Assistir a um filme do Wes Anderson é como entrar na mente de alguém com TOC por composição visual. É tudo perfeitinho demais, certinho demais... o cara precisa se tratar. Vontade louca de entrar dentro do universo de um filme dele (de qualquer filme dele...) e sair bagunçando e tirando tudo do lugar. Dito isso, "Asteroid City", o mais novo longa do cineasta, é mais uma vez Wes Anderson sendo Wes Anderson. Uma trama que não se sustenta saindo do nada e indo para o lugar algum, personagens desinteressantes com pseudo-crises existenciais que não cativam, um roteiro com diálogos 'inteligentinhos' mas artificiais e uma estética que remete constantemente a um filme que se contenta em ser um mero experimento visual. Mesmo o grande número de estrelas na projeção - a maior parte delas sub-aproveitada - não ajuda a tornar a obra mais envolvente. Mais uma vez, (e isso tem se tornado uma constante com o diretor desde 'Os Excêntricos Tenembaums') Wes Anderson não me deu motivos para não acreditar que ele é um cineasta superestimado.
Adiei por muito tempo esse remake e poderia ter ficado um pouco mais de tempo sem vê-lo. "A Noite dos Mortos-Vivos" de Tom Savini é fiel em boa parte ao roteiro do original, divergindo apenas na (bem-vinda) mudança na personalidade de uma das personagens principais, e no desfecho que acaba levando a conclusão da história para um outro lado. Todavia, o fato do original ser um filme norte-americano da década de 60 protagonizado por um homem negro que claramente era o mais inteligente do grupo, dota o longa do George Romero de uma importância socio-política que este daqui está longe de obter. Acaba soando mais como um filme de terror genérico, competente na condução da trama e nos efeitos práticos de maquiagem, mas esquecível assim que se encerra. Vale, como já mencionado, pela evolução da personagem Barbara, de longe a figura mais complexa (ou, deveria dizer, menos unidimensional) de toda essa segunda versão da história.
Tom Cruise estrela "No Limite do Amanhã", sci-fi que mistura invasão alienígena com looping temporal. E ainda que a estrutura seja meio batida, o roteiro surpreende por manter a trama envolvente, explorando bem vários dos caminhos alternativos enquanto os personagens lutam para encontrar uma forma de vencer os invasores. Econômico, o filme de Doug Liman - um diretor de filmes de ação de encomenda e irregular (é dele o bom "A Identidade Bourne", e os esquecíveis "Sr. & Sra. Smith" e "Jumper") - não subestima a inteligência do espectador, explica de forma rápida a gramática da história e nos poupa de ver detalhes dos constantes erros do personagem de Cruise em diversos dias. O que é bom, pois causa a impressão - ainda que falsa - de o personagem ser muito mais 'eficiente e heroico' do que ele de fato é, ganhando com isso a nossa fácil empatia. Bem também está Emily Blunt que consegue equilibrar a dureza natural de sua personagem com singelos momentos em que ela permite se abrir. A ação, por sua vez, funciona a contento. É só uma pena que o roteiro se deixe levar por uma desnecessária pretensão de se encerrar de forma enigmática, tentando chamar mais atenção para si mesmo do que qualquer outra coisa.
Mais genérico que o anterior, com piadas que não funcionam e efeitos especiais de CGI medíocres, "Shazam! - Fúria dos Deuses" é uma continuação inferior, mas que não fica tão distante assim de outros filmes do mesmo gênero. É só mais um filme de super-herói enlatado como tantos outros. O roteiro é cheio de furos e o desenvolvimento dos personagens é feito sem qualquer peso, mas a trama é competente o suficiente para distrair por duas horas. De chamar a atenção apenas Rachel Zegler, que deixa a beleza natural fazer todo o trabalho por ela. Mas realmente não é um filme com muitos pontos altos... De se esperar agora um eventual encontro entre Shazam e Adão Negro, porém sem muitas expectativas.
Já não é de hoje que eu digo que John Frankenheimer é um diretor subestimado. "Ronin", um dos últimos filmes de sua carreira, é um ótimo exemplar do gênero ação, não deixando nada a desejar aos filmes policiais/de espionagem de hoje em dia. Ao contrário, possui uma certa truculência crua e um ar de melancólica desolação e de abandono nos personagens protagonistas - principalmente, Robert de Niro e Jean Reno - personagens tipicamente saídos da década de 90. As cenas de perseguição são grandiosas e, do ponto de vista cinematográfico, ambiciosas, e poucas sequências do cinema são tão angustiantes quanto a de Robert de Niro conduzindo a própria cirurgia (aliás, seu personagem aqui é um dos mais inteligentes e ardilosos de sua carreira). A trama por sua vez é a definição perfeita de 'MacGuffin' que nem Hitchcock pensou em fazer de maneira tão genial. Toda uma trama significante que se movimenta ao redor de algo insignificante. 'MacGuffin' seria a desculpa de roteiro bem feita, e a maleta de "Ronin" é o 'MacGuffin' (como também o é a maleta de 'Pulp Fiction', ou o pé de coelho de 'Missão: Impossível 3'). Uma boa trama, atuações competentes, ótimas cenas e uma trilha sonora instigante brindam essa pequenina obra-prima que merecia ser melhor lembrada.
Nos quadrinhos, 'Adão Negro' seria uma espécie de 'nêmesis' do Shazam! Não necessariamente um antagonista, mas um antônimo, um contraste, tudo o que um é, o outro não é. Precisa que haja um, para o outro fazer sentido. E talvez por conta dessa dependência de parâmetro, o filme "Adão Negro" passe tanto essa sensação genérica de estar... faltando algo. A trama basicamente se limita a apresentar o (anti-)herói ao público e só. Um mero prólogo para um eventual encontro entre os dois personagens em um filme futuro. A ameaça é mal construída, meio qualquer coisa, enquanto que os coadjuvantes parecem estar lá mais como puro fan service para agradar os fãs mais ferrenhos da DC - que certamente ficarão felizes em reconhecer figuras como o Gavião Negro e o Senhor Destino. A atuação de Dwayne Johnson é feita no automático e a direção de Jaume Collet-Serra parece buscar emular o gosto de Snyder por paletas dessaturadas e cenas de ação em câmera lenta. Com um histórico e um background que remonta a Idade Antiga, "Adão Negro" poderia ter tido um toque diferencial no gênero de super-heróis (o personagem tinha potencial para isso), mas infelizmente não é o que acontece. É apenas mais um filme mais do mesmo.
"Quatro Irmãos" bem que podia se chamar 'O projeto de Mark Wahlberg e Amigos', afinal de contas o longa não passa de uma desculpa para os quatro atores protagonistas fazerem algo juntos e se divertirem. O problema é que não é o tempo inteiro que o espectador está se divertindo tanto quanto eles. Com uma traminha de investigação meio qualquer coisa, sobre um assassinato de alguém que a gente não se importa, "Four Brothers" aposta na mais na dinâmica e na química entre os atores do que em qualquer outra coisa para se manter. As piadas são ruins, o casal formado por Tyrese Gibson e Sofia Vergara é constrangedor, e o vilão caricato e infantil de Chiwetel Ejiofor quase põe tudo a perder. Apesar de tudo, o filme tem algumas cenas de ação relativamente boas, ainda que John Singleton pareça não saber muito bem o que fazer com a câmera nas tomadas mais simples de puros diálogos, focando os personagens em primeiro plano e chapando o fundo, o que dá um ar meio televisivo. Tem uma trilha sonora boa, eu reconheço, e coragem o suficiente para fazer do personagem de Mark Wahlberg um anti-herói completamente imoral sem sequer hesitar. Mas não é um filme que me inspire uma revisitada.
"Macunaíma" pode ter a sua importância histórica por ser uma adaptação de uma obra da literatura brasileira, mas como cinema envelheceu pessimamente. O filme parece uma sequência de esquetes sem graça do 'Hermes e Renato', com piadas ruins e sem timing. É uma pena, porque o filme tinha um potencial para ser um 'Forrest Gump' tupiniquim, uma narrativa anedótica e episódica criticando ironicamente os estereótipos depreciativos típicos do povo brasileiro. Na prática, no entanto, só o que temos é uma sequência de situações ridículas e sem peso. A abordagem política do filme se perde e se enfraquece diante da histeria artística do resto da produção. Lembra a versão histriônica e profundamente irritante de "Pinóquio" dirigida por Roberto Benigni em 2002. Horroroso.
Provavelmente o melhor filme da fase Craig, "007 - Operação Skyfall" se beneficia não só das suas ótimas cenas de ação bem filmadas por Sam Mendes e do roteiro muito bem planejado, mas também do mergulho que faz com propriedade no psicológico do protagonista (algo que, de certa forma, tem sido o diferencial dessa fase em relação aos outros James Bond). Pela primeira vez na franquia temos sugestões sobre o nebuloso passado do protagonista e, além disso, o filme trabalha também a estranha e complexa relação ('profissional/maternal') de ódio e respeito mútuo entre James Bond e 'M'. Poderia se dizer inclusive que este, afinal, é o fio condutor de toda a narrativa, já que o vilão Silva (em uma ótima interpretação caricata e megalomaníaca de Javier Barden) é basicamente uma evolução de todo o rancor demonstrado pelo personagem de Bond durante o primeiro ato da narrativa. O filme também demonstra consciência das críticas feitas pelos fãs mais ferrenhos da franquia aos capítulos anteriores, e apresenta uma estrutura mais semelhante com a fórmula tradicional da série (trazendo de volta, inclusive, o personagem 'Q', mas reconfigurado para os tempos modernos). A última cena, então, é uma piscadela marota e uma homenagem mais do que bacana aos filmes da fase 'Sean Connery'.
Apenas dois anos depois, Daniel Craig retornou ao papel de James Bond no seu segundo filme com o personagem, "007 - Quantum of Solace". Bem menos ambicioso do que "Cassino Royale", "Quantum of Solace" aposta mais na ação desenfreada, bem feita, ainda que genérica, do que no trabalho com os personagens. Aos poucos parece que o filme vai se ajustando à fórmula tradicional da franquia, em detrimento de uma maior identidade que o diferencie. A trama é uma continuação direta dos eventos do anterior, em que James Bond passa a investigar a misteriosa organização secreta sugerida em 'Cassino Royale', e descobre uma trama conspiratória para provocar um golpe de estado na Bolívia. A melhor coisa do filme deveria ser acompanhar os conflitos internos de Bond, lutando entre a frieza profissional e o seu natural desejo de vingança, no entanto o roteiro trabalha isso de forma bastante burocrática. Depois da presença marcante de Eva Green, Olga Kurylenko surge como uma bondgirl insípida, quase que apenas uma sombra, enquanto que o vilão de Mathieu Amalric jamais surge devidamente ameaçador. Dentre as poucas curiosidades, uma das mortes mais estilizadas do longa faz referência direta a outra morte ocorrida em "007 contra Goldfinger" (um dos melhores filmes da fase Sean Connery). No geral, "Quantum of Solace" é um capítulo que continua o que o outro começou com uma certa competência, ainda que sozinho seja meio inexpressivo.
Martin Campbell teve a rara oportunidade de comandar dois inícios distintos de fases diferentes da franquia 007 (é dele também a direção do eficiente "007 contra GoldenEye", primeiro filme da fase Pierce Brosnan). Mas é aqui, em "007 - Cassino Royale", que o diretor ousa tomar liberdades criativas consideráveis em relação à fórmula da série. O primeiro filme da fase Daniel Craig se distancia dos seus antepassados por se manter sério e solene durante quase a totalidade do tempo. O humor quase não existe, bem como os gadgets e as invenções malucas de espionagem. As cenas de ação até são relativamente poucas (mas quando tem, são brutais), considerando que boa parte da trama gira em torno de levar o vilão à falência em um torneio de pôquer. Daniel Craig é um 007 mais vulnerável, se machuca, sangra, sente dor quando é torturado. Por outro lado é muito mais impulsivo e insubordinado do que seus antecessores (abusado, ele nem faz questão de esconder que não segue as regras impostas pela 'M'). De todos, Craig me parece ser o 007 mais antipático, mas compreendo a construção da frieza quase sociopata do personagem para o trabalho que ele tem que fazer. Por outro lado, Eva Green se apresenta como um raríssimo caso - único, até onde me força a memória - de bondgirl que apresenta um background interessante e uma complexidade psicológica que nos permita empatizar com ela. Além de linda e sensual como sempre, Green consegue passar de forma sutil através do olhar, os conflitos e anseios de Vesper Lynd que a tornam uma figura tão dolorosamente trágica. Por sua vez, o antagonista vivido por Mads Mikkelsen se mostra um ótimo vilão, e é realmente uma pena que ele saia de cena de forma tão fácil e anticlimática. No geral, "Cassino Royale" é bastante diferente de tudo o que já havia sido feito na franquia até aqui, e compreendo as reservas dos fãs quanto às mudanças feitas. No entanto, está longe, muito longe de ser um filme de espionagem ruim.
Apesar de ser tosco, "Anaconda" cumpre com competência o seu objetivo principal que é.... mostrar a Jennifer Lopez ensopada de suor em uma camisetinha apertada durante todos os seus 89 minutos de duração. A história de uma cobra gigante que mata todos dentro de um barco em uma expedição na Amazônia é, portanto, irrelevante. Uma traminha de horror trash genérica, efeitos especiais sofríveis e a incompreensão sobre o que levou Jon Voight a participar desse projeto são as coisas que mais marcam esse terror clássico das madrugadas dos anos 90.
O fato de Krypto - o cachorro superpoderoso do Superman - ser canônico nos quadrinhos já é algo estapafúrdio por si só. Assim, a Warner aproveitar isso para fazer uma animação infantil me parece mesmo ser o máximo que um estúdio de cinema poderia aproveitar e explorar dentro dessa ideia. "DC Liga dos Superpets" é uma animação divertidinha, mas meio bobinha na sua maior parte do tempo. Tem uma execução rasteira, personagens medíocres, algumas - poucas - piadas realmente boas, e até mesmo umas alfinetadas ao universo Marvel que surgem como piscadelas para o público. Não encoraja uma revisita, mas certamente fãs de quadrinhos e amantes de pets se identificarão. E talvez curtam mais até mesmo que as crianças.
Wes Anderson é um diretor que nunca conseguiu realmente me pegar de jeito. É um cineasta que eu considero superestimado por ser mais forma do que essência. Assim não é de se espantar que a minha reação ao seu filme mais recente seja completamente morna, ainda mais considerando que nem mesmo os maiores fãs habituais do diretor o aclamaram dessa vez. Corroborando o que falei, "A Crônica Francesa" é uma obra formalmente criativa e instigante. O roteiro oferece algo diferente à medida que tenta fazer uma 'adaptação cinematográfica' de uma revista fictícia de banca de jornal, transformando o que seriam colunas, reportagens, entrevistas, editorial, obituário - sessões comuns de serem encontradas em qualquer periódico jornalístico - em curtas-metragens com vida própria. Na essência, no entanto, Wes Anderson derrapa - comigo, mais uma vez - já que nenhuma das pequenas historinhas - e nem mesmo os personagens que as habitam - soa interessante, cativante, ou tem algum impacto emocional. Sequer há uma unidade temática que reúna as três histórias, além do fato de todas elas remeterem à revista. Um elenco de ouro e uma fotografia sensacional, mas tirando isso nada demais. Confesso que não vou lamentar que esta tenha sido a última edição de 'The French Dispatch'.
"Banzé no Oeste" é uma comédia que usa e abusa de referências e de metalinguagem para fazer uma sátira a todo o gênero de faroeste que Hollywood cuidadosamente construiu ao longo dos anos. Dirigido por Mel Brooks (do ótimo "O Jovem Frankenstein"), e estrelado com competência por Cleavon Little e Gene Wilder (parceiro habitual do diretor), o longa-metragem oscila entre piadas simplesmente geniais em sua aparente simplicidade, e outras que são apenas estúpidas e de um mal gosto escatológico mesmo. É um trabalho irregular e beira a inconsistência durante praticamente seus dois primeiros atos, mas é no desfecho anárquico, absurdo, inteligente, criativo, completamente inesperado e - ok, reconheço, sensacional! - que o filme recupera os pontos perdidos anteriormente pelas eventuais piadas ruins. Assistir "Banzé no Oeste" é notar que Mel Brooks certamente serviu de escola para vários cineastas de paródias de filmes que viriam a surgir nos anos seguintes (como os irmãos Zucker de "Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu"). E é uma pena perceber que esse estilo de humor irreverente e não convencional tenha se transformado em um subgênero de comédia tão enlatado, sem graça e apenas voltado para si mesmo, com o passar dos anos.
Retorno de Nicholas Meyer na direção da franquia (quase dez anos depois do seu emblemático "A Ira de Khan"), primeiro filme da série lançado após o falecimento de Gene Roddenberry, e o último a contar com todos os atores da formação original da Enterprise. "Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida" é o longa-metragem mais político desse universo, uma vez que acompanha um episódio divisor de águas na cronologia da galáxia: a inclusão do Império Klingon na Federação. O roteiro (provavelmente o melhor desde que a série passou para a tela grande) consegue trabalhar bem a relevância do acontecimento para a 'linha do tempo' da franquia, ao mesmo tempo que lida com os sentimentos controversos dos personagens, que misturam rancor, desconfiança e ódio. Metáforas sobre o preconceito e a xenofobia que foram construídas em uma época em que a União Soviética precisava se reintegrar ao resto do mundo, e que são necessárias ainda hoje, quase trinta anos depois, em um mundo que continua sedento por paz. A última aventura dos velhos amigos a bordo da Enterprise, portanto, foi feita de forma inteligente, bem fundamentada e digna, nostálgica, e com uma nota de esperança: a lição que também devemos dar uma chance para o novo e para a mudança. Com relação à cinematografia, por outro lado, ainda que eu reconheça que o filme é esteticamente melhor que os três anteriores (dirigidos pelos astros da franquia William Shatner e Leonard Nimoy, ambos com as melhores intenções possíveis), ainda falta aquele 'visual' de cinemão que se manteve ausente em quase todos os filmes da série (com exceção, talvez, do primeiro), e a sensação que temos continua sendo a de vermos um episódio feito para tevê prolongado. Já especificamente quanto aos efeitos especiais horrorosos utilizados na cena do atentado (leia, o sangue digital), a própria série 'Next Generations' produzida na mesma época conseguia fazer coisas bem melhores. Enfim, é um encerramento de ciclo digno, não excepcional, mas também longe de ser ruim. Entretanto, emocionalmente nulo, já que sabemos hoje - e, convenhamos, na época também sabíamos - que não se tratava de um adeus tão definitivo assim.
Baseado na história real do famoso assaltante de bancos da década de 30, John Dilinger, "Inimigos Públicos" tinha tudo para ser um filme de gangsters eletrizante, movimentado e envolvente. Mas, o que Michael Mann entrega é uma obra genérica, burocrática e desinteressante. Esse grande cineasta, que praticamente fez a sua carreira trabalhando no gênero policial, aqui está irreconhecível. Durante seus longos 139 minutos, o filme jamais engrena. Os personagens não cativam e o romance entre Johnny Depp e Marion Cotillard é mal desenvolvido, não convence, nem gera empatia. As cenas de ação - que deveriam ser o auge do filme - são mornas, meio mal filmadas e confusas, e o roteiro sofre com uma porção de furos absurdos (como todas as dezenas de vezes que Dilinger poderia ter sido reconhecido em público e não é). Merece algum crédito por recriar o famoso desfecho do criminoso - famoso muito por conta de motivos 'cinéfilos' - no entanto, receio que esse mesmo episódio merecia ser contado em um filme muito melhor.
Uma coisa é inegável, Matt Reeves conseguiu reunir o maior número possível de elementos da mitologia do Batman em um único roteiro que é fiel aos quadrinhos, coeso e não parece ser uma salada de frutas (algo importante, considerando o histórico do personagem nos cinemas). "The Batman", de 2022, se apresenta como uma jornada exaustiva com suas quase três horas de duração, mas isso se deve mais à psicologia dos personagens envolvidos do que à eventual falta de ritmo ou interesse pela trama. Entretanto, é o melhor filme do (ou com o...) personagem desde 'The Dark Knight', de 2008, e se fica um pouco a sombra é apenas porque o antagonista principal não imprime uma grande presença em cena (de fato, os vilões 'secundários' acabam sendo quem chamam mais a atenção). Por outro lado, "Batman" é um filme sobre "O" Batman como quase nenhum outro foi (ou, melhor dizendo, um filme sobre o Bruce Wayne), e explora bem suas dúvidas e incertezas por trás da máscara, sua confusão entre 'ser a vingança' ou seu dever inerente como símbolo, "ser o herói que a cidade necessita". O filme também retrata (até onde eu me lembre pela primeira vez) o perfil detetivesco do personagem, em uma trama claramente inspirada no caso real do serial killer Zodíaco (que foi contada no cinema por David Fincher, aliás é notória a influência desse diretor no trabalho de Reeves, principalmente quando nos lembramos de "Se7en"). Mas o filme não se esquece que é, em essência, uma adaptação de quadrinhos, e Matt Reeves dirige com competência as cenas de ação, mostrando um apreço maior - e bem-vindo - pelos combates físicos e por efeitos práticos (tirando uma ou outra cena claramente mais 'digital'). Para não dizer que não critiquei nada, a trilha incessante de Michael Giacchino (que faz questão de pontuar até mesmo os momentos mais insignificantes), poderia ter sido um pouco mais econômica. Mas nada que chegue a incomodar seriamente ou atrapalhar a experiência. É um filme que honra bem o personagem e tudo o que vem sobre ele nos quadrinhos, funcionando perfeitamente bem sozinho sem precisar de outros penduricalhos (ao contrário, tenho até medo que uma eventual continuação estrague o trabalho bem feito), e isso é que acaba sendo o mais relevante.
"O Cangaceiro", de Lima Barreto, encantou as telas de cinema do mundo e ajudou a exportar um pouco da cultura brasileira, ainda que romantizando um pouco a mitologia em torno do 'personagem-título'. Suas qualidades técnicas, de direção e de narrativa não deixam nada a desejar a outros filmes hollywoodianos da época, como os westerns da década de 40, e ajuda a trazer um certo orgulho ao cinema nacional. Eventualmente viria a ser contestado pelo seu excesso fantasioso no figurino e na direção de arte excessivamente pasteurizada. Cerca de dez anos depois, ao fazer o seu "Deus e o Diabo na Terra do Sol", Glauber Rocha traria o cangaceiro sujo, em farrapos, desequilibrado, temperamental e cruel. Se Lima Barreto é John Ford, Glauber Rocha é Sergio Leone. Cada um com seu estilo, ambos os filmes funcionam perfeitamente bem. Meu único porém com "O Cangaceiro" é que a história romântica entre Teodoro e a professora nunca convence, por mais bonitas que sejam as palavras trocadas por eles e escritas por ninguém menos que Cecília Meirelles. Faltou um pouco mais de química entre o casal interpretado por Alberto Ruschel e Marisa Prado, química esta que acaba funcionando, todavia, na rivalidade entre Teodoro e Galdino (vivido com excelência por Milton Ribeiro).
P.S.: Para variar, a sinopse do filmow está errada, trocando o nome das personagens. A professora que é raptada se chama Olívia (Marisa Prado). Maria Clódia (interpretada pela linda Vanja Orico, e que também canta a música tema do filme "Olê Muié Rendera" - essa parte está certa), é a mulher que acompanha o bando de Galdino desde o início.
É, possivelmente, o filme mais ambicioso da franquia Star Trek, e justamente por não fazer jus a essa ambição que o roteiro de "Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira" soa decepcionantemente morno. Afinal de contas, o longa se curva àquele que é o maior mistério filosófico espiritual da humanidade: a existência de Deus. No entanto, as maneiras que a produção encontra para explorar o tema (perguntas cuja ausência de resposta nos são tão incômodas) soam genéricas, pouco inventivas e, em uma última análise, covarde. O roteiro tem alguns outros problemas também, algumas arestas soltas mal desenvolvidas (como a nave klingon que vira basicamente um sub-antagonista infantil sem motivação), e alguns furos (porque Sybok não usou suas habilidades em Kirk logo que se conheceram?). Por outro lado, a trama se leva um pouco mais a sério do que a galhofa que foi o quarto filme, e o 'vilão' Sybok se mostra uma figura muito mais interessante, por exemplo, do que os klingons do terceiro. A dinâmica da amizade entre Kirk, McCoy e Spock é muito bem feita (talvez uma das melhores considerando os filmes), e mantem o interesse do espectador. E é bacana ver também que os roteiristas procuram ao máximo respeitar a continuidade dos episódios anteriores, e assim temos uma Enterprise novinha em folha, mas ainda mal-acabada por não ter tido tempo de ficar concluída. Ironicamente, a aventura ainda se encerra com um previsível salvamento a la 'deus ex machina', quase como sendo uma piada pronta involuntária.
A série de livros "Jogos Vorazes" tentou mirar nos órfãos de "Harry Potter" e "Crepúsculo" para buscar o público mais adolescente. E até acertou, resultando em uma trilogia de livros e uma quadrilogia de filmes (por ora), que, se não é perfeita, ao menos tem o mérito de fazer seus leitores começarem a refletir sobre questões sociopolíticas - algo ainda hoje raro de se ver no gênero juvenil. O primeiro filme tem a função de nos apresentar a esse mundo, suas arbitrariedades, os personagens que o habitam, e, principalmente, ao terrível reality show que dá nome ao longa e justifica toda a trama. E faz isso muito bem - bem até demais eu diria, pois conheço pessoas que se horrorizaram com a ideia principal e com as cenas (chocantes, eu reconheço) de adolescentes matando outros adolescentes com tamanha frieza. E por focar muito mais no jogo em si do que na política, esse primeiro capítulo pode até soar como um excesso gratuito e fútil de violência e barbárie. Mas esse talvez seja um dos casos em que os fins justificam os meios, e quem persistiu na série pode acompanhar um ótimo segundo capítulo e um desfecho ao menos competente, e que fez adolescentes refletirem sobre tirania, poder, excessos, corrupção, propaganda, manipulação das massas, e fanatismo radical. Por sua vez, a jovem atriz Jennifer Lawrence (já havia feito outros trabalhos antes, mas é aqui que ela fica popularmente conhecida) é a alma e o espírito do filme e é totalmente justificada a atenção que a jovem passou a receber nos anos que se seguiram.
O desespero da Warner em desassociar esse filme da versão de 2016 do David Ayer é tamanha que eles nem se preocuparam em colocar um "2" no título. Mas nesse caso acho que seria prudente colocar um subtítulo ou uma distinção pois incluir apenas o artigo "O" no início de "Esquadrão Suicida" me parece muito pouco para evitar alguma confusão. Dito isso, esse filme é inegavelmente superior ao seu irmão mais velho, ainda que não passe de mais uma sessão da tarde divertida. A história é um pouquinho melhor elaborada, as cenas de ação são um pouco mais criativas do ponto de vista visual, e James Gunn acerta ao resgatar um dos grandes vilões clássicos dos quadrinhos da DC, o absurdamente trash "Starro, o Conquistador". Mas, novamente, a melhor coisa do filme é a presença de Margot Robbie como Arlequina - a essa altura acho que já podemos dizer que ela virou a versão cinematográfica definitiva da personagem - e seus momentos de alívio cômico acabam sendo os mais legais. Idris Elba faz um trabalho competente como 'Sanguinário' (ainda que seu personagem seja apenas uma versão secundária e ainda mais desconhecida do 'Pistoleiro', vivido por Will Smith). Já Viola Davis e Joel Kinnaman estão lá apenas para forçar uma suposta continuidade, ainda que funcionem em seus demasiado papéis. Dá pra passar pano na sujeira deixada pelo filme anterior e dar um pouco mais de dignidade e esperança à franquia no cinema, mas só.
Filme dividido em episódios, cada um dirigido por um cineasta diferente, um asiático, um americano e um europeu. Três visões distintas sobre a relação (carnal) do homem com as suas musas inspiradoras. A melhor das três é logo de saída, sem dúvida, a primeira, de Wong Kar Wai, que contém um romantismo pútrido na paixão platônica de um alfaiate por uma prostituta. É uma obra suja e estranhamente atraente, em que o cineasta consegue tocar pela sua aura nefasta de romance proibido. Lembra os contos boêmios e pessimistas de Álvares de Azevedo em seu 'Noite na Taverna'. Já os dois seguintes são bem mais fracos. O de Steven Soderbergh quase se parece com alguma peça de comédia sem pudores de Nelson Gonçalves - e esse é o maior elogio que eu posso dar ao segmento - mas seu excesso de subjetividade e seu final inconcluso frustram. Já o de Michelangelo Antonioni busca uma certa poesia na forma como contrasta um relacionamento desgastado com o tempo com a possibilidade de uma nova paixão ardente. Mas, assim como outras pequenas histórias do fim de carreira do cineasta (vide: "A Identificação de uma Mulher", e "Além das Nuvens"), deixa a desejar na construção dos personagens e na conclusão.
A boa notícia é que, depois de um segundo capítulo excessivamente introdutório, essa terceira parte da franquia "Animais Fantásticos" finalmente avança com a história, trazendo mais peso e consistência para a ameaça em torno de Grindelwald. E a metáfora política que o filme traz, com o nosso mundo atual tão dividido politicamente - inclusive, o Brasil - não podia ser mais contemporânea e perturbadora. É assustador como Grindelwald possui um apoio popular forte e venenoso na história, mostrando como basta ter alguém que fale aquilo que o povo quer ouvir para este ir atrás, sem pensar nas consequências morais de suas ideias. Por outro lado, "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" ainda sofre de alguns problemas presentes em seus capítulos anteriores. O roteiro ainda parece ser demasiado inchado e inconsistente (os minutos gastos com o personagem Yusuf Kama, por exemplo, nunca são justificados), e algumas relações do longa não são desenvolvidas com cuidado, resultando em conclusões repentinas e artificiais. A duração excessivamente longa do filme também cobra seu preço, já que, embora o mundo mágico ainda encante aos olhos, o ritmo da obra não deixa que ela empolgue. No fim, sinto que gostei desse filme mais como fã da franquia, do que como cinéfilo. É estranho como, por mais que se passe no mesmo universo, 'Animais Fantásticos' parece nunca alcançar a mesma 'magia' dos filmes de 'Harry Potter'.
Asteroid City
3.1 196 Assista AgoraAssistir a um filme do Wes Anderson é como entrar na mente de alguém com TOC por composição visual. É tudo perfeitinho demais, certinho demais... o cara precisa se tratar. Vontade louca de entrar dentro do universo de um filme dele (de qualquer filme dele...) e sair bagunçando e tirando tudo do lugar. Dito isso, "Asteroid City", o mais novo longa do cineasta, é mais uma vez Wes Anderson sendo Wes Anderson. Uma trama que não se sustenta saindo do nada e indo para o lugar algum, personagens desinteressantes com pseudo-crises existenciais que não cativam, um roteiro com diálogos 'inteligentinhos' mas artificiais e uma estética que remete constantemente a um filme que se contenta em ser um mero experimento visual. Mesmo o grande número de estrelas na projeção - a maior parte delas sub-aproveitada - não ajuda a tornar a obra mais envolvente. Mais uma vez, (e isso tem se tornado uma constante com o diretor desde 'Os Excêntricos Tenembaums') Wes Anderson não me deu motivos para não acreditar que ele é um cineasta superestimado.
A Noite dos Mortos-Vivos
3.6 373 Assista AgoraAdiei por muito tempo esse remake e poderia ter ficado um pouco mais de tempo sem vê-lo. "A Noite dos Mortos-Vivos" de Tom Savini é fiel em boa parte ao roteiro do original, divergindo apenas na (bem-vinda) mudança na personalidade de uma das personagens principais, e no desfecho que acaba levando a conclusão da história para um outro lado. Todavia, o fato do original ser um filme norte-americano da década de 60 protagonizado por um homem negro que claramente era o mais inteligente do grupo, dota o longa do George Romero de uma importância socio-política que este daqui está longe de obter. Acaba soando mais como um filme de terror genérico, competente na condução da trama e nos efeitos práticos de maquiagem, mas esquecível assim que se encerra. Vale, como já mencionado, pela evolução da personagem Barbara, de longe a figura mais complexa (ou, deveria dizer, menos unidimensional) de toda essa segunda versão da história.
No Limite do Amanhã
3.8 1,5K Assista AgoraTom Cruise estrela "No Limite do Amanhã", sci-fi que mistura invasão alienígena com looping temporal. E ainda que a estrutura seja meio batida, o roteiro surpreende por manter a trama envolvente, explorando bem vários dos caminhos alternativos enquanto os personagens lutam para encontrar uma forma de vencer os invasores. Econômico, o filme de Doug Liman - um diretor de filmes de ação de encomenda e irregular (é dele o bom "A Identidade Bourne", e os esquecíveis "Sr. & Sra. Smith" e "Jumper") - não subestima a inteligência do espectador, explica de forma rápida a gramática da história e nos poupa de ver detalhes dos constantes erros do personagem de Cruise em diversos dias. O que é bom, pois causa a impressão - ainda que falsa - de o personagem ser muito mais 'eficiente e heroico' do que ele de fato é, ganhando com isso a nossa fácil empatia. Bem também está Emily Blunt que consegue equilibrar a dureza natural de sua personagem com singelos momentos em que ela permite se abrir. A ação, por sua vez, funciona a contento. É só uma pena que o roteiro se deixe levar por uma desnecessária pretensão de se encerrar de forma enigmática, tentando chamar mais atenção para si mesmo do que qualquer outra coisa.
Shazam! Fúria dos Deuses
2.8 354 Assista AgoraMais genérico que o anterior, com piadas que não funcionam e efeitos especiais de CGI medíocres, "Shazam! - Fúria dos Deuses" é uma continuação inferior, mas que não fica tão distante assim de outros filmes do mesmo gênero. É só mais um filme de super-herói enlatado como tantos outros. O roteiro é cheio de furos e o desenvolvimento dos personagens é feito sem qualquer peso, mas a trama é competente o suficiente para distrair por duas horas. De chamar a atenção apenas Rachel Zegler, que deixa a beleza natural fazer todo o trabalho por ela. Mas realmente não é um filme com muitos pontos altos... De se esperar agora um eventual encontro entre Shazam e Adão Negro, porém sem muitas expectativas.
Ronin
3.6 205 Assista AgoraJá não é de hoje que eu digo que John Frankenheimer é um diretor subestimado. "Ronin", um dos últimos filmes de sua carreira, é um ótimo exemplar do gênero ação, não deixando nada a desejar aos filmes policiais/de espionagem de hoje em dia. Ao contrário, possui uma certa truculência crua e um ar de melancólica desolação e de abandono nos personagens protagonistas - principalmente, Robert de Niro e Jean Reno - personagens tipicamente saídos da década de 90. As cenas de perseguição são grandiosas e, do ponto de vista cinematográfico, ambiciosas, e poucas sequências do cinema são tão angustiantes quanto a de Robert de Niro conduzindo a própria cirurgia (aliás, seu personagem aqui é um dos mais inteligentes e ardilosos de sua carreira). A trama por sua vez é a definição perfeita de 'MacGuffin' que nem Hitchcock pensou em fazer de maneira tão genial. Toda uma trama significante que se movimenta ao redor de algo insignificante. 'MacGuffin' seria a desculpa de roteiro bem feita, e a maleta de "Ronin" é o 'MacGuffin' (como também o é a maleta de 'Pulp Fiction', ou o pé de coelho de 'Missão: Impossível 3'). Uma boa trama, atuações competentes, ótimas cenas e uma trilha sonora instigante brindam essa pequenina obra-prima que merecia ser melhor lembrada.
Adão Negro
3.1 687 Assista AgoraNos quadrinhos, 'Adão Negro' seria uma espécie de 'nêmesis' do Shazam! Não necessariamente um antagonista, mas um antônimo, um contraste, tudo o que um é, o outro não é. Precisa que haja um, para o outro fazer sentido. E talvez por conta dessa dependência de parâmetro, o filme "Adão Negro" passe tanto essa sensação genérica de estar... faltando algo. A trama basicamente se limita a apresentar o (anti-)herói ao público e só. Um mero prólogo para um eventual encontro entre os dois personagens em um filme futuro. A ameaça é mal construída, meio qualquer coisa, enquanto que os coadjuvantes parecem estar lá mais como puro fan service para agradar os fãs mais ferrenhos da DC - que certamente ficarão felizes em reconhecer figuras como o Gavião Negro e o Senhor Destino. A atuação de Dwayne Johnson é feita no automático e a direção de Jaume Collet-Serra parece buscar emular o gosto de Snyder por paletas dessaturadas e cenas de ação em câmera lenta. Com um histórico e um background que remonta a Idade Antiga, "Adão Negro" poderia ter tido um toque diferencial no gênero de super-heróis (o personagem tinha potencial para isso), mas infelizmente não é o que acontece. É apenas mais um filme mais do mesmo.
Quatro Irmãos
3.5 272 Assista Agora"Quatro Irmãos" bem que podia se chamar 'O projeto de Mark Wahlberg e Amigos', afinal de contas o longa não passa de uma desculpa para os quatro atores protagonistas fazerem algo juntos e se divertirem. O problema é que não é o tempo inteiro que o espectador está se divertindo tanto quanto eles. Com uma traminha de investigação meio qualquer coisa, sobre um assassinato de alguém que a gente não se importa, "Four Brothers" aposta na mais na dinâmica e na química entre os atores do que em qualquer outra coisa para se manter. As piadas são ruins, o casal formado por Tyrese Gibson e Sofia Vergara é constrangedor, e o vilão caricato e infantil de Chiwetel Ejiofor quase põe tudo a perder. Apesar de tudo, o filme tem algumas cenas de ação relativamente boas, ainda que John Singleton pareça não saber muito bem o que fazer com a câmera nas tomadas mais simples de puros diálogos, focando os personagens em primeiro plano e chapando o fundo, o que dá um ar meio televisivo. Tem uma trilha sonora boa, eu reconheço, e coragem o suficiente para fazer do personagem de Mark Wahlberg um anti-herói completamente imoral sem sequer hesitar. Mas não é um filme que me inspire uma revisitada.
Macunaíma
3.3 274 Assista Agora"Macunaíma" pode ter a sua importância histórica por ser uma adaptação de uma obra da literatura brasileira, mas como cinema envelheceu pessimamente. O filme parece uma sequência de esquetes sem graça do 'Hermes e Renato', com piadas ruins e sem timing. É uma pena, porque o filme tinha um potencial para ser um 'Forrest Gump' tupiniquim, uma narrativa anedótica e episódica criticando ironicamente os estereótipos depreciativos típicos do povo brasileiro. Na prática, no entanto, só o que temos é uma sequência de situações ridículas e sem peso. A abordagem política do filme se perde e se enfraquece diante da histeria artística do resto da produção. Lembra a versão histriônica e profundamente irritante de "Pinóquio" dirigida por Roberto Benigni em 2002. Horroroso.
007: Operação Skyfall
3.9 2,5K Assista AgoraProvavelmente o melhor filme da fase Craig, "007 - Operação Skyfall" se beneficia não só das suas ótimas cenas de ação bem filmadas por Sam Mendes e do roteiro muito bem planejado, mas também do mergulho que faz com propriedade no psicológico do protagonista (algo que, de certa forma, tem sido o diferencial dessa fase em relação aos outros James Bond). Pela primeira vez na franquia temos sugestões sobre o nebuloso passado do protagonista e, além disso, o filme trabalha também a estranha e complexa relação ('profissional/maternal') de ódio e respeito mútuo entre James Bond e 'M'. Poderia se dizer inclusive que este, afinal, é o fio condutor de toda a narrativa, já que o vilão Silva (em uma ótima interpretação caricata e megalomaníaca de Javier Barden) é basicamente uma evolução de todo o rancor demonstrado pelo personagem de Bond durante o primeiro ato da narrativa. O filme também demonstra consciência das críticas feitas pelos fãs mais ferrenhos da franquia aos capítulos anteriores, e apresenta uma estrutura mais semelhante com a fórmula tradicional da série (trazendo de volta, inclusive, o personagem 'Q', mas reconfigurado para os tempos modernos). A última cena, então, é uma piscadela marota e uma homenagem mais do que bacana aos filmes da fase 'Sean Connery'.
007: Quantum of Solace
3.4 683 Assista AgoraApenas dois anos depois, Daniel Craig retornou ao papel de James Bond no seu segundo filme com o personagem, "007 - Quantum of Solace". Bem menos ambicioso do que "Cassino Royale", "Quantum of Solace" aposta mais na ação desenfreada, bem feita, ainda que genérica, do que no trabalho com os personagens. Aos poucos parece que o filme vai se ajustando à fórmula tradicional da franquia, em detrimento de uma maior identidade que o diferencie. A trama é uma continuação direta dos eventos do anterior, em que James Bond passa a investigar a misteriosa organização secreta sugerida em 'Cassino Royale', e descobre uma trama conspiratória para provocar um golpe de estado na Bolívia. A melhor coisa do filme deveria ser acompanhar os conflitos internos de Bond, lutando entre a frieza profissional e o seu natural desejo de vingança, no entanto o roteiro trabalha isso de forma bastante burocrática. Depois da presença marcante de Eva Green, Olga Kurylenko surge como uma bondgirl insípida, quase que apenas uma sombra, enquanto que o vilão de Mathieu Amalric jamais surge devidamente ameaçador. Dentre as poucas curiosidades, uma das mortes mais estilizadas do longa faz referência direta a outra morte ocorrida em "007 contra Goldfinger" (um dos melhores filmes da fase Sean Connery). No geral, "Quantum of Solace" é um capítulo que continua o que o outro começou com uma certa competência, ainda que sozinho seja meio inexpressivo.
007: Cassino Royale
3.8 881 Assista AgoraMartin Campbell teve a rara oportunidade de comandar dois inícios distintos de fases diferentes da franquia 007 (é dele também a direção do eficiente "007 contra GoldenEye", primeiro filme da fase Pierce Brosnan). Mas é aqui, em "007 - Cassino Royale", que o diretor ousa tomar liberdades criativas consideráveis em relação à fórmula da série. O primeiro filme da fase Daniel Craig se distancia dos seus antepassados por se manter sério e solene durante quase a totalidade do tempo. O humor quase não existe, bem como os gadgets e as invenções malucas de espionagem. As cenas de ação até são relativamente poucas (mas quando tem, são brutais), considerando que boa parte da trama gira em torno de levar o vilão à falência em um torneio de pôquer. Daniel Craig é um 007 mais vulnerável, se machuca, sangra, sente dor quando é torturado. Por outro lado é muito mais impulsivo e insubordinado do que seus antecessores (abusado, ele nem faz questão de esconder que não segue as regras impostas pela 'M'). De todos, Craig me parece ser o 007 mais antipático, mas compreendo a construção da frieza quase sociopata do personagem para o trabalho que ele tem que fazer. Por outro lado, Eva Green se apresenta como um raríssimo caso - único, até onde me força a memória - de bondgirl que apresenta um background interessante e uma complexidade psicológica que nos permita empatizar com ela. Além de linda e sensual como sempre, Green consegue passar de forma sutil através do olhar, os conflitos e anseios de Vesper Lynd que a tornam uma figura tão dolorosamente trágica. Por sua vez, o antagonista vivido por Mads Mikkelsen se mostra um ótimo vilão, e é realmente uma pena que ele saia de cena de forma tão fácil e anticlimática. No geral, "Cassino Royale" é bastante diferente de tudo o que já havia sido feito na franquia até aqui, e compreendo as reservas dos fãs quanto às mudanças feitas. No entanto, está longe, muito longe de ser um filme de espionagem ruim.
Anaconda
2.3 763 Assista AgoraApesar de ser tosco, "Anaconda" cumpre com competência o seu objetivo principal que é.... mostrar a Jennifer Lopez ensopada de suor em uma camisetinha apertada durante todos os seus 89 minutos de duração. A história de uma cobra gigante que mata todos dentro de um barco em uma expedição na Amazônia é, portanto, irrelevante. Uma traminha de horror trash genérica, efeitos especiais sofríveis e a incompreensão sobre o que levou Jon Voight a participar desse projeto são as coisas que mais marcam esse terror clássico das madrugadas dos anos 90.
DC Liga dos Superpets
3.5 115 Assista AgoraO fato de Krypto - o cachorro superpoderoso do Superman - ser canônico nos quadrinhos já é algo estapafúrdio por si só. Assim, a Warner aproveitar isso para fazer uma animação infantil me parece mesmo ser o máximo que um estúdio de cinema poderia aproveitar e explorar dentro dessa ideia. "DC Liga dos Superpets" é uma animação divertidinha, mas meio bobinha na sua maior parte do tempo. Tem uma execução rasteira, personagens medíocres, algumas - poucas - piadas realmente boas, e até mesmo umas alfinetadas ao universo Marvel que surgem como piscadelas para o público. Não encoraja uma revisita, mas certamente fãs de quadrinhos e amantes de pets se identificarão. E talvez curtam mais até mesmo que as crianças.
A Crônica Francesa
3.5 287 Assista AgoraWes Anderson é um diretor que nunca conseguiu realmente me pegar de jeito. É um cineasta que eu considero superestimado por ser mais forma do que essência. Assim não é de se espantar que a minha reação ao seu filme mais recente seja completamente morna, ainda mais considerando que nem mesmo os maiores fãs habituais do diretor o aclamaram dessa vez. Corroborando o que falei, "A Crônica Francesa" é uma obra formalmente criativa e instigante. O roteiro oferece algo diferente à medida que tenta fazer uma 'adaptação cinematográfica' de uma revista fictícia de banca de jornal, transformando o que seriam colunas, reportagens, entrevistas, editorial, obituário - sessões comuns de serem encontradas em qualquer periódico jornalístico - em curtas-metragens com vida própria. Na essência, no entanto, Wes Anderson derrapa - comigo, mais uma vez - já que nenhuma das pequenas historinhas - e nem mesmo os personagens que as habitam - soa interessante, cativante, ou tem algum impacto emocional. Sequer há uma unidade temática que reúna as três histórias, além do fato de todas elas remeterem à revista. Um elenco de ouro e uma fotografia sensacional, mas tirando isso nada demais. Confesso que não vou lamentar que esta tenha sido a última edição de 'The French Dispatch'.
Banzé no Oeste
3.7 117 Assista Agora"Banzé no Oeste" é uma comédia que usa e abusa de referências e de metalinguagem para fazer uma sátira a todo o gênero de faroeste que Hollywood cuidadosamente construiu ao longo dos anos. Dirigido por Mel Brooks (do ótimo "O Jovem Frankenstein"), e estrelado com competência por Cleavon Little e Gene Wilder (parceiro habitual do diretor), o longa-metragem oscila entre piadas simplesmente geniais em sua aparente simplicidade, e outras que são apenas estúpidas e de um mal gosto escatológico mesmo. É um trabalho irregular e beira a inconsistência durante praticamente seus dois primeiros atos, mas é no desfecho anárquico, absurdo, inteligente, criativo, completamente inesperado e - ok, reconheço, sensacional! - que o filme recupera os pontos perdidos anteriormente pelas eventuais piadas ruins. Assistir "Banzé no Oeste" é notar que Mel Brooks certamente serviu de escola para vários cineastas de paródias de filmes que viriam a surgir nos anos seguintes (como os irmãos Zucker de "Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu"). E é uma pena perceber que esse estilo de humor irreverente e não convencional tenha se transformado em um subgênero de comédia tão enlatado, sem graça e apenas voltado para si mesmo, com o passar dos anos.
Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida
3.8 78 Assista AgoraRetorno de Nicholas Meyer na direção da franquia (quase dez anos depois do seu emblemático "A Ira de Khan"), primeiro filme da série lançado após o falecimento de Gene Roddenberry, e o último a contar com todos os atores da formação original da Enterprise. "Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida" é o longa-metragem mais político desse universo, uma vez que acompanha um episódio divisor de águas na cronologia da galáxia: a inclusão do Império Klingon na Federação. O roteiro (provavelmente o melhor desde que a série passou para a tela grande) consegue trabalhar bem a relevância do acontecimento para a 'linha do tempo' da franquia, ao mesmo tempo que lida com os sentimentos controversos dos personagens, que misturam rancor, desconfiança e ódio. Metáforas sobre o preconceito e a xenofobia que foram construídas em uma época em que a União Soviética precisava se reintegrar ao resto do mundo, e que são necessárias ainda hoje, quase trinta anos depois, em um mundo que continua sedento por paz. A última aventura dos velhos amigos a bordo da Enterprise, portanto, foi feita de forma inteligente, bem fundamentada e digna, nostálgica, e com uma nota de esperança: a lição que também devemos dar uma chance para o novo e para a mudança. Com relação à cinematografia, por outro lado, ainda que eu reconheça que o filme é esteticamente melhor que os três anteriores (dirigidos pelos astros da franquia William Shatner e Leonard Nimoy, ambos com as melhores intenções possíveis), ainda falta aquele 'visual' de cinemão que se manteve ausente em quase todos os filmes da série (com exceção, talvez, do primeiro), e a sensação que temos continua sendo a de vermos um episódio feito para tevê prolongado. Já especificamente quanto aos efeitos especiais horrorosos utilizados na cena do atentado (leia, o sangue digital), a própria série 'Next Generations' produzida na mesma época conseguia fazer coisas bem melhores. Enfim, é um encerramento de ciclo digno, não excepcional, mas também longe de ser ruim. Entretanto, emocionalmente nulo, já que sabemos hoje - e, convenhamos, na época também sabíamos - que não se tratava de um adeus tão definitivo assim.
Inimigos Públicos
3.6 1,1K Assista AgoraBaseado na história real do famoso assaltante de bancos da década de 30, John Dilinger, "Inimigos Públicos" tinha tudo para ser um filme de gangsters eletrizante, movimentado e envolvente. Mas, o que Michael Mann entrega é uma obra genérica, burocrática e desinteressante. Esse grande cineasta, que praticamente fez a sua carreira trabalhando no gênero policial, aqui está irreconhecível. Durante seus longos 139 minutos, o filme jamais engrena. Os personagens não cativam e o romance entre Johnny Depp e Marion Cotillard é mal desenvolvido, não convence, nem gera empatia. As cenas de ação - que deveriam ser o auge do filme - são mornas, meio mal filmadas e confusas, e o roteiro sofre com uma porção de furos absurdos (como todas as dezenas de vezes que Dilinger poderia ter sido reconhecido em público e não é). Merece algum crédito por recriar o famoso desfecho do criminoso - famoso muito por conta de motivos 'cinéfilos' - no entanto, receio que esse mesmo episódio merecia ser contado em um filme muito melhor.
Batman
4.0 1,9K Assista AgoraUma coisa é inegável, Matt Reeves conseguiu reunir o maior número possível de elementos da mitologia do Batman em um único roteiro que é fiel aos quadrinhos, coeso e não parece ser uma salada de frutas (algo importante, considerando o histórico do personagem nos cinemas). "The Batman", de 2022, se apresenta como uma jornada exaustiva com suas quase três horas de duração, mas isso se deve mais à psicologia dos personagens envolvidos do que à eventual falta de ritmo ou interesse pela trama. Entretanto, é o melhor filme do (ou com o...) personagem desde 'The Dark Knight', de 2008, e se fica um pouco a sombra é apenas porque o antagonista principal não imprime uma grande presença em cena (de fato, os vilões 'secundários' acabam sendo quem chamam mais a atenção). Por outro lado, "Batman" é um filme sobre "O" Batman como quase nenhum outro foi (ou, melhor dizendo, um filme sobre o Bruce Wayne), e explora bem suas dúvidas e incertezas por trás da máscara, sua confusão entre 'ser a vingança' ou seu dever inerente como símbolo, "ser o herói que a cidade necessita". O filme também retrata (até onde eu me lembre pela primeira vez) o perfil detetivesco do personagem, em uma trama claramente inspirada no caso real do serial killer Zodíaco (que foi contada no cinema por David Fincher, aliás é notória a influência desse diretor no trabalho de Reeves, principalmente quando nos lembramos de "Se7en"). Mas o filme não se esquece que é, em essência, uma adaptação de quadrinhos, e Matt Reeves dirige com competência as cenas de ação, mostrando um apreço maior - e bem-vindo - pelos combates físicos e por efeitos práticos (tirando uma ou outra cena claramente mais 'digital'). Para não dizer que não critiquei nada, a trilha incessante de Michael Giacchino (que faz questão de pontuar até mesmo os momentos mais insignificantes), poderia ter sido um pouco mais econômica. Mas nada que chegue a incomodar seriamente ou atrapalhar a experiência. É um filme que honra bem o personagem e tudo o que vem sobre ele nos quadrinhos, funcionando perfeitamente bem sozinho sem precisar de outros penduricalhos (ao contrário, tenho até medo que uma eventual continuação estrague o trabalho bem feito), e isso é que acaba sendo o mais relevante.
O Cangaceiro
3.8 78"O Cangaceiro", de Lima Barreto, encantou as telas de cinema do mundo e ajudou a exportar um pouco da cultura brasileira, ainda que romantizando um pouco a mitologia em torno do 'personagem-título'. Suas qualidades técnicas, de direção e de narrativa não deixam nada a desejar a outros filmes hollywoodianos da época, como os westerns da década de 40, e ajuda a trazer um certo orgulho ao cinema nacional. Eventualmente viria a ser contestado pelo seu excesso fantasioso no figurino e na direção de arte excessivamente pasteurizada. Cerca de dez anos depois, ao fazer o seu "Deus e o Diabo na Terra do Sol", Glauber Rocha traria o cangaceiro sujo, em farrapos, desequilibrado, temperamental e cruel. Se Lima Barreto é John Ford, Glauber Rocha é Sergio Leone. Cada um com seu estilo, ambos os filmes funcionam perfeitamente bem. Meu único porém com "O Cangaceiro" é que a história romântica entre Teodoro e a professora nunca convence, por mais bonitas que sejam as palavras trocadas por eles e escritas por ninguém menos que Cecília Meirelles. Faltou um pouco mais de química entre o casal interpretado por Alberto Ruschel e Marisa Prado, química esta que acaba funcionando, todavia, na rivalidade entre Teodoro e Galdino (vivido com excelência por Milton Ribeiro).
P.S.: Para variar, a sinopse do filmow está errada, trocando o nome das personagens. A professora que é raptada se chama Olívia (Marisa Prado). Maria Clódia (interpretada pela linda Vanja Orico, e que também canta a música tema do filme "Olê Muié Rendera" - essa parte está certa), é a mulher que acompanha o bando de Galdino desde o início.
Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira
3.4 72 Assista AgoraÉ, possivelmente, o filme mais ambicioso da franquia Star Trek, e justamente por não fazer jus a essa ambição que o roteiro de "Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira" soa decepcionantemente morno. Afinal de contas, o longa se curva àquele que é o maior mistério filosófico espiritual da humanidade: a existência de Deus. No entanto, as maneiras que a produção encontra para explorar o tema (perguntas cuja ausência de resposta nos são tão incômodas) soam genéricas, pouco inventivas e, em uma última análise, covarde. O roteiro tem alguns outros problemas também, algumas arestas soltas mal desenvolvidas (como a nave klingon que vira basicamente um sub-antagonista infantil sem motivação), e alguns furos (porque Sybok não usou suas habilidades em Kirk logo que se conheceram?). Por outro lado, a trama se leva um pouco mais a sério do que a galhofa que foi o quarto filme, e o 'vilão' Sybok se mostra uma figura muito mais interessante, por exemplo, do que os klingons do terceiro. A dinâmica da amizade entre Kirk, McCoy e Spock é muito bem feita (talvez uma das melhores considerando os filmes), e mantem o interesse do espectador. E é bacana ver também que os roteiristas procuram ao máximo respeitar a continuidade dos episódios anteriores, e assim temos uma Enterprise novinha em folha, mas ainda mal-acabada por não ter tido tempo de ficar concluída. Ironicamente, a aventura ainda se encerra com um previsível salvamento a la 'deus ex machina', quase como sendo uma piada pronta involuntária.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraA série de livros "Jogos Vorazes" tentou mirar nos órfãos de "Harry Potter" e "Crepúsculo" para buscar o público mais adolescente. E até acertou, resultando em uma trilogia de livros e uma quadrilogia de filmes (por ora), que, se não é perfeita, ao menos tem o mérito de fazer seus leitores começarem a refletir sobre questões sociopolíticas - algo ainda hoje raro de se ver no gênero juvenil. O primeiro filme tem a função de nos apresentar a esse mundo, suas arbitrariedades, os personagens que o habitam, e, principalmente, ao terrível reality show que dá nome ao longa e justifica toda a trama. E faz isso muito bem - bem até demais eu diria, pois conheço pessoas que se horrorizaram com a ideia principal e com as cenas (chocantes, eu reconheço) de adolescentes matando outros adolescentes com tamanha frieza. E por focar muito mais no jogo em si do que na política, esse primeiro capítulo pode até soar como um excesso gratuito e fútil de violência e barbárie. Mas esse talvez seja um dos casos em que os fins justificam os meios, e quem persistiu na série pode acompanhar um ótimo segundo capítulo e um desfecho ao menos competente, e que fez adolescentes refletirem sobre tirania, poder, excessos, corrupção, propaganda, manipulação das massas, e fanatismo radical. Por sua vez, a jovem atriz Jennifer Lawrence (já havia feito outros trabalhos antes, mas é aqui que ela fica popularmente conhecida) é a alma e o espírito do filme e é totalmente justificada a atenção que a jovem passou a receber nos anos que se seguiram.
O Esquadrão Suicida
3.6 1,3K Assista AgoraO desespero da Warner em desassociar esse filme da versão de 2016 do David Ayer é tamanha que eles nem se preocuparam em colocar um "2" no título. Mas nesse caso acho que seria prudente colocar um subtítulo ou uma distinção pois incluir apenas o artigo "O" no início de "Esquadrão Suicida" me parece muito pouco para evitar alguma confusão. Dito isso, esse filme é inegavelmente superior ao seu irmão mais velho, ainda que não passe de mais uma sessão da tarde divertida. A história é um pouquinho melhor elaborada, as cenas de ação são um pouco mais criativas do ponto de vista visual, e James Gunn acerta ao resgatar um dos grandes vilões clássicos dos quadrinhos da DC, o absurdamente trash "Starro, o Conquistador". Mas, novamente, a melhor coisa do filme é a presença de Margot Robbie como Arlequina - a essa altura acho que já podemos dizer que ela virou a versão cinematográfica definitiva da personagem - e seus momentos de alívio cômico acabam sendo os mais legais. Idris Elba faz um trabalho competente como 'Sanguinário' (ainda que seu personagem seja apenas uma versão secundária e ainda mais desconhecida do 'Pistoleiro', vivido por Will Smith). Já Viola Davis e Joel Kinnaman estão lá apenas para forçar uma suposta continuidade, ainda que funcionem em seus demasiado papéis. Dá pra passar pano na sujeira deixada pelo filme anterior e dar um pouco mais de dignidade e esperança à franquia no cinema, mas só.
Eros
3.6 34Filme dividido em episódios, cada um dirigido por um cineasta diferente, um asiático, um americano e um europeu. Três visões distintas sobre a relação (carnal) do homem com as suas musas inspiradoras. A melhor das três é logo de saída, sem dúvida, a primeira, de Wong Kar Wai, que contém um romantismo pútrido na paixão platônica de um alfaiate por uma prostituta. É uma obra suja e estranhamente atraente, em que o cineasta consegue tocar pela sua aura nefasta de romance proibido. Lembra os contos boêmios e pessimistas de Álvares de Azevedo em seu 'Noite na Taverna'. Já os dois seguintes são bem mais fracos. O de Steven Soderbergh quase se parece com alguma peça de comédia sem pudores de Nelson Gonçalves - e esse é o maior elogio que eu posso dar ao segmento - mas seu excesso de subjetividade e seu final inconcluso frustram. Já o de Michelangelo Antonioni busca uma certa poesia na forma como contrasta um relacionamento desgastado com o tempo com a possibilidade de uma nova paixão ardente. Mas, assim como outras pequenas histórias do fim de carreira do cineasta (vide: "A Identificação de uma Mulher", e "Além das Nuvens"), deixa a desejar na construção dos personagens e na conclusão.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
3.3 571A boa notícia é que, depois de um segundo capítulo excessivamente introdutório, essa terceira parte da franquia "Animais Fantásticos" finalmente avança com a história, trazendo mais peso e consistência para a ameaça em torno de Grindelwald. E a metáfora política que o filme traz, com o nosso mundo atual tão dividido politicamente - inclusive, o Brasil - não podia ser mais contemporânea e perturbadora. É assustador como Grindelwald possui um apoio popular forte e venenoso na história, mostrando como basta ter alguém que fale aquilo que o povo quer ouvir para este ir atrás, sem pensar nas consequências morais de suas ideias. Por outro lado, "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" ainda sofre de alguns problemas presentes em seus capítulos anteriores. O roteiro ainda parece ser demasiado inchado e inconsistente (os minutos gastos com o personagem Yusuf Kama, por exemplo, nunca são justificados), e algumas relações do longa não são desenvolvidas com cuidado, resultando em conclusões repentinas e artificiais. A duração excessivamente longa do filme também cobra seu preço, já que, embora o mundo mágico ainda encante aos olhos, o ritmo da obra não deixa que ela empolgue. No fim, sinto que gostei desse filme mais como fã da franquia, do que como cinéfilo. É estranho como, por mais que se passe no mesmo universo, 'Animais Fantásticos' parece nunca alcançar a mesma 'magia' dos filmes de 'Harry Potter'.