar, um dos melhores filmes LGBT do cinema recente, que vai além das questões clichês e nos arrebata, nos fascina ainda de uma outra maneira. Fantástico.
"Elio: A mamãe sabe? [longa pausa] Mr. Perlman: Eu acho que não."
Não sou muito fã de filmes assim não... LADY BIRD, como sua protagonista, não tem consciência de que caminho quer seguir. Retratando uma crise identitária comum na juventude, todo o tempo somos levados numa jornada de experiências que ninguém sabe aonde vai dar, sobretudo pela falta de autoconhecimento da protagonista Christine. Esta falta é justamente o motor de "Lady Bird" - nome que ela escolheu para si na intenção de escapar da normalidade de sua casa, de sua família, na intenção de "VIVER alguma coisa de verdade", como ela mesma explica. A relação com a mãe (a mais rica do filme) podia ter sido melhor explorada - assim como a com seu irmão, subaproveitado, e com a amiga da escola (que ela rejeita). Na mesma tacada em que Christine decide entrar para as drogas, ela também sai, e sua fluidez, em si, não tem nada de inovador para a telona, ainda menos se falamos em Oscar de Melhor Roteiro Original. Estritamente linear e coeso, o filme lembra "Geração Prozac" em sua rebeldia, sua afronta pelas drogas e pelo depreciamento de si. Infelizmente, é mais um filme daquele gênero "mumblecore" que se preocupa em retratar de maneira distante as relações conflituosas que carrega (a relação com a mãe, o silêncio do irmão, as amigas da escola, a homossexualidade de Danny), e não chega a lugar algum. Todo o universo que a circunda já foi visto várias vezes antes, não tendo nada de interessante para trazer à lista dos "melhores filmes do ano". O que justifica sua existência é simplesmente o fato de que a diretora quis que ele existisse. Se ganhar Oscar de melhor Atriz, Roteiro Original ou Filme do Ano vai ser brabo de engolir. Bem fraquinho.
"Marion McPherson: Eu quero que você seja a melhor versão que puder ser. Christine 'Lady Bird' McPherson: E se essa for a melhor versão?"
Boas molduras não salvam quadros ruins. Guillermo Del Toro (que a cada filme parece mais distante do diretor por trás do "Labirinto do Fauno") vem, desde 2006, dando murros em ponta de faca na busca por um filme que já não parece mais que vai sair. Tendo produzido suspenses famosos, como "Os Olhos de Julia", "Mama" e "O Orfanato", ele dirigiu em 2017 uma espécie de "conto-de-fadas adulto", que busca ser cativante e profundo - mas só sabe nadar em piscinas rasas. Os pontos altos do filme: São duas horas de narrativa com uma protagonista muda, num filtro verde-musgo (lindo) com uma ambientação nos anos 50 que vai da trilha sonora aos eletrodomésticos - escolhas de roteiro e direção arriscadas, porém levadas ao fim e ao cabo. "A Forma da Água", porém, acaba sendo um romance água-com-açúcar (perdoem a expressão) que não tem coragem para destrinchar o tema que escolheu para si, chegando ao clímax cedo demais, e durando uns 20 minutos a mais do que o necessário para se fazer entender.
Há cenas desnecessárias, que não ajudam em nada o desenvolvimento da trama: a parte musical, os dedos arrancados, a tortura que o antagonista promove e também a nudez gratuita (e sempre feminina), de duas das personagens no filme.
No fim das contas, trata-se de uma produção fraca, que aborda uma questão que beira a zoofilia, mas que não consegue - no background dos protagonistas, dos coadjuvantes, e nos motivos do antagonista - se sustentar. Ele tem uma parte estética muito bem resolvida, como o "Labirinto", mas que na própria substância acaba não indo muito longe - aborda a questão do amor e a cognição entre as espécies, e a possibilidade de um "relacionamento" com uma outra espécie, como já abordaram "Avatar" do Cameron e "Splice - A Nova Espécie" (produção de Del Toro), mas não chega a lugar algum. A transição entre um universo e outro é abrupta, pouco problematizada e questionável dentro de seu próprio contexto. Depois da primeira hora, "The Shape of Water" perde o foco e caminha para o desfecho mais romântico (e anticlímax) que podia. Não sei se a intenção era passar um pano e construir um retrato 'fofo' de uma relação inter-espécie, mas foi o que pareceu, e me preocupo com a maneira como as pessoas podem receber este tipo de filme - com o recado de que está tudo bem se, apesar de reprovável, o que você quer fazer com um animal não o 'machuca'. Problemático. Boas molduras não salvam quadros ruins.
Giles: "Unable to perceive the shape of You, I find You all around me. Your presence fills my eyes with Your love, It humbles my heart, For You are everywhere."
Não consigo entender tanto hate em cima de um filme tão mediano. DE VOLTA... tem mais ou menos o mesmo ritmo de "Planeta dos Macacos", desenvolvendo o confronto principal que o anterior tinha pressagiado: a Guerra entre os humanos e macacos. Aqui, novos elementos de ficção científica são adicionados, regras são quebradas e temos um final bastante... Definitivo. O que me chamou atenção na primeira produção foi justamente o contraste (ou não) da sociedade "civilizada" dos macacos com a nossa, os preconceitos, as estruturas sociais, os micro-poderes entre os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos... De certa maneira, a sociedade dos macacos tem uma organização de castas, que se assemelha com e vale como poderosa metáfora para a nossa própria sociedade. Uma vez que este filme dá continuidade ao legado dessas questões, não vejo porque não exaltar algumas de suas qualidades: Primeiro, a sua ousadia:
por não salvar heróis, e terminar com a explosão da bomba atômica, que serviu como um alerta na época, no contexto da Guerra do Vietnã e da Guerra Fria.
Depois, a maneira como ele entrega uma história que faz reverência ao original e comporta uma boa quantidade de informações novas para ele. Lembro de ler em algum lugar (provavelmente no livro que originou o primeiro filme) que Heston não queria participar desta continuação, pois tinha gostado muito de como o primeiro acabou. Ao que parece, ele teria feito a exigência de não aparecer na maior parte do filme, porque não queria estar ligado a esta produção - e é por isso que seu nome aparece por último nos créditos, apesar de seu personagem ser o grande gancho entre os dois filmes - inclusive o que justifica a existência do segundo. DE VOLTA... tem seus momentos que soam datados, como os efeitos especiais do fogo e das tempestades, provavelmente pouco impressionantes no 1970-pós-"2001".Tem uma condução de trama meio capenga
eles fogem da perseguição e acabam encontrando justamente o lugar onde a guerra aconteceria? O lugar que os macacos estavam procurando? É sério isso, Ted Post?
E vale ressaltar que rolam uns tombos de cavalos, que me pareceram crueldade com os animais; algumas cenas em que os derrubam no chão simplesmente não precisavam estar ali, pois não fariam diferença, mas talvez o fator do choque no público tenha prevalecido aí. Como um todo, o filme não funciona bem como seu antecessor; em alguns momentos parece uma maçaroca de ideias, que deixa bem evidente a tentativa de colocar um segundo ator (loiro e galã) para suprir a falta de Taylor, o protagonista anterior. Os fãs costumam dizer que este é o pior de todos os da franquia, então acho que isso deve ser avisado também. De minha parte, porém, não achei assim o fim do mundo - rs. Entretém como película, só não chega mais longe que isso: não se sustentaria sozinho, se não houvesse (inclusive cenas d)o primeiro para se basear. Mediano.
Um puta filme do caralho. Este é o tipo de parada que não adianta ficar falando a respeito - tem que assistir, perceber, sentir a força do tapa que CORRA! quer dar na nossa cara, sem cerimônia. Bem conduzida e bem montada, a estreia de Jordan Peele no Cinema causou polêmica, e até agora incomoda parte daqueles a quem é endereçada - os brancos racistas com suas ideias de merda. Já começa com o problema; "teus pais sabem que eu sou negro?", e daí surge o catártico desenvolvimento de uma trama que se inspira no Terror, mas flerta com a Comédia e o Drama em alguns momentos. CORRA! é, de fato, um dos filmes do ano - concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, ele é também um dos favoritos da crítica especializada. Muito embora para alguns a trama, ao se revelar, soe absurda ou extrapolada demais, trata-se de um artifício cinematográfico que torna o filme palatável aos amantes do gênero que foi vendido. Quem foi aos cinemas assistir a um Terror, ganhou. Quem foi ver uma crítica ao racismo - sobretudo aos costumes e pensamentos dos brancos em relação aos negros, ao seu "porte", à sua "genética", à sua "predisposição para servir", também viu um puta filme. E sem querer se igualar a filmes que tratam da mesma problemática, como "Eu Não Sou Seu Negro" e "A 13ª Emenda", Jordan comentou no Twitter que, mesmo que as pessoas digam que é um filme de Terror, ele "é um documentário". E o fato de considerá-lo um documentário, fora das formas usuais de narração e montagem do gênero, revela a intenção em denunciar, sem interesse em destrinchar as causas, o racismo que ainda persegue negros, sobretudo em bairros mais nobres dos EUA. (Lembrando que, apesar de ser norte-americano, o comportamento dos brancos em relação a Chris se assemelha a talvez o de milhares de brancos residentes de países onde a escravidão foi legal por centenas de anos - e só na história recente, de um século e pouco pra cá, foi criminalizada. O filme é em inglês, mas as situações são de todo o mundo.) Há muito o que se discutir a respeito de filmes com essa pegada. Só o que sei é que nunca é bastante falar sobre eles - é preciso que outras pessoas assistam, para que assim possam perceber um pouco do monstro que, talvez, possa também acompanhá-las numa mesa de jantar ou reunião de família no contato com um negro. Do caralho. Assistam. Só isso.
"Dean Armitage: Se eu pudesse, eu teria votado no Obama uma terceira vez."
perdoa-nos, mãe, pois não sabemos o que fazemos. pela primeira aliança – a primeira separação – perdoa-nos por termos fugido. pelo dilúvio, perdoa-nos por não termos ouvido. por fim, perdoa-nos por não destruirmos o Mal, aquele que nos separou, mas vive entre nós e nos aparta, inclusive, de nós mesmos. por nossa inveja, luxúria e ira, pelos furtos e mortes, e sobretudo por nossa condição humana, inescapavelmente pecadora, que ainda anseia por um relance do teu amor fresco, cândido, livre e lindo. perdoa-nos, mãe esquecida, mãe dolorosa, mãe doente da humanidade que recebeu, pelo que fazemos em tua casa, em teus filhos, em tua vida. pelo legado deixado a ti, condição máxima daquilo que se chama maternidade – “você não sabe o que é ter filhos, você só dá, dá, dá, e nunca é o suficiente”, perdoa-nos por nossos pedidos infindáveis, nossa espera eterna, nosso padecer no paraíso – intrínseco do ser humano, e por isso mesmo falho, por isso mesmo caído e desconvidado de estar na tua beleza. os que não compreendem a natureza da tua mensagem são os que ainda não abriram os olhos – ainda não se perceberam nus. os que lhe odeiam são os mesmos que lhe desconhecem a inspiração, fonte criadora, o elixir da vida – que um dia também passará. os que lhe roubam os pertences, abrem as feridas, lhe tornam negócio, mentira, imagem, política ou qualquer outra distorção ainda não conhecem o amor como daquilo que se fez e foi Verdade – ainda não entenderam. perdoa-os também por isso. e perdoa-me, sobretudo, por ainda não lhe ajudar a voltar a ser. só o Amor constrói, é ele a única saída deste vale de lágrimas. e a tua morte jamais será esquecida se em Amor. amém.
Os anos 70 sendo os anos 70. Muito legal perceber, no "The Post" do Spielberg, as referências a este filme - a última cena daquele é a primeira deste, e a preocupação com a manutenção de um cenário fiel ao original de 1976 foi tremenda. TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE aborda, apenas 4 anos depois do ocorrido, o encobrimento escandaloso por parte da Casa Branca das relações de Richard Nixon com o caso Watergate - que o levariam a abdicar da presidência em 1974. É incrível pensar que tão pouco tempo se passou e o assunto foi abordado nos cinemas com a mão suave de Alan J. Pakula - um drama biográfico sobre os dois jornalistas que destrincharam o caso sairia nas telonas menos de 2 anos depois. Como filme de drama, tem uma cadência lenta, demora para "acontecer" - a primeira hora chega a ser introdutória "demais", por assim dizer - mas quando acontece, ele pega fogo. Este filme é parte do legado que Pakula deixou para o cinema - que inclui o também poderoso "A Escolha de Sofia", da década seguinte. Assistido hoje, tem seus sinais de envelhecimento, mas nada que o impossibilita de ser um elucidativo quebra-cabeças de um dos momentos mais chocantes da história dos Estados Unidos. Maneiro!
"Ben Bradlee: Goddammit, when is somebody going to go on the record in this story? You guys are about to write a story that says the former Attorney General, the highest-ranking law enforcement officer in this country, is a crook! Just be sure you're right."
Achei um filme super delicado, e à maneira de seu antecessor. THE POST faz uma referência (que poderíamos chamar de prequel) ao filme "Todos os Homens do Presidente", do Alan Pakula, que aborda a relação do The Washington Post com o escândalo Nixon, na década de 70. Também ambientado aí, Spielberg ordena em "A Guerra Secreta" os acontecimentos que circundaram o escandaloso encobrimento, que durou quatro presidências, de informações sigilosas a respeito da Guerra do Vietnã - que viriam a salvar vidas de inúmeros inocentes. Numa entrevista recente, ele disse que este filme trata muito mais do tempo que os EUA vivem hoje do que da década de 70. Aqui, sua abordagem à censura e à liberdade de imprensa tem claras intenções políticas - a informação deve trafegar apurada e livre, como diz a lei do Jornalismo, embora saibamos que em vários países não é assim (inclusive no Brasil). É muito importante que discursos que exaltem a liberdade de imprensa sejam empregados nos cinemas - especialmente em lugares onde ela é menos percebida. Como experiência estética, o filme é uma mistura linda de brancos com tons de cinza, e as cenas que se passam na gráfica do jornal são simétricas e estonteantes. Trata-se de um drama político suave, apesar de abordar um tema tão urgente, e que vai fundo na administração de um dos jornais mais importantes dos EUA - do qual Streep interpreta sua editora-chefe, a primeira do país, diga-se de passagem. Imperdível para todos os que estudam o Jornalismo, e a sua importância no caminho para a conscientização das pessoas. Muito bem feito!
"Meg Greenfield: 'In the First Amendment the Founding Fathers gave the free press the protection it must have to fulfill its essential role in our democracy. The press was to serve the governed, not the governors.'"
Un poquito mal traducido... Entendo que filmes de criança não devem ser vistos sob o viés dos adultos, afinal elas são o público, e ele justifica escolhas cinematográficas de várias naturezas. Mesmo assim, acho que assistir a este filme dublado não é a mesma coisa que legendado - e olha que nossos dubladores fazem um trabalho fantástico em filmes de animação... As canções, que são poucas, me pareceram um pouco mal traduzidas, ou não passaram efetivamente um sentimento em português que se firmasse como tal. Me incomodou que um filme que aborda a Música acabou tendo menos música que "Moana" e outras produções da Disney. Os aspectos técnicos estão lá - fotografia, direção de arte, colorização... Mas a parte que considero mais importante neste filme, as canções, ficaram um pouco atrás na tradução pro português. Achei muito legal a exploração de uma outra cultura, um outro país, uma outra religiosidade - o Dia dos Mortos é uma festa mexicana e, como tal, deve ser retratado com personagens caracterizados dessa maneira. Linda a homenagem à Frida Kahlo, e à cultura do México num geral. Não senti estereótipos nem simplificações do povo escolhido: em tempos de construção de muros e barreiras para impedir a hispanidade, é muito bonito ver no Cinema uma resistência a ver o latino-americano como o "imigrante ilegal". Uma lição de amor à hispanidade e à diversidade como potência. Procurem assistir em inglês/espanhol - pode ser uma experiência melhor.
"Clerk: [sneezes] I am terribly allergic. Miguel: But Dante doesn't have any hair. Clerk: And I don't have a nose, and yet, here we are."
Zuzu Angel
3.7 415 Assista AgoraQue horror, que horror, que horror!
ZUZU ANGEL é um daqueles filmes que a gente não espera nada, mas acaba nos atropelando com sua força e seu poder (de silêncio). Abordando não apenas a vida e obra da famosa estilista brasileira, o filme retrata que relação havia entre os desaparecimentos em série que ocorriam na Ditadura Militar e o governo Geisel, quando tornou-se comum falar que “opositores do governo estão desaparecidos”. Tema pesado, mas uma escolha perfeita de núcleo: a artista, seu ex-marido distante e seu filho, Stuart Angel, torturado e morto pelas mãos daquele mesmo governo. Em tempos de uma direita emergente, cada vez mais simpática com a volta dessa forma de governo, é importante assistir e refletir sobre filmes como este, produções brasileiras criticando o Brasil (e suas instituições).
É preciso exaltar a edição deste filme. Cortes rápidos, dinâmicos, concisos. Uma boa montagem, apesar de por vezes parecer caótica. ZUZU ANGEL entrega um moderado suspense, com boa cenografia e ambientação nos anos 60 e 70 (chegando a citar “O Beijo”, do Magritte, numa das cenas mais icônicas). Reconheço falhas de atuação, sobretudo dos coadjuvantes, e até de dicção mesmo, por parte dos que falam inglês no filme, mas nada chega a comprometer a entrega da mensagem e seu inevitável impacto no público.
É um must-see a todos os que se interessam por estudar o que passou a ocorrer pós-68, envolvendo as revoltas estudantis e universitárias, o choque entre os ideais de esquerda e direita (o socialismo que se propôs na França daquele ano) e quão longe podem ir as decisões de um governo que deseja calar sua oposição – mesmo que essas pessoas não tenham feito mais que expor ideias contrárias ou quebrado vidraças de bancos.
A vida vale mais que isso. Muito mais. E não devemos esquecer do legado dessas pessoas, que lutaram por nosso direito de fala, de escolha, de decisão. E temos que permitir que esta mesma consciência se reflita no nosso voto este ano, quando realmente teremos a oportunidade de eleger aquelx que nos representará nos próximos quatro anos.
Que sejamos todos conscientes disso tudo.
E que venham tempos melhores adiante.
Maneiríssimo!
“Zuzu: Desacato é impedir o direito sagrado de uma mãe de enterrar o seu filho!"
Snowden: Herói ou Traidor
3.8 411 Assista AgoraO tema deste filme é muito pertinente, mas sua execução deixa a desejar...
SNOWDEN retrata a trajetória acadêmica e profissional de Edward Snowden, sob a perspectiva ligeiramente espetacular e lugar-comum de Oliver Stone, um diretor que há muito tempo mistura política com um “cinema de entretenimento”, se podemos falar assim.
Abordar uma história polêmica, como a tão recente do ex-funcionário da CIA, é um esforço que merece reconhecimento. O filme em si tem vários bons momentos, sendo que os melhores estão nos primeiros e últimos quarenta minutos – o que significa dizer que há, de fato, uma barriga ali no meio, que o comprometeu sem possibilidade de se retratar. Talvez SNOWDEN não precisasse ser tão longo, nem abordar com tantas cenas o namoro (pouco relevante para a trama) com Lindsay Mills. Há uma semi-nudez desnecessária, alguns estereótipos de países que me incomodaram, e o trabalho de colorização do filme ficou meio confuso – parece que se usou um filtro “de documentário político” para um filme prosaico da vida de um hacker, e as cores (e seu significado) foram pro caralho com isso.
A obra soa um pouco superficial – sobretudo nos momentos de “discurso inspirador” em que personagens falam coisas do tipo ‘todos merecemos liberdade na internet’ e ‘o governo está errado em nos espionar!’ – porque, no fundo, não se trata disso: o rastreamento de padrões de consumo e regiões de interesse segue sendo uma realidade (que Stone não chegou a denunciar), e a interceptação de conversas criptografadas, o alinhamento dos anúncios por grupos de interesse e os processos de reconhecimento facial são tentáculos do mesmo polvo: o ‘big data’, que no filme é exatamente o index que Snowden propõe com o projeto Heartbeat; a catalogação “pesquisável” de qualquer termo, qualquer interesse, qualquer verbalização de vontade de uma pessoa com um celular ou notebook. Capitalizar este interesse consumista quando ele se manifesta no âmbito particular é, talvez, a mais recente atualização do capitalismo oligopolista moderno.
E o jeito é, mesmo, abandonar esses recursos eletrônicos em alguns anos, porque a situação daqui pra lá só vai ficar mais perigosa. Já não lemos termos e condições dos próprios aparelhos, sites e aplicativos que usamos – enviamos fotos de rosto, coletâneas de gosto e nossa própria localização para terceiros que, garantem os aparelhos, não usarão nossas informações para nada.
Mas devemos acreditar... nos próprios aparelhos?
Só o tempo vai dizer.
Abramos o olho.
“Corbin O'Brian: Sigilo é segurança e segurança é vitória.”
It: Uma Obra Prima do Medo
3.5 1,3KAcho que este é o trabalho definitivo do livro de Stephen King.
Não entrarei em detalhes sobre como esta adaptação é mais fiel e bem conduzida do que a versão (super-produzida) de 2017, que aborda metade da história, e na qual chovem efeitos especiais mas sobram cafonices do gênero. Falo isso aqui direto, mas é sempre bom ressaltar: boas molduras nunca salvam quadros ruins.
Aqui, Tommy Lee Wallace dirige uma minissérie para TV mais extensa, que detalha muito bem o Clube dos Otários e seus antagonistas principais (Pennywise e Henry Bowers). Por ser mais longa, é de fato uma experiência mais áspera de se assistir, mas nem por isso perde o fôlego, mantendo a linha de raciocínio sem deixar faltar quase nada do trampo original de King (adicionando aqui e ali alguns absurdos que funcionam perfeitamente dentro de sua lógica).
Por ser uma produção mais antiga, tem efeitos especiais que soam datados, e algumas convenções de "filmes dos anos 80" que também dão vergonha alheia de se assistir (como Bill e Mike andando na Silver num parquinho); mas num geral, tomando as duas obras lado a lado (1990 e 2017), é impossível comparar, mesmo que a recente tenha se valido de boa parte do storyboard desta aqui: dá de 10 a 0 na recente, como estória e como experiência num geral.
Não tendo exageros de sangue, nem forçações de barra para dar jumpscares gratuitos, "It - Uma Obra Prima do Medo" sabe aonde assustar e como criar suspense, evitando uma série de erros que o de 2017 cometeu (tornando-se desinteressante e caindo no lugar-comum dos filmes de Terror). No mais, indico a todxs que tenham gostado do recente que leiam o livro, e em seguida assistam a esta minissérie.
Chega a ser catártica de tão fiel e emocionante, passando longe de ser "apenas uma história de terror" que se propõe a assustar sem compromisso e nos esvaziar de nosso próprio sentido.
Incrível.
"Pennywise: I'm every nightmare you've ever had. I'm your worst dream come true. I'm everything you ever were afraid of."
Trama Fantasma
3.7 805 Assista AgoraAchei bem fraco...
Ainda falando em Oscar, "Trama Fantasma", indicado a Melhor Filme, oscila entre um filme estonteante (pelo figurino e cenografia) e absolutamente enfadonho, com ritmo vagaroso demais e poucas informações para justificar sua duração. O drama, último na carreira de Day-Lewis, conta a história de um relacionamento afetivo altamente questionável entre um estilista e sua modelo-musa.
A começar pela ausência completa de background da musa, Alma, o longa apresenta vários outros defeitos; o uso constante de silêncios absolutos, para dar mais peso em muitas cenas, nem sempre consegue sugerir alguma coisa. A repetição dos mesmos três temas na trilha sonora, depois de uma hora e meia de filme, prejudica a experiência e, apesar da boa interpretação de Day-Lewis, a falta de propósito e o amor incondicional de Alma por seu personagem salientam o aspecto abusivo e doente deste relacionamento: a mulher que, mesmo sendo a protagonista no mundo da Moda, é secundarizada pelo olhar inequívoco do estilista, que é mais importante que todos, inclusive dos que vivem com ele no mesmo apartamento.
É muito doido que o mesmo cara que dirigiu o fantástico "Magnólia" em 1999 tenha lançado um filme tão sem objetivos em 2017. Entendo a intenção em dissecar a psiquê de Woodcock, mas isso não consegue tornar o filme relevante o suficiente para ser lembrado. Quem já viu "Magnólia" não deve se surpreender com o final bizarro que "Trama Fantasma" propõe para este relacionamento.
Cê já fez mais, viu, Paul? Mas não desisto de ti não!
Boas molduras não salvam quadros ruins.
"Reynolds Woodcock: It's comforting to think the dead are watching over the living. I don't find that spooky at all."
Jogos Mortais: Jigsaw
2.8 708 Assista AgoraÉ fraco, mas não chega ao pior que a franquia já produziu.
Acho que, depois do sexto, quando os produtores começaram a investir em espaços abertos, uso da luz do sol e colorização mais viva, a coisa toda foi pro brejo - aquela estética obscura que foi tão explorada nos primeiros quatro longas (e que mais tarde apresentaria sinais de exaustão) foi deixada de lado, e uma versão mais exagerada da carnificina, com sangue rosa, decapitações estúpidas e corpos mutilados "só para serem mutilados" foi colocada em seu lugar.
JIGSAW, porém, consegue entregar uma história crível dentro de seu contexto. Se safa bem da especulação sobre a sobrevivência de John Kramer depois da própria autópsia, e é um filme razoavelmente redondo. Seu antecessor, o sétimo, tido como o "capítulo final", foi um fiasco cinematográfico em todos os sentidos - roteiro, desenvolvimento dúbio, exageros e etc... E talvez por ter esperado algo neste nível, eu tenha me surpreendido positivamente com "Jogos Mortais - Jigsaw".
Este filme também tem seus defeitos graves: parece o tempo inteiro querer reviver o modelo antigo da trama (traços do tenente Riggs, da Amanda Young e do Detetive Hoffman aparecem nos novos personagens). As atuações das vítimas e dos policiais encarregados pelo novo caso são pífias - sobretudo de Halloran, Logan e Eleanor. Os backgrounds dos personagens, que em Jogos Mortais 2 e 3 foram melhor explorados, aqui parecem histórias lançadas para evitar o esvaziamento completo dessas vítimas desinteressantes. As questões morais, que também eram chamariz da série, aqui são pano de fundo para mais carnificina e morte-pela-morte.
Há um confronto final (que lembra o do primeiro filme), mas se amarra de maneira pouco satisfatória - a história de Kramer devia ter acabado no terceiro filme, depois de sua morte, e não continuar indefinidamente com ajudantes secretos, seguidores antigos e armadilhas "usadas antes dos primeiros jogos". Parece que o interesse está em criar um folclore em cima de uma história que já acabou há dez anos, mas teima em tentar se fazer relevante num ambiente diferente, com personagens diferentes e praticamente sem nenhuma ligação concreta com os filmes anteriores.
Como oitavo da franquia, é ruim. Como experiência isolada, não tanto: se comparado com o seu antecessor, JIGSAW consegue pelo menos prender a nossa atenção. Mesmo assim, fico besta como Leigh Wannel e James Wan foram os produtores executivos disso aqui, depois de terem criado com tanto cuidado a estética e abordagem "filosófica" dos primeiros filmes. Como disse o IO9, "é um dos melhores filmes da franquia. Infelizmente, isso não é dizer muito".
E concordo bastante com isso.
Este é para fãs mesmo. E eu mesmo não indicaria a eles.
Descartável!
"John Kramer: Here's your key to freedom."
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraPlácido e ao mesmo tempo intenso.
A BRUXA é um filme de Terror com uma direção não-convencional. Uma produção moderadamente lenta, com o objetivo de te fazer acompanhar a cadência da narrativa na medida em que ela flui - uma escolha estilística que o difere de seus contemporâneos. Consegue a proeza de ser "calmo" e ao mesmo tempo construir uma tensão exponencial - mesmo que, para mim, tenha sido "calmaria demais" para um filme que se propõe assustador.
Me recordo dos excelentes "A Vila", do Shyamalan, pela ameaça iminente de uma entidade que se impõe, e "Anticristo", do Von Trier, pela estética do "rural sombrio", a trilha sonora bastante percussiva e o trabalho com as sombras... A BRUXA é sobre esperar - entrar no clima, se ambientar e mergulhar em sua proposta. A única questão que tive é que, pela falta de "ações", boa parte do filme se torna estritamente contemplativa, e como o roteiro é bastante reduzido, não há muito o que se "ver" (além do que se espera).
Depois de uma hora, o ritmo se agita e a gente entende melhor quem é o quê, digamos assim. Mesmo assim, a experiência (apesar da ótima fotografia) não vale tanto a pena, pelos poucos momentos inspirados que o filme realmente tem.
Vale pela sensação provocada durante o percurso, mas não vai mais longe.
Mediano.
"Caleb: She desires of my blood. She sends 'em upon me. They feed upon her teats, her nether parts. She sends 'em upon me."
Tempo de Viagem
4.1 23Falar qualquer coisa a respeito do cinema de Andrei Tarkovski é sempre falar pouco - devemos revisitar periodicamente a sua obra, reconhecendo trechos, espaços, abordagens e toda uma organicidade que é própria de seu cinema. Quem dera se, para cada filme que ele fez, existisse um "Tempo de Viagem" abordando os processos artísticos e o seu momento de vida naquela obra...
TEMPO DI VIAGGIO é autobiográfico, mas não se limita a isso - mesmo pondo-se em evidência pelos olhos de Tonino Guerra, Tarkovski acaba "sobressaindo" nas cenas, pulsando poeticamente mesmo em frames em que não aparece. A imagem deste homem concentrado, pensativo, contemplando o seu redor fica marcada no coração de cada um que já conheceu a beleza de seu cinema. Abordando o fazer artístico, o trabalho e a poesia, os dois realizadores têm no longa uma conversa que ressoa para além de seu tempo, que inclui pensamentos do russo sobre filmes comerciais e ainda suas maiores influências no audiovisual(!!!).
Exaltar as qualidades é redundante, e por isso prefiro deixar o resto desta resenha com um dos três grandes momentos de Tarkovski aqui, que vai além das próprias palavras e sedimenta talvez o aspecto mais importante de toda a sua obra.
Obrigado, grande poeta, pelas palavras que você falou.
"Se tivesse que falar com alguns diretores jovens, qual seria seu principal conselho?"
Hoje em dia todo o mundo faz filmes, todo o mundo acredita que é capaz de fazer filmes, entende? Qualquer um que não seja preguiçoso demais... Não é difícil aprender como montar o filme, como usar uma câmera... Mas o conselho que posso dar aos que começam é que não separem seu trabalho, seu filme, seu cinema, de sua própria vida. Que o filme não seja diferente de sua própria vida. Porque... um diretor é como qualquer outro artista: um pintor, um poeta, um músico... E desde que se lhe é exigido que contribua a si mesmo, é estranho ver diretores que tomam seu trabalho como se estivessem em uma posição privilegiada, que lhes foi dada pelo destino, e simplesmente tiram proveito de sua profissão. Assim, vivem de uma forma, mas fazem filmes sobre outras coisas. E gostaria de dizer aos diretores, especialmente aos jovens, que devem ser moralmente responsáveis pelo que fazem enquanto estão rodando seu filme. Entende? Isso é o mais importante de tudo. Em segundo lugar, deveriam estar preparados para pensar que o cinema é uma arte difícil e séria. Que exige sacrifício de si mesmo. Você deveria pertencer a ele, ele não deveria pertencer a você. O cinema utiliza sua vida, e não o contrário. Portanto creio que isto é o mais importante... Você deveria se sacrificar pela arte. Isto é o que tenho estado pensando ultimamente sobre minha profissão.
A Fuga do Planeta dos Macacos
3.4 165 Assista AgoraAbsolutamente fantástico!
Zira e Cornelius devem ser os únicos macacos que levam um filme todo nas costas só na base do carisma. Quanta verdade sentimos assistindo à sua saga, nos três primeiros filmes da franquia PLANETA DOS MACACOS! Muita torcida e engajamento pelo êxito dos chimpanzés em sua fuga da Terra, este planeta dominado por seres perigosos e deploráveis (que somos todos nós).
É outro filme com os personagens de Pierre Boule que vai além do entretenimento comum, trazendo questões sobre preconceito, crueldade e os limites da violência - se macacos farão o que fazemos com eles no futuro, estarão eles errados? Deverão ser julgados? E o que isso faz de nós...?
"A Fuga..." é daqueles longas que tem um fôlego surpreendente (ajudado por uma excelente trilha sonora) e conta uma história crível e relevante, que se expande para além de macacos e humanos e supera o gênero que a consagrou. Trata-se de um verdadeiro exame de consciência no nosso preconceito, e um tapa na cara muito bem dado de cada um de nós que insiste em ser como os humanos do filme - e nunca um dos macacos.
Pimenta no dos outros é refresco, parceiro.
Cinema de ensinamento precioso e num formato de facílima absorção.
Pérola de 1971. Assistam!
"Cornelius: At first, they just grunted their refusal. But then, on an historic day, which is commemorated by my species and fully documented in the sacred scrolls, there came Aldo. He did not grunt. He articulated. He spoke a word which had been spoken to him time without number by humans. He said 'No.' So that's how it all started."
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraComo adaptação de um livro do King, é uma das melhores - entrega substancialmente a mesma (primeira parte da) história de 1986. Como filme de terror, porém, não traz nada novo e fracassa em quase todas as tentativas de assustar o espectador.
"IT: A Coisa" é uma releitura do clássico livro do 'palhaço assassino' de Stephen King. Muito embora seja fiel o suficiente para ser respeitado pelos leitores, tem diversos exageros que comprometem a possibilidade do público de levar a narrativa a sério.
Aqui, como no livro, a Amizade e o Amor são os temas centrais, e os sete amigos devem se unir para combater a força do Mal que é a "Coisa". IT é um longa essencialmente bem executado, tem efeitos especiais tinindo e ótima sonorização, como qualquer superprodução norte-americana - mas não convence nem a si mesmo que monstros como o "leproso" ou a "senhora velha" são assustadores de verdade: a caracterização chega às vezes a provocar risadas. Algumas cenas com Pennywise também entram naquele limiar entre o "assustador" e o "estúpido" - culminando naquela babaquice dele dançando polca num circo enferrujado pegando fogo. O que compromete o filme para quem não leu são seus excessos, que tornam tudo que foi feito para ser assustador uma piada involuntária.
As divergências mais problemáticas com o livro: Stan e Mike são personagens descartáveis - Stan nem corta as mãos das crianças para fazer a promessa, Bill o faz. Existe um furo no roteiro quando as crianças encontram Mike - a princípio, elas não o conhecem, mas já se conheceram antes e isso é mal explicado. Victor e Arroto são descartáveis, eles aparecem duas vezes no filme e só como apoio do antagonista Henry. Este, inclusive, cai num poço na primeira perseguição, o que traz um estranhamento para quem conhece o desfecho dele. A redução de Patrick Hockstetter à vítima logo no início também causa um estranhamento - que piora à medida que cenas excelentes do livro (como a voz na pia de Beverly e a primeira ida em grupo à casa da rua Neibolt) são decididamente "grotesquisadas", na intenção de causar sustos baratos que nem se sustentam sozinhos.
A caracterização "séria" do Pennywise de Skarsgard é a melhor parte - ele é o ator que mais se destaca aqui. Fiel ao aterrorizante palhaço desde a cena do bueiro, infelizmente contracena com meninos que parecem nunca ter atuado na vida - Stan e Mike, muitas das vezes, parecem ter a mesma expressão para toda situação.
Apesar de ser estruturalmente o mesmo percurso, e de ter contornado algumas lacunas com boas costuras, a adição de duas cenas me chamou atenção pela maneira como foram bem conduzidas: o projetor na garagem e o quarto dos palhaços, na casa Neibolt. Dois sustos absolutamente surpreendentes e bem feitos - sem contar a briga de Beverly com outro personagem, lá na frente. No fim das contas, como passatempo, é um filme que se assiste sem grandes problemas, mas não vai mais longe.
E se você quer fidelidade, é melhor ler o livro mesmo.
Um balão murchou.
"Richie Tozier: Hey Eddie, are these your birth control pills?
Eddie Kaspbrak: Yeah, I'm saving them for your sister!"
O Grito 2
2.5 412 Assista AgoraBaita farofagem...
Mais fraco que o antecessor, que, ao que parece, condensou e esgotou todas as ideias para a história desta maldição de uma vez só, O GRITO 2 tenta alcançar o status de filme respeitável como o primeiro, mas fracassa miseravelmente em quase toda a sua execução.
"The Grudge 2" conseguiu ser mais lento e morno, tendo uma carga mais de Drama que Terror em si, e, excluindo-se uma cena muito bem executada num motel (com Miyuki), o filme parece uma sofrível enrolação para o desfecho previsível que a própria maldição profetiza. Trata-se de uma produção descartável, apesar de ter aqui e ali certas justificativas para sua existência (explora a origem da fantasma Kayako e continua o arco de Karen, a personagem de Sarah Michelle Gellar no anterior). Mesmo assim, os fins não justificam os meios, e isso aqui mais parece um grande monte de nada que qualquer outra coisa.
É um argumento sobre o ciclo da raiva, a violência como a única resposta possível quando há ódio no coração dos outros. Ele não se interessa em ir mais além na questão moral da maldição, bastando-se apenas nas consequências mortais para todos os que pisarem naquela casa. Mesmo que tenha uma boa fotografia, e trabalhe alguns sustos de maneira arriscada, no fim das contas não vale a pena.
É decepcionante como a maioria das continuações de um bom filme de terror.
Meh.
"Eason: She used to take evil spirits out from a person and feed them to her daughter."
Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista Agora"Mãe, acho que esse é o segredo da vida: ser uma boa pessoa."
Harmory Korine é um diretor que costuma ter muito a dizer. Em sua filmografia, jazem os perturbadores "Vidas Sem Destino" e "Trash Humpers", que exploram o 'white trash' sob uma ótica profundamente niilista, pessimista e por vezes nojenta. Se o primeiro trata da infância e juventude branca que cresce numa cidade fadada ao fracasso, o segundo explora a juventude no cume de seu prazer carnal anti-capitalista: fornicadores de lixo, contra o consumo e que encaram o sexo como uma forma de "antropofagia do todo".
É interessante notar, numa carreira de filmes underground e com forte rechaçamento do público geral, um cara como este lançar um filme como "Spring Breakers", estrelando Vanessa Hudgens, Selena Gomez e James Franco. Só desse filme existir já temos um ponto fora da curva, um questionamento, e quando a gente assiste, aí é que são elas.
White trash, white trash. Falamos de Korine, e seu distorcido ponto de vista sobre a Juventude. Quatro colegiais querem ir para o "Spring Break", um evento lotado em que jovens vão para abusar de drogas, dos outros e deles mesmos. Logo no começo fica claro, pela quantidade de gente seminua se entorpecendo, o ponto no qual Korine tem tocado nos últimos anos: o desgaste humano.
Desgaste sob a forma de uma cultura que se impõe aos jovens, que dita a eles a maneira como devem se portar, se vestir, como devem se divertir, transar, amar, gozar. O retrato de uma Juventude que se perdeu de Deus (isso fica muito evidente no arco de Faith, personagem de Selena Gomez) e busca, no vazio de seus excessos, o sentido de sua própria existência.
"Parece um sonho. Acho que nos encontramos aqui."
Se entorpecer, fugir. Da escola, das responsabilidades, da família, de tudo aquilo que nos "prende", e correr atrás da Liberdade, este bem tão precioso e raro aos olhos dos jovens. Sem perceber que nem toda liberdade é Libertadora, as quatro amigas viajam juntas para acabar descobrindo que nem todas querem essa vida, essa ausência de sentido, esse niilismo. Uma não vai precisar ver muito - ela já está acordada. Outra vai passar por um tipo de violência para entender que nada ali é de graça, e ainda haverá quem defenda esses mesmos homens, que colocam jovens assim nessa situação e no final culpam elas mesmas, meninas que estão tão inseridas no contexto da violência que já deixaram de perceber o caráter opressor de sua própria situação.
"Sabe por que eu vou comer a sua buceta? Porque você é uma vagabunda."
Não estamos falando, porém, do melhor filme do diretor nem nada do tipo. O uso constante dos diálogos indiretos (a cena que aparece na tela não é a do diálogo que corre no som) e a câmera lenta, empregada quase a cada cinco takes, contribuem para o filme ficar repetitivo. Adicione a isso a repetição sistemática de várias linhas de diálogo, lá para o final, e o fato de que, no fim das contas, não ficamos sabendo como ficaram cada uma das meninas - sobretudo as que desistiram deste caminho, e estão procurando algo melhor. O objetivo do filme não é contar uma história, mas mandar um aviso, para a Juventude, na linguagem que ela conhece, sobre justamente tudo aquilo que ela é, se lhe forem abertas todas as "possibilidades" para ser.
Pesado.
"Faith: Sempre vou lembrar dessa viagem. Quero voltar aqui com você ano que vem. Mágico! Algo tão bonito. A sensação de que o mundo é perfeito. Como se nunca fosse acabar."
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraParece que este filme se preocupa mais em ser colorido que ser interessante.
Li o livro ano passado e queria saber como tinha ficado a história - em particular as crianças, e a relação que elas têm umas com as outras em sua jornada. A primeira impressão que tive é que O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES, como filme, começa muito abrupto - em meia hora já estamos de volta a 1943, dentro do dito Lar, correndo praticamente com toda a construção do protagonista. A rapidez com a qual o background de Jake é contado me incomodou bastante: a mãe praticamente não existe, ele não tem amigos na escola e sua amiga do trabalho é irredutível para a trama.
De fato, o filme é recheado de efeitos especiais, mas eles não somam nada na fraca adaptação (dolorosamente previsível mesmo quando foge) do livro de Ransom Riggs. Duas personagens foram invertidas (nome e peculiaridade), alguns outros foram suprimidos, o grande dilema de Jake é pouco abordado (se ele quer ficar na ilha com o pai ou seguir com as crianças rumo ao desconhecido) e, se a gente faz o balanço geral, "O Lar..." não vale tanto a pena assim para duas horas sentado.
Mesmo conhecendo a história, a mão de Tim Burton (mais uma vez) deixa a desejar quando o quesito é entretenimento, trazendo uma história com ótima premissa, mas que é executada aos trancos e barrancos, como alguns de seus filmes recentes. Parece estar mais preocupado em ser colorido que interessante, mas boas molduras não salvam quadros ruins - a atuação de Asa Butterfield (Jake) é péssima, a falta de trilha sonora em certos momentos faz diálogos soarem ainda mais artificiais, o vilão de Samuel Jackson tenta ser engraçado e sinistro, mas não consegue nenhum dos dois, e o final, inconclusivo, parece ao mesmo tempo encerrar a história e abrir margem para uma continuação - e, quem sabe, uma franquia.
Enquanto mira no público infanto-juvenil, é um prato cheio pelo amplo uso de cores fortes e efeitos especiais de primeira. Mas quando pensamos no "restante da família", que assiste junto aos pequenos a filmes como este, "O Lar..." certamente está longe de ser um dos que entretém a todos - e como cinema, é decepcionantemente fraco.
Passem longe!
"Emma Bloom: If I show you the rest, you have to promise not to run away."
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraEu entendo porque falam que ele é "enfadonho" - este é um dos poucos filmes sobre os quais podemos falar em nuances, assimilações e a lentidão como processo de amadurecimento de tristezas ainda mais profundas que as que conhecemos. Mesmo entendendo que um público mais acostumado com explosões considere este filme "tedioso" por hábito, é preciso ressaltar o quanto ele é inédito, na história do Cinema, em sua própria natureza.
MOONLIGHT é uma mágoa muito, muito grande. Trata-se de um filme LGBT que passeia por diversos outros assuntos - a violência nas escolas, o vício das drogas, as perdas do tráfico - e só por isso ele já deve ser considerado relevante. Tem mais: o diretor, os roteiristas e todos os atores do filme são negros - protagonismo e representatividade às pessoas que até outro dia eram excluídas por serem "de cor". E MOONLIGHT levou o Oscar de melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado, também. É bom lembrar que, até outro dia, não havia sequer um negro concorrendo a uma categoria do Oscar.
Assisti mais tarde que os outros, mas assino embaixo dos que discordam que MOONLIGHT seja "enfadonho": trata-se de um filme muito delicado, que se propõe a ser o retrato de um complicadíssimo processo interior (a descoberta, a aceitação, a negação e a possibilidade de um retorno à homossexualidade), narrado por três pontos de vista diferentes - a infância, a juventude e a idade adulta. Ele não pretende ser totalizante, dando conta de cada um dos temas que sublinhou - e sim um espelho, para algumas pessoas que, também no Brasil, vivem em situação semelhante.
Tem um caminhar lento, mas só o suficiente para nos fazer mergulhar na água salgada de suas lágrimas. É uma história triste, mas bela como poucas são, sobre todas aquelas coisas não-ditas que existem, e são reais como nós somos.
Lindo...
"Kevin: I wasn't never worth shit. Never did anything I actually wanted to do, was all I could do to do what other folks thought I should do. I wasn't never myself."
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraFoda. Simplesmente foda.
TRÊS ANÚNCIOS... é uma poderosa mistura de drama com violência. O filme de Martin McDonagh consegue ao mesmo tempo chocar, quebrar expectativas pelo menos quatro vezes e não fica parado em momento algum (o final não deixa por menos, inclusive). É um longa que exige muito de seus atores principais - e por isso a atuação de Frances McDormand, digna do Oscar, tem sido tão fortemente elogiada pela crítica.
É interessante perceber que a filha, vítima de um estupro, aparece em um único momento no filme - ele não se propõe examinar o crime que ocorreu, mas de que maneira a comunidade vai reagir aos cartazes que denunciam a violência sofrida - e o consequente descaso das autoridades.
Em vários momentos lembrei daquele igualmente pesado "Onde os Fracos Não Têm Vez", que trabalha os vários níveis da Violência numa cidade abandonada, que de certa maneira conversa diretamente com Ebbing, Missouri. Como diz Charlie num trecho do filme, "o ódio acarreta no ódio", e, de fato, o papo do filme é bem esse - tudo que você plantar, você irá colher, então esteja preparado para encarar as consequências daquilo que escolheu semear.
E o melhor e mais importante de tudo é que, nas esferas da maior parte dos personagens, eles mudam; o amor é a única saída, a única maneira de transformar as pessoas e, assim, transformar o mundo. É muito interessante ver o processo de reconstrução de cada um dos personagens afetados pelos cartazes, à medida que vão aprendendo com seus erros a serem pessoas melhores.
Apesar da trilha sonora meio didática e de algumas cenas talvez violentas demais (dignas de "Onde os Fracos Não Têm Vez"), em sua linguagem e escatologia o filme é fantástico, e entrega uma mensagem foda demais a respeito do ciclo vicioso da violência - aqui se faz, aqui se paga. O problema do olho por olho, dente por dente, né. Como discurso, como entretenimento e como candidato ao Oscar, este é o filme mais surpreendente entre os indicados.
Vale a pena: junto de "Corra!" e "Me Chame Pelo Seu Nome", forma a trinca das melhores produções do ano a serem lembradas pela premiação.
Foda. Assistam! Não vão se arrepender!
"Charlie: All this anger, man, it just begets greater anger."
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraNolan decepcionando...
DUNKIRK é um filme esteticamente bem trabalhado, tem uma dinâmica boa (apesar de apressada), mas entrega seu enredo de maneira pouco interessante. Tratam-se de três histórias diferentes, ocorrendo "ao mesmo tempo" em lapsos de tempo variados, cujos personagens praticamente não têm nome e estão ligados por um barco, que busca refugiados da II Guerra na costa francesa.
Não há intenção em diferir seus personagens - todos parecem o mesmo rapaz branco, de cabelo liso e preto, da mesma altura e falando do mesmo jeito - soldados anônimos do fim da guerra. A dificuldade que isso acarreta ao espectador é uma falha do filme, porque sem ter um "protagonista" que conduza a trama (nem que seja o Harry Styles do OneDirection), a gente fica perdido, não lembra nomes e a ação toma forma inesperadamente.
Como concorrente do Oscar, acho dos mais fracos - aborda o lado da retirada das tropas, que "O Destino de uma Nação" citou, mas se limita a contar a história de maneira suficientemente linear para virar filme, mas estruturalmente confusa para conseguir agradar de verdade. Depois de 40 minutos perdidos no filme, acostumamo-nos com seu caos e simplesmente deixamos de tentar lembrar quem é quem, focando no mais importante: a saída da costa.
No fim das contas, a linguagem do filme acaba por fadá-lo a ser apenas "mais um filme de guerra", sem causar grandes impressões ou momentos memoráveis, dignos de serem revistos em outra oportunidade.
Mediano, Nolan.
Você estava melhor no Espaço.
"Tommy: Guerras não são vencidas por evacuação."
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraEITA, GENTE. ASSIM NÃO CONSIGO ESCOLHER.
"Me Chame pelo seu Nome", do Luca Guadagnino, é uma das histórias mais bonitas já filmadas. Muito bem editado, bem fotografado e com direção delicada, precisa, o longa tem em seus diálogos "incompletos" e sua ambiguidade os pontos mais altos. Há um profundo desenvolvimento dos protagonistas e um trabalho esforçado dos atores em entregar um enredo que é "mais do que um romance", por assim dizer. A trilha é eficaz, o roteiro é pouco 'amarrado', dando liberdade para viajarmos em suposições francesas, e entrega respostas o suficiente para sairmos extasiados e satisfeitos de uma sessão.
Para além dos aspectos técnicos, "Call Me by your Name" tem um recado muito bonito para aqueles que partilham da questão LGBT - trata-se de uma família pouco comum em filmes do gênero, e ele tem um desfecho que também nunca foi visto antes; evitando tragédias de DST's e finais semelhantes, este filme se revela o mais impressionante nos últimos 20 minutos, quando Elio se senta para conversar com seu pai sobre a relação que teve com Oliver.
Num geral, é um filme muito interessante - traz novidade para o Drama, abre debates e contribui para o Cinema progredir como bandeira sobretudo da representatividade, para aqueles que tanto necessitam dela. "Me Chame pelo seu Nome" é, sem medo de falar, um dos melhores filmes LGBT do cinema recente, que vai além das questões clichês e nos arrebata, nos fascina ainda de uma outra maneira.
Fantástico.
"Elio: A mamãe sabe?
[longa pausa]
Mr. Perlman: Eu acho que não."
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraNão sou muito fã de filmes assim não...
LADY BIRD, como sua protagonista, não tem consciência de que caminho quer seguir. Retratando uma crise identitária comum na juventude, todo o tempo somos levados numa jornada de experiências que ninguém sabe aonde vai dar, sobretudo pela falta de autoconhecimento da protagonista Christine. Esta falta é justamente o motor de "Lady Bird" - nome que ela escolheu para si na intenção de escapar da normalidade de sua casa, de sua família, na intenção de "VIVER alguma coisa de verdade", como ela mesma explica.
A relação com a mãe (a mais rica do filme) podia ter sido melhor explorada - assim como a com seu irmão, subaproveitado, e com a amiga da escola (que ela rejeita). Na mesma tacada em que Christine decide entrar para as drogas, ela também sai, e sua fluidez, em si, não tem nada de inovador para a telona, ainda menos se falamos em Oscar de Melhor Roteiro Original.
Estritamente linear e coeso, o filme lembra "Geração Prozac" em sua rebeldia, sua afronta pelas drogas e pelo depreciamento de si. Infelizmente, é mais um filme daquele gênero "mumblecore" que se preocupa em retratar de maneira distante as relações conflituosas que carrega (a relação com a mãe, o silêncio do irmão, as amigas da escola, a homossexualidade de Danny), e não chega a lugar algum. Todo o universo que a circunda já foi visto várias vezes antes, não tendo nada de interessante para trazer à lista dos "melhores filmes do ano".
O que justifica sua existência é simplesmente o fato de que a diretora quis que ele existisse. Se ganhar Oscar de melhor Atriz, Roteiro Original ou Filme do Ano vai ser brabo de engolir.
Bem fraquinho.
"Marion McPherson: Eu quero que você seja a melhor versão que puder ser.
Christine 'Lady Bird' McPherson: E se essa for a melhor versão?"
A Forma da Água
3.9 2,7KBoas molduras não salvam quadros ruins.
Guillermo Del Toro (que a cada filme parece mais distante do diretor por trás do "Labirinto do Fauno") vem, desde 2006, dando murros em ponta de faca na busca por um filme que já não parece mais que vai sair. Tendo produzido suspenses famosos, como "Os Olhos de Julia", "Mama" e "O Orfanato", ele dirigiu em 2017 uma espécie de "conto-de-fadas adulto", que busca ser cativante e profundo - mas só sabe nadar em piscinas rasas.
Os pontos altos do filme: São duas horas de narrativa com uma protagonista muda, num filtro verde-musgo (lindo) com uma ambientação nos anos 50 que vai da trilha sonora aos eletrodomésticos - escolhas de roteiro e direção arriscadas, porém levadas ao fim e ao cabo. "A Forma da Água", porém, acaba sendo um romance água-com-açúcar (perdoem a expressão) que não tem coragem para destrinchar o tema que escolheu para si, chegando ao clímax cedo demais, e durando uns 20 minutos a mais do que o necessário para se fazer entender.
Há cenas desnecessárias, que não ajudam em nada o desenvolvimento da trama: a parte musical, os dedos arrancados, a tortura que o antagonista promove e também a nudez gratuita (e sempre feminina), de duas das personagens no filme.
No fim das contas, trata-se de uma produção fraca, que aborda uma questão que beira a zoofilia, mas que não consegue - no background dos protagonistas, dos coadjuvantes, e nos motivos do antagonista - se sustentar. Ele tem uma parte estética muito bem resolvida, como o "Labirinto", mas que na própria substância acaba não indo muito longe - aborda a questão do amor e a cognição entre as espécies, e a possibilidade de um "relacionamento" com uma outra espécie, como já abordaram "Avatar" do Cameron e "Splice - A Nova Espécie" (produção de Del Toro), mas não chega a lugar algum.
A transição entre um universo e outro é abrupta, pouco problematizada e questionável dentro de seu próprio contexto. Depois da primeira hora, "The Shape of Water" perde o foco e caminha para o desfecho mais romântico (e anticlímax) que podia.
Não sei se a intenção era passar um pano e construir um retrato 'fofo' de uma relação inter-espécie, mas foi o que pareceu, e me preocupo com a maneira como as pessoas podem receber este tipo de filme - com o recado de que está tudo bem se, apesar de reprovável, o que você quer fazer com um animal não o 'machuca'.
Problemático.
Boas molduras não salvam quadros ruins.
Giles: "Unable to perceive the shape of You, I find You all around me. Your presence fills my eyes with Your love, It humbles my heart, For You are everywhere."
De Volta ao Planeta dos Macacos
3.2 212 Assista AgoraNão consigo entender tanto hate em cima de um filme tão mediano.
DE VOLTA... tem mais ou menos o mesmo ritmo de "Planeta dos Macacos", desenvolvendo o confronto principal que o anterior tinha pressagiado: a Guerra entre os humanos e macacos. Aqui, novos elementos de ficção científica são adicionados, regras são quebradas e temos um final bastante... Definitivo.
O que me chamou atenção na primeira produção foi justamente o contraste (ou não) da sociedade "civilizada" dos macacos com a nossa, os preconceitos, as estruturas sociais, os micro-poderes entre os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos... De certa maneira, a sociedade dos macacos tem uma organização de castas, que se assemelha com e vale como poderosa metáfora para a nossa própria sociedade.
Uma vez que este filme dá continuidade ao legado dessas questões, não vejo porque não exaltar algumas de suas qualidades: Primeiro, a sua ousadia:
por não salvar heróis, e terminar com a explosão da bomba atômica, que serviu como um alerta na época, no contexto da Guerra do Vietnã e da Guerra Fria.
Lembro de ler em algum lugar (provavelmente no livro que originou o primeiro filme) que Heston não queria participar desta continuação, pois tinha gostado muito de como o primeiro acabou. Ao que parece, ele teria feito a exigência de não aparecer na maior parte do filme, porque não queria estar ligado a esta produção - e é por isso que seu nome aparece por último nos créditos, apesar de seu personagem ser o grande gancho entre os dois filmes - inclusive o que justifica a existência do segundo.
DE VOLTA... tem seus momentos que soam datados, como os efeitos especiais do fogo e das tempestades, provavelmente pouco impressionantes no 1970-pós-"2001".Tem uma condução de trama meio capenga
eles fogem da perseguição e acabam encontrando justamente o lugar onde a guerra aconteceria? O lugar que os macacos estavam procurando? É sério isso, Ted Post?
Como um todo, o filme não funciona bem como seu antecessor; em alguns momentos parece uma maçaroca de ideias, que deixa bem evidente a tentativa de colocar um segundo ator (loiro e galã) para suprir a falta de Taylor, o protagonista anterior. Os fãs costumam dizer que este é o pior de todos os da franquia, então acho que isso deve ser avisado também.
De minha parte, porém, não achei assim o fim do mundo - rs. Entretém como película, só não chega mais longe que isso: não se sustentaria sozinho, se não houvesse (inclusive cenas d)o primeiro para se basear.
Mediano.
"Ursus: The only good human... is a dead human!"
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraUm puta filme do caralho.
Este é o tipo de parada que não adianta ficar falando a respeito - tem que assistir, perceber, sentir a força do tapa que CORRA! quer dar na nossa cara, sem cerimônia. Bem conduzida e bem montada, a estreia de Jordan Peele no Cinema causou polêmica, e até agora incomoda parte daqueles a quem é endereçada - os brancos racistas com suas ideias de merda.
Já começa com o problema; "teus pais sabem que eu sou negro?", e daí surge o catártico desenvolvimento de uma trama que se inspira no Terror, mas flerta com a Comédia e o Drama em alguns momentos. CORRA! é, de fato, um dos filmes do ano - concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, ele é também um dos favoritos da crítica especializada.
Muito embora para alguns a trama, ao se revelar, soe absurda ou extrapolada demais, trata-se de um artifício cinematográfico que torna o filme palatável aos amantes do gênero que foi vendido. Quem foi aos cinemas assistir a um Terror, ganhou. Quem foi ver uma crítica ao racismo - sobretudo aos costumes e pensamentos dos brancos em relação aos negros, ao seu "porte", à sua "genética", à sua "predisposição para servir", também viu um puta filme. E sem querer se igualar a filmes que tratam da mesma problemática, como "Eu Não Sou Seu Negro" e "A 13ª Emenda", Jordan comentou no Twitter que, mesmo que as pessoas digam que é um filme de Terror, ele "é um documentário".
E o fato de considerá-lo um documentário, fora das formas usuais de narração e montagem do gênero, revela a intenção em denunciar, sem interesse em destrinchar as causas, o racismo que ainda persegue negros, sobretudo em bairros mais nobres dos EUA. (Lembrando que, apesar de ser norte-americano, o comportamento dos brancos em relação a Chris se assemelha a talvez o de milhares de brancos residentes de países onde a escravidão foi legal por centenas de anos - e só na história recente, de um século e pouco pra cá, foi criminalizada. O filme é em inglês, mas as situações são de todo o mundo.)
Há muito o que se discutir a respeito de filmes com essa pegada. Só o que sei é que nunca é bastante falar sobre eles - é preciso que outras pessoas assistam, para que assim possam perceber um pouco do monstro que, talvez, possa também acompanhá-las numa mesa de jantar ou reunião de família no contato com um negro.
Do caralho.
Assistam. Só isso.
"Dean Armitage: Se eu pudesse, eu teria votado no Obama uma terceira vez."
Mãe!
4.0 3,9K Assista Agoraperdoa-nos, mãe, pois não sabemos o que fazemos.
pela primeira aliança – a primeira separação – perdoa-nos por termos fugido. pelo dilúvio, perdoa-nos por não termos ouvido. por fim, perdoa-nos por não destruirmos o Mal, aquele que nos separou, mas vive entre nós e nos aparta, inclusive, de nós mesmos. por nossa inveja, luxúria e ira, pelos furtos e mortes, e sobretudo por nossa condição humana, inescapavelmente pecadora, que ainda anseia por um relance do teu amor fresco, cândido, livre e lindo.
perdoa-nos, mãe esquecida, mãe dolorosa, mãe doente da humanidade que recebeu, pelo que fazemos em tua casa, em teus filhos, em tua vida. pelo legado deixado a ti, condição máxima daquilo que se chama maternidade – “você não sabe o que é ter filhos, você só dá, dá, dá, e nunca é o suficiente”, perdoa-nos por nossos pedidos infindáveis, nossa espera eterna, nosso padecer no paraíso – intrínseco do ser humano, e por isso mesmo falho, por isso mesmo caído e desconvidado de estar na tua beleza.
os que não compreendem a natureza da tua mensagem são os que ainda não abriram os olhos – ainda não se perceberam nus. os que lhe odeiam são os mesmos que lhe desconhecem a inspiração, fonte criadora, o elixir da vida – que um dia também passará. os que lhe roubam os pertences, abrem as feridas, lhe tornam negócio, mentira, imagem, política ou qualquer outra distorção ainda não conhecem o amor como daquilo que se fez e foi Verdade – ainda não entenderam. perdoa-os também por isso.
e perdoa-me, sobretudo, por ainda não lhe ajudar a voltar a ser.
só o Amor constrói, é ele a única saída deste vale de lágrimas.
e a tua morte jamais será esquecida se em Amor.
amém.
Todos os Homens do Presidente
4.1 206 Assista AgoraOs anos 70 sendo os anos 70.
Muito legal perceber, no "The Post" do Spielberg, as referências a este filme - a última cena daquele é a primeira deste, e a preocupação com a manutenção de um cenário fiel ao original de 1976 foi tremenda. TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE aborda, apenas 4 anos depois do ocorrido, o encobrimento escandaloso por parte da Casa Branca das relações de Richard Nixon com o caso Watergate - que o levariam a abdicar da presidência em 1974.
É incrível pensar que tão pouco tempo se passou e o assunto foi abordado nos cinemas com a mão suave de Alan J. Pakula - um drama biográfico sobre os dois jornalistas que destrincharam o caso sairia nas telonas menos de 2 anos depois. Como filme de drama, tem uma cadência lenta, demora para "acontecer" - a primeira hora chega a ser introdutória "demais", por assim dizer - mas quando acontece, ele pega fogo. Este filme é parte do legado que Pakula deixou para o cinema - que inclui o também poderoso "A Escolha de Sofia", da década seguinte. Assistido hoje, tem seus sinais de envelhecimento, mas nada que o impossibilita de ser um elucidativo quebra-cabeças de um dos momentos mais chocantes da história dos Estados Unidos.
Maneiro!
"Ben Bradlee: Goddammit, when is somebody going to go on the record in this story? You guys are about to write a story that says the former Attorney General, the highest-ranking law enforcement officer in this country, is a crook! Just be sure you're right."
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraAchei um filme super delicado, e à maneira de seu antecessor.
THE POST faz uma referência (que poderíamos chamar de prequel) ao filme "Todos os Homens do Presidente", do Alan Pakula, que aborda a relação do The Washington Post com o escândalo Nixon, na década de 70. Também ambientado aí, Spielberg ordena em "A Guerra Secreta" os acontecimentos que circundaram o escandaloso encobrimento, que durou quatro presidências, de informações sigilosas a respeito da Guerra do Vietnã - que viriam a salvar vidas de inúmeros inocentes.
Numa entrevista recente, ele disse que este filme trata muito mais do tempo que os EUA vivem hoje do que da década de 70. Aqui, sua abordagem à censura e à liberdade de imprensa tem claras intenções políticas - a informação deve trafegar apurada e livre, como diz a lei do Jornalismo, embora saibamos que em vários países não é assim (inclusive no Brasil).
É muito importante que discursos que exaltem a liberdade de imprensa sejam empregados nos cinemas - especialmente em lugares onde ela é menos percebida. Como experiência estética, o filme é uma mistura linda de brancos com tons de cinza, e as cenas que se passam na gráfica do jornal são simétricas e estonteantes. Trata-se de um drama político suave, apesar de abordar um tema tão urgente, e que vai fundo na administração de um dos jornais mais importantes dos EUA - do qual Streep interpreta sua editora-chefe, a primeira do país, diga-se de passagem.
Imperdível para todos os que estudam o Jornalismo, e a sua importância no caminho para a conscientização das pessoas.
Muito bem feito!
"Meg Greenfield: 'In the First Amendment the Founding Fathers gave the free press the protection it must have to fulfill its essential role in our democracy. The press was to serve the governed, not the governors.'"
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraUn poquito mal traducido...
Entendo que filmes de criança não devem ser vistos sob o viés dos adultos, afinal elas são o público, e ele justifica escolhas cinematográficas de várias naturezas. Mesmo assim, acho que assistir a este filme dublado não é a mesma coisa que legendado - e olha que nossos dubladores fazem um trabalho fantástico em filmes de animação...
As canções, que são poucas, me pareceram um pouco mal traduzidas, ou não passaram efetivamente um sentimento em português que se firmasse como tal. Me incomodou que um filme que aborda a Música acabou tendo menos música que "Moana" e outras produções da Disney. Os aspectos técnicos estão lá - fotografia, direção de arte, colorização... Mas a parte que considero mais importante neste filme, as canções, ficaram um pouco atrás na tradução pro português.
Achei muito legal a exploração de uma outra cultura, um outro país, uma outra religiosidade - o Dia dos Mortos é uma festa mexicana e, como tal, deve ser retratado com personagens caracterizados dessa maneira. Linda a homenagem à Frida Kahlo, e à cultura do México num geral. Não senti estereótipos nem simplificações do povo escolhido: em tempos de construção de muros e barreiras para impedir a hispanidade, é muito bonito ver no Cinema uma resistência a ver o latino-americano como o "imigrante ilegal". Uma lição de amor à hispanidade e à diversidade como potência.
Procurem assistir em inglês/espanhol - pode ser uma experiência melhor.
"Clerk: [sneezes] I am terribly allergic.
Miguel: But Dante doesn't have any hair.
Clerk: And I don't have a nose, and yet, here we are."