Interestelar tem sim suas qualidades. A cena em que o astronauta Cooper encontra-se dentro da projeção da 5ª dimensão, por exemplo, atrás da estante do quarto da filha, pode parecer absurda e inacreditável para leigos, mas para aqueles que entendem de Álgebra Linear sabem que a projeção de um "hipercubo" no espaço 3D seria muito próxima do retratado no filme, além do modo como o tempo se processa perto de grandes concentrações de massa, com a gravidade interferindo na sucessão cronológica, seja no passado ou no futuro. Para comprovar isso, basta verificar as equações da Relatividade Geral.
Porém, mesmo assim, pra mim, é o filme mais superestimado e pretensioso desse milênio. Apesar de andar com segurança por temas científicos complexos (são as qualidades mais sólidas do filme, seguidas dos efeitos e das atuações), mas derrapa quando o diretor resolve incorrer no tipo de pieguice exposto em frases como essa: "O amor é a única coisa que somos capazes de perceber que transcende dimensões de tempo e espaço. Talvez devêssemos confiar nisso, mesmo se ainda não entendemos".
Nesse ponto, onde roteiro e direção se sobressaem que os defeitos do filme se tornam tangíveis: e ao meu ver, eles são mais sólidos que suas qualidades. Além do mais, me incomoda sobremaneira essa mania (quase infantil) do diretor Christopher Nolan de explicar tudo no final. Aliás, nesse filmes, essa mania se faz sentir durante todo o filme.
Como, por exemplo, na cena em que o astronauta interpretado por Matthew McConaughey está pela primeira vez em sua vida na frente de um buraco negro e - à despeito de toda a admiração, estupefatez e perplexidade que acometeria qualquer ser humano - ele se põe a explicar de modo quase frio e calculista aquele fenômeno.
É como se Nolan se considerasse o grande e sábio cineasta, detentor das verdades, e como seu o expectador fosse incapaz de tirar suas próprias conclusões. Isso esvazia demasiadamente seus filmes, pois esgota suas possibilidades e fecha questões em vez de abri-las. Por isso, ao meu ver, Nolan nunca chegará aos pés de Kubrick ou Tarkovski e seu Interestellar está anos-luz atrás de 2001 ou de Solaris.
Spotlight, vencedor do Oscar de Melhor Filme este ano, é tido como o novo Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.
O filme de Pakula, que contava a história dos jornalistas que desvendaram o caso Watergate, que levou à renúncia de Richard Nixon, é do mesmo ano que Rocky, um Lutador, e ambos concorreram ao Oscar em 1977.
Enquanto Rock levou 3 prêmios (Filme, Diretor, Montagem), Todos os Homens do Presidente levou 4 (Melhor Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Direção de Arte e Mixagem de Som).
Em 2016 Silvester Stallone, que escreveu e protagonizou Rocky (pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator) voltou a ser indicado pelo filme Creed (como coadjuvante), interpretando o mesmo personagem que o levou ao sucesso.
Nas categorias de atuação, o filme Spotlight recebeu 2 indicações, a Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo) e Melhor Atriz Coadjuvante (Rachael McAdams). O mesmo aconteceu com o filme Todos os Homens do Presidente, que recebeu indicações a Melhor Ator Coadjuvante (Jason Robards) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Alexander).
Stallone tinha como um dos concorrente um dos atores de Spotlight (Mal Ruffallo), que era o unico ator indicado pelo filme, assim como Todos os Homens do Presidente, que tinha em Jason Robards seu único ator concorrendo ao Oscar (mas ele acabou vencendo, ao contrário de Ruffalo).
"Eu não conheço aquele negro. Mas eu sei que ele é negro. E isso é tudo o que eu preciso saber."
"Porque é quando os negros estão com medo que os brancos estão seguros."
"Senhores, eu sei que os americanos não estão aptos para deixar uma coisa pequena como a rendição incondicional ficar no caminho de uma boa guerra."
"Homens negros contando o meu dinheiro! Eu odeio isso. O único tipo de pessoa que quero contando meu dinheiro são pequenos caras que usam quipás todos os dias."
"Quando o México envia seu povo, eles não enviam seu melhor [...] Eles estão enviando pessoas que têm muitos problemas. Eles estão mandando problemas para nós. Eles estão trazendo drogas, crimes e estupradores, e alguns deles são boas pessoas."
"Eu vou construir um grande muro - e, acredite, ninguém constrói muros melhor do que eu - e vou fazer isso de um jeito muito barato. Eu vou construir uma grande muralha em nossa fronteira sul, e vou fazer o México pagar por isso. Anote essas palavras."
"As pessoas que estão vindo para este país aos milhões, não aos milhares, aos milhões, e destruindo a estrutura do país. [...] Metade é criminosa; eles estão vindo por amor?"
"Olhe para o rosto dela. Será que alguém vai votar nela? Você pode imaginar que esse será o rosto do nosso próximo presidente? Quero dizer, ela é uma mulher, e eu não deveria dizer coisas ruins, mas na verdade, gente, fala sério..."
"Não importa o que a mídia escreva desde que você tenha uma bela e jovem bunda."
Todas as frases acima, certamente, poderiam ter saído da boca de algum personagem de algum filme de Quentin Tarantino. Em geral, eles são os piores tipos: não apenas criminosos violentos, mas indivíduos racistas, machistas, xenófobos e também ufanistas. Porém, exceto as 3 primeiras, todas as demais frases foram pensadas e proferidas por Donald Trump, atual pre-candidato à presidencia dos EUA.
Tendo esse fato em mente, o novo filme de Tarantino e todas as questões que ele levanta tornam-se ainda mais relavantes, e a importancia de assistir de debater o filme se firma como inequívoca.
O filme se passa alguns anos depois da Guerra Civil (ou de Secessão), quando os EUA se dividiu em dois lados rivais: o sul, formado pelos estados escravagitas, contra o norte, pró-abolição. O conflito teve inicio quando o estados do sul se uniram, formando os Estados Confederados da América, de declararam sua separação - ou secessão - em relação ao resto do país.
Os estados do sul possuíam economias baseadas no sistema das "plantations", que tinham como características o latifúndio (grandes propriedades de terra), o uso de mão-de-obra escrava, a monocultura (plantio de uma única cultura agrícola) de algodão ou cana-de-açúcar, e produção voltada para a exportação. Suas elites, as oligarquias rurais, viam no fim da escravidão uma grave ameaça ao seu sistema econômico e, consequentemente, aos seus lucros, uma vez que isso os levaria - obviamente - à necessidade de contratar trabalhadores assalariados.
Filmes como o superestimado E o Vento Levou (Gone with the Wind, 1939), se passam durante a Guerra de Secessão e seu olhar sobre esse evento histórico é inegavelmente saudosista em relação ao sul escravagista, retratando aquela sociedade como a ideal e mascarando o modo como, de fato, os negros eram tratados naquele contexto. Nesse filme, eles parecem felizes com sua condição de seres animalizados e privados de sua liberdade e mesmo essa condição de opressão é mostrado de modo romanceado e, portanto, desonesto. A despeito de suas inegaveis qualidades técnicas e dramaturgicas, é a ideologia e os valores que permeia o filme de Victor Flemming, que foi premiado com 10 Oscars, que depõem contra ele.
Já o filme de Tarantino é implacável e até mesmo intransigente ao expor, por meio de seus personagens, as mais execráveis facetas humanas. Durante as cercade 3 horas de duração, ofensas racistas, misóginas e xenofóbicas serão ditas aos quatro ventos pelos odiados e odiáveis personagens - que não são apenas 8, como o título sugere.
É o ex-general confederado que não faz questão alguma de esconder seu desprezo pelos negros; a placa no balcão do estabelecimento comercial dizendo que ali não é permitida a entrada de cães ou de mexicanos; ou a mulher, que ao ser interpelada por ter usado o termo "nigger" para se referir a um negro, responde que já usou palavras piores para isso.
Ao final das contas, veremos que as chagas e conflitos que o filme expõe, apesar de antigas, ainda permanecem vivas naquele país. E no frigir dos ovos, veremos que apesar do mundo ter mudado muito de lá pra cá, o ser humano - que cada um de nós somos - continua o mesmo.
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Segundo o levantamento feito no Censo 2010, apesar da legislação federal considerar crime a relação sexual com menores de 14 anos (mesmo consentida, a relação é classificada como "estupro consensual"), no Brasil existem cerca de 47 mil meninas com idades de 10 a 14 anos que estão casadas.
Contudo, apesar dessa ser uma prática mais associada às regiões mais atrasadas em termos de acesso à informação e à serviços públicos básicos (como saúde e educação) e distantes dos centros urbanos, ela também tem acontecido nas áreas mais prósperas - e consequentemente mais desiguais - do país.
De acordo com uma estimativa do Unicef baseada em dados colhidos em 2011, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial do total de mulheres casadas antes dos 15 anos. No mundo, seriam cerca de 877 mil mulheres com idades entre 20 e 24 anos que admitiram ter se casado antes dos 15 anos. Todavia, essa projeção não inclui, por ausência de dados, países como Líbia, Omã, Catar, China, Bahrein, Irã, Arábia Saudita, Turquia, Kuait, Tunísia, Emirados Árabes Unidos, Israel, entre outros.
A diferença entre esses matrimônios realizados no Brasil e os mostrados no filme da diretora Deniz Gamze Ergüven, é que no Brasil, não há o peso de tradições religiosas impondo casamento forçado à meninas menores de 16 anos com homens que elas desconhecem.
No Brasil, o grande fator é a existência de famílias ainda vivendo em situação de alta vulnerabilidade econômica e social, geralmente com uma quantidade de filhos que ultrapassa a média das taxas de natalidade e fecundidade registradas. Tudo isso - pobreza, baixa escolaridade, famílias numerosas, habitações precárias e que não oferecem conforto ou espaço - faz com que essas meninas procurem desde cedo uma meio de "escapar" e ter sua independencia e seu espaço. O casamento com homens mais velhos é, geralmente, o único meio que elas conhecem para alcançar esse objetivo.
Na situação retrada no filme, porém, o casamento, em vez de representar uma possibilidade de liberdade ou fuga, representa justamente o oposto, pois, ao serem forçadas a aceitar casamentos arranjados pela família com homens que elas nunca viram, as 5 "graças" terão justamente sua liberdade - ainda que limitada - proporcionada pelo fato não serem mulheres adultas, extinta, afinal, uma vez casadas, terão que assumir o papel de esposas, donas de casas e futuras mães, mesmo que só tenha 13 ou 16 anos.
No entanto, a opressão sofrida pela mulher dentro de uma sociedade machista e patriarcal é evidente e inegável, mesmo que se figure de modos distintos: onde a mulher não possui os mesmo direitos que os homens, a liberdade delas sempre estará nas mãos deles.
Enquanto em um país, existem meninas dispostas a sacrificar sua infancia e adolescencia e se entregar à uma relação com homens em um casamento ilegal, porque vislumbra nele o único meio de melhorar, mesmo que minimamente, sua situação; em outro temos meninas forçadas a sacrificar sua infancia e adolescencia e se entregar à uma relação com homens em um casamento legal, porque essa é a única maneira de lavar a honra - dos homens - da família.
Em suma, não é fácil ser mulher em um mundo - ainda majoritariamente - machista e patriarcal, especialmente se você for pobre e viver em um país subdesenvolvido, ou se você tiver nascido num país onde valores teocráticos ainda vigorem.
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A cenas que abrem e fecham o filme estabecelem estreito diálogo uma com a outra: primeiro, um antílope correndo entre os aburtos do deserto do Mali, sendo perseguido por jihadistas do Estado Islâmico em um jipe; depois, uma garota orfã, correndo pelas dunas, completamente sozinha e vulnerável.
O filme, assim, explicita um dos seus focos: a situação de extrema vulnerabilidade da mulher numa sociedade tribal de um país africano, que piora quando a região cai no controle de um grupo armado fanático muçulmano. O outro ponto no qual ele se foca é o quanto a vida dessas mulheres sempre está submetida aos interesses e ao controle dos homens - com ou sem a entrada do EI (ou ISIS) na região.
Mas, apesar do filme se focar nessa desigualdade relativa ao sexo, aos papeís de gênero e à opressão das mulheres por homens numa sociedade machista e patriarcalista, ele também toca outros pontos importantes: a intolerancia religiosa, nesse caso, do fundamentalista Islâmico com as outras crenças tradicionais africanas, que é mostrada numa das cenas iniciais, em que imagens de divindades africanas são metralhadas pelos jihadistas; e o conflito entre as diferentes interpretações dos preceitos próprio Islã, mostrada nas cenas em que um líder religioso local tanta argumentar com o líder dos jihadistas.
Num desses diálogos, ele diz: "Não me importo com a jihad dos outros Eu faço a jihad em mim mesmo. Não tenho tempo para a jihad dos outros. Se eu não estivesse tão envolvido com meu aperfeiçoamento moral, seria o primeio a segui-lo. Oro a Deus todo-poderoso na esperança de que ele perdoe a mim e a você. Que nos ajude a afastarmo-nos da vaidade e do orgulho. Pare. Você prejudica o Islã e os muçulmanos. Você coloca crianças em perigo diante de suas próprias mães."
Jihad é um conceito islâmico que significa "guerra santa", mas que tem sido interpretada de diferentes modos, pelos mais radicais e pelos mais moderados/tolerantes dentro do Islamismo. O filme é brilhante ao mostrar esse embate de visões não apenas de mundo, mas de visões opostas sobre Deus, fé e o papel que cada um tem no mundo e em relação aos demais e à sua fé e com seu Deus. Em consequencia, o quanto essas diferentes visões influenciam a vida de uma comunidade (especialmente das mulheres), quando assumidas por aqueles que detém o poder (geralmente os homens).
Além das questões políticas, ideológicas e filosóficas, o filme tem méritos sólidos no que tange à sua estética cinematográfica. Algumas cenas são de uma pungência e beleza incomuns: os garotos jogam futebol sem bola, a mulher que é condenada à 40 chibatadas porque foi flagrada cantando, a mulher que se recusa a vestir o chador e desfila com suas roupas coloridas e laços nos cabelos, rindo e desafiando os jihadistas.
Ambas a situações decorrentes da imposição da lei islâmica, a Sharia, àquela comunidade. Todavia, todas são cenas que expressam a coragem humana de enfrantar obstáculos, proibições e tabus e capturam com maestria a beleza a poesia desses atos heróicos de pessoas comuns e anônimas.
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"Tudo aquilo que o homem ignora, não existe pra ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber." (Albert Einstein)
Jack é um menino de 5 anos que, desde nasceu, vive em um pequeno quarto com sua mãe. Nunca saiu dele, nem nunca viu nada além dele, exceto as imagens da televisão, que ele vê como irreais e não como compreende que sejam representações do mundo "lá fora". Para ele, o mundo todo é aquele quarto, com tudo o que ele encerra, e além dele há apenas um vácuo.
Jack não sabe que está ali porque sua mãe foi raptada há 7 anos atrás, que aquele quarto que para ele é tudo, para ela é o nada, é uma não-lugar: um cativeiro, uma prisão. Sua mãe, no entanto, ama Jack, mesmo ele sendo fruto de anos de abuso sexual (estupro) por parte de seu sequestrador, o qual Jack aprendeu a chamar apenas por Velho Nick, e do qual consegue ver, nas noites me que ele visita sua mãe, apenas detalhes por entre as frestas do guarda-roupas onde Jack é por ela colocado.
E o amor de mãe faz com que Ma - como ela é chamada por seu filho - faça de tudo para que esse pequeno e restrito quarto seja o melhor dos mundos para Jack, e lhe supra, ao menos o mínimo suficiente, as necessidades naturais de uma criança nessa idade, com toda a carga de curiosidade, agitação, variações de humor, perplexidade ante as novas decobertas, que ela traz consigo.
E a cada descoberta de Jack nesse mundo - e depois fora dele - nos fascinamos com ele e nos encantamos junto com ele: o que são, de verdade, as imagens na TV, pequenino rato morto, a folha seca na clarabóia, o dente de Ma, os fios elétricos, a grama molhada, as luzes, os prédios e carros, o cachorro, as novas pessoas, os brinquedos, os amigos... E a cada novo elemento que Jack inclui em seu mundo, maior eles - Jack e o mundo - se tornam.
É um filme sobre uma criança que, como no mito de Platão, sai da caverna na qual estivera cativa e vislumbra o mundo pela primeira vez e se deslumbra a cada nova descoberta. É uma uma criança que literalmente nasce novamente, saindo de uma espaço uterino dentro do qual a única presença além da sua era a própria mãe e no qual o pai era um intruso, um invasor.
Mas é também um filme sobre uma mulher que, ao conquistar a liberdade que por anos lhe fora negada, precisa enfrentar os olhares e recriminações alheios, sobre ela e sobre seu filho, como se eles não fossem a vítimas, como se de algum modo eles fossem culpados: ela, acusada por ter tido um filho com seu sequestrador e te-lo amado e mantido consigo o tempo todo; ele, por ser - como dito acima - ser o resultado de uma relação de abuso e violencia.
Um filme complicado, duro, marcante, mas que na direção humana de Lenny Abrahamson e nas atuações soberbas de Jacob Tremblay e Brie Larson consegue deleitar que assiste sem contudo suprimir o debate que a questões levantadas pelo filme sucitam. Um filme que nos deixa, ao mesmo tempo, com os olhos marejados, o coração enternecido e alma dilacerada.
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Histórias de vampiros e outros seres inumanos sempre foram usadas para expor e criticar o que nós humanos possuímos de mais essencial e os nosso piores defeitos: nossa indelével mortalidade e inevitável decreptude; nossa tendencia a nos destruirmos e também a destruirmos o que houver à nossa volta; nossa ridícula ilusão de poder e grandeza. Por meio desse casal de vampiros, Jarmusch, digamos, lança mão esses elementos, os recicla e faz um filme fascinante.
Adam é um vampiro entediado com a estupidez humana, que por séculos ele foi testemunha ocular. Está cansado de "viver" e de ver quão tolos são os homens, que ele ironicamente denomina "zumbis", certamente porque são mortos-vivos ambulantes, que seguem suas vidinhas ordinárias sem perceber o quanto são frágeis, o quanto são pasageiros, verdadeiros "cadáveres adiados".
Seus únicos heróis, os únicos homens dignos de sua admiração, foram cientista e pensadores que tentaram pensar além da mediocridade, além do senso-comum e da fé cega, mas que foram condenados, humilhados, negados ou mesmo mortos por esses "zumbis" ignorantes: Galileu, Newton, Darwin, Einstein... etc.
Eve, por sua vez, tem um amor à vida - se é isso pode ser dito sobre um ser que não está exatamente vivo - que a leva a deslumbrar-se constantemente frente à livros que lê ou relê, objetos antigos que toca, casais enamorados que contempla, entre outras efemeridades com as quais se defronta.
Em certo momento do filme ela diz para Adam que não é a primeira vez que ele entra nessas crises depressivas: "Nós já passamos por isso antes. Lembra? E você perdeu toda a verdadeira diversão: a Idade Média, os Tártaros, a Inquisição, as inundações, as pragas...". O que remete-nos ao outro diálogo, no começo do filme, entre ela e outro vampiro, mais velho, Marlowe (John Hurt), no qual ela pergunta se eles nunca irão revelar a verdade sobre serem vampiros, e o quão divertido seria ver o caos que isso causaria.
Logo, podemos depurar a partir dessa oposição entre os dois amantes atemporais que, enquanto ele é um romântico na acepção original da palavra, com toda a sua carga de melancolia, pessimismo e tragédia, ela é uma hedonista, que ama e anseia por o que de bom e prazeroso a vida pode lhe proporcionar. E como duas partícula subatômicas, uma negativa e outra positiva, elas se atraem exatamente proque se opõem e se complementam, e, mesmo separadas, estarão sempre conectadas de um modo que transcende o senso comum.
Ao final, o diretor nos mostra que esses vampiros não são tão inumanos assim, e que nós humanos, apesar de muitas vezes sermos os verdadeiros monstros, também somos capazes de iluminar, encantar e transcender a condição da matéria vil e efêmera: por meio do amor e da arte, tal qual na cantora que hipnotiza Adam num bar no Tanger, ou o casal de namorados que eles observam no final do filme.
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O novo filme de Iñarritu conta a história de um homem que sobreviveu ao ataque de uma ursa, comeu fígado cru de bisão e dormiu na carcaça de uma cavalo... tudo para ganhar um maldito Oscar.
Esse filme, pelo qual Will Smith injustamente não foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (sua atuação é muito superior à caricatura vergonhosa feita por Eddie Redmayne em A Garota Dinamarquesa) é uma história fascinante, que, para aqueles que acreditam em ilusões como o "sonho americano", a "terra das oportunidades" ou "maior democracia do mundo", pode ser surpreendente.
O filme, contudo, segue uma fórmula que funciona: a dos filmes sobre o homem (ou a mulher) simples que desafia o sistema, é perseguido, oprimido, mas não desiste e no final acaba vencendo. É o caso de filmes sobre temas tão díspares com Norma Rae (Idem, 1979) sobre a formação de sindicatos nos EUA; ou Silkwood - O Retrato de uma Coragem (Silkwood, 1983), sobre as negligência na segurança em usinas nucleares nos EUA; Erin Brokovich (Idem, 2000), sobre a contaminação de reservas subterrâneas de água por indústrias químicas nos EUA; ou Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013), que desvenda a corrupção nas indústria farmacêuticas nos EUA.
Em todos o filmes citados, os protagonista se verão envolvidos em uma luta contra grandes corporações para as quais o lucro está acima de tudo. O diferencial deste aqui é situar-se num universo que o cinema poucas vezes frequentou: do futebol americano. Quando o fez, no entanto, foi para exalta-lo, como em Campo dos Sonhos (Field of Dreams, 1989), e não para explicitar suas falhas e defeitos. E é isso que torna filme interessante e pertinente, mesmo para quem não é estadunidense e não faz a mínina ideia de como funciona esse esporte tão brutal e violento.
Acertadamente, o filme evita incorrer, durante sua narrativa, em pieguice e sentimentalismo barato - como é o caso de Sete Vidas (Seven Pounds, 2008) outro filme com Will Smith - muito embora, ele corra esse risco em quase todas as cenas em que retrata a vida familiar do protagonista (na qual o filme se detém mais do que deveria). Porém, apesar desses problemas, o filme termina de modo relativamente sóbrio, encerrando satisfatoriamente as questões levantadas.
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As pessoas, em geral, são facilmente enganadas pela aparência. Não julgar o livro pela capa, é um dito popular que todos conhecem e empregam, mas pouco realmente colocam em prática. Quando o assunto é cinema e atuação, esse paradoxo pode ser percebido sem dificuldades: muitas vezes uma atuação baseada em elementos óbvios e explícitos (como maquiagem que transforme radicalmente o ator) são mais valorizados do que atuações intimistas, profundas e baseadas em elementos mais implícitos (como olhares, gestos, pausas, silêncios...).
Isso aconteceu, por exemplo, com o desempenho de Nicole Kidman em As Horas (The Hours, 2002). Neste Aliança do Crime (Black Mass, 2015), o efeito hipónitico causado pela transformação à qual Johny Depp se submeteu, acaba atraindo todas as atenções e ofuscando o personagem mais importante do filme: o ambicioso agente do FBI John Connolly (Joel Edgerton), cuja presença em cena é que dá impulso à trama e faz com que as questões importantes sejam levantadas.
E que questões são essas? Ora, o conflito latente entre lealdade e moralidade, entre interesse e dever, entre profissionalismo e relações afetivas, ou os tênues limites entre ambição e risco, pragmatismo e oportunismo, entre usar e ser usado. Com isso não quero dizer que o desempenho de Depp não seja digno de honras, pois o que ele faz nessse filme vai além da sua superfície bizarramente construída.
Porém, é o agente Connolly quem terá a vida girada 360º ao longo das cerca de 2 horas de filme, que transitando entre céu e inferno, terá sua honestidade colocada à prova e irá da doce ilusão de estar no comando do jogo à amarga verdade de ser apenas um peão no xadrez. Afinal, de Jimmy "Whitey" Bulger (Depp) não esperamos nenhuma transformação ou reviravolta, não duvidamos de sua moralidade pois desde os trailers sabemos que ela é mais que duvidosa. Dele, só esperamos o pior - e o pior é que nos deleitamos com isso.
Contudo tão importantes quando os olhares ameaçadores de Bulger, são os olhares ao mesmo tempo mesquinhos e ingênuos, confusos e temerosos, do agente Connolly. Enquanto Bulger era lobo e sabia disso, Connolly ele era o cordeiro em pele de lobo que se pensava um lobo em pele de cordeiro. E será em torno do processo pelo meio do qual esse cordeiro tolo se reconhecerá como tal, que se concentra o filme.
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David O. Russell, nesse seu 9º filme faz um amálgama de 2 narrativas muito comuns no cinema hollywoodiano: primeiramente a história da mulher simples, de classe média, trabalhadora, que depois de muita luta e - em certa medida - de confrontação de uma certo sistema ou status quo, supera-se e vence na vida; em segundo lugar, a história do "self-made-man" (nesse caso, uma self-made-woman), que sozinho e contrariando todas as expectativas, constrói para si um império.
O primeiro tipo de narrativa pode ser encontrado em filmes como Norma Rae (idem, 1979) e Erin Brokovich (idem, 2001), os quais, junto de Joy, guardam mais uma semelhança: os 3 tem o nome de suas protagonistas como título. Já o segundo exemplo é visível em filmes como o clássico Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) ou os mais recentes Sangue Negro (There will be Blood, 2007) e A Rede Social (The Social Network, 2010). Com o clássico de Orson Welles o filme tenta estabelecer um diálogo ao apresentar, numa das cenas finais, o que seria a "rosebud" da protagonista: uma caixa com seus recortes de infância.
Mas apesar de Joy ter toda essa pretensão, ele infelizmente não cumpre com o que promete e possui defeitos sólidos: a edição comete um erro crasso quando, na transição entre suas cenas a mão da protagonista aparece enfaixada, sem que haja alguma explicação, para tal; a narração em off por parte da avó resulta mais despropositada que a de Joseph Gordon Levitt em A Travessia (The Walk, 2015); a tensão sexual insinuada entre Joy e Neil Walker, que termina sem ser resolvida; a tentativa de estabelecer uma metáfora entre Joy a cigarra, que soa um tanto forçada.
Apesar das falhas de roteiro e montagem, o filme tem no desempenho notável de seu elenco sua grande qualidade, afinal, a despeito de, no geral, ser um diretor superestimado, David O. Russell é ótimo para extrair o melhor de seus intérpretes - mesmo que, desde de O Lado Bom da Vida (Silver Linnings Playbook, 2012), eles formem uma certa "panelinha".
O filme é mudo, de traços simples - os traços de uma criança - mas sua eloquência é impar, sua mensagem ecoa e suas imagens penetram a alma e se fixam na memória.
E as questões que ele provoca são muitas: a crescente mecanização dos meios de produção; a desigualdade na distribuição (cada vez mais nas mão de poucos) e no uso (cada vez menos voltadas à satisfação das necessidades básicas da humanidade) das terras; o crescimento do latifúndio; o desemprego e a desvalorização da mão-de-obra humana; o êxodo rural (migração campo-cidade) e a consequente expansão das periferias (favelização); as desigualdades sociais; a concentração de renda; a incontrolável exploração dos recursos naturais até a exaustão de ecossistemas; a extinção de espécies; a poluição e degradação de solos, rios, mares, atmosfera; a alienação do trabalho no sistema capitalista; o consumismo; o onipresente marketing nos dizendo para comprar e comprar... enfim....
E o menino, após ver seu pai sair do campo (cujos solos estão improdutivos) para tentar conseguir emprego na cidade grande, decide ir atrás e, no caminho, se depara com diferentes situações e personagens, onde todos os problemas acima citados se apresentarão. Primeiro, numa propriedade rural, notadamente um latifundio monocultor que opera num sistema de agronegócio com estrutura tipicamente "fordista".
Em seguida, a matéria-prima (algo semelhante ao algodão) é levada para a indústria, onde é transformada em tecido. Novamente, vemos aqui temos a estrutura de produção fordista em uma linha de montagem típica, que pode remeter-nos à Tempos Modernos, de Chaplin, porém, retratada com mais amargura e menos humor - e isso não é um demérito.
Da indústria, os rolos de tecidos são transportados de navio, em numerosos contêineres, até cidades mais modernas e flutuantes, para as quais os navios e suas cargas são literalmente "abduzidos" e ali, num processo ultra-moderno, o tecido é transformado em roupas, embalado, e então retorna para as cidades hiper-populosas, poluídas e barulhentas, onde serão cobiçadas e consumidas à preços exorbitantes por aqueles que, à custa de salários baixos e horas de trabalho, participaram dos primeiros estágios de produção.
E o menino segue procurando seu pai e quando pensa tê-lo encontrado, depara-se com centenas de pais iguais aos dele, que chegam na cidade aos montes, todos, certamente, deixaram o campo pelas mesmas razões, assim como filhos e esposas. E meninos como o menino também são muitos: tanto o velho que puxa a carroça com seu cãozinho, quanto o jovem que trabalha na fábrica de tecidos e nas horas vagas é um artista mambembe, provavelmente já foram meninos cujos pais foram para cidade e nunca mais voltaram e, sem outra opção ou perspectiva, acabaram crescendo e seguindo o mesmo caminho.
Mas o filme aponta para um solução: ir contra o sistema, buscar modos alternativos de vida, de consumo, de relações sociais, trabalhistas e de modos de produção. A arte (a música, o desenho, o cinema) talvez seja o meio mais efetivo de nos re-conectarmos com nós mesmo, com a natureza e nos despir de todo excesso de artificialidade que mais danos que benefício tem proporcionado. Mas, para muitos, isso é mera ilusão, utopia. Já foram engolidos pela lógica brutal da acumulação e da exploração sem fim. Dentro deles, a Fênix da contestação já foi morta pela sombria águia do conformismo.
Esse não é só um ótimo filme, mas uma bela aula de história do cinema, que traz como pano de fundo uma mancha na história dos EUA e de Hollywood: o Macarthismo, ou a perseguição descabida e insana, por parte, inicialmente, de políticos conservadores, à diretores, roteiristas, atores e qualquer outra pessoa que tivesse envolvimento com o comunismo.
O filme conta com uma reconstituição de época impecável, que não se percebe apenas em cenários e figurinos, como também na escolha do elenco - afiadíssimo - composto de interpretes fisicamente muito parecidos com as figuras históricas que interpretam.
O desempenho de Cranston no papel do roterista combativo, polêmico e perseguido é irretocável e sem dúvidas o maior mérito do filme e - ao meu ver - a melhor atuação deste ano. Certamente irá perder o Oscar para Leonardo DiCaprio - cujo mérito é inequívoco, mas cuja atuação está um pouquinho abaixo desta aqui.
É comum traçar um paralelo entre a Inquisição, na Idade Média, àquela perseguição ocorrida em Hollywood no século passado. No entanto, é interessante notar o quanto a cegueira ideológica que levou àquela situação pode ser comparada ao que começa a se delinear na política nacional, com os insanos seguidores e apoiadores de gente como Bolsonaro e seu irracional e radical anti-comunismo, anti-petismo, anti-feminismo, anti-LGBT, entre outros grupos aos quais eles se opõem feéricamente.
Bom, deixando a seara política de lado, eis aqui uma lista dos principais personagens reais retratados no filme, seus respectivos intérpretes e uma brevíssima biografia de cada um:
Dalton Trumbo (Bryan Cranston), roteirista de filmes como A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953) e Spartacus (Idem, 1960), duas vezes premiado com o Oscar, e diretor de Johnny vai à Guerra (Johnny got his Gunn, 1939).
Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), ator que ficou conhecido especialmente por atuar em filmes Noir, como Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944).
Sam Wood (John Getz), diretor de filmes como Adeus Mr. Chips (Goodbye, Mr. Chips, 1939) e Por quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943).
John Wayne (David James Elliott), ator famoso por atuar em faroestes, especialmente sob a direção do grande Joh Ford, soba direção do qual protagonizou aquele que é tido como o maior dos faroestes: Rastros de Ódio (The Searchers, 1956).
Kirk Douglas (Dean O'Gorman), ator famoso por filmes como A Montanha dos 7 Abutres (Ace in the Hole, 1952), Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952) e Spartacus (Idem, 1960), e pai de Michael Douglas.
Louis B. Mayer (Richard Portnow), produtor de cinema conhecido como um dos fundadores do famoso estúdio de Hollywood MGM (Metro-Goldwyn-Mayer).
Hedda Hopper (Helen Mirren) atriz e famosa colunista de Hollywood, conhecida por ter o poder de destruir carreiras. Aparece no filme Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) interpretando a si mesma.
Otto Preminger (Christian Berkel) diretor de filmes como O Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1955), Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder, 1959) e Exodus (Idem, 1960).
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Apesar da reconstituição de época (figurino, cenários, maquiagem, direção de arte) ser impecável, atuação de Redmayne é deixa a desejar, resultando - a julgar pelas indicações aos prêmios - muito superestimada, uma vez que é cheia de maneirismos e afetação desnecessários. O excesso de gestos e olhares empregados pelo ator com o intuito de construir uma caracterização feminina resulta excessivamente caricata.
Assim, temos um protagonista que não consegue cativar, pois tanto ator quanto o roteiro e a direção preferiram fazer um retrato tristonho e depressivo de Lilly, que parece muito mais feliz quando é Einar. Desse modo, o filme acaba atirando no próprio pé, pois não nos convence de a transformação pela qual o personagem passa tenha sido realmente algo que o realizou, que o fez mais feliz, uma vez que ele teria encontrado/assumido sua verdadeira identidade.
Digna de mérito, porém, é o trabalho da atriz Alicia Vikander, que - semelhante ao que fez Jim Broadbent em Iris (2001) e Jennifer Hudson em Dreamgirls (2006) - rouba para si um filme irregular e deverá levar, no Oscar, o prêmio como Melhor Coadjuvante. Até a presença de outros coadjuvante mais secundários como Mathias Schoenaerts e Ben Wishaw são mais interessantes que o protagonista.
No entanto, a coragem do jovem Redmayne em - na medida de suas limitações - entregar-se à sua personagem, expondo-se até mesmo uma cena de nudez, talvez lhe possibilite alguma redenção e seja a melhor explicação para sua presença em premiações como Oscar, ocupando uma vaga que estaria melhor nas mãos de, por exemplo, Samuel L. Jackson (por Os 8 Odiados), Johnny Depp (por Aliança do Crime) ou Will Smith (por Um Homem entre Gigantes).
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Para muitos que assistiram, essa segunda cinebiografia de Steve Jobs é um filme incompleto. Certamente esperavam uma narrativa cronologicamente encadeada narrando praticamente toda a vida do biografado: a infância problemática, a juventude, a descoberta da doença, até a morte e finalizando com uma "mensagem póstuma", provavelmente em tom edificante.
Mas felizmente o filme não procura agradar ao publico mais medíocre, afinal, o filme anterior (Jobs, 2013) faz exatamente isso, ou seja: segue fórmulas já desgatadas para fazer um filme medíocre que agrada um público maior. Sabiamente, o diretor Danny Boyle e o roteirista Aaron Sorkin fogem desse caminho fácil e realizam um filme extraordinário, que talvez seja apreciado por poucos. Afinal, se Steve Jobs não fazia concessões, porque um filme sobre ele deveria fazê-las?
E esse filme, protagonizado por Michael Fassbender numa atuação irretocável (apesar de muitos terem insensatmente criticado a "falta" de semelhança física), tem outros méritos: a narrativa focada nos diálogos e mostrando os bastidores da vida de um homem que, para além de um empresário visionário que construiu uma das mais importantes marcas da história (a Apple), foi um hábil construtor de si mesmo - ou pelo menos de uma imagem idealizada de si.
O modo como o filme, nos 3 atos em que se desenvolve, desconstrói essa persona, revelando o verdadeiro Steve Jobs - egocêntrico, auto-indulgente, individualista, instransigente, ríspido - é brilhante, pois consegue derrubar a imagem heróica e gloriosa que o protagonista erigiu para si, sem contudo demoniza-lo ou vilaniza-lo. Ao contrário, o filme o humaniza - mas o faz sem cair em clichés ou incorrer em pieguice.
E não só o diretor, o roteirista e o protagonista merecem os louros: é indispensável mencionar os desempenhos de Jeff Daniels, Seth Rogen, Michael Stuhlbarg, Perla Haney-Jardine e especialmente Kate Winslet - que rouba muitas cenas e, ao meu ver, divide com Fassbender o protagonismo do filme.
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Os dois filmes dessa temporada que mais me tocaram, me deixando com nó na garganta e lágrimas nos olhos: Spotlight e O Quarto de Jack. <3 <3 <3 <3 <3 Cinco estrelas é pouco! Ainda preciso de um tempo para "lidar" com eles e então escrever mais um dos meus textões habituais aqui no Filmow.
Esi aqui um filme que expressa como poucos as idiossincrasias do nosso tempo, essa pós-modernidade tão volátil, confusa e intangível. Tempos onde os valores e as certezas de outrora estão sendo desconstruídos. Nesse sentido, poderia citar pelo menos dois outros filmes: "Clube da Luta" (também de Fincher) e "Amor sem Escalas" – cujo único defeito é esse medonho titulo que ganhou no Brasil.
Outra faceta da obra é o fato de que, tal como nas outras obras-primas Cidadão Kane, Assim Caminha a Humanidade e Sangue Negro, o protagonista (Zuckerberg) desse filme encarna o arquétipo do herói americano (e americano aqui se refere apenas aos estadunidenses), do "self made man" que, contrariando todas as expectativas e num ímpeto incansável e individualista, vencerá e prosperará.
Tal mito heróico encarna os ideias no Neoliberalismo: a concorrência, a livre iniciativa e o individualismo, em contraposição aos ideias de coletividade e de mútua colaboração. Porém, o que me chamou a atenção nesta obra do diretor de "Seven" e "Clube da Luta" é a influência que ela carrega da obra seminal de Orson Welles: Cidadão Kane. Nesta, o protagonista é um homem que – poderíamos dizer – conquistou o mundo, mas tudo o que queria era uma simples coisa que havia perdido no passado: sua “rosebud”, tão representativa da infância e da inocência perdidas.
No caso do filme de Fincher, essa “rosebud” assume a forma da namorada do protagonista, que lhe abandona logo na cena inicial, e que ele fica a contemplar, solitário e triste, na cena final da película. Ele também, por assim dizer, conquistou o mundo, mas tudo o que parecia realmente querer é aquele amor que perdeu, aquele botão de rosa que um dia teve em suas mãos, que agora encontram-se vazias (apesar de toda a sua fortuna). Outra semelhança com a obra de Welles é a narrativa não linear, bem como sua montagem complexa.
Também evoca ao filme de Welles a facilidade com a qual a personagem Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) trai os poucos amigos que tão arduamente conquistou, e a maneira como ele vê as pessoas e as próprias relações sociais: objetos que podem ser comprados, mercadorias cambiáveis e descartáveis.
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George Miller, depois de provar sua versatilidade em filmes tão distintos quanto o drama O Óleo de Lorenzo (1992), a animação Happy Feet (2006) e os outros 3 Mad Max (1979, 1981, 1985), agora coroa sua carreira com essa jóia repleta de possibilidades de leitura e interpretação, merecendo sem dúvidas o título de mestre.
Primeiramente, devemos ter em mente que esse 4º filme da franquia Mad Max é um filme de ação, e como tal, não poderia abrir mão das cenas de perseguição, das explosões, tiros e violência. E nesses aspectos, temos aqui um filme que dificilmente será superado, um verdadeiro marco - e divisor de águas - não só dentro desse gênero, mas no Cinema como um todo. Ele eleva o filme de ação a outro nível, conciliando à perfeição conceitos que alguns mais conservadores insistem em opor: ação e arte, adrenalina e reflexão.
Dito isto, devemos então entender que, por quaisquer temáticas que o roteiro ousar se enveredar, a ação não deve ser abandonada. E as searas pelas quais este Mad Max consegue se embrenhar e desbravar, sem deixar-nos retomar o fôlego por um instante sequer, são muitas: o consumismo, o esgotamento dos recursos naturais, o especismo, o machismo, o patriarcalismo, a misoginia, a cultura do estupro, o falocentrismo.
A abordagem do colapso dos biomas e ecossistemas devido à intensa exploração do recursos naturais, em prol da manutenção de uma sociedade materalista e consumista, é o mais evidente, desde os primeiros filmes da franquia, afinal, essa teria sido a causa do mundo ter se transformado no que vemos nos filmes: um imenso deserto, onde água e - por consequencia - alimentos são raros, o que torna a luta pela sobrevivencia uma tarefa árdua, diária, incansável.
O quanto a predominância do "masculino" (numa acepção mais ampla que a meramente sexual) nessa sociedade contrubui para sua falência na medida que supõe (erroneamente) que o homem tenha o direito de se apossar de tudo - e todos - pode ser, para alguns, mais difícil de enxergar, mas está lá: nas poucas comunidades humanas existentes (Cidadela, Vila Gasolina, Fazenda da Bala), o poder é exercido por grotescas figuras masculinas e patriarcais, que por meio do controle de recursos ali vitais (água, alimentos, combustível, munição), controlam todos à sua volta.
Porém, não apenas a natureza é oprimida pelo julgo do homem (o ser humano e o sexo masculino), mas na medida em que nessa sociedade predominam estruturas e valores patriarcais, machistas e falocêntricos, a mulher se encontra também no papel de oprimida. No filme, podemos ver isso nas mulheres das quais Immortan Joe se apossou: as mais velhas passam os dias sendo ordenhadas para a produção do "mother's milk", enquanto as mais novas compõem o harém para a produção dos "healthy babies" que crescerão e engrossarão as fileiras de "war boys".
Mas a mulher haverá de desempenhar outro papel aqui, pela mente e pela mão de Miller: como representante do sagrado feminino, como encarnação da Pacha Mama (a mãe terra), portadora das sementes, que carrega em si o gérmem da vida, ela será a libertadora, a redentora. E a personagem Imperatriz Furiosa, interpretada com um vigor e uma pulsação fascinantes pela fantástica Charlize Theron, é a personificação gloriosa desse arquétipo - presente em diversas mitologias, de diversos povos, mas que foi suprimida da cosmogonia ultra machista e patriarcal da cultura judaico-cristã.
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A princípio o filme pode causar algum estranhamento na platéia, pois tudo - exceto a passagem algo cômica do mal-estar durante a viagem de navio - parece fácil demais para a jovem irlandesa Eilis Lacey que deixa sua terra em busca do "sonho americano": ela parte para os EUA já tendo a garantia de um lugar onde morar e um emprego, tudo arranjado por um padre também irlandês (Jim Broadbent) que dirige uma paróquia no Brooklyn.
O "bom-mocismo" de Eilis, que prefere trabalhar como voluntária na ceia natalina que a paróquia supracitada oferece anualmente aos mendigos, em vez de festejar na pensão onde vive com amigas da mesma idade; e o namoradinho italiano bem apessoado, educado, gentil, carinhoso e atencioso - até parece que esconde algo - contribuem para criar essa sensação.
E durante a primeira meia hora do filme esse detalhe, aliado à atuação ainda pouco convincente de Saoirse Ronan contribuem, para que o espectador desenvolva certa desconfiança para com a obra. Mas a partir daí, quando se dá o primeiro encontro entre Eilis o padre Flood é que - ao meu ver - o filme deslancha e atriz finalmente encontra-se com sua personagem e lhe injeta ânimo e vigor. E então nós, que assistimos, somos inevitavelmente cativados.
O filme segue sua narrativa, demostrando - apesar de suas qualidades - ser mais um filme sobre imigrantes tentando a vida na parte norte do Novo Mundo, tal qual em obras-primas como Terra de um Sonho Distante (America, America, de 1963) de Elia Kazan, O Poderoso Chefão - Parte II (The Godfather - ParT II, 1975), ou o recente Era uma vez em Nova York (The Immigrant, 2014) de James Gray.
Contudo, quando a protagonista decide voltar à Irlanda para visitar a mãe e comparecer ao casamento de sua melhor amiga, é que ele definitivamente mostra seu valor e se diferencia de seus pares. Os dilemas que Eilis vivencia e tem de enfrentar nesse seguimento da trama é que verdadeiramente tocarão o espectador e o farão torcer e temer pelas escolhas que ela fará.
Além da bela atuação de Saiorse (perfeitamente irlandesa e contrastando na medida certa com a expansividade do italiano Tony), merecem destaque os desempenhos de Domhnall Gleeson, Emory Cohen e Julie Walters (hilária!), a trilha sonora envolvente, bem como a preciosidade dos figurinos e da direção de arte.
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Um filme muitíssimo bem realizado, com fotografia deslumbrante e efeitos visuais completamente convincentes e atuações irrepreensíveis. Em momento algum me incomodei ou tive a fruição do filme atrapalhada pela caracterização de Joseph Gordon-Levitt no papel do artista francês. Talvez tivesse sido melhor colocar um ator francês como protagonista, mas o desempenho de Gordon é totalmente crível e competente, inclusive emulando com perfeição o sotaque de sua personagem.
A narrativa em primeira pessoa, assim como a trilha sonora, emprestaram ainda mais charme ao filme. Tal é a habilidade do diretor de reconstituir a insuperável façanha de Petit, que eu, que tenho acrofobia (medo de altura), fiquei completamente atordoado nas cenas cruciais do filme. Minhas mãos e pés transpiravam, sentia um frio na barriga e um conflito entre a vontade de continuar olhando e o impulso irracional de fechar os olhos, por medo. Realmente, o filme me tirou o fôlego.
Só queria saber de que modo o final é "muito surreal" - como alguns disseram nos comentários - pois, exceto algumas liberdades que o filme de Robert Zemeckis toma em relação à história real de Philippe Petit (como a lona que escondia um fosso de elevador sob a qual ele se esconde em certo momento da trama), o reoteiro é 100% fiel no que tange à travessia entre as Torres Gêmeas. Basta assistir ao documentário Man on Wire (2008) e comparar. Não há nada de "surreal" ali - aliás, o que vejo é pessoas usando esse adjetivo sem ter a exata noção do que ele significa.
Quero ainda destacar aqui a semelhança da atriz Charlotte Le Bon com Paz Vega e Winona Rider. Ela parece ser uma mistura entre as duas! rsrs
"Yet today my love has flown away / I am without my love..."
Esse é definitivamente um filme para ser ver não apenas com os olhos, mas "nos olhos". E os olhos em questão são os olhos da magnífica atriz Charlote Rampling, numa atuação impressionante, minimalista e magistral. E é um filme para se entender nas entrelinhas, especialmente da clássica Smoke get in your Eyes, canção que encerra o filme.
Temos aqui um filme que, à semelhança e obras-primas como A Cruz dos Anos (Make Way for Tomorrow, 1937) de Leo McCarey, e Amor (Amour, 2012) de Michael Haneke, se centram na história de um casal já idoso tendo de lidar com as consequencias da velhice e os fantasmas do passado.
No caso deste filmes do diretor Andrew Haigh, temos, no decurso de uma semana - que antecede a festa de 45 anos de casamento - a história do casal Kate (Rampling) e Geoff (Tom Courtenay). Uma carta escrita em alemão trazendo a notícia de o corpo de um pessoa há muito desaparecida foi encontrado nos Alpes suiços é o estopim para um crise entre o até então harmônico casal.
Na medida que a narrativa se desenrola, segredos há muito guardados vão sendo desenterrados, e Kate começa a perceber que talvez Geoff nunca a tenha amado de verdade e que, para ele, ela tenha sido apenas uma substituta, uma segunda opção, usada para cobrir uma cicatriz que nunca se fechou e que, de repente, é novamente esgarçada.
Ao que parece, há um fantasmo no passado de Geoff que influenciou em tudo o que ele fez nos últimos 45 anos: desde a mulher com a qual se casou, cujo nome guarda semelhanças com uma figura de seu passado, até sua escolha por não ter filhos. É então que o roteiro mostra-se genial, pois, se prestarmos atenção aos pequenos detalhes (os olhos de Kate e Geoff, os cigarros que eles voltam a fumar, a letra a canção), veremos que todos eles se encaixam à perfeição, enriquecendo de sentidos e de possibilidades essa fascinante obra.
"Todos que amam são cegos Quando o seu coração está em chamas Você deve perceber A fumaça entra nos seus olhos..."
Nenhum esporte foi tão retratado nos cinemas quanto o pugilismo - ou boxe, como é mais conhecido. A origem desse esporte é controversa: alguns afirmam que surgiu na Inglaterra, outros na Irlanda, mas o esporte seria conhecido desde a antiguidade. Onomasto de Ermínia, por exemplo, pugilista vencedor nos jogos Olímpicos do ano 688 a.C., é tido como o primeiro a definir as regras do esporte.
No cinema, ele aparece desde os primeiros clássicos do cinema mudo, como em Luzes da Cidade (1925), de Chaplin. Depois em filmes consagrados como O Delator (The Informer, 1935), de John Ford, com Victor McLagen; Corpo e Alma (Body and Soul, 1947), de Robert Rossen, com John Garfield; e Marcado pela Sargeta (Somebody Up There Likes Me, 1956), de Robert Wise, com Paul Newman.
No entanto, o filme que marcou, entre o público, o esporte na sétima arte, foi Rocky, um lutador (Rocky, 1976), de John G. Avildsen. Marcou porque lançou ao estrelato o jovem Silvester Stallone - que havia começado a carreira no filme pornô e de repente se via indcado ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Roteiro -, pela trilha sonora que se tornaria lendária e pelas cenas que entrariam para o imaginário coletivo: o boxeador treinando no frigorífico, depois correndo pelas ruas e sendo seguido por uma multidão que o admira e incentiva, e finalmente subindo as escadarias e erguendo os braços para a glória.
O filme foi um sucesso tremendo, ganhou 3 Oscar (de 9 indicações) e 5 sequências, alguns inclusive dirigidas por Stallone: Rocky 2 (1979), Rocky 3 (1982), Rocky 4 (1985), Rocky 5 (1990), Rocky Balboa (2006). O último filme - por enquanto - a dar sequencia à história é Creed, Nascido para Lutar (Creed, 2915), dirigido por Ryan Coogler e protagonizado por Michael B. Jordan, acompanhando - claro - do onipresente Stallone, revivendo pela 7ª vez Rocky Balboa.
Creed, por sua vez, segue à risca não apenas os mais conhecido clichés dos filmes de boxe, como também tenta emular a estrutura do primeiro filme da saga e estabelecer um estreito diálogo com ele. Quem assistir o filme verá todos os clichés na tela: 1) o jovem herói desacreditado que precisa provar seu valor; 2) o treinador já idoso que inicialmentee se recusa a treina-lo mas depois acaba cedendo; 3) o adversário durão, temido e com ares vilanescos, que ele enfrentará no final; 4) a saúde percária do velho treinador e mentor que se converte num desafio dramático e afetivo ao personagem; 5) a briga ou confusão na qual ele se envolverá na vésperas da luta final e poderá colocar tudo a perder.
As semalhanças com o filme original/primordial também são óbvias: o treinamento "old school" que o protagonista receberá de seu mentor; a cena em que ele, correndo, será seguido pacificamente por um grupo populares, culminando num cena apoteótica; uma releitura das velhas brincadeiras do "toc, toc"; a luta final da qual ele não sairá vendedor (no filme original a vitória no combate pertence a Apollo Creed, no Brasil a dublagem dá um empate para os lutadores); o calção listrado de branco de vermelho; a subida da famosa escadaria.
Creed, assim como Rocky, não é uma obra-prima de perfeição técnica, artística e dramática, como foi Touro Indomável (Raging Bull, 1980), de Martin Scorsese, com Robert DeNiro. Nem temm om mérito de subverter a estrutura do gênero de filme em que se enquadra, como foi o caso de Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004), de Clint Eastwood, com Hillary Swank, em que o diretor mergulhava desconhecido universo do boxe feminino e estabelecia um brilhante diálogo com outro gênero cinematográfico: o western.
Creed é, nesses aspectos, convencional, à semalhança do recente Nocaute (Southpaw, 2015). Contudo, ele se destaca num ponto muito importante, que está ligado aos recentes debates sob racismo e representatividade: ter um negro como protagonista. Apesar do boxe ter tido entre os negros alguns de seus mais lendários pugilistas (Sugar Ray Robinson, Muhammad Ali, Rubin "Hurricane" Carter, Mike Tyson...), em todos os filmes acima citados, os protagonistas eram brancos. Sendo assim, o protagonismo de Jordan nesse filme acaba se constituindo numa espécie de pioneirismo. E essa iniciativa, por parte do diretor e roteirista Ryan Coogler - também ele um negro - é sem dúvida louvável.
É praticamente certo que Stallone levará a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante revivendo um personagem icônico do cinema que ele mesmo criou quando, em meados da década de 1970, escreveu em apenas três dias o roteiro de Rocky. Segundo ele, após assistir uma luta na qual até então o desconhecido Chuck Wepner, resistiu por 15 rounds em uma luta com o campeão Muhammad Ali, chegando inclusive tomba-lo certo momento da luta. É a consagração merecida por mais 30 anos dando corpo e alma pelo mais famoso lutador de boxe do cinema.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraInterestelar tem sim suas qualidades. A cena em que o astronauta Cooper encontra-se dentro da projeção da 5ª dimensão, por exemplo, atrás da estante do quarto da filha, pode parecer absurda e inacreditável para leigos, mas para aqueles que entendem de Álgebra Linear sabem que a projeção de um "hipercubo" no espaço 3D seria muito próxima do retratado no filme, além do modo como o tempo se processa perto de grandes concentrações de massa, com a gravidade interferindo na sucessão cronológica, seja no passado ou no futuro. Para comprovar isso, basta verificar as equações da Relatividade Geral.
Porém, mesmo assim, pra mim, é o filme mais superestimado e pretensioso desse milênio. Apesar de andar com segurança por temas científicos complexos (são as qualidades mais sólidas do filme, seguidas dos efeitos e das atuações), mas derrapa quando o diretor resolve incorrer no tipo de pieguice exposto em frases como essa: "O amor é a única coisa que somos capazes de perceber que transcende dimensões de tempo e espaço. Talvez devêssemos confiar nisso, mesmo se ainda não entendemos".
Nesse ponto, onde roteiro e direção se sobressaem que os defeitos do filme se tornam tangíveis: e ao meu ver, eles são mais sólidos que suas qualidades. Além do mais, me incomoda sobremaneira essa mania (quase infantil) do diretor Christopher Nolan de explicar tudo no final. Aliás, nesse filmes, essa mania se faz sentir durante todo o filme.
Como, por exemplo, na cena em que o astronauta interpretado por Matthew McConaughey está pela primeira vez em sua vida na frente de um buraco negro e - à despeito de toda a admiração, estupefatez e perplexidade que acometeria qualquer ser humano - ele se põe a explicar de modo quase frio e calculista aquele fenômeno.
É como se Nolan se considerasse o grande e sábio cineasta, detentor das verdades, e como seu o expectador fosse incapaz de tirar suas próprias conclusões. Isso esvazia demasiadamente seus filmes, pois esgota suas possibilidades e fecha questões em vez de abri-las. Por isso, ao meu ver, Nolan nunca chegará aos pés de Kubrick ou Tarkovski e seu Interestellar está anos-luz atrás de 2001 ou de Solaris.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraCURIOSIDADES:
Spotlight, vencedor do Oscar de Melhor Filme este ano, é tido como o novo Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.
O filme de Pakula, que contava a história dos jornalistas que desvendaram o caso Watergate, que levou à renúncia de Richard Nixon, é do mesmo ano que Rocky, um Lutador, e ambos concorreram ao Oscar em 1977.
Enquanto Rock levou 3 prêmios (Filme, Diretor, Montagem), Todos os Homens do Presidente levou 4 (Melhor Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Direção de Arte e Mixagem de Som).
Em 2016 Silvester Stallone, que escreveu e protagonizou Rocky (pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator) voltou a ser indicado pelo filme Creed (como coadjuvante), interpretando o mesmo personagem que o levou ao sucesso.
Nas categorias de atuação, o filme Spotlight recebeu 2 indicações, a Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo) e Melhor Atriz Coadjuvante (Rachael McAdams). O mesmo aconteceu com o filme Todos os Homens do Presidente, que recebeu indicações a Melhor Ator Coadjuvante (Jason Robards) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Alexander).
Stallone tinha como um dos concorrente um dos atores de Spotlight (Mal Ruffallo), que era o unico ator indicado pelo filme, assim como Todos os Homens do Presidente, que tinha em Jason Robards seu único ator concorrendo ao Oscar (mas ele acabou vencendo, ao contrário de Ruffalo).
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista Agora"Eu não conheço aquele negro. Mas eu sei que ele é negro. E isso é tudo o que eu preciso saber."
"Porque é quando os negros estão com medo que os brancos estão seguros."
"Senhores, eu sei que os americanos não estão aptos para deixar uma coisa pequena como a rendição incondicional ficar no caminho de uma boa guerra."
"Homens negros contando o meu dinheiro! Eu odeio isso. O único tipo de pessoa que quero contando meu dinheiro são pequenos caras que usam quipás todos os dias."
"Quando o México envia seu povo, eles não enviam seu melhor [...] Eles estão enviando pessoas que têm muitos problemas. Eles estão mandando problemas para nós. Eles estão trazendo drogas, crimes e estupradores, e alguns deles são boas pessoas."
"Eu vou construir um grande muro - e, acredite, ninguém constrói muros melhor do que eu - e vou fazer isso de um jeito muito barato. Eu vou construir uma grande muralha em nossa fronteira sul, e vou fazer o México pagar por isso. Anote essas palavras."
"As pessoas que estão vindo para este país aos milhões, não aos milhares, aos milhões, e destruindo a estrutura do país. [...] Metade é criminosa; eles estão vindo por amor?"
"Olhe para o rosto dela. Será que alguém vai votar nela? Você pode imaginar que esse será o rosto do nosso próximo presidente? Quero dizer, ela é uma mulher, e eu não deveria dizer coisas ruins, mas na verdade, gente, fala sério..."
"Não importa o que a mídia escreva desde que você tenha uma bela e jovem bunda."
Todas as frases acima, certamente, poderiam ter saído da boca de algum personagem de algum filme de Quentin Tarantino. Em geral, eles são os piores tipos: não apenas criminosos violentos, mas indivíduos racistas, machistas, xenófobos e também ufanistas. Porém, exceto as 3 primeiras, todas as demais frases foram pensadas e proferidas por Donald Trump, atual pre-candidato à presidencia dos EUA.
Tendo esse fato em mente, o novo filme de Tarantino e todas as questões que ele levanta tornam-se ainda mais relavantes, e a importancia de assistir de debater o filme se firma como inequívoca.
O filme se passa alguns anos depois da Guerra Civil (ou de Secessão), quando os EUA se dividiu em dois lados rivais: o sul, formado pelos estados escravagitas, contra o norte, pró-abolição. O conflito teve inicio quando o estados do sul se uniram, formando os Estados Confederados da América, de declararam sua separação - ou secessão - em relação ao resto do país.
Os estados do sul possuíam economias baseadas no sistema das "plantations", que tinham como características o latifúndio (grandes propriedades de terra), o uso de mão-de-obra escrava, a monocultura (plantio de uma única cultura agrícola) de algodão ou cana-de-açúcar, e produção voltada para a exportação. Suas elites, as oligarquias rurais, viam no fim da escravidão uma grave ameaça ao seu sistema econômico e, consequentemente, aos seus lucros, uma vez que isso os levaria - obviamente - à necessidade de contratar trabalhadores assalariados.
Filmes como o superestimado E o Vento Levou (Gone with the Wind, 1939), se passam durante a Guerra de Secessão e seu olhar sobre esse evento histórico é inegavelmente saudosista em relação ao sul escravagista, retratando aquela sociedade como a ideal e mascarando o modo como, de fato, os negros eram tratados naquele contexto. Nesse filme, eles parecem felizes com sua condição de seres animalizados e privados de sua liberdade e mesmo essa condição de opressão é mostrado de modo romanceado e, portanto, desonesto. A despeito de suas inegaveis qualidades técnicas e dramaturgicas, é a ideologia e os valores que permeia o filme de Victor Flemming, que foi premiado com 10 Oscars, que depõem contra ele.
Já o filme de Tarantino é implacável e até mesmo intransigente ao expor, por meio de seus personagens, as mais execráveis facetas humanas. Durante as cercade 3 horas de duração, ofensas racistas, misóginas e xenofóbicas serão ditas aos quatro ventos pelos odiados e odiáveis personagens - que não são apenas 8, como o título sugere.
É o ex-general confederado que não faz questão alguma de esconder seu desprezo pelos negros; a placa no balcão do estabelecimento comercial dizendo que ali não é permitida a entrada de cães ou de mexicanos; ou a mulher, que ao ser interpelada por ter usado o termo "nigger" para se referir a um negro, responde que já usou palavras piores para isso.
Ao final das contas, veremos que as chagas e conflitos que o filme expõe, apesar de antigas, ainda permanecem vivas naquele país. E no frigir dos ovos, veremos que apesar do mundo ter mudado muito de lá pra cá, o ser humano - que cada um de nós somos - continua o mesmo.
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Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraSegundo o levantamento feito no Censo 2010, apesar da legislação federal considerar crime a relação sexual com menores de 14 anos (mesmo consentida, a relação é classificada como "estupro consensual"), no Brasil existem cerca de 47 mil meninas com idades de 10 a 14 anos que estão casadas.
Contudo, apesar dessa ser uma prática mais associada às regiões mais atrasadas em termos de acesso à informação e à serviços públicos básicos (como saúde e educação) e distantes dos centros urbanos, ela também tem acontecido nas áreas mais prósperas - e consequentemente mais desiguais - do país.
De acordo com uma estimativa do Unicef baseada em dados colhidos em 2011, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial do total de mulheres casadas antes dos 15 anos. No mundo, seriam cerca de 877 mil mulheres com idades entre 20 e 24 anos que admitiram ter se casado antes dos 15 anos. Todavia, essa projeção não inclui, por ausência de dados, países como Líbia, Omã, Catar, China, Bahrein, Irã, Arábia Saudita, Turquia, Kuait, Tunísia, Emirados Árabes Unidos, Israel, entre outros.
A diferença entre esses matrimônios realizados no Brasil e os mostrados no filme da diretora Deniz Gamze Ergüven, é que no Brasil, não há o peso de tradições religiosas impondo casamento forçado à meninas menores de 16 anos com homens que elas desconhecem.
No Brasil, o grande fator é a existência de famílias ainda vivendo em situação de alta vulnerabilidade econômica e social, geralmente com uma quantidade de filhos que ultrapassa a média das taxas de natalidade e fecundidade registradas. Tudo isso - pobreza, baixa escolaridade, famílias numerosas, habitações precárias e que não oferecem conforto ou espaço - faz com que essas meninas procurem desde cedo uma meio de "escapar" e ter sua independencia e seu espaço. O casamento com homens mais velhos é, geralmente, o único meio que elas conhecem para alcançar esse objetivo.
Na situação retrada no filme, porém, o casamento, em vez de representar uma possibilidade de liberdade ou fuga, representa justamente o oposto, pois, ao serem forçadas a aceitar casamentos arranjados pela família com homens que elas nunca viram, as 5 "graças" terão justamente sua liberdade - ainda que limitada - proporcionada pelo fato não serem mulheres adultas, extinta, afinal, uma vez casadas, terão que assumir o papel de esposas, donas de casas e futuras mães, mesmo que só tenha 13 ou 16 anos.
No entanto, a opressão sofrida pela mulher dentro de uma sociedade machista e patriarcal é evidente e inegável, mesmo que se figure de modos distintos: onde a mulher não possui os mesmo direitos que os homens, a liberdade delas sempre estará nas mãos deles.
Enquanto em um país, existem meninas dispostas a sacrificar sua infancia e adolescencia e se entregar à uma relação com homens em um casamento ilegal, porque vislumbra nele o único meio de melhorar, mesmo que minimamente, sua situação; em outro temos meninas forçadas a sacrificar sua infancia e adolescencia e se entregar à uma relação com homens em um casamento legal, porque essa é a única maneira de lavar a honra - dos homens - da família.
Em suma, não é fácil ser mulher em um mundo - ainda majoritariamente - machista e patriarcal, especialmente se você for pobre e viver em um país subdesenvolvido, ou se você tiver nascido num país onde valores teocráticos ainda vigorem.
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Timbuktu
3.8 134 Assista AgoraA cenas que abrem e fecham o filme estabecelem estreito diálogo uma com a outra: primeiro, um antílope correndo entre os aburtos do deserto do Mali, sendo perseguido por jihadistas do Estado Islâmico em um jipe; depois, uma garota orfã, correndo pelas dunas, completamente sozinha e vulnerável.
O filme, assim, explicita um dos seus focos: a situação de extrema vulnerabilidade da mulher numa sociedade tribal de um país africano, que piora quando a região cai no controle de um grupo armado fanático muçulmano. O outro ponto no qual ele se foca é o quanto a vida dessas mulheres sempre está submetida aos interesses e ao controle dos homens - com ou sem a entrada do EI (ou ISIS) na região.
Mas, apesar do filme se focar nessa desigualdade relativa ao sexo, aos papeís de gênero e à opressão das mulheres por homens numa sociedade machista e patriarcalista, ele também toca outros pontos importantes: a intolerancia religiosa, nesse caso, do fundamentalista Islâmico com as outras crenças tradicionais africanas, que é mostrada numa das cenas iniciais, em que imagens de divindades africanas são metralhadas pelos jihadistas; e o conflito entre as diferentes interpretações dos preceitos próprio Islã, mostrada nas cenas em que um líder religioso local tanta argumentar com o líder dos jihadistas.
Num desses diálogos, ele diz: "Não me importo com a jihad dos outros Eu faço a jihad em mim mesmo. Não tenho tempo para a jihad dos outros. Se eu não estivesse tão envolvido com meu aperfeiçoamento moral, seria o primeio a segui-lo. Oro a Deus todo-poderoso na esperança de que ele perdoe a mim e a você. Que nos ajude a afastarmo-nos da vaidade e do orgulho. Pare. Você prejudica o Islã e os muçulmanos. Você coloca crianças em perigo diante de suas próprias mães."
Jihad é um conceito islâmico que significa "guerra santa", mas que tem sido interpretada de diferentes modos, pelos mais radicais e pelos mais moderados/tolerantes dentro do Islamismo. O filme é brilhante ao mostrar esse embate de visões não apenas de mundo, mas de visões opostas sobre Deus, fé e o papel que cada um tem no mundo e em relação aos demais e à sua fé e com seu Deus. Em consequencia, o quanto essas diferentes visões influenciam a vida de uma comunidade (especialmente das mulheres), quando assumidas por aqueles que detém o poder (geralmente os homens).
Além das questões políticas, ideológicas e filosóficas, o filme tem méritos sólidos no que tange à sua estética cinematográfica. Algumas cenas são de uma pungência e beleza incomuns: os garotos jogam futebol sem bola, a mulher que é condenada à 40 chibatadas porque foi flagrada cantando, a mulher que se recusa a vestir o chador e desfila com suas roupas coloridas e laços nos cabelos, rindo e desafiando os jihadistas.
Ambas a situações decorrentes da imposição da lei islâmica, a Sharia, àquela comunidade. Todavia, todas são cenas que expressam a coragem humana de enfrantar obstáculos, proibições e tabus e capturam com maestria a beleza a poesia desses atos heróicos de pessoas comuns e anônimas.
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O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista Agora"Tudo aquilo que o homem ignora, não existe pra ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber." (Albert Einstein)
Jack é um menino de 5 anos que, desde nasceu, vive em um pequeno quarto com sua mãe. Nunca saiu dele, nem nunca viu nada além dele, exceto as imagens da televisão, que ele vê como irreais e não como compreende que sejam representações do mundo "lá fora". Para ele, o mundo todo é aquele quarto, com tudo o que ele encerra, e além dele há apenas um vácuo.
Jack não sabe que está ali porque sua mãe foi raptada há 7 anos atrás, que aquele quarto que para ele é tudo, para ela é o nada, é uma não-lugar: um cativeiro, uma prisão. Sua mãe, no entanto, ama Jack, mesmo ele sendo fruto de anos de abuso sexual (estupro) por parte de seu sequestrador, o qual Jack aprendeu a chamar apenas por Velho Nick, e do qual consegue ver, nas noites me que ele visita sua mãe, apenas detalhes por entre as frestas do guarda-roupas onde Jack é por ela colocado.
E o amor de mãe faz com que Ma - como ela é chamada por seu filho - faça de tudo para que esse pequeno e restrito quarto seja o melhor dos mundos para Jack, e lhe supra, ao menos o mínimo suficiente, as necessidades naturais de uma criança nessa idade, com toda a carga de curiosidade, agitação, variações de humor, perplexidade ante as novas decobertas, que ela traz consigo.
E a cada descoberta de Jack nesse mundo - e depois fora dele - nos fascinamos com ele e nos encantamos junto com ele: o que são, de verdade, as imagens na TV, pequenino rato morto, a folha seca na clarabóia, o dente de Ma, os fios elétricos, a grama molhada, as luzes, os prédios e carros, o cachorro, as novas pessoas, os brinquedos, os amigos... E a cada novo elemento que Jack inclui em seu mundo, maior eles - Jack e o mundo - se tornam.
É um filme sobre uma criança que, como no mito de Platão, sai da caverna na qual estivera cativa e vislumbra o mundo pela primeira vez e se deslumbra a cada nova descoberta. É uma uma criança que literalmente nasce novamente, saindo de uma espaço uterino dentro do qual a única presença além da sua era a própria mãe e no qual o pai era um intruso, um invasor.
Mas é também um filme sobre uma mulher que, ao conquistar a liberdade que por anos lhe fora negada, precisa enfrentar os olhares e recriminações alheios, sobre ela e sobre seu filho, como se eles não fossem a vítimas, como se de algum modo eles fossem culpados: ela, acusada por ter tido um filho com seu sequestrador e te-lo amado e mantido consigo o tempo todo; ele, por ser - como dito acima - ser o resultado de uma relação de abuso e violencia.
Um filme complicado, duro, marcante, mas que na direção humana de Lenny Abrahamson e nas atuações soberbas de Jacob Tremblay e Brie Larson consegue deleitar que assiste sem contudo suprimir o debate que a questões levantadas pelo filme sucitam. Um filme que nos deixa, ao mesmo tempo, com os olhos marejados, o coração enternecido e alma dilacerada.
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Amantes Eternos
3.8 783 Assista AgoraHistórias de vampiros e outros seres inumanos sempre foram usadas para expor e criticar o que nós humanos possuímos de mais essencial e os nosso piores defeitos: nossa indelével mortalidade e inevitável decreptude; nossa tendencia a nos destruirmos e também a destruirmos o que houver à nossa volta; nossa ridícula ilusão de poder e grandeza. Por meio desse casal de vampiros, Jarmusch, digamos, lança mão esses elementos, os recicla e faz um filme fascinante.
Adam é um vampiro entediado com a estupidez humana, que por séculos ele foi testemunha ocular. Está cansado de "viver" e de ver quão tolos são os homens, que ele ironicamente denomina "zumbis", certamente porque são mortos-vivos ambulantes, que seguem suas vidinhas ordinárias sem perceber o quanto são frágeis, o quanto são pasageiros, verdadeiros "cadáveres adiados".
Seus únicos heróis, os únicos homens dignos de sua admiração, foram cientista e pensadores que tentaram pensar além da mediocridade, além do senso-comum e da fé cega, mas que foram condenados, humilhados, negados ou mesmo mortos por esses "zumbis" ignorantes: Galileu, Newton, Darwin, Einstein... etc.
Eve, por sua vez, tem um amor à vida - se é isso pode ser dito sobre um ser que não está exatamente vivo - que a leva a deslumbrar-se constantemente frente à livros que lê ou relê, objetos antigos que toca, casais enamorados que contempla, entre outras efemeridades com as quais se defronta.
Em certo momento do filme ela diz para Adam que não é a primeira vez que ele entra nessas crises depressivas: "Nós já passamos por isso antes. Lembra? E você perdeu toda a verdadeira diversão: a Idade Média, os Tártaros, a Inquisição, as inundações, as pragas...". O que remete-nos ao outro diálogo, no começo do filme, entre ela e outro vampiro, mais velho, Marlowe (John Hurt), no qual ela pergunta se eles nunca irão revelar a verdade sobre serem vampiros, e o quão divertido seria ver o caos que isso causaria.
Logo, podemos depurar a partir dessa oposição entre os dois amantes atemporais que, enquanto ele é um romântico na acepção original da palavra, com toda a sua carga de melancolia, pessimismo e tragédia, ela é uma hedonista, que ama e anseia por o que de bom e prazeroso a vida pode lhe proporcionar. E como duas partícula subatômicas, uma negativa e outra positiva, elas se atraem exatamente proque se opõem e se complementam, e, mesmo separadas, estarão sempre conectadas de um modo que transcende o senso comum.
Ao final, o diretor nos mostra que esses vampiros não são tão inumanos assim, e que nós humanos, apesar de muitas vezes sermos os verdadeiros monstros, também somos capazes de iluminar, encantar e transcender a condição da matéria vil e efêmera: por meio do amor e da arte, tal qual na cantora que hipnotiza Adam num bar no Tanger, ou o casal de namorados que eles observam no final do filme.
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O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraO novo filme de Iñarritu conta a história de um homem que sobreviveu ao ataque de uma ursa, comeu fígado cru de bisão e dormiu na carcaça de uma cavalo... tudo para ganhar um maldito Oscar.
Um Homem Entre Gigantes
3.8 323 Assista AgoraEsse filme, pelo qual Will Smith injustamente não foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (sua atuação é muito superior à caricatura vergonhosa feita por Eddie Redmayne em A Garota Dinamarquesa) é uma história fascinante, que, para aqueles que acreditam em ilusões como o "sonho americano", a "terra das oportunidades" ou "maior democracia do mundo", pode ser surpreendente.
O filme, contudo, segue uma fórmula que funciona: a dos filmes sobre o homem (ou a mulher) simples que desafia o sistema, é perseguido, oprimido, mas não desiste e no final acaba vencendo. É o caso de filmes sobre temas tão díspares com Norma Rae (Idem, 1979) sobre a formação de sindicatos nos EUA; ou Silkwood - O Retrato de uma Coragem (Silkwood, 1983), sobre as negligência na segurança em usinas nucleares nos EUA; Erin Brokovich (Idem, 2000), sobre a contaminação de reservas subterrâneas de água por indústrias químicas nos EUA; ou Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013), que desvenda a corrupção nas indústria farmacêuticas nos EUA.
Em todos o filmes citados, os protagonista se verão envolvidos em uma luta contra grandes corporações para as quais o lucro está acima de tudo. O diferencial deste aqui é situar-se num universo que o cinema poucas vezes frequentou: do futebol americano. Quando o fez, no entanto, foi para exalta-lo, como em Campo dos Sonhos (Field of Dreams, 1989), e não para explicitar suas falhas e defeitos. E é isso que torna filme interessante e pertinente, mesmo para quem não é estadunidense e não faz a mínina ideia de como funciona esse esporte tão brutal e violento.
Acertadamente, o filme evita incorrer, durante sua narrativa, em pieguice e sentimentalismo barato - como é o caso de Sete Vidas (Seven Pounds, 2008) outro filme com Will Smith - muito embora, ele corra esse risco em quase todas as cenas em que retrata a vida familiar do protagonista (na qual o filme se detém mais do que deveria). Porém, apesar desses problemas, o filme termina de modo relativamente sóbrio, encerrando satisfatoriamente as questões levantadas.
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Aliança do Crime
3.4 408 Assista AgoraAs pessoas, em geral, são facilmente enganadas pela aparência. Não julgar o livro pela capa, é um dito popular que todos conhecem e empregam, mas pouco realmente colocam em prática. Quando o assunto é cinema e atuação, esse paradoxo pode ser percebido sem dificuldades: muitas vezes uma atuação baseada em elementos óbvios e explícitos (como maquiagem que transforme radicalmente o ator) são mais valorizados do que atuações intimistas, profundas e baseadas em elementos mais implícitos (como olhares, gestos, pausas, silêncios...).
Isso aconteceu, por exemplo, com o desempenho de Nicole Kidman em As Horas (The Hours, 2002). Neste Aliança do Crime (Black Mass, 2015), o efeito hipónitico causado pela transformação à qual Johny Depp se submeteu, acaba atraindo todas as atenções e ofuscando o personagem mais importante do filme: o ambicioso agente do FBI John Connolly (Joel Edgerton), cuja presença em cena é que dá impulso à trama e faz com que as questões importantes sejam levantadas.
E que questões são essas? Ora, o conflito latente entre lealdade e moralidade, entre interesse e dever, entre profissionalismo e relações afetivas, ou os tênues limites entre ambição e risco, pragmatismo e oportunismo, entre usar e ser usado. Com isso não quero dizer que o desempenho de Depp não seja digno de honras, pois o que ele faz nessse filme vai além da sua superfície bizarramente construída.
Porém, é o agente Connolly quem terá a vida girada 360º ao longo das cerca de 2 horas de filme, que transitando entre céu e inferno, terá sua honestidade colocada à prova e irá da doce ilusão de estar no comando do jogo à amarga verdade de ser apenas um peão no xadrez. Afinal, de Jimmy "Whitey" Bulger (Depp) não esperamos nenhuma transformação ou reviravolta, não duvidamos de sua moralidade pois desde os trailers sabemos que ela é mais que duvidosa. Dele, só esperamos o pior - e o pior é que nos deleitamos com isso.
Contudo tão importantes quando os olhares ameaçadores de Bulger, são os olhares ao mesmo tempo mesquinhos e ingênuos, confusos e temerosos, do agente Connolly. Enquanto Bulger era lobo e sabia disso, Connolly ele era o cordeiro em pele de lobo que se pensava um lobo em pele de cordeiro. E será em torno do processo pelo meio do qual esse cordeiro tolo se reconhecerá como tal, que se concentra o filme.
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Joy: O Nome do Sucesso
3.4 778 Assista AgoraDavid O. Russell, nesse seu 9º filme faz um amálgama de 2 narrativas muito comuns no cinema hollywoodiano: primeiramente a história da mulher simples, de classe média, trabalhadora, que depois de muita luta e - em certa medida - de confrontação de uma certo sistema ou status quo, supera-se e vence na vida; em segundo lugar, a história do "self-made-man" (nesse caso, uma self-made-woman), que sozinho e contrariando todas as expectativas, constrói para si um império.
O primeiro tipo de narrativa pode ser encontrado em filmes como Norma Rae (idem, 1979) e Erin Brokovich (idem, 2001), os quais, junto de Joy, guardam mais uma semelhança: os 3 tem o nome de suas protagonistas como título. Já o segundo exemplo é visível em filmes como o clássico Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) ou os mais recentes Sangue Negro (There will be Blood, 2007) e A Rede Social (The Social Network, 2010). Com o clássico de Orson Welles o filme tenta estabelecer um diálogo ao apresentar, numa das cenas finais, o que seria a "rosebud" da protagonista: uma caixa com seus recortes de infância.
Mas apesar de Joy ter toda essa pretensão, ele infelizmente não cumpre com o que promete e possui defeitos sólidos: a edição comete um erro crasso quando, na transição entre suas cenas a mão da protagonista aparece enfaixada, sem que haja alguma explicação, para tal; a narração em off por parte da avó resulta mais despropositada que a de Joseph Gordon Levitt em A Travessia (The Walk, 2015); a tensão sexual insinuada entre Joy e Neil Walker, que termina sem ser resolvida; a tentativa de estabelecer uma metáfora entre Joy a cigarra, que soa um tanto forçada.
Apesar das falhas de roteiro e montagem, o filme tem no desempenho notável de seu elenco sua grande qualidade, afinal, a despeito de, no geral, ser um diretor superestimado, David O. Russell é ótimo para extrair o melhor de seus intérpretes - mesmo que, desde de O Lado Bom da Vida (Silver Linnings Playbook, 2012), eles formem uma certa "panelinha".
O Menino e o Mundo
4.3 735 Assista AgoraO filme é mudo, de traços simples - os traços de uma criança - mas sua eloquência é impar, sua mensagem ecoa e suas imagens penetram a alma e se fixam na memória.
E as questões que ele provoca são muitas: a crescente mecanização dos meios de produção; a desigualdade na distribuição (cada vez mais nas mão de poucos) e no uso (cada vez menos voltadas à satisfação das necessidades básicas da humanidade) das terras; o crescimento do latifúndio; o desemprego e a desvalorização da mão-de-obra humana; o êxodo rural (migração campo-cidade) e a consequente expansão das periferias (favelização); as desigualdades sociais; a concentração de renda; a incontrolável exploração dos recursos naturais até a exaustão de ecossistemas; a extinção de espécies; a poluição e degradação de solos, rios, mares, atmosfera; a alienação do trabalho no sistema capitalista; o consumismo; o onipresente marketing nos dizendo para comprar e comprar... enfim....
E o menino, após ver seu pai sair do campo (cujos solos estão improdutivos) para tentar conseguir emprego na cidade grande, decide ir atrás e, no caminho, se depara com diferentes situações e personagens, onde todos os problemas acima citados se apresentarão. Primeiro, numa propriedade rural, notadamente um latifundio monocultor que opera num sistema de agronegócio com estrutura tipicamente "fordista".
Em seguida, a matéria-prima (algo semelhante ao algodão) é levada para a indústria, onde é transformada em tecido. Novamente, vemos aqui temos a estrutura de produção fordista em uma linha de montagem típica, que pode remeter-nos à Tempos Modernos, de Chaplin, porém, retratada com mais amargura e menos humor - e isso não é um demérito.
Da indústria, os rolos de tecidos são transportados de navio, em numerosos contêineres, até cidades mais modernas e flutuantes, para as quais os navios e suas cargas são literalmente "abduzidos" e ali, num processo ultra-moderno, o tecido é transformado em roupas, embalado, e então retorna para as cidades hiper-populosas, poluídas e barulhentas, onde serão cobiçadas e consumidas à preços exorbitantes por aqueles que, à custa de salários baixos e horas de trabalho, participaram dos primeiros estágios de produção.
E o menino segue procurando seu pai e quando pensa tê-lo encontrado, depara-se com centenas de pais iguais aos dele, que chegam na cidade aos montes, todos, certamente, deixaram o campo pelas mesmas razões, assim como filhos e esposas. E meninos como o menino também são muitos: tanto o velho que puxa a carroça com seu cãozinho, quanto o jovem que trabalha na fábrica de tecidos e nas horas vagas é um artista mambembe, provavelmente já foram meninos cujos pais foram para cidade e nunca mais voltaram e, sem outra opção ou perspectiva, acabaram crescendo e seguindo o mesmo caminho.
Mas o filme aponta para um solução: ir contra o sistema, buscar modos alternativos de vida, de consumo, de relações sociais, trabalhistas e de modos de produção. A arte (a música, o desenho, o cinema) talvez seja o meio mais efetivo de nos re-conectarmos com nós mesmo, com a natureza e nos despir de todo excesso de artificialidade que mais danos que benefício tem proporcionado. Mas, para muitos, isso é mera ilusão, utopia. Já foram engolidos pela lógica brutal da acumulação e da exploração sem fim. Dentro deles, a Fênix da contestação já foi morta pela sombria águia do conformismo.
Trumbo: Lista Negra
3.9 374 Assista AgoraEsse não é só um ótimo filme, mas uma bela aula de história do cinema, que traz como pano de fundo uma mancha na história dos EUA e de Hollywood: o Macarthismo, ou a perseguição descabida e insana, por parte, inicialmente, de políticos conservadores, à diretores, roteiristas, atores e qualquer outra pessoa que tivesse envolvimento com o comunismo.
O filme conta com uma reconstituição de época impecável, que não se percebe apenas em cenários e figurinos, como também na escolha do elenco - afiadíssimo - composto de interpretes fisicamente muito parecidos com as figuras históricas que interpretam.
O desempenho de Cranston no papel do roterista combativo, polêmico e perseguido é irretocável e sem dúvidas o maior mérito do filme e - ao meu ver - a melhor atuação deste ano. Certamente irá perder o Oscar para Leonardo DiCaprio - cujo mérito é inequívoco, mas cuja atuação está um pouquinho abaixo desta aqui.
É comum traçar um paralelo entre a Inquisição, na Idade Média, àquela perseguição ocorrida em Hollywood no século passado. No entanto, é interessante notar o quanto a cegueira ideológica que levou àquela situação pode ser comparada ao que começa a se delinear na política nacional, com os insanos seguidores e apoiadores de gente como Bolsonaro e seu irracional e radical anti-comunismo, anti-petismo, anti-feminismo, anti-LGBT, entre outros grupos aos quais eles se opõem feéricamente.
Bom, deixando a seara política de lado, eis aqui uma lista dos principais personagens reais retratados no filme, seus respectivos intérpretes e uma brevíssima biografia de cada um:
Dalton Trumbo (Bryan Cranston), roteirista de filmes como A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953) e Spartacus (Idem, 1960), duas vezes premiado com o Oscar, e diretor de Johnny vai à Guerra (Johnny got his Gunn, 1939).
Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), ator que ficou conhecido especialmente por atuar em filmes Noir, como Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944).
Sam Wood (John Getz), diretor de filmes como Adeus Mr. Chips (Goodbye, Mr. Chips, 1939) e Por quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943).
John Wayne (David James Elliott), ator famoso por atuar em faroestes, especialmente sob a direção do grande Joh Ford, soba direção do qual protagonizou aquele que é tido como o maior dos faroestes: Rastros de Ódio (The Searchers, 1956).
Kirk Douglas (Dean O'Gorman), ator famoso por filmes como A Montanha dos 7 Abutres (Ace in the Hole, 1952), Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952) e Spartacus (Idem, 1960), e pai de Michael Douglas.
Louis B. Mayer (Richard Portnow), produtor de cinema conhecido como um dos fundadores do famoso estúdio de Hollywood MGM (Metro-Goldwyn-Mayer).
Hedda Hopper (Helen Mirren) atriz e famosa colunista de Hollywood, conhecida por ter o poder de destruir carreiras. Aparece no filme Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) interpretando a si mesma.
Otto Preminger (Christian Berkel) diretor de filmes como O Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1955), Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder, 1959) e Exodus (Idem, 1960).
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A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraApesar da reconstituição de época (figurino, cenários, maquiagem, direção de arte) ser impecável, atuação de Redmayne é deixa a desejar, resultando - a julgar pelas indicações aos prêmios - muito superestimada, uma vez que é cheia de maneirismos e afetação desnecessários. O excesso de gestos e olhares empregados pelo ator com o intuito de construir uma caracterização feminina resulta excessivamente caricata.
Assim, temos um protagonista que não consegue cativar, pois tanto ator quanto o roteiro e a direção preferiram fazer um retrato tristonho e depressivo de Lilly, que parece muito mais feliz quando é Einar. Desse modo, o filme acaba atirando no próprio pé, pois não nos convence de a transformação pela qual o personagem passa tenha sido realmente algo que o realizou, que o fez mais feliz, uma vez que ele teria encontrado/assumido sua verdadeira identidade.
Digna de mérito, porém, é o trabalho da atriz Alicia Vikander, que - semelhante ao que fez Jim Broadbent em Iris (2001) e Jennifer Hudson em Dreamgirls (2006) - rouba para si um filme irregular e deverá levar, no Oscar, o prêmio como Melhor Coadjuvante. Até a presença de outros coadjuvante mais secundários como Mathias Schoenaerts e Ben Wishaw são mais interessantes que o protagonista.
No entanto, a coragem do jovem Redmayne em - na medida de suas limitações - entregar-se à sua personagem, expondo-se até mesmo uma cena de nudez, talvez lhe possibilite alguma redenção e seja a melhor explicação para sua presença em premiações como Oscar, ocupando uma vaga que estaria melhor nas mãos de, por exemplo, Samuel L. Jackson (por Os 8 Odiados), Johnny Depp (por Aliança do Crime) ou Will Smith (por Um Homem entre Gigantes).
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Steve Jobs
3.5 591 Assista AgoraPara muitos que assistiram, essa segunda cinebiografia de Steve Jobs é um filme incompleto. Certamente esperavam uma narrativa cronologicamente encadeada narrando praticamente toda a vida do biografado: a infância problemática, a juventude, a descoberta da doença, até a morte e finalizando com uma "mensagem póstuma", provavelmente em tom edificante.
Mas felizmente o filme não procura agradar ao publico mais medíocre, afinal, o filme anterior (Jobs, 2013) faz exatamente isso, ou seja: segue fórmulas já desgatadas para fazer um filme medíocre que agrada um público maior. Sabiamente, o diretor Danny Boyle e o roteirista Aaron Sorkin fogem desse caminho fácil e realizam um filme extraordinário, que talvez seja apreciado por poucos. Afinal, se Steve Jobs não fazia concessões, porque um filme sobre ele deveria fazê-las?
E esse filme, protagonizado por Michael Fassbender numa atuação irretocável (apesar de muitos terem insensatmente criticado a "falta" de semelhança física), tem outros méritos: a narrativa focada nos diálogos e mostrando os bastidores da vida de um homem que, para além de um empresário visionário que construiu uma das mais importantes marcas da história (a Apple), foi um hábil construtor de si mesmo - ou pelo menos de uma imagem idealizada de si.
O modo como o filme, nos 3 atos em que se desenvolve, desconstrói essa persona, revelando o verdadeiro Steve Jobs - egocêntrico, auto-indulgente, individualista, instransigente, ríspido - é brilhante, pois consegue derrubar a imagem heróica e gloriosa que o protagonista erigiu para si, sem contudo demoniza-lo ou vilaniza-lo. Ao contrário, o filme o humaniza - mas o faz sem cair em clichés ou incorrer em pieguice.
E não só o diretor, o roteirista e o protagonista merecem os louros: é indispensável mencionar os desempenhos de Jeff Daniels, Seth Rogen, Michael Stuhlbarg, Perla Haney-Jardine e especialmente Kate Winslet - que rouba muitas cenas e, ao meu ver, divide com Fassbender o protagonismo do filme.
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Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraOs dois filmes dessa temporada que mais me tocaram, me deixando com nó na garganta e lágrimas nos olhos: Spotlight e O Quarto de Jack. <3 <3 <3 <3 <3 Cinco estrelas é pouco!
Ainda preciso de um tempo para "lidar" com eles e então escrever mais um dos meus textões habituais aqui no Filmow.
O Banquete
4.4 182 Assista AgoraCachorro taurino! Hehueheuhehuee
A Rede Social
3.6 3,1K Assista AgoraEsi aqui um filme que expressa como poucos as idiossincrasias do nosso tempo, essa pós-modernidade tão volátil, confusa e intangível. Tempos onde os valores e as certezas de outrora estão sendo desconstruídos. Nesse sentido, poderia citar pelo menos dois outros filmes: "Clube da Luta" (também de Fincher) e "Amor sem Escalas" – cujo único defeito é esse medonho titulo que ganhou no Brasil.
Outra faceta da obra é o fato de que, tal como nas outras obras-primas Cidadão Kane, Assim Caminha a Humanidade e Sangue Negro, o protagonista (Zuckerberg) desse filme encarna o arquétipo do herói americano (e americano aqui se refere apenas aos estadunidenses), do "self made man" que, contrariando todas as expectativas e num ímpeto incansável e individualista, vencerá e prosperará.
Tal mito heróico encarna os ideias no Neoliberalismo: a concorrência, a livre iniciativa e o individualismo, em contraposição aos ideias de coletividade e de mútua colaboração. Porém, o que me chamou a atenção nesta obra do diretor de "Seven" e "Clube da Luta" é a influência que ela carrega da obra seminal de Orson Welles: Cidadão Kane. Nesta, o protagonista é um homem que – poderíamos dizer – conquistou o mundo, mas tudo o que queria era uma simples coisa que havia perdido no passado: sua “rosebud”, tão representativa da infância e da inocência perdidas.
No caso do filme de Fincher, essa “rosebud” assume a forma da namorada do protagonista, que lhe abandona logo na cena inicial, e que ele fica a contemplar, solitário e triste, na cena final da película. Ele também, por assim dizer, conquistou o mundo, mas tudo o que parecia realmente querer é aquele amor que perdeu, aquele botão de rosa que um dia teve em suas mãos, que agora encontram-se vazias (apesar de toda a sua fortuna). Outra semelhança com a obra de Welles é a narrativa não linear, bem como sua montagem complexa.
Também evoca ao filme de Welles a facilidade com a qual a personagem Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) trai os poucos amigos que tão arduamente conquistou, e a maneira como ele vê as pessoas e as próprias relações sociais: objetos que podem ser comprados, mercadorias cambiáveis e descartáveis.
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Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraGeorge Miller, depois de provar sua versatilidade em filmes tão distintos quanto o drama O Óleo de Lorenzo (1992), a animação Happy Feet (2006) e os outros 3 Mad Max (1979, 1981, 1985), agora coroa sua carreira com essa jóia repleta de possibilidades de leitura e interpretação, merecendo sem dúvidas o título de mestre.
Primeiramente, devemos ter em mente que esse 4º filme da franquia Mad Max é um filme de ação, e como tal, não poderia abrir mão das cenas de perseguição, das explosões, tiros e violência. E nesses aspectos, temos aqui um filme que dificilmente será superado, um verdadeiro marco - e divisor de águas - não só dentro desse gênero, mas no Cinema como um todo. Ele eleva o filme de ação a outro nível, conciliando à perfeição conceitos que alguns mais conservadores insistem em opor: ação e arte, adrenalina e reflexão.
Dito isto, devemos então entender que, por quaisquer temáticas que o roteiro ousar se enveredar, a ação não deve ser abandonada. E as searas pelas quais este Mad Max consegue se embrenhar e desbravar, sem deixar-nos retomar o fôlego por um instante sequer, são muitas: o consumismo, o esgotamento dos recursos naturais, o especismo, o machismo, o patriarcalismo, a misoginia, a cultura do estupro, o falocentrismo.
A abordagem do colapso dos biomas e ecossistemas devido à intensa exploração do recursos naturais, em prol da manutenção de uma sociedade materalista e consumista, é o mais evidente, desde os primeiros filmes da franquia, afinal, essa teria sido a causa do mundo ter se transformado no que vemos nos filmes: um imenso deserto, onde água e - por consequencia - alimentos são raros, o que torna a luta pela sobrevivencia uma tarefa árdua, diária, incansável.
O quanto a predominância do "masculino" (numa acepção mais ampla que a meramente sexual) nessa sociedade contrubui para sua falência na medida que supõe (erroneamente) que o homem tenha o direito de se apossar de tudo - e todos - pode ser, para alguns, mais difícil de enxergar, mas está lá: nas poucas comunidades humanas existentes (Cidadela, Vila Gasolina, Fazenda da Bala), o poder é exercido por grotescas figuras masculinas e patriarcais, que por meio do controle de recursos ali vitais (água, alimentos, combustível, munição), controlam todos à sua volta.
Porém, não apenas a natureza é oprimida pelo julgo do homem (o ser humano e o sexo masculino), mas na medida em que nessa sociedade predominam estruturas e valores patriarcais, machistas e falocêntricos, a mulher se encontra também no papel de oprimida. No filme, podemos ver isso nas mulheres das quais Immortan Joe se apossou: as mais velhas passam os dias sendo ordenhadas para a produção do "mother's milk", enquanto as mais novas compõem o harém para a produção dos "healthy babies" que crescerão e engrossarão as fileiras de "war boys".
Mas a mulher haverá de desempenhar outro papel aqui, pela mente e pela mão de Miller: como representante do sagrado feminino, como encarnação da Pacha Mama (a mãe terra), portadora das sementes, que carrega em si o gérmem da vida, ela será a libertadora, a redentora. E a personagem Imperatriz Furiosa, interpretada com um vigor e uma pulsação fascinantes pela fantástica Charlize Theron, é a personificação gloriosa desse arquétipo - presente em diversas mitologias, de diversos povos, mas que foi suprimida da cosmogonia ultra machista e patriarcal da cultura judaico-cristã.
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Brooklin
3.8 1,1KA princípio o filme pode causar algum estranhamento na platéia, pois tudo - exceto a passagem algo cômica do mal-estar durante a viagem de navio - parece fácil demais para a jovem irlandesa Eilis Lacey que deixa sua terra em busca do "sonho americano": ela parte para os EUA já tendo a garantia de um lugar onde morar e um emprego, tudo arranjado por um padre também irlandês (Jim Broadbent) que dirige uma paróquia no Brooklyn.
O "bom-mocismo" de Eilis, que prefere trabalhar como voluntária na ceia natalina que a paróquia supracitada oferece anualmente aos mendigos, em vez de festejar na pensão onde vive com amigas da mesma idade; e o namoradinho italiano bem apessoado, educado, gentil, carinhoso e atencioso - até parece que esconde algo - contribuem para criar essa sensação.
E durante a primeira meia hora do filme esse detalhe, aliado à atuação ainda pouco convincente de Saoirse Ronan contribuem, para que o espectador desenvolva certa desconfiança para com a obra. Mas a partir daí, quando se dá o primeiro encontro entre Eilis o padre Flood é que - ao meu ver - o filme deslancha e atriz finalmente encontra-se com sua personagem e lhe injeta ânimo e vigor. E então nós, que assistimos, somos inevitavelmente cativados.
O filme segue sua narrativa, demostrando - apesar de suas qualidades - ser mais um filme sobre imigrantes tentando a vida na parte norte do Novo Mundo, tal qual em obras-primas como Terra de um Sonho Distante (America, America, de 1963) de Elia Kazan, O Poderoso Chefão - Parte II (The Godfather - ParT II, 1975), ou o recente Era uma vez em Nova York (The Immigrant, 2014) de James Gray.
Contudo, quando a protagonista decide voltar à Irlanda para visitar a mãe e comparecer ao casamento de sua melhor amiga, é que ele definitivamente mostra seu valor e se diferencia de seus pares. Os dilemas que Eilis vivencia e tem de enfrentar nesse seguimento da trama é que verdadeiramente tocarão o espectador e o farão torcer e temer pelas escolhas que ela fará.
Além da bela atuação de Saiorse (perfeitamente irlandesa e contrastando na medida certa com a expansividade do italiano Tony), merecem destaque os desempenhos de Domhnall Gleeson, Emory Cohen e Julie Walters (hilária!), a trilha sonora envolvente, bem como a preciosidade dos figurinos e da direção de arte.
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A Travessia
3.6 613 Assista AgoraUm filme muitíssimo bem realizado, com fotografia deslumbrante e efeitos visuais completamente convincentes e atuações irrepreensíveis. Em momento algum me incomodei ou tive a fruição do filme atrapalhada pela caracterização de Joseph Gordon-Levitt no papel do artista francês. Talvez tivesse sido melhor colocar um ator francês como protagonista, mas o desempenho de Gordon é totalmente crível e competente, inclusive emulando com perfeição o sotaque de sua personagem.
A narrativa em primeira pessoa, assim como a trilha sonora, emprestaram ainda mais charme ao filme. Tal é a habilidade do diretor de reconstituir a insuperável façanha de Petit, que eu, que tenho acrofobia (medo de altura), fiquei completamente atordoado nas cenas cruciais do filme. Minhas mãos e pés transpiravam, sentia um frio na barriga e um conflito entre a vontade de continuar olhando e o impulso irracional de fechar os olhos, por medo. Realmente, o filme me tirou o fôlego.
Só queria saber de que modo o final é "muito surreal" - como alguns disseram nos comentários - pois, exceto algumas liberdades que o filme de Robert Zemeckis toma em relação à história real de Philippe Petit (como a lona que escondia um fosso de elevador sob a qual ele se esconde em certo momento da trama), o reoteiro é 100% fiel no que tange à travessia entre as Torres Gêmeas. Basta assistir ao documentário Man on Wire (2008) e comparar. Não há nada de "surreal" ali - aliás, o que vejo é pessoas usando esse adjetivo sem ter a exata noção do que ele significa.
Quero ainda destacar aqui a semelhança da atriz Charlotte Le Bon com Paz Vega e Winona Rider. Ela parece ser uma mistura entre as duas! rsrs
Chocolate
3.7 773A mulherada A-D-O-R-A esse filme. Heheheehee...
45 Anos
3.7 254 Assista Agora"Yet today my love has flown away / I am without my love..."
Esse é definitivamente um filme para ser ver não apenas com os olhos, mas "nos olhos". E os olhos em questão são os olhos da magnífica atriz Charlote Rampling, numa atuação impressionante, minimalista e magistral. E é um filme para se entender nas entrelinhas, especialmente da clássica Smoke get in your Eyes, canção que encerra o filme.
Temos aqui um filme que, à semelhança e obras-primas como A Cruz dos Anos (Make Way for Tomorrow, 1937) de Leo McCarey, e Amor (Amour, 2012) de Michael Haneke, se centram na história de um casal já idoso tendo de lidar com as consequencias da velhice e os fantasmas do passado.
No caso deste filmes do diretor Andrew Haigh, temos, no decurso de uma semana - que antecede a festa de 45 anos de casamento - a história do casal Kate (Rampling) e Geoff (Tom Courtenay). Uma carta escrita em alemão trazendo a notícia de o corpo de um pessoa há muito desaparecida foi encontrado nos Alpes suiços é o estopim para um crise entre o até então harmônico casal.
Na medida que a narrativa se desenrola, segredos há muito guardados vão sendo desenterrados, e Kate começa a perceber que talvez Geoff nunca a tenha amado de verdade e que, para ele, ela tenha sido apenas uma substituta, uma segunda opção, usada para cobrir uma cicatriz que nunca se fechou e que, de repente, é novamente esgarçada.
Ao que parece, há um fantasmo no passado de Geoff que influenciou em tudo o que ele fez nos últimos 45 anos: desde a mulher com a qual se casou, cujo nome guarda semelhanças com uma figura de seu passado, até sua escolha por não ter filhos. É então que o roteiro mostra-se genial, pois, se prestarmos atenção aos pequenos detalhes (os olhos de Kate e Geoff, os cigarros que eles voltam a fumar, a letra a canção), veremos que todos eles se encaixam à perfeição, enriquecendo de sentidos e de possibilidades essa fascinante obra.
"Todos que amam são cegos
Quando o seu coração está em chamas
Você deve perceber
A fumaça entra nos seus olhos..."
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraNenhum esporte foi tão retratado nos cinemas quanto o pugilismo - ou boxe, como é mais conhecido. A origem desse esporte é controversa: alguns afirmam que surgiu na Inglaterra, outros na Irlanda, mas o esporte seria conhecido desde a antiguidade. Onomasto de Ermínia, por exemplo, pugilista vencedor nos jogos Olímpicos do ano 688 a.C., é tido como o primeiro a definir as regras do esporte.
No cinema, ele aparece desde os primeiros clássicos do cinema mudo, como em Luzes da Cidade (1925), de Chaplin. Depois em filmes consagrados como O Delator (The Informer, 1935), de John Ford, com Victor McLagen; Corpo e Alma (Body and Soul, 1947), de Robert Rossen, com John Garfield; e Marcado pela Sargeta (Somebody Up There Likes Me, 1956), de Robert Wise, com Paul Newman.
No entanto, o filme que marcou, entre o público, o esporte na sétima arte, foi Rocky, um lutador (Rocky, 1976), de John G. Avildsen. Marcou porque lançou ao estrelato o jovem Silvester Stallone - que havia começado a carreira no filme pornô e de repente se via indcado ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Roteiro -, pela trilha sonora que se tornaria lendária e pelas cenas que entrariam para o imaginário coletivo: o boxeador treinando no frigorífico, depois correndo pelas ruas e sendo seguido por uma multidão que o admira e incentiva, e finalmente subindo as escadarias e erguendo os braços para a glória.
O filme foi um sucesso tremendo, ganhou 3 Oscar (de 9 indicações) e 5 sequências, alguns inclusive dirigidas por Stallone: Rocky 2 (1979), Rocky 3 (1982), Rocky 4 (1985), Rocky 5 (1990), Rocky Balboa (2006). O último filme - por enquanto - a dar sequencia à história é Creed, Nascido para Lutar (Creed, 2915), dirigido por Ryan Coogler e protagonizado por Michael B. Jordan, acompanhando - claro - do onipresente Stallone, revivendo pela 7ª vez Rocky Balboa.
Creed, por sua vez, segue à risca não apenas os mais conhecido clichés dos filmes de boxe, como também tenta emular a estrutura do primeiro filme da saga e estabelecer um estreito diálogo com ele. Quem assistir o filme verá todos os clichés na tela: 1) o jovem herói desacreditado que precisa provar seu valor; 2) o treinador já idoso que inicialmentee se recusa a treina-lo mas depois acaba cedendo; 3) o adversário durão, temido e com ares vilanescos, que ele enfrentará no final; 4) a saúde percária do velho treinador e mentor que se converte num desafio dramático e afetivo ao personagem; 5) a briga ou confusão na qual ele se envolverá na vésperas da luta final e poderá colocar tudo a perder.
As semalhanças com o filme original/primordial também são óbvias: o treinamento "old school" que o protagonista receberá de seu mentor; a cena em que ele, correndo, será seguido pacificamente por um grupo populares, culminando num cena apoteótica; uma releitura das velhas brincadeiras do "toc, toc"; a luta final da qual ele não sairá vendedor (no filme original a vitória no combate pertence a Apollo Creed, no Brasil a dublagem dá um empate para os lutadores); o calção listrado de branco de vermelho; a subida da famosa escadaria.
Creed, assim como Rocky, não é uma obra-prima de perfeição técnica, artística e dramática, como foi Touro Indomável (Raging Bull, 1980), de Martin Scorsese, com Robert DeNiro. Nem temm om mérito de subverter a estrutura do gênero de filme em que se enquadra, como foi o caso de Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004), de Clint Eastwood, com Hillary Swank, em que o diretor mergulhava desconhecido universo do boxe feminino e estabelecia um brilhante diálogo com outro gênero cinematográfico: o western.
Creed é, nesses aspectos, convencional, à semalhança do recente Nocaute (Southpaw, 2015). Contudo, ele se destaca num ponto muito importante, que está ligado aos recentes debates sob racismo e representatividade: ter um negro como protagonista. Apesar do boxe ter tido entre os negros alguns de seus mais lendários pugilistas (Sugar Ray Robinson, Muhammad Ali, Rubin "Hurricane" Carter, Mike Tyson...), em todos os filmes acima citados, os protagonistas eram brancos. Sendo assim, o protagonismo de Jordan nesse filme acaba se constituindo numa espécie de pioneirismo. E essa iniciativa, por parte do diretor e roteirista Ryan Coogler - também ele um negro - é sem dúvida louvável.
É praticamente certo que Stallone levará a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante revivendo um personagem icônico do cinema que ele mesmo criou quando, em meados da década de 1970, escreveu em apenas três dias o roteiro de Rocky. Segundo ele, após assistir uma luta na qual até então o desconhecido Chuck Wepner, resistiu por 15 rounds em uma luta com o campeão Muhammad Ali, chegando inclusive tomba-lo certo momento da luta. É a consagração merecida por mais 30 anos dando corpo e alma pelo mais famoso lutador de boxe do cinema.