A franquia ''Jogos Mortais'' é muito amada por boa parte dos fãs de torture-porn, mas muita gente também diz que o único da franquia que prestou foi o primeiro. Já eu, fico no meio do muro, achando a franquia, como um todo, inconsistente; digo isso tendo gostado consideravelmente do primeiro e do segundo, e também tendo achado o terceiro e o sexto um entretenimento bacana. Logo, sim, acredito que a franquia precisava de uma revitalizada.
A direção fica por conta do já conhecido Darren Lynn Bousman, que dirigiu anteriormente o segundo, terceiro e quarto capítulo da franquia. Se a proposta era trazer uma revitalizada para a franquia, mais voltada para o mistério, não faz sentido terem colocado o filme sob comando de Darren, afinal sua visão para esse projeto não agrega nada de novo, apostando muito no que já havia sido feito anteriormente, como a clássica acelerada de câmera nas cenas das armadilhas. O diretor não parece muito interessado em contar essa história de forma diferente de outros da franquia, ou até diferente de outros thrillers policiais dos anos 2000, a trama flui de maneira trivial.
Mas o maior problema do filme não está por conta de sua direção, e sim por conta do roteiro escrito por Josh Stolberg e Pete Goldfinger... que roteiro ruim! Fica claro que a obra se leva a sério demais em alguns momentos, e a sério de menos em outros. A inspiração no clássico ''Seven'' é óbvia, porém o roteiro simplesmente não consegue trabalhar bem os seus tons distintos, seja suspense, terror ou até comédia. A maneira como a revelação final é entregue de bandeja em uma das cenas chega a ser um insulto a quem está assistindo, preguiçoso e previsível ao extremo. Os diálogos hora são até divertidos de se acompanhar, hora são de dar vergonha alheia. O roteiro até procura fazer um comentário sobre corrupção policial em certos momentos, mas tal comentário em sua maior parte soa como algo superficial que já foi trabalhado de forma mais relevante em outros filmes.
A trama é contada através do protagonista interpretado por Chris Rock, que está interpretando um personagem sério aqui, algo inédito para mim, e afirmo com toda a certeza que simplesmente não funciona. Ele tenta, isso não posso tirar dele, ele até tenta ser levado a sério, no entanto, suas expressões faciais não transmitem nenhuma credibilidade, soando totalmente robótico e durante todo o filme parecendo estar se sentindo preso, desconfortável ao interpretar um papel dramático, tanto que as cenas que mais funcionam dele são as que ele está falando algo mais engraçado ou descompromissado. Sobre o resto do elenco, Max Minghella é até carismático em boa parte do tempo. Marisol Nichols é funcional, apesar de ter uma personagem já vista trilhões de vezes em outros filmes. E Samuel L. Jackson está ali para dizer ''motherfucker'' -algo que ele faz muito bem- e fazer papel de esquentadinho.
O ritmo do filme é até fluído, isso graças à sua duração que não é extensa e à sua edição, fatores que fazem o longa passar rápido. As armadilhas não são as melhores, nem as mais criativas, mas quando estão em cena conseguem transmitir um senso de dor e ansiedade, através do famigerado gore, que tanto tornou a franquia mundialmente conhecida. É empolgante ver o tema original tocando novamente, até porque em termos musicais é uma faixa assustadoramente deliciosa, mas de resto a trilha sonora original não tem nada que se destaque muito, apesar da seleção musical de raps ter sido interessante.
Em suma, ''Espiral: O Legado de Jogos Mortais'' vem com uma ideia interessante, de transformar a franquia em algo mais voltado para o suspense, mas essa ideia não é bem trabalhada, o roteiro é desleixado, a reviravolta é previsível, a direção é marcada por sua falta de inspiração e a atuação de seu protagonista chega a ser triste, pelos motivos errados. Apesar de ter algumas armadilhas bem feitas, o longa não justifica sua existência, fazendo-o ser mais um exemplar qualquer de uma franquia que já se desgastou, o coloco lado a lado com ''Jogos Mortais: O Final'' como os piores ''Jogos Mortais'''.
O gênero terror muitas vezes é utilizado para passar mensagens relevantes e críticas sociais, e isso vem cada vez ganhando mais força, graças a diretores como Jordan Peele, que tem muito talento para conseguir trabalhar os artifícios mais clássicos deste gênero juntamente da mensagem que procura transmitir ao público. E eu só tenho a agradecer, pois para mim, estes são os melhores filmes para se assistir.
É o filme de estreia do diretor Remi Weekes, o que é quase imperceptível, porque o diretor tem total controle da obra que está conduzindo, sabendo trabalhar bem a história triste que os personagens carregam, o drama que eles enfrentam, em contraste com as cenas mais assustadoras, e que deixam o espectador completamente apreensivo e tenso enquanto as assiste. Ao meu ver, talvez os espíritos pudessem aparecer um pouco menos, gerando assim uma curiosidade maior por parte do público, e fazer nossa imaginação trabalhar mais, mas não chega a incomodar ou atrapalhar o conjunto da obra como um todo.
O roteiro, também escrito por Remi, é muito inteligente ao abordar temas importantes, juntamente à cultura do casal protagonista e os costumes que eles tiveram que deixar para trás para poder se adaptar a este novo país. A questão da imigração, e as dificuldades que os imigrantes enfrentam, são muito cruas e reais, além do roteiro ter uma mensagem forte sobre o racismo e a ignorância das pessoas em relação a culturas de países estrangeiros. O trauma que os personagens enfrentam, a agonia e desespero de ter uma casa que pode ser tirada de você a qualquer momento, o terror de viver em um país que é totalmente desacolhedor, estas coisas são ainda mais assustadoras do que os fantasmas que os assombram. É um roteiro sagaz, que usa o terror como pano de fundo para poder contar uma história aterradora sobre imigração, além de possuir um final com reviravoltas e quebras de expectativas funcionais e interessantes.
O elenco trabalha muito bem e transmite todas as emoções necessárias para com seus personagens. Sope Dirisu está tentando ao máximo se adaptar, possuindo um medo genuíno em seu olhar, nós podemos enxergar o quão foi difícil viver em seu país de origem e que ele está disposto a fazer qualquer coisa para não voltar para lá. Wunmi Mosaku está excelente, carregando muita tristeza, muito amor por sua cultura e possuindo uma dificuldade enorme ao tentar se ambientar ao novo país que vive. Matt Smith aparece em poucas cenas, servindo como uma ferramenta para dificultar ainda mais a permanência do casal neste país, e ele faz bem este papel.
A parte técnica também é ótima, a fotografia é muito alaranjada em vários momentos, escurecida em outros, além dos enquadramentos e o design de produção conseguindo capturar a sujeira, a bagunça e degradação do lugar que os personagens são obrigados a morar. A trilha sonora utiliza de elementos culturais para compor as cenas, e que funciona e enaltece ainda mais os acontecimentos e psique do casal.
Há vários momentos importantes e que te fazem pensar nesta obra, tais como a cena em que Bol está numa loja de roupas e só há figuras de pessoas brancas na parede, além dos vizinhos se portarem de maneira condenativa e que deixa claro o desprezo que possuem por gente que não são de seu país. A forma como os personagens constantemente tentam dizer que o casal é privilegiado por estarem naquele país, e ainda possuem uma casa maior do que a deles, diz muito sobre a sociedade e como muitas pessoas pensam. A relevância de tais atos, em apoio às cenas de terror, funcionam muito para definir a vida difícil que os protagonistas enfrentam.
Em resumo, "O Que Ficou Para Trás" é uma obra que choca muito pela forma como aborda temas importantes, como racismo e imigração. E isto, junto das cenas mais fantasiosas e assustadoras, funciona muito e só ajuda a transformar o filme no melhor terror do ano até agora.
Gosto, consideravelmente, dos filmes da produtora Blumhouse, então quando vi a notícia do projeto de parceria entre a Amazon e a Blumhouse, onde seriam lançados vários filmes de terror no mês de outubro, me empolguei com a ideia. "Black Box", juntamente com "The Lie", foi adicionado hoje ao catálogo.
A direção fica por conta de Emmanuel Osei-Kuffour, e, sinceramente, achei a sua direção um pouco morna e sem emoção. Ele não faz nada muito diferente aqui, enquadramentos sem muito propósito, cenas de terror sem muita sutileza; é o primeiro longa-metragem do diretor, e infelizmente não gostei muito de sua condução do filme, parece algo muito automático e sem vida, todas as cenas onde precisa-se de um certo apelo emocional para funcionarem, não funcionam. No entanto, a "criatura" interpretada por Troy James, um contorcionista bem famoso, gera uma sensação bem desconfortável de se assistir.
O roteiro, também escrito por ele, já é um pouco mais interessante, explorando crise de identidade, pessoas que não sabem lidar com a perda e a má utilização da tecnologia. O primeiro ato do filme, foi o que mais me deixou fixado na tela, pois o espectador se sente desorientado, tal qual o protagonista, sem saber bem o que aconteceu no passado dele e o que significam as memórias acessadas através do aparelho. Mas, quando o filme começa a explicar o que aconteceu, eu achei a explicação da perda de memória do protagonista um pouco previsível, mas até gostei da razão principal daquilo acontecer. Em geral, é um roteiro que poderia facilmente ser um episódio de Black Mirror, mas infelizmente este aqui não gera o impacto e a intensidade da série, fazendo-o servir apenas como uma boa peça de entretenimento para os fãs de terror e sci-fi.
O elenco está bem, em geral. Mamoudou Athie não entrega uma excelente performance, cheia de camadas e mais, mas consegue fazer criarmos empatia para com o seu personagem e gerar uma curiosidade sobre o que pode ter acontecido com ele. Amanda Christine está muito bem, interpretando a filha de Nolan, a preocupação e o amor que ela sente por seu pai são transmitidos de forma genuína. Tosin Morohunfola e Phylicia Rashad interpretam personagens que são um pouco unidimensionais, mas os atores fazem o possível e estão operantes.
Tecnicamente, o filme não chama muito a atenção. A montagem dele é fluida, fazendo a trama não ser muito difícil de acompanhar. A fotografia não tem nada demais, e a trilha sonora parece algo reciclado de outros 1000 longa-metragens do gênero do terror, é algo absurdamente genérico.
Mas, como um todo, "Black Box" gera um interesse por sua trama que se sustenta por boa parte do filme, tem um roteiro com potencial para ótimas ideias, mas acaba muitas vezes caindo no genérico, e não tendo coragem e nem impacto o suficiente para fazê-lo ser uma obra memorável. Dado isso, o filme acaba sendo uma boa pedida para entretenimento durante uma tarde de domingo, nada mais que isso.
Kaufman está de volta, e com tudo! Um dos melhores roteiristas em atividade atualmente, nos entrega outro trabalho digno de sua autoria, repleto de metalinguagem, mensagens e momentos em que você começa a se perguntar ''que porra é essa que estou assistindo?''.
Como diretor, esse apenas é o terceiro filme de Charlie Kaufman, que havia dirigido anteriormente Sinédoque, Nova Iorque e Anomalisa, ambos muito bons. Aqui, o diretor opta por contar a história toda através de câmeras de 35mm, e funciona, nos deixa focados nos personagens e em suas ações, enquanto dá uma certa sensação de claustrofobia. Ao conduzir a trama, Kaufman é completamente paciente, o que pode irritar alguns espectadores, pois há momentos que são bem lentos e, certas horas, cansativos, dada a tentativa do diretor de nos fazer imergir no filme e contemplá-lo. Para mim, isso foi um acerto, pois de fato é um filme que requer certa atenção e paciência para ser melhor admirado.
Sobre o roteiro, assinado também pelo Kaufman, é repleto de simbolismos. Há brechas suficientes para você criar sua própria teoria sobre o que está acontecendo, a minha consiste basicamente
em que a obra inteira é contada sob o ponto de vista do personagem Jake, onde na verdade, ele não teria conseguido lidar bem com o término iminente de seu relacionamento com a personagem de Jessie Buckley e isso teria acabado com sua vida profissional, o que faria ele se tornar um zelador solitário, que frequentemente se vê recordando memórias passadas com sua ex-namorada, antes de ''acabar com tudo'', tendo se suicidado ao final da obra. Isso explicaria o número de dança do final, que representaria a ''morte'' do relacionamento dos dois, e também explicaria o olhar de certa nostalgia do zelador ao entregar os calçados à protagonista, além das semelhanças de seu antigo relacionamento com o filme que ele estava assistindo.
Dado isso, acho que o roteiro aborda temas bem interessantes, como envelhecimento, solidão, como lidar com términos de relacionamentos e sobre como é estar preso em um por medo de acabar sozinho, entre outras coisas; os diálogos de Kaufman, longos, dizem muito e constroem muito bem os personagens, em vários momentos, coisas relevantes são ditas por Louise, sobre como a mulher é vista na sociedade.
O elenco é excelente, todos estão perfeitamente bem em seus papeis. Todos os personagens tem momentos bizarros, e Jessie Buckley parece ser a mais normal dali, servindo como uma protagonista que o público possa se identificar, as suas expressões de estranheza são perfeitas, seu olhar distante, suas reações, suas tentativas de parecer agradável para os pais de Jake, é uma ótima interpretação. Jesse Plemons é um ator subestimado, vem cada vez mais demonstrando ser um excelente ator que consegue transmitir emoções com naturalidade, dado seu personagem exigir uma certa retração, uma raiva interna em seu olhar e um mistério inquietante no seu jeito arrastado de falar. Toni Colette e David Thewlis estão adentrados na bizarrice e nos trejeitos de seus personagens, funcionam bem e tem momentos interessantes.
A parte técnica também é muito eficiente, o design de produção daquela casa, a fotografia que contempla a neve e o frio estrondosos, além de transformar os ambientes em lugares totalmente claustrofóbicos, seguem belamente a proposta do filme, que é te deixar desconfortável e angustiado. Achei a trilha sonora, principalmente a faixa principal, transpassando um ar misterioso leve e suave, o que é até irônico.
Em geral, Kaufman entrega o melhor filme do ano até aqui, para mim. O filme de 2020 que mais me fez pensar, que mexeu comigo, me deixou angustiado e confuso em vários momentos. Isso, somados à excelente interpretação de todo elenco e a parte técnica que constrói magistralmente o ambiente, tornam-o uma obra que deve ser admirada, mesmo tendo alguns momentos cansativos e não ser de fácil digestão.
Esse filme pode ser considerado um slasher da era atual, com sua história contada através de redes sociais, como ''Host'' e ''Amizade Desfeita'', e uma trama que junta elementos de filmes como ''O Rei da Comédia'' e ''Psicopata Americano'', mas é claro, sem ter a profundidade desses citados.
O diretor, Eugene Kotlyarenko, opta por conduzir a narrativa através das câmeras localizadas no carro do protagonista, e também variando das transmissões ao vivo em celulares de alguns personagens; foi uma escolha precisa e que funciona totalmente no contexto do filme. Não há muito desenvolvimento, mas isso não impede o espectador de se conectar com a trama, que é bem divertida de se acompanhar. O tom do filme é claro, apostando no absurdo, no humor negro e na violência para contar a história, e tudo isso funciona em harmonia, créditos ao diretor e ao roteiro.
O roteiro, assinado também pelo diretor, é repleto de críticas sociais sobre a superficialidade das redes sociais. Entretanto, também é interessante ver as interações entre os personagens passageiros do protagonista, parecem críveis e te fazem pensar sobre algo parecido que já aconteceu com você mesmo. Em determinado momento, o filme fala sobre como as pessoas optam por assistir conteúdos completamente vazios, à assistirem algo que é genuinamente real, mesmo esse ''real'' sendo inegavelmente errado. Também, a narrativa brinca e critica as buscas das pessoas por seguidores, e sobre como você acredita só existir se estiver sendo visto por outras pessoas. Mas, isso tudo parece ser um pouco deixado de lado, em alguns momentos, dado o grande número de mortes que acontecem no filme, o transformando em um slasher moderno, e deixando a sua mensagem parecer quase como um pano de fundo.
Sobre os atores, o destaque obviamente é para Joe Keery, cujo só havia visto o seu trabalho na série Stranger Things; o ator entrega um psicopata de um cinismo gigante, uma personalidade superficial e falsa que busca apenas conseguir o seu objetivo, que é ser reconhecido por suas lives. De resto, todos os atores funcionam, pois todos parecem estar comprometidos com a superficialidade de suas personalidades, juntamente ao tom da obra.
Achei a trilha sonora bem legal, porque em muitos momentos evoca tons do gênero musical synthwave, que tem uma pegada mais oitentista que eu gosto muito. A montagem e edição tornam a trama fluída, apesar dela se tornar repetitiva em vários momentos. A forma como o filme acaba é justa, tendo em base a mensagem que ele quer transmitir.
Em geral, ''Spree'' é um slasher moderno, que tem uma mensagem clara, uma crítica social que é atual, mas que se perde um pouco dado o enorme foco às mortes orquestradas pelo protagonista. Ainda assim, é um filme que diverte pelo seu cinismo e por sua superficialidade, juntos de um humor ácido e uma trama violenta.
Um filme bem parecido com o estilo já utilizado em ''Amizade Desfeita'', mas com um reforço bem interessante e que o faz funcionar mais, o fato da quarentena imposta pelo Corona Vírus.
O roteiro, escrito por Gemma Hurley, Jed Shepherd e Rob Savage, tem uma premissa bem legal e que funciona justamente pelo atual momento que estamos passando em todo o mundo. Eu adoro o fato de terem decidido fazer um filme de terror baseado na quarentena, com a utilização de vídeo chamada. Fora isso, é um roteiro simples, não há muito aprofundamento, nem nada, o foco é mais nas situações criadas e não na história em si, e tudo bem, não é algo ruim. Aliás, o roteiro utiliza bem da tecnologia, como os filtros utilizados por uma personagem, é bem eficiente.
A direção de Rob Savage foi o que mais me chamou a atenção, porque o diretor conduz o roteiro simples de uma forma bem criativa, fazendo-nos prestar atenção nas webcams dos personagens e esperando a todo momento algo aparecer no fundo, o filme gera essa sensação de alerta. O diretor não usa tanto os jumpscares, focando mais na tensão e na angústia criadas pela movimentação de câmeras. Entretanto, quando os jumpscares aparecem, funcionam bem, não tornando-os descartáveis.
Não há um protagonista na história, mas o elenco está operante. Não são personagens complexos, são apenas pessoas normais em uma vídeo-chamada, que estão diante de acontecimentos estranhos e assustadores em sua casa. Todos os atores, em suas limitações, estão convincentes, tornando o seu temor crível.
Sabe, o filme é bem curto, com apenas 56 minutos de duração, e mesmo assim consegue gerar mais tensão que muito filme de terror mais caro e mais longo por aí. Fico feliz que este filme exista, é um trabalho independente e que merece todo o reconhecimento que está recebendo, pois um diretor que decide utilizar de momentos atuais para compor sua obra, e ainda o faz de forma inteligente, é algo digno de elogios.
''Host'' é tenso, assustador, bem dirigido e inteligente na forma como utiliza a tecnologia. É um filme que deve ser visto agora, no atual momento em que todos estamos passando, pode ter certeza que irá funcionar bem mais assim.
Após assistir novamente esta obra, pude perceber várias coisas que não havia percebido da primeira vez que assisti, e isso fez com que eu gostasse mais e, consequentemente, fez com que a minha nota para o filme aumentasse.
É o segundo longa-metragem de Ari Aster, o diretor que foi aclamado em 2018 pelo excelente "Hereditário", e com este novo filme, ele se consolida de vez como um dos melhores diretores de terror em atividade -ao lado de Jordan Peele e Robert Eggers-. Sua paciência ao conduzir a trama, os seus takes longos e contemplativos, a forma como ele controla a câmera para poder criar tensão, pavor, medo, sugestão, tudo isso com o viés de nos deixar perturbado -no qual consegue-, o fazem ter um talento notável e reconhecível, principalmente para o gênero. O diretor não apela para sustos baratos e clichês, conseguindo criar um genuíno terror psicológico e cheio de simbolismos.
O roteiro, também assinado por Aster, tem uma trama bem parecida com a de "The Wicker Man", mas não se engane, apesar das semelhanças, o filme caminha pelas próprias pernas e consegue abordar temas importantes como relacionamentos tóxicos, término, emancipação, feminismo, culturas estrangeiras, paganismo, luto; de fato, é um roteiro muito rico! Seria muito fácil escrever um filme qualquer sobre seitas assassinas, mas o roteiro vai muito além disso, com momentos de horror pontuais e chocantes, e que funcionam justamente pelo foco na relação dos personagens e o desenvolvimento mais lento e abrangente da história.
O elenco está muito bem, com o destaque óbvio a Florence Pugh, que está absurdamente ótima, como uma personagem deslocada, que sofre por uma perda, além de sofrer pela indiferença de seu namorado, suas expressões de temor e tristeza são incrivelmente convincentes, é uma pena o Óscar ser tão preconceituoso com filmes de terror. De resto, Jack Reynor convence, interpretando um namorado distante; Will Poulter é o alívio cômico, e até que é engraçado; William Jackson Harper consegue transmitir a curiosidade e interesse, de que seu personagem necessita.
A parte técnica do filme, também é muito boa. Não é fácil conseguir fazer um filme de terror, que se passa durante o dia, funcionar, e isso é um mérito também da fotografia, que cria um ambiente limpo, onde tudo é tão claro, mas que mesmo assim consegue ser tão obscuro. A edição é precisa, fez o filme passar rápido, mesmo eu achando que algumas cenas foram alongadas demais e poderiam ter sido um pouco reduzidas. E a trilha sonora, através de cordas agudas e graves, conduz o mistério do local e dessa cerimônia estrangeira que é desconhecida pelos personagens.
"Midsommar" é um terror psicológico rico em conteúdo, perturbador, desconfortável, bem dirigido, com uma atuação memorável de sua protagonista, e que choca nos momentos certos, nunca sendo excessivo.
Uma premissa interessantíssima por si só, que poderia ser explorada inteligentemente de várias formas; ainda mais com M. Night Shyamalan estando de volta ao gênero suspense, depois do eficiente ''A Visita'', pareceu que o diretor ainda tem a manha para nos entregar bons filmes, mesmo após tantas obras descartáveis.
Shyamalan dirige bem este aqui, paciente ao conduzir-nos pelo ambiente que o sequestrador prende as suas vítimas, e dando uma clara sensação de perigo e angústia sobre a situação que elas se encontram. É um diretor que sabe criar suspense e cenas genuinamente tensas, e aqui ele demonstra seu potencial, principalmente nas cenas de interações das garotas com o homem.
O roteiro não consegue explorar ao máximo a sua premissa interessante, não mostrando nem metade das personalidades do personagem, deixando-nos com uma certa sensação de desapontamento. Acredito também que o roteiro poderia ser mais preciso e direto ao abordar uma certa coisa que acontece no passado de Casey, algo que tem uma clara função na narrativa, mas poderia ter sido mais resumido e explicado em apenas um diálogo, não enchendo o filme de flashbacks desnecessários que procuram explicar apenas uma coisa. É um roteiro que peca por ser muito excessivo em algumas horas, mas também tem seus méritos por abordar uma condição psicológica interessante, mesmo que abordando de uma forma não muito crível.
O elenco está ótimo, com os óbvios destaques para James McAvoy e Anya Taylor-Joy. Impressionante como McAvoy transita com naturalidade entre as personalidades que está interpretando, com características tão próprias que você consegue distinguir qual é a personalidade do momento com facilidade; sua presença é imponente e ameaçadora, o deixando com um aspecto bem imprevisível. A Taylor-Joy também interpreta muito bem sua personagem, uma garota isolada, taxada de esquisitona pelos outros, tem seus motivos e seus traumas e a atriz convence ao demonstra-los, as suas cenas de diálogo com McAvoy são as melhores.
Entendo o por que do ato final ser tão fictício, até por que o diretor estava planejando lançar ''Vidro'' logo após desse, mas mesmo assim, não gostei como o filme foi de uma obra psicológica para algo bem mais gráfico, preferia muito que fosse uma história fechada em um filme e que tivesse um final mais impactante e reflexivo, pois certamente a parte do filme que se sobressai é a que lida com o estudo da personalidade de Kevin. De resto, gostei da fotografia, que captura bem o cenário desconfortável e claustrofóbico em que as personagens estão, e a trilha sonora é esquecível.
''Fragmentado'' podia ser muito mais do que foi, sua premissa tem potencial para tratar questões psicológicas bem importantes, mas o final acaba indo para um lado mais surreal e gráfico, e isso faz com que o filme perca muito de seu peso. Mas em geral, acho que Shyamalan nos entregou um bom suspense, que é carregado nas costas por seus atores, mas que mesmo assim é eficiente ao mexer com a cabeça do espectador, pelo menos em seus 2 primeiros atos.
Olha... quer dizer... é constrangedor até FALAR sobre este filme.
Na verdade, acho que o seu maior mérito, fica por conta do Adam Sandler, mas não pela sua atuação, longe disso, e sim por conseguir convencer o Al Pacino a participar de um filme onde ele se apaixona pelo Adam Sandler vestido de mulher; o cara merece ganhar alguns créditos por isso.
O diretor aqui é Dennis Dugan, o mesmo de outros mil filmes ruins protagonizados pelo Adam -salvo duas de suas obras que gostei, ''O Paizão'' e ''Um Maluco no Golfe-, e, novamente, ele não faz nada de diferente aqui. O timing cômico é inexistente, há cenas que me fizeram questionar-me como o diretor olhou para aquilo e decidiu colocar na versão final? Incrível. O exagero é a ferramenta de humor utilizada aqui, ao EXTREMO, sendo totalmente irritante de se assistir. Sabe alguns filmes que são feitos com o propósito claro de concorrer ao Óscar? Bom, esse esse foi feito para ser um grande vencedor do Framboesa de Ouro, e conseguiu!
O roteiro, ah, o roteiro. Piadas completamente de mal-gosto, ofensivas, nojentas, escatológicas ao extremo. Nada se salva neste roteiro catastrófico, que não consegue sequer criar um personagem cativante, sendo todos absurdamente detestáveis. A trama em si, é imbecil e não faz sentido nenhum, previsivelmente terrível e cheia de clichês e esteriótipos.
Adam Sandler interpreta seu papel e o de sua irmã, tudo para dar certo, não? Ele claramente já demonstrou ter talento, em filmes como Jóias Brutas, Embriagado de Amor, Reine sobre Mim, etc.; então, por que ele insiste em fazer estes filmes idiotas? É uma afronta! Sem mencionar as participações especiais de Johnny Depp e de Al Pacino (POR QUÊ, DEUS, POR QUÊ?!).
Não consigo pensar num bom motivo para esta obra existir, sendo que não conseguiu agradar nem quem costuma gostar de filmes assim. O filme não conseguiu me fazer rir nem uma vez sequer, e somados à sua trama de mal-gosto, suas atuações exageradas e sua direção que parece não ter noção nenhuma de como conduzir uma comédia, falo, com toda a certeza do mundo, que está é uma das piores coisas que já assisti em toda a minha vida.
Um dos poucos filmes que odeio de todo o meu coração. São filmes assim que me fazem desejar que a máquina de ''Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças'' existisse.
''Entre Abelhas'' é um filme nacional, misto de comédia e drama, que aborda bastantes temas importantes. Assisti-lo esperando uma comédia tradicional, do grupo de Porta dos Fundos é um erro, e o trailer não deveria vender o filme desse jeito.
A direção fica por conta de Ian SBF, que também já dirigiu várias coisas do grupo de humor. Aqui, ele dá conta, acertando na forma que escolhe contar a história de Bruno e nos ângulos em que posiciona a câmera. Gostei também da forma como ele oscila entre o que está sendo visto pelo protagonista e o que está acontecendo realmente, mesmo que possa tirar um pouco da experiência de vermos o filme inteiro com os olhos de Bruno, funciona. Acho que, talvez, o maior problema do longa-metragem seja o desequilíbrio em tons, mesmo o humor funcionando algumas horas, acredito que tira o impacto em certas horas.
O roteiro aborda de forma responsável a depressão, assim como o término de um relacionamento e o existencialismo em si. Mesmo sem muito aprofundamento, e sem utilizar todo o potencial de sua premissa interessante, tendo personagens que são desnecessários e não levam a lugar algum -como o psiquiatra-, o roteiro se sai bem ao convidar o público a pensar e a interpretar certas as coisas e seus significados. Ao meu ver, as pessoas estão desaparecendo pois Bruno ainda está preso a sua ex-mulher, parando aos poucos de enxergar todos ao seu redor, fazendo-a ser a única pessoa que importa na face da terra. Seu coração está quebrado, e ele não sabe como superar a separação.
O elenco é interessante, pois nunca pensaria em Fábio Porchat nesse papel, afinal ele não é um ator de drama; mas, surpreendentemente, ele se sai muito bem, conseguindo transmitir toda a faceta de seu personagem, o sobrecarregamento, a dor e o seu deslocamento social. Irene Ravache, como mãe de Bruno, também está muito bem, o humor de sua personagem funciona exatamente porque tem algo a dizer no roteiro, sobre como a mãe não consegue lidar com o problema de seu filho, o vendo como besteira e ainda o rotulando como maluco. Marcos Veras faz um personagem desagradável, o humor dele não funciona e poderia aparecer menos no filme.
Os aspectos técnicos não chamam muito a atenção, não procurando se diferenciar de outras obras ou ter uma identidade própria. A montagem é linear, a trilha sonora aposta muito na tristeza lentamente conduzida por um piano ou violino, e a fotografia reforça o intimismo do filme.
A melhor reflexão fica na última conversa de Bruno com o psiquiatra, num discurso existencialista sobre solidão, dizendo muito sobre o que é viver numa sociedade.
''Entre Abelhas'' tem grandes problemas no tom, alguns personagens que não levam a lugar nenhum, não utiliza todo o potencial dramático de sua premissa... mas, mesmo assim, ainda é um bom filme, com uma boa interpretação de Porchat, um roteiro que aborda depressão da maneira certa e te faz pensar sobre o significado da obra como um todo.
Drama esportivo sobre superação... aqui vamos nós de novo. Novamente, o filme não procura se distinguir de outros que abordam o mesmo tema, e, na verdade, abordam basicamente da mesma forma. Sim, é uma fórmula repetitiva, mas se bem feita, pode gerar resultados que não são tão ruins.
Gavin O'Connor dirige aqui, e confesso que não vi muitos de seus trabalhos, apenas o filme de 2011 ''Guerreiro'', que chamou bastante minha atenção. A direção dele conduz bem a obra, tanto nos jogos de basquete -que possuem o tempo certo de aparição, mérito também da edição-, quanto na jornada do protagonista. O tom do filme é triste, fúnebre, melancólico, e o diretor consegue trabalhar isso muito bem, aliando-se e aproveitando muito da performance de Ben Affleck.
O roteiro, sinceramente, não é nada demais. Basicamente, todos os clichês de filmes esportivos estão presentes, tornando toda a trama bem previsível. Mas, mesmo sendo bem formulaico, o roteiro consegue trabalhar bem o vício do treinador Jack, mostrando-nos como afeta sua vida e os motivos de tal vício ter começado. O grande mérito do roteiro é esse, vendendo-se não pelos acontecimentos em si, mas sim pelos pequenos diálogos que aprofundam o seu personagem principal.
O elenco está bem, os personagens secundários são operantes, funcionais, com o propósito claro de serem o apoio do treinador Jack, e cumprem bem o seu papel, sem muito destaque. Já o Ben Affleck, tem o seu personagem mais intimista, que conversa diretamente com o que ele havia passado recentemente na vida real, e o ator conseguiu trazer toda sua experiência para o filme. Podemos sentir todo seu pesar no olhar, no jeito de caminhar, e até na fala arrastada. Affleck interpreta um homem que perdeu tudo, carregado de dor, que só consegue achar conforto numa garrafa de bebida, e ele está perfeitamente bem no papel, provavelmente sendo sua melhor atuação.
É importante como, tecnicamente, tudo conversa de forma adequada em conjunto. A trilha sonora é boa, apostando num piano lento, com tom melancólico e depressivo, conversando muito bem com o filme e, demonstrando em seu som, um homem caído que não consegue mais se levantar. A fotografia é bem acinzentada, não tendo nenhuma cor viva quase presente. E, a edição torna o ritmo do filme bem funcional, não deixando-o se tornar cansativo em momento algum.
''The Way Back'', de fato, não reinventa a fórmula de drama esportivo de superação, e nem procura fazer isso. É clichê, previsível, o desenrolar das coisas acontecem de forma óbvia. Mas, mesmo assim, consegue abordar bem o tema do alcoolismo, conta com uma direção boa, e a performance mais intimista e emotiva de Ben Affleck, que carrega a trama nas costas. Tornando-a, assim, uma obra bem eficiente em sua proposta.
Spike Lee, recentemente tendo ganho o Óscar de Melhor Roteiro Adaptado, pelo excelente ''Infiltrado na Klan'', chega com o novo lançamento -desta vez, Original Netflix- ''Destacamento Blood''. Lee não costuma fazer filmes só por fazer, seus filmes sempre tem algo de importante a dizer, e aqui não é diferente.
O diretor já abre o filme com imagens de acontecimentos reais, que -assim como no final de ''Infiltrado na Klan''- chocam e te fazem pensar; Há muita utilização deste recurso de cortar para imagens das figuras reais, quando são mencionadas, e mesmo parecendo uma vídeo-aula em algumas horas, é uma ferramenta interessante para se aprender um pouco de história e funciona. Lee dirige a obra com total calma e paciência, oscilando entre passado e presente em algumas horas, mas fazendo tal transição ser completamente natural. As partes da guerra, são filmadas em formato diferente das partes do presente, com características de filmes de guerra antigos, dos anos 70\80, e isso funciona muito bem. Há cenas bastante violentas aqui, e não estão presentes de forma gratuita na narrativa, mas mesmo assim, são bem viscerais. Só, para mim, ficou uma sensação de que o filme poderia ser um pouco menor, tendo tempo de sobra na sua longa duração de 2h35min, entretanto, ainda assim, é um ótimo trabalho de Spike Lee.
Roteiro, assinado por ele também, é repleto de mensagens importantes e críticas sociais valiosas. Lee é inteligente e sutil ao explorar temas como racismo, transtorno de estresse pós-traumático e amizade. Com muitas frases marcantes, muitas delas ditas pelo personagem de Chadwick Boseman, o roteiro aborda uma extensão de coisas reais, e a ideia de fazer a parte dos protagonistas envelhecidos se passar nos dias atuais foi genial, para assim, poder cutucar e criticar de forma esperta e sagaz o atual presidente dos EUA. É interessante como, através de toda sutileza, Lee consegue dar um enorme significado a um boné e saber como utilizá-lo na narrativa, dizendo muito sobre quem o usa. Mesmo assim, acho que o roteiro só falha em não conseguir dar o mesmo tratamento a todos os personagens, tendo dois muito mais desenvolvidos do que o resto.
O elenco do filme é muito bom, todos conseguem tornar a amizade e elo que os personagens criam algo completamente crível, mas há quatro destaques aqui. Delroy Lindo, como Paul, é o que possui a mente mais quebrada e a personalidade mais forte, é também o que mais sofre pelos acontecimentos da guerra e que não sabe lidar direito com isso, e o ator transmite isso muito bem, com até direito a um monólogo incrível no final. Jonathan Majors, como David, tem o maior pesar e deslocamento do grupo, tentando ao máximo ajudar e se aproximar de seu pai. Clarke Peters, como Otis, é o oposto de Paul, sendo calmo e sensato ao encarar situações complicadas. Chadwick Boseman aparece pouco, mas quando aparece, rouba a cena, gostaria de ter visto mais de seu personagem.
Tecnicamente, o filme também é bom. Tudo aqui parece remeter a ''Apocalypse Now'', com direito até a um pôster sendo exibido no fundo de uma cena. A edição é muito precisa, principalmente nas transições de época, não atrapalhando o ritmo do longa metragem. Os efeitos especiais, em algumas cenas de tiroteio, são um pouco escancarados, mas nada muito problemático. É importante como a fotografia diferencia as épocas do filme, principalmente em relação ao Vietnã, conseguindo demonstrar o quanto o país mudou. A trilha sonora usa muitas músicas clássicas da época da guerra, contribuindo bastante na ambientação.
''Destacamento Blood'' é um filme violento, com um ótimo roteiro e direção, aborda críticas sociais importantes e que são de EXTREMA relevância nos dias atuais, mesmo tendo mais tempo de duração do que deveria, ainda assim é marcante, cru, ácido e perspicaz.
É um filme que não poderia ter sido lançado numa época melhor.
''Um mundo sem os Beatles é um mundo infinitamente pior''
Estava bem empolgado com este daqui, gosto bastante das músicas dos Beatles e o trailer demonstrava uma premissa interessante e que poderia gerar resultados criativos e fascinantes.
A direção fica por conta de Danny Boyle, que tem filmes muito bons em seu currículo, e sabe como conduzir uma trama. Aqui, ele dá o tom do filme e o mantém do início ao fim, sendo totalmente leve e cômico ao contar a história de Jack. A estética colorida que ele dá a algumas cenas é bem-vinda, trazendo uma excentricidade que conversa com o filme. Não há muita inventividade no modo como ele decide trabalhar os enquadramentos, principalmente nos shows do protagonista, mas é eficiente e operante.
Richard Curtis é o roteirista aqui, um roteirista famoso por escrever comédias românticas e isso fica bem claro. A premissa inicial do roteiro é genial e abre portas para infinitas possibilidades, mas ela é prematuramente apresentada, nos primeiros 10 minutos já ocorrendo o acidente que muda tudo. Acredito também que poderia explorar mais as camadas de seu protagonista, seu relacionamento familiar, o conflito de escrever músicas que não são suas, mas não, isso muitas vezes fica como plano de fundo, sendo pouquíssimo visto em algumas partes. O filme, de fato, é uma comédia romântica, e isso incomoda um pouco, dado a chance do que ele podia ter feito para ser socialmente relevante, com uma crítica ácida à mídia musical. Mas tudo bem, ignorando isso, o roteiro tem piadas boas, referências divertidas à cultura pop, e acerta ao mostrar lentamente a ascensão musical de Jack.
Os atores estão bem, parecem estar confortáveis com os seus papéis, principalmente Himesh Patel, que além de cantar muito bem, passa completamente a imagem de um jovem músico fracassado que tem a enorme chance de fazer sucesso. Lily James é carismática e amigável, conseguindo transmitir o amor enrustido que sente por Jack. Joel Fry está engraçado em algumas cenas. Ed Sheeran interpreta uma versão bem apática de si mesmo.
A trilha sonora é o ponto alto e não teria como não ser, podemos ouvir vários dos sucessos de The Beatles, desde a música-título do filme ''Yesterday'' até ''She Loves You''. Quando a trilha sonora original composta por Daniel Pemberton aparece, ainda assim é funcional, evocando tons das músicas. A edição é apressada e objetiva, conversando com o roteiro. A fotografia é simpática, utilizando muitas cores claras e vistosas.
Em geral, ''Yesterday'' em momento algum parece ser tudo o que poderia ter sido, transformando uma ideia criativa em um roteiro cheio de clichês típicos de comédia romântica. Entretanto, se você ver despretensiosamente, sem esperar muito, ainda assim é um filme divertido e simpático que te entretém por grande parte de suas quase duas horas de duração. Se você é fã dos Beatles, provavelmente irá gostar.
''Missão Impossível'', ao lado de ''John Wick'', é a minha franquia favorita de ação atualmente. Com exceção do segundo -que é o único que não gostei-, todos os filmes renderam boas pedidas para o entretenimento escapista, mas também onde não se é preciso desligar o cérebro para poder aproveitar.
O roteiro segue a mesma fórmula dos anteriores, e isso não é um grande problema, pois há vários franquias que seguem a mesma fórmula e que mesmo assim são boas. As reviravoltas, os conflitos, a missão em si, é tudo explorado de forma adequada e funcionam na narrativa. A trama é previsível e toma rumos esperados -com a exceção de alguns twists-, apesar de em nenhum momento se tornar estafante. Gostei que o roteiro tenta explorar um pouco mais a psique de Ethan Hunt e o seu passado com a sua ex-esposa, é feito de forma natural e eficiente, apesar de não ser muito aprofundado.
Os maiores méritos dos dois últimos filmes desta franquia, foram por causa da direção de Christopher McQuarrie, que tem um olhar perfeito para as sequências de ação, tanto as de maior escala de ambientes abertos, quanto as minimalistas de ambientes fechados. Duas sequências devem ser destacadas aqui: a cena onde Ethan e Walker estão caindo de paraquedas, que foi filmada em um plano-sequência para adentrarmos na ação e fazer sentir-nos na pele do protagonista; e também, a cena do banheiro, onde o diretor usa e abuso de ângulos diferentes para poder criar uma sequência bem memorável. O diretor demonstra que, apesar da fórmula repetitiva, ainda há gás e energia para as histórias desta franquia.
Tom Cruise, mais uma vez, está ótimo na pele de Ethan Hunt, ele já está completamente acomodado ao interpretar este personagem, e ver que ele ainda consegue participar de cenas de ação mais perigosas, recusando o uso de dublês, é extremamente reconhecível e de um mérito incrível. Rebecca Ferguson, Simon Pegg, Ving Rhames, todos atores carismáticos e que estão bem em seus respectivos papéis. Sean Harris, no entanto, continua fazendo esse vilão totalmente desinteressante e mal explorado, que parece ser dono de apenas uma faceta. Henry Cavill está muito bem, gostei de seu personagem e de sua interação com os personagens antigos, ele convence nas cenas de ação e de diálogos e possui um mistério interessante sobre seu passado na CIA.
O fundo verde é perceptível em algumas das cenas mais frenéticas de ação, mas nada que tire muito a qualidade dos efeitos especiais. A fotografia é bonita, principalmente quando a câmera foca mais na amplitude do cenário e deixa os atores como coadjuvantes. A trilha sonora parece ser dona de um tom só, que se baseia no tema principal e nostálgico que todo mundo conhece.
''Missão Impossível: Efeito Fallout'' possui um roteiro bem formulaico, sem grandes diferenças, entretanto, o diretor conduz com maestria as cenas de ação, e Tom Cruise continua bem carismático. É sempre bom assistir um filme que visa o entretenimento de seu público, mas que também não opta por isentá-los de pensar.
Esta é a segunda adaptação da famosa saga dos quadrinhos dos X-Men, a saga da Fênix Negra. Anteriormente, não havia agradado nem o público e nem a crítica com o filme ''X-Men: O Confronto Final'', lançado em 2006, dado isso, parecia ser uma tarefa simples superar o filme de 2006. E superou? Infelizmente, não. Na verdade, me fez até ter um pouco de saudade do outro filme.
Simon Kinberg dirige este aqui, sendo o seu primeiro longa-metragem, e é totalmente perceptível a sua falta de experiência na condução da trama. Tudo parece completamente apressado, os acontecimentos acontecem de uma hora para a outra e com um ritmo que é extremamente problemático, apressado ao extremo -mas isso também é culpa do roteiro, falarei a seguir sobre-. Entretanto, nas cenas de ação, Kinberg demonstra um controle até interessante, principalmente na sequência do fim, onde os personagens se encontram dentro de um trem, é uma sequência empolgante onde o diretor consegue utilizar bem dos poderes de alguns personagens.
O roteiro, também por conta de Simon Kinberg, é o maior problema. Como a Marvel havia adquirido os direitos da Fox, e este seria o último longa dos X-Men deste universo, pareceu que foi escrito de qualquer jeito, com total desleixo e preguiça, sem nenhuma preocupação com o público e, principalmente, com os fãs. Fica uma sensação desagradável de que o estúdio aceitou qualquer porcaria, apenas para fazer dinheiro. A história é horrível, os acontecimentos aparecem na trama jogados de qualquer forma, os personagens não são nem um pouco aproveitados e são escritos de forma pífia, fazendo com que não nos importemos com nenhum. Sobre os vilões, eles simplesmente surgem de repente, sem sabermos quase nada sobre eles, apenas que querem o poder de Jean para destruir o mundo -sério, é realmente só isso-. E os diálogos... oh, deus... os diálogos são tão vergonha alheia que chegam a ser engraçados.
O elenco está muito afetado pelo roteiro, infelizmente. Jennifer Lawrence, entretanto, claramente nem está se esforçando, tendo total apatia com sua personagem, está óbvio que ela está no filme apenas por motivos contratuais, nada mais do que isso. Evan Peters, que possuía o personagem mais carismático desse novo elenco, não é nem um pouco aproveitado aqui, mal aparecendo. James McAvoy está bem, mas o professor Xavier não parece o mesmo, sendo até um pouco arrogante e pretensioso, há uma ausência de sabedoria e inteligência, que eram coisas fundamentais do personagem. Sophie Turner é uma atriz limitada, mas que passa bem o conflito isento de muitas camadas que sua personagem tem. Até a Jessica Chastain está nesse filme, não sei por que, sua personagem é genérica ao nível do vilão de Venom, a atriz foi muito desperdiçada. E, é sempre bom ver o Michael Fassbender atuando.
Tecnicamente falando, os efeitos especiais não tem muita profundidade, não funcionam muito em interação com os atores, para um orçamento tão grande poderiam ter sido bem melhores. A trilha sonora de Hans Zimmer quase nunca é ineficiente, e aqui ele mostra que ainda tem energia para compor e dar o tom para obras de super-heróis, ainda que a obra não tire proveito da boa trilha sonora que tem.
Em geral, ''X-Men: Fênix Negra'' diverte em algumas sequências, principalmente a do final, tem uma boa trilha sonora, mas de resto, tudo é extremamente ruim e ilógico, preguiçoso e desleixado ao máximo, feito com o único propósito de arrecadar dinheiro.
É um crime imensurável a ausência de "Retrato de uma Jovem em Chamas" na categoria do Oscar de Melhor Filme Internacional, afinal é uma obra cinematográfica com conteúdo artístico e poético a ser admirada.
O roteiro é maravilhoso. Toda a parte poética e metafórica do filme é incrível, principalmente porque Héloïse não deixa ninguém pintar seu rosto, afinal, o rosto e o olhar são, de certa forma, as partes que mais demonstram a alma de alguém, e claramente, ela não deixaria alguém conhecê-la aleatoriamente dessa maneira, assim como precisaria de uma certa afinidade com o pintor de seu quadro para que ele pudesse captar corretamente a essência de sua alma e poder transpô-la através de uma pintura. Héloïse, portanto, é minha personagem favorita do filme, pois tem uma complexidade e um conflito que são muito interessantes, o roteiro também fala muito sobre como as mulheres eram tratadas na época, e sua obrigação de casar com quem lhes fosse designado, sem escapatória. A relação que as duas personagens criam é linda, sem pressa, tudo é completamente natural e esplêndido, as conversas que elas compartilham juntas são excelentes.
A direção de Céline Sciamma só exalta ainda mais a beleza do roteiro, com imagens poderosas, significativas e bastante sutis, há muita troca de olhares e silêncio entre os personagens. A diretora passa toda a tensão sexual entre os dois, suas vontades - e, ao mesmo tempo, o medo - de colocar seus sentimentos uma pelo outra para fora. Além disso, o erotismo que o filme possui é mais sensorial e psicológico, aqui não há cenas gráficas de sexo, e isso é incrível, pois muitos homens na sociedade atual ainda vêem o lesbianismo como uma forma de fetiche sexual, é uma perversão que deve ser combatida.
As atrizes principais são esplêndidas. Noémie Merlant transmite muito bem a imagem de uma pintora culta, com suas limitações impostas pela sociedade por ser mulher, e que progressivamente se apaixona. Adele Haenel também está perfeita, ainda mais do que Noémie, ela passa, com total naturalidade, toda a solidão, conflito interno, tristeza, perda, medo, que sua personagem sente. Luàna Bajrami interpreta a empregada, ela está bem, mas num certo momento, o filme começa a lhe dar muito foco, e isso para mim tirou um pouco do processo íntimo e focado que estava na história de Marianne e Héloïse.
A cinematografia deste filme é incrível, desde ambientes mais escuros, como a casa de Héloïse, até os mais claros, como a praia, são aprofundados e exaltados pelas cores e o fato de que a cinematografia parecer ter sido feita com o propósito de reproduzir magníficas pinturas de arte. A edição e mixagem de sons também são ótimos, os sons de tudo são os mais realistas possíveis. A trilha sonora é quase inexistente aqui, portanto não há muito que se possa dizer.
Tudo o que está acontecendo na tela nos leva a acreditar que estamos assistindo poesia em forma de filme, e isso é sempre bom. A forma como o fogo é mostrado, tanto no título quanto na obra, nos ajuda muito a entender a psique de Héloïse, que é bela, melancólica, amorosa e solitária. Assim, o final do filme capta toda a essência da obra, terminando no momento certo, no ápice de sua tristeza e melancolia, com uma câmera quieta e focada na reação do personagem. É emocionante e de partir o coração.
"Retrato de uma Jovem em Chamas" é poético, artístico - talvez o filme mais artístico do ano de 2019 -, sutil, que pode emocioná-lo, fazê-lo pensar e abordar temas importantes, além de ter belas metáforas. Um filme lindo.
Argento é um mestre do terror, isso é um fato, sendo reconhecido por todos os fãs de cinema como tal. Comecei a aventurar-me por seus filmes faz pouco tempo, este é apenas a segunda obra que assisto dele -a primeira sendo Suspiria, que achei excelente-, e aqui ele mostra mais uma vez o seu talento.
Numa mistura de fantasia e horror, o filme é muito bem dirigido por Dario Argento, que consegue criar cenas tensas, utilizando muito da iluminação e da trilha sonora. É impressionante o que ele consegue fazer, ao mesmo tempo que usa muito do terror gráfico e gore, ele consegue ser sugestivo e misterioso ao executar as cenas de mortes. A movimentação de câmera conversa muito com o filme, sendo um fator crucial para condução da trama.
O roteiro é ok, tem suas falhas, a primeira metade de ''Phenomena'' funcionou mais para mim, abordando bastante esse apego e interação que a protagonista tem com insetos, as partes na escola também são boas, remetendo um pouco ao que foi feito em ''Suspiria''. A segunda metade perde um pouco de seu mistério e sua sutileza, é um pouco caricato e já foi feito por vários filmes do gênero, sendo mais voltado para o horror e esquecendo um pouco a fantasia. A revelação de quem é o assassino é previsível. Mesmo assim, o diretor consegue fazer o final funcionar, tornando-o divertido de se assistir para quem é fã de sanguinolência.
Jennifer Connelly está novinha aqui, e é interessante ver como, mesmo assim, consegue transpassar toda a inocência, doçura e vulnerabilidade de sua personagem. É uma protagonista que, de imediato, ganha a empatia do espectador. Daria Nicolodi também está bem, com uma personagem que vai ganhando importância ao longo da trama. Donald Pleasence passa bem a imagem de um professor que entende bastante de insetos, fazendo-o assim logo criar um vínculo com a protagonista, as cenas dos dois juntos funcionam.
Eu adorei a trilha sonora de Goblin, com tons bruscos e densos, é assustadora e desconfortável. As escolhas musicais, ao som de Iron Maiden, são de meu gosto, amo, mas parece que as músicas não conversam muito com algumas cenas. A maquiagem é perfeita, tudo parece crível, graças a grande utilização dos efeitos práticos. Apesar de não esbanjar do uso das cores aqui, a fotografia usa muito da escuridão, mas com iluminação suficiente para que o que está em tela possa ser visto, ajudando no mistério.
Em geral, ''Phenomena'' conta com uma ótima construção de horror e mistério, uma protagonista que é facilmente ''gostável'', um roteiro ok, mas não possui muito equilíbrio na hora de explorar o seu lado fantasioso. Mesmo assim, é um filme divertido que merece ser assistido.
''Ameaça Profunda'' já possui uma história genérica por si só, há vários filmes com a mesma temática, mas se a temática for bem trabalhada pode gerar resultados até satisfatórios, como foi com o bom ''Vida'' de 2017. Mas não, esse não é o caso aqui, pelo menos, não para mim.
O roteiro é completamente raso e sem qualquer profundidade em seus personagens, o que torna difícil se importar com qualquer um deles. Não dá nenhum espaço para poder desenvolver um pouco as relações entre o grupo, grupo esse que é formado totalmente com esteriótipos clássicos do gênero. O que pode ser visto como objetividade, do filme já começar na adrenalina e com um conflito claro, eu vejo-o como desleixo e preguiça.
A direção de William Eubank é eficiente em algumas horas, mas deixa a desejar em algumas cenas de ação, onde fica difícil conseguir entender o que está acontecendo, chegando a parecer um filme dirigido por Michael Bay. Mas fora essas sequências, ele até consegue criar uma tensão e um certo temor pelas criaturas. Há um excesso de jumpscares, onde alguns são funcionais, mas outros não, em geral não afetaram tanto a experiência, não me incomodaram.
Kristen Stewart está muito bem aqui, consegue carregar a trama nas costas e, com seu carisma, fazer-nos até criar uma empatia com a personagem, coisa que o roteiro definitivamente não consegue fazer. T.J. Miller é o alívio cômico, que não funciona, não tem nenhum timing e não é engraçado. Vincent Cassel, Jessica Henwick, John Gallagher Jr. estão operantes, mas com nenhum destaque.
Tecnicamente, o filme é bom. A edição e mixagem de som são muito bons, os barulhos e ruídos conseguem nos deixar angustiados e desconfortáveis. Gostei bastante do design das criaturas, são monstros imponentes e bem feitos. Os efeitos especiais funcionam. A trilha sonora é ok, parece a mesma utilizada em outros filmes do gênero, com nenhum tom que a diferencia.
A narração da protagonista no início e fim do filme, é algo bem desnecessário e que poderia ser removido. Acredito que a obra teria funcionado se fosse maior, dando mais espaço para a loucura interna dos personagens e explorando mais sua situação, algo meio sugestivo, como um conto Lovecraftiano. Ah, por falar em Lovecraft, o final do longa funcionou perfeitamente para mim, e com certeza fará com que os olhos dos fãs do autor brilhem com tamanha referência. É um final ótimo, para um longa que não é bom.
''Ameaça Profunda'' tem uma protagonista carismática, é tecnicamente bem executado, é divertido em algumas horas, o final é ótimo, mas possui personagens completamente rasos e inexplorados, um roteiro fraquíssimo e cenas de ação confusas. Não se sobressai nos filmes do gênero, é só mais um exemplar genérico e esquecível.
Após várias polêmicas nos EUA, e até chegando a ser adiado, pois o presidente Trump havia criticado fortemente a obra, alegando até que o filme pretendia ''provocar o caos'', fui assistir ''The Hunt'' esperando uma obra satírica ácida e corajosa. Bom, eu estava enganado.
O roteiro parece dar as suas informações de forma jogada, querendo criticar um grupo bem específico de pessoas, e tal crítica poderia ter sido mais bem trabalhada, ao meu ver. Tem diálogos que são engraçados, expõem e ridicularizam a forma de pensar e até as atitudes de certos seres-humanos, faz pensar um pouco até, bem pouco, mas nada mais do que isso, o roteiro não aprofunda a sua crítica social de forma que possam ser geradas discussões e reflexões mais importantes sobre o tema. Aliás, esses diálogos em forma de ''crítica'' começam a ser subutilizados pelo roteiro, a chegar um ponto que começam a ficar chatos e repetitivos.
A direção de Craig Zobel injeta vida ao roteiro problemático. Sabendo muito bem controlar a câmera nos ambientes mais abertos, tal como em ambientes mais fechados. O filme abre bem até, os primeiros 20 minutos são bem divertidos, sanguinários, utiliza muito bem da reação dos personagens a tal situação apresentada a eles e apresenta novas situações que geram momentos que entretêm. Isso até a personagem de Betty Gilpin se tornar a protagonista da trama, que começa a ir ladeira abaixo. Ainda assim, Craig Zobel continua aproveitando a ação e a controlando com visão.
A atuação de Betty Gilpin é um pouco afetada e até estereotipada, mas ela até que consegue conduzir a trama e fazer com que nos interessemos pela personagem. Hillary Swank está perfeitamente cínica e perversa aqui, nos entregando a personagem mais interessante do filme, ao meu ver. O resto do elenco estão mais estereotipados ainda, e não tem muito destaque.
Há vários elementos de ''Uma Noite de Crime'', ''O Albergue'' e, principalmente, do mais recente filme brasileiro ''Bacurau''. Mas o que funcionava nessas obras, parece ter sido completamente deixado de lado aqui, o que me faz pensar que o filme teria se beneficiado e MUITO, se deixasse de ser uma sátira social e optasse por apenas ser um thriller de ação.
''The Hunt'' tem vários momentos legais, me entreteve, tem um bom diretor no comando, mas, em geral, sofre muito pelo roteiro que não aprofunda nenhum dos temas que pretende abordar e criticar, o que faz o filme se perder completamente em sua proposta e não conseguir passar bem a sua mensagem. Poderia ter sido bem melhor.
Confesso que fui assistir Swallow esperando um terror, coisa que, de fato, o filme não é, mas isso não o torna ruim, afinal possui temas muito interessantes que são explorados de maneira bem eficiente.
Carlo Mirabella-Davis conduz o filme de forma paciente e interessante, conseguindo explorar este belo estudo de personagem, o fazendo funcionar como um drama com toques de thriller psicológico. Claro que há cenas que são bem desconfortáveis aqui, e o diretor usa muito da sugestão para causar assim uma sensação incômoda maior ainda no espectador. Por exemplo, algumas vezes não precisa-se mostrar graficamente ela engolindo os objetos, ele opta por transitar a câmera pelo ambiente e apenas mostrar os objetos cuidadosamente colocados um do lado do outro pela protagonista.
O roteiro aborda assuntos que são bem atuais e importantes, tais assuntos esses como o lugar pré-estabelecido da mulher na sociedade -onde ela é obrigada a ficar em casa, enquanto o homem trabalha-, traumas, relacionamento abusivo e possessivo, aceitação, e, principalmente, o corpo da mulher e sua posse por ele. Também fala sobre como, muitas vezes, algumas pessoas deixam de fazer algo em prol da total satisfação de seu cônjuge.
A atriz principal, Haley Bennett, está perfeita aqui, conseguindo demonstrar toda a infelicidade, insegurança e psique de sua personagem, muitas vezes apenas com o olhar. De resto, o elenco de apoio funciona, mas não há muitos destaques aqui, todos operantes, mas que são completamente ofuscados pela atuação da protagonista.
Tecnicamente, achei um trabalho eficiente, falando como um conjunto em si. A fotografia aqui ajuda a contar a história, mostrando muito do cenário e o distanciamento da protagonista em relação a ele. A trilha sonora é inquietante, principalmente nas cenas quando os objetos são engolidos. A mixagem de som também não deixa a desejar. Em geral, tudo conversa muito bem.
O jeito que o filme acaba é maravilhoso, conseguindo passar uma mensagem que é muito importante e que deve ser escutada.
''Swallow'' não deve ser classificado como terror, é um estudo de personagem dramático com toques de thriller psicológico e que possui uma mensagem atemporal sobre empoderamento feminino.
Eu queria, e muito, ter gostado desse último capítulo da nova trilogia de Star Wars. Minhas expectativas, após ter assistido o trailer, estavam altíssimas, mas depois do lançamento e da enxurrada de críticas negativas, optei por assisti-lo em casa, quando saísse digitalmente. E estava certo.
O que mais afeta este filme, certamente é o roteiro, que opta por trazer alguns personagens do passado -deram um jeito de trazer até o Palpatine, que estava morto- de forma esdrúxula e completamente jogada, sem fazer sentido algum. As situações aqui são bem previsíveis, com o roteiro seguindo por caminhos fáceis e seguros, que podem agradar alguns fãs, mas que com certeza não foi o meu caso.
J.J. Abrams e Chris Terrio fizeram a pior coisa que poderiam fazer, ouviram os fãs que não gostaram de ''Os Últimos Jedi''. Parece que o filme ignora quase que totalmente a existência do episódio 8, e isso afeta muito os personagens e a trama. Quer dizer, a excelência imprevisibilidade que Rian Johnson injetou na franquia parece ter sido jogada no lixo, sem dó e nem piedade.
J.J. Abrams dirige o filme de forma operante, tendo uma visão muito boa para as cenas de batalha, mas que não consegue dar nenhum impacto para as cenas que necessitavam de um peso maior, todas as ações aqui parecem sofrer de total falta de impacto ou de um senso de consequência. Não nos preocupamos com certos personagens, pois dá para ver que não há coragem alguma na direção e no roteiro de J.J.
Os atores continuam muito bem, e é sempre um deleite para os olhos de ver Adam Driver atuando com Kylo Ren, que chega aqui ao ápice de sua dúvida entre qual lado pertence, sendo o personagem mais interessante e complexo da nova trilogia, rendendo os melhores momentos deste novo filme, mas que não possui um final adequado para seu arco. Daisy Ridley ainda é muito carismática e conduz bem a trama, já o John Boyega como Finn e Oscar Isaac como Poe, estão operantes mas que parecem terem sido muito afetados pelo roteiro. Ah... o roteiro...
Os efeitos visuais são estonteantes, mas isso já era esperado. A fotografia também é bem eficiente, gostei de como ela é utilizada, principalmente nas cenas da ''casa'' dos Sith. A trilha sonora de John Williams continua envolvente e emocionante. Tecnicamente, é um longa bem executado.
Uma saga de tamanha grandiosidade merecia um final bem mais adequado e menos previsível, o jeito que o filme acaba e a conclusão para tudo é tão fraco que não dá vontade nem de falar sobre. Não, não é um filme horrível, mas é bem desapontante, principalmente após essa nova trilogia ter se iniciado tão bem com ''O Despertar da Força'' e seguir de forma completamente diferente e inusitada -no bom sentido- em ''Os Últimos Jedi''.
Estou triste e desapontado, e apesar deste filme ser tecnicamente bem feito, possuir bons momentos e algumas batalhas legais, ''Star Wars'' com certeza merecia um final melhor, não essa bobagem que mais parecia uma fanfic escrita por um adolescente. Não é nem horrível e nem bom, é apenas fraco.
Após anos, outra refilmagem americana da famosa obra japonesa é lançada, com um diferencial, desta vez tem a produção de Sam Raimi, um mestre do terror que já havia produzido em 2019 um longa bem interessante, chamado ''Crawl''. Dado isso, estava com expectativas positivas -por incrível que pareça- em relação a esta nova refilmagem.
De início, até confesso que estava um pouco engajado, chegando a questionar-me um pouco do motivo deste filme ter sido tão massacrado por todas as críticas que li. O longa até mostra algumas cenas de mortes interessantes e sangrentas, mas que não o salvam de ser um completo desastre.
A direção é completamente apática, por conta do diretor Nicolas Pesce, que estreou em 2016 com o longa ''Os Olhos de Minha Mãe''. Há uma total falta de criatividade aqui ao contar a história, com cortes de cenas para o passado mal-utilizadas e que não fazem sentido nenhum com a cena que a antecedia. Apelando para o uso de jump-scares TODA SANTA HORA, e que não funcionam nem um pouco, pois são completamente telegrafados.
O roteiro apresenta algo interessante, de mostrar a história da casa em três anos diferentes, poderia ter sido bem abordado e até dar a porta para infinitas possibilidades em que faria essas histórias se interligarem de maneira inusitada, mas o roteiro acaba por não mostrar nenhum sentido em mostrar essas histórias juntas uma da outra, sem um propósito narrativo claro. É uma escrita muito preguiçosa, até para com os personagens, que não são nada originais, não passando de esteriótipos já vistos em outras histórias do gênero.
Sobre os atores... bem... eles estão aí para serem pagos. A protagonista não convence nada como detetive, tudo bem que ela não tinha lá um bom texto para ser explorado, mas poderia ter feito melhor. O elenco de apoio, então, pior ainda, personagens e atuações completamente esquecíveis, com a exceção dos sempre bem Lin Shaye e John Cho, que se esforçam na medida do possível.
O número de cenas que chegam a ser risíveis aqui é extraordinariamente grande, sério mesmo, me fazendo pensar várias vezes que as cenas pareciam de filmes-paródia como ''Todo Mundo em Pânico''. É impossível que o diretor olhou as cenas enquanto gravava e não imaginou que aquilo ficaria engraçado, é realmente um trabalho para filmes de comédia. Da parte técnica, a edição é bagunçada, e a trilha sonora, juntamente da fotografia, são ok.
Esquecível, óbvio, estúpido, genérico, desnecessário, bagunçado, involuntariamente engraçado e totalmente sem sentido, essas são as melhores definições que posso dar da refilmagem de 2020 ''O Grito''.
Um filme muito interessante e com uma clara crítica á violência nos EUA, servindo como uma obra reflexiva e que faz-nos pensar sobre a nossa sociedade contemporânea e muito também sobre fascismo.
O roteiro é muito inteligente, trabalhando bem a forma como enxergamos o personagem de Michael Douglas, de início até com certa empatia -dado a oportunidade de podermos nos identificar com algumas situações vividas por ele, afinal, todos já tivemos um dia ruim, não é mesmo?- , entretanto, ao final já o encaramos com um olhar diferente, dado o desenvolvimento e as novas informações que aprendemos ao longo do filme sobre ele. Muito fascinante acompanhar a jornada deste homem neste seu dito ''Dia de Fúria'' -igual o título em brasileiro nos propõe-, pois a obra tem muito a dizer sobre como certas pessoas não entendem como podem ser elas as causadoras do verdadeiro mal na sociedade. Acredito que o roteiro só peque no arco do policial que está se aposentando, sendo genérico e clichê por si já em sua ideia, mas também não conseguindo acompanhar o ritmo da história do protagonista, com cenas previsíveis e que levam a um resultado óbvio.
A direção de Joel Schumacher faz o ritmo do filme ser bem trabalhado, apesar dos dois personagens centrais terem ritmos diferentes em sua história, o diretor conduz bem e não torna os cortes de cenas bruscos. A forma como a câmera gira pelo protagonista e pelo cenário em algumas cenas são eficientes e ajudam a desenvolver um certo desconforto e ansiedade, tais como o protagonista está sentido na cena em questão. É um bom trabalho de direção, principalmente como aproveita muita da ambientação dos cenários para contar a história de Bill.
Michael Douglas passa com total credibilidade a imagem de um homem que não se importa com mais nada, com um sério problema de temperamento, dando a sensação de de que ele pode explodir de raiva a qualquer momento, mas também ganhando mais informações sobre ele durante o filme. Robert Duvall também está bem, com um personagem preocupado, contido, carismático e que é fácil de se gostar.
''Um Dia de Fúria'' é um clássico que deve ser assistido, tanto pela mensagem reflexiva de seu roteiro, quanto pela direção e o bom trabalho dos atores principais.
''A única coisa valiosa que ele me deu foi dor'' ''Uma semente tem que se destruir totalmente para se tornar uma flor''
Estas duas frases podem resumir completamente o filme, e, mais precisamente, como foi a infância conturbada que Shia Labeouf teve com seu pai.
Em um processo de auto-terapia, Labeouf escreveu o roteiro deste longa, baseado em seus traumas de infância, enquanto estava em uma clínica de reabilitação. É um roteiro que funciona notavelmente como maneira de reflexão, principalmente para quem teve problemas com os pais quando era pequeno, muitas das situações aqui presentes são extremamente realistas e cruas, que com certeza fará com que várias pessoas se identifiquem em vários momentos -para mim, aconteceu em uma cena bem específica do filme-.
A fotografia é muito bonita, utilizando muito bem da iluminação e das cores do ambiente para dar emoção a certas cenas. A trilha sonora mais intimista em alguns momentos, e com a utilização de músicas com significado que casam com a trama em outros, é também muito eficiente e funciona.
Deve ter sido muito difícil para Shia Labeouf interpretar o seu pai, pelo menos, emocionalmente falando, e ele dá um show aqui, fazendo uma figura paterna completamente detestável, mas que tem seus motivos para isso, mas que nunca justificam o modo como trata seu filho. Aliás, filho esse que é muito bem interpretado por Noah Jupe, que faz-nos sentir muito pela vida que ele leva, nos importando com o seu personagem. Não pode se dizer o mesmo de sua versão adulta, interpretada por Lucas Hedges, que apesar de não atrapalhar, não ajuda muito.
É o primeiro longa-metragem da diretora Alma Har'el, que consegue conduzir este roteiro intimista através da tela, oscilando muito bem entre as cenas do passado e as cenas do presente do protagonista. Apesar de não possuir muita identidade, Alma Har'el consegue nos adentrar dentro da história deste garoto e também nos aprofundar nos sentimentos dele de uma maneira que é digna de nota, principalmente na cena final.
''Honey Boy'' é um filme que é muito íntimo para Shia Labeouf, e através dessa intimidade e dessa realidade que ele consegue transpor, faz-nos refletir bastante e certamente fará muitos se identificarem com o longa.
Espiral: O Legado de Jogos Mortais
2.2 527 Assista AgoraA franquia ''Jogos Mortais'' é muito amada por boa parte dos fãs de torture-porn, mas muita gente também diz que o único da franquia que prestou foi o primeiro. Já eu, fico no meio do muro, achando a franquia, como um todo, inconsistente; digo isso tendo gostado consideravelmente do primeiro e do segundo, e também tendo achado o terceiro e o sexto um entretenimento bacana. Logo, sim, acredito que a franquia precisava de uma revitalizada.
A direção fica por conta do já conhecido Darren Lynn Bousman, que dirigiu anteriormente o segundo, terceiro e quarto capítulo da franquia. Se a proposta era trazer uma revitalizada para a franquia, mais voltada para o mistério, não faz sentido terem colocado o filme sob comando de Darren, afinal sua visão para esse projeto não agrega nada de novo, apostando muito no que já havia sido feito anteriormente, como a clássica acelerada de câmera nas cenas das armadilhas. O diretor não parece muito interessado em contar essa história de forma diferente de outros da franquia, ou até diferente de outros thrillers policiais dos anos 2000, a trama flui de maneira trivial.
Mas o maior problema do filme não está por conta de sua direção, e sim por conta do roteiro escrito por Josh Stolberg e Pete Goldfinger... que roteiro ruim! Fica claro que a obra se leva a sério demais em alguns momentos, e a sério de menos em outros. A inspiração no clássico ''Seven'' é óbvia, porém o roteiro simplesmente não consegue trabalhar bem os seus tons distintos, seja suspense, terror ou até comédia. A maneira como a revelação final é entregue de bandeja em uma das cenas chega a ser um insulto a quem está assistindo, preguiçoso e previsível ao extremo. Os diálogos hora são até divertidos de se acompanhar, hora são de dar vergonha alheia. O roteiro até procura fazer um comentário sobre corrupção policial em certos momentos, mas tal comentário em sua maior parte soa como algo superficial que já foi trabalhado de forma mais relevante em outros filmes.
A trama é contada através do protagonista interpretado por Chris Rock, que está interpretando um personagem sério aqui, algo inédito para mim, e afirmo com toda a certeza que simplesmente não funciona. Ele tenta, isso não posso tirar dele, ele até tenta ser levado a sério, no entanto, suas expressões faciais não transmitem nenhuma credibilidade, soando totalmente robótico e durante todo o filme parecendo estar se sentindo preso, desconfortável ao interpretar um papel dramático, tanto que as cenas que mais funcionam dele são as que ele está falando algo mais engraçado ou descompromissado. Sobre o resto do elenco, Max Minghella é até carismático em boa parte do tempo. Marisol Nichols é funcional, apesar de ter uma personagem já vista trilhões de vezes em outros filmes. E Samuel L. Jackson está ali para dizer ''motherfucker'' -algo que ele faz muito bem- e fazer papel de esquentadinho.
O ritmo do filme é até fluído, isso graças à sua duração que não é extensa e à sua edição, fatores que fazem o longa passar rápido. As armadilhas não são as melhores, nem as mais criativas, mas quando estão em cena conseguem transmitir um senso de dor e ansiedade, através do famigerado gore, que tanto tornou a franquia mundialmente conhecida. É empolgante ver o tema original tocando novamente, até porque em termos musicais é uma faixa assustadoramente deliciosa, mas de resto a trilha sonora original não tem nada que se destaque muito, apesar da seleção musical de raps ter sido interessante.
Em suma, ''Espiral: O Legado de Jogos Mortais'' vem com uma ideia interessante, de transformar a franquia em algo mais voltado para o suspense, mas essa ideia não é bem trabalhada, o roteiro é desleixado, a reviravolta é previsível, a direção é marcada por sua falta de inspiração e a atuação de seu protagonista chega a ser triste, pelos motivos errados. Apesar de ter algumas armadilhas bem feitas, o longa não justifica sua existência, fazendo-o ser mais um exemplar qualquer de uma franquia que já se desgastou, o coloco lado a lado com ''Jogos Mortais: O Final'' como os piores ''Jogos Mortais'''.
O Que Ficou Para Trás
3.6 510 Assista AgoraO gênero terror muitas vezes é utilizado para passar mensagens relevantes e críticas sociais, e isso vem cada vez ganhando mais força, graças a diretores como Jordan Peele, que tem muito talento para conseguir trabalhar os artifícios mais clássicos deste gênero juntamente da mensagem que procura transmitir ao público. E eu só tenho a agradecer, pois para mim, estes são os melhores filmes para se assistir.
É o filme de estreia do diretor Remi Weekes, o que é quase imperceptível, porque o diretor tem total controle da obra que está conduzindo, sabendo trabalhar bem a história triste que os personagens carregam, o drama que eles enfrentam, em contraste com as cenas mais assustadoras, e que deixam o espectador completamente apreensivo e tenso enquanto as assiste. Ao meu ver, talvez os espíritos pudessem aparecer um pouco menos, gerando assim uma curiosidade maior por parte do público, e fazer nossa imaginação trabalhar mais, mas não chega a incomodar ou atrapalhar o conjunto da obra como um todo.
O roteiro, também escrito por Remi, é muito inteligente ao abordar temas importantes, juntamente à cultura do casal protagonista e os costumes que eles tiveram que deixar para trás para poder se adaptar a este novo país. A questão da imigração, e as dificuldades que os imigrantes enfrentam, são muito cruas e reais, além do roteiro ter uma mensagem forte sobre o racismo e a ignorância das pessoas em relação a culturas de países estrangeiros. O trauma que os personagens enfrentam, a agonia e desespero de ter uma casa que pode ser tirada de você a qualquer momento, o terror de viver em um país que é totalmente desacolhedor, estas coisas são ainda mais assustadoras do que os fantasmas que os assombram. É um roteiro sagaz, que usa o terror como pano de fundo para poder contar uma história aterradora sobre imigração, além de possuir um final com reviravoltas e quebras de expectativas funcionais e interessantes.
O elenco trabalha muito bem e transmite todas as emoções necessárias para com seus personagens. Sope Dirisu está tentando ao máximo se adaptar, possuindo um medo genuíno em seu olhar, nós podemos enxergar o quão foi difícil viver em seu país de origem e que ele está disposto a fazer qualquer coisa para não voltar para lá. Wunmi Mosaku está excelente, carregando muita tristeza, muito amor por sua cultura e possuindo uma dificuldade enorme ao tentar se ambientar ao novo país que vive. Matt Smith aparece em poucas cenas, servindo como uma ferramenta para dificultar ainda mais a permanência do casal neste país, e ele faz bem este papel.
A parte técnica também é ótima, a fotografia é muito alaranjada em vários momentos, escurecida em outros, além dos enquadramentos e o design de produção conseguindo capturar a sujeira, a bagunça e degradação do lugar que os personagens são obrigados a morar. A trilha sonora utiliza de elementos culturais para compor as cenas, e que funciona e enaltece ainda mais os acontecimentos e psique do casal.
Há vários momentos importantes e que te fazem pensar nesta obra, tais como a cena em que Bol está numa loja de roupas e só há figuras de pessoas brancas na parede, além dos vizinhos se portarem de maneira condenativa e que deixa claro o desprezo que possuem por gente que não são de seu país. A forma como os personagens constantemente tentam dizer que o casal é privilegiado por estarem naquele país, e ainda possuem uma casa maior do que a deles, diz muito sobre a sociedade e como muitas pessoas pensam. A relevância de tais atos, em apoio às cenas de terror, funcionam muito para definir a vida difícil que os protagonistas enfrentam.
Em resumo, "O Que Ficou Para Trás" é uma obra que choca muito pela forma como aborda temas importantes, como racismo e imigração. E isto, junto das cenas mais fantasiosas e assustadoras, funciona muito e só ajuda a transformar o filme no melhor terror do ano até agora.
Caixa Preta
3.2 175 Assista AgoraGosto, consideravelmente, dos filmes da produtora Blumhouse, então quando vi a notícia do projeto de parceria entre a Amazon e a Blumhouse, onde seriam lançados vários filmes de terror no mês de outubro, me empolguei com a ideia. "Black Box", juntamente com "The Lie", foi adicionado hoje ao catálogo.
A direção fica por conta de Emmanuel Osei-Kuffour, e, sinceramente, achei a sua direção um pouco morna e sem emoção. Ele não faz nada muito diferente aqui, enquadramentos sem muito propósito, cenas de terror sem muita sutileza; é o primeiro longa-metragem do diretor, e infelizmente não gostei muito de sua condução do filme, parece algo muito automático e sem vida, todas as cenas onde precisa-se de um certo apelo emocional para funcionarem, não funcionam. No entanto, a "criatura" interpretada por Troy James, um contorcionista bem famoso, gera uma sensação bem desconfortável de se assistir.
O roteiro, também escrito por ele, já é um pouco mais interessante, explorando crise de identidade, pessoas que não sabem lidar com a perda e a má utilização da tecnologia. O primeiro ato do filme, foi o que mais me deixou fixado na tela, pois o espectador se sente desorientado, tal qual o protagonista, sem saber bem o que aconteceu no passado dele e o que significam as memórias acessadas através do aparelho. Mas, quando o filme começa a explicar o que aconteceu, eu achei a explicação da perda de memória do protagonista um pouco previsível, mas até gostei da razão principal daquilo acontecer. Em geral, é um roteiro que poderia facilmente ser um episódio de Black Mirror, mas infelizmente este aqui não gera o impacto e a intensidade da série, fazendo-o servir apenas como uma boa peça de entretenimento para os fãs de terror e sci-fi.
O elenco está bem, em geral. Mamoudou Athie não entrega uma excelente performance, cheia de camadas e mais, mas consegue fazer criarmos empatia para com o seu personagem e gerar uma curiosidade sobre o que pode ter acontecido com ele. Amanda Christine está muito bem, interpretando a filha de Nolan, a preocupação e o amor que ela sente por seu pai são transmitidos de forma genuína. Tosin Morohunfola e Phylicia Rashad interpretam personagens que são um pouco unidimensionais, mas os atores fazem o possível e estão operantes.
Tecnicamente, o filme não chama muito a atenção. A montagem dele é fluida, fazendo a trama não ser muito difícil de acompanhar. A fotografia não tem nada demais, e a trilha sonora parece algo reciclado de outros 1000 longa-metragens do gênero do terror, é algo absurdamente genérico.
Mas, como um todo, "Black Box" gera um interesse por sua trama que se sustenta por boa parte do filme, tem um roteiro com potencial para ótimas ideias, mas acaba muitas vezes caindo no genérico, e não tendo coragem e nem impacto o suficiente para fazê-lo ser uma obra memorável. Dado isso, o filme acaba sendo uma boa pedida para entretenimento durante uma tarde de domingo, nada mais que isso.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraKaufman está de volta, e com tudo! Um dos melhores roteiristas em atividade atualmente, nos entrega outro trabalho digno de sua autoria, repleto de metalinguagem, mensagens e momentos em que você começa a se perguntar ''que porra é essa que estou assistindo?''.
Como diretor, esse apenas é o terceiro filme de Charlie Kaufman, que havia dirigido anteriormente Sinédoque, Nova Iorque e Anomalisa, ambos muito bons. Aqui, o diretor opta por contar a história toda através de câmeras de 35mm, e funciona, nos deixa focados nos personagens e em suas ações, enquanto dá uma certa sensação de claustrofobia. Ao conduzir a trama, Kaufman é completamente paciente, o que pode irritar alguns espectadores, pois há momentos que são bem lentos e, certas horas, cansativos, dada a tentativa do diretor de nos fazer imergir no filme e contemplá-lo. Para mim, isso foi um acerto, pois de fato é um filme que requer certa atenção e paciência para ser melhor admirado.
Sobre o roteiro, assinado também pelo Kaufman, é repleto de simbolismos. Há brechas suficientes para você criar sua própria teoria sobre o que está acontecendo, a minha consiste basicamente
em que a obra inteira é contada sob o ponto de vista do personagem Jake, onde na verdade, ele não teria conseguido lidar bem com o término iminente de seu relacionamento com a personagem de Jessie Buckley e isso teria acabado com sua vida profissional, o que faria ele se tornar um zelador solitário, que frequentemente se vê recordando memórias passadas com sua ex-namorada, antes de ''acabar com tudo'', tendo se suicidado ao final da obra. Isso explicaria o número de dança do final, que representaria a ''morte'' do relacionamento dos dois, e também explicaria o olhar de certa nostalgia do zelador ao entregar os calçados à protagonista, além das semelhanças de seu antigo relacionamento com o filme que ele estava assistindo.
O elenco é excelente, todos estão perfeitamente bem em seus papeis. Todos os personagens tem momentos bizarros, e Jessie Buckley parece ser a mais normal dali, servindo como uma protagonista que o público possa se identificar, as suas expressões de estranheza são perfeitas, seu olhar distante, suas reações, suas tentativas de parecer agradável para os pais de Jake, é uma ótima interpretação. Jesse Plemons é um ator subestimado, vem cada vez mais demonstrando ser um excelente ator que consegue transmitir emoções com naturalidade, dado seu personagem exigir uma certa retração, uma raiva interna em seu olhar e um mistério inquietante no seu jeito arrastado de falar. Toni Colette e David Thewlis estão adentrados na bizarrice e nos trejeitos de seus personagens, funcionam bem e tem momentos interessantes.
A parte técnica também é muito eficiente, o design de produção daquela casa, a fotografia que contempla a neve e o frio estrondosos, além de transformar os ambientes em lugares totalmente claustrofóbicos, seguem belamente a proposta do filme, que é te deixar desconfortável e angustiado. Achei a trilha sonora, principalmente a faixa principal, transpassando um ar misterioso leve e suave, o que é até irônico.
Em geral, Kaufman entrega o melhor filme do ano até aqui, para mim. O filme de 2020 que mais me fez pensar, que mexeu comigo, me deixou angustiado e confuso em vários momentos. Isso, somados à excelente interpretação de todo elenco e a parte técnica que constrói magistralmente o ambiente, tornam-o uma obra que deve ser admirada, mesmo tendo alguns momentos cansativos e não ser de fácil digestão.
Spree
3.0 124Esse filme pode ser considerado um slasher da era atual, com sua história contada através de redes sociais, como ''Host'' e ''Amizade Desfeita'', e uma trama que junta elementos de filmes como ''O Rei da Comédia'' e ''Psicopata Americano'', mas é claro, sem ter a profundidade desses citados.
O diretor, Eugene Kotlyarenko, opta por conduzir a narrativa através das câmeras localizadas no carro do protagonista, e também variando das transmissões ao vivo em celulares de alguns personagens; foi uma escolha precisa e que funciona totalmente no contexto do filme. Não há muito desenvolvimento, mas isso não impede o espectador de se conectar com a trama, que é bem divertida de se acompanhar. O tom do filme é claro, apostando no absurdo, no humor negro e na violência para contar a história, e tudo isso funciona em harmonia, créditos ao diretor e ao roteiro.
O roteiro, assinado também pelo diretor, é repleto de críticas sociais sobre a superficialidade das redes sociais. Entretanto, também é interessante ver as interações entre os personagens passageiros do protagonista, parecem críveis e te fazem pensar sobre algo parecido que já aconteceu com você mesmo. Em determinado momento, o filme fala sobre como as pessoas optam por assistir conteúdos completamente vazios, à assistirem algo que é genuinamente real, mesmo esse ''real'' sendo inegavelmente errado. Também, a narrativa brinca e critica as buscas das pessoas por seguidores, e sobre como você acredita só existir se estiver sendo visto por outras pessoas. Mas, isso tudo parece ser um pouco deixado de lado, em alguns momentos, dado o grande número de mortes que acontecem no filme, o transformando em um slasher moderno, e deixando a sua mensagem parecer quase como um pano de fundo.
Sobre os atores, o destaque obviamente é para Joe Keery, cujo só havia visto o seu trabalho na série Stranger Things; o ator entrega um psicopata de um cinismo gigante, uma personalidade superficial e falsa que busca apenas conseguir o seu objetivo, que é ser reconhecido por suas lives. De resto, todos os atores funcionam, pois todos parecem estar comprometidos com a superficialidade de suas personalidades, juntamente ao tom da obra.
Achei a trilha sonora bem legal, porque em muitos momentos evoca tons do gênero musical synthwave, que tem uma pegada mais oitentista que eu gosto muito. A montagem e edição tornam a trama fluída, apesar dela se tornar repetitiva em vários momentos. A forma como o filme acaba é justa, tendo em base a mensagem que ele quer transmitir.
Em geral, ''Spree'' é um slasher moderno, que tem uma mensagem clara, uma crítica social que é atual, mas que se perde um pouco dado o enorme foco às mortes orquestradas pelo protagonista. Ainda assim, é um filme que diverte pelo seu cinismo e por sua superficialidade, juntos de um humor ácido e uma trama violenta.
Cuidado Com Quem Chama
3.4 630Um filme bem parecido com o estilo já utilizado em ''Amizade Desfeita'', mas com um reforço bem interessante e que o faz funcionar mais, o fato da quarentena imposta pelo Corona Vírus.
O roteiro, escrito por Gemma Hurley, Jed Shepherd e Rob Savage, tem uma premissa bem legal e que funciona justamente pelo atual momento que estamos passando em todo o mundo. Eu adoro o fato de terem decidido fazer um filme de terror baseado na quarentena, com a utilização de vídeo chamada. Fora isso, é um roteiro simples, não há muito aprofundamento, nem nada, o foco é mais nas situações criadas e não na história em si, e tudo bem, não é algo ruim. Aliás, o roteiro utiliza bem da tecnologia, como os filtros utilizados por uma personagem, é bem eficiente.
A direção de Rob Savage foi o que mais me chamou a atenção, porque o diretor conduz o roteiro simples de uma forma bem criativa, fazendo-nos prestar atenção nas webcams dos personagens e esperando a todo momento algo aparecer no fundo, o filme gera essa sensação de alerta. O diretor não usa tanto os jumpscares, focando mais na tensão e na angústia criadas pela movimentação de câmeras. Entretanto, quando os jumpscares aparecem, funcionam bem, não tornando-os descartáveis.
Não há um protagonista na história, mas o elenco está operante. Não são personagens complexos, são apenas pessoas normais em uma vídeo-chamada, que estão diante de acontecimentos estranhos e assustadores em sua casa. Todos os atores, em suas limitações, estão convincentes, tornando o seu temor crível.
Sabe, o filme é bem curto, com apenas 56 minutos de duração, e mesmo assim consegue gerar mais tensão que muito filme de terror mais caro e mais longo por aí. Fico feliz que este filme exista, é um trabalho independente e que merece todo o reconhecimento que está recebendo, pois um diretor que decide utilizar de momentos atuais para compor sua obra, e ainda o faz de forma inteligente, é algo digno de elogios.
''Host'' é tenso, assustador, bem dirigido e inteligente na forma como utiliza a tecnologia. É um filme que deve ser visto agora, no atual momento em que todos estamos passando, pode ter certeza que irá funcionar bem mais assim.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraApós assistir novamente esta obra, pude perceber várias coisas que não havia percebido da primeira vez que assisti, e isso fez com que eu gostasse mais e, consequentemente, fez com que a minha nota para o filme aumentasse.
É o segundo longa-metragem de Ari Aster, o diretor que foi aclamado em 2018 pelo excelente "Hereditário", e com este novo filme, ele se consolida de vez como um dos melhores diretores de terror em atividade -ao lado de Jordan Peele e Robert Eggers-. Sua paciência ao conduzir a trama, os seus takes longos e contemplativos, a forma como ele controla a câmera para poder criar tensão, pavor, medo, sugestão, tudo isso com o viés de nos deixar perturbado -no qual consegue-, o fazem ter um talento notável e reconhecível, principalmente para o gênero. O diretor não apela para sustos baratos e clichês, conseguindo criar um genuíno terror psicológico e cheio de simbolismos.
O roteiro, também assinado por Aster, tem uma trama bem parecida com a de "The Wicker Man", mas não se engane, apesar das semelhanças, o filme caminha pelas próprias pernas e consegue abordar temas importantes como relacionamentos tóxicos, término, emancipação, feminismo, culturas estrangeiras, paganismo, luto; de fato, é um roteiro muito rico! Seria muito fácil escrever um filme qualquer sobre seitas assassinas, mas o roteiro vai muito além disso, com momentos de horror pontuais e chocantes, e que funcionam justamente pelo foco na relação dos personagens e o desenvolvimento mais lento e abrangente da história.
O elenco está muito bem, com o destaque óbvio a Florence Pugh, que está absurdamente ótima, como uma personagem deslocada, que sofre por uma perda, além de sofrer pela indiferença de seu namorado, suas expressões de temor e tristeza são incrivelmente convincentes, é uma pena o Óscar ser tão preconceituoso com filmes de terror. De resto, Jack Reynor convence, interpretando um namorado distante; Will Poulter é o alívio cômico, e até que é engraçado; William Jackson Harper consegue transmitir a curiosidade e interesse, de que seu personagem necessita.
A parte técnica do filme, também é muito boa. Não é fácil conseguir fazer um filme de terror, que se passa durante o dia, funcionar, e isso é um mérito também da fotografia, que cria um ambiente limpo, onde tudo é tão claro, mas que mesmo assim consegue ser tão obscuro. A edição é precisa, fez o filme passar rápido, mesmo eu achando que algumas cenas foram alongadas demais e poderiam ter sido um pouco reduzidas. E a trilha sonora, através de cordas agudas e graves, conduz o mistério do local e dessa cerimônia estrangeira que é desconhecida pelos personagens.
"Midsommar" é um terror psicológico rico em conteúdo, perturbador, desconfortável, bem dirigido, com uma atuação memorável de sua protagonista, e que choca nos momentos certos, nunca sendo excessivo.
Fragmentado
3.9 2,9K Assista AgoraUma premissa interessantíssima por si só, que poderia ser explorada inteligentemente de várias formas; ainda mais com M. Night Shyamalan estando de volta ao gênero suspense, depois do eficiente ''A Visita'', pareceu que o diretor ainda tem a manha para nos entregar bons filmes, mesmo após tantas obras descartáveis.
Shyamalan dirige bem este aqui, paciente ao conduzir-nos pelo ambiente que o sequestrador prende as suas vítimas, e dando uma clara sensação de perigo e angústia sobre a situação que elas se encontram. É um diretor que sabe criar suspense e cenas genuinamente tensas, e aqui ele demonstra seu potencial, principalmente nas cenas de interações das garotas com o homem.
O roteiro não consegue explorar ao máximo a sua premissa interessante, não mostrando nem metade das personalidades do personagem, deixando-nos com uma certa sensação de desapontamento. Acredito também que o roteiro poderia ser mais preciso e direto ao abordar uma certa coisa que acontece no passado de Casey, algo que tem uma clara função na narrativa, mas poderia ter sido mais resumido e explicado em apenas um diálogo, não enchendo o filme de flashbacks desnecessários que procuram explicar apenas uma coisa. É um roteiro que peca por ser muito excessivo em algumas horas, mas também tem seus méritos por abordar uma condição psicológica interessante, mesmo que abordando de uma forma não muito crível.
O elenco está ótimo, com os óbvios destaques para James McAvoy e Anya Taylor-Joy. Impressionante como McAvoy transita com naturalidade entre as personalidades que está interpretando, com características tão próprias que você consegue distinguir qual é a personalidade do momento com facilidade; sua presença é imponente e ameaçadora, o deixando com um aspecto bem imprevisível. A Taylor-Joy também interpreta muito bem sua personagem, uma garota isolada, taxada de esquisitona pelos outros, tem seus motivos e seus traumas e a atriz convence ao demonstra-los, as suas cenas de diálogo com McAvoy são as melhores.
Entendo o por que do ato final ser tão fictício, até por que o diretor estava planejando lançar ''Vidro'' logo após desse, mas mesmo assim, não gostei como o filme foi de uma obra psicológica para algo bem mais gráfico, preferia muito que fosse uma história fechada em um filme e que tivesse um final mais impactante e reflexivo, pois certamente a parte do filme que se sobressai é a que lida com o estudo da personalidade de Kevin. De resto, gostei da fotografia, que captura bem o cenário desconfortável e claustrofóbico em que as personagens estão, e a trilha sonora é esquecível.
''Fragmentado'' podia ser muito mais do que foi, sua premissa tem potencial para tratar questões psicológicas bem importantes, mas o final acaba indo para um lado mais surreal e gráfico, e isso faz com que o filme perca muito de seu peso. Mas em geral, acho que Shyamalan nos entregou um bom suspense, que é carregado nas costas por seus atores, mas que mesmo assim é eficiente ao mexer com a cabeça do espectador, pelo menos em seus 2 primeiros atos.
Cada um Tem a Gêmea que Merece
2.4 1,9K Assista AgoraOlha... quer dizer... é constrangedor até FALAR sobre este filme.
Na verdade, acho que o seu maior mérito, fica por conta do Adam Sandler, mas não pela sua atuação, longe disso, e sim por conseguir convencer o Al Pacino a participar de um filme onde ele se apaixona pelo Adam Sandler vestido de mulher; o cara merece ganhar alguns créditos por isso.
O diretor aqui é Dennis Dugan, o mesmo de outros mil filmes ruins protagonizados pelo Adam -salvo duas de suas obras que gostei, ''O Paizão'' e ''Um Maluco no Golfe-, e, novamente, ele não faz nada de diferente aqui. O timing cômico é inexistente, há cenas que me fizeram questionar-me como o diretor olhou para aquilo e decidiu colocar na versão final? Incrível. O exagero é a ferramenta de humor utilizada aqui, ao EXTREMO, sendo totalmente irritante de se assistir. Sabe alguns filmes que são feitos com o propósito claro de concorrer ao Óscar? Bom, esse esse foi feito para ser um grande vencedor do Framboesa de Ouro, e conseguiu!
O roteiro, ah, o roteiro. Piadas completamente de mal-gosto, ofensivas, nojentas, escatológicas ao extremo. Nada se salva neste roteiro catastrófico, que não consegue sequer criar um personagem cativante, sendo todos absurdamente detestáveis. A trama em si, é imbecil e não faz sentido nenhum, previsivelmente terrível e cheia de clichês e esteriótipos.
Adam Sandler interpreta seu papel e o de sua irmã, tudo para dar certo, não? Ele claramente já demonstrou ter talento, em filmes como Jóias Brutas, Embriagado de Amor, Reine sobre Mim, etc.; então, por que ele insiste em fazer estes filmes idiotas? É uma afronta! Sem mencionar as participações especiais de Johnny Depp e de Al Pacino (POR QUÊ, DEUS, POR QUÊ?!).
Não consigo pensar num bom motivo para esta obra existir, sendo que não conseguiu agradar nem quem costuma gostar de filmes assim. O filme não conseguiu me fazer rir nem uma vez sequer, e somados à sua trama de mal-gosto, suas atuações exageradas e sua direção que parece não ter noção nenhuma de como conduzir uma comédia, falo, com toda a certeza do mundo, que está é uma das piores coisas que já assisti em toda a minha vida.
Um dos poucos filmes que odeio de todo o meu coração. São filmes assim que me fazem desejar que a máquina de ''Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças'' existisse.
MEUS OLHOS! MEUS OLHOS!
Entre Abelhas
3.4 832''Entre Abelhas'' é um filme nacional, misto de comédia e drama, que aborda bastantes temas importantes. Assisti-lo esperando uma comédia tradicional, do grupo de Porta dos Fundos é um erro, e o trailer não deveria vender o filme desse jeito.
A direção fica por conta de Ian SBF, que também já dirigiu várias coisas do grupo de humor. Aqui, ele dá conta, acertando na forma que escolhe contar a história de Bruno e nos ângulos em que posiciona a câmera. Gostei também da forma como ele oscila entre o que está sendo visto pelo protagonista e o que está acontecendo realmente, mesmo que possa tirar um pouco da experiência de vermos o filme inteiro com os olhos de Bruno, funciona. Acho que, talvez, o maior problema do longa-metragem seja o desequilíbrio em tons, mesmo o humor funcionando algumas horas, acredito que tira o impacto em certas horas.
O roteiro aborda de forma responsável a depressão, assim como o término de um relacionamento e o existencialismo em si. Mesmo sem muito aprofundamento, e sem utilizar todo o potencial de sua premissa interessante, tendo personagens que são desnecessários e não levam a lugar algum -como o psiquiatra-, o roteiro se sai bem ao convidar o público a pensar e a interpretar certas as coisas e seus significados. Ao meu ver, as pessoas estão desaparecendo pois Bruno ainda está preso a sua ex-mulher, parando aos poucos de enxergar todos ao seu redor, fazendo-a ser a única pessoa que importa na face da terra. Seu coração está quebrado, e ele não sabe como superar a separação.
O elenco é interessante, pois nunca pensaria em Fábio Porchat nesse papel, afinal ele não é um ator de drama; mas, surpreendentemente, ele se sai muito bem, conseguindo transmitir toda a faceta de seu personagem, o sobrecarregamento, a dor e o seu deslocamento social. Irene Ravache, como mãe de Bruno, também está muito bem, o humor de sua personagem funciona exatamente porque tem algo a dizer no roteiro, sobre como a mãe não consegue lidar com o problema de seu filho, o vendo como besteira e ainda o rotulando como maluco. Marcos Veras faz um personagem desagradável, o humor dele não funciona e poderia aparecer menos no filme.
Os aspectos técnicos não chamam muito a atenção, não procurando se diferenciar de outras obras ou ter uma identidade própria. A montagem é linear, a trilha sonora aposta muito na tristeza lentamente conduzida por um piano ou violino, e a fotografia reforça o intimismo do filme.
A melhor reflexão fica na última conversa de Bruno com o psiquiatra, num discurso existencialista sobre solidão, dizendo muito sobre o que é viver numa sociedade.
''Entre Abelhas'' tem grandes problemas no tom, alguns personagens que não levam a lugar nenhum, não utiliza todo o potencial dramático de sua premissa... mas, mesmo assim, ainda é um bom filme, com uma boa interpretação de Porchat, um roteiro que aborda depressão da maneira certa e te faz pensar sobre o significado da obra como um todo.
O Caminho de Volta
3.3 83 Assista AgoraDrama esportivo sobre superação... aqui vamos nós de novo. Novamente, o filme não procura se distinguir de outros que abordam o mesmo tema, e, na verdade, abordam basicamente da mesma forma. Sim, é uma fórmula repetitiva, mas se bem feita, pode gerar resultados que não são tão ruins.
Gavin O'Connor dirige aqui, e confesso que não vi muitos de seus trabalhos, apenas o filme de 2011 ''Guerreiro'', que chamou bastante minha atenção. A direção dele conduz bem a obra, tanto nos jogos de basquete -que possuem o tempo certo de aparição, mérito também da edição-, quanto na jornada do protagonista. O tom do filme é triste, fúnebre, melancólico, e o diretor consegue trabalhar isso muito bem, aliando-se e aproveitando muito da performance de Ben Affleck.
O roteiro, sinceramente, não é nada demais. Basicamente, todos os clichês de filmes esportivos estão presentes, tornando toda a trama bem previsível. Mas, mesmo sendo bem formulaico, o roteiro consegue trabalhar bem o vício do treinador Jack, mostrando-nos como afeta sua vida e os motivos de tal vício ter começado. O grande mérito do roteiro é esse, vendendo-se não pelos acontecimentos em si, mas sim pelos pequenos diálogos que aprofundam o seu personagem principal.
O elenco está bem, os personagens secundários são operantes, funcionais, com o propósito claro de serem o apoio do treinador Jack, e cumprem bem o seu papel, sem muito destaque. Já o Ben Affleck, tem o seu personagem mais intimista, que conversa diretamente com o que ele havia passado recentemente na vida real, e o ator conseguiu trazer toda sua experiência para o filme. Podemos sentir todo seu pesar no olhar, no jeito de caminhar, e até na fala arrastada. Affleck interpreta um homem que perdeu tudo, carregado de dor, que só consegue achar conforto numa garrafa de bebida, e ele está perfeitamente bem no papel, provavelmente sendo sua melhor atuação.
É importante como, tecnicamente, tudo conversa de forma adequada em conjunto. A trilha sonora é boa, apostando num piano lento, com tom melancólico e depressivo, conversando muito bem com o filme e, demonstrando em seu som, um homem caído que não consegue mais se levantar. A fotografia é bem acinzentada, não tendo nenhuma cor viva quase presente. E, a edição torna o ritmo do filme bem funcional, não deixando-o se tornar cansativo em momento algum.
''The Way Back'', de fato, não reinventa a fórmula de drama esportivo de superação, e nem procura fazer isso. É clichê, previsível, o desenrolar das coisas acontecem de forma óbvia. Mas, mesmo assim, consegue abordar bem o tema do alcoolismo, conta com uma direção boa, e a performance mais intimista e emotiva de Ben Affleck, que carrega a trama nas costas. Tornando-a, assim, uma obra bem eficiente em sua proposta.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista Agora#BlackLivesMatter
Spike Lee, recentemente tendo ganho o Óscar de Melhor Roteiro Adaptado, pelo excelente ''Infiltrado na Klan'', chega com o novo lançamento -desta vez, Original Netflix- ''Destacamento Blood''. Lee não costuma fazer filmes só por fazer, seus filmes sempre tem algo de importante a dizer, e aqui não é diferente.
O diretor já abre o filme com imagens de acontecimentos reais, que -assim como no final de ''Infiltrado na Klan''- chocam e te fazem pensar; Há muita utilização deste recurso de cortar para imagens das figuras reais, quando são mencionadas, e mesmo parecendo uma vídeo-aula em algumas horas, é uma ferramenta interessante para se aprender um pouco de história e funciona. Lee dirige a obra com total calma e paciência, oscilando entre passado e presente em algumas horas, mas fazendo tal transição ser completamente natural. As partes da guerra, são filmadas em formato diferente das partes do presente, com características de filmes de guerra antigos, dos anos 70\80, e isso funciona muito bem. Há cenas bastante violentas aqui, e não estão presentes de forma gratuita na narrativa, mas mesmo assim, são bem viscerais. Só, para mim, ficou uma sensação de que o filme poderia ser um pouco menor, tendo tempo de sobra na sua longa duração de 2h35min, entretanto, ainda assim, é um ótimo trabalho de Spike Lee.
Roteiro, assinado por ele também, é repleto de mensagens importantes e críticas sociais valiosas. Lee é inteligente e sutil ao explorar temas como racismo, transtorno de estresse pós-traumático e amizade. Com muitas frases marcantes, muitas delas ditas pelo personagem de Chadwick Boseman, o roteiro aborda uma extensão de coisas reais, e a ideia de fazer a parte dos protagonistas envelhecidos se passar nos dias atuais foi genial, para assim, poder cutucar e criticar de forma esperta e sagaz o atual presidente dos EUA. É interessante como, através de toda sutileza, Lee consegue dar um enorme significado a um boné e saber como utilizá-lo na narrativa, dizendo muito sobre quem o usa. Mesmo assim, acho que o roteiro só falha em não conseguir dar o mesmo tratamento a todos os personagens, tendo dois muito mais desenvolvidos do que o resto.
O elenco do filme é muito bom, todos conseguem tornar a amizade e elo que os personagens criam algo completamente crível, mas há quatro destaques aqui. Delroy Lindo, como Paul, é o que possui a mente mais quebrada e a personalidade mais forte, é também o que mais sofre pelos acontecimentos da guerra e que não sabe lidar direito com isso, e o ator transmite isso muito bem, com até direito a um monólogo incrível no final. Jonathan Majors, como David, tem o maior pesar e deslocamento do grupo, tentando ao máximo ajudar e se aproximar de seu pai. Clarke Peters, como Otis, é o oposto de Paul, sendo calmo e sensato ao encarar situações complicadas. Chadwick Boseman aparece pouco, mas quando aparece, rouba a cena, gostaria de ter visto mais de seu personagem.
Tecnicamente, o filme também é bom. Tudo aqui parece remeter a ''Apocalypse Now'', com direito até a um pôster sendo exibido no fundo de uma cena. A edição é muito precisa, principalmente nas transições de época, não atrapalhando o ritmo do longa metragem. Os efeitos especiais, em algumas cenas de tiroteio, são um pouco escancarados, mas nada muito problemático. É importante como a fotografia diferencia as épocas do filme, principalmente em relação ao Vietnã, conseguindo demonstrar o quanto o país mudou. A trilha sonora usa muitas músicas clássicas da época da guerra, contribuindo bastante na ambientação.
''Destacamento Blood'' é um filme violento, com um ótimo roteiro e direção, aborda críticas sociais importantes e que são de EXTREMA relevância nos dias atuais, mesmo tendo mais tempo de duração do que deveria, ainda assim é marcante, cru, ácido e perspicaz.
É um filme que não poderia ter sido lançado numa época melhor.
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0K''Um mundo sem os Beatles é um mundo infinitamente pior''
Estava bem empolgado com este daqui, gosto bastante das músicas dos Beatles e o trailer demonstrava uma premissa interessante e que poderia gerar resultados criativos e fascinantes.
A direção fica por conta de Danny Boyle, que tem filmes muito bons em seu currículo, e sabe como conduzir uma trama. Aqui, ele dá o tom do filme e o mantém do início ao fim, sendo totalmente leve e cômico ao contar a história de Jack. A estética colorida que ele dá a algumas cenas é bem-vinda, trazendo uma excentricidade que conversa com o filme. Não há muita inventividade no modo como ele decide trabalhar os enquadramentos, principalmente nos shows do protagonista, mas é eficiente e operante.
Richard Curtis é o roteirista aqui, um roteirista famoso por escrever comédias românticas e isso fica bem claro. A premissa inicial do roteiro é genial e abre portas para infinitas possibilidades, mas ela é prematuramente apresentada, nos primeiros 10 minutos já ocorrendo o acidente que muda tudo. Acredito também que poderia explorar mais as camadas de seu protagonista, seu relacionamento familiar, o conflito de escrever músicas que não são suas, mas não, isso muitas vezes fica como plano de fundo, sendo pouquíssimo visto em algumas partes. O filme, de fato, é uma comédia romântica, e isso incomoda um pouco, dado a chance do que ele podia ter feito para ser socialmente relevante, com uma crítica ácida à mídia musical. Mas tudo bem, ignorando isso, o roteiro tem piadas boas, referências divertidas à cultura pop, e acerta ao mostrar lentamente a ascensão musical de Jack.
Os atores estão bem, parecem estar confortáveis com os seus papéis, principalmente Himesh Patel, que além de cantar muito bem, passa completamente a imagem de um jovem músico fracassado que tem a enorme chance de fazer sucesso. Lily James é carismática e amigável, conseguindo transmitir o amor enrustido que sente por Jack. Joel Fry está engraçado em algumas cenas. Ed Sheeran interpreta uma versão bem apática de si mesmo.
A trilha sonora é o ponto alto e não teria como não ser, podemos ouvir vários dos sucessos de The Beatles, desde a música-título do filme ''Yesterday'' até ''She Loves You''. Quando a trilha sonora original composta por Daniel Pemberton aparece, ainda assim é funcional, evocando tons das músicas. A edição é apressada e objetiva, conversando com o roteiro. A fotografia é simpática, utilizando muitas cores claras e vistosas.
Em geral, ''Yesterday'' em momento algum parece ser tudo o que poderia ter sido, transformando uma ideia criativa em um roteiro cheio de clichês típicos de comédia romântica. Entretanto, se você ver despretensiosamente, sem esperar muito, ainda assim é um filme divertido e simpático que te entretém por grande parte de suas quase duas horas de duração. Se você é fã dos Beatles, provavelmente irá gostar.
Missão: Impossível - Efeito Fallout
3.9 788''Missão Impossível'', ao lado de ''John Wick'', é a minha franquia favorita de ação atualmente. Com exceção do segundo -que é o único que não gostei-, todos os filmes renderam boas pedidas para o entretenimento escapista, mas também onde não se é preciso desligar o cérebro para poder aproveitar.
O roteiro segue a mesma fórmula dos anteriores, e isso não é um grande problema, pois há vários franquias que seguem a mesma fórmula e que mesmo assim são boas. As reviravoltas, os conflitos, a missão em si, é tudo explorado de forma adequada e funcionam na narrativa. A trama é previsível e toma rumos esperados -com a exceção de alguns twists-, apesar de em nenhum momento se tornar estafante. Gostei que o roteiro tenta explorar um pouco mais a psique de Ethan Hunt e o seu passado com a sua ex-esposa, é feito de forma natural e eficiente, apesar de não ser muito aprofundado.
Os maiores méritos dos dois últimos filmes desta franquia, foram por causa da direção de Christopher McQuarrie, que tem um olhar perfeito para as sequências de ação, tanto as de maior escala de ambientes abertos, quanto as minimalistas de ambientes fechados. Duas sequências devem ser destacadas aqui: a cena onde Ethan e Walker estão caindo de paraquedas, que foi filmada em um plano-sequência para adentrarmos na ação e fazer sentir-nos na pele do protagonista; e também, a cena do banheiro, onde o diretor usa e abuso de ângulos diferentes para poder criar uma sequência bem memorável. O diretor demonstra que, apesar da fórmula repetitiva, ainda há gás e energia para as histórias desta franquia.
Tom Cruise, mais uma vez, está ótimo na pele de Ethan Hunt, ele já está completamente acomodado ao interpretar este personagem, e ver que ele ainda consegue participar de cenas de ação mais perigosas, recusando o uso de dublês, é extremamente reconhecível e de um mérito incrível. Rebecca Ferguson, Simon Pegg, Ving Rhames, todos atores carismáticos e que estão bem em seus respectivos papéis. Sean Harris, no entanto, continua fazendo esse vilão totalmente desinteressante e mal explorado, que parece ser dono de apenas uma faceta. Henry Cavill está muito bem, gostei de seu personagem e de sua interação com os personagens antigos, ele convence nas cenas de ação e de diálogos e possui um mistério interessante sobre seu passado na CIA.
O fundo verde é perceptível em algumas das cenas mais frenéticas de ação, mas nada que tire muito a qualidade dos efeitos especiais. A fotografia é bonita, principalmente quando a câmera foca mais na amplitude do cenário e deixa os atores como coadjuvantes. A trilha sonora parece ser dona de um tom só, que se baseia no tema principal e nostálgico que todo mundo conhece.
''Missão Impossível: Efeito Fallout'' possui um roteiro bem formulaico, sem grandes diferenças, entretanto, o diretor conduz com maestria as cenas de ação, e Tom Cruise continua bem carismático. É sempre bom assistir um filme que visa o entretenimento de seu público, mas que também não opta por isentá-los de pensar.
X-Men: Fênix Negra
2.6 1,1K Assista AgoraEsta é a segunda adaptação da famosa saga dos quadrinhos dos X-Men, a saga da Fênix Negra. Anteriormente, não havia agradado nem o público e nem a crítica com o filme ''X-Men: O Confronto Final'', lançado em 2006, dado isso, parecia ser uma tarefa simples superar o filme de 2006. E superou? Infelizmente, não. Na verdade, me fez até ter um pouco de saudade do outro filme.
Simon Kinberg dirige este aqui, sendo o seu primeiro longa-metragem, e é totalmente perceptível a sua falta de experiência na condução da trama. Tudo parece completamente apressado, os acontecimentos acontecem de uma hora para a outra e com um ritmo que é extremamente problemático, apressado ao extremo -mas isso também é culpa do roteiro, falarei a seguir sobre-. Entretanto, nas cenas de ação, Kinberg demonstra um controle até interessante, principalmente na sequência do fim, onde os personagens se encontram dentro de um trem, é uma sequência empolgante onde o diretor consegue utilizar bem dos poderes de alguns personagens.
O roteiro, também por conta de Simon Kinberg, é o maior problema. Como a Marvel havia adquirido os direitos da Fox, e este seria o último longa dos X-Men deste universo, pareceu que foi escrito de qualquer jeito, com total desleixo e preguiça, sem nenhuma preocupação com o público e, principalmente, com os fãs. Fica uma sensação desagradável de que o estúdio aceitou qualquer porcaria, apenas para fazer dinheiro.
A história é horrível, os acontecimentos aparecem na trama jogados de qualquer forma, os personagens não são nem um pouco aproveitados e são escritos de forma pífia, fazendo com que não nos importemos com nenhum. Sobre os vilões, eles simplesmente surgem de repente, sem sabermos quase nada sobre eles, apenas que querem o poder de Jean para destruir o mundo -sério, é realmente só isso-. E os diálogos... oh, deus... os diálogos são tão vergonha alheia que chegam a ser engraçados.
O elenco está muito afetado pelo roteiro, infelizmente. Jennifer Lawrence, entretanto, claramente nem está se esforçando, tendo total apatia com sua personagem, está óbvio que ela está no filme apenas por motivos contratuais, nada mais do que isso. Evan Peters, que possuía o personagem mais carismático desse novo elenco, não é nem um pouco aproveitado aqui, mal aparecendo. James McAvoy está bem, mas o professor Xavier não parece o mesmo, sendo até um pouco arrogante e pretensioso, há uma ausência de sabedoria e inteligência, que eram coisas fundamentais do personagem. Sophie Turner é uma atriz limitada, mas que passa bem o conflito isento de muitas camadas que sua personagem tem. Até a Jessica Chastain está nesse filme, não sei por que, sua personagem é genérica ao nível do vilão de Venom, a atriz foi muito desperdiçada. E, é sempre bom ver o Michael Fassbender atuando.
Tecnicamente falando, os efeitos especiais não tem muita profundidade, não funcionam muito em interação com os atores, para um orçamento tão grande poderiam ter sido bem melhores. A trilha sonora de Hans Zimmer quase nunca é ineficiente, e aqui ele mostra que ainda tem energia para compor e dar o tom para obras de super-heróis, ainda que a obra não tire proveito da boa trilha sonora que tem.
Em geral, ''X-Men: Fênix Negra'' diverte em algumas sequências, principalmente a do final, tem uma boa trilha sonora, mas de resto, tudo é extremamente ruim e ilógico, preguiçoso e desleixado ao máximo, feito com o único propósito de arrecadar dinheiro.
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 899 Assista AgoraÉ um crime imensurável a ausência de "Retrato de uma Jovem em Chamas" na categoria do Oscar de Melhor Filme Internacional, afinal é uma obra cinematográfica com conteúdo artístico e poético a ser admirada.
O roteiro é maravilhoso. Toda a parte poética e metafórica do filme é incrível, principalmente porque Héloïse não deixa ninguém pintar seu rosto, afinal, o rosto e o olhar são, de certa forma, as partes que mais demonstram a alma de alguém, e claramente, ela não deixaria alguém conhecê-la aleatoriamente dessa maneira, assim como precisaria de uma certa afinidade com o pintor de seu quadro para que ele pudesse captar corretamente a essência de sua alma e poder transpô-la através de uma pintura. Héloïse, portanto, é minha personagem favorita do filme, pois tem uma complexidade e um conflito que são muito interessantes, o roteiro também fala muito sobre como as mulheres eram tratadas na época, e sua obrigação de casar com quem lhes fosse designado, sem escapatória. A relação que as duas personagens criam é linda, sem pressa, tudo é completamente natural e esplêndido, as conversas que elas compartilham juntas são excelentes.
A direção de Céline Sciamma só exalta ainda mais a beleza do roteiro, com imagens poderosas, significativas e bastante sutis, há muita troca de olhares e silêncio entre os personagens. A diretora passa toda a tensão sexual entre os dois, suas vontades - e, ao mesmo tempo, o medo - de colocar seus sentimentos uma pelo outra para fora. Além disso, o erotismo que o filme possui é mais sensorial e psicológico, aqui não há cenas gráficas de sexo, e isso é incrível, pois muitos homens na sociedade atual ainda vêem o lesbianismo como uma forma de fetiche sexual, é uma perversão que deve ser combatida.
As atrizes principais são esplêndidas. Noémie Merlant transmite muito bem a imagem de uma pintora culta, com suas limitações impostas pela sociedade por ser mulher, e que progressivamente se apaixona. Adele Haenel também está perfeita, ainda mais do que Noémie, ela passa, com total naturalidade, toda a solidão, conflito interno, tristeza, perda, medo, que sua personagem sente. Luàna Bajrami interpreta a empregada, ela está bem, mas num certo momento, o filme começa a lhe dar muito foco, e isso para mim tirou um pouco do processo íntimo e focado que estava na história de Marianne e Héloïse.
A cinematografia deste filme é incrível, desde ambientes mais escuros, como a casa de Héloïse, até os mais claros, como a praia, são aprofundados e exaltados pelas cores e o fato de que a cinematografia parecer ter sido feita com o propósito de reproduzir magníficas pinturas de arte. A edição e mixagem de sons também são ótimos, os sons de tudo são os mais realistas possíveis. A trilha sonora é quase inexistente aqui, portanto não há muito que se possa dizer.
Tudo o que está acontecendo na tela nos leva a acreditar que estamos assistindo poesia em forma de filme, e isso é sempre bom. A forma como o fogo é mostrado, tanto no título quanto na obra, nos ajuda muito a entender a psique de Héloïse, que é bela, melancólica, amorosa e solitária.
Assim, o final do filme capta toda a essência da obra, terminando no momento certo, no ápice de sua tristeza e melancolia, com uma câmera quieta e focada na reação do personagem. É emocionante e de partir o coração.
"Retrato de uma Jovem em Chamas" é poético, artístico - talvez o filme mais artístico do ano de 2019 -, sutil, que pode emocioná-lo, fazê-lo pensar e abordar temas importantes, além de ter belas metáforas. Um filme lindo.
Phenomena
3.7 246Argento é um mestre do terror, isso é um fato, sendo reconhecido por todos os fãs de cinema como tal. Comecei a aventurar-me por seus filmes faz pouco tempo, este é apenas a segunda obra que assisto dele -a primeira sendo Suspiria, que achei excelente-, e aqui ele mostra mais uma vez o seu talento.
Numa mistura de fantasia e horror, o filme é muito bem dirigido por Dario Argento, que consegue criar cenas tensas, utilizando muito da iluminação e da trilha sonora. É impressionante o que ele consegue fazer, ao mesmo tempo que usa muito do terror gráfico e gore, ele consegue ser sugestivo e misterioso ao executar as cenas de mortes. A movimentação de câmera conversa muito com o filme, sendo um fator crucial para condução da trama.
O roteiro é ok, tem suas falhas, a primeira metade de ''Phenomena'' funcionou mais para mim, abordando bastante esse apego e interação que a protagonista tem com insetos, as partes na escola também são boas, remetendo um pouco ao que foi feito em ''Suspiria''. A segunda metade perde um pouco de seu mistério e sua sutileza, é um pouco caricato e já foi feito por vários filmes do gênero, sendo mais voltado para o horror e esquecendo um pouco a fantasia. A revelação de quem é o assassino é previsível. Mesmo assim, o diretor consegue fazer o final funcionar, tornando-o divertido de se assistir para quem é fã de sanguinolência.
Jennifer Connelly está novinha aqui, e é interessante ver como, mesmo assim, consegue transpassar toda a inocência, doçura e vulnerabilidade de sua personagem. É uma protagonista que, de imediato, ganha a empatia do espectador. Daria Nicolodi também está bem, com uma personagem que vai ganhando importância ao longo da trama. Donald Pleasence passa bem a imagem de um professor que entende bastante de insetos, fazendo-o assim logo criar um vínculo com a protagonista, as cenas dos dois juntos funcionam.
Eu adorei a trilha sonora de Goblin, com tons bruscos e densos, é assustadora e desconfortável. As escolhas musicais, ao som de Iron Maiden, são de meu gosto, amo, mas parece que as músicas não conversam muito com algumas cenas. A maquiagem é perfeita, tudo parece crível, graças a grande utilização dos efeitos práticos. Apesar de não esbanjar do uso das cores aqui, a fotografia usa muito da escuridão, mas com iluminação suficiente para que o que está em tela possa ser visto, ajudando no mistério.
Em geral, ''Phenomena'' conta com uma ótima construção de horror e mistério, uma protagonista que é facilmente ''gostável'', um roteiro ok, mas não possui muito equilíbrio na hora de explorar o seu lado fantasioso. Mesmo assim, é um filme divertido que merece ser assistido.
Ameaça Profunda
3.0 627 Assista Agora''Ameaça Profunda'' já possui uma história genérica por si só, há vários filmes com a mesma temática, mas se a temática for bem trabalhada pode gerar resultados até satisfatórios, como foi com o bom ''Vida'' de 2017. Mas não, esse não é o caso aqui, pelo menos, não para mim.
O roteiro é completamente raso e sem qualquer profundidade em seus personagens, o que torna difícil se importar com qualquer um deles. Não dá nenhum espaço para poder desenvolver um pouco as relações entre o grupo, grupo esse que é formado totalmente com esteriótipos clássicos do gênero. O que pode ser visto como objetividade, do filme já começar na adrenalina e com um conflito claro, eu vejo-o como desleixo e preguiça.
A direção de William Eubank é eficiente em algumas horas, mas deixa a desejar em algumas cenas de ação, onde fica difícil conseguir entender o que está acontecendo, chegando a parecer um filme dirigido por Michael Bay. Mas fora essas sequências, ele até consegue criar uma tensão e um certo temor pelas criaturas. Há um excesso de jumpscares, onde alguns são funcionais, mas outros não, em geral não afetaram tanto a experiência, não me incomodaram.
Kristen Stewart está muito bem aqui, consegue carregar a trama nas costas e, com seu carisma, fazer-nos até criar uma empatia com a personagem, coisa que o roteiro definitivamente não consegue fazer. T.J. Miller é o alívio cômico, que não funciona, não tem nenhum timing e não é engraçado. Vincent Cassel, Jessica Henwick, John Gallagher Jr. estão operantes, mas com nenhum destaque.
Tecnicamente, o filme é bom. A edição e mixagem de som são muito bons, os barulhos e ruídos conseguem nos deixar angustiados e desconfortáveis. Gostei bastante do design das criaturas, são monstros imponentes e bem feitos. Os efeitos especiais funcionam. A trilha sonora é ok, parece a mesma utilizada em outros filmes do gênero, com nenhum tom que a diferencia.
A narração da protagonista no início e fim do filme, é algo bem desnecessário e que poderia ser removido. Acredito que a obra teria funcionado se fosse maior, dando mais espaço para a loucura interna dos personagens e explorando mais sua situação, algo meio sugestivo, como um conto Lovecraftiano. Ah, por falar em Lovecraft, o final do longa funcionou perfeitamente para mim, e com certeza fará com que os olhos dos fãs do autor brilhem com tamanha referência. É um final ótimo, para um longa que não é bom.
''Ameaça Profunda'' tem uma protagonista carismática, é tecnicamente bem executado, é divertido em algumas horas, o final é ótimo, mas possui personagens completamente rasos e inexplorados, um roteiro fraquíssimo e cenas de ação confusas. Não se sobressai nos filmes do gênero, é só mais um exemplar genérico e esquecível.
A Caçada
3.2 642 Assista AgoraApós várias polêmicas nos EUA, e até chegando a ser adiado, pois o presidente Trump havia criticado fortemente a obra, alegando até que o filme pretendia ''provocar o caos'', fui assistir ''The Hunt'' esperando uma obra satírica ácida e corajosa. Bom, eu estava enganado.
O roteiro parece dar as suas informações de forma jogada, querendo criticar um grupo bem específico de pessoas, e tal crítica poderia ter sido mais bem trabalhada, ao meu ver. Tem diálogos que são engraçados, expõem e ridicularizam a forma de pensar e até as atitudes de certos seres-humanos, faz pensar um pouco até, bem pouco, mas nada mais do que isso, o roteiro não aprofunda a sua crítica social de forma que possam ser geradas discussões e reflexões mais importantes sobre o tema. Aliás, esses diálogos em forma de ''crítica'' começam a ser subutilizados pelo roteiro, a chegar um ponto que começam a ficar chatos e repetitivos.
A direção de Craig Zobel injeta vida ao roteiro problemático. Sabendo muito bem controlar a câmera nos ambientes mais abertos, tal como em ambientes mais fechados. O filme abre bem até, os primeiros 20 minutos são bem divertidos, sanguinários, utiliza muito bem da reação dos personagens a tal situação apresentada a eles e apresenta novas situações que geram momentos que entretêm. Isso até a personagem de Betty Gilpin se tornar a protagonista da trama, que começa a ir ladeira abaixo. Ainda assim, Craig Zobel continua aproveitando a ação e a controlando com visão.
A atuação de Betty Gilpin é um pouco afetada e até estereotipada, mas ela até que consegue conduzir a trama e fazer com que nos interessemos pela personagem. Hillary Swank está perfeitamente cínica e perversa aqui, nos entregando a personagem mais interessante do filme, ao meu ver. O resto do elenco estão mais estereotipados ainda, e não tem muito destaque.
Há vários elementos de ''Uma Noite de Crime'', ''O Albergue'' e, principalmente, do mais recente filme brasileiro ''Bacurau''. Mas o que funcionava nessas obras, parece ter sido completamente deixado de lado aqui, o que me faz pensar que o filme teria se beneficiado e MUITO, se deixasse de ser uma sátira social e optasse por apenas ser um thriller de ação.
''The Hunt'' tem vários momentos legais, me entreteve, tem um bom diretor no comando, mas, em geral, sofre muito pelo roteiro que não aprofunda nenhum dos temas que pretende abordar e criticar, o que faz o filme se perder completamente em sua proposta e não conseguir passar bem a sua mensagem. Poderia ter sido bem melhor.
Devorar
3.7 366 Assista AgoraConfesso que fui assistir Swallow esperando um terror, coisa que, de fato, o filme não é, mas isso não o torna ruim, afinal possui temas muito interessantes que são explorados de maneira bem eficiente.
Carlo Mirabella-Davis conduz o filme de forma paciente e interessante, conseguindo explorar este belo estudo de personagem, o fazendo funcionar como um drama com toques de thriller psicológico. Claro que há cenas que são bem desconfortáveis aqui, e o diretor usa muito da sugestão para causar assim uma sensação incômoda maior ainda no espectador. Por exemplo, algumas vezes não precisa-se mostrar graficamente ela engolindo os objetos, ele opta por transitar a câmera pelo ambiente e apenas mostrar os objetos cuidadosamente colocados um do lado do outro pela protagonista.
O roteiro aborda assuntos que são bem atuais e importantes, tais assuntos esses como o lugar pré-estabelecido da mulher na sociedade -onde ela é obrigada a ficar em casa, enquanto o homem trabalha-, traumas, relacionamento abusivo e possessivo, aceitação, e, principalmente, o corpo da mulher e sua posse por ele. Também fala sobre como, muitas vezes, algumas pessoas deixam de fazer algo em prol da total satisfação de seu cônjuge.
A atriz principal, Haley Bennett, está perfeita aqui, conseguindo demonstrar toda a infelicidade, insegurança e psique de sua personagem, muitas vezes apenas com o olhar. De resto, o elenco de apoio funciona, mas não há muitos destaques aqui, todos operantes, mas que são completamente ofuscados pela atuação da protagonista.
Tecnicamente, achei um trabalho eficiente, falando como um conjunto em si. A fotografia aqui ajuda a contar a história, mostrando muito do cenário e o distanciamento da protagonista em relação a ele. A trilha sonora é inquietante, principalmente nas cenas quando os objetos são engolidos. A mixagem de som também não deixa a desejar. Em geral, tudo conversa muito bem.
O jeito que o filme acaba é maravilhoso, conseguindo passar uma mensagem que é muito importante e que deve ser escutada.
''Swallow'' não deve ser classificado como terror, é um estudo de personagem dramático com toques de thriller psicológico e que possui uma mensagem atemporal sobre empoderamento feminino.
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraEu queria, e muito, ter gostado desse último capítulo da nova trilogia de Star Wars. Minhas expectativas, após ter assistido o trailer, estavam altíssimas, mas depois do lançamento e da enxurrada de críticas negativas, optei por assisti-lo em casa, quando saísse digitalmente. E estava certo.
O que mais afeta este filme, certamente é o roteiro, que opta por trazer alguns personagens do passado -deram um jeito de trazer até o Palpatine, que estava morto- de forma esdrúxula e completamente jogada, sem fazer sentido algum. As situações aqui são bem previsíveis, com o roteiro seguindo por caminhos fáceis e seguros, que podem agradar alguns fãs, mas que com certeza não foi o meu caso.
J.J. Abrams e Chris Terrio fizeram a pior coisa que poderiam fazer, ouviram os fãs que não gostaram de ''Os Últimos Jedi''. Parece que o filme ignora quase que totalmente a existência do episódio 8, e isso afeta muito os personagens e a trama. Quer dizer, a excelência imprevisibilidade que Rian Johnson injetou na franquia parece ter sido jogada no lixo, sem dó e nem piedade.
J.J. Abrams dirige o filme de forma operante, tendo uma visão muito boa para as cenas de batalha, mas que não consegue dar nenhum impacto para as cenas que necessitavam de um peso maior, todas as ações aqui parecem sofrer de total falta de impacto ou de um senso de consequência. Não nos preocupamos com certos personagens, pois dá para ver que não há coragem alguma na direção e no roteiro de J.J.
Os atores continuam muito bem, e é sempre um deleite para os olhos de ver Adam Driver atuando com Kylo Ren, que chega aqui ao ápice de sua dúvida entre qual lado pertence, sendo o personagem mais interessante e complexo da nova trilogia, rendendo os melhores momentos deste novo filme, mas que não possui um final adequado para seu arco. Daisy Ridley ainda é muito carismática e conduz bem a trama, já o John Boyega como Finn e Oscar Isaac como Poe, estão operantes mas que parecem terem sido muito afetados pelo roteiro. Ah... o roteiro...
Os efeitos visuais são estonteantes, mas isso já era esperado. A fotografia também é bem eficiente, gostei de como ela é utilizada, principalmente nas cenas da ''casa'' dos Sith. A trilha sonora de John Williams continua envolvente e emocionante. Tecnicamente, é um longa bem executado.
Uma saga de tamanha grandiosidade merecia um final bem mais adequado e menos previsível, o jeito que o filme acaba e a conclusão para tudo é tão fraco que não dá vontade nem de falar sobre. Não, não é um filme horrível, mas é bem desapontante, principalmente após essa nova trilogia ter se iniciado tão bem com ''O Despertar da Força'' e seguir de forma completamente diferente e inusitada -no bom sentido- em ''Os Últimos Jedi''.
Estou triste e desapontado, e apesar deste filme ser tecnicamente bem feito, possuir bons momentos e algumas batalhas legais, ''Star Wars'' com certeza merecia um final melhor, não essa bobagem que mais parecia uma fanfic escrita por um adolescente. Não é nem horrível e nem bom, é apenas fraco.
O Grito
1.9 331 Assista AgoraApós anos, outra refilmagem americana da famosa obra japonesa é lançada, com um diferencial, desta vez tem a produção de Sam Raimi, um mestre do terror que já havia produzido em 2019 um longa bem interessante, chamado ''Crawl''. Dado isso, estava com expectativas positivas -por incrível que pareça- em relação a esta nova refilmagem.
De início, até confesso que estava um pouco engajado, chegando a questionar-me um pouco do motivo deste filme ter sido tão massacrado por todas as críticas que li. O longa até mostra algumas cenas de mortes interessantes e sangrentas, mas que não o salvam de ser um completo desastre.
A direção é completamente apática, por conta do diretor Nicolas Pesce, que estreou em 2016 com o longa ''Os Olhos de Minha Mãe''. Há uma total falta de criatividade aqui ao contar a história, com cortes de cenas para o passado mal-utilizadas e que não fazem sentido nenhum com a cena que a antecedia. Apelando para o uso de jump-scares TODA SANTA HORA, e que não funcionam nem um pouco, pois são completamente telegrafados.
O roteiro apresenta algo interessante, de mostrar a história da casa em três anos diferentes, poderia ter sido bem abordado e até dar a porta para infinitas possibilidades em que faria essas histórias se interligarem de maneira inusitada, mas o roteiro acaba por não mostrar nenhum sentido em mostrar essas histórias juntas uma da outra, sem um propósito narrativo claro. É uma escrita muito preguiçosa, até para com os personagens, que não são nada originais, não passando de esteriótipos já vistos em outras histórias do gênero.
Sobre os atores... bem... eles estão aí para serem pagos. A protagonista não convence nada como detetive, tudo bem que ela não tinha lá um bom texto para ser explorado, mas poderia ter feito melhor. O elenco de apoio, então, pior ainda, personagens e atuações completamente esquecíveis, com a exceção dos sempre bem Lin Shaye e John Cho, que se esforçam na medida do possível.
O número de cenas que chegam a ser risíveis aqui é extraordinariamente grande, sério mesmo, me fazendo pensar várias vezes que as cenas pareciam de filmes-paródia como ''Todo Mundo em Pânico''. É impossível que o diretor olhou as cenas enquanto gravava e não imaginou que aquilo ficaria engraçado, é realmente um trabalho para filmes de comédia. Da parte técnica, a edição é bagunçada, e a trilha sonora, juntamente da fotografia, são ok.
Esquecível, óbvio, estúpido, genérico, desnecessário, bagunçado, involuntariamente engraçado e totalmente sem sentido, essas são as melhores definições que posso dar da refilmagem de 2020 ''O Grito''.
Um Dia de Fúria
3.9 891 Assista AgoraUm filme muito interessante e com uma clara crítica á violência nos EUA, servindo como uma obra reflexiva e que faz-nos pensar sobre a nossa sociedade contemporânea e muito também sobre fascismo.
O roteiro é muito inteligente, trabalhando bem a forma como enxergamos o personagem de Michael Douglas, de início até com certa empatia -dado a oportunidade de podermos nos identificar com algumas situações vividas por ele, afinal, todos já tivemos um dia ruim, não é mesmo?- , entretanto, ao final já o encaramos com um olhar diferente, dado o desenvolvimento e as novas informações que aprendemos ao longo do filme sobre ele. Muito fascinante acompanhar a jornada deste homem neste seu dito ''Dia de Fúria'' -igual o título em brasileiro nos propõe-, pois a obra tem muito a dizer sobre como certas pessoas não entendem como podem ser elas as causadoras do verdadeiro mal na sociedade. Acredito que o roteiro só peque no arco do policial que está se aposentando, sendo genérico e clichê por si já em sua ideia, mas também não conseguindo acompanhar o ritmo da história do protagonista, com cenas previsíveis e que levam a um resultado óbvio.
A direção de Joel Schumacher faz o ritmo do filme ser bem trabalhado, apesar dos dois personagens centrais terem ritmos diferentes em sua história, o diretor conduz bem e não torna os cortes de cenas bruscos. A forma como a câmera gira pelo protagonista e pelo cenário em algumas cenas são eficientes e ajudam a desenvolver um certo desconforto e ansiedade, tais como o protagonista está sentido na cena em questão. É um bom trabalho de direção, principalmente como aproveita muita da ambientação dos cenários para contar a história de Bill.
Michael Douglas passa com total credibilidade a imagem de um homem que não se importa com mais nada, com um sério problema de temperamento, dando a sensação de de que ele pode explodir de raiva a qualquer momento, mas também ganhando mais informações sobre ele durante o filme. Robert Duvall também está bem, com um personagem preocupado, contido, carismático e que é fácil de se gostar.
''Um Dia de Fúria'' é um clássico que deve ser assistido, tanto pela mensagem reflexiva de seu roteiro, quanto pela direção e o bom trabalho dos atores principais.
O Preço do Talento
3.6 97 Assista Agora''A única coisa valiosa que ele me deu foi dor''
''Uma semente tem que se destruir totalmente para se tornar uma flor''
Estas duas frases podem resumir completamente o filme, e, mais precisamente, como foi a infância conturbada que Shia Labeouf teve com seu pai.
Em um processo de auto-terapia, Labeouf escreveu o roteiro deste longa, baseado em seus traumas de infância, enquanto estava em uma clínica de reabilitação. É um roteiro que funciona notavelmente como maneira de reflexão, principalmente para quem teve problemas com os pais quando era pequeno, muitas das situações aqui presentes são extremamente realistas e cruas, que com certeza fará com que várias pessoas se identifiquem em vários momentos -para mim, aconteceu em uma cena bem específica do filme-.
A fotografia é muito bonita, utilizando muito bem da iluminação e das cores do ambiente para dar emoção a certas cenas. A trilha sonora mais intimista em alguns momentos, e com a utilização de músicas com significado que casam com a trama em outros, é também muito eficiente e funciona.
Deve ter sido muito difícil para Shia Labeouf interpretar o seu pai, pelo menos, emocionalmente falando, e ele dá um show aqui, fazendo uma figura paterna completamente detestável, mas que tem seus motivos para isso, mas que nunca justificam o modo como trata seu filho. Aliás, filho esse que é muito bem interpretado por Noah Jupe, que faz-nos sentir muito pela vida que ele leva, nos importando com o seu personagem. Não pode se dizer o mesmo de sua versão adulta, interpretada por Lucas Hedges, que apesar de não atrapalhar, não ajuda muito.
É o primeiro longa-metragem da diretora Alma Har'el, que consegue conduzir este roteiro intimista através da tela, oscilando muito bem entre as cenas do passado e as cenas do presente do protagonista. Apesar de não possuir muita identidade, Alma Har'el consegue nos adentrar dentro da história deste garoto e também nos aprofundar nos sentimentos dele de uma maneira que é digna de nota, principalmente na cena final.
''Honey Boy'' é um filme que é muito íntimo para Shia Labeouf, e através dessa intimidade e dessa realidade que ele consegue transpor, faz-nos refletir bastante e certamente fará muitos se identificarem com o longa.