No clássico A Divina Comédia, de Dante Aligheri, o próprio Dante visita o Inferno, depois o Purgatório e, por fim, o Paraíso. No Inferno e no Purgatório, ele é guiado pelo poeta Virgílio, autor da Eneida. No inferno, ele passa pelos 9 círculos, cada um destinado à punição de uma tipo de pecado. No Purgatório, as almas assistem às punições das outras almas que por pecarem mais "intensamente" foram para o Inferno.
No filme A Morte do Sr. Lazarescu, do romeno Cristi Puiu, temos o protagonista Lazarescu Dante Remus, um idoso de 63 anos que espera, em seu modesto apartamento na periferia de Bucareste, por uma ambulância, pois ele alega sofrer de fortes dores de cabeça e de estômago. O nome do protagonista é claramente inspirado em 3 personagens: o Lázaro, da Bíblia, que volta dos mortos; o Dante, de A Divina Comédia.
Assim como Dante, o sr. Lazarescu, em sua odisseia por vários hospitais de Bucareste numa conturbada noite de sábado, em busca de ajuda médica, atravessa um inferno, antes de encontrar alguma forma de Paraíso. Não por acaso, ao final do filme, logo após ele ser limpo e ter os cabelos raspados por 2 enfermeiras, uma delas diz: "Virgil! Ele está pronto! Leve-o para o Dr. Angel!"
Se alguém estiver procurando a legenda, me avise. No OpenSubtitles só existe um arquivo, em inglês. Eu o traduzi para o português para poder assistir a essa preciosidade.
Pobres Criaturas é uma alegoria, e, como tal, seus elementos não devem ser tomados em sentido literal, mas figurado, isto é, como metáforas. Não deveria haver qualquer dúvida a esse respeito, pela simples leitura de sua sinopse a qual deixa claro tratar-se de uma história desvinculada de qualquer realismo. A ambientação onírica do filme, por sua vez, também deixa evidente esse fato. Como exemplos, poderia citar o personagem Dr. Godwin Baxter, o qual, dentre muitas coisas, simboliza o racionalismo e o cientificismo. Já Duncan Wedderburn, por seu turno, pode ser tomado como símbolo do hedonismo. Ambos, como os demais personagens masculinos, são representações do próprio patriarcado, em suas diferentes conformações, enquanto personagens masculinos que, de algum modo, tentam controlar e possuir uma mulher.
Aqui, o cérebro da criança que é implantado no corpo de uma mulher adulta, dando origem à protagonista Bella Baxter, nada mais do que um símbolo, no sentido mais junguiano possível. Ele simboliza a pureza, a inocência, a condição de quem ainda descrobre o mundo sem ter nenhum (pré)conceito pronto. E, como toda criança não possui filtros, muitas vezes expressando sua opinião sem nenhum pudor, o cérebro infantil é também símbolo da franqueza, da ausência de falsidade ou dissimulação. O corpo da mulher adulta, no qual esse cérebro e inserido representa justamente o oposto. Simboliza o desejo, a carnalidade, a sutiliza, a dissimulação, a malícia.
É na dialética entre esses elementos opostos e contraditórios, amalgamados no corpo de Bella Baxter, que o filme opera. Desse modo, trata-se de um filme que coloca algumas questões principais, dentre muitas outras: Bella estaria fadada a viver a mesma vida que a mulher que viveu em seu corpo levou, mesmo tendo um outro cérebro? O que define Bella: o seu cérebro ou o seu corpo? Se o cérebro se molda a partir das experiências vividas pelo sujeito, e se o corpo é parte dessa experiência, seria possível afirmar que aquele cérebro, naquele corpo, é o cérebro de uma criança? Como um indívíduo, que tem um cérebro de uma criança, mas que não passou pelos processos psíquicos de castração (por exemplo), típico da infância, dentro de um corpo adulto, se comportaria perante o mundo? São questões complexas que difcilmente seriam percebidas por discípulos de charlatões como Olavo de Carvalho ou Roger Scroton, por exemplo.
Desse modo, incorre em erro crasso quem, por exemplo, enxerga pedofilia no filme, pelo fato da protagonista ter o cérebro de uma criança. Até mesmo porque, a pedofilia se baseia na atração sexual que um adulto tem em relação à um criança. Mas um pedófilo não se atrai pela mente de uma criança. Ao contrário, o que atrai um pedófilo é a própria compleição física de suas vítimas. Consequentemente, se Bella Baxter tem o corpo de uma mulher adulta, em vez de o ter o corpo de uma criança, como poderia haver pedofilia em sua história? Se os homens com os quais Bella se envolve sexualmente nem mesmo sabem que em seu corpo há um cérebro de uma criança, como é possível afirmar que sejam pedófilos? Ou seja, tais acusações não passam de delírios de pessoas cujas mentes foram atrofiadas pelas pautas morais da direita conservadora.
O título do filme, "The Square" (o quadrado), tem múltiplos sentidos, fazendo com que este seja, por consequência, um filme polissêmico, que traz muitas questões para o debate, sendo a questão de "o que é arte?", a principal delas,
Nesse sentido, o quadrado pode ser a moldura que delimita uma determinada obra de arte, por exemplo, como a tela de uma pintura, o frame de uma fotografia, a tela que exibe um filme, a sala que abriga uma instalação, o palco onde se desenrola uma peça de teatro, uma apresentação de dança ou um concerto musical. Pode ser até mesmo a folha de papel onde se inscreve o texto de um romance ou os versos de um poema - ou, por que não, uma carta anônima?
Partindo desse pressuposto, o filme nos confronta, por exemplo, com o questionamento de como aquilo que se insere no espaço do que chamado arte é de fato arte, e como o público lida com tal coisa. E nos coloca uma questão difícil: somente aquilo que está posto dentro desses limites (a tela, em seus múltiplos sentidos), é que pode ser considerado arte? A arte pode ser conformada por limites tão rígidos e fixos?
Porém, o quadrado em questão pode ser também os limites daquilo que consideramos ser a sociedade civilizada, com as leis, as normas de conduta, a moralidade, a cultura e, por consequência, a própria arte. Por extensão, esse quadrado pode ser o próprio espaço onde os ditos cidadãos civilizados ocupam: as casas, os prédios, as praças, os museus, as escolas, as cidades.
E aqueles que não se encaixam totalmente nesses espaços, que vistos como intrusos neles? Isto é, os mendigos, os deficientes, os imigrantes, os pobres e periféricos, os sem escolaridade, como se inserem (ou nâo) dentro do quadrado do nosso campo de visão? Como se inserem (ou não) no quadrado do que julgamos ser civilizado e culto? Os vemos, ou os ignoramos?
Como lidamos com aquilo que não entendemos, que não apreciamos, que não planejamos, que não desejamos? Como lidamos com aquilo que não é racional harmônico, simétrico, belo?
E se o quadrado for, também, a imagem que tentamos, intencionalmente, construir e passar a respeitos de nós mesmos? Ou seja, na tela em que enquadramos aquilo que queremos que as pessoas vejam a respeito de nós mesmos, o que é que deixamos propositalmente de fora?
Enfim, assim como o filme, não tenho aqui, nesse comentário, pretensão de encerrar qualquer questão, mas deixa-las em aberto. Fechar questões produz conforto, e isso é tudo o que Ostlund não pretende com seus filmes.
Primeiramente, gosto bastante desses filmes que terminam e deixam a gente com "uma pulga atrás da orlelha", sem saber exatamente o que aconteceu. Tipo Anatomia de uma Queda, por exemplo.
Afinal, o menino Alyosha foi ou não foi encontrado, ao final?
O modo como o diretor constrói o drama de seus personagens e o suspense que os envolverá com o sumiço da criança, é magistral.
Aliás, essa temática de crianças que rejeitadas ou negligenciadas pelos pais, já foi explorado muito bem pelo diretor japonês Hirokazu Kore-eda, nos brilhantes Ninguém Pode Saber (2004) e Assunto de Família (2018).
Esse é um remake do clássico filme homônimo de 1953, dirigido pelo mestre Henry-Georges Cluzot, que já havia ganhado um outro remake em 1977, dirigido por outro mestre, William Friedkin, diretor de O Exorcista.
Uma curiosidade: o original de Cluzot é o único filme da história a ter ganhado o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim e a Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes.
O filme tem uma ótima premissa e um elenco irretocável, A atuação de David Oyelowo é precisa, profunda e tocante. No entanto, peca pelo roteiro, não pois consegue construir um vínculo convincente entre aquela garotinha que entra no carro junto com os pais, e o motorista, que justifique aquele abraço ela lhe dá. Em consequência, essa atitude da menina acaba parecendo aleatória demais.
Não é um filme sobre feminismo. Não é um filme sobre libertinagem. Não é um filme sobre prostituição. Apesar de esses temas estarem presentes.
É um filme sobre "experienciar" o mundo, sobre desfrutar a realidade, em todas as suas facetas, desprovido das amarras do medo e do preconceito. É sobre se libertar de amarras morais para viver a vida em sua plenitude, buscando aprender com cada experiência.
É um filme sobre um ser humano desabrochando, se deslumbrando, se deliciando e também sofrendo, com o mundo complexo à sua volta.
Emma Stone está estupenda com Bella Baxter e o restante do elenco está à sua altura. Mereceu cada indicação que recebeu ao Oscar e demais premiações e é muito superior ao Barbie, em todos os sentidos.
Dito isso, digo mais: larguem de ser moralistas. Povo chato e recalcado da pouha!
Pretensioso, episódico, vazio, confuso e cansativo. Um bolo confeitado, mas carente de nutrientes. Tipo o Babilônia do Chazelle.
Só mesmo o lobby milionário da Netflix pra explicar essa bomba ter chegado ao Oscar com tantas indicações. Merecidas mesmo, só as indicações a Melhor Atriz e a Melhor Maquiagem. Mesmo assim, eu teria indicado Greta Lee, por Vidas Passadas, no lugar da Carey Mullingan.
Pensar que Bradley Cooper pegou a indicação a Melhor Ator é revoltante, tendo em vista que haviam nomes muito melhores, como Koji Yakusho por Dias Perfeitos, Andrew Scott por Todos Nos Desconhecidos, ou Leonardo Di Caprio por Assassinos da Lua das Flores.
Sou fã do cinema de Hirokazu Kore-Eda, mas esse filme aqui é bem inferior aos demais. A construção dos personagens é preguiçosa, a história é confusa, o desenrolar é enfadonho e o final é decepcionante.
O filme começa em 1945 e, quando termina, em 1952, as crianças continuam do mesmo tamanho, sem terem crescido ou envelhecido. Quem tem filhos sabe que, em 7 anos, os bichim cresce pra caramba. Esse é o único vacilo desse filme, que é ótimo.
Um filme simples e despretensioso, mas que consegue ser impecável em todos os detalhes. A trilha sonora, já tão falada, não apenas é belíssima, mas também é empregada magistralmente pelo diretor, sem excessos, e sem usa-la para tentar manipular os sentimentos do espectador. Na cena mais importante do filme, por exemplo, a trilha é acertadamente deixada de lado, sendo encenada em um eloquente silêncio, deixando as imagens falarem por si sós. O modo como o roteiro e a direção desenvolvem a história e os personagens, com calma e sutileza, é um deleite, Enfim, trata-se de um filme que tem um total de 0 zero defeitos, assim como a líndíssima Jennifer O'Neill. Que mulher apaixonante!
O tipo de filme que, à época em que foi lançado, pareceu muito inovador, moderno e mesmo "avant garde", por mostrar uma personagem que é mulher divorciada (numa época em que o divórcio era um tabu que começava a ser quebrado e debatido), que é independente e segura, inclusive sexualmente, e que se envolve com um homem casado. Nesse aspecto, ele ousa também ao desconstruir o ideal de família, muito caro ao cinema norte-americano ainda naquela década.
Por outro lado, o modo como o personagem de George Segal é retrado, revela um certo caráter conservador do filme, uma vez que naturaliza a infidelidade masculina, tratando esse comportamento como "normal" e isento de críticas.
No entanto, vendo-o hoje, ele envelhecer bastante em todos os sentidos, numa sociedade em que o divórcio não é mais alvo de polêmica e na qual a infidelidade masculina não mais tratada como natural e inevitável.
O humor simplesmente não funcionou pra mim, simplesmente porque, depois de assistir a diversos filmes e séries que abordam a temática da relação de amor e ódio entre homens e mulheres, ele me pareceu batido, gasto.
Por fim, por melhor que seja a atuação de Glenda Jackson (e ela é, sim, muito boa), nada justifica ela ter recebido o Oscar de Melhor Atriz naquele ano em que tínhamos, por exemplo, Ellen Burstyn concorrendo por seu trabalho muito superior em O Exorcista ou Joanne Woodward por Lembranças.
Além da soberba qualidade técnica dessa série, com um CGI deslumbrante, a maior qualidade dessa série é atualizar a concepção que temos dos dinossauros, a partir das descobertas cientificas mais recentes, como por exemplo, mostrar que muitos dinossauros tinham penas, retratar o velociraptors em seu tamanho real (muito menor do que aparecem nos filmes Jurassic Park e Jurassic Wolrd), ou derrubar o mito (também difundido por esses filmes) de que a visão dos tiranossauros era baseada em movimento.
A princípio, achei estranha a aparição, em alguns momentos, de algo que perecem ser pássaros (que só apareceriam milhões de anos depois), como, por exemplo, no episódio "Deserts", na cena em que uma manada de gigantes Dreadnoughthus chegam ao deserto para acasalar; ou no episódio "Freshwater", na cena em que a femea de Quetzalcoatus nidifica numa floresta.
Pesquisando na página do documentário, descobrir que, no primeiro caso, os animais que aparecem pousando nas costas de um Dreadnoughthus, são Enantiornithes, também conhecidos como enantiornithines, que viveram na era Mesozóica; São ancestrais das aves atuais e foram extintos na fronteira entre o Cretáceo e o Paleógeno. Quase todos tinham pequenos dentes e dedos com garras em cada asa, mas fora isso pareciam muito com pássaros modernos externamente. No segundo caso, não encontrei nenhuma informação sobre o animal parecido com uma ave, de penagem negra, que está pousado em um galho e então voa quando a femea de Quetzalcoatus, após botar seus ovos, sai para se alimentar.
Um filme extremamente oportuno em uma época em que o conservadorismo e o extremismo de direita avançam.
Aqui, temos um personagem que é um homem de classe trabalhadora, ultra-religioso, frustrado com sua vida (tem um trabalho que não gosta), decide recorrer à violência para dar vazão às suas contradições internas. Violência contra aqueles que não se encaixam nos padrões morais socialmente disseminados. O filme brilha ao mostrar como essa intolerância é arraigada em sociedades teocráticas e conservadoras, e como esses crimes de ódio são praticados e validados por "gente comum", isto é, por pais e mães de família, imersos numa ideologia pautada no preconceito. Um ódio e uma ideologia que são transmitidos de pais para filhos, no seio da superestimada "familia tradicional".
Nesse ponto, aliás, se assemelha tanto aos bolsonaristas, como aquele que assassinou um petista em sua festa de aniversário no Paraná, ou aqueles dois que assassinaram várias pessoas em um bar, em Goiás, após um jogo de sinuca, ou aquele que explodiu uma bomba em um supermercado no Mato Grosso.
Se assemelha também aos jovens "incel" que, frustrados com seu fracasso social e sexual, se tornam misóginos, culpam as feministas pelo seu celibato involuntário, passam a acreditar serem "sanctvs" e decidem atacar escolas e creches (no que eles chama de "acto sancto"), matando crianças e professoras (sempre mulheres), no intuito de punir a sociedade moderna, que eles criticam, acusando-a de "depravada", "imoral", etc.
Brilha também ao mostrar o lado daquelas que são vitimas desses crimes: mulheres pobres, cujos maridos estão presos ou morreram, que precisam se prostituir para sustentar a si e aos filhos, numa sociedade onde a mulher ainda não tem os mesmos direitos que os homens, inclusive no que diz respeito ao trabalho.
Esse apelo à uma cruzada moral, aliás, é, desde o Golpe de 1964, a desculpa usada pela direita conservadora para atentar contra a democracia e perseguir "minorias", como mulheres e LGBTs. No Irã, onde se passa o filme, esse foi o argumento usado pelos conservadores, apoiados pelos ingleses e estadunidenses, para depor o primeiro-ministro progressista Mossadegh em 1953, e reconduzir ao poder o ditador xá Reza Pahlavi, que apesar de conservador, era pró-ocidente, mas que 2 décadas mais tarde seria deposto por um movimento ultra-religioso, ainda mais conservador, liderado pelo Aiatolá Khomeini.
Hoje a sociedade iraniana vive sob uma teocracia islâmica autoritária, e o peso disso sobre esses homens e mulheres pode ser visto em filmes maravilhosos como esse Holy Spider, ou outros com Não Há Mal Algum (2020), dirigido por Mohammad Rasoulof, e A Separação (2011), dirigido por Asghar Farhadi, ambos premiados com o Urso de Ouro no Festival de Berlim.
Poucas vezes se viu um filme tão pretensioso, excesssivo, equivocado e cansativo.
A única cena que se salva é aquela em que Elinor, personagem de Jean Smart, conversa com Jack, personagem de Brad, e lhe diz que seu tempo acabou, mas que ele será lembrado. Esse, aliás, é dos poucos diálogos que se salvam no filme, pois, na maior parte das cenas, eles parecem ter sido escritos pelo roteirista de Quantumania.
Duvido que essas pessoas que estão elogiando o filme, dizendo ser uma bela homenagem ao cinema dos anos 20 e 30, consigam assistir a algumas das obras-primas do período (como Ouro e Maldição, de Stroheim) sem considera-las enfadonhas. Isso porque, pra apreciar esse filme, só mesmo sendo o tipo do espectador que valoriza o deslumbre visual em detrimento da profundidade dramática. É o filme frenético e exagerado, feito para agradar a geração TikTok.
De todos os filmes com mais de 2 horas de duração, esse é certamente o pior.
Tem basicamente a mesma premissa de Como Treinar seu Dragão, isto é, uma sociedade cuja base da vida econômica é a navegação, e que, por gerações, se habituou a combater um certo tipo de criatura que eles acreditam ser um inimigo, numa guerra irracional, mas que, ao longo da história, uma criança audaciosa acaba fazendo amizade com uma dessas criaturas e, no final consegue mudar a história, fazendo com que o conflito tenha um fim. Isso, no entanto, não diminui a qualidade dessa linda animação, que ainda se destaca por colocar mulheres negras em papeis de destaque e com arcos narrativos próprios.
Esse é um daqueles filmes que pecam pelo excesso. Principalmente, excesso de virtuosismo, uma vez que o diretor parece querer, a cada cena, mostrar as qualidades técnicas que seu filme exibe, por meio da fotografia, da cenografia, da trilha sonora.
No entanto, esse beleza exacerbada, na maior parte do filme, parece gratuita, de modo que, na maioria das cenas, a fotografia e a trilha sonora, por exemplo, resultam totalmente inadequadas à cena em si. Foram varias as vezes que a trilha sonora me deixou profundamente incomodado, atrapalhando minha imersão na história. Em muitas cenas em que ela é inserida, seria melhor se não houvesse trilha sonora nenhuma.
Esse excesso visual e sonoro acaba destoando completamente da natureza do personagem e de sua história, que deveriam ter uma abordagem mais sóbria e contida. Se, por exemplo, o diretor dividisse seu filme em duas partes, uma com o personagem em sua rotina de vida metódica, espartana e estoica, e outra, depois da descoberta da doença, quando ele passa a encarar a vida de outro modo, e então, nessa segunda parte, ele optasse por esse registro mais colorido e efusivo, aí essas escolhas estéticas, fariam algum sentido.
Ao final, a única coisa irrepreensível, no entanto, é o desempenho de Bill Night, que, ao meu ver, poderia ter sido melhor explorado e muitas cenas, nas quais o diretor parece ter mais interesse em mostrar a reação do coadjuvante do que do protagonista. Mesmo assim, o resultado fica muito aquém do original japonês dirigido pelo mestre Kurosawa.
Fraquíssima! Roteiro escrito "nas coxas", com piadas que, em sua maioria não funcionam, diálogos mal escritos e desfechos pouco convincentes. Só o que salva é o elenco, que se esforça muito para tirar leite de pedra de um material tão pobre.
A série, em essência, tem o mesmo mote que a minha favorita, Breaking Bad, isto é, a historia de um pai ganancioso que acaba envolvendo sua família de classe media, tradicional, que se vê engendrada num esquema criminoso, em uma trama cheia de reviravoltas, na qual o pai "provedor" justifica suas ações com a desculpa de que fez tudo pelo "bem da família".
A série poderia ser melhor se não tivesse tantos furos na narrativa, resultantes de alguns saltos temporais que deixam algumas coisas mal explicadas. Por exemplo, a entrada de Marty Byrde no negócio da pousada Blue Cat, que acontece de modo brusco, deixando o espectador surpreso e confuso com o seu (não) desenvolvimento.
Tirando esse probleminha, a série tem qualidades, como o elenco super afiado, seus personagens complexos, bem construídos e com motivações convincentes.
Não, o filme não retrata a protagonista como uma "prostituta de luxo".
Na verdade, o filme faz o contrário: mostra que ela, Norma Jean, era muito mais do que a personagem, Marilyn Monroe, que Hollywood criou. Eram os estúdios do cinema seus executivos, e mesmo o público, que viam nela apenas esse personagem, de um mulher linda, sensual, fútil e vazia, que só queria dinheiro e luxo, Imagem, aliás, que filmes como Os Homens preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) e Como agarrar um milionário (How to Marry a Millionaire, 1953) ajudaram a erigir.
Norma Jean era sim, linda, sensual, mas era mais, e é isso que o filme tenta mostrar. Ela gostava de ler Tchekov e Dostoievski, e os entendia. Era uma atriz que tinha talento e que conseguia mergulhar em seus papeis e compreender a complexidade de seus personagens. A cena em que ela participa da leitura/ensaio de uma peça de Arthur Miller, é exemplo disso. A conversa que ambos tem numa mesa de um Café, logo depois, também explicita o quão aquela mulher era profunda, sensível, perspicaz.
Sobretudo, o filme mostra que esse conflito entre a pessoa (Norma) e a personagem (Marilyn), aliado aos abusos sofridos desde infância (a mãe esquizofrênica, que a tenta matar) até a idade adulta (estupros, abortos forçados, violência doméstica), a carência emocional provocada pela falta da figura paterna (que ela idealizava), foram os culpados por levar essa mulher ao colapso.
A única cena que considero questionável é aquela famigerada, onde aparece o ex-presidente John F. Kennedy. Esse é o grande "calcanhar de Aquiles" do filme, que, apesar das quase 3 horas de duração, eu assisti numa só empreitada, sem pausas. A julgar pelo desdém que é dado à relação entre os dois (que não é desenvolvida minimamente a contento), parece que o objetivo do diretor/roteirista era muito de desconstruir a imagem do mítico JFK do que de ajudar a construir a personagem brilhantemente interpretada por Ana de Armas.
Esta, aliás, consegue emular com perfeição sua personagem, na voz, no olhar, nos trejeitos Indicação ao Oscar merecidíssima.
Por fim, deixo a dica do filme Os Desajustados (The Misfits, 1961) o último filme da carreira de Marilyn e também aquele onde ela entrega sua melhor atuação.
A Morte do Sr. Lazarescu
4.0 33No clássico A Divina Comédia, de Dante Aligheri, o próprio Dante visita o Inferno, depois o Purgatório e, por fim, o Paraíso. No Inferno e no Purgatório, ele é guiado pelo poeta Virgílio, autor da Eneida. No inferno, ele passa pelos 9 círculos, cada um destinado à punição de uma tipo de pecado. No Purgatório, as almas assistem às punições das outras almas que por pecarem mais "intensamente" foram para o Inferno.
No filme A Morte do Sr. Lazarescu, do romeno Cristi Puiu, temos o protagonista Lazarescu Dante Remus, um idoso de 63 anos que espera, em seu modesto apartamento na periferia de Bucareste, por uma ambulância, pois ele alega sofrer de fortes dores de cabeça e de estômago. O nome do protagonista é claramente inspirado em 3 personagens: o Lázaro, da Bíblia, que volta dos mortos; o Dante, de A Divina Comédia.
Assim como Dante, o sr. Lazarescu, em sua odisseia por vários hospitais de Bucareste numa conturbada noite de sábado, em busca de ajuda médica, atravessa um inferno, antes de encontrar alguma forma de Paraíso. Não por acaso, ao final do filme, logo após ele ser limpo e ter os cabelos raspados por 2 enfermeiras, uma delas diz: "Virgil! Ele está pronto! Leve-o para o Dr. Angel!"
Beetle Queen Conquers Tokyo
3.8 1Se alguém estiver procurando a legenda, me avise.
No OpenSubtitles só existe um arquivo, em inglês.
Eu o traduzi para o português para poder assistir a essa preciosidade.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraPobres Criaturas é uma alegoria, e, como tal, seus elementos não devem ser tomados em sentido literal, mas figurado, isto é, como metáforas. Não deveria haver qualquer dúvida a esse respeito, pela simples leitura de sua sinopse a qual deixa claro tratar-se de uma história desvinculada de qualquer realismo. A ambientação onírica do filme, por sua vez, também deixa evidente esse fato. Como exemplos, poderia citar o personagem Dr. Godwin Baxter, o qual, dentre muitas coisas, simboliza o racionalismo e o cientificismo. Já Duncan Wedderburn, por seu turno, pode ser tomado como símbolo do hedonismo. Ambos, como os demais personagens masculinos, são representações do próprio patriarcado, em suas diferentes conformações, enquanto personagens masculinos que, de algum modo, tentam controlar e possuir uma mulher.
Aqui, o cérebro da criança que é implantado no corpo de uma mulher adulta, dando origem à protagonista Bella Baxter, nada mais do que um símbolo, no sentido mais junguiano possível. Ele simboliza a pureza, a inocência, a condição de quem ainda descrobre o mundo sem ter nenhum (pré)conceito pronto. E, como toda criança não possui filtros, muitas vezes expressando sua opinião sem nenhum pudor, o cérebro infantil é também símbolo da franqueza, da ausência de falsidade ou dissimulação. O corpo da mulher adulta, no qual esse cérebro e inserido representa justamente o oposto. Simboliza o desejo, a carnalidade, a sutiliza, a dissimulação, a malícia.
É na dialética entre esses elementos opostos e contraditórios, amalgamados no corpo de Bella Baxter, que o filme opera. Desse modo, trata-se de um filme que coloca algumas questões principais, dentre muitas outras: Bella estaria fadada a viver a mesma vida que a mulher que viveu em seu corpo levou, mesmo tendo um outro cérebro? O que define Bella: o seu cérebro ou o seu corpo? Se o cérebro se molda a partir das experiências vividas pelo sujeito, e se o corpo é parte dessa experiência, seria possível afirmar que aquele cérebro, naquele corpo, é o cérebro de uma criança? Como um indívíduo, que tem um cérebro de uma criança, mas que não passou pelos processos psíquicos de castração (por exemplo), típico da infância, dentro de um corpo adulto, se comportaria perante o mundo? São questões complexas que difcilmente seriam percebidas por discípulos de charlatões como Olavo de Carvalho ou Roger Scroton, por exemplo.
Desse modo, incorre em erro crasso quem, por exemplo, enxerga pedofilia no filme, pelo fato da protagonista ter o cérebro de uma criança. Até mesmo porque, a pedofilia se baseia na atração sexual que um adulto tem em relação à um criança. Mas um pedófilo não se atrai pela mente de uma criança. Ao contrário, o que atrai um pedófilo é a própria compleição física de suas vítimas. Consequentemente, se Bella Baxter tem o corpo de uma mulher adulta, em vez de o ter o corpo de uma criança, como poderia haver pedofilia em sua história? Se os homens com os quais Bella se envolve sexualmente nem mesmo sabem que em seu corpo há um cérebro de uma criança, como é possível afirmar que sejam pedófilos? Ou seja, tais acusações não passam de delírios de pessoas cujas mentes foram atrofiadas pelas pautas morais da direita conservadora.
Inside the Yellow Cocoon Shell
3.5 2O título do filme no Brasil é "No interior do Casulo Amarelo".
Nunca Deixe de Lembrar
3.9 142 Assista AgoraFaria mais sentido se o título brasileiro do filme fosse "Nunca desvie o olhar".
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraO título do filme, "The Square" (o quadrado), tem múltiplos sentidos, fazendo com que este seja, por consequência, um filme polissêmico, que traz muitas questões para o debate, sendo a questão de "o que é arte?", a principal delas,
Nesse sentido, o quadrado pode ser a moldura que delimita uma determinada obra de arte, por exemplo, como a tela de uma pintura, o frame de uma fotografia, a tela que exibe um filme, a sala que abriga uma instalação, o palco onde se desenrola uma peça de teatro, uma apresentação de dança ou um concerto musical. Pode ser até mesmo a folha de papel onde se inscreve o texto de um romance ou os versos de um poema - ou, por que não, uma carta anônima?
Partindo desse pressuposto, o filme nos confronta, por exemplo, com o questionamento de como aquilo que se insere no espaço do que chamado arte é de fato arte, e como o público lida com tal coisa. E nos coloca uma questão difícil: somente aquilo que está posto dentro desses limites (a tela, em seus múltiplos sentidos), é que pode ser considerado arte? A arte pode ser conformada por limites tão rígidos e fixos?
Porém, o quadrado em questão pode ser também os limites daquilo que consideramos ser a sociedade civilizada, com as leis, as normas de conduta, a moralidade, a cultura e, por consequência, a própria arte. Por extensão, esse quadrado pode ser o próprio espaço onde os ditos cidadãos civilizados ocupam: as casas, os prédios, as praças, os museus, as escolas, as cidades.
E aqueles que não se encaixam totalmente nesses espaços, que vistos como intrusos neles? Isto é, os mendigos, os deficientes, os imigrantes, os pobres e periféricos, os sem escolaridade, como se inserem (ou nâo) dentro do quadrado do nosso campo de visão? Como se inserem (ou não) no quadrado do que julgamos ser civilizado e culto? Os vemos, ou os ignoramos?
Como lidamos com aquilo que não entendemos, que não apreciamos, que não planejamos, que não desejamos? Como lidamos com aquilo que não é racional harmônico, simétrico, belo?
E se o quadrado for, também, a imagem que tentamos, intencionalmente, construir e passar a respeitos de nós mesmos? Ou seja, na tela em que enquadramos aquilo que queremos que as pessoas vejam a respeito de nós mesmos, o que é que deixamos propositalmente de fora?
Enfim, assim como o filme, não tenho aqui, nesse comentário, pretensão de encerrar qualquer questão, mas deixa-las em aberto. Fechar questões produz conforto, e isso é tudo o que Ostlund não pretende com seus filmes.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraPrimeiramente, gosto bastante desses filmes que terminam e deixam a gente com "uma pulga atrás da orlelha", sem saber exatamente o que aconteceu. Tipo Anatomia de uma Queda, por exemplo.
Afinal, o menino Alyosha foi ou não foi encontrado, ao final?
O modo como o diretor constrói o drama de seus personagens e o suspense que os envolverá com o sumiço da criança, é magistral.
Aliás, essa temática de crianças que rejeitadas ou negligenciadas pelos pais, já foi explorado muito bem pelo diretor japonês Hirokazu Kore-eda, nos brilhantes Ninguém Pode Saber (2004) e Assunto de Família (2018).
O Salário do Medo
2.4 16 Assista AgoraEsse é um remake do clássico filme homônimo de 1953, dirigido pelo mestre Henry-Georges Cluzot, que já havia ganhado um outro remake em 1977, dirigido por outro mestre, William Friedkin, diretor de O Exorcista.
Uma curiosidade: o original de Cluzot é o único filme da história a ter ganhado o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim e a Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes.
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraUm filme absolutamente previsível e derivativo como esse, com pontuação 4 no Filmow. Patético!
Paul Walter Hauser fazendo o mesmo papel de sempre (vide Eu, Tonya e Inflitrando na Klan).
E Depois?
3.2 63 Assista AgoraO filme tem uma ótima premissa e um elenco irretocável, A atuação de David Oyelowo é precisa, profunda e tocante. No entanto, peca pelo roteiro, não pois consegue construir um vínculo convincente entre aquela garotinha que entra no carro junto com os pais, e o motorista, que justifique aquele abraço ela lhe dá. Em consequência, essa atitude da menina acaba parecendo aleatória demais.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraNão é um filme sobre feminismo. Não é um filme sobre libertinagem. Não é um filme sobre prostituição. Apesar de esses temas estarem presentes.
É um filme sobre "experienciar" o mundo, sobre desfrutar a realidade, em todas as suas facetas, desprovido das amarras do medo e do preconceito. É sobre se libertar de amarras morais para viver a vida em sua plenitude, buscando aprender com cada experiência.
É um filme sobre um ser humano desabrochando, se deslumbrando, se deliciando e também sofrendo, com o mundo complexo à sua volta.
Emma Stone está estupenda com Bella Baxter e o restante do elenco está à sua altura. Mereceu cada indicação que recebeu ao Oscar e demais premiações e é muito superior ao Barbie, em todos os sentidos.
Dito isso, digo mais: larguem de ser moralistas. Povo chato e recalcado da pouha!
Maestro
3.1 259Pretensioso, episódico, vazio, confuso e cansativo. Um bolo confeitado, mas carente de nutrientes. Tipo o Babilônia do Chazelle.
Só mesmo o lobby milionário da Netflix pra explicar essa bomba ter chegado ao Oscar com tantas indicações. Merecidas mesmo, só as indicações a Melhor Atriz e a Melhor Maquiagem. Mesmo assim, eu teria indicado Greta Lee, por Vidas Passadas, no lugar da Carey Mullingan.
Pensar que Bradley Cooper pegou a indicação a Melhor Ator é revoltante, tendo em vista que haviam nomes muito melhores, como Koji Yakusho por Dias Perfeitos, Andrew Scott por Todos Nos Desconhecidos, ou Leonardo Di Caprio por Assassinos da Lua das Flores.
Broker - Uma Nova Chance
3.6 29Sou fã do cinema de Hirokazu Kore-Eda, mas esse filme aqui é bem inferior aos demais. A construção dos personagens é preguiçosa, a história é confusa, o desenrolar é enfadonho e o final é decepcionante.
Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios
3.9 25O filme começa em 1945 e, quando termina, em 1952, as crianças continuam do mesmo tamanho, sem terem crescido ou envelhecido. Quem tem filhos sabe que, em 7 anos, os bichim cresce pra caramba. Esse é o único vacilo desse filme, que é ótimo.
Houve uma Vez um Verão
4.0 124Um filme simples e despretensioso, mas que consegue ser impecável em todos os detalhes. A trilha sonora, já tão falada, não apenas é belíssima, mas também é empregada magistralmente pelo diretor, sem excessos, e sem usa-la para tentar manipular os sentimentos do espectador. Na cena mais importante do filme, por exemplo, a trilha é acertadamente deixada de lado, sendo encenada em um eloquente silêncio, deixando as imagens falarem por si sós. O modo como o roteiro e a direção desenvolvem a história e os personagens, com calma e sutileza, é um deleite, Enfim, trata-se de um filme que tem um total de 0 zero defeitos, assim como a líndíssima Jennifer O'Neill. Que mulher apaixonante!
Um Toque de Classe
3.4 12O tipo de filme que, à época em que foi lançado, pareceu muito inovador, moderno e mesmo "avant garde", por mostrar uma personagem que é mulher divorciada (numa época em que o divórcio era um tabu que começava a ser quebrado e debatido), que é independente e segura, inclusive sexualmente, e que se envolve com um homem casado. Nesse aspecto, ele ousa também ao desconstruir o ideal de família, muito caro ao cinema norte-americano ainda naquela década.
Por outro lado, o modo como o personagem de George Segal é retrado, revela um certo caráter conservador do filme, uma vez que naturaliza a infidelidade masculina, tratando esse comportamento como "normal" e isento de críticas.
No entanto, vendo-o hoje, ele envelhecer bastante em todos os sentidos, numa sociedade em que o divórcio não é mais alvo de polêmica e na qual a infidelidade masculina não mais tratada como natural e inevitável.
O humor simplesmente não funcionou pra mim, simplesmente porque, depois de assistir a diversos filmes e séries que abordam a temática da relação de amor e ódio entre homens e mulheres, ele me pareceu batido, gasto.
Por fim, por melhor que seja a atuação de Glenda Jackson (e ela é, sim, muito boa), nada justifica ela ter recebido o Oscar de Melhor Atriz naquele ano em que tínhamos, por exemplo, Ellen Burstyn concorrendo por seu trabalho muito superior em O Exorcista ou Joanne Woodward por Lembranças.
Planeta Pré-Histórico (1ª Temporada)
4.4 11 Assista AgoraAlém da soberba qualidade técnica dessa série, com um CGI deslumbrante, a maior qualidade dessa série é atualizar a concepção que temos dos dinossauros, a partir das descobertas cientificas mais recentes, como por exemplo, mostrar que muitos dinossauros tinham penas, retratar o velociraptors em seu tamanho real (muito menor do que aparecem nos filmes Jurassic Park e Jurassic Wolrd), ou derrubar o mito (também difundido por esses filmes) de que a visão dos tiranossauros era baseada em movimento.
A princípio, achei estranha a aparição, em alguns momentos, de algo que perecem ser pássaros (que só apareceriam milhões de anos depois), como, por exemplo, no episódio "Deserts", na cena em que uma manada de gigantes Dreadnoughthus chegam ao deserto para acasalar; ou no episódio "Freshwater", na cena em que a femea de Quetzalcoatus nidifica numa floresta.
Pesquisando na página do documentário, descobrir que, no primeiro caso, os animais que aparecem pousando nas costas de um Dreadnoughthus, são Enantiornithes, também conhecidos como enantiornithines, que viveram na era Mesozóica; São ancestrais das aves atuais e foram extintos na fronteira entre o Cretáceo e o Paleógeno. Quase todos tinham pequenos dentes e dedos com garras em cada asa, mas fora isso pareciam muito com pássaros modernos externamente. No segundo caso, não encontrei nenhuma informação sobre o animal parecido com uma ave, de penagem negra, que está pousado em um galho e então voa quando a femea de Quetzalcoatus, após botar seus ovos, sai para se alimentar.
Holy Spider
4.0 114 Assista AgoraUm filme extremamente oportuno em uma época em que o conservadorismo e o extremismo de direita avançam.
Aqui, temos um personagem que é um homem de classe trabalhadora, ultra-religioso, frustrado com sua vida (tem um trabalho que não gosta), decide recorrer à violência para dar vazão às suas contradições internas. Violência contra aqueles que não se encaixam nos padrões morais socialmente disseminados. O filme brilha ao mostrar como essa intolerância é arraigada em sociedades teocráticas e conservadoras, e como esses crimes de ódio são praticados e validados por "gente comum", isto é, por pais e mães de família, imersos numa ideologia pautada no preconceito. Um ódio e uma ideologia que são transmitidos de pais para filhos, no seio da superestimada "familia tradicional".
Nesse ponto, aliás, se assemelha tanto aos bolsonaristas, como aquele que assassinou um petista em sua festa de aniversário no Paraná, ou aqueles dois que assassinaram várias pessoas em um bar, em Goiás, após um jogo de sinuca, ou aquele que explodiu uma bomba em um supermercado no Mato Grosso.
Se assemelha também aos jovens "incel" que, frustrados com seu fracasso social e sexual, se tornam misóginos, culpam as feministas pelo seu celibato involuntário, passam a acreditar serem "sanctvs" e decidem atacar escolas e creches (no que eles chama de "acto sancto"), matando crianças e professoras (sempre mulheres), no intuito de punir a sociedade moderna, que eles criticam, acusando-a de "depravada", "imoral", etc.
Brilha também ao mostrar o lado daquelas que são vitimas desses crimes: mulheres pobres, cujos maridos estão presos ou morreram, que precisam se prostituir para sustentar a si e aos filhos, numa sociedade onde a mulher ainda não tem os mesmos direitos que os homens, inclusive no que diz respeito ao trabalho.
Esse apelo à uma cruzada moral, aliás, é, desde o Golpe de 1964, a desculpa usada pela direita conservadora para atentar contra a democracia e perseguir "minorias", como mulheres e LGBTs. No Irã, onde se passa o filme, esse foi o argumento usado pelos conservadores, apoiados pelos ingleses e estadunidenses, para depor o primeiro-ministro progressista Mossadegh em 1953, e reconduzir ao poder o ditador xá Reza Pahlavi, que apesar de conservador, era pró-ocidente, mas que 2 décadas mais tarde seria deposto por um movimento ultra-religioso, ainda mais conservador, liderado pelo Aiatolá Khomeini.
Hoje a sociedade iraniana vive sob uma teocracia islâmica autoritária, e o peso disso sobre esses homens e mulheres pode ser visto em filmes maravilhosos como esse Holy Spider, ou outros com Não Há Mal Algum (2020), dirigido por Mohammad Rasoulof, e A Separação (2011), dirigido por Asghar Farhadi, ambos premiados com o Urso de Ouro no Festival de Berlim.
Babilônia
3.6 332 Assista AgoraPoucas vezes se viu um filme tão pretensioso, excesssivo, equivocado e cansativo.
A única cena que se salva é aquela em que Elinor, personagem de Jean Smart, conversa com Jack, personagem de Brad, e lhe diz que seu tempo acabou, mas que ele será lembrado. Esse, aliás, é dos poucos diálogos que se salvam no filme, pois, na maior parte das cenas, eles parecem ter sido escritos pelo roteirista de Quantumania.
Duvido que essas pessoas que estão elogiando o filme, dizendo ser uma bela homenagem ao cinema dos anos 20 e 30, consigam assistir a algumas das obras-primas do período (como Ouro e Maldição, de Stroheim) sem considera-las enfadonhas. Isso porque, pra apreciar esse filme, só mesmo sendo o tipo do espectador que valoriza o deslumbre visual em detrimento da profundidade dramática. É o filme frenético e exagerado, feito para agradar a geração TikTok.
De todos os filmes com mais de 2 horas de duração, esse é certamente o pior.
A Fera do Mar
3.7 236 Assista AgoraTem basicamente a mesma premissa de Como Treinar seu Dragão, isto é, uma sociedade cuja base da vida econômica é a navegação, e que, por gerações, se habituou a combater um certo tipo de criatura que eles acreditam ser um inimigo, numa guerra irracional, mas que, ao longo da história, uma criança audaciosa acaba fazendo amizade com uma dessas criaturas e, no final consegue mudar a história, fazendo com que o conflito tenha um fim. Isso, no entanto, não diminui a qualidade dessa linda animação, que ainda se destaca por colocar mulheres negras em papeis de destaque e com arcos narrativos próprios.
Viver
3.3 75Esse é um daqueles filmes que pecam pelo excesso. Principalmente, excesso de virtuosismo, uma vez que o diretor parece querer, a cada cena, mostrar as qualidades técnicas que seu filme exibe, por meio da fotografia, da cenografia, da trilha sonora.
No entanto, esse beleza exacerbada, na maior parte do filme, parece gratuita, de modo que, na maioria das cenas, a fotografia e a trilha sonora, por exemplo, resultam totalmente inadequadas à cena em si. Foram varias as vezes que a trilha sonora me deixou profundamente incomodado, atrapalhando minha imersão na história. Em muitas cenas em que ela é inserida, seria melhor se não houvesse trilha sonora nenhuma.
Esse excesso visual e sonoro acaba destoando completamente da natureza do personagem e de sua história, que deveriam ter uma abordagem mais sóbria e contida. Se, por exemplo, o diretor dividisse seu filme em duas partes, uma com o personagem em sua rotina de vida metódica, espartana e estoica, e outra, depois da descoberta da doença, quando ele passa a encarar a vida de outro modo, e então, nessa segunda parte, ele optasse por esse registro mais colorido e efusivo, aí essas escolhas estéticas, fariam algum sentido.
Ao final, a única coisa irrepreensível, no entanto, é o desempenho de Bill Night, que, ao meu ver, poderia ter sido melhor explorado e muitas cenas, nas quais o diretor parece ter mais interesse em mostrar a reação do coadjuvante do que do protagonista. Mesmo assim, o resultado fica muito aquém do original japonês dirigido pelo mestre Kurosawa.
Abbott Elementary (1ª Temporada)
4.2 57Fraquíssima! Roteiro escrito "nas coxas", com piadas que, em sua maioria não funcionam, diálogos mal escritos e desfechos pouco convincentes. Só o que salva é o elenco, que se esforça muito para tirar leite de pedra de um material tão pobre.
Ozark (1ª Temporada)
4.1 394 Assista AgoraA série, em essência, tem o mesmo mote que a minha favorita, Breaking Bad, isto é, a historia de um pai ganancioso que acaba envolvendo sua família de classe media, tradicional, que se vê engendrada num esquema criminoso, em uma trama cheia de reviravoltas, na qual o pai "provedor" justifica suas ações com a desculpa de que fez tudo pelo "bem da família".
A série poderia ser melhor se não tivesse tantos furos na narrativa, resultantes de alguns saltos temporais que deixam algumas coisas mal explicadas. Por exemplo, a entrada de Marty Byrde no negócio da pousada Blue Cat, que acontece de modo brusco, deixando o espectador surpreso e confuso com o seu (não) desenvolvimento.
Tirando esse probleminha, a série tem qualidades, como o elenco super afiado, seus personagens complexos, bem construídos e com motivações convincentes.
Blonde
2.6 443 Assista AgoraNão. Não é tão ruim quanto estão dizendo.
Não, o filme não retrata a protagonista como uma "prostituta de luxo".
Na verdade, o filme faz o contrário: mostra que ela, Norma Jean, era muito mais do que a personagem, Marilyn Monroe, que Hollywood criou. Eram os estúdios do cinema seus executivos, e mesmo o público, que viam nela apenas esse personagem, de um mulher linda, sensual, fútil e vazia, que só queria dinheiro e luxo, Imagem, aliás, que filmes como Os Homens preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) e Como agarrar um milionário (How to Marry a Millionaire, 1953) ajudaram a erigir.
Norma Jean era sim, linda, sensual, mas era mais, e é isso que o filme tenta mostrar. Ela gostava de ler Tchekov e Dostoievski, e os entendia. Era uma atriz que tinha talento e que conseguia mergulhar em seus papeis e compreender a complexidade de seus personagens. A cena em que ela participa da leitura/ensaio de uma peça de Arthur Miller, é exemplo disso. A conversa que ambos tem numa mesa de um Café, logo depois, também explicita o quão aquela mulher era profunda, sensível, perspicaz.
Sobretudo, o filme mostra que esse conflito entre a pessoa (Norma) e a personagem (Marilyn), aliado aos abusos sofridos desde infância (a mãe esquizofrênica, que a tenta matar) até a idade adulta (estupros, abortos forçados, violência doméstica), a carência emocional provocada pela falta da figura paterna (que ela idealizava), foram os culpados por levar essa mulher ao colapso.
A única cena que considero questionável é aquela famigerada, onde aparece o ex-presidente John F. Kennedy. Esse é o grande "calcanhar de Aquiles" do filme, que, apesar das quase 3 horas de duração, eu assisti numa só empreitada, sem pausas. A julgar pelo desdém que é dado à relação entre os dois (que não é desenvolvida minimamente a contento), parece que o objetivo do diretor/roteirista era muito de desconstruir a imagem do mítico JFK do que de ajudar a construir a personagem brilhantemente interpretada por Ana de Armas.
Esta, aliás, consegue emular com perfeição sua personagem, na voz, no olhar, nos trejeitos Indicação ao Oscar merecidíssima.
Por fim, deixo a dica do filme Os Desajustados (The Misfits, 1961) o último filme da carreira de Marilyn e também aquele onde ela entrega sua melhor atuação.