Uma minissérie dividida em cinco partes, cada qual retratando diferentes estágios da evolução do desaparecimento de Leanne, “Cinco Dias” sofre justamente com a irregularidade do relato proposto pela roteirista Gwyneth Hughes. No entanto, uma constante pode ser percebida no meio disso tudo: a de que somente a conclusão total de algo repleto de incertezas faz com que se termine a sensação de que toda uma vida está sendo consumida por um fato que ocorreu.
É certo dizer que as famílias controladoras do Jogo do Bicho, no Rio de Janeiro, têm muitas semelhanças em seu modo de agir com aquelas que formavam a máfia italiana. A série documental “Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho”, dirigida por Ricardo Calil, reforça essa certeza.
Ao fazer a crônica das histórias dessas famílias e de seus personagens mais marcantes, a série acaba abordando temas que são típicos deste tipo de relato, como o dinheiro em abundância, a disputa pelo poder, as traições internas, o código de ética peculiar, a sucessão familiar, o poder paralelo, a corrupção generalizada, a política de pão e circo (tão bem representadas pelas escolas de sambas das quais os bicheiros/contraventores são patronos), os escândalos, os crimes, as extravagâncias e a violência.
Chamam a atenção também o quanto as histórias desses personagens estão diretamente relacionadas com a própria decadência moral, política e ética do estado do Rio de Janeiro.
Numa linguagem extremamente tradicional, com o uso de muitas imagens de arquivo e de muitas narrações em off, “Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho” é uma série viciante, do tipo que você assiste num fôlego só; com personagens fascinantes e com uma história que tem tantas ramificações que a gente sabe que é uma questão de tempo para que uma nova temporada surja, ainda mais depois de tanto sucesso conquistado por essa primeira.
É muito emblemático que “Xuxa, o Documentário”, série com direção geral do jornalista Pedro Bial, estreie no ano em que Maria da Graça Xuxa Meneghel completa o seu 60º aniversário. Na série, iremos acompanhar Xuxa fazendo um balanço de sua trajetória pessoal e profissional, por meio de entrevistas concedidas por ela, bem como depoimentos de pessoas/personalidades que fazem parte desta história.
Algumas constatações podem ser tiradas de “Xuxa, o Documentário”. A primeira delas é que a apresentadora foi a maior representante e símbolo do entretenimento infanto-juvenil que foi marcante no Brasil nas décadas de 80 e 90. A segunda delas é que o sucesso de Xuxa ultrapassou fronteiras, na medida em que ela é igualmente importante em países da América Latina, como a Argentina. A terceira delas é que, quando falamos da profissional Xuxa, não dá para negar a importância da diretora Marlene Mattos na sua trajetória.
E aqui é importante fazermos um adendo: embora o documentário queira colocar Marlene Mattos numa posição de vilania, a verdade é que, se hoje estamos assistindo a esta série, é por causa de Marlene. Claro que, na trajetória de Xuxa como apresentadora infantil existe o mérito dela mesma, porém também há que se reconhecer a competência de Marlene Mattos na construção desse império.
Dividida em cinco episódios, “Xuxa, O Documentário” enfoca diversos aspectos da vida da apresentadora: a vida familiar, o início da carreira como modelo, a transição para a televisão e o público infantil, como ela se consolidou como o maior nome do seu segmento, as perdas pessoais, os trabalhos assistenciais, os amores e as experiências traumáticas no meio de tantas coisas positivas.
Por ter sido um documentário idealizado pela própria apresentadora, a impressão de ser uma obra chapa branca é uma constante, apesar das diversas contradições que podemos encontrar ao longo da história. Falta, na série, um contraponto à história de Xuxa e é uma pena que “Xuxa, O Documentário” termine de uma forma tão anticlimática. A história daquela que é uma das grandes estrelas que o Brasil já produziu merecia um final apoteótico.
“As pessoas acham que entretenimento não é trabalho”. Essa frase, dita em um dos depoimentos contidos na série documental “A Superfantástica História do Balão”, dirigida por Tatiana Issa, vai de encontro ao que assistimos no decorrer dos três episódios que compõem a série. A visão da Turma do Balão Mágico, grupo infantil que se manteve em atividade de 1982 a 1986, como um produto, é a tônica da série documental.
Formado por Simony, Tob, Mike e Jairzinho, a Turma do Balão Mágico, nos seus quatro anos de atividade, teve álbuns que venderam 5 milhões de cópias no Brasil e foi protagonista do programa infantil “Balão Mágico”, exibido na Rede Globo entre 1983 e 1986.
Da mesma forma como marcaram a infância da geração anos 80 (bate aqui quem faz parte do time), “A Superfantástica História do Balão” mostra o quanto a vivência no grupo foi marcante também para seus pequeninos integrantes.
De uma forma bem humorada, com depoimentos e personagens interessantes, a série documental faz um importante retrato da exploração mercadológica destas crianças, que foram inseridas numa rotina exaustante de shows e de gravações, em meio a uma fase em que elas deveriam estar em um outro contexto.
Dá para continuar sendo criança em meio a um ambiente tão repleto de pressão? Dá para amadurecer, crescer e se transformar em um adulto “‘normal”? Quais as marcas que ficam de uma vivência desse tipo? São a essas perguntas que “A Superfantástica História do Balão” responde.
A série documental traz uma nostalgia boa para todos nós que vivenciamos isso e um resgate que é importante de ser feito, porém, ao mesmo tempo, joga um olhar sincero e profundo sobre tudo que está por trás dos palcos e das câmeras.
O mundo do show business é sedutor, mas ele te suga até você não servir mais pra ele.
27 de janeiro de 2013. Foi neste dia que aconteceu uma das maiores tragédias recentes da história do Brasil: o incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, vitimando 242 jovens e ferindo 636 pessoas.
A série documental “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria” é dirigida pelo repórter Marcelo Canellas, oriundo da cidade gaúcha, e que, ao longo dos últimos 10 anos, fez uma cobertura próxima dos desdobramentos desse acontecimento.
Ao longo de cinco episódios, abusando do uso da linguagem jornalística, Canellas conta a história do incêndio da boate Kiss e, principalmente, da luta que os pais e os sobreviventes travam desde que o luto se transformou em batalha: aquela em busca da justiça.
E é justamente isso que chama mais a atenção em “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria”. Estamos diante de uma série que dá voz à luta dos pais, enfatizando a necessidade de se ter o fechamento que se é esperado quando estamos diante de uma fatalidade sem precedentes na nossa história, como país.
“Perpetuar a memória é ter a esperança de que isso não acontecerá de novo”. A frase dita por Maike, um dos sobreviventes, é a representação perfeita do que é “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria”, uma peça importante para relembrar a todos nós de que a impunidade permanece viva.
Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried, vencedora do Emmy Awards 2022 de Melhor Atriz em um Telefilme ou Série Limitada) é alguém que sempre teve um sonho: o de inventar um produto e iniciar uma startup bem sucedida. Todos os seus movimentos, desde a época como estudante, a levaram para esse destino.
O título “The Dropout”, da minissérie criada por Elizabeth Meriwether, inclusive, faz referência a isso: no segundo ano como estudante na prestigiada Universidade Stanford, Elizabeth largou os estudos para fundar a Theranos. O seu produto: uma tecnologia para testes sanguíneos em que, a partir de uma gota de sangue de um paciente, múltiplos resultados, para vários testes, seriam revelados.
“The Dropout” tem alguns elementos interessantes na sua narrativa: o primeiro deles diz respeito à jornada de Elizabeth, como uma mulher empreendedora para se firmar em um mundo altamente masculino, competitivo e voraz, como o dos negócios; o segundo deles, que está intrinsecamente ligado ao primeiro, é como isso influencia na própria jornada da Theranos, como uma empresa.
E essa jornada, como mencionei, está intimamente ligada a Elizabeth e às suas relações, principalmente a estabelecida com o parceiro (de vida e de negócios) Sunny Balwani (Naveen Andrews). Elizabeth é uma mulher fria, calculista, desprovida de humanidade, capaz de qualquer coisa para vencer. Sua cobiça, ganância e incapacidade de reconhecer o fracasso são fundamentais para compreender como ela conseguiu enganar tantas pessoas ao mesmo tempo.
A melhor frase para resumir quem é Elizabeth Holmes e sua criação, a Theranos, é a que é proferida pela Dra. Phyllis Gardner (Laurie Metcalf): ela é uma fraude! Por isso mesmo, é preciso muito estômago para encarar os oito episódios de “The Dropout”.
A série documental “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, dirigida por Guto Barra e Tatiana Issa, faz um resgate. Um resgate da história da atriz Daniella Perez, que foi brutalmente assassinada no dia 28 de dezembro de 1992. Um resgate dos desdobramentos do assassinato. E, mais ainda, um resgate sobre os efeitos do crime nas vidas dos familiares de Daniella, notadamente a sua mãe, a novelista Glória Perez.
Ao longo dos seus cinco episódios, a série documental nos faz viajar no tempo. Primeiro, para aquele dia 28 de dezembro de 1992, quando depoimentos de familiares, amigos e policiais nos levam ao cenário em que aconteceu o assassinato de Daniella. Aqui, chama a atenção o retrato cortante do luto e da dor da perda de alguém que tinha ainda uma vida inteira pela frente e que vivia, naquele momento, o auge de sua promissora carreira como atriz, na novela “De Corpo e Alma”.
O que “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” traz de novo neste relato é o retrato do papel de Glória Perez, amigos e familiares nas investigações sobre o assassinato, indo além do trabalho investigativo realizado pela polícia, em busca de provas que seriam incontestes para ajudar a construir o caso que foi apresentado pela justiça, na condenação dos assassinos.
“Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” ainda faz uma importante reflexão sobre o sistema judiciário brasileiro. Chega a ser um escárnio que os assassinos da atriz tenham cumprido menos de 10 anos de suas penas e, atualmente, vivam as suas vidas rotineiramente, como se nada tivesse acontecido.
Por fim, a série é um tributo à força de Glória Perez. Uma mãe que transformou a dor do seu luto em motivo de luta. “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” é somente um capítulo dessa história. É mais um legado que Glória deixa para que a história de sua filha não seja esquecida. Para que, 30 anos após o seu assassinato, Daniella seja lembrada - e, mais ainda, para que seus assassinos (sim, assassinos condenados pela justiça brasileira) não sejam ignorados.
Uma personagem como Mildred Pierce é cheia de nuances interessantes para qualquer ator. Nas mãos de uma intérprete como Kate Winslet, então, todos as qualidades e defeitos da protagonista são potencializados ao máximo, uma vez que Winslet é uma atriz que imprime todos os sentimentos (ou a ausência deles, se for o caso) à flor da pele. Kate já venceu esta partida antes mesmo de entrar no jogo, a verdade é essa. O curioso é que “Mildred Pierce” falha justamente onde a minissérie tinha o maior potencial de acertar: no tom melodramático, que aparece muito pingado, em cenas muito pontuais – como a da tragédia pessoal vivida pela personagem principal no segundo episódio. E isso é surpreendente em se tratando de que estamos diante de uma obra dirigida por Todd Haynes, que manobrou tão bem esse território no filme “Longe do Paraíso”. Porém, esse é um detalhe que acaba ficando muito pequeno diante de uma minissérie que tem uma personagem principal tão marcante e uma excelência técnica que se tornarão referência nesse gênero – com destaque para a trilha de Carter Burwell, a fotografia de Edward Lachman, a direção de arte de Mark Friedberg e Ellen Christiansen e os figurinos de Ann Roth.
A primeira temporada de "Criada", série desenvolvida por Molly Smith Metzler (tendo como base o livro escrito por Stephanie Land), nos deixa com alguns ensinamentos. O principal deles é sobre o quanto é difícil quebrar o ciclo de um relacionamento abusivo, principalmente se você não tiver a independência financeira e a rede de apoio para isso.
Ao longo dos dez episódios da primeira temporada da série, acompanharemos a jornada de Alex (Margaret Qualley), que sai de casa com a filha Maddy (Angelina Pepper), de quase 3 anos, e tenta sobreviver, com o auxílio dos programas sociais do governo e dos abrigos para vítimas de violência doméstica.
Após arrumar um emprego como faxineira, espera-se que as coisas entrem nos seus eixos, porém, não é isso que ocorre para Alex, que continua a enfrentar obstáculos como a pobreza, a ausência de moradia e a falta de assistência para compreender e brigar pelos seus direitos como uma vítima de relacionamento abusivo.
O que mais me atraiu em "Criada", embora a série tenha um desenvolvimento narrativo um tanto inconstante, foi a forma como a transformação pessoal de Alex nos é passada. Da nossa posição de observadores da sua história, chama a atenção como ela sai de uma posição não-reativa para o que está à sua volta, e passa a ser uma verdadeira leoa em busca dos seus sonhos e daquilo que deseja.
Como mãe de uma menina quase da idade de Maddy, me identifiquei com o ponto de virada na jornada de Alex. Se ela consegue retomar as rédeas de sua vida é porque ela tem um motivo enorme para lutar por um futuro melhor: Maddy! ❤️
Quando eu assisto à série "La Casa de Papel", cuja quinta parte estreou no dia 03 de setembro na Netflix, eu só me lembro de uma expressão chamada "jump the shark". Quando um programa "jump the shark" significa que ele deixou de ser popular ou começou a decair em qualidade. Embora "La Casa de Papel" continue a ser um show popular (o fenômeno que ela se tornou é uma prova disso), a verdade é que o roteiro da série perdeu a originalidade que marcou as suas duas primeiras partes.
Ou seja, o que eu sinto, desde que a terceira parte estreou, é que a série tem se estendido demais, tentando prolongar um sucesso que, fatalmente, causará o cansaço no público - que já começa a perceber os truques do roteiro. Assim, posso falar por mim: o que me move a continuar assistindo "La Casa de Papel" é ver até que ponto os roteiristas irão chegar para justificar as diversas frentes narrativas que foram abertas desde o início da terceira parte do programa.
Na quinta parte de "La Casa de Papel" já estamos há mais de 100 horas que o assalto no Banco da Espanha começou. Os cinco episódios que compõem este segmento nos mostram o grupo liderado pelo Professor (Álvaro Morte) em um momento de revés no seu plano -
na medida em que a inspetora Alicia Serra (Najwa Nimri, de longe a melhor coisa dessa parte) descobriu o quartel-general do líder e que o Coronel Tamayo (Fernando Cayo) planeja surpreender o grupo com uma invasão de uma tropa de elite do Exército espanhol
.
Em meio a estes reveses, como é típico do programa, acompanhamos o grupo de assaltantes tentando se antecipar aos movimentos ou se preparar para uma reação à altura do que está por vir. Até os flashbacks, que funcionavam em outros momentos, aqui parecem soltos
(principalmente a trama que coloca o primeiro assalto de Berlim com o seu filho)
e sem conexão com a história principal. O desfecho desta história virá no dia 3 de dezembro, quando a sexta parte estreará, com a promessa de ser a derradeira e final. Espero, sinceramente, que os produtores cumpram a sua palavra.
Na nossa resenha crítica sobre o documentário "11 de Setembro: No Gabinete de Crise do Presidente", dirigido por Adam Wishart, comentamos que o filme abordava os acontecimentos de 11 de setembro de 2011 sem muito aprofundamento. Isto não ocorre com a série documental "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra Contra O Terror", do diretor Brian Knappenberger, que aborda os atentados de 11 de setembro de 2001 com bastante profundidade e muita contextualização.
Como se pode esperar, o foco da série está no retrato dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e o caos que o acontecimento trouxe para o sistema aéreo, político e para a vida dos norte-americanos (estivessem eles envolvidos ou não diretamente com os fatos), bem como as suas consequências para a política externa norte-americana - ao longo dos episódios, a série faz reflexões muito importantes sobre a resposta militar do governo norte-americano para os ataques - principalmente no que diz respeito ao poder bélico que seria dado ao presidente e a algumas políticas que o governo passou a adotar a partir daquele momento, como um programa de vigilância ostensivo e as técnicas de interrogatório que desafiavam os direitos humanos e os limites éticos.
Voltando ao início da nossa resenha crítica, além destes pontos que mencionamos, o que faz de "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra Contra o Terror" um programa completo é a contextualização que a série faz sobre a origem da Al Qaeda e o que ocasionou o ódio que os seus integrantes nutriam pelos norte-americanos e sobre a presença das tropas norte-americanas e aliadas em países como o Afeganistão e o Iraque.
Para se ter uma ideia, a série tem um episódio totalmente dedicado ao planejamento da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, após quase 20 anos de ocupação (a mais longa da história dos Estados Unidos), num movimento que já tem representado o ressurgimento do Talibã e tudo de mais negativo que ele traz - incluindo o sentimento de repressão contra os Estados Unidos, o que pode provocar a possibilidade de realização de novos atentados terroristas.
Nos quatro episódios da série documental “Pistorius”, você verá a imagem de um homem vitorioso: campeão paraolímpico por oito vezes, um exemplo de atleta, um ídolo, alguém que superou todas as adversidades e se tornou o primeiro paratleta a competir nos Jogos Olímpicos “tradicionais”, contra pessoas sem deficiência física. Porém, você também verá a face de um homem que teve a sua vida destruída e que ficará marcado pelas consequências da tragédia na sua existência.
A trajetória de Oscar Pistorius se transformou por completo no dia 14 de fevereiro de 2013 (data em que se celebra o dia dos namorados nas nações de língua inglesa), quando ele assassinou a sua então namorada Reeva Steenkamp, com quatro tiros, ao confundi-la com um invasor na residência em que ambos moravam. Esta é a versão de Oscar.
O foco da série documental é nos narrar como Pistorius foi do céu ao inferno. Dois dos episódios se passam dentro do tribunal, no julgamento do assassinato de Reeva. Embora a imagem de Oscar Pistorius nos cause muita compaixão, pois você consegue acreditar no arrependimento dele e no fato dele estar transtornado após o crime; a verdade é que a versão dele para os acontecimentos daquele dia é cheia de incongruências: como Reeva não se manifestou, diante dos gritos de Oscar, que não tinha invasor nenhum na casa e que quem estava trancada dentro do banheiro da residência era ela?
Neste sentido, “Pistorius” é uma série documental muito rica nos depoimentos que traz e nas contextualizações que faz. No decorrer dos episódios, jornalistas, familiares, amigos, advogados, consultores jurídicos, promotores nos recontam a história de Oscar Pistorius.
Mesmo assim, o que fica conosco, após os quatro episódios da série, é a sensação de que a verdade ainda não está tão clara ainda. Só quem sabe o que realmente aconteceu naquela madrugada é Oscar. Se, um dia ele compartilhará isso conosco, é uma incógnita.
Enquanto eu assistia a "Mare of Easttown", série dirigida por Craig Zobel, fiquei pensando se não estaria diante de uma trama adaptada de algum dos livros escritos por Dennis Lehane - afinal, o programa possui uma trama policial, com mesclas de dramas da vida real, e com temas que se relacionam com o uso de drogas, com crimes, com prostituição, com dilemas éticos. Mas, não... "Mare of Easttown" não se passa na cidade de Boston, e sim, na Pensilvânia, e tem como criador Brad Ingelsby (que roteirizou os sete episódios da primeira temporada do programa).
Ser a Mare de Easttown é, ao mesmo tempo, uma bênção e um infortúnio. Uma bênção, pois ela é querida e admirada na cidade. Um infortúnio, pois, como investigadora da polícia local, todos se sentem à vontade o suficiente para cobrá-la pelos seus deveres ou se intrometer na sua função. Desta forma, como podemos perceber, o lado pessoal e o lado profissional de Mare (Kate Winslet) se misturam muito.
Assim, os sete episódios da série abordam a personagem principal às voltas com seus problemas familiares - notadamente os relacionamentos com a mãe Helen (Jean Smart), o ex-marido Frank (David Denman), a filha Siobhan (Angourie Rice) e a melhor amiga Lori (Julianne Nicholson) - e com os casos que investiga em seu trabalho, principalmente o assassinato da jovem Erin McMenamin (Cailee Spaeny), que pode ou não ter a ver com outros casos de desaparecimento de jovens na cidade.
"Mare of Easttown" é uma daquelas séries que você termina de assistir a um capítulo e já quer emendar no outro. Mérito completo do roteiro de Brad Ingelsby. Essa mistura dos dramas pessoais com a trama policial funciona muito bem e é fundamental para a maneira como a série desenrola seus conflitos - com bom humor, ironia, tensão e suspense. Não à toa, a série conseguiu 15 indicações ao Primetime Emmy Awards 2021 - sendo que sete delas nas categorias principais, como Outstanding Limites or Anthology Series, Outstanding Lead Actress in a Limited or Anthology Series or Movie (para Kate Winslet), Outstanding Directing and Writing in a Limited or Anthology Series or Movie, Outstanding Supporting Actress in a Limited or Anthology Series or Movie (para a sempre competente Julianne Nicholson e Jean Smart) e Outstanding Supporting Actor in a Limited or Anthology Series or Movie (para Evan Peters).
Criada por Carlos Saldanha (diretor brasileiro responsável pela trilogia "A Era do Gelo", bem como por "Rio" e "Rio 2"), a série "Cidade Invisível", cuja primeira temporada está disponível na @netflixbrasil, tem uma das premissas mais originais que eu vi, recentemente, num seriado. Ao longo do sete episódios da primeira temporada, serão abordados temas relacionados ao folclore brasileiro, à espiritualidade e ao fantástico - tudo isso em torno também de elementos investigativos e da busca pela verdade.
Na série, Marco Pigossi interpreta o policial ambiental Eric, que acaba de perder a sua esposa (Julia Konrad), que trabalhava como antropóloga num projeto que visava a preservação ambiental de uma floresta envolta também por interesses comerciais. Com o objetivo de compreender os motivos por trás do que houve com Gabriela, Eric acaba entrando em contato com todos os elementos que descrevemos no nosso parágrafo anterior, bem como consigo mesmo e com as suas próprias origens.
Como dissemos no início da nossa resenha crítica, a primeira temporada de "Cidade Invisível" chama a atenção pela originalidade, mas também pela qualidade dos seus aspectos técnicos e por ter um elenco bastante competente. A se lamentar somente o fato de que o último episódio desta temporada termina deixando ainda muitas pontas soltas na trama - que, certamente, tendo em vista a boa repercussão que a série tem obtido, deverão ser retomados numa segunda temporada.
Absolutamente nada do que iremos assistir na primeira temporada de "Bridgerton" será novidade - exceto pelo retrato mais ousado que a série faz sobre temas como sexo e homossexualidade; além da representatividade dos negros na aristocracia daquela época. Ou seja, não é preciso ler "Bridgerton: O Duque e Eu", livro escrito por Julia Quinn, na qual esta temporada é baseada, pra se ter uma ideia do que vai acontecer ao longo dos oito episódios que compõem "Bridgerton", neste primeiro momento, uma vez que a trama é totalmente previsível e seus passos são facilmente telegrafados pelo espectador.
Vejamos:
- A série se passa numa conjuntura que é bem conhecida daqueles que são mais familiarizados com os filmes de época, principalmente, as grandes histórias de amor protagonizadas por heroínas românticas. Nessa época, as mulheres estavam relegadas - e pressionadas em direção - a um único momento: aquele em que seriam apresentadas à sociedade, de forma a arrumar (ou não) um bom casamento, que lhes garantissem um bom futuro e trouxessem prestígio às suas famílias.
- A trama é uma colagem de vários elementos já conhecidos: desde os livros de Jane Austen, passando até mesmo por obras mais modernas, como a série de TV "Gossip Girl", como iremos mostrar nos próximos tópicos.
- Note o casal central: o Duque de Hastings (Regé-Jean Page) é uma tentativa de emular Mr. Darcy, na medida em que ambos possuem uma personalidade mais introvertida e estão longe de serem carismáticos. Já Daphne Bridgerton, certamente, foi inspirada em Elizabeth Bennet, uma vez que ambas nutriam o sonho de se casarem somente por amor - o que era uma possibilidade rara dentro da conjuntura que elas vivenciavam. Os dois, aliás, acabam não funcionando muito bem juntos... E, chega um momento em "Bridgerton", em que a trama dos coadjuvantes é mais interessante do que a deles.
- Além disso, nós já vimos vários outros tipos presentes em "Bridgerton" nos livros de Jane Austen ou em romances de época similares: a irmã que prefere o caminho dos estudos do que aquele que a levará ao casamento; a mãe desesperada pelo casamento de suas filhas; a personagem que esconde um escândalo que arruinaria suas chances na sociedade; o irmão irresponsável que não quer assumir o seu papel familiar; o irmão cujo lado é boêmio e artístico...
- Já a narradora, Lady Whistledown (na voz da lendária Julie Andrews), com sua coluna sobre o cotidiano da sociedade londrina da época, sendo uma testemunha ocular de todos os acontecimentos marcantes da temporada dos bailes, certamente inspirou, posteriormente, a redatora do blog que dava nome à série "Gossip Girl", e que narrava as crônicas amorosas dos adolescentes das escolas de elite no Upper East Side de Manhattan (Nova York).
Apesar de tudo isso, histórias como as que a primeira temporada de "Bridgerton" retrata continuam a ter um apelo enorme junto ao público. É só perceber o grande sucesso que a série fez, sendo a mais vista da Netflix em 76 países. Como a série literária escrita por Julia Quinn ainda tem mais sete livros (cada um deles centrado em um dos irmãos Bridgerton), então, quem gostou dessa série não se sentirá órfão por muito tempo...
“John Adams” é um programa tão imponente quanto seu personagem principal. Chama a atenção o esmero com o qual a equipe técnica trabalhou, mas o que vai ficar marcado na memória daqueles que assistirem a série é a qualidade do roteiro escrito por Kirk Ellis e as atuações maravilhosas de seu excelente elenco. No final, “John Adams” é uma obra que nos mostra um momento histórico notável vivido pelos Estados Unidos, em que seus políticos eram pessoas nobres, com as melhores das intenções e que lutaram por todas as bases que fundamentam o país hoje.
A quarta temporada de "The Crown" se passa no período de 11 anos (1979-1990) em que o Reino Unido esteve sob o comando de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, primeira mulher a ocupar o posto de Primeiro-Ministro no país. Thatcher ascendeu ao poder durante um forte período de recessão, e suas bandeiras de campanha envolviam uma série de iniciativas políticas e econômicas voltadas para tirar o país dessa situação. Nem sempre as suas posições foram bem vistas, porém sua popularidade se manteve quase inalterada por boa parte dos seus três mandatos.
Além do pano de fundo político - uma marca de "The Crown" -, assim como visto na terceira temporada da série, o que percebemos é que, cada vez mais, a rainha Elizabeth II (mais uma vez interpretada por Olivia Colman) se torna uma personagem coadjuvante, abrindo espaço para que outras linhas narrativas tenham o mesmo destaque que a sua.
No caso da quarta temporada de "The Crown", a história mais importante acaba sendo a que aborda o romance e casamento entre o Príncipe Charles (Josh O'Connor) e a Princesa Diana (Emma Corrin, numa caracterização perfeita). Interessante perceber que Peter Morgan faz um paralelo interessante entre a insegurança, a carência e, por quê não, a falta de carisma que, não só Charles, como outros integrantes da Família Real, possuíam; e a segurança, confiança e natural carisma que Diana possuíam. Mais do que a sombra de Camilla Parker Bowles (Emerald Fennell), o que realmente ficava entre Diana e Charles era a inabilidade dele - e dos demais integrantes da Família Real - de lidar com o magnetismo que a Princesa tinha sobre as pessoas.
Voltando ao início da nossa resenha crítica, outro elemento que conta muito a favor na quarta temporada de "The Crown" é a dinâmica do relacionamento entre Margaret Thatcher (Gillian Anderson) e a Rainha Elizabeth II. Peter Morgan foi muito feliz na forma como abordou essas duas mulheres que ocupavam a posição mais alta do poder, em seus respectivos campos. As cenas entre Anderson e Colman são, definitivamente, um ponto alto da série, uma verdadeira aula de atuação e de composição de personagens.
Já virou uma tradição também, em "The Crown", que, a cada término do ciclo de um elenco, que o último episódio seja finalizado com uma grande fotografia reunindo todos aqueles que participaram desse período. Em que pese o fato da terceira e da quarta temporada da série não terem sido tão inspiradas quanto as duas primeiras, mesmo assim, "The Crown" continua a chamar a atenção pela qualidade, não só do seu roteiro, como de um casting perfeito. Que venham Imelda Staunton, Jonathan Pryce, Lesley Manville, Dominic West e Elizabeth Debicki.
"Challenger: Voo Final" traz os depoimentos de todos aqueles envolvidos na decisão que levou à morte dos sete tripulantes do ônibus espacial. Chama a atenção em todos eles o fato de que a maioria (principalmente os que representavam a NASA, na ocasião) não se arrepende da decisão tomada - e compreende que, com base nas informações que eles tinham, não havia como ser diferente. A vida deles não foi impactada - diferente das dos familiares das vítimas e daqueles que se opuseram aos chefes. Por mostrar as diferentes perspectivas é que esta é uma série documental extremamente completa - e imperdível!
Como em todos os trabalhos realizados por Jayme Monjardim, a minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração” teve um cuidado extremo com sua parte técnica. Um destaque especial vai para os figurinos, a direção de arte e a fotografia de Affonso Beato (que trabalhou em filmes como “A Rainha”). O diretor acertou também na escolha de um elenco formado praticamente por atores desconhecidos para desempenhar os papéis da minissérie. As performances são outro ponto interessante do programa, em especial a da gaúcha – e estreante na TV – Larissa Maciel, que, na segunda semana da série, foi impecável como Maysa.
No entanto, “Maysa – Quando Fala o Coração” paga o preço de ter tido somente nove capítulos. A vida de Maysa foi muito interessante e merecia mais do que este número de episódios. A impressão que se tinha era a de que, quando o capítulo ia ficar interessante, o programa acabava. O último episódio, por exemplo, foi totalmente corrido, condensando cinco anos da vida de Maysa em trinta minutos. Mesmo assim, estes são equívocos que não tiram o brilho deste ótimo trabalho.
É impossível assistir “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor” e não se recordar ou comparar esta minissérie com “Maysa – Quando Fala o Coração”. Por ter tido mais capítulos, a obra de Jayme Monjardim acaba sendo mais extensa e completa que a dirigida por Dennis Carvalho. Em se tratando das duas personagens principais, tanto Maysa quanto Dalva possuem muito em comum: ambas eram viciadas em bebida alcoólica, cantavam muito samba canção e tinham uma vontade extrema de amar e ser amada. A parte masculina desta minissérie, Herivelto, é retratada como um homem muito orgulhoso, machista e rígido, incapaz de admitir erros e pedir perdão – a impressão que a série deixou é a de que ele viveu uma eterna dor de cotovelo por Dalva, afirmação que pode ser contrariada pelo fato de que o compositor viveu um segundo feliz casamento com Lurdes (Maria Fernanda Cândido), com quem ficou até a morte.
Ainda no terreno das comparações entre as duas mais recentes minisséries musicais da Globo, a reconstituição de época das duas obras é perfeita e todo o trabalho foi feito de forma muito cuidadosa. Ambas emulam, claramente, o estilo de narração adotado no filme “Piaf – Um Hino ao Amor”, de Olivier Dahan. Embora Adriana Esteves não tenha sido tão intensa quanto Larissa Maciel, a atriz encontrou o tom certo para encarnar Dalva de Oliveira, especialmente na fase de maior maturidade da vida da cantora. No final, “Dalva e Herivelto” acaba batendo “Maysa” em um aspecto: na concepção e direção dos números musicais, que ficaram a cargo da dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho – basta dizer que não dá para se falar em musicais no Brasil sem citar o nome deles, uma vez que eles são o top de linha nesse estilo no país.
Em “Era uma vez... em Hollywood”, o diretor e roteirista Quentin Tarantino reescreveu a história trágica da atriz Sharon Tate. Em “Hollywood”, Ian Brennan e Ryan Murphy fazem algo parecido. A dupla reescreve a história, misturando personagens reais com fictícios, retratando diversos marcos históricos que só aconteceram em anos recentes, como se eles tivessem ocorrido na década em que a série se passa. Esse, aliás, é um ponto positivo do programa: mostrar pessoas pioneiras que tiveram a coragem de enfrentar o sistema. Pena que os pontos negativos se sobressaem quando comparados aos positivos.
A série não precisava apelar tanto nos três primeiros episódios - a trama melhora significativamente quando decide falar de cinema, a partir do quarto episódio. Além disso, as atuações do jovem elenco, em especial de David Corensweth e Jeremy Pope, são muito fracas. Até mesmo veteranos como Dylan McDermott e Jim Parsons se rendem ao caricatural.
Se a primeira temporada tinha sido um sopro de originalidade, não deixa de ser decepcionante que a segunda temporada acabe repetindo as mesmas temáticas vistas anteriormente: as mulheres em voltas com seus problemas amorosos, em paralelo com a vontade de consolidar suas trajetórias profissionais. A falta de criatividade dos roteiristas foi tanta
que a série termina a segunda temporada da mesma forma que a primeira acabou...
Nesse ponto, até mesmo o clube Coisa Mais Linda, que foi uma personagem tão importante e tão pulsante pra trama na temporada passada, fica relegado ao segundo plano agora. Caso tenha uma terceira temporada, a série precisa repensar vários pontos - todos relacionados à narrativa.
Por ter várias linhas de narração – e todas elas ricas à sua própria maneira –, seria muito fácil para o diretor Mikael Salomon se perder em meio a tantos acontecimentos. No entanto, ocorre justamente o contrário. A edição de Robert A. Ferretti e Scott Vickrey nos deixa completamente envolvidos no relato das relações entre Estados Unidos e União Soviética, bem como no jogo de poder e de intriga que é vivenciado diariamente pelos agentes de ambas as agências de espionagem. “A Companhia”, uma minissérie que contou com a produção executiva dos irmãos Ridley e Tony Scott e foi levada ao ar, nos EUA, pelo canal TNT, é uma obra de alto nível técnico, em que se destacam, além da edição de Ferretti e Vickrey e da direção de Salomon, as performances inspiradas de seu elenco (em especial as de Alfred Molina, Ulrich Thomsen, Alexandra Maria Lara, Rory Cochrane, Chris O’Donnell, Michael Keaton e Alessandro Nivola) e a belíssima trilha sonora composta por Jeff Beal. Se fosse um filme, “The Company” era uma produção digna de Oscar.
Ao longo de seis episódios, Sobrevivi a R. Kelly fala sobre a trajetória pessoal e profissional de Kelly, ao mesmo tempo em que retrata que o sucesso de sua carreira foi diretamente proporcional ao comportamento pedófilo e de assédio sexual, emocional e físico que ele cometia junto a jovens menores de idade e, em alguns casos, também maiores de idade. A série documental é bastante rica nos emocionantes depoimentos de vítimas, da ex-mulher, de irmãos, de funcionários e de colegas de trabalho do cantor - que, em algum momento, foram testemunhas ou sofreram na pele com os atos do cantor. Sobrevivi a R. Kelly se torna ainda mais forte quando entra nos testemunhos dos pais de algumas das vítimas, como a família Savage e a família Kelly, que viram suas filhas serem seduzidas por R. Kelly e tiradas do convívio familiar.
Em comum entre as vítimas do cantor, o fato de que todas eram da comunidade negra norte-americana. Sobrevivi a R. Kelly faz reflexões interessantes sobre como, apesar disso, R. Kelly nunca foi cancelado (para usar uma palavra da moda) pela comunidade afro-americana (que sempre acolheu o cantor em todas as suas turnês e lançamentos) e nunca sofreu as punições que deveria pelo seu comportamento (e se as vítimas dele fossem garotas brancas?). Por isso mesmo, tudo que assistimos ao longo da série documental nos causa o sentimento de nojo. Nojo de R. Kelly. Nojo dele continuar fazendo, até hoje (porque, apesar de ele estar preso, ele ainda não foi condenado por tudo o que fez), tudo isso e nunca ser responsabilizado pelo seu comportamento. Nojo das pessoas que o rodeavam, que sabiam que ele agia de uma determinada forma, mas nunca fizeram nada para coibir os atos dele. NOJO!
Cinco Dias
3.3 7 Assista AgoraUma minissérie dividida em cinco partes, cada qual retratando diferentes estágios da evolução do desaparecimento de Leanne, “Cinco Dias” sofre justamente com a irregularidade do relato proposto pela roteirista Gwyneth Hughes. No entanto, uma constante pode ser percebida no meio disso tudo: a de que somente a conclusão total de algo repleto de incertezas faz com que se termine a sensação de que toda uma vida está sendo consumida por um fato que ocorreu.
Vale O Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho
4.5 110É certo dizer que as famílias controladoras do Jogo do Bicho, no Rio de Janeiro, têm muitas semelhanças em seu modo de agir com aquelas que formavam a máfia italiana. A série documental “Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho”, dirigida por Ricardo Calil, reforça essa certeza.
Ao fazer a crônica das histórias dessas famílias e de seus personagens mais marcantes, a série acaba abordando temas que são típicos deste tipo de relato, como o dinheiro em abundância, a disputa pelo poder, as traições internas, o código de ética peculiar, a sucessão familiar, o poder paralelo, a corrupção generalizada, a política de pão e circo (tão bem representadas pelas escolas de sambas das quais os bicheiros/contraventores são patronos), os escândalos, os crimes, as extravagâncias e a violência.
Chamam a atenção também o quanto as histórias desses personagens estão diretamente relacionadas com a própria decadência moral, política e ética do estado do Rio de Janeiro.
Numa linguagem extremamente tradicional, com o uso de muitas imagens de arquivo e de muitas narrações em off, “Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho” é uma série viciante, do tipo que você assiste num fôlego só; com personagens fascinantes e com uma história que tem tantas ramificações que a gente sabe que é uma questão de tempo para que uma nova temporada surja, ainda mais depois de tanto sucesso conquistado por essa primeira.
Xuxa, O Documentário
3.5 87É muito emblemático que “Xuxa, o Documentário”, série com direção geral do jornalista Pedro Bial, estreie no ano em que Maria da Graça Xuxa Meneghel completa o seu 60º aniversário. Na série, iremos acompanhar Xuxa fazendo um balanço de sua trajetória pessoal e profissional, por meio de entrevistas concedidas por ela, bem como depoimentos de pessoas/personalidades que fazem parte desta história.
Algumas constatações podem ser tiradas de “Xuxa, o Documentário”. A primeira delas é que a apresentadora foi a maior representante e símbolo do entretenimento infanto-juvenil que foi marcante no Brasil nas décadas de 80 e 90. A segunda delas é que o sucesso de Xuxa ultrapassou fronteiras, na medida em que ela é igualmente importante em países da América Latina, como a Argentina. A terceira delas é que, quando falamos da profissional Xuxa, não dá para negar a importância da diretora Marlene Mattos na sua trajetória.
E aqui é importante fazermos um adendo: embora o documentário queira colocar Marlene Mattos numa posição de vilania, a verdade é que, se hoje estamos assistindo a esta série, é por causa de Marlene. Claro que, na trajetória de Xuxa como apresentadora infantil existe o mérito dela mesma, porém também há que se reconhecer a competência de Marlene Mattos na construção desse império.
Dividida em cinco episódios, “Xuxa, O Documentário” enfoca diversos aspectos da vida da apresentadora: a vida familiar, o início da carreira como modelo, a transição para a televisão e o público infantil, como ela se consolidou como o maior nome do seu segmento, as perdas pessoais, os trabalhos assistenciais, os amores e as experiências traumáticas no meio de tantas coisas positivas.
Por ter sido um documentário idealizado pela própria apresentadora, a impressão de ser uma obra chapa branca é uma constante, apesar das diversas contradições que podemos encontrar ao longo da história. Falta, na série, um contraponto à história de Xuxa e é uma pena que “Xuxa, O Documentário” termine de uma forma tão anticlimática. A história daquela que é uma das grandes estrelas que o Brasil já produziu merecia um final apoteótico.
A Superfantástica História do Balão
4.0 44 Assista Agora“As pessoas acham que entretenimento não é trabalho”. Essa frase, dita em um dos depoimentos contidos na série documental “A Superfantástica História do Balão”, dirigida por Tatiana Issa, vai de encontro ao que assistimos no decorrer dos três episódios que compõem a série. A visão da Turma do Balão Mágico, grupo infantil que se manteve em atividade de 1982 a 1986, como um produto, é a tônica da série documental.
Formado por Simony, Tob, Mike e Jairzinho, a Turma do Balão Mágico, nos seus quatro anos de atividade, teve álbuns que venderam 5 milhões de cópias no Brasil e foi protagonista do programa infantil “Balão Mágico”, exibido na Rede Globo entre 1983 e 1986.
Da mesma forma como marcaram a infância da geração anos 80 (bate aqui quem faz parte do time), “A Superfantástica História do Balão” mostra o quanto a vivência no grupo foi marcante também para seus pequeninos integrantes.
De uma forma bem humorada, com depoimentos e personagens interessantes, a série documental faz um importante retrato da exploração mercadológica destas crianças, que foram inseridas numa rotina exaustante de shows e de gravações, em meio a uma fase em que elas deveriam estar em um outro contexto.
Dá para continuar sendo criança em meio a um ambiente tão repleto de pressão? Dá para amadurecer, crescer e se transformar em um adulto “‘normal”? Quais as marcas que ficam de uma vivência desse tipo? São a essas perguntas que “A Superfantástica História do Balão” responde.
A série documental traz uma nostalgia boa para todos nós que vivenciamos isso e um resgate que é importante de ser feito, porém, ao mesmo tempo, joga um olhar sincero e profundo sobre tudo que está por trás dos palcos e das câmeras.
O mundo do show business é sedutor, mas ele te suga até você não servir mais pra ele.
Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria
4.2 8127 de janeiro de 2013. Foi neste dia que aconteceu uma das maiores tragédias recentes da história do Brasil: o incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, vitimando 242 jovens e ferindo 636 pessoas.
A série documental “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria” é dirigida pelo repórter Marcelo Canellas, oriundo da cidade gaúcha, e que, ao longo dos últimos 10 anos, fez uma cobertura próxima dos desdobramentos desse acontecimento.
Ao longo de cinco episódios, abusando do uso da linguagem jornalística, Canellas conta a história do incêndio da boate Kiss e, principalmente, da luta que os pais e os sobreviventes travam desde que o luto se transformou em batalha: aquela em busca da justiça.
E é justamente isso que chama mais a atenção em “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria”. Estamos diante de uma série que dá voz à luta dos pais, enfatizando a necessidade de se ter o fechamento que se é esperado quando estamos diante de uma fatalidade sem precedentes na nossa história, como país.
“Perpetuar a memória é ter a esperança de que isso não acontecerá de novo”. A frase dita por Maike, um dos sobreviventes, é a representação perfeita do que é “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria”, uma peça importante para relembrar a todos nós de que a impunidade permanece viva.
The Dropout
4.0 57 Assista AgoraElizabeth Holmes (Amanda Seyfried, vencedora do Emmy Awards 2022 de Melhor Atriz em um Telefilme ou Série Limitada) é alguém que sempre teve um sonho: o de inventar um produto e iniciar uma startup bem sucedida. Todos os seus movimentos, desde a época como estudante, a levaram para esse destino.
O título “The Dropout”, da minissérie criada por Elizabeth Meriwether, inclusive, faz referência a isso: no segundo ano como estudante na prestigiada Universidade Stanford, Elizabeth largou os estudos para fundar a Theranos. O seu produto: uma tecnologia para testes sanguíneos em que, a partir de uma gota de sangue de um paciente, múltiplos resultados, para vários testes, seriam revelados.
“The Dropout” tem alguns elementos interessantes na sua narrativa: o primeiro deles diz respeito à jornada de Elizabeth, como uma mulher empreendedora para se firmar em um mundo altamente masculino, competitivo e voraz, como o dos negócios; o segundo deles, que está intrinsecamente ligado ao primeiro, é como isso influencia na própria jornada da Theranos, como uma empresa.
E essa jornada, como mencionei, está intimamente ligada a Elizabeth e às suas relações, principalmente a estabelecida com o parceiro (de vida e de negócios) Sunny Balwani (Naveen Andrews). Elizabeth é uma mulher fria, calculista, desprovida de humanidade, capaz de qualquer coisa para vencer. Sua cobiça, ganância e incapacidade de reconhecer o fracasso são fundamentais para compreender como ela conseguiu enganar tantas pessoas ao mesmo tempo.
A melhor frase para resumir quem é Elizabeth Holmes e sua criação, a Theranos, é a que é proferida pela Dra. Phyllis Gardner (Laurie Metcalf): ela é uma fraude! Por isso mesmo, é preciso muito estômago para encarar os oito episódios de “The Dropout”.
Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez
4.4 415A série documental “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, dirigida por Guto Barra e Tatiana Issa, faz um resgate. Um resgate da história da atriz Daniella Perez, que foi brutalmente assassinada no dia 28 de dezembro de 1992. Um resgate dos desdobramentos do assassinato. E, mais ainda, um resgate sobre os efeitos do crime nas vidas dos familiares de Daniella, notadamente a sua mãe, a novelista Glória Perez.
Ao longo dos seus cinco episódios, a série documental nos faz viajar no tempo. Primeiro, para aquele dia 28 de dezembro de 1992, quando depoimentos de familiares, amigos e policiais nos levam ao cenário em que aconteceu o assassinato de Daniella. Aqui, chama a atenção o retrato cortante do luto e da dor da perda de alguém que tinha ainda uma vida inteira pela frente e que vivia, naquele momento, o auge de sua promissora carreira como atriz, na novela “De Corpo e Alma”.
O que “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” traz de novo neste relato é o retrato do papel de Glória Perez, amigos e familiares nas investigações sobre o assassinato, indo além do trabalho investigativo realizado pela polícia, em busca de provas que seriam incontestes para ajudar a construir o caso que foi apresentado pela justiça, na condenação dos assassinos.
“Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” ainda faz uma importante reflexão sobre o sistema judiciário brasileiro. Chega a ser um escárnio que os assassinos da atriz tenham cumprido menos de 10 anos de suas penas e, atualmente, vivam as suas vidas rotineiramente, como se nada tivesse acontecido.
Por fim, a série é um tributo à força de Glória Perez. Uma mãe que transformou a dor do seu luto em motivo de luta. “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez” é somente um capítulo dessa história. É mais um legado que Glória deixa para que a história de sua filha não seja esquecida. Para que, 30 anos após o seu assassinato, Daniella seja lembrada - e, mais ainda, para que seus assassinos (sim, assassinos condenados pela justiça brasileira) não sejam ignorados.
Mildred Pierce
4.2 168 Assista AgoraUma personagem como Mildred Pierce é cheia de nuances interessantes para qualquer ator. Nas mãos de uma intérprete como Kate Winslet, então, todos as qualidades e defeitos da protagonista são potencializados ao máximo, uma vez que Winslet é uma atriz que imprime todos os sentimentos (ou a ausência deles, se for o caso) à flor da pele. Kate já venceu esta partida antes mesmo de entrar no jogo, a verdade é essa. O curioso é que “Mildred Pierce” falha justamente onde a minissérie tinha o maior potencial de acertar: no tom melodramático, que aparece muito pingado, em cenas muito pontuais – como a da tragédia pessoal vivida pela personagem principal no segundo episódio. E isso é surpreendente em se tratando de que estamos diante de uma obra dirigida por Todd Haynes, que manobrou tão bem esse território no filme “Longe do Paraíso”. Porém, esse é um detalhe que acaba ficando muito pequeno diante de uma minissérie que tem uma personagem principal tão marcante e uma excelência técnica que se tornarão referência nesse gênero – com destaque para a trilha de Carter Burwell, a fotografia de Edward Lachman, a direção de arte de Mark Friedberg e Ellen Christiansen e os figurinos de Ann Roth.
Maid
4.5 366 Assista AgoraA primeira temporada de "Criada", série desenvolvida por Molly Smith Metzler (tendo como base o livro escrito por Stephanie Land), nos deixa com alguns ensinamentos. O principal deles é sobre o quanto é difícil quebrar o ciclo de um relacionamento abusivo, principalmente se você não tiver a independência financeira e a rede de apoio para isso.
Ao longo dos dez episódios da primeira temporada da série, acompanharemos a jornada de Alex (Margaret Qualley), que sai de casa com a filha Maddy (Angelina Pepper), de quase 3 anos, e tenta sobreviver, com o auxílio dos programas sociais do governo e dos abrigos para vítimas de violência doméstica.
Após arrumar um emprego como faxineira, espera-se que as coisas entrem nos seus eixos, porém, não é isso que ocorre para Alex, que continua a enfrentar obstáculos como a pobreza, a ausência de moradia e a falta de assistência para compreender e brigar pelos seus direitos como uma vítima de relacionamento abusivo.
O que mais me atraiu em "Criada", embora a série tenha um desenvolvimento narrativo um tanto inconstante, foi a forma como a transformação pessoal de Alex nos é passada. Da nossa posição de observadores da sua história, chama a atenção como ela sai de uma posição não-reativa para o que está à sua volta, e passa a ser uma verdadeira leoa em busca dos seus sonhos e daquilo que deseja.
Como mãe de uma menina quase da idade de Maddy, me identifiquei com o ponto de virada na jornada de Alex. Se ela consegue retomar as rédeas de sua vida é porque ela tem um motivo enorme para lutar por um futuro melhor: Maddy! ❤️
La Casa de Papel (Parte 5)
3.7 525 Assista AgoraQuando eu assisto à série "La Casa de Papel", cuja quinta parte estreou no dia 03 de setembro na Netflix, eu só me lembro de uma expressão chamada "jump the shark". Quando um programa "jump the shark" significa que ele deixou de ser popular ou começou a decair em qualidade. Embora "La Casa de Papel" continue a ser um show popular (o fenômeno que ela se tornou é uma prova disso), a verdade é que o roteiro da série perdeu a originalidade que marcou as suas duas primeiras partes.
Ou seja, o que eu sinto, desde que a terceira parte estreou, é que a série tem se estendido demais, tentando prolongar um sucesso que, fatalmente, causará o cansaço no público - que já começa a perceber os truques do roteiro. Assim, posso falar por mim: o que me move a continuar assistindo "La Casa de Papel" é ver até que ponto os roteiristas irão chegar para justificar as diversas frentes narrativas que foram abertas desde o início da terceira parte do programa.
Na quinta parte de "La Casa de Papel" já estamos há mais de 100 horas que o assalto no Banco da Espanha começou. Os cinco episódios que compõem este segmento nos mostram o grupo liderado pelo Professor (Álvaro Morte) em um momento de revés no seu plano -
na medida em que a inspetora Alicia Serra (Najwa Nimri, de longe a melhor coisa dessa parte) descobriu o quartel-general do líder e que o Coronel Tamayo (Fernando Cayo) planeja surpreender o grupo com uma invasão de uma tropa de elite do Exército espanhol
Em meio a estes reveses, como é típico do programa, acompanhamos o grupo de assaltantes tentando se antecipar aos movimentos ou se preparar para uma reação à altura do que está por vir. Até os flashbacks, que funcionavam em outros momentos, aqui parecem soltos
(principalmente a trama que coloca o primeiro assalto de Berlim com o seu filho)
Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra contra o Terror
4.3 38 Assista AgoraNa nossa resenha crítica sobre o documentário "11 de Setembro: No Gabinete de Crise do Presidente", dirigido por Adam Wishart, comentamos que o filme abordava os acontecimentos de 11 de setembro de 2011 sem muito aprofundamento. Isto não ocorre com a série documental "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra Contra O Terror", do diretor Brian Knappenberger, que aborda os atentados de 11 de setembro de 2001 com bastante profundidade e muita contextualização.
Como se pode esperar, o foco da série está no retrato dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e o caos que o acontecimento trouxe para o sistema aéreo, político e para a vida dos norte-americanos (estivessem eles envolvidos ou não diretamente com os fatos), bem como as suas consequências para a política externa norte-americana - ao longo dos episódios, a série faz reflexões muito importantes sobre a resposta militar do governo norte-americano para os ataques - principalmente no que diz respeito ao poder bélico que seria dado ao presidente e a algumas políticas que o governo passou a adotar a partir daquele momento, como um programa de vigilância ostensivo e as técnicas de interrogatório que desafiavam os direitos humanos e os limites éticos.
Voltando ao início da nossa resenha crítica, além destes pontos que mencionamos, o que faz de "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra Contra o Terror" um programa completo é a contextualização que a série faz sobre a origem da Al Qaeda e o que ocasionou o ódio que os seus integrantes nutriam pelos norte-americanos e sobre a presença das tropas norte-americanas e aliadas em países como o Afeganistão e o Iraque.
Para se ter uma ideia, a série tem um episódio totalmente dedicado ao planejamento da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, após quase 20 anos de ocupação (a mais longa da história dos Estados Unidos), num movimento que já tem representado o ressurgimento do Talibã e tudo de mais negativo que ele traz - incluindo o sentimento de repressão contra os Estados Unidos, o que pode provocar a possibilidade de realização de novos atentados terroristas.
Pistorius
4.0 4Nos quatro episódios da série documental “Pistorius”, você verá a imagem de um homem vitorioso: campeão paraolímpico por oito vezes, um exemplo de atleta, um ídolo, alguém que superou todas as adversidades e se tornou o primeiro paratleta a competir nos Jogos Olímpicos “tradicionais”, contra pessoas sem deficiência física. Porém, você também verá a face de um homem que teve a sua vida destruída e que ficará marcado pelas consequências da tragédia na sua existência.
A trajetória de Oscar Pistorius se transformou por completo no dia 14 de fevereiro de 2013 (data em que se celebra o dia dos namorados nas nações de língua inglesa), quando ele assassinou a sua então namorada Reeva Steenkamp, com quatro tiros, ao confundi-la com um invasor na residência em que ambos moravam. Esta é a versão de Oscar.
O foco da série documental é nos narrar como Pistorius foi do céu ao inferno. Dois dos episódios se passam dentro do tribunal, no julgamento do assassinato de Reeva. Embora a imagem de Oscar Pistorius nos cause muita compaixão, pois você consegue acreditar no arrependimento dele e no fato dele estar transtornado após o crime; a verdade é que a versão dele para os acontecimentos daquele dia é cheia de incongruências: como Reeva não se manifestou, diante dos gritos de Oscar, que não tinha invasor nenhum na casa e que quem estava trancada dentro do banheiro da residência era ela?
Neste sentido, “Pistorius” é uma série documental muito rica nos depoimentos que traz e nas contextualizações que faz. No decorrer dos episódios, jornalistas, familiares, amigos, advogados, consultores jurídicos, promotores nos recontam a história de Oscar Pistorius.
Mesmo assim, o que fica conosco, após os quatro episódios da série, é a sensação de que a verdade ainda não está tão clara ainda. Só quem sabe o que realmente aconteceu naquela madrugada é Oscar. Se, um dia ele compartilhará isso conosco, é uma incógnita.
Mare of Easttown
4.4 655 Assista AgoraEnquanto eu assistia a "Mare of Easttown", série dirigida por Craig Zobel, fiquei pensando se não estaria diante de uma trama adaptada de algum dos livros escritos por Dennis Lehane - afinal, o programa possui uma trama policial, com mesclas de dramas da vida real, e com temas que se relacionam com o uso de drogas, com crimes, com prostituição, com dilemas éticos. Mas, não... "Mare of Easttown" não se passa na cidade de Boston, e sim, na Pensilvânia, e tem como criador Brad Ingelsby (que roteirizou os sete episódios da primeira temporada do programa).
Ser a Mare de Easttown é, ao mesmo tempo, uma bênção e um infortúnio. Uma bênção, pois ela é querida e admirada na cidade. Um infortúnio, pois, como investigadora da polícia local, todos se sentem à vontade o suficiente para cobrá-la pelos seus deveres ou se intrometer na sua função. Desta forma, como podemos perceber, o lado pessoal e o lado profissional de Mare (Kate Winslet) se misturam muito.
Assim, os sete episódios da série abordam a personagem principal às voltas com seus problemas familiares - notadamente os relacionamentos com a mãe Helen (Jean Smart), o ex-marido Frank (David Denman), a filha Siobhan (Angourie Rice) e a melhor amiga Lori (Julianne Nicholson) - e com os casos que investiga em seu trabalho, principalmente o assassinato da jovem Erin McMenamin (Cailee Spaeny), que pode ou não ter a ver com outros casos de desaparecimento de jovens na cidade.
"Mare of Easttown" é uma daquelas séries que você termina de assistir a um capítulo e já quer emendar no outro. Mérito completo do roteiro de Brad Ingelsby. Essa mistura dos dramas pessoais com a trama policial funciona muito bem e é fundamental para a maneira como a série desenrola seus conflitos - com bom humor, ironia, tensão e suspense. Não à toa, a série conseguiu 15 indicações ao Primetime Emmy Awards 2021 - sendo que sete delas nas categorias principais, como Outstanding Limites or Anthology Series, Outstanding Lead Actress in a Limited or Anthology Series or Movie (para Kate Winslet), Outstanding Directing and Writing in a Limited or Anthology Series or Movie, Outstanding Supporting Actress in a Limited or Anthology Series or Movie (para a sempre competente Julianne Nicholson e Jean Smart) e Outstanding Supporting Actor in a Limited or Anthology Series or Movie (para Evan Peters).
Cidade Invisível (1ª Temporada)
4.0 751Criada por Carlos Saldanha (diretor brasileiro responsável pela trilogia "A Era do Gelo", bem como por "Rio" e "Rio 2"), a série "Cidade Invisível", cuja primeira temporada está disponível na @netflixbrasil, tem uma das premissas mais originais que eu vi, recentemente, num seriado. Ao longo do sete episódios da primeira temporada, serão abordados temas relacionados ao folclore brasileiro, à espiritualidade e ao fantástico - tudo isso em torno também de elementos investigativos e da busca pela verdade.
Na série, Marco Pigossi interpreta o policial ambiental Eric, que acaba de perder a sua esposa (Julia Konrad), que trabalhava como antropóloga num projeto que visava a preservação ambiental de uma floresta envolta também por interesses comerciais. Com o objetivo de compreender os motivos por trás do que houve com Gabriela, Eric acaba entrando em contato com todos os elementos que descrevemos no nosso parágrafo anterior, bem como consigo mesmo e com as suas próprias origens.
Como dissemos no início da nossa resenha crítica, a primeira temporada de "Cidade Invisível" chama a atenção pela originalidade, mas também pela qualidade dos seus aspectos técnicos e por ter um elenco bastante competente. A se lamentar somente o fato de que o último episódio desta temporada termina deixando ainda muitas pontas soltas na trama - que, certamente, tendo em vista a boa repercussão que a série tem obtido, deverão ser retomados numa segunda temporada.
Bridgerton (1ª Temporada)
3.8 479 Assista AgoraAbsolutamente nada do que iremos assistir na primeira temporada de "Bridgerton" será novidade - exceto pelo retrato mais ousado que a série faz sobre temas como sexo e homossexualidade; além da representatividade dos negros na aristocracia daquela época. Ou seja, não é preciso ler "Bridgerton: O Duque e Eu", livro escrito por Julia Quinn, na qual esta temporada é baseada, pra se ter uma ideia do que vai acontecer ao longo dos oito episódios que compõem "Bridgerton", neste primeiro momento, uma vez que a trama é totalmente previsível e seus passos são facilmente telegrafados pelo espectador.
Vejamos:
- A série se passa numa conjuntura que é bem conhecida daqueles que são mais familiarizados com os filmes de época, principalmente, as grandes histórias de amor protagonizadas por heroínas românticas. Nessa época, as mulheres estavam relegadas - e pressionadas em direção - a um único momento: aquele em que seriam apresentadas à sociedade, de forma a arrumar (ou não) um bom casamento, que lhes garantissem um bom futuro e trouxessem prestígio às suas famílias.
- A trama é uma colagem de vários elementos já conhecidos: desde os livros de Jane Austen, passando até mesmo por obras mais modernas, como a série de TV "Gossip Girl", como iremos mostrar nos próximos tópicos.
- Note o casal central: o Duque de Hastings (Regé-Jean Page) é uma tentativa de emular Mr. Darcy, na medida em que ambos possuem uma personalidade mais introvertida e estão longe de serem carismáticos. Já Daphne Bridgerton, certamente, foi inspirada em Elizabeth Bennet, uma vez que ambas nutriam o sonho de se casarem somente por amor - o que era uma possibilidade rara dentro da conjuntura que elas vivenciavam. Os dois, aliás, acabam não funcionando muito bem juntos... E, chega um momento em "Bridgerton", em que a trama dos coadjuvantes é mais interessante do que a deles.
- Além disso, nós já vimos vários outros tipos presentes em "Bridgerton" nos livros de Jane Austen ou em romances de época similares: a irmã que prefere o caminho dos estudos do que aquele que a levará ao casamento; a mãe desesperada pelo casamento de suas filhas; a personagem que esconde um escândalo que arruinaria suas chances na sociedade; o irmão irresponsável que não quer assumir o seu papel familiar; o irmão cujo lado é boêmio e artístico...
- Já a narradora, Lady Whistledown (na voz da lendária Julie Andrews), com sua coluna sobre o cotidiano da sociedade londrina da época, sendo uma testemunha ocular de todos os acontecimentos marcantes da temporada dos bailes, certamente inspirou, posteriormente, a redatora do blog que dava nome à série "Gossip Girl", e que narrava as crônicas amorosas dos adolescentes das escolas de elite no Upper East Side de Manhattan (Nova York).
Apesar de tudo isso, histórias como as que a primeira temporada de "Bridgerton" retrata continuam a ter um apelo enorme junto ao público. É só perceber o grande sucesso que a série fez, sendo a mais vista da Netflix em 76 países. Como a série literária escrita por Julia Quinn ainda tem mais sete livros (cada um deles centrado em um dos irmãos Bridgerton), então, quem gostou dessa série não se sentirá órfão por muito tempo...
John Adams
4.4 18 Assista Agora“John Adams” é um programa tão imponente quanto seu personagem principal. Chama a atenção o esmero com o qual a equipe técnica trabalhou, mas o que vai ficar marcado na memória daqueles que assistirem a série é a qualidade do roteiro escrito por Kirk Ellis e as atuações maravilhosas de seu excelente elenco. No final, “John Adams” é uma obra que nos mostra um momento histórico notável vivido pelos Estados Unidos, em que seus políticos eram pessoas nobres, com as melhores das intenções e que lutaram por todas as bases que fundamentam o país hoje.
The Crown (4ª Temporada)
4.5 246 Assista AgoraA quarta temporada de "The Crown" se passa no período de 11 anos (1979-1990) em que o Reino Unido esteve sob o comando de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, primeira mulher a ocupar o posto de Primeiro-Ministro no país. Thatcher ascendeu ao poder durante um forte período de recessão, e suas bandeiras de campanha envolviam uma série de iniciativas políticas e econômicas voltadas para tirar o país dessa situação. Nem sempre as suas posições foram bem vistas, porém sua popularidade se manteve quase inalterada por boa parte dos seus três mandatos.
Além do pano de fundo político - uma marca de "The Crown" -, assim como visto na terceira temporada da série, o que percebemos é que, cada vez mais, a rainha Elizabeth II (mais uma vez interpretada por Olivia Colman) se torna uma personagem coadjuvante, abrindo espaço para que outras linhas narrativas tenham o mesmo destaque que a sua.
No caso da quarta temporada de "The Crown", a história mais importante acaba sendo a que aborda o romance e casamento entre o Príncipe Charles (Josh O'Connor) e a Princesa Diana (Emma Corrin, numa caracterização perfeita). Interessante perceber que Peter Morgan faz um paralelo interessante entre a insegurança, a carência e, por quê não, a falta de carisma que, não só Charles, como outros integrantes da Família Real, possuíam; e a segurança, confiança e natural carisma que Diana possuíam. Mais do que a sombra de Camilla Parker Bowles (Emerald Fennell), o que realmente ficava entre Diana e Charles era a inabilidade dele - e dos demais integrantes da Família Real - de lidar com o magnetismo que a Princesa tinha sobre as pessoas.
Voltando ao início da nossa resenha crítica, outro elemento que conta muito a favor na quarta temporada de "The Crown" é a dinâmica do relacionamento entre Margaret Thatcher (Gillian Anderson) e a Rainha Elizabeth II. Peter Morgan foi muito feliz na forma como abordou essas duas mulheres que ocupavam a posição mais alta do poder, em seus respectivos campos. As cenas entre Anderson e Colman são, definitivamente, um ponto alto da série, uma verdadeira aula de atuação e de composição de personagens.
Já virou uma tradição também, em "The Crown", que, a cada término do ciclo de um elenco, que o último episódio seja finalizado com uma grande fotografia reunindo todos aqueles que participaram desse período. Em que pese o fato da terceira e da quarta temporada da série não terem sido tão inspiradas quanto as duas primeiras, mesmo assim, "The Crown" continua a chamar a atenção pela qualidade, não só do seu roteiro, como de um casting perfeito. Que venham Imelda Staunton, Jonathan Pryce, Lesley Manville, Dominic West e Elizabeth Debicki.
Challenger: Voo Final
4.2 27 Assista Agora"Challenger: Voo Final" traz os depoimentos de todos aqueles envolvidos na decisão que levou à morte dos sete tripulantes do ônibus espacial. Chama a atenção em todos eles o fato de que a maioria (principalmente os que representavam a NASA, na ocasião) não se arrepende da decisão tomada - e compreende que, com base nas informações que eles tinham, não havia como ser diferente. A vida deles não foi impactada - diferente das dos familiares das vítimas e daqueles que se opuseram aos chefes. Por mostrar as diferentes perspectivas é que esta é uma série documental extremamente completa - e imperdível!
Maysa - Quando Fala o Coração
4.2 275 Assista AgoraComo em todos os trabalhos realizados por Jayme Monjardim, a minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração” teve um cuidado extremo com sua parte técnica. Um destaque especial vai para os figurinos, a direção de arte e a fotografia de Affonso Beato (que trabalhou em filmes como “A Rainha”). O diretor acertou também na escolha de um elenco formado praticamente por atores desconhecidos para desempenhar os papéis da minissérie. As performances são outro ponto interessante do programa, em especial a da gaúcha – e estreante na TV – Larissa Maciel, que, na segunda semana da série, foi impecável como Maysa.
No entanto, “Maysa – Quando Fala o Coração” paga o preço de ter tido somente nove capítulos. A vida de Maysa foi muito interessante e merecia mais do que este número de episódios. A impressão que se tinha era a de que, quando o capítulo ia ficar interessante, o programa acabava. O último episódio, por exemplo, foi totalmente corrido, condensando cinco anos da vida de Maysa em trinta minutos. Mesmo assim, estes são equívocos que não tiram o brilho deste ótimo trabalho.
Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor
3.9 101É impossível assistir “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor” e não se recordar ou comparar esta minissérie com “Maysa – Quando Fala o Coração”. Por ter tido mais capítulos, a obra de Jayme Monjardim acaba sendo mais extensa e completa que a dirigida por Dennis Carvalho. Em se tratando das duas personagens principais, tanto Maysa quanto Dalva possuem muito em comum: ambas eram viciadas em bebida alcoólica, cantavam muito samba canção e tinham uma vontade extrema de amar e ser amada. A parte masculina desta minissérie, Herivelto, é retratada como um homem muito orgulhoso, machista e rígido, incapaz de admitir erros e pedir perdão – a impressão que a série deixou é a de que ele viveu uma eterna dor de cotovelo por Dalva, afirmação que pode ser contrariada pelo fato de que o compositor viveu um segundo feliz casamento com Lurdes (Maria Fernanda Cândido), com quem ficou até a morte.
Ainda no terreno das comparações entre as duas mais recentes minisséries musicais da Globo, a reconstituição de época das duas obras é perfeita e todo o trabalho foi feito de forma muito cuidadosa. Ambas emulam, claramente, o estilo de narração adotado no filme “Piaf – Um Hino ao Amor”, de Olivier Dahan. Embora Adriana Esteves não tenha sido tão intensa quanto Larissa Maciel, a atriz encontrou o tom certo para encarnar Dalva de Oliveira, especialmente na fase de maior maturidade da vida da cantora. No final, “Dalva e Herivelto” acaba batendo “Maysa” em um aspecto: na concepção e direção dos números musicais, que ficaram a cargo da dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho – basta dizer que não dá para se falar em musicais no Brasil sem citar o nome deles, uma vez que eles são o top de linha nesse estilo no país.
Hollywood
4.1 330 Assista AgoraEm “Era uma vez... em Hollywood”, o diretor e roteirista Quentin Tarantino reescreveu a história trágica da atriz Sharon Tate. Em “Hollywood”, Ian Brennan e Ryan Murphy fazem algo parecido. A dupla reescreve a história, misturando personagens reais com fictícios, retratando diversos marcos históricos que só aconteceram em anos recentes, como se eles tivessem ocorrido na década em que a série se passa. Esse, aliás, é um ponto positivo do programa: mostrar pessoas pioneiras que tiveram a coragem de enfrentar o sistema. Pena que os pontos negativos se sobressaem quando comparados aos positivos.
A série não precisava apelar tanto nos três primeiros episódios - a trama melhora significativamente quando decide falar de cinema, a partir do quarto episódio. Além disso, as atuações do jovem elenco, em especial de David Corensweth e Jeremy Pope, são muito fracas. Até mesmo veteranos como Dylan McDermott e Jim Parsons se rendem ao caricatural.
Coisa Mais Linda (2ª Temporada)
4.1 225Se a primeira temporada tinha sido um sopro de originalidade, não deixa de ser decepcionante que a segunda temporada acabe repetindo as mesmas temáticas vistas anteriormente: as mulheres em voltas com seus problemas amorosos, em paralelo com a vontade de consolidar suas trajetórias profissionais. A falta de criatividade dos roteiristas foi tanta
que a série termina a segunda temporada da mesma forma que a primeira acabou...
Nesse ponto, até mesmo o clube Coisa Mais Linda, que foi uma personagem tão importante e tão pulsante pra trama na temporada passada, fica relegado ao segundo plano agora. Caso tenha uma terceira temporada, a série precisa repensar vários pontos - todos relacionados à narrativa.
A Companhia
3.8 8 Assista AgoraPor ter várias linhas de narração – e todas elas ricas à sua própria maneira –, seria muito fácil para o diretor Mikael Salomon se perder em meio a tantos acontecimentos. No entanto, ocorre justamente o contrário. A edição de Robert A. Ferretti e Scott Vickrey nos deixa completamente envolvidos no relato das relações entre Estados Unidos e União Soviética, bem como no jogo de poder e de intriga que é vivenciado diariamente pelos agentes de ambas as agências de espionagem. “A Companhia”, uma minissérie que contou com a produção executiva dos irmãos Ridley e Tony Scott e foi levada ao ar, nos EUA, pelo canal TNT, é uma obra de alto nível técnico, em que se destacam, além da edição de Ferretti e Vickrey e da direção de Salomon, as performances inspiradas de seu elenco (em especial as de Alfred Molina, Ulrich Thomsen, Alexandra Maria Lara, Rory Cochrane, Chris O’Donnell, Michael Keaton e Alessandro Nivola) e a belíssima trilha sonora composta por Jeff Beal. Se fosse um filme, “The Company” era uma produção digna de Oscar.
Sobrevivi a R. Kelly
4.0 25Ao longo de seis episódios, Sobrevivi a R. Kelly fala sobre a trajetória pessoal e profissional de Kelly, ao mesmo tempo em que retrata que o sucesso de sua carreira foi diretamente proporcional ao comportamento pedófilo e de assédio sexual, emocional e físico que ele cometia junto a jovens menores de idade e, em alguns casos, também maiores de idade. A série documental é bastante rica nos emocionantes depoimentos de vítimas, da ex-mulher, de irmãos, de funcionários e de colegas de trabalho do cantor - que, em algum momento, foram testemunhas ou sofreram na pele com os atos do cantor. Sobrevivi a R. Kelly se torna ainda mais forte quando entra nos testemunhos dos pais de algumas das vítimas, como a família Savage e a família Kelly, que viram suas filhas serem seduzidas por R. Kelly e tiradas do convívio familiar.
Em comum entre as vítimas do cantor, o fato de que todas eram da comunidade negra norte-americana. Sobrevivi a R. Kelly faz reflexões interessantes sobre como, apesar disso, R. Kelly nunca foi cancelado (para usar uma palavra da moda) pela comunidade afro-americana (que sempre acolheu o cantor em todas as suas turnês e lançamentos) e nunca sofreu as punições que deveria pelo seu comportamento (e se as vítimas dele fossem garotas brancas?). Por isso mesmo, tudo que assistimos ao longo da série documental nos causa o sentimento de nojo. Nojo de R. Kelly. Nojo dele continuar fazendo, até hoje (porque, apesar de ele estar preso, ele ainda não foi condenado por tudo o que fez), tudo isso e nunca ser responsabilizado pelo seu comportamento. Nojo das pessoas que o rodeavam, que sabiam que ele agia de uma determinada forma, mas nunca fizeram nada para coibir os atos dele. NOJO!