Há quem torça a cara para “O Serviço de Entregas da Kiki” porque o filme pinta a bruxaria como algo positivo. As bruxas daquele universo, quando chegam à adolescência, se estabelecem em outras cidades e ajudam os locais. Umas curam doenças, outras aconselham em relação ao futuro… Kiki acaba fazendo entregas.
Acontece que a história não é a respeito de bruxaria, o mundo bruxo pouco mais é do que um recurso metafórico. O filme trata da transição da infância para o início da vida madura, isto é, da vida preenchida de responsabilidades.
Kiki deixa a família para tentar se fazer numa cidade litorânea agradável e pujante. Chegando ao seu destino, a mocinha encontra dificuldades atrás de dificuldades e só não desiste, derrotada, por causa da ajuda que recebe de Osono, uma padeira grávida. Osono, aliás, ajuda de verdade, nunca tenta incapacitar ou humilhar a menina. A padeira não quis dar o peixe, desejou que Kiki pescasse e a respeitou. Isso ficará mais claro através de exemplos: o cômodo oferecido à bruxinha estava imundo. Osono não a mima, arranjando para ela a limpeza, nem a degrada, exigindo que o local fique um brinco. A mulher simplesmente sugere que a menina limpe o quarto; Osono não oferece à inquilina, de mão beijada, o cômodo mais três refeições diárias, mas também não veste a capa de megera cobrando o aluguel e todas as refeições. Ao invés de uma coisa ou outra, ela permite que a mocinha fique no quarto e tenha o desjejum garantido; a padeira se entusiasma com o negócio de entregas da menina, mas não deixa de dar uma bronca suave quando Kiki se atrasa.
Osono, enfim, deseja que sua protegida cresça, não que fique imprestável ou depressiva.
Na cidade Kiki também conhece Tombo, jovem aficionado por aviação. Tombo é um sujeitinho inteligente e desengonçado que se interessa por Kiki assim que põe os olhos nela e está inteiramente disposto a conquistá-la.
Além de Kiki, de Osono e de Tombo, outras personagens também receberam cuidados especiais. Miyazaki consegue esboçar personalidade até no mais simples estivador. Os detalhes que ele colocou na movimentação de cada pessoa que aparece em tela revelam não só gosto pelo trabalho de desenhista e animador, mas um profundo carinho pelos seres humanos.
O bonito em “O Serviço de Entregas da Kiki” é que a menina se esforça e cresce sem se fazer de vítima diante das dificuldades,
e seu amadurecimento é assinalado pela perda da capacidade de conversar com o gato Jiji. Enquanto ainda respirava ares mais infantis, Kiki podia compreender seu gato, o relacionamento deles era um indicativo da inocência da menina (talvez da inocência de ambos, já que Jiji também envereda, ao seu modo, pelo caminho da maturidade).
Val Kilmer foi um ótimo Bruce Wayne e um Batman insosso. Jim Carrey transformou o Charada numa criatura absurdamente histérica e caricata. O Duas-Caras parecia mais um aspirante a Coringa. Alfred esteve digno, Robin, razoável. Nicole Kidman estava ótima naquela personagem desesperada por uma boa noite quente acompanhada entre lençóis, ela foi a melhor coisa do filme.
Ademais, Joel Schumacher exibiu seu gosto por planos inclinados e metade do que acontecia em tela não fazia o menor sentido.
Bowser, o monarca monstro, maligno e metido a imperador, conquistou com facilidade o indefeso reino dos pingüins azuis e partiu para levar desgosto ao Reino do Cogumelo e à sua princesa, Peach, uma verdadeira cabra-da-peste. Enquanto isso, Mário e Luigi sofrem humilhações e desventuras no Brooklyn, onde tentam emplacar a empresa de soluções hidráulicas que montaram. Num dos apuros, os irmãos acabam tragados àquele universo mágico em crise: Luigi cai em território hostil; Mário chega entre os cogumelos. A partir daqui o filme vai engatando as marchas agradavelmente até o fim.
"The Super Mario Bros. Movie" é um bom filme, Matthew Fogel fez um ótimo trabalho ao criar uma estrutura narrativa em cima de cenários tão loucos e erráticos quanto os que recheiam alguns dos principais jogos da Nintendo, e os principais louvores do longa são acertados, a saber, a coragem, a persistência e o amor fraterno. Além disso, vários personagens contam com arcos de evolução -- superficiais, é verdade --, contudo o feito não deixa de ser impressionante.
O filme, em geral, é bonito, muito colorido, enche os olhos, e a dublagem brasileira está sensacional, palmas principalmente ao Raphael Rossatto, que dubla o protagonista, mas todos estão ótimos. A trilha sonora mescla diversos temas originalmente compostos pelo genial Koji Kondo e medalhões de décadas passadas, como A-ha e AC/DC, e embora eu tenha achado meio estranho ouvir "Take on me" numa das cenas, não reclamarei, as músicas se encaixam bem em seus respectivos momentos.
Infelizmente, fiquei com a nítida impressão de que tentaram desconstruir o Mário e que certamente cogitaram transformar a princesa Peach em mais uma Mary Sue genérica e plana. Praticamente nenhuma grande conquista do Mário foi alcançada por mérito inteiramente próprio do herói, a princesa foi fundamental em vários momentos cruciais, e o bigodudo, numa ocasião ou outra, até me lembrou o Seiya pelo tanto que apanhou.
Seja como for, o filme é divertido, razoavelmente amarrado e acerta bem mais que erra.
Governos são pessoas. Imagino que essa obviedade passe invisível por milhares de pessoas todos os dias, contudo os governos e as instituições do Estado são compostos por pessoas, e as ações dos governos e das instituições estatais, portanto, são ações de pessoas. Oras, o que são pessoas? Criaturas falíveis, sugestionáveis, manipuláveis, que às vezes, em nome d'alguma boa intenção, erigem quimeras e metem, de maneira vigorosa, os pés pelas mãos.
Uns sujeitos que ocupam cargos poderosos no governo britânico cometeram uma estupidez de proporções apocalípticas e cabe a Bond, é claro, evitar a catástrofe. 007 não está sozinho nesta audaciosa empreitada, além do apoio habitual, ou seja, Q, Felix Leiter e mulheres lindas, ele conta com a ajuda da nova 007, interpretada de modo competente por Lashana Lynch. Lynch, aliás, protagoniza uma das cenas mais satisfatórias do longa ao se livrar d'um legítimo racista com anseios genocidas.
No caminho de James Bond está o luciferino Safin, provavelmente o vilão mais perigoso que o espião já enfrentou em toda a sua história cinematográfica; Safin é tão eficiente que chega a ser inverossímil. A propósito, "No Time to Die" é um ótimo filme, mas sofre d'um sério problema de credibilidade e coerência, a impressão que tive foi a de que os roteiristas precisavam chegar naquele final a todo custo e, para atingir o objetivo, usaram recursos narrativos francamente pobres e forçados.
Ademais, Ana de Armas está fofa e sim, a personagem dela usa armas muito bem.
Kells era uma pequena vila irlandesa habitada por gente simples, de bom coração, e a prioridade daquele povo era construir em volta de suas casas um paredão muito robusto a fim de que os Vikings não saqueassem os lares, matassem os varões e desonrassem as mulheres. As incursões predatórias dos nórdicos já aconteciam na Irlanda e a desgraça, cedo ou tarde, encontraria o caminho para Kells.
Lá vivia um menino extremamente imaginativo, criatura de intuição aguçada e curiosidade atiçada, sobrinho do abade. Ora, o tio do menino só pensava em erguer o muro contra os inimigos, dedicava ao projeto toda a sua consciência, trabalhava imbuído d'um genuíno senso de missão e não permitia desvios em seus objetivos. Acontece que chega em Kells, fugido d'uma ilha massacrada pelos Vikings, um escriba também embebido d'um verdadeiro senso missionário, sua tarefa consistia em terminar um livro sagrado iniciado há muitos anos pelo seu antecessor. O abade de Kells, inteiramente focado no problema com os invasores, não dá importância ao projeto do refugiado, então o velho escriba se aproveita do ímpeto curioso de Brendan, o menino imaginativo de intuição aguçada, para prosseguir com aquele trabalho tão importante; mais importante do que a construção d'um muro gigante.
O livro que deve ser terminado é o símbolo dos símbolos, isto é, ele é a representação de todos os símbolos e experiências mais fundamentais da existência humana, um guia para a vida, por isso é tão crucial terminá-lo; contudo o gosto de Tomm Moore -- autor da história e diretor da animação -- por símbolos acabou sufocando a naturalidade da obra, que ao invés de ser uma boa história infantil sobre a origem do belíssimo livro de Kells acabou se perdendo em arrodeios crípticos. Desorientado na sua floresta de símbolos, Moore abandonou personagens e assassinou a verossimilhança do seu conto, de maneira que o resultado final é, a um só tempo, satisfatório e decepcionante.
Acho que "Spectre" é o filme mais cansativo que já vi; não sei o porquê disso, mas conforme os minutos passavam, uma exaustão agressiva ia tomando posse de mim. Por alguma razão, meu corpo achava que eu carpia lotes do sofá. O curioso é que este vigésimo quarto longa da franquia não é ruim, Bond finalmente entra em confronto direto com a Spectre, organização maligna extremamente poderosa capaz de infiltrar governos e ditar o rumo de nações, e a jornada do espião é feita de atuações competentes e cinematografia espetacular: este é, muito provavelmente, o filme mais bonito da série, vale ser assistido apenas pela beleza que irradia, pelos cenários e composições cênicas de encher os olhos.
Achei interessante o fato da história ser toda movida por espectros. A organização malvada, é claro, se chama "Spectre", porém todos os motores da trama, as ações e justificativas dos personagens principais, são impulsionados por fantasmas, isto é, pela vontade de gente falecida, por memórias, por situações já ocorridas. Bond, por exemplo, começa o filme seguindo orientações de M, morta no capítulo anterior.
Blofeld, vilão tradicional da franquia, que não havia aparecido nos filmes do Dalton e do Brosnan, dá as caras novamente, dessa vez interpretado por Christoph Waltz. Waltz é um ator sensacional, mas desconfio que, aqui, ele não foi bem dirigido; o Blofeld que ele entrega tem seus momentos, mas não se afigura deveras ameaçador.
O MI6 está mais exposto do que nunca, e parte considerável da responsabilidade pelo estado lamentável da inteligência britânica recai sobre os ombros cansados de M, interpretada pela sétima e última vez por Judi Dench, sempre muito digna no papel. M comete erros graves. Ademais, é natural que a chefe d'um serviço secreto tenha de tomar as mais inglórias decisões, e é justamente o indesejado efeito colateral d'uma decisão inglória tomada há vários anos, na figura do ex-agente Raoul Silva, que aparece para infernizar a vida da mulher e de todos que a cercam.
Raoul Silva, na verdade, se chama Tiago Rodriguez, e "Tiago" é a versão latina para "James". O vilão funciona como um reflexo quebrado do 007, Rodriguez é um sujeito em ruínas, de maneira que a cidade esfacelada e abandonada onde vive talvez seja uma metáfora que indica tanto seu mundo interior arrasado quanto o estado deplorável do seu corpo corroído.
"Skyfall" penetra um pouco mais na história de vida de James Bond, algumas das melhores cenas do filme se passam na antiga propriedade escocesa da família do protagonista. O longa também explora os malefícios da superconexão à internet de nossa era, dessa mania de deixar tudo conectado. Uma sociedade assim, tão dependente da rede, se torna vulnerável e abre espaço para que um maluco rancoroso e habilidoso desgrace, mesmo à distância, milhares de vidas.
Há muita coisa que pode ser dita a respeito de "A View to a Kill". Primeiro, uma crítica comum ao filme é a idade de Roger Moore, dizem que ele era velho demais ao papel e que isso interferia na qualidade de suas cenas de ação e na verossimilhança de suas cenas românticas. Oras, o único momento em que percebi a idade pesar ao ator foi na perseguição empreendida por seu personagem em cima da Torre Eiffel, de resto, Moore, mesmo coroa, demonstrou vigor, e o cansaço que às vezes tomava sua fisionomia me pareceu mais enfado ao interpretar James Bond -- o ator encarnava o espião pela sétima vez -- do que efeito etário. Quanto às cenas lascivas, elas fazem sentido. Na primeira delas, aliás, a moça nem parecia muito a fim, tive a impressão de que ela encarou o momento como ossos do ofício. A propósito, a música que abre o longa é ótima, caiu como uma luva, mas as imagens apresentadas são de sangrar os olhos.
O vilão da história, Zorin, psicopata inescrupuloso e ex-agente da KGB, interpretado magnificamente por Christopher Walken, é fruto d'um experimento nazista, e seu confronto final com Bond sobre os cabos da ponte Golden Gate foi um dos pontos notáveis do longa. Uma das principais capangas de Zorin, May Day, ao descobrir que seu chefe era um desgraçado que fazia pouco caso até das vidas dos parceiros mais leais, se redimiu em seus últimos minutos de tela.
A cinematografia foi esforçada, mostrou bem algumas paisagens e capturou diversas glórias arquitetônicas."A View to a Kill" fechou satisfatoriamente o ciclo do Moore.
"Octopussy" é um filme pastelão, parece que todo o departamento criativo decidiu tirar umas férias bem divertidas e transformar o resultado num episódio de James Bond. A cena inicial é bem dinâmica,
e admito que me surpreendi quando constatei que o bumbum de cavalo no vagão puxado pelo carro que Bond e sua parceira usaram para escapar escondia um pequeno avião. Mais adiante, James enfrenta toda a fauna da Índia e, brevemente enlouquecido, banca o Tarzan no país do Mogli. Por fim, o agente secreto se veste de palhaço e acaba divertindo a platéia d'um circo.
Além de tudo isso, Bond também contribui para o pagamento das contas de dezenas -- ou centenas -- de indianos, se disfarça de crocodilo e dá um susto digno de pegadinha do Sílvio Santos nuns malucos que pensavam que o ar havia abandonado os pulmões daquele homem dentro do saco.
O elenco de apoio de "Octopussy" é especialmente carismático. Maud Adams, a guru da seita do polvo mortal, dá à personagem título ares elegantes, discretos e pesados. Octopussy, às vezes, parece carregar o mundo nas costas. Vijay Amritraj, um dos agentes locais que coopera com Bond, é um sujeito vivo, alegre e simpático; O velho Desmond, todo enlevado, propicia ao Q bons momentos em campo -- Q devia ter tido mais oportunidades como mastim de campo. Kabir Bedi, que interpreta o grandalhão Gobinda, braço direito do vilão principal, está tão feliz em estar no filme e aparenta ser tão gente boa que não dá para nutrir sentimentos ruins por seu personagem.
Os efeitos de câmera lenta que Lee Tamahori usa por aqui são lamentáveis, eles achincalham cenas e diminuem o porte do filme, último da franquia estrelado por Pierce Brosnan. Os diálogos travados entre Jinx, personagem interpretada de maneira peculiar por Halle Berry, e James Bond não contribuem à elevação dramática da obra, ao contrário, conseguem causar contorções involuntárias nas faces de pessoas com senso do ridículo aguçado. Ademais, o absurdo de algumas situações, sobretudo situações envolvendo lasers, atiram o longa ao terreno da galhofa.
Em compensação, "Die Another Day" desfila cravejado de referências aos filmes passados, e essas referências rutilam em itens, momentos e melodias. O filme também ostenta uma das melhores seqüências da saga, o duelo de espadas entre Bond e Gustav Graves, o principal vilão da história; a disputa dos dois escalona de maneira muito natural, crível e instigante. Além disso, a parte inicial do filme traz uma novidade, isto é, o famoso espião se lascando a valer. James é capturado e torturado com pancadas, afogamento em água gelada, choques elétricos e escorpiões, ele permanece nestas condições por mais de ano. Eu não me lembro de ter visto aquele agente secreto tão competente em circunstâncias tão deploráveis.
Enfim, "Die Another Day" tem seus méritos, porém Pierce Brosnan merecia despedida melhor.
Parece que, para John Rambo, uma vida sossegada consiste em capturar najas e navegar às beiras d'uma viscosa guerra civil. Cuidava ele da própria vida exótica quando foi abordado por missionários desejosos de alugar seu barco para levar remédios físicos e espirituais a uma vila em zona de matança. Sabendo muito bem do inferno que existia rio acima, o veterano nega o passeio até aceitá-lo.
As coisas, é claro, amargam, e não demora para a familiar tríade tiro, porrada e bomba dançar pela tela.
"Rambo IV" não é um filme fácil de assistir. Logo no início alguns resultados brutais do instinto carniceiro que pode acometer tiranos e seus comandados são mostrados sem cerimônia, e a violência presente no longa é a mais visceral da série até o momento. Além disso, a obra é permeada por um ceticismo melancólico em relação à natureza humana; a impressão é que estamos presos, em geral, à pior versão de nós mesmos, e que esse cárcere fétido e abandonado manterá cerradas as grades imundas de sangue até o final dos tempos.
Brilha, contudo, encarnada em Sarah, personagem de Julie Benz, a esperança tênue, mas suficiente para animar a chama vital de corações que ainda não se resolveram completamente à maldade e à selvageria, de que a condição humana não precisa ser assim.
Minha cultura cinematográfica é quase inexistente, há diversos clássicos de vários gêneros que eu nunca vi. Oras, como estou decidido a emendar essa lacuna, aproveitei a data propícia para assistir a "Halloween", de 1978, filme dito obrigatório aos amantes de terror e suspense. Muito bem, eu vi e fiquei decepcionado, achei o longa todo terrivelmente burro, permeado por uma miríada de inverossimilhanças muito eficiente em quebrar o estado de sonho, digamos assim, e me lembrar que eu via um filme: o comportamento de Laurie diante do assassino é absurdo; tanta luz apagada é um absurdo; a velocidade de Mike Myers é um absurdo; a falta de olfato do pai da Annie é um absurdo, e por aí vai.
Além disso, descontadas as atuações de Jamie Lee Curtis, Tony Moran e Donald Pleasence, as interpretações dos demais atores foram ruins ou medíocres, e interpretações de baixa qualidade também comprometem a imersão.
Eu entendo a razão do negócio ter marcado o gênero a que pertence, Mike Myers é um vilão assustador, ele é forte, resistente, dotado d'uma paciência quase infinda e obstinado; a máscara o deixa inexpressivo e a arma usada é simples, uma faca grande. Para completar, o sujeito ainda se esconde muito bem, possui passos levíssimos e não hesita. Oras, coloque um cara desses pra caçar moças mais ou menos descabeçadas numa noite de Halloween e pronto, é impossível não causar algum impacto no público.
No entanto, como já disse, saí do filme decepcionado, as atuações não melhoraram e as inverossimilhanças continuaram se empilhando. O que aliviou minha chateação foi a cena final, da qual só participou o trio que atuou bem.
Sobre “Tusk”, filme que mostra o infeliz destino de um podcaster cuzão (ele é “transformado” em morsa), só vou soltar umas breves observações, o filme não merece mais que isso.
Wallace, o protagonista, foi especialmente burro, eu diria que a burrice desatenta foi a principal causa de sua desgraça. Isto faz algum sentido, pois geralmente esse povo que folga em dores alheias é obtuso e incapaz de realmente considerar outra pessoa, portanto não consegue imaginar de maneira mais ou menos precisa como são as outras pessoas; mas Wallace abusa da burrice, porque o sujeito se embrenha numa região isolada d’um país estrangeiro sem avisar a ninguém de seu paradeiro, aceita bebida de um velho evidentemente estranho que mora sozinho numa casa assustadora e se mantém conversando com esse velho — e bebendo avidamente do chá oferecido –, mesmo após experimentar os primeiros sinais de sonolência fora de hora.
Pediu pra se lascar.
O vilão do negócio, interpretado muito bem pelo já falecido Michael Parks, é um homem hipócrita e torto, maligno e louco, que imagina a humanidade inteira tão podre quanto ele próprio.
Seja como for, “Tusk” é um filme de péssimo gosto.
Gostaria de começar esta nota dizendo que sim, Denise Richards convence totalmente como uma física nuclear chamada Christmas. Há uma pequena multidão que se compraz em formar nas faces uma expressão de desdém divertido enquanto afirma o absurdo daquela personagem. Oras, as artes narrativas exploram as possibilidades da existência humana; alguém acha, de coração, de verdade, que não existe, existiu ou existirá alguma física nuclear toda bonitona de nome altamente chistoso? A existência de alguém assim não é absurda, é apenas improvável. Denise, um joinha pra você.
"The World is Not Enough" tem seus encantos: os cenários; Sophie Marceau e o retorno de Robbie Coltrane são alguns desses encantos. Além disso, Renard é um vilão trágico, as escolhas erradas de sua vida matam-no um pouco todo dia. O filme também mostrou a última participação de Desmond Llewelyn como Q. O personagem já ia se aposentar, contudo o carismático velhinho morreu menos de dois meses após o lançamento da obra, o que deixou sua cena derradeira comovente. Que ele descanse em paz.
Acontece que o longa tem seus problemas, e os dois principais são o ritmo cansativo -- o negócio parece se esticar por duas horas e quarenta minutos -- e o estranhamento de Pierce Brosnan. Brosnan estava muito confortável nos dois projetos anteriores, mas aqui acredito ter percebido o ator com dificuldades de se adequar perfeitamente a algumas situações, especialmente às interações com Judi Dench e Sophie Marceau.
Logo no início de "For Your Eyes Only" James Bond visita o túmulo de sua falecida senhora. A cena é muito breve, porém Roger Moore dá ao momento uma significância robusta com o luto solene, porém resignado, que ele passa ao personagem. Daí partimos ao último ato de Blofeld e finalmente vemos Bond vingar a esposa assassinada. Aliás, a variação em cima da música tema do espião, que toca durante a perseguição a Blofeld, deixou a composição mais enérgica e refrescante.
Esta breve introdução prenuncia justamente um dos assuntos principais do filme, a vingança. "For Your Eyes Only", contudo, é uma história de vingança atípica. Um navio com equipamento bastante sensível do governo britânico afunda em águas albanesas, e os ingleses querem recuperar o artefato antes que ele caia em mãos erradas. Para ajudá-los na busca, os britânicos se aliam ao renomado arqueólogo Timothy Havelock; todavia o pesquisador é assassinado junto da esposa na frente da filha, Melina, que não intenciona deixar sem resposta a brutalidade cometida contra sua família. A questão é que Melina não é a personagem principal da história, este papel é do Bond, só que a mulher atravessa a narração ora se impondo e sendo indispensável, ora se permitindo ser conduzida e descansar em segundo plano; a dinâmica ficou encantadora.
Melina é a melhor parte do filme, e ela é também minha Bond girl favorita. A moça, além de arqueóloga e portadora d'uma beleza que mescla elegância e rusticidade, é um ás da balestra, mui inteligente e parece se conhecer bem.
A cena inicial do filme anterior, aquela que termina com Bond se jogando d'um precipício nevado e abrindo um paraquedas co'a Union Jack, deve ter feito grande sucesso, pois fizeram uma variação dela no início de "Moonraker". Observando bem, fizeram uma variação em cima do filme anterior inteiro.
O malfeitor da vez, o bilionário Hugo Drax, também deseja exterminar a humanidade e criar uma nova sociedade somente aos escolhidos e seus descendentes, só que ele desce uns degraus a mais na escadaria ao Inferno, pois além de não parecer ter outra motivação que não o próprio ego, ele ainda se enxerga como o deus do mundo vindouro.
Jaws está de volta, é claro, e protagoniza cenas dignas de desenho animado. Tenho a impressão que Richard Kiel, o ator que interpretou o grandalhão indestrutível, era a simpatia em pessoa, mesmo como capanga de vilão ele transmite, aqui e ali, traços de bonomia, e seu personagem, afinal, encontra o amor e alcança a redenção.
"Moonraker" é uma experiência interessante. O último ato do longa é, em geral, tedioso, há muita lentidão nas movimentações de veículos e pessoas; a música quase sempre soa vaga e morosa; até o discurso de Drax é proferido devagar, de modo comedido. Todavia, há vários pequenos momentos notáveis ao longo da história: a cena de Bond quase assassinado no equipamento de gravidade; a coitada da mulher perseguida por cães; o ínfimo confronto entre Bond e o macabro atirador de facas; os vidros quebrados e pérolas no diálogo, como "Do you know him?"; "Not socially, his name is Jaws, and he kills people."
O vilão de "The Spy who Loved me" é mais um bilionário que nutre o sonho fabuloso de jogar uma potência nuclear contra outra, mas ele não pensa nisso por ganância financeira, e sim por ganância ideológica ou moralista. A humanidade está corrompida demais e acabaria se destruindo, então que o processo seja acelerado d'uma vez, e que dos escombros da civilização surja um mundo novo, puro e subaquático criado por ele! O sujeito não aceita julgamentos sobre suas ações e intenções, não da raça condenada que ele está prestes a eliminar; que as pessoas do futuro julguem suas atitudes.
Atlantis, o covil do megalômano Karl Stromberg -- esse é o nome do infeliz --, aquela estrutura parecida co'uma aranha oceânica colossal, que emerge e submerge, com vistas à superfície ou ao fundo do mar, guarnecida de aposentos decorados de maneira requintada, é um espetáculo à parte, com certeza é um dos antros vilanescos mais icônicos da série. Atlantis intimida e impõe o respeito que seu governante fracassa em impor.
Ademais, aqui somos apresentados a Jaws, o grandalhão imortal com dentes de metal que trata os adversários como sacos de pão e carros como caixas de papelão. Jaws é a maior ameaça a James Bond e à sua companheira de missão, a espiã soviética Anya Amasova. A propósito, o grande defeito deste filme são os confrontos físicos, as lutas se desdobram feias e muito pouco naturais.
Dessa vez o caminho de James Bond se cruza com o caminho de um assassino de elite -- e quando digo de elite, me refiro a alguém mundialmente reconhecido por todas as principais forças do mundo como extremamente competente. Um vilão desta envergadura tinha de ser interpretado por ninguém menos que o inimitável Christopher Lee. Francisco Scaramanga, o homem da arma de ouro, teve uma infância desestruturada no circo e descobriu que seu maior prazer na vida era matar pessoas. Ele se tornou um cidadão adorável, obviamente, vive isolado numa ilha treinando sua arte mortal, recebendo futuras vítimas e dedicado a projetos do mal. A única pessoa na qual o vilão parece confiar é Nick Nack, seu pequeno escudeiro e único herdeiro. Nick Nack é um sujeitinho interessante, magistralmente interpretado por Hervé Villechaize. Braço direito de Scaramanga, o anão demonstra uma presença de espírito gigante e engrandece todas as cenas de que participa.
Roger Moore continua confortável na pele de 007, ele ainda me pareceu a calibrar o personagem em alguns momentos, especialmente quando interagia com as mulheres do elenco, mas está bem e leva o filme tranqüilamente. A propósito, Bond, como sempre, tem ajuda para cumprir a missão, e uma de suas ajudantes, uma moça que atende por Goodnight, me deu agonia com sua impulsividade tonta e irresponsável.
O veredito é o seguinte: "The Man with the Golden Gun" é um capítulo digno da série, não essa bagaceira que pintam por aí.
Minha opinião a respeito de "Goldeneye" é provavelmente enviesada, pois este foi o primeiro filme de 007 que vi -- e ainda o vi no cinema, numa época em que ir ao cinema ainda era grande coisa. Além disso, passei anos jogando "Goldeneye 007" em meu Nintendo 64, então a nostalgia existe e está sorridente.
Dito isso, Pierce Brosnan nasceu para interpretar James Bond, a desenvoltura que ele dá ao personagem impressiona, e sua primeira aventura como o espião mais famoso do mundo é umas das melhores da franquia, esta é a verdade objetiva.
Em "Goldeneye" James Bond deve pôr fim aos planos malignos de um ex-agente do governo britânico, planos que, se bem-sucedidos, jogariam a humanidade numa catástrofe econômica e social sem precedentes. Este agente corrompido era o antigo 006, à época, camarada de James. Achei interessante notar que, enquanto em "Licence to Kill" o Bond do Dalton virou as costas à rainha para vingar seu amigo, um dos motes deste primeiro longa do Brosnan é "Bond não se importa com os amigos". A ruptura com a abordagem anterior do personagem me pareceu intencional.
Finalizo estas breves linhas exaltando Izabella Scorupco, talvez a melhor Bond girl da franquia -- Natalya Simonova é uma mulher inteligente, de voz marcante, linda, ativa e muito simpática -- e o falecido Robbie Coltrane, bastante confortável e divertido como o mafioso Valentin Zukovsky.
Sean Connery volta ao papel de James Bond numa curiosa mistura de abatimento e animação, tive a impressão de que, apesar de cansado de interpretar o personagem, ele se alegrou com o retorno e trabalhou direito; o modo automático do ator, que às vezes assumia o controle em "You Only Live Twice", mal dá as caras por aqui.
Também, convenhamos, não houve muito espaço para Connery montar uma zona de conforto: Bond dirige um veículo lunar; conversa com um rato; se faz de contrabandista; é enfiado num caixão; enfrenta dois idiotas que parecem saídos d'uma seita cruel e obscura (em algumas das vezes que essa dupla surgiu, aliás, senti-me vendo outro tipo de filme, eles dão às cenas que estão um toque sombrio e fanfarrão num grau que destoa do universo cinemático de James Bond); luta de maneira aguerrida num elevador; encara duas mulheres de nomes toscos e coreografias de combate tão ridículas quanto espalhafatosas; invade uma plataforma de petróleo e interage com um bilionário que, apesar de excêntrico, não é vilão.
A verdade é que este filme não é normal, o elefante muito louco ganhando moedas no casino ilustra esta verdade; ademais, não há quem me convença de que não forneceram drogas àquele animal, o bicho estava no país das maravilhas.
Em suma, "Diamonds are Forever" é um filme atípico e divertido, Sean Connery transferiu dignamente o bastão a Roger Moore.
"Quantum of Solace" é emendado ao filme anterior -- de certo modo, é como se "Casino Royale" fosse a primeira parte e "Quantum..." a segunda, as obras são irmãs. Contudo, este segundo filme da era Craig é aquele irmão que vive na sombra do outro, até tem seus momentos, mas abdica de realizações mais vistosas e abundantes.
Os méritos de "Quantum of Solace", todavia, se não são vários, são valiosos. A cinematografia está fantástica, da seqüência de ação inicial ao confronto derradeiro com Domenic Greene, tudo enche os olhos. Há quem reclame de algumas cenas dizendo que a câmera estava confusa, que a inspiração na franquia do Jason Bourne não deu certo, mas isso, pra mim, parece mais papo de papagaio do que discurso substancioso.
Nós também vemos aqui uma Bond girl especialmente trágica, com um arco narrativo próprio de desfecho muito satisfatório. O vilão principal é um ecologista de fachada, hipócrita malvado como tantos que habitam o mundo. Ademais, é levantada rapidamente a questão de que as nações menos favorecidas são arruinadas por causa de estratégias das nações mais poderosas. Um último ponto que não pode passar batido é a interação entre Daniel Craig e Judi Dench, a química entre os dois funcionou à perfeição, passam facilmente por mãe e filho ou avó e neto.
"Quantum of Solace" não sai totalmente da sombra de "Casino Royale", tem um roteiro mal polido e abertura insossa, todavia possui pontos fortes e merece ser apreciado.
"On Her Majesty's Secret Service" é um filme estranho, eu compreendo as reservas que tantas pessoas têm ao seu respeito. George Lazenby aceitou a difícil missão de substituir Sean Connery, e a cena inicial, aquela briga na praia enquanto ele salva sua futura esposa d'uma provável morte por afogamento, apesar do mistério besta que envolveu sua aparência nos primeiros momentos -- o rosto do homem simplesmente não aparecia inteiro, ou aparecia a nuca do sujeito, ou sua boca fumando, etc. --, não é ruim, embora já indique, ao observador mais atento, o deslocamento do ator e a confusão do personagem.
Lazenby não servia mesmo para Bond, ele deu ao personagem ares levemente desengonçados e tirou parte considerável do magnetismo do espião. Telly Savalas, por outro lado, esteve perfeito como Blofeld, ele deu ao vilão uma compleição ameaçadora e metódica que finalmente o vendeu como líder máximo d'uma organização criminosa tão imensa e poderosa quanto a Spectre. Diana Rigg foi uma ótima escolha para Tracy, a mulher que conquista o coração volúvel de James Bond, só que faltou entrosamento entre ela e Lazenby, e também faltou desenvolvimento ao romance dos dois.
No mais, o filme passa com uns problemas técnicos que prejudicam a experiência, a saber, cortes esquisitos e posicionamento bizarro dos microfones; logo no início, por exemplo, acontece de Tracy, mui distante na tela, falar e a gente escutá-la firme ao nosso lado. Seja como for, aquele final de cortar o coração redime a obra.
Elliot Carver, o dono megalômano d'um colosso midiático, quer mais espaço no mercado. Carver gosta de dinheiro, evidentemente, todavia ele é um sujeito com verdadeiro tesão em influenciar os outros e não se importa em provocar uma guerra mundial para que seu castelo de ego cresça firme e forte. James Bond tem 48 horas para provar o envolvimento do maluco numa grave crise geopolítica antes das potências mundiais se engalfinharem em matança desnecessária; felizmente, a liberdade poética das 48 horas muito se assemelha àquela vista durante os cinco minutos até a explosão de Namekusei no anime de "Dragon Ball Z".
"Tomorrow Never Dies" não é dos melhores filmes de James Bond, as cenas de ação se alongam além do necessário, e apesar dos esforços da equipe criativa, às vezes acabam cansando de tal maneira que, ao término delas, não era sem custo que minha atenção se voltava a algo mais sutil. As Bond girls também não agregam muito à obra, a esposa do ricaço é bonita, elegante e melancólica; a chinesa às vezes parecia não querer estar ali, faltou emoção à mulher; a professora de Dinamarquês devia ter permanecido mais tempo em tela, era charmosa.
Digo, porém, que vários dos diálogos saíram afiados, que Brosnan vivia confortavelmente o papel, que o carro da vez foi um dos mais simpáticos da série e que, após toda a manipulação midiática descarada dos últimos anos, este filme ganha alguma força e mostra, ironicamente, que o amanhã nunca morre.
"Casino Royale" reinicia a franquia, entrega ao público um Bond ainda cru, impulsivo, de emoções desbalanceadas, e Daniel Craig, apesar do estranhamento que o personagem vestido por ele me causou, cumpre o papel praticamente à perfeição. O filme é competente, a história convence como primeira missão principal do famoso agente secreto; o vilão não é um bilionário megalômano, chefão d'algum tráfico internacional ou ex-agente de elite do governo com agenda própria, é meramente um criminoso bem-sucedido conectado a uns figurões do submundo, ótimo em matemática e especialista em manipulação do mercado financeiro. Le Chiffre é grande, mas há peixes bem maiores. A Bond girl principal da vez,
Vesper Lynd, é encantadora, de maneira que não há inverossimilhança quando, por causa dela, James Bond envia uma cartinha de demissão ao serviço secreto. Além disso, aqui já somos reintroduzidos ao Felix, tradicional personagem da série.
As cenas de ação estão muito bem executadas -- a primeira delas, aquela perseguição frenética sem limites --, acontece logo após a abertura do filme e eu não ficarei surpreso se descobrir que ela é uma das melhores seqüências de ação da História do cinema.
A abertura, aliás, meio cantada, meio gritada na voz de Chris Cornell, sinaliza que ali começava uma nova era. Não há gostosas nuas ou seminuas serpenteando diante do espectador enquanto a música toca, há cenas de combate, cartas de baralho e tiros afrescalhados; a partir daqui, a série tomaria outra direção.
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 773 Assista AgoraHá quem torça a cara para “O Serviço de Entregas da Kiki” porque o filme pinta a bruxaria como algo positivo. As bruxas daquele universo, quando chegam à adolescência, se estabelecem em outras cidades e ajudam os locais. Umas curam doenças, outras aconselham em relação ao futuro… Kiki acaba fazendo entregas.
Acontece que a história não é a respeito de bruxaria, o mundo bruxo pouco mais é do que um recurso metafórico. O filme trata da transição da infância para o início da vida madura, isto é, da vida preenchida de responsabilidades.
Kiki deixa a família para tentar se fazer numa cidade litorânea agradável e pujante. Chegando ao seu destino, a mocinha encontra dificuldades atrás de dificuldades e só não desiste, derrotada, por causa da ajuda que recebe de Osono, uma padeira grávida. Osono, aliás, ajuda de verdade, nunca tenta incapacitar ou humilhar a menina. A padeira não quis dar o peixe, desejou que Kiki pescasse e a respeitou. Isso ficará mais claro através de exemplos: o cômodo oferecido à bruxinha estava imundo. Osono não a mima, arranjando para ela a limpeza, nem a degrada, exigindo que o local fique um brinco. A mulher simplesmente sugere que a menina limpe o quarto; Osono não oferece à inquilina, de mão beijada, o cômodo mais três refeições diárias, mas também não veste a capa de megera cobrando o aluguel e todas as refeições. Ao invés de uma coisa ou outra, ela permite que a mocinha fique no quarto e tenha o desjejum garantido; a padeira se entusiasma com o negócio de entregas da menina, mas não deixa de dar uma bronca suave quando Kiki se atrasa.
Osono, enfim, deseja que sua protegida cresça, não que fique imprestável ou depressiva.
Na cidade Kiki também conhece Tombo, jovem aficionado por aviação. Tombo é um sujeitinho inteligente e desengonçado que se interessa por Kiki assim que põe os olhos nela e está inteiramente disposto a conquistá-la.
Além de Kiki, de Osono e de Tombo, outras personagens também receberam cuidados especiais. Miyazaki consegue esboçar personalidade até no mais simples estivador. Os detalhes que ele colocou na movimentação de cada pessoa que aparece em tela revelam não só gosto pelo trabalho de desenhista e animador, mas um profundo carinho pelos seres humanos.
O bonito em “O Serviço de Entregas da Kiki” é que a menina se esforça e cresce sem se fazer de vítima diante das dificuldades,
e seu amadurecimento é assinalado pela perda da capacidade de conversar com o gato Jiji. Enquanto ainda respirava ares mais infantis, Kiki podia compreender seu gato, o relacionamento deles era um indicativo da inocência da menina (talvez da inocência de ambos, já que Jiji também envereda, ao seu modo, pelo caminho da maturidade).
Ao final do filme tudo está diferente.
Batman Eternamente
2.6 720 Assista AgoraVal Kilmer foi um ótimo Bruce Wayne e um Batman insosso. Jim Carrey transformou o Charada numa criatura absurdamente histérica e caricata. O Duas-Caras parecia mais um aspirante a Coringa. Alfred esteve digno, Robin, razoável. Nicole Kidman estava ótima naquela personagem desesperada por uma boa noite quente acompanhada entre lençóis, ela foi a melhor coisa do filme.
Ademais, Joel Schumacher exibiu seu gosto por planos inclinados e metade do que acontecia em tela não fazia o menor sentido.
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 780 Assista AgoraBowser, o monarca monstro, maligno e metido a imperador, conquistou com facilidade o indefeso reino dos pingüins azuis e partiu para levar desgosto ao Reino do Cogumelo e à sua princesa, Peach, uma verdadeira cabra-da-peste. Enquanto isso, Mário e Luigi sofrem humilhações e desventuras no Brooklyn, onde tentam emplacar a empresa de soluções hidráulicas que montaram. Num dos apuros, os irmãos acabam tragados àquele universo mágico em crise: Luigi cai em território hostil; Mário chega entre os cogumelos. A partir daqui o filme vai engatando as marchas agradavelmente até o fim.
"The Super Mario Bros. Movie" é um bom filme, Matthew Fogel fez um ótimo trabalho ao criar uma estrutura narrativa em cima de cenários tão loucos e erráticos quanto os que recheiam alguns dos principais jogos da Nintendo, e os principais louvores do longa são acertados, a saber, a coragem, a persistência e o amor fraterno. Além disso, vários personagens contam com arcos de evolução -- superficiais, é verdade --, contudo o feito não deixa de ser impressionante.
O filme, em geral, é bonito, muito colorido, enche os olhos, e a dublagem brasileira está sensacional, palmas principalmente ao Raphael Rossatto, que dubla o protagonista, mas todos estão ótimos. A trilha sonora mescla diversos temas originalmente compostos pelo genial Koji Kondo e medalhões de décadas passadas, como A-ha e AC/DC, e embora eu tenha achado meio estranho ouvir "Take on me" numa das cenas, não reclamarei, as músicas se encaixam bem em seus respectivos momentos.
Infelizmente, fiquei com a nítida impressão de que tentaram desconstruir o Mário e que certamente cogitaram transformar a princesa Peach em mais uma Mary Sue genérica e plana. Praticamente nenhuma grande conquista do Mário foi alcançada por mérito inteiramente próprio do herói, a princesa foi fundamental em vários momentos cruciais, e o bigodudo, numa ocasião ou outra, até me lembrou o Seiya pelo tanto que apanhou.
Seja como for, o filme é divertido, razoavelmente amarrado e acerta bem mais que erra.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista AgoraGovernos são pessoas. Imagino que essa obviedade passe invisível por milhares de pessoas todos os dias, contudo os governos e as instituições do Estado são compostos por pessoas, e as ações dos governos e das instituições estatais, portanto, são ações de pessoas. Oras, o que são pessoas? Criaturas falíveis, sugestionáveis, manipuláveis, que às vezes, em nome d'alguma boa intenção, erigem quimeras e metem, de maneira vigorosa, os pés pelas mãos.
Uns sujeitos que ocupam cargos poderosos no governo britânico cometeram uma estupidez de proporções apocalípticas e cabe a Bond, é claro, evitar a catástrofe. 007 não está sozinho nesta audaciosa empreitada, além do apoio habitual, ou seja, Q, Felix Leiter e mulheres lindas, ele conta com a ajuda da nova 007, interpretada de modo competente por Lashana Lynch. Lynch, aliás, protagoniza uma das cenas mais satisfatórias do longa ao se livrar d'um legítimo racista com anseios genocidas.
No caminho de James Bond está o luciferino Safin, provavelmente o vilão mais perigoso que o espião já enfrentou em toda a sua história cinematográfica; Safin é tão eficiente que chega a ser inverossímil. A propósito, "No Time to Die" é um ótimo filme, mas sofre d'um sério problema de credibilidade e coerência, a impressão que tive foi a de que os roteiristas precisavam chegar naquele final a todo custo e, para atingir o objetivo, usaram recursos narrativos francamente pobres e forçados.
Ademais, Ana de Armas está fofa e sim, a personagem dela usa armas muito bem.
Uma Viagem ao Mundo das Fábulas
4.0 99 Assista AgoraKells era uma pequena vila irlandesa habitada por gente simples, de bom coração, e a prioridade daquele povo era construir em volta de suas casas um paredão muito robusto a fim de que os Vikings não saqueassem os lares, matassem os varões e desonrassem as mulheres. As incursões predatórias dos nórdicos já aconteciam na Irlanda e a desgraça, cedo ou tarde, encontraria o caminho para Kells.
Lá vivia um menino extremamente imaginativo, criatura de intuição aguçada e curiosidade atiçada, sobrinho do abade. Ora, o tio do menino só pensava em erguer o muro contra os inimigos, dedicava ao projeto toda a sua consciência, trabalhava imbuído d'um genuíno senso de missão e não permitia desvios em seus objetivos. Acontece que chega em Kells, fugido d'uma ilha massacrada pelos Vikings, um escriba também embebido d'um verdadeiro senso missionário, sua tarefa consistia em terminar um livro sagrado iniciado há muitos anos pelo seu antecessor. O abade de Kells, inteiramente focado no problema com os invasores, não dá importância ao projeto do refugiado, então o velho escriba se aproveita do ímpeto curioso de Brendan, o menino imaginativo de intuição aguçada, para prosseguir com aquele trabalho tão importante; mais importante do que a construção d'um muro gigante.
O livro que deve ser terminado é o símbolo dos símbolos, isto é, ele é a representação de todos os símbolos e experiências mais fundamentais da existência humana, um guia para a vida, por isso é tão crucial terminá-lo; contudo o gosto de Tomm Moore -- autor da história e diretor da animação -- por símbolos acabou sufocando a naturalidade da obra, que ao invés de ser uma boa história infantil sobre a origem do belíssimo livro de Kells acabou se perdendo em arrodeios crípticos. Desorientado na sua floresta de símbolos, Moore abandonou personagens e assassinou a verossimilhança do seu conto, de maneira que o resultado final é, a um só tempo, satisfatório e decepcionante.
007 Contra Spectre
3.3 1,0K Assista AgoraAcho que "Spectre" é o filme mais cansativo que já vi; não sei o porquê disso, mas conforme os minutos passavam, uma exaustão agressiva ia tomando posse de mim. Por alguma razão, meu corpo achava que eu carpia lotes do sofá. O curioso é que este vigésimo quarto longa da franquia não é ruim, Bond finalmente entra em confronto direto com a Spectre, organização maligna extremamente poderosa capaz de infiltrar governos e ditar o rumo de nações, e a jornada do espião é feita de atuações competentes e cinematografia espetacular: este é, muito provavelmente, o filme mais bonito da série, vale ser assistido apenas pela beleza que irradia, pelos cenários e composições cênicas de encher os olhos.
Achei interessante o fato da história ser toda movida por espectros. A organização malvada, é claro, se chama "Spectre", porém todos os motores da trama, as ações e justificativas dos personagens principais, são impulsionados por fantasmas, isto é, pela vontade de gente falecida, por memórias, por situações já ocorridas. Bond, por exemplo, começa o filme seguindo orientações de M, morta no capítulo anterior.
Blofeld, vilão tradicional da franquia, que não havia aparecido nos filmes do Dalton e do Brosnan, dá as caras novamente, dessa vez interpretado por Christoph Waltz. Waltz é um ator sensacional, mas desconfio que, aqui, ele não foi bem dirigido; o Blofeld que ele entrega tem seus momentos, mas não se afigura deveras ameaçador.
007: Operação Skyfall
3.9 2,5K Assista AgoraO MI6 está mais exposto do que nunca, e parte considerável da responsabilidade pelo estado lamentável da inteligência britânica recai sobre os ombros cansados de M, interpretada pela sétima e última vez por Judi Dench, sempre muito digna no papel. M comete erros graves. Ademais, é natural que a chefe d'um serviço secreto tenha de tomar as mais inglórias decisões, e é justamente o indesejado efeito colateral d'uma decisão inglória tomada há vários anos, na figura do ex-agente Raoul Silva, que aparece para infernizar a vida da mulher e de todos que a cercam.
Raoul Silva, na verdade, se chama Tiago Rodriguez, e "Tiago" é a versão latina para "James". O vilão funciona como um reflexo quebrado do 007, Rodriguez é um sujeito em ruínas, de maneira que a cidade esfacelada e abandonada onde vive talvez seja uma metáfora que indica tanto seu mundo interior arrasado quanto o estado deplorável do seu corpo corroído.
"Skyfall" penetra um pouco mais na história de vida de James Bond, algumas das melhores cenas do filme se passam na antiga propriedade escocesa da família do protagonista. O longa também explora os malefícios da superconexão à internet de nossa era, dessa mania de deixar tudo conectado. Uma sociedade assim, tão dependente da rede, se torna vulnerável e abre espaço para que um maluco rancoroso e habilidoso desgrace, mesmo à distância, milhares de vidas.
007: Na Mira dos Assassinos
3.4 141 Assista AgoraHá muita coisa que pode ser dita a respeito de "A View to a Kill". Primeiro, uma crítica comum ao filme é a idade de Roger Moore, dizem que ele era velho demais ao papel e que isso interferia na qualidade de suas cenas de ação e na verossimilhança de suas cenas românticas. Oras, o único momento em que percebi a idade pesar ao ator foi na perseguição empreendida por seu personagem em cima da Torre Eiffel, de resto, Moore, mesmo coroa, demonstrou vigor, e o cansaço que às vezes tomava sua fisionomia me pareceu mais enfado ao interpretar James Bond -- o ator encarnava o espião pela sétima vez -- do que efeito etário. Quanto às cenas lascivas, elas fazem sentido. Na primeira delas, aliás, a moça nem parecia muito a fim, tive a impressão de que ela encarou o momento como ossos do ofício. A propósito, a música que abre o longa é ótima, caiu como uma luva, mas as imagens apresentadas são de sangrar os olhos.
O vilão da história, Zorin, psicopata inescrupuloso e ex-agente da KGB, interpretado magnificamente por Christopher Walken, é fruto d'um experimento nazista, e seu confronto final com Bond sobre os cabos da ponte Golden Gate foi um dos pontos notáveis do longa. Uma das principais capangas de Zorin, May Day, ao descobrir que seu chefe era um desgraçado que fazia pouco caso até das vidas dos parceiros mais leais, se redimiu em seus últimos minutos de tela.
A cinematografia foi esforçada, mostrou bem algumas paisagens e capturou diversas glórias arquitetônicas."A View to a Kill" fechou satisfatoriamente o ciclo do Moore.
007 Contra Octopussy
3.4 140 Assista Agora"Octopussy" é um filme pastelão, parece que todo o departamento criativo decidiu tirar umas férias bem divertidas e transformar o resultado num episódio de James Bond. A cena inicial é bem dinâmica,
e admito que me surpreendi quando constatei que o bumbum de cavalo no vagão puxado pelo carro que Bond e sua parceira usaram para escapar escondia um pequeno avião. Mais adiante, James enfrenta toda a fauna da Índia e, brevemente enlouquecido, banca o Tarzan no país do Mogli. Por fim, o agente secreto se veste de palhaço e acaba divertindo a platéia d'um circo.
Além de tudo isso, Bond também contribui para o pagamento das contas de dezenas -- ou centenas -- de indianos, se disfarça de crocodilo e dá um susto digno de pegadinha do Sílvio Santos nuns malucos que pensavam que o ar havia abandonado os pulmões daquele homem dentro do saco.
O elenco de apoio de "Octopussy" é especialmente carismático. Maud Adams, a guru da seita do polvo mortal, dá à personagem título ares elegantes, discretos e pesados. Octopussy, às vezes, parece carregar o mundo nas costas. Vijay Amritraj, um dos agentes locais que coopera com Bond, é um sujeito vivo, alegre e simpático; O velho Desmond, todo enlevado, propicia ao Q bons momentos em campo -- Q devia ter tido mais oportunidades como mastim de campo. Kabir Bedi, que interpreta o grandalhão Gobinda, braço direito do vilão principal, está tão feliz em estar no filme e aparenta ser tão gente boa que não dá para nutrir sentimentos ruins por seu personagem.
007: Um Novo Dia Para Morrer
3.2 246 Assista AgoraOs efeitos de câmera lenta que Lee Tamahori usa por aqui são lamentáveis, eles achincalham cenas e diminuem o porte do filme, último da franquia estrelado por Pierce Brosnan. Os diálogos travados entre Jinx, personagem interpretada de maneira peculiar por Halle Berry, e James Bond não contribuem à elevação dramática da obra, ao contrário, conseguem causar contorções involuntárias nas faces de pessoas com senso do ridículo aguçado. Ademais, o absurdo de algumas situações, sobretudo situações envolvendo lasers, atiram o longa ao terreno da galhofa.
Em compensação, "Die Another Day" desfila cravejado de referências aos filmes passados, e essas referências rutilam em itens, momentos e melodias. O filme também ostenta uma das melhores seqüências da saga, o duelo de espadas entre Bond e Gustav Graves, o principal vilão da história; a disputa dos dois escalona de maneira muito natural, crível e instigante. Além disso, a parte inicial do filme traz uma novidade, isto é, o famoso espião se lascando a valer. James é capturado e torturado com pancadas, afogamento em água gelada, choques elétricos e escorpiões, ele permanece nestas condições por mais de ano. Eu não me lembro de ter visto aquele agente secreto tão competente em circunstâncias tão deploráveis.
Enfim, "Die Another Day" tem seus méritos, porém Pierce Brosnan merecia despedida melhor.
Rambo IV
3.3 455 Assista AgoraParece que, para John Rambo, uma vida sossegada consiste em capturar najas e navegar às beiras d'uma viscosa guerra civil. Cuidava ele da própria vida exótica quando foi abordado por missionários desejosos de alugar seu barco para levar remédios físicos e espirituais a uma vila em zona de matança. Sabendo muito bem do inferno que existia rio acima, o veterano nega o passeio até aceitá-lo.
As coisas, é claro, amargam, e não demora para a familiar tríade tiro, porrada e bomba dançar pela tela.
"Rambo IV" não é um filme fácil de assistir. Logo no início alguns resultados brutais do instinto carniceiro que pode acometer tiranos e seus comandados são mostrados sem cerimônia, e a violência presente no longa é a mais visceral da série até o momento. Além disso, a obra é permeada por um ceticismo melancólico em relação à natureza humana; a impressão é que estamos presos, em geral, à pior versão de nós mesmos, e que esse cárcere fétido e abandonado manterá cerradas as grades imundas de sangue até o final dos tempos.
Brilha, contudo, encarnada em Sarah, personagem de Julie Benz, a esperança tênue, mas suficiente para animar a chama vital de corações que ainda não se resolveram completamente à maldade e à selvageria, de que a condição humana não precisa ser assim.
Halloween: A Noite do Terror
3.7 1,2K Assista AgoraMinha cultura cinematográfica é quase inexistente, há diversos clássicos de vários gêneros que eu nunca vi. Oras, como estou decidido a emendar essa lacuna, aproveitei a data propícia para assistir a "Halloween", de 1978, filme dito obrigatório aos amantes de terror e suspense. Muito bem, eu vi e fiquei decepcionado, achei o longa todo terrivelmente burro, permeado por uma miríada de inverossimilhanças muito eficiente em quebrar o estado de sonho, digamos assim, e me lembrar que eu via um filme: o comportamento de Laurie diante do assassino é absurdo; tanta luz apagada é um absurdo; a velocidade de Mike Myers é um absurdo; a falta de olfato do pai da Annie é um absurdo, e por aí vai.
Além disso, descontadas as atuações de Jamie Lee Curtis, Tony Moran e Donald Pleasence, as interpretações dos demais atores foram ruins ou medíocres, e interpretações de baixa qualidade também comprometem a imersão.
Eu entendo a razão do negócio ter marcado o gênero a que pertence, Mike Myers é um vilão assustador, ele é forte, resistente, dotado d'uma paciência quase infinda e obstinado; a máscara o deixa inexpressivo e a arma usada é simples, uma faca grande. Para completar, o sujeito ainda se esconde muito bem, possui passos levíssimos e não hesita. Oras, coloque um cara desses pra caçar moças mais ou menos descabeçadas numa noite de Halloween e pronto, é impossível não causar algum impacto no público.
No entanto, como já disse, saí do filme decepcionado, as atuações não melhoraram e as inverossimilhanças continuaram se empilhando. O que aliviou minha chateação foi a cena final, da qual só participou o trio que atuou bem.
Tusk, A Transformação
2.5 387 Assista AgoraSobre “Tusk”, filme que mostra o infeliz destino de um podcaster cuzão (ele é “transformado” em morsa), só vou soltar umas breves observações, o filme não merece mais que isso.
Wallace, o protagonista, foi especialmente burro, eu diria que a burrice desatenta foi a principal causa de sua desgraça. Isto faz algum sentido, pois geralmente esse povo que folga em dores alheias é obtuso e incapaz de realmente considerar outra pessoa, portanto não consegue imaginar de maneira mais ou menos precisa como são as outras pessoas; mas Wallace abusa da burrice, porque o sujeito se embrenha numa região isolada d’um país estrangeiro sem avisar a ninguém de seu paradeiro, aceita bebida de um velho evidentemente estranho que mora sozinho numa casa assustadora e se mantém conversando com esse velho — e bebendo avidamente do chá oferecido –, mesmo após experimentar os primeiros sinais de sonolência fora de hora.
Pediu pra se lascar.
O vilão do negócio, interpretado muito bem pelo já falecido Michael Parks, é um homem hipócrita e torto, maligno e louco, que imagina a humanidade inteira tão podre quanto ele próprio.
Seja como for, “Tusk” é um filme de péssimo gosto.
007: O Mundo Não É O Bastante
3.3 159 Assista AgoraGostaria de começar esta nota dizendo que sim, Denise Richards convence totalmente como uma física nuclear chamada Christmas. Há uma pequena multidão que se compraz em formar nas faces uma expressão de desdém divertido enquanto afirma o absurdo daquela personagem. Oras, as artes narrativas exploram as possibilidades da existência humana; alguém acha, de coração, de verdade, que não existe, existiu ou existirá alguma física nuclear toda bonitona de nome altamente chistoso? A existência de alguém assim não é absurda, é apenas improvável. Denise, um joinha pra você.
"The World is Not Enough" tem seus encantos: os cenários; Sophie Marceau e o retorno de Robbie Coltrane são alguns desses encantos. Além disso, Renard é um vilão trágico, as escolhas erradas de sua vida matam-no um pouco todo dia. O filme também mostrou a última participação de Desmond Llewelyn como Q. O personagem já ia se aposentar, contudo o carismático velhinho morreu menos de dois meses após o lançamento da obra, o que deixou sua cena derradeira comovente. Que ele descanse em paz.
Acontece que o longa tem seus problemas, e os dois principais são o ritmo cansativo -- o negócio parece se esticar por duas horas e quarenta minutos -- e o estranhamento de Pierce Brosnan. Brosnan estava muito confortável nos dois projetos anteriores, mas aqui acredito ter percebido o ator com dificuldades de se adequar perfeitamente a algumas situações, especialmente às interações com Judi Dench e Sophie Marceau.
007: Somente Para Seus Olhos
3.5 120 Assista AgoraLogo no início de "For Your Eyes Only" James Bond visita o túmulo de sua falecida senhora. A cena é muito breve, porém Roger Moore dá ao momento uma significância robusta com o luto solene, porém resignado, que ele passa ao personagem. Daí partimos ao último ato de Blofeld e finalmente vemos Bond vingar a esposa assassinada. Aliás, a variação em cima da música tema do espião, que toca durante a perseguição a Blofeld, deixou a composição mais enérgica e refrescante.
Esta breve introdução prenuncia justamente um dos assuntos principais do filme, a vingança. "For Your Eyes Only", contudo, é uma história de vingança atípica. Um navio com equipamento bastante sensível do governo britânico afunda em águas albanesas, e os ingleses querem recuperar o artefato antes que ele caia em mãos erradas. Para ajudá-los na busca, os britânicos se aliam ao renomado arqueólogo Timothy Havelock; todavia o pesquisador é assassinado junto da esposa na frente da filha, Melina, que não intenciona deixar sem resposta a brutalidade cometida contra sua família. A questão é que Melina não é a personagem principal da história, este papel é do Bond, só que a mulher atravessa a narração ora se impondo e sendo indispensável, ora se permitindo ser conduzida e descansar em segundo plano; a dinâmica ficou encantadora.
Melina é a melhor parte do filme, e ela é também minha Bond girl favorita. A moça, além de arqueóloga e portadora d'uma beleza que mescla elegância e rusticidade, é um ás da balestra, mui inteligente e parece se conhecer bem.
007 Contra o Foguete da Morte
3.2 175 Assista AgoraA cena inicial do filme anterior, aquela que termina com Bond se jogando d'um precipício nevado e abrindo um paraquedas co'a Union Jack, deve ter feito grande sucesso, pois fizeram uma variação dela no início de "Moonraker". Observando bem, fizeram uma variação em cima do filme anterior inteiro.
O malfeitor da vez, o bilionário Hugo Drax, também deseja exterminar a humanidade e criar uma nova sociedade somente aos escolhidos e seus descendentes, só que ele desce uns degraus a mais na escadaria ao Inferno, pois além de não parecer ter outra motivação que não o próprio ego, ele ainda se enxerga como o deus do mundo vindouro.
Jaws está de volta, é claro, e protagoniza cenas dignas de desenho animado. Tenho a impressão que Richard Kiel, o ator que interpretou o grandalhão indestrutível, era a simpatia em pessoa, mesmo como capanga de vilão ele transmite, aqui e ali, traços de bonomia, e seu personagem, afinal, encontra o amor e alcança a redenção.
"Moonraker" é uma experiência interessante. O último ato do longa é, em geral, tedioso, há muita lentidão nas movimentações de veículos e pessoas; a música quase sempre soa vaga e morosa; até o discurso de Drax é proferido devagar, de modo comedido. Todavia, há vários pequenos momentos notáveis ao longo da história: a cena de Bond quase assassinado no equipamento de gravidade; a coitada da mulher perseguida por cães; o ínfimo confronto entre Bond e o macabro atirador de facas; os vidros quebrados e pérolas no diálogo, como "Do you know him?"; "Not socially, his name is Jaws, and he kills people."
007: O Espião que me Amava
3.6 157 Assista AgoraO vilão de "The Spy who Loved me" é mais um bilionário que nutre o sonho fabuloso de jogar uma potência nuclear contra outra, mas ele não pensa nisso por ganância financeira, e sim por ganância ideológica ou moralista. A humanidade está corrompida demais e acabaria se destruindo, então que o processo seja acelerado d'uma vez, e que dos escombros da civilização surja um mundo novo, puro e subaquático criado por ele! O sujeito não aceita julgamentos sobre suas ações e intenções, não da raça condenada que ele está prestes a eliminar; que as pessoas do futuro julguem suas atitudes.
Atlantis, o covil do megalômano Karl Stromberg -- esse é o nome do infeliz --, aquela estrutura parecida co'uma aranha oceânica colossal, que emerge e submerge, com vistas à superfície ou ao fundo do mar, guarnecida de aposentos decorados de maneira requintada, é um espetáculo à parte, com certeza é um dos antros vilanescos mais icônicos da série. Atlantis intimida e impõe o respeito que seu governante fracassa em impor.
Ademais, aqui somos apresentados a Jaws, o grandalhão imortal com dentes de metal que trata os adversários como sacos de pão e carros como caixas de papelão. Jaws é a maior ameaça a James Bond e à sua companheira de missão, a espiã soviética Anya Amasova. A propósito, o grande defeito deste filme são os confrontos físicos, as lutas se desdobram feias e muito pouco naturais.
007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro
3.5 148 Assista AgoraDessa vez o caminho de James Bond se cruza com o caminho de um assassino de elite -- e quando digo de elite, me refiro a alguém mundialmente reconhecido por todas as principais forças do mundo como extremamente competente. Um vilão desta envergadura tinha de ser interpretado por ninguém menos que o inimitável Christopher Lee. Francisco Scaramanga, o homem da arma de ouro, teve uma infância desestruturada no circo e descobriu que seu maior prazer na vida era matar pessoas. Ele se tornou um cidadão adorável, obviamente, vive isolado numa ilha treinando sua arte mortal, recebendo futuras vítimas e dedicado a projetos do mal. A única pessoa na qual o vilão parece confiar é Nick Nack, seu pequeno escudeiro e único herdeiro. Nick Nack é um sujeitinho interessante, magistralmente interpretado por Hervé Villechaize. Braço direito de Scaramanga, o anão demonstra uma presença de espírito gigante e engrandece todas as cenas de que participa.
Roger Moore continua confortável na pele de 007, ele ainda me pareceu a calibrar o personagem em alguns momentos, especialmente quando interagia com as mulheres do elenco, mas está bem e leva o filme tranqüilamente. A propósito, Bond, como sempre, tem ajuda para cumprir a missão, e uma de suas ajudantes, uma moça que atende por Goodnight, me deu agonia com sua impulsividade tonta e irresponsável.
O veredito é o seguinte: "The Man with the Golden Gun" é um capítulo digno da série, não essa bagaceira que pintam por aí.
007 Contra GoldenEye
3.6 269 Assista AgoraMinha opinião a respeito de "Goldeneye" é provavelmente enviesada, pois este foi o primeiro filme de 007 que vi -- e ainda o vi no cinema, numa época em que ir ao cinema ainda era grande coisa. Além disso, passei anos jogando "Goldeneye 007" em meu Nintendo 64, então a nostalgia existe e está sorridente.
Dito isso, Pierce Brosnan nasceu para interpretar James Bond, a desenvoltura que ele dá ao personagem impressiona, e sua primeira aventura como o espião mais famoso do mundo é umas das melhores da franquia, esta é a verdade objetiva.
Em "Goldeneye" James Bond deve pôr fim aos planos malignos de um ex-agente do governo britânico, planos que, se bem-sucedidos, jogariam a humanidade numa catástrofe econômica e social sem precedentes. Este agente corrompido era o antigo 006, à época, camarada de James. Achei interessante notar que, enquanto em "Licence to Kill" o Bond do Dalton virou as costas à rainha para vingar seu amigo, um dos motes deste primeiro longa do Brosnan é "Bond não se importa com os amigos". A ruptura com a abordagem anterior do personagem me pareceu intencional.
Finalizo estas breves linhas exaltando Izabella Scorupco, talvez a melhor Bond girl da franquia -- Natalya Simonova é uma mulher inteligente, de voz marcante, linda, ativa e muito simpática -- e o falecido Robbie Coltrane, bastante confortável e divertido como o mafioso Valentin Zukovsky.
007: Os Diamantes são Eternos
3.4 159 Assista AgoraSean Connery volta ao papel de James Bond numa curiosa mistura de abatimento e animação, tive a impressão de que, apesar de cansado de interpretar o personagem, ele se alegrou com o retorno e trabalhou direito; o modo automático do ator, que às vezes assumia o controle em "You Only Live Twice", mal dá as caras por aqui.
Também, convenhamos, não houve muito espaço para Connery montar uma zona de conforto: Bond dirige um veículo lunar; conversa com um rato; se faz de contrabandista; é enfiado num caixão; enfrenta dois idiotas que parecem saídos d'uma seita cruel e obscura (em algumas das vezes que essa dupla surgiu, aliás, senti-me vendo outro tipo de filme, eles dão às cenas que estão um toque sombrio e fanfarrão num grau que destoa do universo cinemático de James Bond); luta de maneira aguerrida num elevador; encara duas mulheres de nomes toscos e coreografias de combate tão ridículas quanto espalhafatosas; invade uma plataforma de petróleo e interage com um bilionário que, apesar de excêntrico, não é vilão.
A verdade é que este filme não é normal, o elefante muito louco ganhando moedas no casino ilustra esta verdade; ademais, não há quem me convença de que não forneceram drogas àquele animal, o bicho estava no país das maravilhas.
Em suma, "Diamonds are Forever" é um filme atípico e divertido, Sean Connery transferiu dignamente o bastão a Roger Moore.
007: Quantum of Solace
3.4 683 Assista Agora"Quantum of Solace" é emendado ao filme anterior -- de certo modo, é como se "Casino Royale" fosse a primeira parte e "Quantum..." a segunda, as obras são irmãs. Contudo, este segundo filme da era Craig é aquele irmão que vive na sombra do outro, até tem seus momentos, mas abdica de realizações mais vistosas e abundantes.
Os méritos de "Quantum of Solace", todavia, se não são vários, são valiosos. A cinematografia está fantástica, da seqüência de ação inicial ao confronto derradeiro com Domenic Greene, tudo enche os olhos. Há quem reclame de algumas cenas dizendo que a câmera estava confusa, que a inspiração na franquia do Jason Bourne não deu certo, mas isso, pra mim, parece mais papo de papagaio do que discurso substancioso.
Nós também vemos aqui uma Bond girl especialmente trágica, com um arco narrativo próprio de desfecho muito satisfatório. O vilão principal é um ecologista de fachada, hipócrita malvado como tantos que habitam o mundo. Ademais, é levantada rapidamente a questão de que as nações menos favorecidas são arruinadas por causa de estratégias das nações mais poderosas. Um último ponto que não pode passar batido é a interação entre Daniel Craig e Judi Dench, a química entre os dois funcionou à perfeição, passam facilmente por mãe e filho ou avó e neto.
"Quantum of Solace" não sai totalmente da sombra de "Casino Royale", tem um roteiro mal polido e abertura insossa, todavia possui pontos fortes e merece ser apreciado.
007: A Serviço Secreto de Sua Majestade
3.4 221 Assista Agora"On Her Majesty's Secret Service" é um filme estranho, eu compreendo as reservas que tantas pessoas têm ao seu respeito. George Lazenby aceitou a difícil missão de substituir Sean Connery, e a cena inicial, aquela briga na praia enquanto ele salva sua futura esposa d'uma provável morte por afogamento, apesar do mistério besta que envolveu sua aparência nos primeiros momentos -- o rosto do homem simplesmente não aparecia inteiro, ou aparecia a nuca do sujeito, ou sua boca fumando, etc. --, não é ruim, embora já indique, ao observador mais atento, o deslocamento do ator e a confusão do personagem.
Lazenby não servia mesmo para Bond, ele deu ao personagem ares levemente desengonçados e tirou parte considerável do magnetismo do espião. Telly Savalas, por outro lado, esteve perfeito como Blofeld, ele deu ao vilão uma compleição ameaçadora e metódica que finalmente o vendeu como líder máximo d'uma organização criminosa tão imensa e poderosa quanto a Spectre. Diana Rigg foi uma ótima escolha para Tracy, a mulher que conquista o coração volúvel de James Bond, só que faltou entrosamento entre ela e Lazenby, e também faltou desenvolvimento ao romance dos dois.
No mais, o filme passa com uns problemas técnicos que prejudicam a experiência, a saber, cortes esquisitos e posicionamento bizarro dos microfones; logo no início, por exemplo, acontece de Tracy, mui distante na tela, falar e a gente escutá-la firme ao nosso lado. Seja como for, aquele final de cortar o coração redime a obra.
007: O Amanhã Nunca Morre
3.3 158 Assista AgoraElliot Carver, o dono megalômano d'um colosso midiático, quer mais espaço no mercado. Carver gosta de dinheiro, evidentemente, todavia ele é um sujeito com verdadeiro tesão em influenciar os outros e não se importa em provocar uma guerra mundial para que seu castelo de ego cresça firme e forte. James Bond tem 48 horas para provar o envolvimento do maluco numa grave crise geopolítica antes das potências mundiais se engalfinharem em matança desnecessária; felizmente, a liberdade poética das 48 horas muito se assemelha àquela vista durante os cinco minutos até a explosão de Namekusei no anime de "Dragon Ball Z".
"Tomorrow Never Dies" não é dos melhores filmes de James Bond, as cenas de ação se alongam além do necessário, e apesar dos esforços da equipe criativa, às vezes acabam cansando de tal maneira que, ao término delas, não era sem custo que minha atenção se voltava a algo mais sutil. As Bond girls também não agregam muito à obra, a esposa do ricaço é bonita, elegante e melancólica; a chinesa às vezes parecia não querer estar ali, faltou emoção à mulher; a professora de Dinamarquês devia ter permanecido mais tempo em tela, era charmosa.
Digo, porém, que vários dos diálogos saíram afiados, que Brosnan vivia confortavelmente o papel, que o carro da vez foi um dos mais simpáticos da série e que, após toda a manipulação midiática descarada dos últimos anos, este filme ganha alguma força e mostra, ironicamente, que o amanhã nunca morre.
007: Cassino Royale
3.8 880 Assista Agora"Casino Royale" reinicia a franquia, entrega ao público um Bond ainda cru, impulsivo, de emoções desbalanceadas, e Daniel Craig, apesar do estranhamento que o personagem vestido por ele me causou, cumpre o papel praticamente à perfeição. O filme é competente, a história convence como primeira missão principal do famoso agente secreto; o vilão não é um bilionário megalômano, chefão d'algum tráfico internacional ou ex-agente de elite do governo com agenda própria, é meramente um criminoso bem-sucedido conectado a uns figurões do submundo, ótimo em matemática e especialista em manipulação do mercado financeiro. Le Chiffre é grande, mas há peixes bem maiores. A Bond girl principal da vez,
Vesper Lynd, é encantadora, de maneira que não há inverossimilhança quando, por causa dela, James Bond envia uma cartinha de demissão ao serviço secreto. Além disso, aqui já somos reintroduzidos ao Felix, tradicional personagem da série.
As cenas de ação estão muito bem executadas -- a primeira delas, aquela perseguição frenética sem limites --, acontece logo após a abertura do filme e eu não ficarei surpreso se descobrir que ela é uma das melhores seqüências de ação da História do cinema.
A abertura, aliás, meio cantada, meio gritada na voz de Chris Cornell, sinaliza que ali começava uma nova era. Não há gostosas nuas ou seminuas serpenteando diante do espectador enquanto a música toca, há cenas de combate, cartas de baralho e tiros afrescalhados; a partir daqui, a série tomaria outra direção.