Esta é obra-prima de Yorgos Lanthimos. Não senti falta de nenhum dos elementos característicos de sua filmografia: a fotografia que abusa da grande angular, de planos longos e dos jogos de luz e sombra, os diálogos ferinos, a opção por explorar o ridículo e o bizarro em algumas cenas, a trilha sonora dissonante e perturbadora, o tema sempre recorrente da impossibilidade de se controlar o "destino" (será que a tal liberdade existe mesmo?) e - o mais importante - a tensão da disputa de poder e manipulação entre os personagens (opressões e repressões sociais).
Elogiar as soberbas atuações de Olivia Colman, Rachel Weiss e Emma Stone é, como dizem "chover no molhado". Elogiar as soberbas atuações de Olivia Colman, Rachel Weiss e Emma Stone é, como dizem "chover no molhado". Assim como o clássico Malvada (All About Eve, 1951), A Favorita tem mulheres como protagonistas e é torno delas que tudo na história gira. Os homens é que são os coadjuvantes num jogo no qual as mulheres é jogam os dados em busca de um prêmio: o poder. Para isso, elas precisam ascender socialmente, isto é, galgar degraus cada vez mais elevados na escada que hierarquiza homens e mulheres.
Porém, como tenho visto muitas pessoas dizendo que este filme fala sobre empoderamento feminino e sororidade entre mulheres que, unidas, superam a opressão, decidi dedicar minha resenha à exploração e análise deste ponto de vista. Será que esta interpretação possui base que a sustente? Vejamos...
O filme dirigido pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos enfoca um trio de mulheres: a Rainha Ana (Olivia Colman), Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) e Abigail (Emma Stone). Entre elas a relação varia entre a luta pelo poder e pela ascensão social e econômica, ou pela manutenção do poder e do status social e econômico adquiridos. O pano de fundo onde esse jogo de interesses se desenrola é uma Inglaterra que ainda guarda resquícios medievais, com uma sociedade dividida em classes altamente desiguais e hierarquizadas, nas quais os trabalhadores, na condição de servos, não possuem os mesmos direitos que as elites que constituem a nobreza.
Temos aqui a opressão de classe, na qual as classes trabalhadoras desprovidas de direitos sustentam, por meio da exploração de seu trabalho, os privilégios das elites. Os que tudo produzem vivem na miséria ou na penúria, impedidos de usufruir do fruto de seu trabalho, que é apropriado pelas elites, que não trabalham e vivem na opulência. No filme isso fica muito claro nas cenas que mostram os servos do castelo dormindo amontoados no chão frio dos porões do castelo, sem agasalhos, enquanto os nobres dispõem de imensos quartos com enormes camas, cheias de edredons, cobertores e travesseiros.
A mulher também ocupa uma posição de inferioridade em relação aos homens nessa sociedade, independentemente da classe a qual pertençam. Abigail, por exemplo, nasceu em uma família rica de donos de terras ligados à nobreza, mas caiu na desgraça depois que seu pai, um jogador inveterado, perdeu tudo em apostas e jogos de carteado, chegando inclusive a apostar a própria filha que, em consequência disso, sofreu diversos abusos. Por seu turno, Ana, mesmo sendo rainha, não é livre como um homem em sua posição social seria. Ela paga o preço por sei feia, por não ter dado a luz a um herdeiro (todos morreram no parto ou com poucos dias de vida) e por ser mulher. Mesmo sendo rainha, é obrigada a se manter em um casamento de fachada e ocultar sua bissexualidade. Sua vida está subordinada aos interesses da corte, à moralidade católica vigente e aos protocolos reais.
Temos aqui a opressão de gênero, na qual as mulheres são, por meio do matrimônio, transformadas em propriedade privada dos homens, como reprodutora do patrimônio de seu marido, por meio dos filhos. A condição social da mulher está condicionada à condição social do homem (pai, irmão, maridos) à qual ela está subordinada. Quanto mais baixa é a condição socioeconômica de uma mulher, mais submissa é a mulher, mais miserável é a sua condição e mais escassos são os seus meios para, de algum modo. se emancipar e se "empoderar". Esse fato deu origem à divisão sexual do trabalho, que já existia de as tribos nômades de caçadores-coletores e antecedeu a divisão social do trabalho, que começou a aparecer no Crescente Fértil por volta do oitavo milênio antes de Cristo a partir da invenção da agricultura, do Estado e da escrita.. Marx diz: "A exploração do homem pelo homem começou com a exploração da mulher pelo homem."
Aqui, se tomarmos o termo "empoderar" em seu real sentido, que é o de "ganhar poder", veremos que esse poder é, inevitavelmente, poder sobre o "outro", quando se trata de relações estabelecidas dentro de uma sociedade desigual economicamente. Mesmo para ter poder sobre si, ela precisa ter poder sobre outro, pois seu empoderamento depende de sua ascensão dentro de uma sociedade na qual estar "por cima" é sempre estar "por cima de alguém", ou seja, na posição de opressor, enquanto que "estar por baixo" é sempre "estar abaixo de alguém", portanto, na posição de oprimido.
La Boetie, em O Discurso da Servidão Voluntária, questiona o porquê da existência de tiranos, ao longo da história. A resposta que ele encontra é a seguinte: a existência do tirano é possível porque há abaixo dele centenas de mini-tiranos, numa hierarquia que é excludente na proporção em que é ascendente, formando uma pirâmide. Cada classe tiranizando a logo abaixo dela, com exceção da última classe, que contudo, é a que mais suporta o peso da tirania.
Karl Marx, posteriormente, nos mostrou que o poder que hierarquiza os tiranos tem origem econômico pois todo poder é poder de algo concreto (como um homem) sobre algo concreto (outro homem, ou riquezas). Mostrou-nos, por isso que a classe que sustenta toda essa opressão é a classe que produz riquezas. Esta classe não é outra senão a classe trabalhadora, pois é o trabalho que produz riqueza ao transformar a matéria em algo que satisfaça uma necessidade ou desejo humano. A classe trabalhadora é, contudo, historicamente, a classe que é a base das pirâmide social. Essa pirâmide hierarquiza homens dando mais poder aos de cima que aos de baixo porque, primeiro, os de cima possuem mais riquezas que os de baixo. A isso Marx dá o nome de opressão, que é a pressão econômica de uma classe sobre a outra, que se desdobra em opressões sociais e políticas.
O que coloca mulheres em situação de submissão aos homens é a necessidade de sobrevivência (que é uma necessidade econômica), posto que, na sociedade inglesa, até o século XX, proibia mulheres de ter propriedades (vejam, por exemplo, as personagens de Razão e Sensibilidade que são forçadas e ir morar de favor na casa de parentes após a morte do pai), e portanto, de possuir os meios (meios de produção aqui inclusos) para sua subsistência. Para sobreviver, uma mulher adulta precisava escolher entre casar-se com um homem, prostituir-se ou tornar-se freira. No caso de Abigail, que de moça bem nascida no seio da elite aristocrática, cai até a condição de servidão feudal, a opressão de gênero que caracteriza a sociedade patriarcal é bastante vívida e, quando mais baixo ela desceu nos estames dessa sociedade hierarquizada, maior era o peso de opressão.
Para Abigail livrar-se a opressão à qual encontra-se submetida, ela precisa ascender dentro daquela sociedade estamentada. Para isso, ela precisa aproximar-se daqueles que ocupam posições superiores na pirâmide social. Para isso, ela precisa trapacear, enganar, fazer conchavos, e passar a perna em muita gente, deixando os seus possíveis concorrentes pra trás. Voltando a La Boetie, temos aqui a pequena aspirante a tirana, cujo desejo de ascensão social e econômica é necessariamente um desejo de tirania, pois é um poder sobre algo (riquezas) e sobre alguém (tornar-se nobre é tornar-se dono de servos, por exemplo). Na ausência de direitos humanos universais que garantam a todos condições mínimas de dignidade humana, o objetivo para os que se encontram em posições de inferioridade é a busca pela ascensão social e econômica que lhe permita usufruir dos privilégios exclusivos às elites.
Engana-se quem acredita que este filme trata do empoderamento feminino ou da sororidade entre mulheres oprimidas. Tal interpretação resulta da projeção acrítica das perspectivas atuais sobre um filme que retrata uma realidade passada. É o reflexo da crença do feminismo burguês de que a luta pela emancipação feminina resume-se à luta de cada mulher pela ascensão econômica, ignorando que ascender socialmente dentro de uma sociedade economicamente desigual é necessariamente subir em cima de outros, ou seja, tornar-se opressor dos que estão em posições inferiores na pirâmide social.
Abigail, para ascender socialmente, precisou passar por cima de todos os que estavam em sua caminho, incluindo Sarah, que de sua ama, passa à sua aliada de em seguida à sua rival, na medida em que ela vai galgando mais e mais degraus nesta escada que se afunila na medida que nos aproximamos de seu topo. Sarah, cada vez mais sedenta de poder, tiranizava a rainha Ana de todos os modos possíveis, enganando-a para governar em seu lugar, fazendo-a assinar ordens de guerra sem lê-las, mantendo-a presa e alienada em seu quarto, usurpando-lhe o poder de modo sorrateiro. Ana, por seu turno, ao perceber a opressão à qual está submetida, entende que precisa oprimir para não ser oprimida, e passa e jogar tanto com Abigail quanto com Sarah, tentando tirar o maior proveito da disputa entre as duas.
A cena final exprime exatamente a aceitação de condição de tirana, por parte de Ana, como quem diz "nessa cabaré sou eu quem manda!". Ao acordar com Abigail pisoteando um de seus coelhos, ela levanta-se irada de sua cama, coloca Abigail aos seus pés, apoia-se com força nos ombros dela enquanto a obriga a fazer massagens em sua perna. Seu intuito é deixar claro que, ali, nenhuma pessoa naquela corte está acima dela e somente a ele cabe o privilégio de tiranizar os demais. Abigail, como o ato de Ana deixa claro, é apenas mais um coelho naquele quarto e Ana é quem tem o poder sobre todos ali. O desejo de ascensão social é necessariamente um desejo de tiranizar, de oprimir, mesmo que o sujeito não entenda isso. Aliás, não entender isso é parte da alienação à qual estamos todos submetidos, que é a imposição da ideologia da classe dominante, por meio da qual ela procura convencer os oprimidos a aceitar o status quo. Não há sororidade, mas competição entre mulheres que galgam posições de opressão em uma sociedade marcada pelas desigualdades. Há empoderamento, mas não no sentido emancipatório, e sim no sentido de ter poder sobre os demais.
Portanto, para destruir a tirania é preciso destruir no indivíduo o desejo de ascensão social, que só beneficia a ele, substituindo-o pelo desejo da transformação social, que beneficia a todos. Como se faz isso? Paulo Freire responde: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é tornar-se o opressor". Uma educação libertadora é aquela que denuncia as opressões de gênero de de classe e que constrói meios para sua erradicação.
A direita reacionária brasileira, "encabeçada" por acéfalos como Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Nando Moura, insistem em difamar um herói como Marighella e trata-lo como terrorista, ao passo que exaltam torturadores Ustra e louvam Estados terroristas como Israel e os EUA, estes sim responsáveis por genocídios e outras barbaridades
Marighella e Che não torturaram ninguém, nem desapareceram com nenhum corpo. Marighella e Che não mataram porque essa era sua profissão, como Ustra.
Che e Marighella não eram funcionários do terror, como Ustra, não trabalhavam para a repressão, nem em prol da manutenção de um regime opressor. Che e Marighella eram homens comuns, civis, que se tornaram revolucionários, que foram levados a pegar em armas por viver em um regime opressor e por decidir lutar contra a opressão.
Marighella nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Ustra é digno da lata de lixo da história. Era um lacaio dos interesses do norte. Torturou, matou e sumiu com os corpos de guerrilheiros e militantes que lutavam contra a ditadura no Brasil, além de civis que apenas manifestavam discordância com o regime repressor. Nunca lutou por nada. Apenas fazia o trabalho sujo em nome da manutenção de um status quo injusto.
Em um regime de exceção, como foi a ditadura, as noções do que são crime e de qual é o papel da justiça são distorcidas em nome da defesa cega do regime e da repressão aos dissidentes. Terroristas foram os deputados que declararam a cadeira presidencial vazia quando Jango estava viajando. Terroristas eram os jornais da época que associavam Jango à uma ameaça comunista.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, por fim, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Comparar Marighella e Ustra é prova de ignorância histórica e desonestidade intelectual.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Marighella lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, estiveram, por exemplo, por trás do golpe no Brasil, em 1964, ou no Chile em 1973, que derrubou Allende o colocou Pinochet no poder.
Esse esforço por difamar a imagem de Marighella e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
Se a classe trabalhadora tudo produz, à ela tudo pertence!
Viva Marighella, que lutou como herói contra o militarismo canalha e autoritário e contra as elites fascistas e desprovidas de ética. Matou foi pouco! Viva Marighella! Morte aos inimigos da classe trabalhadora e defensores das burguesias de rapina que nos saqueiam e exploram!
Eu achei o filme lindo. As duas maiores qualidades do filme são o som e a fotografia. Parabéns aos responsáveis pela edição e pela mixagem de som, pois o trabalho que eles fizerem foi extraordinário. Na cena do lançamento da missão Gemini, os efeitos sonoros são incrivelmente precisos. Dá realmente a sensação de que você está ali dentro daquela cápsula.
Se você prestar atenção dá pra ouvir tudo: explosões do combustíveis dentro dos motores de combustão, os parafusos e a fuzelagem rangendo com a pressão, o assovios do foguete literalmente cortando o ar em alta velocidade... tudo. Assistir o filme num ambiente silencioso no qual não haja distração alguma é o mais indicado - aliás, esse seria o certo em tratando de assistir qualquer filme.
A fotografia é outro espetáculo. Nas cenas dentro das cápsulas a câmera treme, gira, rodopia, e transmite toda a sensação de desconforto e claustrofobia que o ambiente e a situação reais propiciariam. Na cenas dos astronautas na superfície lunar, os planos escuros e aparentemente infinitos também fazem com que sintamo-nos na Lua.
Neste ponto, o som entra- e sai - coroando a cena: seja no silêncio quase absoluto da cena em que Armstrong coloca o pé na lua, seja na trilha sonora belíssima que Justin Hurwitz compôs para emoldurar a cena em que Armstrong caminha naquela arei fina e imóvel, como quem se dirige ao nada. Muito significativa, ela expressa uma outra caminhada, mais subjetiva, que o personagem faz durante o filme, que a jornada rumo à entender a morte e a perda como partes indeléveis da realidade, contra as quais é inútil lutar.
O que importa é o presente, o agora, e o que fazemos dele. O passado já passou. O futuro não existe, a não ser que o façamos. E ao fazê-lo, ele se torna presente e, logo em seguida, passado. Somos feitos de poeira de estrelas. Aquela mesma poeira que cobre a superfície lunar na qual Amstrong deixou não apenas suas pegadas.
Uma coisa é o assunto que o filme pretende abordar. Outra é como essa abordagem é feita por meio do cinema. Considerando-se o tema, este Fast Food Nation poderia ser um excelente filme. Contudo, ao optar por acompanhar diferentes núcleos de personagens, com diferentes arcos narrativos, o ritmo do filme fica comprometido e alguns histórias ficam mal desenvolvidas.
Richard Linklater é um grande cineasta e eu sou profundamente encantado tanto com a trilogia Before, quanto com Boyhood, todos filmes excepcionais. Contudo, no que tange à realização, este Fast Food Nation deixa a desejar. Por exemplo, no entrecho protagonizado por Greg Kinnear, ao qual o roteiro não dá uma conclusão satisfatória.
Enfim, um filme que poderia ter sido melhor, mas resulta apenas mediano.
A primeira coisa que me chama a atenção nessa obra-prima de Alain Resnais é a metalinguagem. Quando indagada sobre o que faz no Japão, a protagonista Elle (Emmanuelle Riva) diz que está fazendo um filme sobre a paz. Depois da primeira noite de amor com Lui, o arquiteto japonês (Eiji Okada), Elle retorna o set onde o tal filme está sendo gravado e as pessoas e objetos que vemos compondo esses bastidores são os personagens coadjuvante da ação que se passa.
Quando estes coadjuvantes se colocam em ação em uma marcha de protesto contra a guerra e contra as armas nucleares, tanto Elle quanto Lui se tornam parte da cena, ora como espectadores que assistem a marcha, ora entrando no meio dela. Mas entrando em sentido contrário, como se buscassem outra outra narrativa, um outro filme, que não seja apenas sobre a paz ou contra as guerras, mas sobre o amor, sobre a morte, sobre fim, sobre esquecimento, sobre memórias...
Este aparente conflito de narrativas na verdade oculta uma relação dialética, na qual o fato objetivo, a realidade concreta, o que aconteceu, se confronta e se completa com a perspectiva subjetiva, a narrativa, o que recordamos. Estas polaridades nos são inicialmente insinuadas no começo do filme, quando Elle diz, sobre o ataque nuclear a Hiroshima, "eu vi de tudo", e Lui responde-lhe "você não viu nada".
Como o Márcio disse em seu comentário, que pode ser encontrado abaixo, Elle não estava no Japão quando as bombas atômicas foram lançadas. Tudo o que ela diz saber sobre esse fato é resultado de narrativas, como livros, reportagens, exposições em museus, documentários. Perto do final, o engano de julgar saber tudo é cometido por Lui. Após ouvir Elle contar sobre os anos que viveu em Nevers, na França, ele interroga-a: "Seu marido conhece essa história?". Ela reponde que não e ele pergunta: "Só eu sei então?". Ela responde que sim, então ele a abraça e diz: "Ninguém mais sabe. Só eu".
Será? Talvez seja verdade, levando-se em conta o modo como o comportamento de Elle muda depois que ela narra ao seu amante os segredos e traumas de seu passado durante a Segunda Guerra na França invadida e anexada pelos nazistas. Como em uma sessão de terapia, Elle realiza sua necessária catarse ao narrar suas dolorosas vivências e acaba, desse modo, reencontrando-se, compreendendo-se melhor.
Narrar implica organizar, colocar em perspectiva, distanciar-se, racionalizar. Do mesmo modo que a narrativa de Elle ajuda-a a compreender a si mesma e curar suas feridas (ou ao menos a conhecê-las e aceita-las, convivendo melhor com elas e consigo mesmo), o filme de Resnais, esse filme sobre em defesa da paz, anti-bélico, que é também sobre o amor e morte, a memória e os esquecimento, serve também de narrativa para nós, seres humanos, nascidos num mundo que foi profundamente influenciado pelas duas grandes guerras do século XX, possamos entender melhor quem somos.
Essa série formidável é baseada no livro livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood, e parte de uma premissa já usada anteriormente no cinema pelo diretor Alfonso Cuarón no filme Filhos da Esperança (Children of Men, 2006): um futuro distópico no qual os problemas ambientais, como uso de agrotóxicos e poluição da água e do ar deixaram a maior parte das mulheres estéreis. Apesar de se concentrar em diferentes desdobramentos desse cenário hipotético, filme e série podem ser visto como paralelos, como parte de um mesmo universo.
Enquanto o filme de Cuarón se concentrava em retratar o mundo em guerra, com Estados-Nações se esfacelando e entrando em guerra na medida em que suas sociedades desmoronavam sob o peso de uma extinção eminente da humanidade, a série (e o livro) se volta para vida no interior de uma sociedade que, tentando preservar algo do antigo status quo, recorre à uma política de extrema-direita. Uma espécie de "fascismo neopentecostal orgânico", com uma sociedade dividida em castas rígidas, na qual o poder político e econômico é monopólio de uma elite branca, cristã, conservadora e capitalista.
Assim como o nazismo e fascismo, essa sociedade nasceu do desejo de alguns homens brancos de salvar o mundo de uma corrupção vista essencialmente como moral, por meio da introdução de valores cristãos e de adoção da Bíblia como fundamento constitucional, em especial as leis contidas no Levítico. Nela os esses homens que se consideram "cidadãos de bem" criaram um modo de garantir que seus genes sejam transmitidos, detendo o monopólio da perpetuação da raça humana. Para isso, eles precisaram transformar as mulheres que ainda permanecem férteis em propriedade privada, em mercadoria, tirando delas os poucos direitos já conquistados.
Privatizaram os úteros férteis que, de tão raros, se converteram em meios de produção, como terras e fábricas, transformando as mulheres que os possuem em Aias, que como carne de rodízio, passam pelas casas das famílias da casta dominante para servir de matrizes de procriação para os machos dominantes. São estupradas, proibidas de ler, obrigadas à total subserviência.
Em suma: é o mundo que gente como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia e seus simpatizantes sonham, independentemente de qualquer crise de fertilidade feminina.
"Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados." (Simone de Beauvoir)
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A premissa dos dois Blade Runner é a seguinte: Num "futuro" em que as Empresas Multinacionais se tornaram mais poderosos que os Estados Nacionais, humanos convivem com réplicas sintéticas produzidas por nanotecnologia celular, conhecidos como "replicantes". A democracia capitalista passou a aceitar e a conviver com um novo tipo de escravidão. Como não são considerados humanos (apesar da semelhança), não possuem direitos, os replicantes podem ser escravizados de todas as formas.
Uma dessas formas de escravidão é uma certa "vida útil" ou "prazo de validade", com os quais esses seres não humanos já nascem, tornando-sua existência predeterminada, inclusive com data marcada para nascer e morrer. Literalmente. Foram criados para serem escravizados.
Poderiam ser imortais, mas nasceram fadados a serem escravos das empresas que exploram minérios em planetas distantes, por causa de sua maior "durabilidade". Os replicantes também são estéreis, isto é, incapazes de gerar outros replicantes. Foram criados para não pensar, para não ter sentimentos, não se rebelar. Foram criados para ser simultaneamente mão-de- obra e propriedade privada de uma grande empresa.
No primeiro filme, dirigido por Ridley Scott, Deckard (Harrison Ford), é um "Blade Runner" uma espécie de "capitão do mato", isto, aquele dentre os escravos tinha a tarefa de caçar e capturar os escravos fugidos e rebeldes. A tarefa de Deckard, por seu turno, é rastrear quatro replicantes: Roy Batty (Rutger Hauer), Zhora (Joanna Cassidy), e Pris (Daryl Hannah). Os 4 são de um modelo chamado Nexus-6, produzido pela Corporação Tyrell, que eram usados em mineração interplanetária e que voltaram à Terra ilegalmente. Uma das maneiras que um Blade Runner tem para rastrear um replicante que precisa ser "aposentado" é detectando reações humanas nele, como sentimentos ou emoções.
No segundo filme, de Denis Villeneuve, o papel do "capitão do mato" é o oficial K (Ryan Gosling), um Blade Runner, ao perseguir alguns replicantes, descobre um segredo que pode ameaçar todo o status quo, de provocar uma revolução. Essa descoberta acaba fazendo com que seus caminhos se cruzem com Rick Deckard (Harrison Ford).
O problema é que, assim como Deckard em sua Odisseia de 1982, à medida que cumpre sua missão, K vai adquirindo consciência. Consciência de si, passando a sentir, a pensar, a duvidar, a se emocionar. Consciência de mundo, passando a questionar, a se rebelar, a desobedecer, a romper com o status quo. Em ambos os filmes, Deckard e K lutam para negar e esconder suas reações, cada vez mais "humanas", fruto das dúvidas que vão despertando sua consciência. Mas esse despertar da consciência, uma vez iniciado, não pode mais ser impedido, e as consequências para a ordem estabelecidas são desastrosas. Daí o uso de toda forma de coerção e alienação, para impedir que ela desperte.
No primeiro filme, Deckard e Rachel (Sean Young), uma replicante, descobrem o amor e fogem juntos, pois sabem que, se rastreados, poderão ser "aposentados" por outro Blade Runner. No segundo filme K precisa lutar a dúvida entre esconder o segredo que ele descobriu, ou revela-los aos seus superiores, pois a sua revelação poderia ameaçar tanto a vida de K quanto a ordem estabelecida, o status quo, o "sistema".
Isso porque toda aquela sociedade, baseada na exploração dos replicantes pelas grandes corporações das quais simultaneamente trabalhadores e maquinas, se baseia na crença de que os replicantes não são humanos, não pensam, não possuem sentimentos, vontade ou consciência. Ou seja, não possuem "alma". Portanto, qualquer replicante que ousar pensar, questionar, descumprir normas, se rebelar... é uma ameça ao sistema e precisa ser eliminado. Todo sistema que se baseia na desigualdade e na exploração, é um sistema que, para se sustentar, precisará dispor de todas as formas de manipulação, coerção, repressão, censura, medo, perseguição e mentiras.
Logo no início o narrador deixa que claro que está contando uma história sobre um cara chamado Jeffrey Lebowski, mas que prefere ser chamado de "The Dude/O Cara". É um filme sobre "O Cara" e todos os "perrengues" que ele passa ao ser envolvido - meio que - acidentalmente e involuntariamente em uma certa trama. Trama que é mero pedaço de uma trama maior, que é a vida desse cara maluco. Portanto, o mistério sobre o sumiço da jovem Bunny é apenas uma questão secundária e o final do filme (que tem tanta importância para alguns), tem mais a ver com Lebowski do que a solução do sequestro.
Aliás, essa discussão entre o que é principal e o que é secundário na narrativa é colocado o tempo inteiro em discussão durante todo o filme, especialmente por meio de Walter, para o qual tudo remete à guerra do Vietnã. Desse modo, assim como no magistral Barton Fink, os diretores fazem outro exercício brilhante sobre metalinguagem.
Os diretores desconstroem os clichês de filmes detetivescos colocando dois inusitados investigadores para solucionar um misterio do qual os primeiros palpites da dupla já se revelam muito próximas da verdade, mostrando que talvez o mistério não seja tão misterioso assim. Inicialmente Jeffrey acredita que tudo seja uma farsa e que o sequestro tenha sido encenado. Apesar de errar em muitos palpites sobre muitas coisas durante toda a trama. Walter está sempre dizendo que os sequestradores "são amadores". Contudo, apesar desses insights quase certeiros, os dois passaram por muitos perrengues até que entendam a cilada na qual estavam se metendo.
"Às vezes a gente segura a barra, às vezes a barra cai em cima da gente". Lebowski segura-a firme, mesmo depois de 2 caras terem entrado em sua casa, confundindo-o com um milionário, mijado em seu tapete; depois de ser convencido a servir de intermediário na entrega do resgate em um sequestro; depois de ter seu carro roubado e seu novo tapete roubado, de ser sequestrado por um chefão da indústria pornô e sido dopado por ele para obter informações, de ter corrido alucinado e semi-inconsciente no meio de uma rodovia por quilômetros... e no final, apesar da "ajuda" de Walter, conseguirá solucionar o misterioso sequestro.
Tudo isso apesar de ninguém leva-lo a sério nem respeitá-lo, apenas porque ele é um cara solteiro, desempregado, com mais 40 que gosta de fumar um baseado, ouvir Creedence e jogar boliche - e tá errado? E também, claro, porque ele foi capaz de segurar "a barra". Segurar a barra, apesar dos pesares, é, portanto, o super-poder desse herói inusitado chamado "O Cara".
É só o que tenho a dizer, por enquanto, antes de escrever meus longos comentários. Preciso refletir antes. Mas posso adiantar que é um filme profundamente coerente tanto com o original, dirigido por Ridley Scott, quanto com a obra de Denis Villeneuve, sem prejuízos a nenhum dos dois.
Esopo, fabulista grego, conta-nos que, certa vez o deus do Amor, Eros (ou Cupido, para os romanos), adormeceu em uma caverna, embrigado pelo deus do Sono, Hipnos. Este era irmão gêmeo de Tanatos, deus da Morte. Ao cair em sono, Eros deixou que suas flechas caíssem, misturando-se à algumas de flechas de Tanatos que estavam no chão da caverna. Quando acordou, Eros recolheu suas flecha, mas algumas flechas de Tanatos acabaram indo junto. Deste modo, Eros passou a portar tanto flechas de amor quanto de morte. A linha que separa amor e morte é, segundo estes mitos, tênue.
Os mitos greco-romanos serviram de inspiração para Freud elaborar alguns conceitos-chave de sua teoria psicanalítica. Baseado em Eros e Tanatos, Freud desenvolveu os conceitos de "estímulo ou pulsão de vida" e "estímulo ou pulsão de morte". Representações psíquicas complexas, as pulsões de vida e de morte seriam, para Freud, algo que nos impele em determinada direção, pois possuem um objeto (Objekt), uma pressão (Drang), uma meta (Ziel) e uma fonte (Quelle). .
Eros, arquétipo grego da pulsão de vida, teria a função de unir as partículas, de tornar coeso o que está fragmentado, de amalgamar os pedaços incompletos formando uma substância viva, criando formas cada vez mais complexas, preservando vivo o organismo e garantindo a continuidade da espécie. A Pulsão de Vida desdobra-se em "pulsões do eu", relativas à autoconservação, que se manifestariam principalmente por meio da fome e a sede, e nas "pulsões sexuais", que incluiriam tantos os desejos manifestos, quanto aqueles ocultos, recalcados e sublimados. No sexo, aliás, o êxtase completo depende de que nos percamos no outro, mergulhando, literal e metaforicamente, no ser amado. O amor, a fome, o desejo sexual, seriam motores da existência humana
Tanatos, arquétipo grego da pulsão de morte, seria o oposto, tendo a função de dispersar em vez de amalgamar, de dividir em vez de unir, de destruir em vez de preservar. Em sua obra "Além do princípio do prazer", Freud afirma que “objetivo da vida é a morte, e remontando ao passado: o inanimado já existia antes do vivo”. Porém, a pulsão de vida e a pulsão de morte não podem ser dissociadas. Andam juntas, pois são opostos complementares, as duas faces de uma mesma moeda, estabelecendo entre si uma relação dialética. Isso porque o verdadeiro amor implica um certo tipo de morte. Amar alguém verdadeiramente obriga-nos a matar uma parte de nosso ego, de nosso individualismo. Amar é recusar o egoísmo em prol do outro. Amar é entregar-se, perder-se no outro, deixando-se de ser um eu à parte, isolado, auto-centrado, passando a ser dois, um orbitando em torno do outro, ambos girando em torno de um eixo comum, que é a vida que ambos compartilham.
Tendo tudo isto em mente, é possível compreender melhor esta nova obra-prima de Paul Thomas Anderson. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um homem completamente auto-centrado, dependente de uma vida baseada em uma rotina meticulosa que dá contorno ao mundo que ele criou para si. Este mundo é habitado por fantasmas, como o da mãe de Reynolds, pela qual este parece nutrir um amor edipiano e para a qual ele costurou um vestido para seu segundo casamento. A certa altura do filme, Reynolds diz que é possível esconder qualquer coisa sobre o forro de um paletó ou vestido. Adiante, ele borda o nome de Alma (Vicky Krieps) em dos vestidos que fez para ela. O que será que ele escondeu naquele vestido que fez para o casamento de sua mãe? Que segredos Reynolds esconde de seu passado e de sua relação com essa mãe da qual ele conserva uma mecha de cabelo escondida no forro de seu paletó? Ou ainda, quais segredos e traumas Reynolds costurou e escondeu sob a máscara que carrega?
“Ela teria de morrer, mais cedo ou mais tarde. Morta. Mais tarde haveria um tempo para essa palavra. Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.” (SHAKESPEARE, William, in Macbeth.)
Alma é quem desempenhará o papel de levar som e fúria à mórbida vida monótona e mecânica de Reynolds. Ela é a representação de Eros, que, com sua flechas de amor e morte, produz caos para recriar um novo cosmos no universo de Reynolds. A pulsão de morte, sozinha, é dispersão, desgregação, e tende ao vazio, à anulação. Se acompanhada da pulsão de vida, passa a ser mudança, transformação, reorganização dos elementos em prol da construção de algo novo, renovado, dinâmico, verdadeiramente vivo. Mas, para isso, é preciso não apenas que Alma abra mão de um pouco de si, matando parte de seu eu, mas que também Reynolds encare um certo tipo de morte, abrindo mão do individualismo, deixando o egoísmo e egocentrismo de lado, de modo a construir junto com Alma um mundo novo para ambos. Amor e morte, como já foi dito, andam lado à lado.
A relação entre Reynolds e Alma, aliás, remete à outra parte do mito de Eros. Psiquê era a mais jovem e mais bela das três filhas de um rei, cujo nome é desconhecido. Preocupado pelo fato de as duas filhas já serem casadas, mesmo sendo menos belas que Psiquê, que permanece solteira, o rei decide consultar o Oráculo de Apolo, que revela-lhe que é destino de Psiquê casar-se com um ser monstruoso. Na verdade o oráculo havia sido induzido por Eros a mando da deusa Afrodite, que tinha inveja da beleza de Psiquê. Vestida de branco, ela é levada ao topo de um penhasco para ser desposada pelo monstro, mas então o vento Zéfiro a carrega até um palácio, onde passa a viver. Lá ela é desposada por Eros, que se torna seu marido, porém ele nunca revela-se a ela, mantendo-se invisível em sua presença, para que Afrodite não pudesse vê-los juntos. Eles fazem um acordo no qual ela nunca deve pedir-lhe para mostrar-lhe sua face. Entediada, Psiquê decide visitar a casa de seus pais, e lá suas irmãs passam a questiona-la sobre sua vida e seu esposo, instigando-a a quebrar o acordo. Voltando ao palácio, Psiquê espera que Eros durma e, aproximando de seu rosto uma vela, fica admirada com sua beleza. Num descuido, ela deixa pingar uma gota de vela derretida sobre o ombro de Eros, que acorda furioso. Sentindo-se traído, Eros foge dizendo que sem confiança o amor não pode resistir.
Abandonada e triste, Psiquê passa a vagar pelo mundo em solidão, atravessando diversos tormentos colocados por Afrodite em seu caminho. Por fim, dá-se por vencida e cai em sono profundo, entregando-se à morte. Encontrando-a, Eros se apieda de sua amada e pede ajuda a Zeus, que lhe concede permissão para desperta-la usando uma de suas flechas. Assim Psiquê acaba tornando-se imortal e é por fim levada-a ao Olimpo, vivendo a eternidade ao lado de seu amado, ganhando asas de borboleta. Em grego, Psiquê significa tanto alma quanto borboleta, e tanto na mitologia grega quanto na psicanálise, a Psiquê é tomada como representação da Alma. Alma, no filme de Paul Thomas Anderson, é a amada que acaba desposada por um homem que, por trás de sua aparência rude, insensível, fria, dura e áspera, esconde uma fragilidade e uma ternura que só ela parece enxergar. E para que este Eros revele à esta Psiquê sua face, ela terá que feri-lo, pois ele mesmo recusa-se a deixar-se iluminar pelo amor que ela lhe oferece. Esse amor que, como já foi dito, implica em uma certa dose de morte, de auto-sacrifício, de entrega e de renúncia.
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Como mostrou o historiador britânico Eric Hobsbawm na obra A Era dos Extremos, mesmo não havendo dúvidas de Hitler fosse um tirano e que ele representasse uma ameaça às potências imperialistas europeias, remanescentes do século XIX e que não haviam sucumbido à Primeira Guerra, é fato de que essas potências, isto é, Inglaterra e França, fizeram de tudo para evitar que a Segunda Guerra começasse, uma vez que, para seus governantes e seu povo, as cicatrizes da Primeira Guerra ainda eram bastante vívidas.
No capítulo 5, ele diz: "Em suma, havia um amplo fosse entre reconhecer as potências do Eixo como um grande perigo e fazer alguma coisa. [...] Contudo, o que enfraqueceu a decisão das principais democracias europeias, a França e a Grã-Bretanha, não foram tanto os mecanismo políticos da democracia, quanto a lembrança da Primeira Guerra Mundial. [...] Tanto para a França quanto para a Grã-Bretanha, esse impacto, em termo humanos (embora não materiais), foi muito maior do que se revelou o da Segunda Guerra Mundial. Outra guerra como aquela precisava ser evitada a qualquer custo. Era sem dúvida o último dos recursos da política. Não se deve confundir a relutância em ir à guerra com a recusa em lutar, embora o moral militar potencial dos franceses, que haviam sofrido mais do que qualquer outro países beligerante, estivesse sem dúvidas enfraquecido pelo trama de 1914-18."
Esse temor por parte das lideranças políticas da época é muito bem abordado no filme, conferindo-lhe um maior rigor histórico. O que o filme se exime de trazer à tona é o fato de que, além desse medo de uma nova guerra, a manutenção de seus domínios coloniais na África e na Ásia era outro fator que preocupada aquelas nações. "Os governos britânicos tinha igual consciência de um fraqueza fundamental. Financeiramente, não podiam se dar ao luxo de outra guerra. Estrategicamente, não tinham mais uma marinha capaz de operar ao mesmo tempo nos três grandes oceanos e no Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, o problema que de fato os preocupava não era o que acontecia na Europa, mas como manter inteiro, com forças claramente insuficientes, um império global, geograficamente maior do que jamais existira. mas também visivelmente à beira da decomposição", esclarece-nos Hobsbawm.
"Nenhum tinha nada a ganhar com a guerra, e muito a perder". De fato, foi o que aconteceu. Ao final da Segunda Guerra, a França viu-se tendo que lutar contra os rebeldes na Indochina que lutavam por sua independência, culminando na Guerra da Indochina (1946-1954) e posteriormente na Guerra do Vietnã (1955-1975). O Reino Unido britânico, por seu turno, teve que em 1947 conceder, depois de muita relutância e repressão, a independência à Índia liderada pelo lendário pacifista hindu. Basta assistir ao filme Gandhi (de 1982), que deu a Ben Kingsley o Oscar, para conhecer essa parte história.
O Destino de uma Nação, por seu turno, é um brilhante estudo de personagem e, apesar de soberba, a atuação de Gary Oldman não é a única qualidade do filme, que possui muitas outras. Nem a direção, nem o roteiro nem o intérprete caem na tentação de mostrar um Churchill idealizado, exagerando suas qualidades e mascarando suas falhas. Ao contrário, exploram tantos suas virtudes como seus defeitos, contribuindo para construir um personagem sólido exatamente por ser ambíguo, multifacetado, idiossincrático. Kristin Scott Thomas está esplêndida como Clementine Churchill, trazendo doçura e leveza ao filme e fazendo um belo contraponto à todo peso e toda a fúria (literais e metafóricos) do Winston de Gary Oldman.
A fotografia, soturna e sombria, expressa com perfeição o horizonte sombrio que aguardava a todos, independente das decisões tomadas, uma vez que a Segunda Guerra impingiu grandes perdas a todos os envolvidos, vencedores e vencidos. Além disso me surpreendeu positivamente pelos enquadramentos inusitados, porém eficientes, como aquele em que a câmera parece estar dentro da máquina datilográfica, por exemplo.
Como havia feito em Desejo e Reparação (Atonement, 2008), Joe Wright mais vez faz uso dramático desta máquina durante alguns momentos, incorporando o som das teclas ao da trilha musical. Porém, enquanto neste filme o compositor era Dario Marianelli, com o qual ele havia trabalhado também em Orgulho e Preconceito (Proud and Prejudice, 2006), desta vez ele recruta Alexandre Desplat, que entrega, como de costume, uma trilha sutil e minimalista, contribuindo eficientemente para criar a atmosfera de constante tensão que permeia todo filme. Aliás, Desejo e Reparação também era ambientado na Inglaterra durante o começo da Segunda Guerra e uma das cenas mais memoráveis é aquela em que personagem de James McAvoy chega na praia de Dunkirk e se depara com todo o inferno que os nazistas haviam causados ao exército britânico.
O roteiro nos brinda com diálogos tão afiados que fazem dos debates políticos o campo de batalha no qual a guerra se prenuncia. No entanto, os silêncios dizem muitas vezes mais que as palavras e eles são sabiamente valorizados pelo diretor. O restante do elenco contribui para engrandecer ainda mais o filme, não deixando de entregar ótimas atuações mesmo em personagens pequenos e menos significativos.
Quem a pensa que a única semelhança entre filmes de Guillermo Del Toro é a presença de monstros e seres mágicos em uma história repleta de fantasia e imaginação, precisa olhar a obra do diretor mais a fundo. Neste texto, proponho analisarmos as semelhanças entre os dois melhores filmes do diretor até aqui: O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006) A Forma da Água (The Shape of Water, 2017)
A inspiração Em primeiro lugar, enquanto O Labirinto do Fauno o roteiro faz uma releitura de Alice no País das Maravilhas, em A Forma da Água o diretor parece se inspirar em A Bela e a Fera para escrever seu roteiro.
O contexto histórico O primeiro filme se passa na Espanha durante a Guerra Civil, durante a qual aquele país estava dividido entre os apoiadores do General Francisco Franco (conservadores, falangistas e fascistas), e seus opositores (socialistas, comunistas e anarquistas). Por seu turno, o segundo filme se passa nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, na qual boa parte do mundo estava dividida em dois polos hegemônicos: de um lados os Capitalistas, aliados dos EUA, e de outro os socialistas e comunistas, aliados à URSS. Ambos, portanto, são ambientados em contextos históricos caracterizados por forte polarização política e ideológica.
As protagonistas Ambos os filmes são protagonizados por mulheres com características físicas muito semelhantes: brancas, de baixa estatura, de porte físico frágil, cabelos negros à altura dos ombros, sempre trajando roupas com tons entre verde e azul claros. No primeiro filme, a protagonista é a menina Ofélia (Ivana Baquero) que, apesar de não ser muda, não pode revelar a ninguém a missão que o misterioso fauno lhe incumbe. No segundo, a protagonistas é Elisa (Sally Hawkins), um jovem e solitária mulher que não fala, apesar de não ser surda. No laboratório no qual ela trabalha como faxineira há uma criatura aquática que foi capturada na Amazônia e que é mantida como um segredo de Estado. A relação que ela desenvolverá com este ser misterioso será o segredo que ela não poderá revelar a qualquer um.
Anjos da guarda A única pessoa na qual Ofélia pode confiar é Mercedes (Maribel Verdu), uma mulher forte e corajosa que a protege do temido e sádico capitão Vidal (Sergi Lopes). As única pessoas nas quais Elisa confia são Zelda (Octavia Spencer), uma mulher forte e corajosa que a protege do temido e sádico agente federal Strickerland (Michael Shannon).
Um outro olhar Nos dois filmes de Del Toro, ao contrário do que possa parecer, o elemento fantástico funciona não como mecanismo de fuga da realidade dura e opressora, mas como lente com a qual a realidade é vista de uma perspectiva crítica e questionadora.
Outsiders Em O Labirinto do Fauno, a menina Ofelia transitava entre seres mágicos que somente ela parecia poder ver. Porém, tanto para ela quanto o espectador, essas duas realidades pareciam fundir-se, em vez de existirem em planos separados. O mesmo ocorre em A Forma Água, porém de um modo ainda mais complexo, pois nele tantos criaturas reais e - que seriam para nós - imaginárias convivem em um mesmo plano. Porém, a incomunicabilidade que Elisa e O Ativo (Doug Jones) compartilham faz com que eles vivenciem uma realidade que lhes seria exclusiva. Essa realidade é a tal "forma da água", a realidade e incompreensões que os envolve, o mundo de silêncios em que ambos estão mergulhados. Assim, em ambos os filmes os diretor nos questiona: O que é de fato essa tal realidade? Para a humana Elisa, tratada por quase todos como alguém insignificante, discriminada por sua deficiência, o único que lhe compreendeu e lhe aceitou foi um ser não-humano. O que é ser humano, afinal?
Há ainda outros pontos de similaridades entre os filmes que poderiam ser destacados, mas prefiro deixar que vocês a tentem perceber por si mesmo.
Katherine Graham (Meryl Streep) tornou-se editora-chefe do The Washington Post após a morte de seu marido Phil Graham, sendo, então, a primeira mulher a ocupar tal posto nos EUA - e provavelmente no mundo. No começo da década de 1970, o analista do Pentágono Daniel Ellsberg vazou documentos secretos conhecidos vulgarmente como "Pentagon Papers", um estudo preparado pelo Departamento de Defesa a pedido do então secretário de Defesa, Robert MacNamara.
Realizado ao longo de anos por estudiosos contratados como analistas pelo governo, o documento, intitulado "United States–Vietnam Relations, 1945–1967: A Study Prepared by the Department of Defense", continha 47 volumes e detalhava minuciosamente o envolvimento militar norte-americano no Vietnã desde a Guerra da Indochina (1945-1947) até a Guerra do Vietnã (1964-1967).
A Indochina foi ocupada pela França em 1887, tornando-se parte do Império Colonial Francês no Sudeste da Ásia. Era formada pelo que hoje corresponde ao Vietnam, Laos, Camboja e região chinesa de Guangzhouwan. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando parte da França foi dominada pela Alemanha, a Indochina e demais colônias francesas ficaram sobre da República Francesa de Vichy, aliada dos nazistas, ficando depois sobre sob ocupação japonesa. Em maio de 1941, auge do conflito, teve início uma revolta na qual o Viet Minh, ao mesmo tempo partido e exército comunista liderado pela grande Ho Chi Minh, enfrentaram os invasores franceses e depois os japoneses. As revoltas aumentaram, dando início à guerra, que iria terminar em 1949, com a independência do Vietnã. Os Estados Unidos, como revelaram posteriormente os Pentagon Papers, financiaram os franceses na guerra contra o Viet Minh, arcando com cerca de 78% dos custos.
Em 1954, após o Acordo de Genebra, em plena Guerra Fria, o país divido em 2 Estados: Vietnã do Norte, comunista, dirigido por Ho, e Vietnã do Sul, governado pelo imperador-fantoche Bao Dai, controlado pelos franceses. Sem nenhum interesse nos rumos de seu país, Bảo mudou-se para Paris no mesmo ano, continuando como chefe de estado e colocando Ngô Dình Diem como primeiro-ministro. Diem, que era convertido ao catolicismo, era religioso fervoroso. Em 1955 ele realizou um referendo (que depois se provou ter sido fraudado e manipulado com apoio dos EUA) cujo resultado lhe deu plenos poderes.
Durante seu governo, apoiado militar e financeiramente pelos Estado Unidos, iniciou-se violenta perseguição aos comunistas e budistas vietnamitas. Estima-se que 50 mil comunistas foram executados e outros 75 mil foram presos. Em 1963, protestando contra a falta de liberdade religiosa, o monge budista Thich Quang Duc ateou fogo ao próprio corpo, num ato de autoimolação, em Saigon, no então Vietnã do Sul, comovendo a opinião pública internacional. Posteriormente os estudantes aderiram aos protestos, culminando, em 1963, pela deposição de Diem por oficiais do exército-sul vietnamita. Em 1964 o Vietnã do Norte, atacou o governo fantoche do Vietnã do Sul com ajuda e apoio da população da parte de sul, que, de fato, nunca se viu como diferente a população do norte, uma vez que a divisão do Vietnã em dois países foi uma medida artificial imposta pelos EUA e pela ONU, sobre a qual a população vietnamita nunca foi consultada. Os chamados Vietcongs eram em sua maioria sul-vietnamitas que lutaram ao lado dos norte-vietnamitas contra os invasores estrangeiros e os colaboracionistas do sul.
Hoje sabe-se que os EUA lançaram no Vietnã 7 milhões de toneladas de bombas, o que corresponde a 2,5 vezes o volume de bombas lançadas por eles na Segunda Guerra Mundial. Entre 1965 e 1967 o presidente Lyndon Johnson aumentou o número de soldados de 190 mil para 500 mil. No entanto, apesar do imenso e esmagador poderia militar, muito superior ao dos vietnamitas, o número de baixas dos EUA foi de 2 mil soldados entre 1954 e 1965, 6 mil em 1966 e 11 mil em 1967. O número de vietnamitas mortos, no entanto, passa de 3 milhões. O governo estadunidense, que tinha interesse no controle da região, tanto pela sua localização estratégica (próxima da China, Japão, Índia e Oceania) quando pelos recursos naturais, não via com bons olhos o avanço do comunismo, e fizeram pressão para o país fosse dividido em dois, de modo que eles pudessem manter controle político econômico no sul e, partir de lá, derrubar o governo de Ho Chi Minh, consolidado no norte.
No filme Spielberg não entra nesses detalhes mais espinhosos envolvendo geopolítica, preferindo concentrar seu foco em defender a liberdade de imprensa e a democracia estadunidense, atacando um inimigo já abatido (em especial o ex-presidente Nixon), realizando um filme esquemático, apesar de muito bem realizado e que cumpre o que promete. Em vez disso, navega seguro sobre duas ondas do momento: a do empoderamento feminino em alta principalmente nos EUA por conta da série denúncias de abusos cometidos por figurões de Hollywood (também explorada por filmes como Three Billboards...) e a do papel que a imprensa cumpre - ou deveria cumprir - na luta contra a corrupção do poder e pela liberdade de expressão (que rendeu a Spotlight 3 Oscar em 2016). Como notável oportunismo e algum maniqueísmo, roteiro e direção se esforçam por dar papel de destaque à personagem de Meryl Streep, colocando-a como símbolo de mulher na luta contra as pressões do machismo e patriarcado, ao passo que ela e a equipe de seu jornal encarnam os valores da imprensa livre e imparcial.
Todas as cenas em que ela aparece são destinadas a tanto a colocar em evidência o mundo masculino e machista que a rodeia, quando o suposto papel e pioneirismo que ela, enquanto mulher, desempenha. Merecem destaque a cena em que personagem de Sarah Paulson profere um monólogo sobre a coragem da personagem em autorizar que seu jornal publicasse o conteúdo dos documentos, e aquele em que ela desce as escadas da Suprema Corte passando em meio à dezenas de mulheres que passam a olha-la com admiração, cumprem aquele objetivo.
Meryl Streep agarra seu personagem com todas a forças e entrega aqui um de seus melhores trabalhos, numa atuação minimalistas, onde cada gesto de mão, cada olhar e cada inflexão, revela algo e vai, ao longo da história, expressando gradual o empoderamento da presonagem. Tom Hanks está ótimo como o Ben Bradley e brilha ao lado de Meryl, não se deixando ofuscar demais por Meryl Streep, cuja personagem o roteiro claramente privilegia. O resto do elenco, todo ele composto por atores e atrizes de grande qualidade, recebe seus momentos de glória, como Bob Odenkirk ganhando closes intensos e diálogos marcantes ao longo do filme.
Bruce Greenwood, que havia interpretado JFK em Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000) está mediúnico como Robert McNamara, que fora Secretário de Defesa do governo dos EUA de 1961 a 1968, durante os governos de John F. Kennedy e Lydon B. Johson. Quem quiser saber mais sobre McNamara e o envolvimento dos EUA no Vietnã, recomendo os documentários Corações & Mentes (Hearts and Minds, 1975), de Peter Dabvis, e Sob a Névoa da Guerra (The Fog of War, 2003), dirigido por Errol Morris, ambos premiados com o Oscar.
O filme termina com o começo do escândalo Watergate, cuja história já foi retratada no filme o icônico Todos os Homens do Presidente (All the president's men, 1976), com Dustin Hoffman e Robert Redford. Dirigido por Alan J. Pakula, que anos mais tarde fez A Escolha de Sofia (Sophie's Choice, 1982), o filme deu a Jason Robards o Oscar e Melhor Ator Coadjuvante interpretando Ben Bradley.
A valorização de um charlatão como Olavo de Carvalho só mostra a inferioridade intelectual da parcela de direita da sociedade brasileira (só a brasileira mesmo). Parcela esta que, não por acaso, nutre apreço também por outros embustes como Bolsonaro, Kim Kataguiri e Leandro Narloch.
Mais bizarro, no entanto, é que são as mesmas pessoas que, por exemplo, atacam verdadeiros intelectuais, como Paulo Freire, mundialmente respeitado, sendo um dos 3 autores mais citados em trabalhos acadêmicos pelo mundo afora. Criticam Marx, por exemplo, uma das mentes mais originais e importantes dos últimos 300 anos, ao lado de Darwin, Freud e Einstein, cujas contribuições mudaram radicalmente nossa concepção da realdade.
Os acéfalos dizem que Marx escreveu groselhas, que Marx era vagabundo, que não trabalhava, que Marx teve um caso com a empregada, mas admiram Olavo de Carvalho, um cara que ganhou a vida com astrólogo e como professor de filosofia se diploma de filosofia em um curso de filosofia sem respaldo ou reconhecimento acadêmico em lugar nenhum do mundo, que abusava física e psicologicamente da família, dentre outras barbaridades.
Além disso, vale-se o tempo de falácias (non sequitur, ad hominem, condução ao absurdo, ampliação indevida, espantalhos, etc) para ludibriar os trouxas de intelecto inferior ao seu. É mestre na arte de debater sem conhecer o tema profundamente. Paranoico, vê ameaça comunista em tudo, usa e abusa de silogismos com premissas absurdas, sofismas primitivos, especulações vazias e ilações equivocadas.
Deixo aqui algumas frases "jeniais" ditas pelo farsante Olavo de Carvalho: "A ONU apoia o terrorismo." "A Pepsi é feita com fetos abortados." " Há uma conspiração comunista global e o movimento gay é parte dela." " A Lei da Inércia é falsa e Isaac Newton era burro." " Há livros ensinando crianças fazer sexo oral com elefantes." " O Brasil hoje é uma ditadura comunista." " A mídia apoia os gays para promover o controle populacional." " O marxismo nasceu do satanismo." " Darwin é o pai do nazismo." " A web foi criada para combater o ateísmo." " O ser humano não precisa de cérebro pra viver." " O nazismo e FMI são de esquerda." " Bill Clinton era um agente de Pequim." " Os EUA entraram no Vietnã para perder." " Há 40 milhões de comunistas no Brasil." " Cigarro não dá câncer." " Não há diferença genética entre humanos e chimpanzés na gestação." " O empresariado nunca se organizou politicamente." " A ditadura foi branda e tinha eleições democráticas." " Che Guevara invadiu Angola 8 anos após a sua morte." " O PT é responsável pela morte de 50 mil pessoas por ano." " O General Geisel era comunista." " Bush manteve seu país totalmente a salvo de ataques terroristas por oito anos."
Muito se disse e ainda se dirá sobre a assombrosa fotografia desde clássico de John Ford. Muito foi dito também sobre sua trilha sonora, sobre a atuação lúgubre e crepuscular de John Wayne, ou sobre a deliciosa cena da briga no bar. No entanto, de todas as maravilhas que que Ford nos entrega em Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon, 1949), me interessa particularmente a crítica que ele tece ao lendário General Custer traçando um paralelo entre ele, um personagem real, mas ficcionalizado pela mitologia criada em torno dele, e o ficcional Capitão Nathan Cutting Brittles, protagonista do filme, cujo roteiro humaniza magistralmente na medida que expõe suas idiossincrasias.
George Armstrong Custer (1839 – 1876) foi um oficial do exército estadunidense que lutou na de cavalaria durante a Guerra Civil Americana (1761-1765) e as Guerras Indígenas (1788-1890). A apesar da imagem de herói destemido, nobre e incorruptível, que se tentou construir sobre ele, Custer era na verdade um homem ambicioso, inescrupuloso e oportunista, que fez carreira rápida no exército porque tinha os contatos certos e porque não hesitava em colocar seus comandados em risco para obter uma vitória.
Entrou em West Point, aos 18 anos, formando-se em 1861, quatro anos depois, com a patente de segundo-tenente, vindo a lutar na Guerra Civil ao lado dos "nortistas" contra as tropas confederadas do sul. A Batalha de Bull Run, em 21 de julho daquele ano, próximo de Washington, D.C., foi sua iniciação na guerra. No ano seguinte recebeu um "brevet" de general de brigada. Uma semana depois, na Batalha de Gettysburg, ele lideraria o 1.º Regimento de Cavalaria de Michigan em um ataque contra outra tropa confederada que levava reforços aos seus companheiros, no que ficou conhecido como o ataque de Picket. Na batalha Custer perdeu 257 homens, a maior que se tem notícia nos anais da Cavalaria dos EUA.
Terminada Guerra Civil ou de Secessão, Custer permaneceu no exército, primeiro como capitão, posteriormente alçado, em 1866, a tenente-coronel no 7º Regimento de Cavalaria, tornando-se comandante do Forte Lincoln. Em 1867 dirigiu para o Oeste, designado para para combater os índios que impediam o avanço dos colonos brancos. Em 1868 as tropas de Custer massacraram uma tribo Cheyenne em Washita River. Há anos o governo estadunidense tentava adquirir a região conhecida como Black Hills que, por causa de tratados assinados anos antes, pertencia aos índios, para os quais era terras sagradas. Custer e seus homens se notabilizaram por atacar os acampamentos quando os guerreiros não estavam presentes, liquidando impiedosamente mulheres e crianças, só fazia aumentar a ira dos indígenas.
No 25 de junho de 1876, após levar seus homens em direção aos índios, que então formavam um exército rebelde com mais de 3 mil guerreiros, Custer e seus pouco mais de 300 comandados (incluindo dois de seus irmãos, mulheres e crianças) viram-se combatendo os índios na Batalha de Little Bighorn, no Território de Montana. No final, o saldo de Custer foi 268 mortes, incluindo ele seus irmãos, além de 55 feridos.
No filme de John Ford, o Capitão Nathan Cutting Brittles (John Wayne), prestes a se aposentar é, portanto, um homem que para ter chegada tal idade liderando tropas de cavalaria contra populações indígenas que, em geral, defendia-se na medida do possível, presumivelmente, ou é muito sábio ou é muito sortudo. Ao longo do filme, veremos que Custer, tal um discípulo de Maquiavel, não descrê da sorte, mas aprendeu que ela nada vale se não for usada com sabedoria. Brittles parece especialmente fã da sentença maquiavélica que diz: "Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu".
No começo do filme, a derrota de Custer em Little Big Horn é mencionada, pelo narrador. Para decepção do público, no entanto, Ford não pretende fornecer uma catarse na qual o supostamente heróico Custer e seus abnegados soldados serão vingados em cenas de batalhas entre brancos e índios na qual os últimos terminarão derrotados.
Não há cenas grandiosas de batalhas e enfrentamentos entre as tropas de Capitão Nathan Cutting Brittles e os guerreiros Cheyennes, Arapaho e Sioux, responsáveis pela derrota de Custer, que ele encontra pelo caminho. Nathan é a antítese de Custer - e sua crítica, sutil, mas eficiente. Em vez de levar seus homens ao confronto com o inimigo, o protagonista do filme de Ford evita ao confronto, preferindo preservar a vida de seus comandados do que expô-los à morte certa em busca de glória. Enquanto Custer buscava fama e renome, Nathan só queria trazer todos para casa, sãos e salvos.
Ford, pelo olhar de Bittles (ou vice-versa) parece enxergar Custer pelo olhar Maquiavélico. Nas entrelinhas de sua narrativa, parece repetir a máxima do filósofo italiano: "Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela".
A ambição de Custer custou-lhe a vida, aos 37 anos de idade. A nobreza de caráter e senso de responsabilidade com os demais, fez Nathan, ao final, a buscar uma solução diplomática, indo ao encontro dos índios e tentando estabelecer um acordo de paz. É então que ele pronuncia a melhor frase do filme: "Yes, we are too old to war, but old men should stop wars". Em vez de morrer como mártir, Nathan escolheu viver com nobreza e dignidade, ganhando, para sua própria surpresa, o respeito e admiração de todos a sua volta. Em um mundo que, em 1949 (ano de lançamento do filme), acabava de sair da maior guerra que a humanidade já viu, a mensagem do mestre John Ford é mais do que clara.
Em 1941, ano em que este fiilme foi lançado, o mundo encontrava-se envolvido na Segunda Guerra Mundial e o cinema era, tantos nos países Aliados quanto naqueles do Eixo, uma arma que cumpria vital função de unir o povo, inflando-lhe o ardor nacionalista e conclamando-o a lutar pela vitória e apoiar os seus soldados. O filme de Raoul Walsh, neste contexto, desempenha este papel oferecendo ao público um herói de guerra que seja um modelo a ser seguido e um exemplo a ser admirado. Para isso, no entanto, ele abandona qualquer compromisso com a mínima veracidade histórica, romancendo a vida do biografado e criando sobre ele uma aura mítica.
George Armstrong Custer (1839 – 1876) foi um oficial do exército estadunidense que lutou na de cavalaria durante a Guerra Civil Americana (1761-1765) e as Guerras Indígenas (1788-1890). A apesar da imagem de herói destemido, nobre e incorruptível, que se tentou construir sobre ele, neste filme e outros como Os bravos não se rendem (Custer of the West, 1967), Custer era na verdade um homem ambicioso, inescrupuloso e oportunista, que fez carreira rápida no exército porque tinha os contatos certos e porque não hesitava em bajula-los ou em colocar seus comandados em risco para obter uma vitória.
No filme Walsh, o Custer interpretado por Errol Flynn é tão real quando os personagens ‘Ned Sharp’ (Arthur Kennedy) e ‘California Joe’ (Charley Grapewin), ambos inventados pelos roteiristas Aeneas MacKenzie e Lenore Coffee. Já o General Philip H. Sheridan (John Litel), famoso autor da frase “O único índio bom é o índio morto” (que inspirou Bolsonaro a compor sua máxima "bandido bom é bandido morto") no filme de Walsh é fantasiosamente transformado em tio da futura esposa de Custer, de modo que a jovem Elizabeth Bacon (interpretada por Olivia de Havilland), ao contrário do que o filme mostra, nunca esteve em West Point para visitar o "tio" Phil Sheridan.
Além disso, ele não era o Comandante da Academia de West Point quando Custer lá ingressa, como mostrado no filme. Liberdade maior, no entanto, é tomada em relação ao General Winfield Scott (Sidney Greenstreet) que no filme se torna amigo e protetor do ainda jovem cadete Custer quando este cede ao general a única porção de cebolas existente no restaurante do Estado Maior da U.S. Army, em Washington, onde eles acabaram de se conhecer.
Aos 18 anos entrou em West Point, a prestigiada Academia Federal de Educação Militar, formando-se 4 anos depois como o último da sua classe em 1861, recebendo a patente de segundo-tenente. Neste mesmo ano teve início a Guerra Civil, na qual Custer lutou ao lado dos "nortistas" contra as tropas confederadas do sul. A Batalha de Bull Run, em 21 de julho daquele ano, próximo de Washington, D.C., foi sua iniciação na guerra.
No ano, aos 23 anos, Custer recebeu um "brevet" de general de brigada.Uma semana depois, na Batalha de Gettysburg, ele lideraria o 1.º Regimento de Cavalaria de Michigan em um ataque contra outra tropa confederada que levava reforços aos seus companheiros, no que ficou conhecido como o ataque de Picket. Na batalha Custer perdeu 257 homens, a maior que se tem notícia nos anais da Cavalaria dos EUA. Esse alto número de baixas não foi algo incomum entre as tropas comandadas por Custer, já que ele não hesitava em sacrificar seus comandados para obter uma vitória e fazer sua fama.
Em 13 de setembro de 1863 foi ferido na batalha de Culpeper, na Virgínia, recebendo no ano seguindo uma comendação por bravura, além de uma promoção temporária à patente de major-general. Em abril de 1985, quando o general confederado Robert E. Lee se rendeu para Ulysses S. Grant (futuro presidente dos EUA, entre 1869 e 1877), Custer estava entre as tropas nortistas ali presentes. Na conclusão da Campanha de Appomattox (março-abril de 1865), onde ele e suas tropas desempenharam um papel fundamental, Custer estava presente
Terminada Guerra Civil ou de Secessão, com a vitória do Norte sobre o Sul, a reunificação do país e a abolição da escravidão nos Estados Unidos da América, Custer permaneceu no exército, primeiro como capitão, posteriormente alçado, em 1866, a tenente-coronel no 7º Regimento de Cavalaria, tornando-se comandante do Forte Lincoln. Em 1867 dirigiu para o Oeste, designado para para combater os índios que impediam o avanço dos colonos brancos. Em 1868 as tropas de Custer massacraram uma tribo Cheyenne em Washita River. Há anos o governo estadunidense tentava adquirir a região conhecida como Black Hills que, por causa de tratados assinados anos antes, pertencia aos índios, para os quais era terras sagradas. Não era, portanto o amigo dos índios, nem de Cavalo Louco (Anthony Quinn), muito menos defensor do direito desses povos às suas terras, como o filme de Walsh desonestamente quer nos fazer crer.
Na verdade, foi ideia de Custer espalhar o boato de havia ouro na região, provocando uma migração em massa de centenas de colonos, com suas famílias. Inconformados, índios Cheyennes, Arapaho e Sioux (estes Lakotas e Dakotas) uniram-se sob a liderança dos lendários Touro Sentado e Cavalo Doido e passaram a atacar os invasores brancos para defender suas terras. Os constantes ataques de Custer e seus homens à tribos indígenas, e a tática por eles escolhida de atacarem os acampamentos quando os guerreiros não estavam presentes, liquidando impiedosamente mulheres e crianças, só fazia aumentar a ira dos indígenas.
No 25 de junho de 1876, após levar seus homens em direção aos índios, que então formavam um exército rebelde com mais de 3 mil guerreiros, Custer e seus pouco mais de 300 comandados (incluindo dois de seus irmãos, mulheres e crianças) viram-se combatendo os índios na Batalha de Little Bighorn, no Território de Montana. No final, o saldo de Custer foi 268 mortes, incluindo ele seus irmãos, além de 55 feridos.
Esse esforço por difamar a imagem de Che e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
Um exemplo perfeito deste esforço de propaganda yankee é o episódio “The Siren’s Song” (2011 ), da série de desenhos animados da turma do Scooby-Do exibidos pelo Cartoon Network. Nele eles se deparam com Ernesto, um ativista ambiental que denuncia os impactos ambientais causados por uma empresa petrolífera. O episódio termina com a turma descobrindo que os impactos ambientais eram causados por Ernesto (personagem claramente calcado em Che Guevara) através de sua organização.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Terroristas e genocidas são os EUA, que com suas intervenções militares em países como Vietnã, Coreia, Irã, Afeganistão e Iraque, só deixaram mortos. Os propalados desenvolvimento, progresso e democracia que eles dizem levar pelo mundo, não passam de desculpas para satisfazer sede de sua burguesia por recursos naturais e mão de obra barata a serem explorados e convertidos em lucro.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
A tentativa de impor uma caracterização de Che Guevara como genocida, é parte a estratégia Goebbeliena, empregada pela burguesia internacional, de espalhar e repetir uma mentira, incansavelmente, até que ela seja tomada como verdade, para e afastar a ameaça da revolução proletária.
Acusam Che de ter fuzilado homossexuais, acusando-o de homofobia, quando na verdade foram fuzilados (e devidamente fuzilados) os colaboracionistas da ditadura de Fulgêncio Batista ou dos Estados Unidos, torturadores, bem como espiões e sabotadores, além de fascistas, todos contra-revolucionários e portanto reacionários. Matou - obviamente - homens em combate quando lutou em Cuba, no Congo, na Tanzânia e na Bolívia. Nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Che lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos de das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, derrubaram governos contrários aos seus interesses no mundo todo.
Os refugiados cubanos nos EUA que fizeram e fazem de tudo para difamar e derrubar Fidel e o regime socialista de Cuba são apenas membros da burguesia local e colaboradores da ditadura de Fulgência Batista, ou descendentes deles. São traidores da pátria cubana, que apoiaram o governo Kennedy quando ele atacou o país na Invasão da Baía do Porcos. Não merecem nenhum crédito.
5 indicadores em que Cuba supera o Brasil e os EUA
1 – Alfabetização: Cuba: 99,8% EUA: 99% Brasil: 91,3% Fonte: CIA World Factbook
2 – Expectativa de vida: Cuba: 79, 6 anos EUA: 79,2 anos Brasil: 74, 7 anos Fonte: PNUD
3 – Taxa de homicídios: Cuba: 4,9 mortes para cada 100 mil habitantes EUA: 5,3 mortes para cada 100 mil habitantes Brasil: 30,5 mortes para cada 100 mil habitantes Dados: Organização Mundial da Saúde (OMS)
4 – Mortalidade infantil: Cuba: 36º menor do mundo (menor das Américas) EUA: 44º menor do mundo Brasil: 94º menor do mundo Fonte: CIA Dados: World Factbook, estimativas 2015
5 – Eficiência dos serviços de saúde Cuba: 28ª colocação EUA: 46ª colocação Brasil: 48ª colocação Fonte: Bloomberg
Leias os livros abaixo: ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: A Vida Em Vermelho. Companhia das Letras, 1997. DIAS, Mario e CEREGHINO, Mario J. Relatório Da Cia - Che Guevara: documentos inéditos dos arquivos secretos. Ediouro, 2007.
Os reacionários da direita brasileira, encabeçados por gente como Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Luis Felipe Pondé e Marco Antonio Villa, querem comparar o torturador Ustra com revolucionários como Che Guevera ou Marighella.
Marighella e Che não torturaram ninguém, nem desapareceram com nenhum corpo. Marighella e Che não mataram porque essa era sua profissão, como Ustra.
Che e Marighella não eram funcionários do terror, como Ustra, não trabalhavam para a repressão, nem em prol da manutenção de um regime opressor. Che e Marighella eram homens comuns, civis, que se tornaram revolucionários, que foram levados a pegar em armas por viver em um regime opressor e por decidir lutar contra a opressão.
Che fuzilou contra-revolucionários e colaboradores da ditadura de Fulgêncio Batista. Matou homens em combate quando lutou em Cuba, no Congo, na Tanzânia e na Bolívia. Nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Ustra é digno da lata de lixo da história. Era um lacaio dos interesses do norte. Torturou, matou e sumiu com os corpos de guerrilheiros e militantes que lutavam contra a ditadura no Brasil, além de civis que apenas manifestavam discordância com o regime repressor. Nunca lutou por nada. Apenas fazia o trabalho sujo em nome da manutenção de um status quo injusto.
Em um regime de exceção, como foi a ditadura, as noções do que são crime e de qual é o papel da justiça são distorcidas em nome da defesa cega do regime e da repressão aos dissidentes. Terroristas foram os deputados que declararam a cadeira presidencial vazia quando Jango estava viajando. Terroristas eram os jornais da época que associavam Jango à uma ameaça comunista.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, por fim, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Comparar Che e Ustra é prova de ignorância histórica e desonestidade intelectual.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Che lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos de das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, estiveram, por exemplo, por trás do golpe no Brasil, em 1964, ou no Chile em 1973, que derrubou Allende o colocou Pinochet no poder.
Esse esforço por difamar a imagem de Che e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
A farsa do Holodomor; a caracterização de regimes comunistas Cubano, Chinês e Coreano como não-democráticos, ou de Che Guevara como genocida, são partes dessa estratégia Goebbeliena de espalhar e repetir uma mentira, incansavelmente, até que ela seja tomada como verdade.
Acusam Che de ter fuzilado homossexuais, acusando-o de homofobia, quando na verdade foram fuzilados (e devidamente fuzilados) os colaboracionistas da ditadura de Fulgêncio Batista ou dos Estados Unidos, torturadores, bem como espiões e sabotadores, além de fascistas, todos contra-revolucionários e portanto reacionários.
Se a classe trabalhadora tudo produz, à ela tudo pertence!
Leias os livros abaixo: ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: A Vida Em Vermelho. Companhia das Letras, 1997. DIAS, Mario e CEREGHINO, Mario J. Relatório Da Cia - Che Guevara: documentos inéditos dos arquivos secretos. Ediouro, 2007.
Trata-se apenas de mais um lixo comercial industrial, um enlatado dos USA criado no contexto da guerra fria para incutir o temor aos soviéticos na população. Aos capitalista interessa demonizar o comunismo e qualquer nação que dele seja uma experiência, pois o comunismo significa, precisamente, o fim da burguesia. Hollywood, como é de se esperar, cumpre bem seu papel neste projeto global de dominação. Este filme, realizado em 2012, é uma releitura do filme homônimo de 1984.
Neste, tropas norte-coreanas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país, No filme de 1984, tropas soviéticas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país. A farsa, nos dois filmes, começa pelo fato de os coreanos nunca terem invadido nenhum país ao longo da história, enquanto os soldados soviéticos, ao longo da História, invadiram apenas a Ucrânia, a Polônia e a Alemanha (na Segunda Guerra), enquanto os soldados dos EUA invadiram (sem mencionar a Segunda Guerra) o Vietnã, a Coreia, as Filipinas, Panamá, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Camboja, etc, tentaram invadir Cuba, e tramaram a queda de regimes com inclinações socialistas, colocando ditaduras no lugar, em países como Brasil, Chile, Argentina, Burkina Fasso, Uganda, Irã, Honduras, Bolívia, etc.
Apenas mais um lixo comercial industrial, um enlatado dos USA criado no contexto da guerra fria para incutir o temor aos soviéticos na população. Aos capitalista interessa demonizar o comunismo e qualquer nação que dele seja uma experiência, pois o comunismo significa, precisamente, o fim da burguesia. Hollywood, como é de se esperar, cumpre bem seu papel neste projeto global de dominação.
No filme, tropas soviéticas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país. A farsa começa pelo fato de os soldados soviéticos, ao longo da História, invadiram apenas a Ucrânia, a Polônia e a Alemanha (na Segunda Guerra), enquanto os soldados dos EUA invadiram (sem mencionar a Segunda Guerra) o Vietnã, a Coreia, as Filipinas, Panamá, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Camboja, etc, tentaram invadir Cuba, e tramaram a queda de regimes com inclinações socialistas, colocando ditaduras no lugar, em países como Brasil, Chile, Argentina, Burkina Fasso, Uganda, Irã, Honduras, Bolívia, etc.
Quem pensa que a Guerra Fria acabou está enganado. A contínua difamação dos regimes socialistas cubano, venezuelano, chinês e norte-coreano, está umbilicalmente ligada à guerra contra o regime socialista soviético. A burguesia internacional, sediada especialmente nos países da Europa, América do Norte, Oceania e parte da Ásia, fará de tudo para desestabilizar e derrubar regimes socialistas (como a Venezuela) ou que se aproximem demais do socialismo (como o Brasil de Lula e Dilma e a Argentina de Kirchner).
É o que comprova o livro “They never said it: a Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions (“Eles nunca disseram: um livro de citações falsas, errôneas e enganosas”), publicado pela Universidade de Oxford pelos pesquisadores Paul F. Boller Jr. e John George Jr.
Nas páginas 114-116 do livro eles mostram que as supracitadas ‘Regras para a Revolução’ apareceram em fevereiro de 1946, em uma publicação britânica chamada ‘New World News’ chamando a atenção da extrema direita nos EUA, recebendo especial atenção de nomes como Dan Smoot, Frank Capell, e Billy James Hargis.
Atribuído a Lênin por incontáveis nome da Direita brasileira, como Leandro Narloch*, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia, Nando Moura, dentre outros, o “Decálogo de Lênin”, amplamente repetido em sites nacionais, nada mais é do que uma desonesta versão de um documento sem autoria conhecida, difundido nos Estados Unidos no período da Guerra Fria, intitulado “Rules for Revolution” (Regras para a Revolução). O tal Decálogo falsamente atribuído a Lênin constitui mera repetição adaptada das “Regras para a Revolução”. O fato de ele datar da época da Guerra Fria, explicita claramente a intenção norte-americana (capitalista) de atacar a imagem do "inimigo" soviético (comunista).
Nos anos 1970, a Associação Nacional de Rifles dos EUA, uma organização civil ligadas aos fabricantes de armas, entrou em cena, por meio do periódico ‘The American Rifleman’, publicando em janeiro de 1973, uma reportagem sobre o tal decálogo, escrita pelo editor Ashley Halsey. Na reportagem ele alegava que, logo após a segunda guerra mundial, o documento com as tais regras foi encontrado num tal ‘quartel general soviético secreto’ em Düsseldorf, Alemanha, indo parar nas mãos de dois oficiais da inteligência aliada, entre eles, o Capitão Thomas Baber, que disse ter infiltrado o local.
E mais: especialistas como William F. Buckley,Jr., M. Stanton Evans, e James J. Kilpatrick, assumidamente conservadores e portanto não comunistas, foram categóricos em afirmar que o documento é uma farsa. Ele foi denominado como uma farsa pelo boletim anticomunista, o ‘Combat’. J. Edgar Hoover, falecido diretor do FBI e anti-comunista ferrenho, declarou que "o documento é espúrio’.
Contudo, a maneira mais fácil e eficiente de refutar a afirmação de que tal decálogo tenha sido escrito por Lênin é lendo suas obras. Eu já o fiz e posso lhes dizer: não encontrei nenhuma menção a sequer uma linha do tal decálogo.
À guisa de preencher o vazio criado pela comprovação da falsidade do tal decálogo, deixo aqui 10 mandamentos baseados em frases legitimamente Leninistas: 1 - Muitas vezes é preciso dar um passo atrás, para dar dois passos à frente. 2 - Ideias são mais letais que armas. 3 - Não há teoria revolucionária sem prática revolucionária, do mesmo modo, não há prática revolucionária sem teoria revolucionária. 4 - A revolução começa em casa. 5 - As revoluções são as festas dos oprimidos e explorados. 6 - A verdade é sempre revolucionária. 7 - No capitalismo a liberdade de imprensa é um disfarce para a liberdade dos ricos comprarem a imprensa para fabricar notícias falsas e enganar a opinião pública. 8 - O crime é produto dos excessos sociais. 9 - Quanto mais forte é a influência dos reformistas sobre os trabalhadores, mais fracos e dependentes da burguesia eles serão, pois o reformismo é uma concessão burguesa que mantém os trabalhadores sempre escravos assalariados. 10 - A consciência do homem não apenas reflete o mundo, mas também o cria e o transforma.
Outras fontes: LENIN, Vladimir. O que fazer? LENIN, Vladimir. Imperialismo, fase superior do capitalismo LENIN, Vladimir. O Estado e a Revolução. LENIN, Vladimir. Teses de Abril BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Lenin: Vida e obra. KRAUSZ, Tamáz. Reconstruindo Lênin. VOLKOGONOV, Dmitri. Lenin: uma nova biografia.
Muitos foram os filmes contando a lendária história de Wyatt Earp, xerife de Tombstone, o tiroteio ocorrido no O.K. Curral do qual ele foi o protagonista: Sem lei, sem alma (Gunfight at the O.K. Corral, 1957) e A Hora da Pistola (Hour of the gun, 1967), ambos de John Sturges; Massacre de Pistoleiros (Doc, 1971), de Frank Perry; Tombstone - A Justiça está chegando (Tombstone, 1993), de George P. Cosmatos; e Wyatt Earp (1994), de Lawrence Kasdan, com Kevin Costner.
Para muitos, esta versão dirigida por John Ford em 1946, destaca-se não apenas por ser uma das primeiras delas, mas sim por ser a mas memorável. Primeiro, por usar com mote para narrativa não o famoso duelo em si, mas a relação de amizade entre Wyatt (Henry Fonda, inspiradíssimo) e Doc Holiday (Victor Mature); e o amor dos dois pela bela Clementine (Cathy Downs). Este, por seu turno, é embalado pela clássica canção "Oh, my darling Clementine". Cenas como do ator alcoólatra declamando o monólogo de Hamlet em cima de uma mesa de bar, ou aquela em que Wyatt descobre um jeito inusitado de se divertir sentando em uma cadeira, são singelas mostras da capacidade de Ford de compor cenas inesquecíveis a partir de premissas banais.
Merece destaque a atuação do veterano Walter Brennan (3 vezes premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, em 1936, 19388 e 1942) como o velho e ardiloso patriarca da família Clanton e antagonista de Earp.
O confronto, segundo fontes históricas precisas, aconteceu as 3:00h da tarde de uma quarta-feira a 26 de outubro de 1881, no território de Arizona. Acabou sendo tranformado em símbolo da luta contra o mal enquanto Earp foi transformado em arquétipo do homem justo íntegro e incorruptível que, tornado xerife, limpa a cidade de seus malfeitores. Anos mais tarde, John Ford revisitaria estes temas, apurando seu olhar e invertendo suas conclusões sobre eles, realizando uma de suas obras-primas: O homem que matou os facínora (The man who kills Liberty Valence), com James Stweart, John Wayne e Lee Marvin.
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraEsta é obra-prima de Yorgos Lanthimos. Não senti falta de nenhum dos elementos característicos de sua filmografia: a fotografia que abusa da grande angular, de planos longos e dos jogos de luz e sombra, os diálogos ferinos, a opção por explorar o ridículo e o bizarro em algumas cenas, a trilha sonora dissonante e perturbadora, o tema sempre recorrente da impossibilidade de se controlar o "destino" (será que a tal liberdade existe mesmo?) e - o mais importante - a tensão da disputa de poder e manipulação entre os personagens (opressões e repressões sociais).
Elogiar as soberbas atuações de Olivia Colman, Rachel Weiss e Emma Stone é, como dizem "chover no molhado". Elogiar as soberbas atuações de Olivia Colman, Rachel Weiss e Emma Stone é, como dizem "chover no molhado". Assim como o clássico Malvada (All About Eve, 1951), A Favorita tem mulheres como protagonistas e é torno delas que tudo na história gira. Os homens é que são os coadjuvantes num jogo no qual as mulheres é jogam os dados em busca de um prêmio: o poder. Para isso, elas precisam ascender socialmente, isto é, galgar degraus cada vez mais elevados na escada que hierarquiza homens e mulheres.
Porém, como tenho visto muitas pessoas dizendo que este filme fala sobre empoderamento feminino e sororidade entre mulheres que, unidas, superam a opressão, decidi dedicar minha resenha à exploração e análise deste ponto de vista. Será que esta interpretação possui base que a sustente? Vejamos...
O filme dirigido pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos enfoca um trio de mulheres: a Rainha Ana (Olivia Colman), Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) e Abigail (Emma Stone). Entre elas a relação varia entre a luta pelo poder e pela ascensão social e econômica, ou pela manutenção do poder e do status social e econômico adquiridos. O pano de fundo onde esse jogo de interesses se desenrola é uma Inglaterra que ainda guarda resquícios medievais, com uma sociedade dividida em classes altamente desiguais e hierarquizadas, nas quais os trabalhadores, na condição de servos, não possuem os mesmos direitos que as elites que constituem a nobreza.
Temos aqui a opressão de classe, na qual as classes trabalhadoras desprovidas de direitos sustentam, por meio da exploração de seu trabalho, os privilégios das elites. Os que tudo produzem vivem na miséria ou na penúria, impedidos de usufruir do fruto de seu trabalho, que é apropriado pelas elites, que não trabalham e vivem na opulência. No filme isso fica muito claro nas cenas que mostram os servos do castelo dormindo amontoados no chão frio dos porões do castelo, sem agasalhos, enquanto os nobres dispõem de imensos quartos com enormes camas, cheias de edredons, cobertores e travesseiros.
A mulher também ocupa uma posição de inferioridade em relação aos homens nessa sociedade, independentemente da classe a qual pertençam. Abigail, por exemplo, nasceu em uma família rica de donos de terras ligados à nobreza, mas caiu na desgraça depois que seu pai, um jogador inveterado, perdeu tudo em apostas e jogos de carteado, chegando inclusive a apostar a própria filha que, em consequência disso, sofreu diversos abusos. Por seu turno, Ana, mesmo sendo rainha, não é livre como um homem em sua posição social seria. Ela paga o preço por sei feia, por não ter dado a luz a um herdeiro (todos morreram no parto ou com poucos dias de vida) e por ser mulher. Mesmo sendo rainha, é obrigada a se manter em um casamento de fachada e ocultar sua bissexualidade. Sua vida está subordinada aos interesses da corte, à moralidade católica vigente e aos protocolos reais.
Temos aqui a opressão de gênero, na qual as mulheres são, por meio do matrimônio, transformadas em propriedade privada dos homens, como reprodutora do patrimônio de seu marido, por meio dos filhos. A condição social da mulher está condicionada à condição social do homem (pai, irmão, maridos) à qual ela está subordinada. Quanto mais baixa é a condição socioeconômica de uma mulher, mais submissa é a mulher, mais miserável é a sua condição e mais escassos são os seus meios para, de algum modo. se emancipar e se "empoderar". Esse fato deu origem à divisão sexual do trabalho, que já existia de as tribos nômades de caçadores-coletores e antecedeu a divisão social do trabalho, que começou a aparecer no Crescente Fértil por volta do oitavo milênio antes de Cristo a partir da invenção da agricultura, do Estado e da escrita.. Marx diz: "A exploração do homem pelo homem começou com a exploração da mulher pelo homem."
Aqui, se tomarmos o termo "empoderar" em seu real sentido, que é o de "ganhar poder", veremos que esse poder é, inevitavelmente, poder sobre o "outro", quando se trata de relações estabelecidas dentro de uma sociedade desigual economicamente. Mesmo para ter poder sobre si, ela precisa ter poder sobre outro, pois seu empoderamento depende de sua ascensão dentro de uma sociedade na qual estar "por cima" é sempre estar "por cima de alguém", ou seja, na posição de opressor, enquanto que "estar por baixo" é sempre "estar abaixo de alguém", portanto, na posição de oprimido.
La Boetie, em O Discurso da Servidão Voluntária, questiona o porquê da existência de tiranos, ao longo da história. A resposta que ele encontra é a seguinte: a existência do tirano é possível porque há abaixo dele centenas de mini-tiranos, numa hierarquia que é excludente na proporção em que é ascendente, formando uma pirâmide. Cada classe tiranizando a logo abaixo dela, com exceção da última classe, que contudo, é a que mais suporta o peso da tirania.
Karl Marx, posteriormente, nos mostrou que o poder que hierarquiza os tiranos tem origem econômico pois todo poder é poder de algo concreto (como um homem) sobre algo concreto (outro homem, ou riquezas). Mostrou-nos, por isso que a classe que sustenta toda essa opressão é a classe que produz riquezas. Esta classe não é outra senão a classe trabalhadora, pois é o trabalho que produz riqueza ao transformar a matéria em algo que satisfaça uma necessidade ou desejo humano. A classe trabalhadora é, contudo, historicamente, a classe que é a base das pirâmide social. Essa pirâmide hierarquiza homens dando mais poder aos de cima que aos de baixo porque, primeiro, os de cima possuem mais riquezas que os de baixo. A isso Marx dá o nome de opressão, que é a pressão econômica de uma classe sobre a outra, que se desdobra em opressões sociais e políticas.
O que coloca mulheres em situação de submissão aos homens é a necessidade de sobrevivência (que é uma necessidade econômica), posto que, na sociedade inglesa, até o século XX, proibia mulheres de ter propriedades (vejam, por exemplo, as personagens de Razão e Sensibilidade que são forçadas e ir morar de favor na casa de parentes após a morte do pai), e portanto, de possuir os meios (meios de produção aqui inclusos) para sua subsistência. Para sobreviver, uma mulher adulta precisava escolher entre casar-se com um homem, prostituir-se ou tornar-se freira. No caso de Abigail, que de moça bem nascida no seio da elite aristocrática, cai até a condição de servidão feudal, a opressão de gênero que caracteriza a sociedade patriarcal é bastante vívida e, quando mais baixo ela desceu nos estames dessa sociedade hierarquizada, maior era o peso de opressão.
Para Abigail livrar-se a opressão à qual encontra-se submetida, ela precisa ascender dentro daquela sociedade estamentada. Para isso, ela precisa aproximar-se daqueles que ocupam posições superiores na pirâmide social. Para isso, ela precisa trapacear, enganar, fazer conchavos, e passar a perna em muita gente, deixando os seus possíveis concorrentes pra trás. Voltando a La Boetie, temos aqui a pequena aspirante a tirana, cujo desejo de ascensão social e econômica é necessariamente um desejo de tirania, pois é um poder sobre algo (riquezas) e sobre alguém (tornar-se nobre é tornar-se dono de servos, por exemplo). Na ausência de direitos humanos universais que garantam a todos condições mínimas de dignidade humana, o objetivo para os que se encontram em posições de inferioridade é a busca pela ascensão social e econômica que lhe permita usufruir dos privilégios exclusivos às elites.
Engana-se quem acredita que este filme trata do empoderamento feminino ou da sororidade entre mulheres oprimidas. Tal interpretação resulta da projeção acrítica das perspectivas atuais sobre um filme que retrata uma realidade passada. É o reflexo da crença do feminismo burguês de que a luta pela emancipação feminina resume-se à luta de cada mulher pela ascensão econômica, ignorando que ascender socialmente dentro de uma sociedade economicamente desigual é necessariamente subir em cima de outros, ou seja, tornar-se opressor dos que estão em posições inferiores na pirâmide social.
Abigail, para ascender socialmente, precisou passar por cima de todos os que estavam em sua caminho, incluindo Sarah, que de sua ama, passa à sua aliada de em seguida à sua rival, na medida em que ela vai galgando mais e mais degraus nesta escada que se afunila na medida que nos aproximamos de seu topo. Sarah, cada vez mais sedenta de poder, tiranizava a rainha Ana de todos os modos possíveis, enganando-a para governar em seu lugar, fazendo-a assinar ordens de guerra sem lê-las, mantendo-a presa e alienada em seu quarto, usurpando-lhe o poder de modo sorrateiro. Ana, por seu turno, ao perceber a opressão à qual está submetida, entende que precisa oprimir para não ser oprimida, e passa e jogar tanto com Abigail quanto com Sarah, tentando tirar o maior proveito da disputa entre as duas.
A cena final exprime exatamente a aceitação de condição de tirana, por parte de Ana, como quem diz "nessa cabaré sou eu quem manda!". Ao acordar com Abigail pisoteando um de seus coelhos, ela levanta-se irada de sua cama, coloca Abigail aos seus pés, apoia-se com força nos ombros dela enquanto a obriga a fazer massagens em sua perna. Seu intuito é deixar claro que, ali, nenhuma pessoa naquela corte está acima dela e somente a ele cabe o privilégio de tiranizar os demais. Abigail, como o ato de Ana deixa claro, é apenas mais um coelho naquele quarto e Ana é quem tem o poder sobre todos ali. O desejo de ascensão social é necessariamente um desejo de tiranizar, de oprimir, mesmo que o sujeito não entenda isso. Aliás, não entender isso é parte da alienação à qual estamos todos submetidos, que é a imposição da ideologia da classe dominante, por meio da qual ela procura convencer os oprimidos a aceitar o status quo. Não há sororidade, mas competição entre mulheres que galgam posições de opressão em uma sociedade marcada pelas desigualdades. Há empoderamento, mas não no sentido emancipatório, e sim no sentido de ter poder sobre os demais.
Portanto, para destruir a tirania é preciso destruir no indivíduo o desejo de ascensão social, que só beneficia a ele, substituindo-o pelo desejo da transformação social, que beneficia a todos. Como se faz isso? Paulo Freire responde: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é tornar-se o opressor". Uma educação libertadora é aquela que denuncia as opressões de gênero de de classe e que constrói meios para sua erradicação.
Marighella
3.9 1,1K Assista AgoraA direita reacionária brasileira, "encabeçada" por acéfalos como Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Nando Moura, insistem em difamar um herói como Marighella e trata-lo como terrorista, ao passo que exaltam torturadores Ustra e louvam Estados terroristas como Israel e os EUA, estes sim responsáveis por genocídios e outras barbaridades
Marighella e Che não torturaram ninguém, nem desapareceram com nenhum corpo. Marighella e Che não mataram porque essa era sua profissão, como Ustra.
Che e Marighella não eram funcionários do terror, como Ustra, não trabalhavam para a repressão, nem em prol da manutenção de um regime opressor. Che e Marighella eram homens comuns, civis, que se tornaram revolucionários, que foram levados a pegar em armas por viver em um regime opressor e por decidir lutar contra a opressão.
Marighella nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Ustra é digno da lata de lixo da história. Era um lacaio dos interesses do norte. Torturou, matou e sumiu com os corpos de guerrilheiros e militantes que lutavam contra a ditadura no Brasil, além de civis que apenas manifestavam discordância com o regime repressor. Nunca lutou por nada. Apenas fazia o trabalho sujo em nome da manutenção de um status quo injusto.
Em um regime de exceção, como foi a ditadura, as noções do que são crime e de qual é o papel da justiça são distorcidas em nome da defesa cega do regime e da repressão aos dissidentes. Terroristas foram os deputados que declararam a cadeira presidencial vazia quando Jango estava viajando. Terroristas eram os jornais da época que associavam Jango à uma ameaça comunista.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, por fim, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Comparar Marighella e Ustra é prova de ignorância histórica e desonestidade intelectual.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Marighella lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, estiveram, por exemplo, por trás do golpe no Brasil, em 1964, ou no Chile em 1973, que derrubou Allende o colocou Pinochet no poder.
Esse esforço por difamar a imagem de Marighella e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
Se a classe trabalhadora tudo produz, à ela tudo pertence!
Viva Marighella, que lutou como herói contra o militarismo canalha e autoritário e contra as elites fascistas e desprovidas de ética. Matou foi pouco! Viva Marighella! Morte aos inimigos da classe trabalhadora e defensores das burguesias de rapina que nos saqueiam e exploram!
O Primeiro Homem
3.6 648 Assista AgoraEu achei o filme lindo. As duas maiores qualidades do filme são o som e a fotografia. Parabéns aos responsáveis pela edição e pela mixagem de som, pois o trabalho que eles fizerem foi extraordinário. Na cena do lançamento da missão Gemini, os efeitos sonoros são incrivelmente precisos. Dá realmente a sensação de que você está ali dentro daquela cápsula.
Se você prestar atenção dá pra ouvir tudo: explosões do combustíveis dentro dos motores de combustão, os parafusos e a fuzelagem rangendo com a pressão, o assovios do foguete literalmente cortando o ar em alta velocidade... tudo. Assistir o filme num ambiente silencioso no qual não haja distração alguma é o mais indicado - aliás, esse seria o certo em tratando de assistir qualquer filme.
A fotografia é outro espetáculo. Nas cenas dentro das cápsulas a câmera treme, gira, rodopia, e transmite toda a sensação de desconforto e claustrofobia que o ambiente e a situação reais propiciariam. Na cenas dos astronautas na superfície lunar, os planos escuros e aparentemente infinitos também fazem com que sintamo-nos na Lua.
Neste ponto, o som entra- e sai - coroando a cena: seja no silêncio quase absoluto da cena em que Armstrong coloca o pé na lua, seja na trilha sonora belíssima que Justin Hurwitz compôs para emoldurar a cena em que Armstrong caminha naquela arei fina e imóvel, como quem se dirige ao nada. Muito significativa, ela expressa uma outra caminhada, mais subjetiva, que o personagem faz durante o filme, que a jornada rumo à entender a morte e a perda como partes indeléveis da realidade, contra as quais é inútil lutar.
O que importa é o presente, o agora, e o que fazemos dele. O passado já passou. O futuro não existe, a não ser que o façamos. E ao fazê-lo, ele se torna presente e, logo em seguida, passado. Somos feitos de poeira de estrelas. Aquela mesma poeira que cobre a superfície lunar na qual Amstrong deixou não apenas suas pegadas.
Nação Fast Food: Uma Rede de Corrupção
3.1 212 Assista AgoraUma coisa é o assunto que o filme pretende abordar. Outra é como essa abordagem é feita por meio do cinema. Considerando-se o tema, este Fast Food Nation poderia ser um excelente filme. Contudo, ao optar por acompanhar diferentes núcleos de personagens, com diferentes arcos narrativos, o ritmo do filme fica comprometido e alguns histórias ficam mal desenvolvidas.
Richard Linklater é um grande cineasta e eu sou profundamente encantado tanto com a trilogia Before, quanto com Boyhood, todos filmes excepcionais. Contudo, no que tange à realização, este Fast Food Nation deixa a desejar. Por exemplo, no entrecho protagonizado por Greg Kinnear, ao qual o roteiro não dá uma conclusão satisfatória.
Enfim, um filme que poderia ter sido melhor, mas resulta apenas mediano.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 314 Assista AgoraA primeira coisa que me chama a atenção nessa obra-prima de Alain Resnais é a metalinguagem. Quando indagada sobre o que faz no Japão, a protagonista Elle (Emmanuelle Riva) diz que está fazendo um filme sobre a paz. Depois da primeira noite de amor com Lui, o arquiteto japonês (Eiji Okada), Elle retorna o set onde o tal filme está sendo gravado e as pessoas e objetos que vemos compondo esses bastidores são os personagens coadjuvante da ação que se passa.
Quando estes coadjuvantes se colocam em ação em uma marcha de protesto contra a guerra e contra as armas nucleares, tanto Elle quanto Lui se tornam parte da cena, ora como espectadores que assistem a marcha, ora entrando no meio dela. Mas entrando em sentido contrário, como se buscassem outra outra narrativa, um outro filme, que não seja apenas sobre a paz ou contra as guerras, mas sobre o amor, sobre a morte, sobre fim, sobre esquecimento, sobre memórias...
Este aparente conflito de narrativas na verdade oculta uma relação dialética, na qual o fato objetivo, a realidade concreta, o que aconteceu, se confronta e se completa com a perspectiva subjetiva, a narrativa, o que recordamos. Estas polaridades nos são inicialmente insinuadas no começo do filme, quando Elle diz, sobre o ataque nuclear a Hiroshima, "eu vi de tudo", e Lui responde-lhe "você não viu nada".
Como o Márcio disse em seu comentário, que pode ser encontrado abaixo, Elle não estava no Japão quando as bombas atômicas foram lançadas. Tudo o que ela diz saber sobre esse fato é resultado de narrativas, como livros, reportagens, exposições em museus, documentários. Perto do final, o engano de julgar saber tudo é cometido por Lui. Após ouvir Elle contar sobre os anos que viveu em Nevers, na França, ele interroga-a: "Seu marido conhece essa história?". Ela reponde que não e ele pergunta: "Só eu sei então?". Ela responde que sim, então ele a abraça e diz: "Ninguém mais sabe. Só eu".
Será? Talvez seja verdade, levando-se em conta o modo como o comportamento de Elle muda depois que ela narra ao seu amante os segredos e traumas de seu passado durante a Segunda Guerra na França invadida e anexada pelos nazistas. Como em uma sessão de terapia, Elle realiza sua necessária catarse ao narrar suas dolorosas vivências e acaba, desse modo, reencontrando-se, compreendendo-se melhor.
Narrar implica organizar, colocar em perspectiva, distanciar-se, racionalizar. Do mesmo modo que a narrativa de Elle ajuda-a a compreender a si mesma e curar suas feridas (ou ao menos a conhecê-las e aceita-las, convivendo melhor com elas e consigo mesmo), o filme de Resnais, esse filme sobre em defesa da paz, anti-bélico, que é também sobre o amor e morte, a memória e os esquecimento, serve também de narrativa para nós, seres humanos, nascidos num mundo que foi profundamente influenciado pelas duas grandes guerras do século XX, possamos entender melhor quem somos.
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraMelhor série de todos os tempos. Sim ou com certeza?
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraEssa série formidável é baseada no livro livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood, e parte de uma premissa já usada anteriormente no cinema pelo diretor Alfonso Cuarón no filme Filhos da Esperança (Children of Men, 2006): um futuro distópico no qual os problemas ambientais, como uso de agrotóxicos e poluição da água e do ar deixaram a maior parte das mulheres estéreis. Apesar de se concentrar em diferentes desdobramentos desse cenário hipotético, filme e série podem ser visto como paralelos, como parte de um mesmo universo.
Enquanto o filme de Cuarón se concentrava em retratar o mundo em guerra, com Estados-Nações se esfacelando e entrando em guerra na medida em que suas sociedades desmoronavam sob o peso de uma extinção eminente da humanidade, a série (e o livro) se volta para vida no interior de uma sociedade que, tentando preservar algo do antigo status quo, recorre à uma política de extrema-direita. Uma espécie de "fascismo neopentecostal orgânico", com uma sociedade dividida em castas rígidas, na qual o poder político e econômico é monopólio de uma elite branca, cristã, conservadora e capitalista.
Assim como o nazismo e fascismo, essa sociedade nasceu do desejo de alguns homens brancos de salvar o mundo de uma corrupção vista essencialmente como moral, por meio da introdução de valores cristãos e de adoção da Bíblia como fundamento constitucional, em especial as leis contidas no Levítico. Nela os esses homens que se consideram "cidadãos de bem" criaram um modo de garantir que seus genes sejam transmitidos, detendo o monopólio da perpetuação da raça humana. Para isso, eles precisaram transformar as mulheres que ainda permanecem férteis em propriedade privada, em mercadoria, tirando delas os poucos direitos já conquistados.
Privatizaram os úteros férteis que, de tão raros, se converteram em meios de produção, como terras e fábricas, transformando as mulheres que os possuem em Aias, que como carne de rodízio, passam pelas casas das famílias da casta dominante para servir de matrizes de procriação para os machos dominantes. São estupradas, proibidas de ler, obrigadas à total subserviência.
Em suma: é o mundo que gente como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia e seus simpatizantes sonham, independentemente de qualquer crise de fertilidade feminina.
"Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados." (Simone de Beauvoir)
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Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraA premissa dos dois Blade Runner é a seguinte: Num "futuro" em que as Empresas Multinacionais se tornaram mais poderosos que os Estados Nacionais, humanos convivem com réplicas sintéticas produzidas por nanotecnologia celular, conhecidos como "replicantes". A democracia capitalista passou a aceitar e a conviver com um novo tipo de escravidão. Como não são considerados humanos (apesar da semelhança), não possuem direitos, os replicantes podem ser escravizados de todas as formas.
Uma dessas formas de escravidão é uma certa "vida útil" ou "prazo de validade", com os quais esses seres não humanos já nascem, tornando-sua existência predeterminada, inclusive com data marcada para nascer e morrer. Literalmente. Foram criados para serem escravizados.
Poderiam ser imortais, mas nasceram fadados a serem escravos das empresas que exploram minérios em planetas distantes, por causa de sua maior "durabilidade". Os replicantes também são estéreis, isto é, incapazes de gerar outros replicantes. Foram criados para não pensar, para não ter sentimentos, não se rebelar. Foram criados para ser simultaneamente mão-de- obra e propriedade privada de uma grande empresa.
No primeiro filme, dirigido por Ridley Scott, Deckard (Harrison Ford), é um "Blade Runner" uma espécie de "capitão do mato", isto, aquele dentre os escravos tinha a tarefa de caçar e capturar os escravos fugidos e rebeldes. A tarefa de Deckard, por seu turno, é rastrear quatro replicantes: Roy Batty (Rutger Hauer), Zhora (Joanna Cassidy), e Pris (Daryl Hannah). Os 4 são de um modelo chamado Nexus-6, produzido pela Corporação Tyrell, que eram usados em mineração interplanetária e que voltaram à Terra ilegalmente. Uma das maneiras que um Blade Runner tem para rastrear um replicante que precisa ser "aposentado" é detectando reações humanas nele, como sentimentos ou emoções.
No segundo filme, de Denis Villeneuve, o papel do "capitão do mato" é o oficial K (Ryan Gosling), um Blade Runner, ao perseguir alguns replicantes, descobre um segredo que pode ameaçar todo o status quo, de provocar uma revolução. Essa descoberta acaba fazendo com que seus caminhos se cruzem com Rick Deckard (Harrison Ford).
O problema é que, assim como Deckard em sua Odisseia de 1982, à medida que cumpre sua missão, K vai adquirindo consciência. Consciência de si, passando a sentir, a pensar, a duvidar, a se emocionar. Consciência de mundo, passando a questionar, a se rebelar, a desobedecer, a romper com o status quo. Em ambos os filmes, Deckard e K lutam para negar e esconder suas reações, cada vez mais "humanas", fruto das dúvidas que vão despertando sua consciência. Mas esse despertar da consciência, uma vez iniciado, não pode mais ser impedido, e as consequências para a ordem estabelecidas são desastrosas. Daí o uso de toda forma de coerção e alienação, para impedir que ela desperte.
No primeiro filme, Deckard e Rachel (Sean Young), uma replicante, descobrem o amor e fogem juntos, pois sabem que, se rastreados, poderão ser "aposentados" por outro Blade Runner. No segundo filme K precisa lutar a dúvida entre esconder o segredo que ele descobriu, ou revela-los aos seus superiores, pois a sua revelação poderia ameaçar tanto a vida de K quanto a ordem estabelecida, o status quo, o "sistema".
Isso porque toda aquela sociedade, baseada na exploração dos replicantes pelas grandes corporações das quais simultaneamente trabalhadores e maquinas, se baseia na crença de que os replicantes não são humanos, não pensam, não possuem sentimentos, vontade ou consciência. Ou seja, não possuem "alma". Portanto, qualquer replicante que ousar pensar, questionar, descumprir normas, se rebelar... é uma ameça ao sistema e precisa ser eliminado. Todo sistema que se baseia na desigualdade e na exploração, é um sistema que, para se sustentar, precisará dispor de todas as formas de manipulação, coerção, repressão, censura, medo, perseguição e mentiras.
O Grande Lebowski
3.9 1,1K Assista AgoraLogo no início o narrador deixa que claro que está contando uma história sobre um cara chamado Jeffrey Lebowski, mas que prefere ser chamado de "The Dude/O Cara". É um filme sobre "O Cara" e todos os "perrengues" que ele passa ao ser envolvido - meio que - acidentalmente e involuntariamente em uma certa trama. Trama que é mero pedaço de uma trama maior, que é a vida desse cara maluco. Portanto, o mistério sobre o sumiço da jovem Bunny é apenas uma questão secundária e o final do filme (que tem tanta importância para alguns), tem mais a ver com Lebowski do que a solução do sequestro.
Aliás, essa discussão entre o que é principal e o que é secundário na narrativa é colocado o tempo inteiro em discussão durante todo o filme, especialmente por meio de Walter, para o qual tudo remete à guerra do Vietnã. Desse modo, assim como no magistral Barton Fink, os diretores fazem outro exercício brilhante sobre metalinguagem.
Os diretores desconstroem os clichês de filmes detetivescos colocando dois inusitados investigadores para solucionar um misterio do qual os primeiros palpites da dupla já se revelam muito próximas da verdade, mostrando que talvez o mistério não seja tão misterioso assim. Inicialmente Jeffrey acredita que tudo seja uma farsa e que o sequestro tenha sido encenado. Apesar de errar em muitos palpites sobre muitas coisas durante toda a trama. Walter está sempre dizendo que os sequestradores "são amadores". Contudo, apesar desses insights quase certeiros, os dois passaram por muitos perrengues até que entendam a cilada na qual estavam se metendo.
"Às vezes a gente segura a barra, às vezes a barra cai em cima da gente". Lebowski segura-a firme, mesmo depois de 2 caras terem entrado em sua casa, confundindo-o com um milionário, mijado em seu tapete; depois de ser convencido a servir de intermediário na entrega do resgate em um sequestro; depois de ter seu carro roubado e seu novo tapete roubado, de ser sequestrado por um chefão da indústria pornô e sido dopado por ele para obter informações, de ter corrido alucinado e semi-inconsciente no meio de uma rodovia por quilômetros... e no final, apesar da "ajuda" de Walter, conseguirá solucionar o misterioso sequestro.
Tudo isso apesar de ninguém leva-lo a sério nem respeitá-lo, apenas porque ele é um cara solteiro, desempregado, com mais 40 que gosta de fumar um baseado, ouvir Creedence e jogar boliche - e tá errado? E também, claro, porque ele foi capaz de segurar "a barra". Segurar a barra, apesar dos pesares, é, portanto, o super-poder desse herói inusitado chamado "O Cara".
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraMuuuito bom!
É só o que tenho a dizer, por enquanto, antes de escrever meus longos comentários. Preciso refletir antes. Mas posso adiantar que é um filme profundamente coerente tanto com o original, dirigido por Ridley Scott, quanto com a obra de Denis Villeneuve, sem prejuízos a nenhum dos dois.
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraEsopo, fabulista grego, conta-nos que, certa vez o deus do Amor, Eros (ou Cupido, para os romanos), adormeceu em uma caverna, embrigado pelo deus do Sono, Hipnos. Este era irmão gêmeo de Tanatos, deus da Morte. Ao cair em sono, Eros deixou que suas flechas caíssem, misturando-se à algumas de flechas de Tanatos que estavam no chão da caverna. Quando acordou, Eros recolheu suas flecha, mas algumas flechas de Tanatos acabaram indo junto. Deste modo, Eros passou a portar tanto flechas de amor quanto de morte. A linha que separa amor e morte é, segundo estes mitos, tênue.
Os mitos greco-romanos serviram de inspiração para Freud elaborar alguns conceitos-chave de sua teoria psicanalítica. Baseado em Eros e Tanatos, Freud desenvolveu os conceitos de "estímulo ou pulsão de vida" e "estímulo ou pulsão de morte". Representações psíquicas complexas, as pulsões de vida e de morte seriam, para Freud, algo que nos impele em determinada direção, pois possuem um objeto (Objekt), uma pressão (Drang), uma meta (Ziel) e uma fonte (Quelle). .
Eros, arquétipo grego da pulsão de vida, teria a função de unir as partículas, de tornar coeso o que está fragmentado, de amalgamar os pedaços incompletos formando uma substância viva, criando formas cada vez mais complexas, preservando vivo o organismo e garantindo a continuidade da espécie. A Pulsão de Vida desdobra-se em "pulsões do eu", relativas à autoconservação, que se manifestariam principalmente por meio da fome e a sede, e nas "pulsões sexuais", que incluiriam tantos os desejos manifestos, quanto aqueles ocultos, recalcados e sublimados. No sexo, aliás, o êxtase completo depende de que nos percamos no outro, mergulhando, literal e metaforicamente, no ser amado. O amor, a fome, o desejo sexual, seriam motores da existência humana
Tanatos, arquétipo grego da pulsão de morte, seria o oposto, tendo a função de dispersar em vez de amalgamar, de dividir em vez de unir, de destruir em vez de preservar. Em sua obra "Além do princípio do prazer", Freud afirma que “objetivo da vida é a morte, e remontando ao passado: o inanimado já existia antes do vivo”. Porém, a pulsão de vida e a pulsão de morte não podem ser dissociadas. Andam juntas, pois são opostos complementares, as duas faces de uma mesma moeda, estabelecendo entre si uma relação dialética. Isso porque o verdadeiro amor implica um certo tipo de morte. Amar alguém verdadeiramente obriga-nos a matar uma parte de nosso ego, de nosso individualismo. Amar é recusar o egoísmo em prol do outro. Amar é entregar-se, perder-se no outro, deixando-se de ser um eu à parte, isolado, auto-centrado, passando a ser dois, um orbitando em torno do outro, ambos girando em torno de um eixo comum, que é a vida que ambos compartilham.
Tendo tudo isto em mente, é possível compreender melhor esta nova obra-prima de Paul Thomas Anderson. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um homem completamente auto-centrado, dependente de uma vida baseada em uma rotina meticulosa que dá contorno ao mundo que ele criou para si. Este mundo é habitado por fantasmas, como o da mãe de Reynolds, pela qual este parece nutrir um amor edipiano e para a qual ele costurou um vestido para seu segundo casamento. A certa altura do filme, Reynolds diz que é possível esconder qualquer coisa sobre o forro de um paletó ou vestido. Adiante, ele borda o nome de Alma (Vicky Krieps) em dos vestidos que fez para ela. O que será que ele escondeu naquele vestido que fez para o casamento de sua mãe? Que segredos Reynolds esconde de seu passado e de sua relação com essa mãe da qual ele conserva uma mecha de cabelo escondida no forro de seu paletó? Ou ainda, quais segredos e traumas Reynolds costurou e escondeu sob a máscara que carrega?
“Ela teria de morrer, mais cedo ou mais tarde. Morta. Mais tarde haveria um tempo para essa palavra. Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.” (SHAKESPEARE, William, in Macbeth.)
Alma é quem desempenhará o papel de levar som e fúria à mórbida vida monótona e mecânica de Reynolds. Ela é a representação de Eros, que, com sua flechas de amor e morte, produz caos para recriar um novo cosmos no universo de Reynolds. A pulsão de morte, sozinha, é dispersão, desgregação, e tende ao vazio, à anulação. Se acompanhada da pulsão de vida, passa a ser mudança, transformação, reorganização dos elementos em prol da construção de algo novo, renovado, dinâmico, verdadeiramente vivo. Mas, para isso, é preciso não apenas que Alma abra mão de um pouco de si, matando parte de seu eu, mas que também Reynolds encare um certo tipo de morte, abrindo mão do individualismo, deixando o egoísmo e egocentrismo de lado, de modo a construir junto com Alma um mundo novo para ambos. Amor e morte, como já foi dito, andam lado à lado.
A relação entre Reynolds e Alma, aliás, remete à outra parte do mito de Eros. Psiquê era a mais jovem e mais bela das três filhas de um rei, cujo nome é desconhecido. Preocupado pelo fato de as duas filhas já serem casadas, mesmo sendo menos belas que Psiquê, que permanece solteira, o rei decide consultar o Oráculo de Apolo, que revela-lhe que é destino de Psiquê casar-se com um ser monstruoso. Na verdade o oráculo havia sido induzido por Eros a mando da deusa Afrodite, que tinha inveja da beleza de Psiquê. Vestida de branco, ela é levada ao topo de um penhasco para ser desposada pelo monstro, mas então o vento Zéfiro a carrega até um palácio, onde passa a viver. Lá ela é desposada por Eros, que se torna seu marido, porém ele nunca revela-se a ela, mantendo-se invisível em sua presença, para que Afrodite não pudesse vê-los juntos. Eles fazem um acordo no qual ela nunca deve pedir-lhe para mostrar-lhe sua face. Entediada, Psiquê decide visitar a casa de seus pais, e lá suas irmãs passam a questiona-la sobre sua vida e seu esposo, instigando-a a quebrar o acordo. Voltando ao palácio, Psiquê espera que Eros durma e, aproximando de seu rosto uma vela, fica admirada com sua beleza. Num descuido, ela deixa pingar uma gota de vela derretida sobre o ombro de Eros, que acorda furioso. Sentindo-se traído, Eros foge dizendo que sem confiança o amor não pode resistir.
Abandonada e triste, Psiquê passa a vagar pelo mundo em solidão, atravessando diversos tormentos colocados por Afrodite em seu caminho. Por fim, dá-se por vencida e cai em sono profundo, entregando-se à morte. Encontrando-a, Eros se apieda de sua amada e pede ajuda a Zeus, que lhe concede permissão para desperta-la usando uma de suas flechas. Assim Psiquê acaba tornando-se imortal e é por fim levada-a ao Olimpo, vivendo a eternidade ao lado de seu amado, ganhando asas de borboleta. Em grego, Psiquê significa tanto alma quanto borboleta, e tanto na mitologia grega quanto na psicanálise, a Psiquê é tomada como representação da Alma. Alma, no filme de Paul Thomas Anderson, é a amada que acaba desposada por um homem que, por trás de sua aparência rude, insensível, fria, dura e áspera, esconde uma fragilidade e uma ternura que só ela parece enxergar. E para que este Eros revele à esta Psiquê sua face, ela terá que feri-lo, pois ele mesmo recusa-se a deixar-se iluminar pelo amor que ela lhe oferece. Esse amor que, como já foi dito, implica em uma certa dose de morte, de auto-sacrifício, de entrega e de renúncia.
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O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraComo mostrou o historiador britânico Eric Hobsbawm na obra A Era dos Extremos, mesmo não havendo dúvidas de Hitler fosse um tirano e que ele representasse uma ameaça às potências imperialistas europeias, remanescentes do século XIX e que não haviam sucumbido à Primeira Guerra, é fato de que essas potências, isto é, Inglaterra e França, fizeram de tudo para evitar que a Segunda Guerra começasse, uma vez que, para seus governantes e seu povo, as cicatrizes da Primeira Guerra ainda eram bastante vívidas.
No capítulo 5, ele diz: "Em suma, havia um amplo fosse entre reconhecer as potências do Eixo como um grande perigo e fazer alguma coisa. [...] Contudo, o que enfraqueceu a decisão das principais democracias europeias, a França e a Grã-Bretanha, não foram tanto os mecanismo políticos da democracia, quanto a lembrança da Primeira Guerra Mundial. [...] Tanto para a França quanto para a Grã-Bretanha, esse impacto, em termo humanos (embora não materiais), foi muito maior do que se revelou o da Segunda Guerra Mundial. Outra guerra como aquela precisava ser evitada a qualquer custo. Era sem dúvida o último dos recursos da política. Não se deve confundir a relutância em ir à guerra com a recusa em lutar, embora o moral militar potencial dos franceses, que haviam sofrido mais do que qualquer outro países beligerante, estivesse sem dúvidas enfraquecido pelo trama de 1914-18."
Esse temor por parte das lideranças políticas da época é muito bem abordado no filme, conferindo-lhe um maior rigor histórico. O que o filme se exime de trazer à tona é o fato de que, além desse medo de uma nova guerra, a manutenção de seus domínios coloniais na África e na Ásia era outro fator que preocupada aquelas nações. "Os governos britânicos tinha igual consciência de um fraqueza fundamental. Financeiramente, não podiam se dar ao luxo de outra guerra. Estrategicamente, não tinham mais uma marinha capaz de operar ao mesmo tempo nos três grandes oceanos e no Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, o problema que de fato os preocupava não era o que acontecia na Europa, mas como manter inteiro, com forças claramente insuficientes, um império global, geograficamente maior do que jamais existira. mas também visivelmente à beira da decomposição", esclarece-nos Hobsbawm.
"Nenhum tinha nada a ganhar com a guerra, e muito a perder". De fato, foi o que aconteceu. Ao final da Segunda Guerra, a França viu-se tendo que lutar contra os rebeldes na Indochina que lutavam por sua independência, culminando na Guerra da Indochina (1946-1954) e posteriormente na Guerra do Vietnã (1955-1975). O Reino Unido britânico, por seu turno, teve que em 1947 conceder, depois de muita relutância e repressão, a independência à Índia liderada pelo lendário pacifista hindu. Basta assistir ao filme Gandhi (de 1982), que deu a Ben Kingsley o Oscar, para conhecer essa parte história.
O Destino de uma Nação, por seu turno, é um brilhante estudo de personagem e, apesar de soberba, a atuação de Gary Oldman não é a única qualidade do filme, que possui muitas outras. Nem a direção, nem o roteiro nem o intérprete caem na tentação de mostrar um Churchill idealizado, exagerando suas qualidades e mascarando suas falhas. Ao contrário, exploram tantos suas virtudes como seus defeitos, contribuindo para construir um personagem sólido exatamente por ser ambíguo, multifacetado, idiossincrático. Kristin Scott Thomas está esplêndida como Clementine Churchill, trazendo doçura e leveza ao filme e fazendo um belo contraponto à todo peso e toda a fúria (literais e metafóricos) do Winston de Gary Oldman.
A fotografia, soturna e sombria, expressa com perfeição o horizonte sombrio que aguardava a todos, independente das decisões tomadas, uma vez que a Segunda Guerra impingiu grandes perdas a todos os envolvidos, vencedores e vencidos. Além disso me surpreendeu positivamente pelos enquadramentos inusitados, porém eficientes, como aquele em que a câmera parece estar dentro da máquina datilográfica, por exemplo.
Como havia feito em Desejo e Reparação (Atonement, 2008), Joe Wright mais vez faz uso dramático desta máquina durante alguns momentos, incorporando o som das teclas ao da trilha musical. Porém, enquanto neste filme o compositor era Dario Marianelli, com o qual ele havia trabalhado também em Orgulho e Preconceito (Proud and Prejudice, 2006), desta vez ele recruta Alexandre Desplat, que entrega, como de costume, uma trilha sutil e minimalista, contribuindo eficientemente para criar a atmosfera de constante tensão que permeia todo filme. Aliás, Desejo e Reparação também era ambientado na Inglaterra durante o começo da Segunda Guerra e uma das cenas mais memoráveis é aquela em que personagem de James McAvoy chega na praia de Dunkirk e se depara com todo o inferno que os nazistas haviam causados ao exército britânico.
O roteiro nos brinda com diálogos tão afiados que fazem dos debates políticos o campo de batalha no qual a guerra se prenuncia. No entanto, os silêncios dizem muitas vezes mais que as palavras e eles são sabiamente valorizados pelo diretor. O restante do elenco contribui para engrandecer ainda mais o filme, não deixando de entregar ótimas atuações mesmo em personagens pequenos e menos significativos.
A Forma da Água
3.9 2,7KFANTASIAS PARALELAS
Quem a pensa que a única semelhança entre filmes de Guillermo Del Toro é a presença de monstros e seres mágicos em uma história repleta de fantasia e imaginação, precisa olhar a obra do diretor mais a fundo. Neste texto, proponho analisarmos as semelhanças entre os dois melhores filmes do diretor até aqui:
O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)
A Forma da Água (The Shape of Water, 2017)
A inspiração
Em primeiro lugar, enquanto O Labirinto do Fauno o roteiro faz uma releitura de Alice no País das Maravilhas, em A Forma da Água o diretor parece se inspirar em A Bela e a Fera para escrever seu roteiro.
O contexto histórico
O primeiro filme se passa na Espanha durante a Guerra Civil, durante a qual aquele país estava dividido entre os apoiadores do General Francisco Franco (conservadores, falangistas e fascistas), e seus opositores (socialistas, comunistas e anarquistas). Por seu turno, o segundo filme se passa nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, na qual boa parte do mundo estava dividida em dois polos hegemônicos: de um lados os Capitalistas, aliados dos EUA, e de outro os socialistas e comunistas, aliados à URSS. Ambos, portanto, são ambientados em contextos históricos caracterizados por forte polarização política e ideológica.
As protagonistas
Ambos os filmes são protagonizados por mulheres com características físicas muito semelhantes: brancas, de baixa estatura, de porte físico frágil, cabelos negros à altura dos ombros, sempre trajando roupas com tons entre verde e azul claros. No primeiro filme, a protagonista é a menina Ofélia (Ivana Baquero) que, apesar de não ser muda, não pode revelar a ninguém a missão que o misterioso fauno lhe incumbe. No segundo, a protagonistas é Elisa (Sally Hawkins), um jovem e solitária mulher que não fala, apesar de não ser surda. No laboratório no qual ela trabalha como faxineira há uma criatura aquática que foi capturada na Amazônia e que é mantida como um segredo de Estado. A relação que ela desenvolverá com este ser misterioso será o segredo que ela não poderá revelar a qualquer um.
Anjos da guarda
A única pessoa na qual Ofélia pode confiar é Mercedes (Maribel Verdu), uma mulher forte e corajosa que a protege do temido e sádico capitão Vidal (Sergi Lopes). As única pessoas nas quais Elisa confia são Zelda (Octavia Spencer), uma mulher forte e corajosa que a protege do temido e sádico agente federal Strickerland (Michael Shannon).
Um outro olhar
Nos dois filmes de Del Toro, ao contrário do que possa parecer, o elemento fantástico funciona não como mecanismo de fuga da realidade dura e opressora, mas como lente com a qual a realidade é vista de uma perspectiva crítica e questionadora.
Outsiders
Em O Labirinto do Fauno, a menina Ofelia transitava entre seres mágicos que somente ela parecia poder ver. Porém, tanto para ela quanto o espectador, essas duas realidades pareciam fundir-se, em vez de existirem em planos separados. O mesmo ocorre em A Forma Água, porém de um modo ainda mais complexo, pois nele tantos criaturas reais e - que seriam para nós - imaginárias convivem em um mesmo plano. Porém, a incomunicabilidade que Elisa e O Ativo (Doug Jones) compartilham faz com que eles vivenciem uma realidade que lhes seria exclusiva. Essa realidade é a tal "forma da água", a realidade e incompreensões que os envolve, o mundo de silêncios em que ambos estão mergulhados. Assim, em ambos os filmes os diretor nos questiona: O que é de fato essa tal realidade? Para a humana Elisa, tratada por quase todos como alguém insignificante, discriminada por sua deficiência, o único que lhe compreendeu e lhe aceitou foi um ser não-humano. O que é ser humano, afinal?
Há ainda outros pontos de similaridades entre os filmes que poderiam ser destacados, mas prefiro deixar que vocês a tentem perceber por si mesmo.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraKatherine Graham (Meryl Streep) tornou-se editora-chefe do The Washington Post após a morte de seu marido Phil Graham, sendo, então, a primeira mulher a ocupar tal posto nos EUA - e provavelmente no mundo. No começo da década de 1970, o analista do Pentágono Daniel Ellsberg vazou documentos secretos conhecidos vulgarmente como "Pentagon Papers", um estudo preparado pelo Departamento de Defesa a pedido do então secretário de Defesa, Robert MacNamara.
Realizado ao longo de anos por estudiosos contratados como analistas pelo governo, o documento, intitulado "United States–Vietnam Relations, 1945–1967: A Study Prepared by the Department of Defense", continha 47 volumes e detalhava minuciosamente o envolvimento militar norte-americano no Vietnã desde a Guerra da Indochina (1945-1947) até a Guerra do Vietnã (1964-1967).
A Indochina foi ocupada pela França em 1887, tornando-se parte do Império Colonial Francês no Sudeste da Ásia. Era formada pelo que hoje corresponde ao Vietnam, Laos, Camboja e região chinesa de Guangzhouwan. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando parte da França foi dominada pela Alemanha, a Indochina e demais colônias francesas ficaram sobre da República Francesa de Vichy, aliada dos nazistas, ficando depois sobre sob ocupação japonesa. Em maio de 1941, auge do conflito, teve início uma revolta na qual o Viet Minh, ao mesmo tempo partido e exército comunista liderado pela grande Ho Chi Minh, enfrentaram os invasores franceses e depois os japoneses. As revoltas aumentaram, dando início à guerra, que iria terminar em 1949, com a independência do Vietnã. Os Estados Unidos, como revelaram posteriormente os Pentagon Papers, financiaram os franceses na guerra contra o Viet Minh, arcando com cerca de 78% dos custos.
Em 1954, após o Acordo de Genebra, em plena Guerra Fria, o país divido em 2 Estados: Vietnã do Norte, comunista, dirigido por Ho, e Vietnã do Sul, governado pelo imperador-fantoche Bao Dai, controlado pelos franceses. Sem nenhum interesse nos rumos de seu país, Bảo mudou-se para Paris no mesmo ano, continuando como chefe de estado e colocando Ngô Dình Diem como primeiro-ministro. Diem, que era convertido ao catolicismo, era religioso fervoroso. Em 1955 ele realizou um referendo (que depois se provou ter sido fraudado e manipulado com apoio dos EUA) cujo resultado lhe deu plenos poderes.
Durante seu governo, apoiado militar e financeiramente pelos Estado Unidos, iniciou-se violenta perseguição aos comunistas e budistas vietnamitas. Estima-se que 50 mil comunistas foram executados e outros 75 mil foram presos. Em 1963, protestando contra a falta de liberdade religiosa, o monge budista Thich Quang Duc ateou fogo ao próprio corpo, num ato de autoimolação, em Saigon, no então Vietnã do Sul, comovendo a opinião pública internacional. Posteriormente os estudantes aderiram aos protestos, culminando, em 1963, pela deposição de Diem por oficiais do exército-sul vietnamita. Em 1964 o Vietnã do Norte, atacou o governo fantoche do Vietnã do Sul com ajuda e apoio da população da parte de sul, que, de fato, nunca se viu como diferente a população do norte, uma vez que a divisão do Vietnã em dois países foi uma medida artificial imposta pelos EUA e pela ONU, sobre a qual a população vietnamita nunca foi consultada. Os chamados Vietcongs eram em sua maioria sul-vietnamitas que lutaram ao lado dos norte-vietnamitas contra os invasores estrangeiros e os colaboracionistas do sul.
Hoje sabe-se que os EUA lançaram no Vietnã 7 milhões de toneladas de bombas, o que corresponde a 2,5 vezes o volume de bombas lançadas por eles na Segunda Guerra Mundial. Entre 1965 e 1967 o presidente Lyndon Johnson aumentou o número de soldados de 190 mil para 500 mil. No entanto, apesar do imenso e esmagador poderia militar, muito superior ao dos vietnamitas, o número de baixas dos EUA foi de 2 mil soldados entre 1954 e 1965, 6 mil em 1966 e 11 mil em 1967. O número de vietnamitas mortos, no entanto, passa de 3 milhões. O governo estadunidense, que tinha interesse no controle da região, tanto pela sua localização estratégica (próxima da China, Japão, Índia e Oceania) quando pelos recursos naturais, não via com bons olhos o avanço do comunismo, e fizeram pressão para o país fosse dividido em dois, de modo que eles pudessem manter controle político econômico no sul e, partir de lá, derrubar o governo de Ho Chi Minh, consolidado no norte.
No filme Spielberg não entra nesses detalhes mais espinhosos envolvendo geopolítica, preferindo concentrar seu foco em defender a liberdade de imprensa e a democracia estadunidense, atacando um inimigo já abatido (em especial o ex-presidente Nixon), realizando um filme esquemático, apesar de muito bem realizado e que cumpre o que promete. Em vez disso, navega seguro sobre duas ondas do momento: a do empoderamento feminino em alta principalmente nos EUA por conta da série denúncias de abusos cometidos por figurões de Hollywood (também explorada por filmes como Three Billboards...) e a do papel que a imprensa cumpre - ou deveria cumprir - na luta contra a corrupção do poder e pela liberdade de expressão (que rendeu a Spotlight 3 Oscar em 2016). Como notável oportunismo e algum maniqueísmo, roteiro e direção se esforçam por dar papel de destaque à personagem de Meryl Streep, colocando-a como símbolo de mulher na luta contra as pressões do machismo e patriarcado, ao passo que ela e a equipe de seu jornal encarnam os valores da imprensa livre e imparcial.
Todas as cenas em que ela aparece são destinadas a tanto a colocar em evidência o mundo masculino e machista que a rodeia, quando o suposto papel e pioneirismo que ela, enquanto mulher, desempenha. Merecem destaque a cena em que personagem de Sarah Paulson profere um monólogo sobre a coragem da personagem em autorizar que seu jornal publicasse o conteúdo dos documentos, e aquele em que ela desce as escadas da Suprema Corte passando em meio à dezenas de mulheres que passam a olha-la com admiração, cumprem aquele objetivo.
Meryl Streep agarra seu personagem com todas a forças e entrega aqui um de seus melhores trabalhos, numa atuação minimalistas, onde cada gesto de mão, cada olhar e cada inflexão, revela algo e vai, ao longo da história, expressando gradual o empoderamento da presonagem. Tom Hanks está ótimo como o Ben Bradley e brilha ao lado de Meryl, não se deixando ofuscar demais por Meryl Streep, cuja personagem o roteiro claramente privilegia. O resto do elenco, todo ele composto por atores e atrizes de grande qualidade, recebe seus momentos de glória, como Bob Odenkirk ganhando closes intensos e diálogos marcantes ao longo do filme.
Bruce Greenwood, que havia interpretado JFK em Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000) está mediúnico como Robert McNamara, que fora Secretário de Defesa do governo dos EUA de 1961 a 1968, durante os governos de John F. Kennedy e Lydon B. Johson. Quem quiser saber mais sobre McNamara e o envolvimento dos EUA no Vietnã, recomendo os documentários Corações & Mentes (Hearts and Minds, 1975), de Peter Dabvis, e Sob a Névoa da Guerra (The Fog of War, 2003), dirigido por Errol Morris, ambos premiados com o Oscar.
O filme termina com o começo do escândalo Watergate, cuja história já foi retratada no filme o icônico Todos os Homens do Presidente (All the president's men, 1976), com Dustin Hoffman e Robert Redford. Dirigido por Alan J. Pakula, que anos mais tarde fez A Escolha de Sofia (Sophie's Choice, 1982), o filme deu a Jason Robards o Oscar e Melhor Ator Coadjuvante interpretando Ben Bradley.
Antes da Chuva
4.1 62 Assista Agora"O tempo nunca morre. O ciclo nunca se completa."
O Jardim das Aflições
3.5 152A valorização de um charlatão como Olavo de Carvalho só mostra a inferioridade intelectual da parcela de direita da sociedade brasileira (só a brasileira mesmo). Parcela esta que, não por acaso, nutre apreço também por outros embustes como Bolsonaro, Kim Kataguiri e Leandro Narloch.
Mais bizarro, no entanto, é que são as mesmas pessoas que, por exemplo, atacam verdadeiros intelectuais, como Paulo Freire, mundialmente respeitado, sendo um dos 3 autores mais citados em trabalhos acadêmicos pelo mundo afora. Criticam Marx, por exemplo, uma das mentes mais originais e importantes dos últimos 300 anos, ao lado de Darwin, Freud e Einstein, cujas contribuições mudaram radicalmente nossa concepção da realdade.
Os acéfalos dizem que Marx escreveu groselhas, que Marx era vagabundo, que não trabalhava, que Marx teve um caso com a empregada, mas admiram Olavo de Carvalho, um cara que ganhou a vida com astrólogo e como professor de filosofia se diploma de filosofia em um curso de filosofia sem respaldo ou reconhecimento acadêmico em lugar nenhum do mundo, que abusava física e psicologicamente da família, dentre outras barbaridades.
Além disso, vale-se o tempo de falácias (non sequitur, ad hominem, condução ao absurdo, ampliação indevida, espantalhos, etc) para ludibriar os trouxas de intelecto inferior ao seu. É mestre na arte de debater sem conhecer o tema profundamente. Paranoico, vê ameaça comunista em tudo, usa e abusa de silogismos com premissas absurdas, sofismas primitivos, especulações vazias e ilações equivocadas.
Deixo aqui algumas frases "jeniais" ditas pelo farsante Olavo de Carvalho:
"A ONU apoia o terrorismo."
"A Pepsi é feita com fetos abortados."
" Há uma conspiração comunista global e o movimento gay é parte dela."
" A Lei da Inércia é falsa e Isaac Newton era burro."
" Há livros ensinando crianças fazer sexo oral com elefantes."
" O Brasil hoje é uma ditadura comunista."
" A mídia apoia os gays para promover o controle populacional."
" O marxismo nasceu do satanismo."
" Darwin é o pai do nazismo."
" A web foi criada para combater o ateísmo."
" O ser humano não precisa de cérebro pra viver."
" O nazismo e FMI são de esquerda."
" Bill Clinton era um agente de Pequim."
" Os EUA entraram no Vietnã para perder."
" Há 40 milhões de comunistas no Brasil."
" Cigarro não dá câncer."
" Não há diferença genética entre humanos e chimpanzés na gestação."
" O empresariado nunca se organizou politicamente."
" A ditadura foi branda e tinha eleições democráticas."
" Che Guevara invadiu Angola 8 anos após a sua morte."
" O PT é responsável pela morte de 50 mil pessoas por ano."
" O General Geisel era comunista."
" Bush manteve seu país totalmente a salvo de ataques terroristas por oito anos."
Legião Invencível
3.6 28 Assista AgoraMuito se disse e ainda se dirá sobre a assombrosa fotografia desde clássico de John Ford. Muito foi dito também sobre sua trilha sonora, sobre a atuação lúgubre e crepuscular de John Wayne, ou sobre a deliciosa cena da briga no bar. No entanto, de todas as maravilhas que que Ford nos entrega em Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon, 1949), me interessa particularmente a crítica que ele tece ao lendário General Custer traçando um paralelo entre ele, um personagem real, mas ficcionalizado pela mitologia criada em torno dele, e o ficcional Capitão Nathan Cutting Brittles, protagonista do filme, cujo roteiro humaniza magistralmente na medida que expõe suas idiossincrasias.
George Armstrong Custer (1839 – 1876) foi um oficial do exército estadunidense que lutou na de cavalaria durante a Guerra Civil Americana (1761-1765) e as Guerras Indígenas (1788-1890). A apesar da imagem de herói destemido, nobre e incorruptível, que se tentou construir sobre ele, Custer era na verdade um homem ambicioso, inescrupuloso e oportunista, que fez carreira rápida no exército porque tinha os contatos certos e porque não hesitava em colocar seus comandados em risco para obter uma vitória.
Entrou em West Point, aos 18 anos, formando-se em 1861, quatro anos depois, com a patente de segundo-tenente, vindo a lutar na Guerra Civil ao lado dos "nortistas" contra as tropas confederadas do sul. A Batalha de Bull Run, em 21 de julho daquele ano, próximo de Washington, D.C., foi sua iniciação na guerra. No ano seguinte recebeu um "brevet" de general de brigada. Uma semana depois, na Batalha de Gettysburg, ele lideraria o 1.º Regimento de Cavalaria de Michigan em um ataque contra outra tropa confederada que levava reforços aos seus companheiros, no que ficou conhecido como o ataque de Picket. Na batalha Custer perdeu 257 homens, a maior que se tem notícia nos anais da Cavalaria dos EUA.
Terminada Guerra Civil ou de Secessão, Custer permaneceu no exército, primeiro como capitão, posteriormente alçado, em 1866, a tenente-coronel no 7º Regimento de Cavalaria, tornando-se comandante do Forte Lincoln. Em 1867 dirigiu para o Oeste, designado para para combater os índios que impediam o avanço dos colonos brancos. Em 1868 as tropas de Custer massacraram uma tribo Cheyenne em Washita River. Há anos o governo estadunidense tentava adquirir a região conhecida como Black Hills que, por causa de tratados assinados anos antes, pertencia aos índios, para os quais era terras sagradas. Custer e seus homens se notabilizaram por atacar os acampamentos quando os guerreiros não estavam presentes, liquidando impiedosamente mulheres e crianças, só fazia aumentar a ira dos indígenas.
No 25 de junho de 1876, após levar seus homens em direção aos índios, que então formavam um exército rebelde com mais de 3 mil guerreiros, Custer e seus pouco mais de 300 comandados (incluindo dois de seus irmãos, mulheres e crianças) viram-se combatendo os índios na Batalha de Little Bighorn, no Território de Montana. No final, o saldo de Custer foi 268 mortes, incluindo ele seus irmãos, além de 55 feridos.
No filme de John Ford, o Capitão Nathan Cutting Brittles (John Wayne), prestes a se aposentar é, portanto, um homem que para ter chegada tal idade liderando tropas de cavalaria contra populações indígenas que, em geral, defendia-se na medida do possível, presumivelmente, ou é muito sábio ou é muito sortudo. Ao longo do filme, veremos que Custer, tal um discípulo de Maquiavel, não descrê da sorte, mas aprendeu que ela nada vale se não for usada com sabedoria. Brittles parece especialmente fã da sentença maquiavélica que diz: "Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu".
No começo do filme, a derrota de Custer em Little Big Horn é mencionada, pelo narrador. Para decepção do público, no entanto, Ford não pretende fornecer uma catarse na qual o supostamente heróico Custer e seus abnegados soldados serão vingados em cenas de batalhas entre brancos e índios na qual os últimos terminarão derrotados.
Não há cenas grandiosas de batalhas e enfrentamentos entre as tropas de Capitão Nathan Cutting Brittles e os guerreiros Cheyennes, Arapaho e Sioux, responsáveis pela derrota de Custer, que ele encontra pelo caminho. Nathan é a antítese de Custer - e sua crítica, sutil, mas eficiente. Em vez de levar seus homens ao confronto com o inimigo, o protagonista do filme de Ford evita ao confronto, preferindo preservar a vida de seus comandados do que expô-los à morte certa em busca de glória. Enquanto Custer buscava fama e renome, Nathan só queria trazer todos para casa, sãos e salvos.
Ford, pelo olhar de Bittles (ou vice-versa) parece enxergar Custer pelo olhar Maquiavélico. Nas entrelinhas de sua narrativa, parece repetir a máxima do filósofo italiano: "Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela".
A ambição de Custer custou-lhe a vida, aos 37 anos de idade. A nobreza de caráter e senso de responsabilidade com os demais, fez Nathan, ao final, a buscar uma solução diplomática, indo ao encontro dos índios e tentando estabelecer um acordo de paz. É então que ele pronuncia a melhor frase do filme: "Yes, we are too old to war, but old men should stop wars". Em vez de morrer como mártir, Nathan escolheu viver com nobreza e dignidade, ganhando, para sua própria surpresa, o respeito e admiração de todos a sua volta. Em um mundo que, em 1949 (ano de lançamento do filme), acabava de sair da maior guerra que a humanidade já viu, a mensagem do mestre John Ford é mais do que clara.
O Intrépido General Custer
3.5 4Em 1941, ano em que este fiilme foi lançado, o mundo encontrava-se envolvido na Segunda Guerra Mundial e o cinema era, tantos nos países Aliados quanto naqueles do Eixo, uma arma que cumpria vital função de unir o povo, inflando-lhe o ardor nacionalista e conclamando-o a lutar pela vitória e apoiar os seus soldados. O filme de Raoul Walsh, neste contexto, desempenha este papel oferecendo ao público um herói de guerra que seja um modelo a ser seguido e um exemplo a ser admirado. Para isso, no entanto, ele abandona qualquer compromisso com a mínima veracidade histórica, romancendo a vida do biografado e criando sobre ele uma aura mítica.
George Armstrong Custer (1839 – 1876) foi um oficial do exército estadunidense que lutou na de cavalaria durante a Guerra Civil Americana (1761-1765) e as Guerras Indígenas (1788-1890). A apesar da imagem de herói destemido, nobre e incorruptível, que se tentou construir sobre ele, neste filme e outros como Os bravos não se rendem (Custer of the West, 1967), Custer era na verdade um homem ambicioso, inescrupuloso e oportunista, que fez carreira rápida no exército porque tinha os contatos certos e porque não hesitava em bajula-los ou em colocar seus comandados em risco para obter uma vitória.
No filme Walsh, o Custer interpretado por Errol Flynn é tão real quando os personagens ‘Ned Sharp’ (Arthur Kennedy) e ‘California Joe’ (Charley Grapewin), ambos inventados pelos roteiristas Aeneas MacKenzie e Lenore Coffee. Já o General Philip H. Sheridan (John Litel), famoso autor da frase “O único índio bom é o índio morto” (que inspirou Bolsonaro a compor sua máxima "bandido bom é bandido morto") no filme de Walsh é fantasiosamente transformado em tio da futura esposa de Custer, de modo que a jovem Elizabeth Bacon (interpretada por Olivia de Havilland), ao contrário do que o filme mostra, nunca esteve em West Point para visitar o "tio" Phil Sheridan.
Além disso, ele não era o Comandante da Academia de West Point quando Custer lá ingressa, como mostrado no filme. Liberdade maior, no entanto, é tomada em relação ao General Winfield Scott (Sidney Greenstreet) que no filme se torna amigo e protetor do ainda jovem cadete Custer quando este cede ao general a única porção de cebolas existente no restaurante do Estado Maior da U.S. Army, em Washington, onde eles acabaram de se conhecer.
Aos 18 anos entrou em West Point, a prestigiada Academia Federal de Educação Militar, formando-se 4 anos depois como o último da sua classe em 1861, recebendo a patente de segundo-tenente. Neste mesmo ano teve início a Guerra Civil, na qual Custer lutou ao lado dos "nortistas" contra as tropas confederadas do sul. A Batalha de Bull Run, em 21 de julho daquele ano, próximo de Washington, D.C., foi sua iniciação na guerra.
No ano, aos 23 anos, Custer recebeu um "brevet" de general de brigada.Uma semana depois, na Batalha de Gettysburg, ele lideraria o 1.º Regimento de Cavalaria de Michigan em um ataque contra outra tropa confederada que levava reforços aos seus companheiros, no que ficou conhecido como o ataque de Picket. Na batalha Custer perdeu 257 homens, a maior que se tem notícia nos anais da Cavalaria dos EUA. Esse alto número de baixas não foi algo incomum entre as tropas comandadas por Custer, já que ele não hesitava em sacrificar seus comandados para obter uma vitória e fazer sua fama.
Em 13 de setembro de 1863 foi ferido na batalha de Culpeper, na Virgínia, recebendo no ano seguindo uma comendação por bravura, além de uma promoção temporária à patente de major-general. Em abril de 1985, quando o general confederado Robert E. Lee se rendeu para Ulysses S. Grant (futuro presidente dos EUA, entre 1869 e 1877), Custer estava entre as tropas nortistas ali presentes. Na conclusão da Campanha de Appomattox (março-abril de 1865), onde ele e suas tropas desempenharam um papel fundamental, Custer estava presente
Terminada Guerra Civil ou de Secessão, com a vitória do Norte sobre o Sul, a reunificação do país e a abolição da escravidão nos Estados Unidos da América, Custer permaneceu no exército, primeiro como capitão, posteriormente alçado, em 1866, a tenente-coronel no 7º Regimento de Cavalaria, tornando-se comandante do Forte Lincoln. Em 1867 dirigiu para o Oeste, designado para para combater os índios que impediam o avanço dos colonos brancos. Em 1868 as tropas de Custer massacraram uma tribo Cheyenne em Washita River. Há anos o governo estadunidense tentava adquirir a região conhecida como Black Hills que, por causa de tratados assinados anos antes, pertencia aos índios, para os quais era terras sagradas. Não era, portanto o amigo dos índios, nem de Cavalo Louco (Anthony Quinn), muito menos defensor do direito desses povos às suas terras, como o filme de Walsh desonestamente quer nos fazer crer.
Na verdade, foi ideia de Custer espalhar o boato de havia ouro na região, provocando uma migração em massa de centenas de colonos, com suas famílias. Inconformados, índios Cheyennes, Arapaho e Sioux (estes Lakotas e Dakotas) uniram-se sob a liderança dos lendários Touro Sentado e Cavalo Doido e passaram a atacar os invasores brancos para defender suas terras. Os constantes ataques de Custer e seus homens à tribos indígenas, e a tática por eles escolhida de atacarem os acampamentos quando os guerreiros não estavam presentes, liquidando impiedosamente mulheres e crianças, só fazia aumentar a ira dos indígenas.
No 25 de junho de 1876, após levar seus homens em direção aos índios, que então formavam um exército rebelde com mais de 3 mil guerreiros, Custer e seus pouco mais de 300 comandados (incluindo dois de seus irmãos, mulheres e crianças) viram-se combatendo os índios na Batalha de Little Bighorn, no Território de Montana. No final, o saldo de Custer foi 268 mortes, incluindo ele seus irmãos, além de 55 feridos.
Che
3.7 210 Assista AgoraEsse esforço por difamar a imagem de Che e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
Um exemplo perfeito deste esforço de propaganda yankee é o episódio “The Siren’s Song” (2011 ), da série de desenhos animados da turma do Scooby-Do exibidos pelo Cartoon Network. Nele eles se deparam com Ernesto, um ativista ambiental que denuncia os impactos ambientais causados por uma empresa petrolífera. O episódio termina com a turma descobrindo que os impactos ambientais eram causados por Ernesto (personagem claramente calcado em Che Guevara) através de sua organização.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Terroristas e genocidas são os EUA, que com suas intervenções militares em países como Vietnã, Coreia, Irã, Afeganistão e Iraque, só deixaram mortos. Os propalados desenvolvimento, progresso e democracia que eles dizem levar pelo mundo, não passam de desculpas para satisfazer sede de sua burguesia por recursos naturais e mão de obra barata a serem explorados e convertidos em lucro.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
A tentativa de impor uma caracterização de Che Guevara como genocida, é parte a estratégia Goebbeliena, empregada pela burguesia internacional, de espalhar e repetir uma mentira, incansavelmente, até que ela seja tomada como verdade, para e afastar a ameaça da revolução proletária.
Acusam Che de ter fuzilado homossexuais, acusando-o de homofobia, quando na verdade foram fuzilados (e devidamente fuzilados) os colaboracionistas da ditadura de Fulgêncio Batista ou dos Estados Unidos, torturadores, bem como espiões e sabotadores, além de fascistas, todos contra-revolucionários e portanto reacionários. Matou - obviamente - homens em combate quando lutou em Cuba, no Congo, na Tanzânia e na Bolívia. Nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Che lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos de das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, derrubaram governos contrários aos seus interesses no mundo todo.
Os refugiados cubanos nos EUA que fizeram e fazem de tudo para difamar e derrubar Fidel e o regime socialista de Cuba são apenas membros da burguesia local e colaboradores da ditadura de Fulgência Batista, ou descendentes deles. São traidores da pátria cubana, que apoiaram o governo Kennedy quando ele atacou o país na Invasão da Baía do Porcos. Não merecem nenhum crédito.
5 indicadores em que Cuba supera o Brasil e os EUA
1 – Alfabetização:
Cuba: 99,8%
EUA: 99%
Brasil: 91,3%
Fonte: CIA World Factbook
2 – Expectativa de vida:
Cuba: 79, 6 anos
EUA: 79,2 anos
Brasil: 74, 7 anos
Fonte: PNUD
3 – Taxa de homicídios:
Cuba: 4,9 mortes para cada 100 mil habitantes
EUA: 5,3 mortes para cada 100 mil habitantes
Brasil: 30,5 mortes para cada 100 mil habitantes
Dados: Organização Mundial da Saúde (OMS)
4 – Mortalidade infantil:
Cuba: 36º menor do mundo (menor das Américas)
EUA: 44º menor do mundo
Brasil: 94º menor do mundo
Fonte: CIA
Dados: World Factbook, estimativas 2015
5 – Eficiência dos serviços de saúde
Cuba: 28ª colocação
EUA: 46ª colocação
Brasil: 48ª colocação
Fonte: Bloomberg
Leias os livros abaixo:
ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: A Vida Em Vermelho. Companhia das Letras, 1997.
DIAS, Mario e CEREGHINO, Mario J. Relatório Da Cia - Che Guevara: documentos inéditos dos arquivos secretos. Ediouro, 2007.
Diários de Motocicleta
3.9 827Os reacionários da direita brasileira, encabeçados por gente como Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Luis Felipe Pondé e Marco Antonio Villa, querem comparar o torturador Ustra com revolucionários como Che Guevera ou Marighella.
Marighella e Che não torturaram ninguém, nem desapareceram com nenhum corpo. Marighella e Che não mataram porque essa era sua profissão, como Ustra.
Che e Marighella não eram funcionários do terror, como Ustra, não trabalhavam para a repressão, nem em prol da manutenção de um regime opressor. Che e Marighella eram homens comuns, civis, que se tornaram revolucionários, que foram levados a pegar em armas por viver em um regime opressor e por decidir lutar contra a opressão.
Che fuzilou contra-revolucionários e colaboradores da ditadura de Fulgêncio Batista. Matou homens em combate quando lutou em Cuba, no Congo, na Tanzânia e na Bolívia. Nunca torturou ninguém nem sumiu com seus corpos. Lutava contra a opressão do povo pelos lacaios do imperialismo norte-americano. Lutava contra a opressão do trabalhador pela classe dominante: a burguesia.
Ustra é digno da lata de lixo da história. Era um lacaio dos interesses do norte. Torturou, matou e sumiu com os corpos de guerrilheiros e militantes que lutavam contra a ditadura no Brasil, além de civis que apenas manifestavam discordância com o regime repressor. Nunca lutou por nada. Apenas fazia o trabalho sujo em nome da manutenção de um status quo injusto.
Em um regime de exceção, como foi a ditadura, as noções do que são crime e de qual é o papel da justiça são distorcidas em nome da defesa cega do regime e da repressão aos dissidentes. Terroristas foram os deputados que declararam a cadeira presidencial vazia quando Jango estava viajando. Terroristas eram os jornais da época que associavam Jango à uma ameaça comunista.
Terrorista era a parcela branca, burguesa, conservadora, cristã e reacionária da sociedade que foi às ruas pedindo intervenção militar, em 64 e em 2015. Terrorista, por fim, foram os militares que tomaram o poder e instauraram o terror por 21 anos. Comparar Che e Ustra é prova de ignorância histórica e desonestidade intelectual.
Portanto, não confunda a luta do oprimido, com a fúria do opressor. Não tente igualar um revolucionário a um reacionário. O revolucionário luta pela liberdade, enquanto o reacionário se opõe vigorosamente à ela. Um revolucionário está disposto a sacrificar a própria vida em nome dela, enquanto o reacionário está disposto à sacrificar a vida de outros para não concede-la a ninguém.
Tentam acusar os comunistas de hoje de incoerência, alegando que eles não poderiam usar tênis, celulares e e computadores, pois tais coisas seriam dádivas só possíveis graças ao capitalismo. Estão equivocados. Quem cria, inventa e produz coisas são os trabalhadores, explorados pela burguesia detentora dos meios de produção. Só o que o Capitalismo produz de seu são as desigualdades, a pobreza, a marginalidade, a exclusão. São essas desigualdades que Che lutou para combater mas foi impedido pelos agentes da burguesa internacional, isto é, a CIA e outros orgãos de das grandes potências capitalistas que, como tem sido provado pelos documentos vazados por Snowden e Assange, estiveram, por exemplo, por trás do golpe no Brasil, em 1964, ou no Chile em 1973, que derrubou Allende o colocou Pinochet no poder.
Esse esforço por difamar a imagem de Che e outros comunistas é parte do projeto muito bem pensador e elaborado pela burguesia para manter o status quo, ou seja, as coisas como estão, e afastar qualquer possível revolução lhe usurpe os meios de produção que lhe permitem explorar, mantando o posto de classe dominante e exploradora.
A farsa do Holodomor; a caracterização de regimes comunistas Cubano, Chinês e Coreano como não-democráticos, ou de Che Guevara como genocida, são partes dessa estratégia Goebbeliena de espalhar e repetir uma mentira, incansavelmente, até que ela seja tomada como verdade.
Acusam Che de ter fuzilado homossexuais, acusando-o de homofobia, quando na verdade foram fuzilados (e devidamente fuzilados) os colaboracionistas da ditadura de Fulgêncio Batista ou dos Estados Unidos, torturadores, bem como espiões e sabotadores, além de fascistas, todos contra-revolucionários e portanto reacionários.
Se a classe trabalhadora tudo produz, à ela tudo pertence!
Leias os livros abaixo:
ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: Uma Biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: A Vida Em Vermelho. Companhia das Letras, 1997.
DIAS, Mario e CEREGHINO, Mario J. Relatório Da Cia - Che Guevara: documentos inéditos dos arquivos secretos. Ediouro, 2007.
Amanhecer Violento
2.7 547 Assista AgoraTrata-se apenas de mais um lixo comercial industrial, um enlatado dos USA criado no contexto da guerra fria para incutir o temor aos soviéticos na população. Aos capitalista interessa demonizar o comunismo e qualquer nação que dele seja uma experiência, pois o comunismo significa, precisamente, o fim da burguesia. Hollywood, como é de se esperar, cumpre bem seu papel neste projeto global de dominação. Este filme, realizado em 2012, é uma releitura do filme homônimo de 1984.
Neste, tropas norte-coreanas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país, No filme de 1984, tropas soviéticas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país. A farsa, nos dois filmes, começa pelo fato de os coreanos nunca terem invadido nenhum país ao longo da história, enquanto os soldados soviéticos, ao longo da História, invadiram apenas a Ucrânia, a Polônia e a Alemanha (na Segunda Guerra), enquanto os soldados dos EUA invadiram (sem mencionar a Segunda Guerra) o Vietnã, a Coreia, as Filipinas, Panamá, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Camboja, etc, tentaram invadir Cuba, e tramaram a queda de regimes com inclinações socialistas, colocando ditaduras no lugar, em países como Brasil, Chile, Argentina, Burkina Fasso, Uganda, Irã, Honduras, Bolívia, etc.
Amanhecer Violento
3.0 81 Assista AgoraApenas mais um lixo comercial industrial, um enlatado dos USA criado no contexto da guerra fria para incutir o temor aos soviéticos na população. Aos capitalista interessa demonizar o comunismo e qualquer nação que dele seja uma experiência, pois o comunismo significa, precisamente, o fim da burguesia. Hollywood, como é de se esperar, cumpre bem seu papel neste projeto global de dominação.
No filme, tropas soviéticas invadem os EUA e são derrotados por uma equipe de jovens estadunidenses determinados a defender seus país. A farsa começa pelo fato de os soldados soviéticos, ao longo da História, invadiram apenas a Ucrânia, a Polônia e a Alemanha (na Segunda Guerra), enquanto os soldados dos EUA invadiram (sem mencionar a Segunda Guerra) o Vietnã, a Coreia, as Filipinas, Panamá, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Camboja, etc, tentaram invadir Cuba, e tramaram a queda de regimes com inclinações socialistas, colocando ditaduras no lugar, em países como Brasil, Chile, Argentina, Burkina Fasso, Uganda, Irã, Honduras, Bolívia, etc.
Quem pensa que a Guerra Fria acabou está enganado. A contínua difamação dos regimes socialistas cubano, venezuelano, chinês e norte-coreano, está umbilicalmente ligada à guerra contra o regime socialista soviético. A burguesia internacional, sediada especialmente nos países da Europa, América do Norte, Oceania e parte da Ásia, fará de tudo para desestabilizar e derrubar regimes socialistas (como a Venezuela) ou que se aproximem demais do socialismo (como o Brasil de Lula e Dilma e a Argentina de Kirchner).
Lenin em Vida
4.0 1O FALSO DECÁLOGO DE LENIN
É o que comprova o livro “They never said it: a Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions (“Eles nunca disseram: um livro de citações falsas, errôneas e enganosas”), publicado pela Universidade de Oxford pelos pesquisadores Paul F. Boller Jr. e John George Jr.
Nas páginas 114-116 do livro eles mostram que as supracitadas ‘Regras para a Revolução’ apareceram em fevereiro de 1946, em uma publicação britânica chamada ‘New World News’ chamando a atenção da extrema direita nos EUA, recebendo especial atenção de nomes como Dan Smoot, Frank Capell, e Billy James Hargis.
Atribuído a Lênin por incontáveis nome da Direita brasileira, como Leandro Narloch*, Olavo de Carvalho, Kim Kataguiri, Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia, Nando Moura, dentre outros, o “Decálogo de Lênin”, amplamente repetido em sites nacionais, nada mais é do que uma desonesta versão de um documento sem autoria conhecida, difundido nos Estados Unidos no período da Guerra Fria, intitulado “Rules for Revolution” (Regras para a Revolução). O tal Decálogo falsamente atribuído a Lênin constitui mera repetição adaptada das “Regras para a Revolução”. O fato de ele datar da época da Guerra Fria, explicita claramente a intenção norte-americana (capitalista) de atacar a imagem do "inimigo" soviético (comunista).
Nos anos 1970, a Associação Nacional de Rifles dos EUA, uma organização civil ligadas aos fabricantes de armas, entrou em cena, por meio do periódico ‘The American Rifleman’, publicando em janeiro de 1973, uma reportagem sobre o tal decálogo, escrita pelo editor Ashley Halsey. Na reportagem ele alegava que, logo após a segunda guerra mundial, o documento com as tais regras foi encontrado num tal ‘quartel general soviético secreto’ em Düsseldorf, Alemanha, indo parar nas mãos de dois oficiais da inteligência aliada, entre eles, o Capitão Thomas Baber, que disse ter infiltrado o local.
E mais: especialistas como William F. Buckley,Jr., M. Stanton Evans, e James J. Kilpatrick, assumidamente conservadores e portanto não comunistas, foram categóricos em afirmar que o documento é uma farsa. Ele foi denominado como uma farsa pelo boletim anticomunista, o ‘Combat’. J. Edgar Hoover, falecido diretor do FBI e anti-comunista ferrenho, declarou que "o documento é espúrio’.
Contudo, a maneira mais fácil e eficiente de refutar a afirmação de que tal decálogo tenha sido escrito por Lênin é lendo suas obras. Eu já o fiz e posso lhes dizer: não encontrei nenhuma menção a sequer uma linha do tal decálogo.
À guisa de preencher o vazio criado pela comprovação da falsidade do tal decálogo, deixo aqui 10 mandamentos baseados em frases legitimamente Leninistas:
1 - Muitas vezes é preciso dar um passo atrás, para dar dois passos à frente.
2 - Ideias são mais letais que armas.
3 - Não há teoria revolucionária sem prática revolucionária, do mesmo modo, não há prática revolucionária sem teoria revolucionária.
4 - A revolução começa em casa.
5 - As revoluções são as festas dos oprimidos e explorados.
6 - A verdade é sempre revolucionária.
7 - No capitalismo a liberdade de imprensa é um disfarce para a liberdade dos ricos comprarem a imprensa para fabricar notícias falsas e enganar a opinião pública.
8 - O crime é produto dos excessos sociais.
9 - Quanto mais forte é a influência dos reformistas sobre os trabalhadores, mais fracos e dependentes da burguesia eles serão, pois o reformismo é uma concessão burguesa que mantém os trabalhadores sempre escravos assalariados.
10 - A consciência do homem não apenas reflete o mundo, mas também o cria e o transforma.
Outras fontes:
LENIN, Vladimir. O que fazer?
LENIN, Vladimir. Imperialismo, fase superior do capitalismo
LENIN, Vladimir. O Estado e a Revolução.
LENIN, Vladimir. Teses de Abril
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Lenin: Vida e obra.
KRAUSZ, Tamáz. Reconstruindo Lênin.
VOLKOGONOV, Dmitri. Lenin: uma nova biografia.
Paixão dos Fortes
4.0 57 Assista AgoraMuitos foram os filmes contando a lendária história de Wyatt Earp, xerife de Tombstone, o tiroteio ocorrido no O.K. Curral do qual ele foi o protagonista: Sem lei, sem alma (Gunfight at the O.K. Corral, 1957) e A Hora da Pistola (Hour of the gun, 1967), ambos de John Sturges; Massacre de Pistoleiros (Doc, 1971), de Frank Perry; Tombstone - A Justiça está chegando (Tombstone, 1993), de George P. Cosmatos; e Wyatt Earp (1994), de Lawrence Kasdan, com Kevin Costner.
Para muitos, esta versão dirigida por John Ford em 1946, destaca-se não apenas por ser uma das primeiras delas, mas sim por ser a mas memorável. Primeiro, por usar com mote para narrativa não o famoso duelo em si, mas a relação de amizade entre Wyatt (Henry Fonda, inspiradíssimo) e Doc Holiday (Victor Mature); e o amor dos dois pela bela Clementine (Cathy Downs). Este, por seu turno, é embalado pela clássica canção "Oh, my darling Clementine". Cenas como do ator alcoólatra declamando o monólogo de Hamlet em cima de uma mesa de bar, ou aquela em que Wyatt descobre um jeito inusitado de se divertir sentando em uma cadeira, são singelas mostras da capacidade de Ford de compor cenas inesquecíveis a partir de premissas banais.
Merece destaque a atuação do veterano Walter Brennan (3 vezes premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, em 1936, 19388 e 1942) como o velho e ardiloso patriarca da família Clanton e antagonista de Earp.
O confronto, segundo fontes históricas precisas, aconteceu as 3:00h da tarde de uma quarta-feira a 26 de outubro de 1881, no território de Arizona. Acabou sendo tranformado em símbolo da luta contra o mal enquanto Earp foi transformado em arquétipo do homem justo íntegro e incorruptível que, tornado xerife, limpa a cidade de seus malfeitores. Anos mais tarde, John Ford revisitaria estes temas, apurando seu olhar e invertendo suas conclusões sobre eles, realizando uma de suas obras-primas: O homem que matou os facínora (The man who kills Liberty Valence), com James Stweart, John Wayne e Lee Marvin.