Em seu segundo filme, o mexicano Michel Franco é objetivo no que pretende mostrar e discutir: o bullyng. Talvez a maior proeza de Depois de Lúcia seja utilizar este tema complicado apenas como pano de fundo. O que importa para o diretor são as questões psicológicas e mais profundas que os protagonistas enfrentam ao longo do filme.
Após perder a esposa em um acidente, Roberto (Hernán Mendoza) e a sua filha Alejandra (Tessa Ia) mudam-se da cidade interiorana Puerto Vallarta para a cidade do México. Os dois tentar se adaptar à nova vida: ele, um chef de cozinha que já tem emprego garantido em um restaurante; ela, em uma escola nova. No entanto, em uma festa da escola, Alejandra comete um erro ao transar com um colega de escola em um banheiro e deixar ser filmada por este. No dia seguinte, descobre que seu vídeo foi publicado na internet e toda a escola já o assistiu. A partir daí, passa a sofrer bullyng por seus colegas que vão desde torturas psicológicas à agressões físicas. Paralelamente seu pai está ainda muito deprimido e abalado pela morte da esposa, o que acaba lhe prejudicando em seu emprego.
Os bullyngs sofridos pela garota Alejandra não são comuns: uma de suas colegas corta seu cabelo, garotos no banheiro invadem sua privacidade com os pênis de fora, incluindo até mesmo um estupro de um dos seus colegas de aula. Retratados sempre de forma realista, por vezes cruel, pela câmera estática de Franco, o diretor de fotografia Chui Chávez adota uma forma documental sempre acompanhado pelo silêncio da narrativa, já que não há praticamente uso de trilha-sonora. Neste ponto, vale ressaltar a inteligência de Franco já que tudo que acontece na tela convence facilmente o espectador. Por outro lado o absurdo que é cometido dentro e fora da escola com Alejandra pode soar um pouco exagerado, um pouco forçado para que o espectador realmente se comova com a garota. O que não precisava já que a atuação de La é o suficiente para que o espectador simpatize com ela e com os seus problemas – perder a mãe por si só já bastaria.
Alejandra foge de seus problemas em seu próprio mundo, quieta, não conversa com o pai sobre os problemas que enfrenta na escola. O silêncio, principalmente quando ela fica sozinha nadando, é um dos únicos momentos em que realmente tem paz. Já Roberto é vivido por Mendoza como um homem deprimido e triste, mas que a qualquer momento pode explodir – há um momento em que ele briga com outro por causa de uma picuinha no trânsito. No entanto, em nenhum momento a relação de pai e filha fica comprometida, nem mesmo quando, logo no início, ele descubra que ela utilizou maconha. Há uma conversa franca entre os dois, que revela a confiança e o amor que um tem pelo outro.
Já no ato final o filme procura resolver seus problemas de uma modo mais apressado, prejudicando um pouco o desenvolvimento que Franco pacientemente estava realizando até então. Não que interfira na qualidade do longa. Depois de Lúcia é um bom filme, talvez não pelo bullyng em si. O tema é discutido com amadurecimento, mas até que se chegue à discussão, o exagero, infelizmente, atrapalha. Depois de Lúcia é um bom filme por focar tão bem na relação entre pai e filha de uma maneira tão sensível e madura que, em nenhum momento, subestime o seu espectador. Diferente de tanto dramalhão que se encontra por aí.
Truque de Mestre é um filme de mágicos envolvidos em um assalto. É como se O Grande Truque, de Christopher Nolan, encontrasse Onze Homens e um Segredo, de Steven Sodehberg. O primeiro tem uma complexidade narrativa envolvendo mágicos e truques, com um desfecho surpreendente; já o segundo conta com um plano de assalto muito bem executado e, conforme vai se revelando, por mais absurdo que pareça, torna-se crível para o espectador. É uma pena, no entanto, que Truque de Mestre não tenha que conseguido captar a essência dos dois exemplos citados acima, que por mais que não sejam grandes filmes, são eficientes em suas propostas.
O maior problema de Truque de Mestre reside no roteiro. Sem saber qual norte seguir, apresenta os quatro personagens, troca o enfoque para o detetive Rhodes e, quando retorna aos protagonistas, não consegue dar tempo o suficiente para que os protagonistas conquistem, de alguma forma, o espectador. Na realidade, é frustrante as tentativas do roteiristas (escrito a seis mãos) de criar reviravoltas, principalmente o clima “será que existe um quinto cavaleiro? Quem será?”. E o espectador inicialmente aceita o jogo de adivinhação, mas depois de vinte minutos de projeção, cansa a paciência já que o filme procura estabelecer um clima de “quem matou” digno de uma novela global.
A cada revelação que dos truques, o filme vai se tornando mais absurdo.
Afinal de contas, como o personagem de Morgan Freeman pode explicar todos os truques dos jovens? Ele passou anos, décadas, acompanhando vários mágicos e é especialista nisso, mas como deduzir, por exemplo, que os quatro personagens tenham entrado em um carro blindado após apagar guardas armados? Fora outros buracos no roteiro que parecem não ter importância alguma para Leterrier e sua turma – o personagem de Michael Caine, por exemplo, desaparece em determinado momento da projeção.
. Contando com um elenco simpático que tenta buscar carisma em um filme apático, os quatro cavaleiros se saem bem em suas funções: Eisenberg é um mágico inteligente e que “não possui tempo para sentimentos”, como é dito em um determinado momento; enquanto Harrelson se diverte o máximo que consegue com o “mentalista” McKinney; e Isla Fisher e Dave Franco fazem o possível com o tempo que tem em tela. De fato, os protagonistas do longa são Mark Ruffalo e Mélanie Laurént. A investigação dos dois domina o maior tempo das telas e são os únicos personagens que o roteiro tenta desenvolver – sem sucesso, claro. Ruffalo é sempre seguro no papel e Laurént é apaixonante. Já Freeman e Caine, experientes, apenas acompanham o ritmo do longa.
Com um final que deixa de ser surpreendente porque o espectador pensa nele logo depois de que todas as suposições fossem por água abaixo nos trinta últimos minuto de projeção, Truque de Mestre é um filme sem brilho. Faltou a mesma energia dos espetáculos que os Quatro Cavaleiros propiciam ao seu público. O diretor Louis Leterrier entrega um filme genérico e desperdiça o melhor elenco com que já teve a oportunidade de trabalhar.
Mais sobre O Homem de Aço (texto ainda não revisado e não editado): TEM ALGUNS PEQUENOS SPOILERS ABAIXO:
Há dois filmes em O Homem de Aço: um, protagonizado por Clark Kent e outro, pelo Homem de Aço do título. O primeiro filme pode ser descrito como um estudo de personagem, mostrando a busca de Clark pelo seu sentido no mundo; já o segundo envolve batalhas gigantescas, exageros colossais e destruição em massas onde o Super-Homem enfrenta o exército do general Zod. O primeiro torna-se muito mais interessante à medida em que o protagonista vai encontrando as pistas das suas origens, no entanto o diretor Zack Snyder, o produtor Christopher Nolan e o roteirista David S. Goyer tomam diversas decisões que mudam completamente o tom do filme, não fazendo jus aos ótimos trinta, quarenta minutos iniciais.
As origens do Super-Homem estão lá: o planeta Krypton, a Fortaleza da Solidão, a consciência de Jor-El aparecendo para o filho, Lois Lane, Smallville... A mitologia dos quadrinhos criados por Jerry Siegel e Joe Shuster está presente todo o tempo. Até demais. Há uma necessidade de que se explique tudo nos mínimos detalhes possíveis para o espectador, com um didatismo que nem sempre funciona com o Cinema. Ora, se o filme de 1978 funcionava tão bem era justamente porque o roteiro dispensava didatismo para que o espectador tirasse suas conclusões com a imagem em movimento, além de não se preocupar com o realismo. Os cenários, inclusive, são tão realistas neste filme de Snyder que até perde a força. A história do Homem de Aço possui diversos simbolismos, inclusive oriundos da religião cristã, não precisa ser dark, complexo, extremamente realista.
Porém é necessário analisar o filme de Snyder como um só, sem comparações – por mais que seja inevitável depois de termos cinco filmes sobre o herói. A estrutura adotada em Homem de Aço é muito problemática. Após um bom prólogo repleto de ação envolvendo Jor-El e o general Zod, no qual o bebê Kal-El (nome alienígena do Super-Homem) é enviado à Terra no intuito de proteger o código genético de Krypton, o filme logo inicia com um Clark Kent sem identidade salvando um grupo de homens de um barco em chamas. A partir disso, o filme alterna entre o presente e flashbacks de Clark com a família. Então, se algo acontece que dê para Clark lembrar de sua família, sabemos que lá vem um discurso motivacional de como o garoto tem que controlar os seus poderes e de como ele é diferente do resto. Não que os flashbacks sejam ruins, muito pelo contrário, eles contam com as ótimas performances de Kevin Costner e Diane Lane e são necessários ao filme. O problema é que atrapalha toda uma ação para que se retorne lá atrás e conte um pouco da história de Clark.
A estrutura do filme, aliás, lembra a de Batman Begins do mesmo produtor Christopher Nolan e do mesmo roteirista David S. Goyer. Se no longa do Cavaleiro das Trevas dava tão certo, aqui já não se pode dizer o mesmo. Quem sabe se Snyder tivesse seguido os passos de Richard Donner (mais uma vez, o diretor da adaptação de 1978) e inserisse as cenas logo no início não teria sido uma solução mais evidente? Ao menos poderia ter sido mais organizado. Mas é claro que Homem de Aço teria sido prejudicado do mesmo jeito, pois o diretor insiste em adotar um tom “épico” desde o início. Quando Clark veste a sua roupa, há apenas duas sequencias que justificam a excelente trilha-sonora de Hans Zimmer: a que ele veste o uniforme pela primeira, tentando voar; e a sequência em que ele luta individualmente com o general Zod.
É injusto, no entanto, lembrar apenas da estrutura problemática e no didatismo bobo do roteiro. Há muita coisa boa em Homem de Aço: as lutas são ótimas, muito bem coreografadas e filmadas com competência por Snyder. O diretor, tão famoso por utilizar a câmera lenta em 300, Sucker Punch e até mesmo na sua animação A Lenda dos Guardiões, não a utiliza em nenhum momento, o que beneficia (e muito) o ritmo acelerado na segunda metade (será que era uma cláusula do contrato para que ele pudesse dirigir?). Claro que no meio da ação, Snyder decide mostrar as pessoas impressionadas com a grandiosidade das lutas que estão presenciados, o que é normal neste tipo de filme. Mas alternar a ação para mostrar Perry White salvando uma funcionária que não sabemos nem o nome que ficou presa em um prédio porque ficou olhando ele cair em sua direção é muito desnecessário. Provavelmente para que o ator Laurence Fishburn apareça mais do que em duas cenas. Não que as cenas sejam ruins: mostra a união do Planeta Diário, a boa atuação de Fishburne, mas atrapalha a ação. Não justifica mostrar.
O britânico Henry Cavill, intérprete do Homem de Aço, é uma grata surpresa. O ator mistura confusão, insegurança, medo, amor e todo o resto apenas nas suas expressões e se entrega em cena em todos os seus momentos. Amy Adams se beneficia de que sua personagem tem uma importância maior e está bem em praticamente todas as suas cenas. Kevin Costner e Diane Lane ótimos como os pais adotivos de Kent. Há uma cena, em particular, que Costner faz um gesto com a mão para Clark que é arrebatadora – e a resposta de Cavill ao gesto é sensível e, de certa maneira, necessária para o amadurecimento do seu personagem.
Russel Crowe se diverte com seu Jor-El, mas é Michael Shannon que nos entrega a performance mais enigmática. Seu personagem é um homem que faz tudo pelo seu povo, mesmo que de “forma violenta e cruel”, como o próprio menciona em determinado momento. No prólogo, a performance de Shannon é histérica para então se tornar ameaçadora (reparem sua voz nos televisores). No último ato o personagem desabafa para Kal-El em um pequeno monólogo. Naquele momento, Shannon impressiona pelo misto de frieza e amor pela sua raça, que chega até a ser tocante.
O Super-Homem de O Homem de Aço salva Lois Lane umas quinhentas vezes, destrói uma cidadezinha, destrói Metrópolis e provavelmente deve ter dado uma imensa crise financeira para os Estados Unidos. Ele destrói prédios, os atravessa e não parece ligar muito se tem alguém para ser salvo ou não. Simplesmente joga seus inimigos através dos prédios e estes fazem as mesmas coisas. Aliás, o número de mortes em O Homem de Aço deve ter ultrapassado o do World Trade Center, tamanho é o caos que é montado no meio de Metrópolis. E por mais que provavelmente seja pela destruição que Lex Luthor possa se revelar, agora que o herói é conhecido em nível nacional, ainda não é o líder da Liga da Justiça e ainda não é o amigo da vizinhança. Nos próximos filmes, quem sabe acompanhamos a sua evolução? Seja como for, O Homem de Aço é uma boa adaptação e é mais uma franquia de super-herói que se potencializa.
Há dois filmes em Homem de Aço: um, protagonizado por Clark Kent e outro, pelo Homem de Aço do título. O primeiro filme pode ser descrito como um estudo de personagem, mostrando a busca de Clark pelo seu sentido no mundo; já o segundo envolve batalhas gigantescas, exageros colossais e destruição em massas onde o Super-Homem enfrenta o exército do general Zod. O primeiro torna-se muito mais interessante à medida em que o protagonista vai encontrando as pistas das suas origens, no entanto o diretor Zack Snyder, o produtor Christopher Nolan e o roteirista David S. Goyer tomam diversas decisões que mudam completamente o tom do filme, não fazendo jus aos ótimos trinta, quarenta minutos iniciais.
Homem de Aço é um bom filme. Algumas decisões do filme me incomodaram, mas no geral é mais uma franquia de super-herói que se potencializa.
Harakiri não é apenas uma obra que critica a sociedade feudal japonesa. É uma obra atemporal, que nos convida a questionar os valores da sociedade, seja lá em qual época: o orgulho do homem, o desempregado que tenta tudo pela sua família, o pobre que serve de exemplo e, principalmente, a falta ou o excesso dos valores éticos, que nos parecem tão distantes atualmente. Só de permitir o espectador de refletir sobre todos esses assuntos, Harakiri já merece o título de obra-prima.
A franquia Star Trek ganha personalidade com J.J. Abrams, que não só realiza um excelente blockbuster, como também reúne política, humor, ação e aventura em um pouco mais de duas horas de filme. A complexidade do vilão interpretado por Benedict Cumberbatch é apenas um dos atrativos de Além da Escuridão.
Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer é, definitivamente, o pior filme da franquia. Se por um lado Bruce Willis salva a maioria das cenas sendo apenas John McClane, do outro temos uma história rasa como pano de fundo e um filho que não tem nem a metade docarisma do pai.
Contando ainda com uma direção fraquíssima de John Moore, que faz praticamente a mesma coisa que Tony Gilroy em O Legado Bourne ao tentar imitar a câmera nervosa e os cortes rápidos de Paul Greengrass na trilogia Bourne, o diretor fracassa em praticamente tudo. E ele tenta de tudo. Seja os flares inexplicáveis em determinados momentos, Moore fracasssa principalmente em uma perseguição de carros que, para tentar mostrar uma tensão maior ao espectador, alterna para uma sala de operações da CIA que, nervosa, tenta ajudar o agente Jack de toda a maneira possível - e é formidável que ninguém da agência sequer dê atenção ao agente em praticamente todo o resto da projeção.
Onde o diretor acerta, é quando deixa a cena para que Willis e Jai Courtney metralhar alguns bandidos e pular de alguns prédios - e em certas cenas o diretor tenta fazer uso da câmera lenta e só irrita ainda mais o espectador. Porém o filme acerta nas referências, como o destino de um dos personagens ao final do longa ou a famosa frase de McClane e seu típico senso de humor.
Dispensável tanto para o cinema quanto para a franquia, seria melhor se o projeto de um quinto filme da série só saísse da gaveta quando tivesse algo mais elaborado - e um diretor decente para filmar e não o "cara que dirigiu Max Payne". Não foi dessa que vez eu pensei: " Yippie Ki Yay Mother-Focker!".
2 Coelhos funciona na maior parte do tempo, mas as tantas idas e vindas do roteiro acabam soando desinteressantes cedo demais Contando com um elenco de coadjuvantes eficiente, o filme ainda conta com uma produção técnica caprichada que impressiona pelo bom uso da música e da mixagem de som, principalmente.
No entanto, o protagonista, interpretado por Fernando Alves Pinto e o seu plano são justamente o elo fraco da história. O ator, por sua ineficiência em carregar o longa nas costas (sua narração, em off, é deprimente) e o plano por se tornar óbvio e repleto de furos, e confesso que a resolução da história não me agradou.
O destaque fica mesmo nos diálogos inspiradíssimos do grupo de bandidos de Maicom, (Marat Descartes), assim como o próprio personagem; a dupla de bandidos liderada por Velinha (Thaide); a beleza e o charme indiscutíveis de Alessandra Negrini; e até mesmo Caco Ciocler, ator que eu geralmente considero inexpressivo, tem a interpretação mais intensa com o personagem mais complexo e interessante do longa.
2 Coelhos pode não ser o melhor longa brasileiro já realizado, aliás está longe disso, porém significa frescor, algo novo para o público acostumado aos complexos dramas de Cláudio Assis ou as comédias da Globo. E Alfonso Poyart tem tudo para evoluir e se tornar um grande diretor - e se sua carreira em Hollywood não deslanchar, será sempre bem-vindo em seu país de origem para afastar o público de aberrações como As Aventuras de Agamenon ou E aí, Comeu?.
O design de produção de Lincoln e o figurino reconstroem o cenário da Guerra Civil norte-americanas com tamanha perfeição e realismo, que é impossível não se colocar dentro daquele cenário; por outro lado, é incrível o quanto fabulesca e hipócrita é a trama dirigida por Steven Spielberg.
Colocando Lincoln como o grande responsável pela libertação dos escravos nos Estados Unidos, Sileberg ignora por completo qualquer motivação política ou econômica que o presidente possa ter para tal fato. E o diretor ainda insiste em filmar cada quadro como se Lincoln fosse o grande herói de todos os tempos, ou simplesmente manipular o espectador de todas as maneiras possíveis para que nos juntamos aos Republicanos a favor da emenda que salvará todos os negros da América (claro que não podemos mencionar que após isso eles simplesmente são jogados às traças sem qualquer aparato por parte dos libertadores, mas tudo bem...).
Melodramático como o filme anterior do diretor Cavalo de Guerra, Spielberg não consegue emocionar nem com a cena final, que além de ser extremamente manipuladora e desnecessária, é mais uma prova que o homem que fez Tubarão já não consegue mais impactar o público como geralmente fazia. E nem mesmo a boa performance de Daniel Day-Lewis pode salvar um projeto como Lincoln que, inexplicavelmente, foi cotado um dos melhores filmes de 2012.
Com uma história repleta de clichês, alguns até um pouco maniqueístas, O Lado Bom da Vida se sai melhor quando dá espaço apenas para a dinâmica entre os personagens de Bradley Cooper e Jennifer Lawrence; já quando tenta forçar a história desinteressante das apostas esportivas ou a relação entre os irmãos, praticamente uma informação que não leva o filme a nada, O. Russell parece se desviar totalmente da história que quer contar, apenas para que no terceiro ato aconteça aquilo que já previamos desde o início do longa, quando os dois protagonistas se conhecem em um jantar.
Inexplicavelmente sendo indicado às categorias principais do Oscar e em outras premiações, O Lado Bom da Vida é um filme ingênuo, que perde a oportunidade de explorar seus personagens para dar mais atenção a elementos que pouco importam para a narrativa. Ainda assim, Cooper e Lawrence aproveitam ao máximo os seus tempos em tela e merecem todos os elogios.
O Legado Bourne falha em praticamente tudo o tem a pretensão de ser. Como integrante do universo de Jason Bourne, sempre que ouvimos o nome de Bourne, sempre nos recordamos dos bons momentos em que a franquia atingia quando Matt Damon era o protagonista e a trilogia era perfeita do jeito que era; quanto a filme de ação independente, falha em justamente não conseguir se desprender daquele universo, tanto que o longa conta com participações dispensáveis de Albert Finney, David Strathaim e Joan Allen como se tivessem em uma trama paralela para acompanharmos o que aconteceu após O Ultimato Bourne, o que de fato não interessa pois o desfecho foi completamente satisfatório, não precisando de explicação alguma.
Portanto, por mais que Jeremy Renner se esforce ao máximo para ser um novo agente "super-homem", somos obrigados conhecer mais e mais programas das agências secretas, não bastasse Treadstone e Blackbriar. E como se Tony Gilroy, diretor e roteirista de O Legado Bourne (e responsável pelo roteiro dos anteriores) não percebeu o medíocre roteiro antes de filmar, é um mistério que nem mesmo a equipe de Pam Landy poderia resolver.
A Hora Mais Escura, sobre a caçada de Osama Bin Laden, é mais um acerto de Kathryn Bigelow na direção. O filme serve muito bem como uma espécie de epílogo à Guerra ao Terror - e seria ideal vê-los em uma sessão dupla.
Sempre deixando a questão política em segundo plano, acompanhamos a caçada dos agentes da CIA para capturar os maiores líderes da Al Qaeda e, em especial, de Osama Bin Laden. Em tela preta, o longa começa com os diálogos das vítimas dos ataques às Torres Gêmeas no fatídico mês de setembro em 2001. A partir daí, acompanhamos a caçada durante os anos e os eventos que mais marcaram o mundo nos últimos tempos - como a explosão de ônibus em Londres.
Jessica Chastain interpreta a personagem mais forte do longa. A sua Maya é forte, decisiva e que não tem medo de enfrentar os eu chefe quando este parece não dar a minima para as suas teorias. É uma pena, no entanto, que Chastain seja prejudicada pelo roteiro de Mark Boal, que nunca nos revela os reais motivos pelos quais Maya TEM que capturar Osama Bin Laden a todo o custo ou porque ela simplesmente não pode desistir e pegar uma vaga em Washington, longe do ambiente de guerrilha em que vive no Paquistão, Afeganistão ou em qualquer lugar que ela precise estar para recolher pistas e informações.
Igualmente problemático são pulos temporais que o filme dá, de 2001 somos jogados a 2004, para depois nos encontrarmos em 2005, e assim por diante e nem nos damos conta. Não acontece com naturalidade e isso atrapalha um pouco a fluidez com que a narrativa se encaminhava, sendo necessário mais um esforço da diretora e os atores para colocar a produção no ritmo novamente.
E nisso Bigelow não mede esforços. Os trinta minutos finais são excelentes, com toda a tensão e ação que fez a diretora ser premiada com seu ótimo Guerra ao Terror. Auxiliado pela esperta fotografia de Greig Fraser, que opta por mostrar a operação sob o ponto de vista dos soldados, com a luz noturna ativada, o ato final é brilhantemente dirigido por Bigelow. E ela, afinal, mostra-se ter muito mais colhões para filmar a violência do que muitos outros diretores covardes homens que estão por aí. Não tem final água-com-alúcar, a questão não é se Osama Bin Laden foi morto ou não, mas todos os sacríficios que foram feitos em nome de ideais. E isso serve para ambos os lados.
Arrastado e cansativo, parece mais um comercial estendido de Tom Hooper ensinando a utilizar um novo modelo de filmadora mostrando seus diversos ângulos e inclinações. Porém, Hooper consegue algumas boas cenas - destacando aquelas em todas as canções são interpretadas coletivamente. Hugh Jackman está excelente no papel do ladrão Jean Valjean, Anne Hatheway traz intensidade em sua participação e Russel Crowe até que está bem interpretando (não cantando). No mais, algumas canções são chatas e demoradas, outras têm ritmo e se encaixam perfeitamente na narrativa e as infinitas passagens de tempo sempre quebram o ritmo quando o filme parece engrenar.
É impressionante o quanto Hubert e Marcelo Madureira continuam a repetir as mesmas "piadas" de sempre para tentar fazer o espectador rir, mesmo estas já estando datadas e sem graça até mesmo para um menino de quatro anos de idade - que provavelmente consegue fazer trocadilhos muito mais inteligentes que esta dupla de "roteiristas". O pior mesmo é ter de assistir a um ótimo comediante como Marcelo Adnet se sujeitando a "atuar" com caretas e sorrisos forçados ou mesmo ter que ouvir a voz de Fernanda Montenegro narrando a "epopéia" de Agamenon em uma narrativa que se caracteriza pela falta de lógica e de humor.
Mais triste ainda é ver figuras como Caetano Velloso, Fernando Henrique Cardoso e até mesmo Jô Soares participando da "brincadeira". E digo "brincadeira" porque As Aventuras de Agamenon - O Repórter não é uma brincadeira em que Hubert e Marcelo Madureira convidam os seus amigos para filmar um filme divertido. É uma ofensa à inteligência do espectador, que tem que aguentar uma hora e vinte minutos de piadas como "Jacinto Leite Aquino Rêgo", perguntas como "Que time é teu?", um rato chamado Jerry que foge de um gato chamado Tom, trocadilhos como "diariamente, todo domingo" e mais besteiras deste estilo.
A incursão de Peter Jackson no mundo de Tolkien resultou em uma das grandes trilogias no cinema dos últimos tempos. Um marco do cinema fantástico e o grande trunfo de Jackson. Como era de se esperar, o diretor retorna à Terra-Média muito mais a vontade, explorando cada canto da Nova Zelândia , abusando dos movimentos de câmera e trazendo cada vez mais criaturas bizarras para a tela. É uma pena, no entanto, que o diretor pareça ter desaprendido que ele está fazendo um filme e não filmando o livro. E este é o maior problema de O Hobbit.
Os Infratores é um bom filme de gângster, é bem conduzido por John Hillcoat, mas peca justamente no que era para ser o mais importante: dar mais vida à lenda dos irmãos Bondurant. Claro que Forrest (interpretado com uma frieza por Tom Hardy) faz jus à imortalidade dos irmãos, mas no decorrer do longa o único que ganha espaço para construir seu personagem é Shia LaBeoulf com seu Jack Bondurant. Gary Oldman, Jessica Chastain e Mia Wasikowska pouco podem fazer com seus personagens - e o primeiro é relegado ao segundo plano facilmente durante a projeção, por mais que seu personagem seja infinitamente mais interessante a qualquer um dos irmãos.
Porém Hillcoat é ágil, preciso e sabe filmar a violência com elegância, conseguindo fazer com que o público escolha a torcida pelos irmãos rapidamente - mérito também de um inspirado Guy Pearce que faz aqui um vilão bizarro que parece ter saído direto de histórias em quadrinhos. Se Os Infratores não é um dos melhores filmes de 2012, ao menos é um dos mais prazerosos longas que tivemos a chance de assistir nos cinemas em um ano em que os super-heróis, mais uma vez, dominaram o circuito.
Uma verdadeira pérola do cinema-pastelão. Este Mundo é um Hospício ganha ainda mais pontos quando se aprofunda em seu aspecto teatral, como nas cenas da briga em seu terceiro ato, divertídissima, ou simplesmente quando as irmãs Bewster contam à Mortimer com a maior simplicidade que envenenaram não apenas um, mas doze senhores solitários (!) e que estão esncondidos no porão. Junta-se a isso a um dos melhores personagens da filmografia de Capra, o coronel Theodore Roosevelt, interpretado brilhantemente e com carisma de sobra por John Alexander Lowe. Fora Cary Grant em uma das melhores interpretações de sua carreira. Este Mundo é um Hospício é uma das obras-primas do Cinema-comédia.
007 - Operação Skyfall (que na verdade não é uma operação) é um dos melhores filmes de James Bond nos 50 anos que o espião dá as caras nos cinemas. Com uma jornada mais intimista que a maioria dos filmes do personagem, este novo exemplar nos revela um pouco do passado tanto do agente quanto da própria M, com um vilão interpretado com bastante eficácia por Javier Bardem, que também procura uma vingança bem pessoal contra uma certa pessoa do MI6.
Com uma direção realmente eficiente, Sam Mendes demonstra segurança e personalidade nas cenas de ação, sempre mostrando lógica tanto nos enquadramentos quanto na montagem. Daniel Craig é o melhor James Bond depois de Sean Connery e ainda consegue estabelecer uma química bem interessante com novos personagens que são introduzidos no terceiro filme em que protagoniza (Ben Wishaw, Ralph Fiennes e Naomie Harries). E Judi Dench mostra toda a sua experiência com sua M, que ganha mais espaço aqui do que nos demais filmes da série.
No fim, Skyfall me ganhou justamente por conferir tridimensionalidade aos personagens do universo de James Bond. Ao mostrar M e 007 enfrentando os fantasmas de seus passados, a franquia mostra que ainda tem fôlego para continuar a custurar elementos de outras produções com inovações. Se em Quantum of Solace a produção havia perdido parte da energia de Cassino Royale, em Skyfall ela se renova, criando uma espécie de reboot dentro do reboot - o que torna ainda mais interessante esta nova fase de James Bond.
Observação: A música "Skyfall", tema do filme e interpretado por Adele é uma das melhores canções da série e os créditos iniciais não deixam de ser uma excelente homenagem aos 50 anos de Bond - além de ser uma excelente prévia para o que vem a seguir.
Com uma atuação realmente impressionante da gigante Bette Davis, o filme investe no over do teatro para criar uma fábula sobre a ambição humana que transforma os bastidores do teatro em um jogo de mentiras e manipulação. Pegando carona com Davis, Anne Baxter dá a performance de sua vida como a "malvada" do título, Eve e Mankiewicz conduz como ninguém um texto digno de Billy Wilder.
Mais uma ótima comédia oitentista de Hughes. John Candy está inesquecível como o Tio Buck, um dos melhores personagens tanto da carreira do ator quanto do diretor. De quebra, o elenco infantil sai ganhando com o pequeno Macaulay Culkin e a garotinha inteprretada por Gaby Hoffmann,
Kirk Douglas interpreta com um intensidade única o seu personagem, Chuck Tatum e Wylder ainda aproveita para criticar não só a imprensa sensacionalista, mas a nossa curiosidade cruel pelo sofrimento humano.
Uma releitura de qualquer obra é sempre bem-vinda. E a repaginada no clássico conto de Branca de Neve e os Sete Anões não é uma ideia de se colocar fora. Muito pelo contrário. O problema é que para repaginar a história da mais bela de todas no Cinema é preciso competência. É o que carece na obra dirigida pelo diretor Rupert Sanders.
Convencer o espectador que Kristen Stewart é mais bela que Charlize Theron é algo que nem mesmo Hithcock ou Kubrick conseguiria fazer, mas a incopetência do diretor em conduzir seu longa-metragem é algo desastroso de acompanhar. Quando Sanders mostra Branca de Neve, o Caçador e os anões percorrendo uma linda paisagem, o diretor filma planos aéreos para tentar nos dizer: "veja, estamos filmando um épico". Quando há um exército pronto para atravessar uma praia, Sanders filma os líderes cavalgando, a água espirrando, os soldados gritando, a música aumentando e... "veja, estamos filmando um épico". O problema, Sanders, é que não há épico sem emoção.
Stewart não consegue mais se desvincular de sua personagem da "saga" Crepúsculo. E o seu discurso para comover alguns soldados a batalharem em certo momento do longa-metragem é terrível - além de ser muito mal-escrito. Há uma tentativa frustrada em fazer um arco romântico com o Caçador e com o jovem William, mas parece que tanto o roteiro quanto o diretor se esquecem disso, como se não houvesse mais importância as informações que eles tem nos jogado desde a cena inicial.
Por fim, você acaba torcendo mesmo é para a rainha Rovenna, interpretada com exagero por Charlize Theron. E é nesse exagero que Theron se sai melhor - e você acaba torcendo para que ela possa absorver a "beleza" de Stewart e se torne linda para o resto do filme.
No fundo, Branca de Neve e o Caçador tem suas boas cenas: algumas interpretadas por Ravenna, outros pelos anões (que conta com um time de atores de dar inveja a qualquer outros anões de outros filmes baseados na história). Faltou mais emoção à Branca de Neve e, principalmente, competência. Tinha orçamento e tinha elenco. Só não tinha o resto.
Observação: A música de Florence + The Machine, "Breath of Life" é realmente muito bonita, merecia ser acompanhada por um filme melhor.
Billy Wilder mostra toda a sua maturidade ao conduzir um dos melhores roteiros que ele tem a chance de escrever. Baseado na obra de Agatha Christie (a qual eu recomendo tanto quanto o longa), Testemunha de Acusação se apoia na brilhante performance do trio protagonista. Tyrone Power dá o carisma certo para Leonard Vole, que é apenas um homem ingênuo e romântico o suficiente que seria capaz de proteger sua esposa acima de tudo. E se Marlene Dietrich encarna uma Christine misteriosa e fria à primeira vista, sua personagem sempre estremece o tribunal quando entra em cena.
Mas é na figura do advogado Sir Wilfrid Robarts que reside a grande performance do filme. Rabugento e desbocado, o advogado demonstra uma inteligência calculista sempre apoiado nas leis e na crença do seu caso, mesmo quando tudo parece perdido. Não é à toa que Sir Wilfrid é o "salvador das causas perdidas", frase dita por um dos personagens ao longo da produção. Charles Laughton entrega uma performance realmente digna de prêmios, já que até mesmo no humor, o ator mostra um ótimo timing cômico com a sua parceria de cena, a enfermeira Miss Plimsoll (interpretada por Elsa Lanchester).
Com um desfecho surpreendente e convincente na sua explicação, o velho clichê do didatismo em que um personagem explica tudo o que aconteceu nunca deu tão certo. Obigatório para todos que apreciam Wilder e para qualquer fã do bom Cinema.
Depois de Lúcia
3.8 1,1KSobre Depois de Lúcia (não revisado):
Em seu segundo filme, o mexicano Michel Franco é objetivo no que pretende mostrar e discutir: o bullyng. Talvez a maior proeza de Depois de Lúcia seja utilizar este tema complicado apenas como pano de fundo. O que importa para o diretor são as questões psicológicas e mais profundas que os protagonistas enfrentam ao longo do filme.
Após perder a esposa em um acidente, Roberto (Hernán Mendoza) e a sua filha Alejandra (Tessa Ia) mudam-se da cidade interiorana Puerto Vallarta para a cidade do México. Os dois tentar se adaptar à nova vida: ele, um chef de cozinha que já tem emprego garantido em um restaurante; ela, em uma escola nova. No entanto, em uma festa da escola, Alejandra comete um erro ao transar com um colega de escola em um banheiro e deixar ser filmada por este. No dia seguinte, descobre que seu vídeo foi publicado na internet e toda a escola já o assistiu. A partir daí, passa a sofrer bullyng por seus colegas que vão desde torturas psicológicas à agressões físicas. Paralelamente seu pai está ainda muito deprimido e abalado pela morte da esposa, o que acaba lhe prejudicando em seu emprego.
Os bullyngs sofridos pela garota Alejandra não são comuns: uma de suas colegas corta seu cabelo, garotos no banheiro invadem sua privacidade com os pênis de fora, incluindo até mesmo um estupro de um dos seus colegas de aula. Retratados sempre de forma realista, por vezes cruel, pela câmera estática de Franco, o diretor de fotografia Chui Chávez adota uma forma documental sempre acompanhado pelo silêncio da narrativa, já que não há praticamente uso de trilha-sonora. Neste ponto, vale ressaltar a inteligência de Franco já que tudo que acontece na tela convence facilmente o espectador. Por outro lado o absurdo que é cometido dentro e fora da escola com Alejandra pode soar um pouco exagerado, um pouco forçado para que o espectador realmente se comova com a garota. O que não precisava já que a atuação de La é o suficiente para que o espectador simpatize com ela e com os seus problemas – perder a mãe por si só já bastaria.
Alejandra foge de seus problemas em seu próprio mundo, quieta, não conversa com o pai sobre os problemas que enfrenta na escola. O silêncio, principalmente quando ela fica sozinha nadando, é um dos únicos momentos em que realmente tem paz. Já Roberto é vivido por Mendoza como um homem deprimido e triste, mas que a qualquer momento pode explodir – há um momento em que ele briga com outro por causa de uma picuinha no trânsito. No entanto, em nenhum momento a relação de pai e filha fica comprometida, nem mesmo quando, logo no início, ele descubra que ela utilizou maconha. Há uma conversa franca entre os dois, que revela a confiança e o amor que um tem pelo outro.
Já no ato final o filme procura resolver seus problemas de uma modo mais apressado, prejudicando um pouco o desenvolvimento que Franco pacientemente estava realizando até então. Não que interfira na qualidade do longa. Depois de Lúcia é um bom filme, talvez não pelo bullyng em si. O tema é discutido com amadurecimento, mas até que se chegue à discussão, o exagero, infelizmente, atrapalha. Depois de Lúcia é um bom filme por focar tão bem na relação entre pai e filha de uma maneira tão sensível e madura que, em nenhum momento, subestime o seu espectador. Diferente de tanto dramalhão que se encontra por aí.
Truque de Mestre
3.8 2,5K Assista AgoraTruque de Mestre é um filme de mágicos envolvidos em um assalto. É como se O Grande Truque, de Christopher Nolan, encontrasse Onze Homens e um Segredo, de Steven Sodehberg. O primeiro tem uma complexidade narrativa envolvendo mágicos e truques, com um desfecho surpreendente; já o segundo conta com um plano de assalto muito bem executado e, conforme vai se revelando, por mais absurdo que pareça, torna-se crível para o espectador. É uma pena, no entanto, que Truque de Mestre não tenha que conseguido captar a essência dos dois exemplos citados acima, que por mais que não sejam grandes filmes, são eficientes em suas propostas.
O maior problema de Truque de Mestre reside no roteiro. Sem saber qual norte seguir, apresenta os quatro personagens, troca o enfoque para o detetive Rhodes e, quando retorna aos protagonistas, não consegue dar tempo o suficiente para que os protagonistas conquistem, de alguma forma, o espectador. Na realidade, é frustrante as tentativas do roteiristas (escrito a seis mãos) de criar reviravoltas, principalmente o clima “será que existe um quinto cavaleiro? Quem será?”. E o espectador inicialmente aceita o jogo de adivinhação, mas depois de vinte minutos de projeção, cansa a paciência já que o filme procura estabelecer um clima de “quem matou” digno de uma novela global.
A cada revelação que dos truques, o filme vai se tornando mais absurdo.
Afinal de contas, como o personagem de Morgan Freeman pode explicar todos os truques dos jovens? Ele passou anos, décadas, acompanhando vários mágicos e é especialista nisso, mas como deduzir, por exemplo, que os quatro personagens tenham entrado em um carro blindado após apagar guardas armados? Fora outros buracos no roteiro que parecem não ter importância alguma para Leterrier e sua turma – o personagem de Michael Caine, por exemplo, desaparece em determinado momento da projeção.
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Contando com um elenco simpático que tenta buscar carisma em um filme apático, os quatro cavaleiros se saem bem em suas funções: Eisenberg é um mágico inteligente e que “não possui tempo para sentimentos”, como é dito em um determinado momento; enquanto Harrelson se diverte o máximo que consegue com o “mentalista” McKinney; e Isla Fisher e Dave Franco fazem o possível com o tempo que tem em tela. De fato, os protagonistas do longa são Mark Ruffalo e Mélanie Laurént. A investigação dos dois domina o maior tempo das telas e são os únicos personagens que o roteiro tenta desenvolver – sem sucesso, claro. Ruffalo é sempre seguro no papel e Laurént é apaixonante. Já Freeman e Caine, experientes, apenas acompanham o ritmo do longa.
Com um final que deixa de ser surpreendente porque o espectador pensa nele logo depois de que todas as suposições fossem por água abaixo nos trinta últimos minuto de projeção, Truque de Mestre é um filme sem brilho. Faltou a mesma energia dos espetáculos que os Quatro Cavaleiros propiciam ao seu público. O diretor Louis Leterrier entrega um filme genérico e desperdiça o melhor elenco com que já teve a oportunidade de trabalhar.
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraMais sobre O Homem de Aço (texto ainda não revisado e não editado):
TEM ALGUNS PEQUENOS SPOILERS ABAIXO:
Há dois filmes em O Homem de Aço: um, protagonizado por Clark Kent e outro, pelo Homem de Aço do título. O primeiro filme pode ser descrito como um estudo de personagem, mostrando a busca de Clark pelo seu sentido no mundo; já o segundo envolve batalhas gigantescas, exageros colossais e destruição em massas onde o Super-Homem enfrenta o exército do general Zod. O primeiro torna-se muito mais interessante à medida em que o protagonista vai encontrando as pistas das suas origens, no entanto o diretor Zack Snyder, o produtor Christopher Nolan e o roteirista David S. Goyer tomam diversas decisões que mudam completamente o tom do filme, não fazendo jus aos ótimos trinta, quarenta minutos iniciais.
As origens do Super-Homem estão lá: o planeta Krypton, a Fortaleza da Solidão, a consciência de Jor-El aparecendo para o filho, Lois Lane, Smallville... A mitologia dos quadrinhos criados por Jerry Siegel e Joe Shuster está presente todo o tempo. Até demais. Há uma necessidade de que se explique tudo nos mínimos detalhes possíveis para o espectador, com um didatismo que nem sempre funciona com o Cinema. Ora, se o filme de 1978 funcionava tão bem era justamente porque o roteiro dispensava didatismo para que o espectador tirasse suas conclusões com a imagem em movimento, além de não se preocupar com o realismo. Os cenários, inclusive, são tão realistas neste filme de Snyder que até perde a força. A história do Homem de Aço possui diversos simbolismos, inclusive oriundos da religião cristã, não precisa ser dark, complexo, extremamente realista.
Porém é necessário analisar o filme de Snyder como um só, sem comparações – por mais que seja inevitável depois de termos cinco filmes sobre o herói. A estrutura adotada em Homem de Aço é muito problemática. Após um bom prólogo repleto de ação envolvendo Jor-El e o general Zod, no qual o bebê Kal-El (nome alienígena do Super-Homem) é enviado à Terra no intuito de proteger o código genético de Krypton, o filme logo inicia com um Clark Kent sem identidade salvando um grupo de homens de um barco em chamas. A partir disso, o filme alterna entre o presente e flashbacks de Clark com a família. Então, se algo acontece que dê para Clark lembrar de sua família, sabemos que lá vem um discurso motivacional de como o garoto tem que controlar os seus poderes e de como ele é diferente do resto. Não que os flashbacks sejam ruins, muito pelo contrário, eles contam com as ótimas performances de Kevin Costner e Diane Lane e são necessários ao filme. O problema é que atrapalha toda uma ação para que se retorne lá atrás e conte um pouco da história de Clark.
A estrutura do filme, aliás, lembra a de Batman Begins do mesmo produtor Christopher Nolan e do mesmo roteirista David S. Goyer. Se no longa do Cavaleiro das Trevas dava tão certo, aqui já não se pode dizer o mesmo. Quem sabe se Snyder tivesse seguido os passos de Richard Donner (mais uma vez, o diretor da adaptação de 1978) e inserisse as cenas logo no início não teria sido uma solução mais evidente? Ao menos poderia ter sido mais organizado. Mas é claro que Homem de Aço teria sido prejudicado do mesmo jeito, pois o diretor insiste em adotar um tom “épico” desde o início. Quando Clark veste a sua roupa, há apenas duas sequencias que justificam a excelente trilha-sonora de Hans Zimmer: a que ele veste o uniforme pela primeira, tentando voar; e a sequência em que ele luta individualmente com o general Zod.
É injusto, no entanto, lembrar apenas da estrutura problemática e no didatismo bobo do roteiro. Há muita coisa boa em Homem de Aço: as lutas são ótimas, muito bem coreografadas e filmadas com competência por Snyder. O diretor, tão famoso por utilizar a câmera lenta em 300, Sucker Punch e até mesmo na sua animação A Lenda dos Guardiões, não a utiliza em nenhum momento, o que beneficia (e muito) o ritmo acelerado na segunda metade (será que era uma cláusula do contrato para que ele pudesse dirigir?). Claro que no meio da ação, Snyder decide mostrar as pessoas impressionadas com a grandiosidade das lutas que estão presenciados, o que é normal neste tipo de filme. Mas alternar a ação para mostrar Perry White salvando uma funcionária que não sabemos nem o nome que ficou presa em um prédio porque ficou olhando ele cair em sua direção é muito desnecessário. Provavelmente para que o ator Laurence Fishburn apareça mais do que em duas cenas. Não que as cenas sejam ruins: mostra a união do Planeta Diário, a boa atuação de Fishburne, mas atrapalha a ação. Não justifica mostrar.
O britânico Henry Cavill, intérprete do Homem de Aço, é uma grata surpresa. O ator mistura confusão, insegurança, medo, amor e todo o resto apenas nas suas expressões e se entrega em cena em todos os seus momentos. Amy Adams se beneficia de que sua personagem tem uma importância maior e está bem em praticamente todas as suas cenas. Kevin Costner e Diane Lane ótimos como os pais adotivos de Kent. Há uma cena, em particular, que Costner faz um gesto com a mão para Clark que é arrebatadora – e a resposta de Cavill ao gesto é sensível e, de certa maneira, necessária para o amadurecimento do seu personagem.
Russel Crowe se diverte com seu Jor-El, mas é Michael Shannon que nos entrega a performance mais enigmática. Seu personagem é um homem que faz tudo pelo seu povo, mesmo que de “forma violenta e cruel”, como o próprio menciona em determinado momento. No prólogo, a performance de Shannon é histérica para então se tornar ameaçadora (reparem sua voz nos televisores). No último ato o personagem desabafa para Kal-El em um pequeno monólogo. Naquele momento, Shannon impressiona pelo misto de frieza e amor pela sua raça, que chega até a ser tocante.
O Super-Homem de O Homem de Aço salva Lois Lane umas quinhentas vezes, destrói uma cidadezinha, destrói Metrópolis e provavelmente deve ter dado uma imensa crise financeira para os Estados Unidos. Ele destrói prédios, os atravessa e não parece ligar muito se tem alguém para ser salvo ou não. Simplesmente joga seus inimigos através dos prédios e estes fazem as mesmas coisas. Aliás, o número de mortes em O Homem de Aço deve ter ultrapassado o do World Trade Center, tamanho é o caos que é montado no meio de Metrópolis. E por mais que provavelmente seja pela destruição que Lex Luthor possa se revelar, agora que o herói é conhecido em nível nacional, ainda não é o líder da Liga da Justiça e ainda não é o amigo da vizinhança. Nos próximos filmes, quem sabe acompanhamos a sua evolução? Seja como for, O Homem de Aço é uma boa adaptação e é mais uma franquia de super-herói que se potencializa.
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraHá dois filmes em Homem de Aço: um, protagonizado por Clark Kent e outro, pelo Homem de Aço do título. O primeiro filme pode ser descrito como um estudo de personagem, mostrando a busca de Clark pelo seu sentido no mundo; já o segundo envolve batalhas gigantescas, exageros colossais e destruição em massas onde o Super-Homem enfrenta o exército do general Zod. O primeiro torna-se muito mais interessante à medida em que o protagonista vai encontrando as pistas das suas origens, no entanto o diretor Zack Snyder, o produtor Christopher Nolan e o roteirista David S. Goyer tomam diversas decisões que mudam completamente o tom do filme, não fazendo jus aos ótimos trinta, quarenta minutos iniciais.
Homem de Aço é um bom filme. Algumas decisões do filme me incomodaram, mas no geral é mais uma franquia de super-herói que se potencializa.
Harakiri
4.6 180Harakiri não é apenas uma obra que critica a sociedade feudal japonesa. É uma obra atemporal, que nos convida a questionar os valores da sociedade, seja lá em qual época: o orgulho do homem, o desempregado que tenta tudo pela sua família, o pobre que serve de exemplo e, principalmente, a falta ou o excesso dos valores éticos, que nos parecem tão distantes atualmente. Só de permitir o espectador de refletir sobre todos esses assuntos, Harakiri já merece o título de obra-prima.
Além da Escuridão: Star Trek
4.0 1,4K Assista AgoraA franquia Star Trek ganha personalidade com J.J. Abrams, que não só realiza um excelente blockbuster, como também reúne política, humor, ação e aventura em um pouco mais de duas horas de filme. A complexidade do vilão interpretado por Benedict Cumberbatch é apenas um dos atrativos de Além da Escuridão.
Solaris
4.2 369 Assista AgoraObra-prima!
Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer
2.9 928 Assista AgoraDuro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer é, definitivamente, o pior filme da franquia. Se por um lado Bruce Willis salva a maioria das cenas sendo apenas John McClane, do outro temos uma história rasa como pano de fundo e um filho que não tem nem a metade docarisma do pai.
Contando ainda com uma direção fraquíssima de John Moore, que faz praticamente a mesma coisa que Tony Gilroy em O Legado Bourne ao tentar imitar a câmera nervosa e os cortes rápidos de Paul Greengrass na trilogia Bourne, o diretor fracassa em praticamente tudo. E ele tenta de tudo. Seja os flares inexplicáveis em determinados momentos, Moore fracasssa principalmente em uma perseguição de carros que, para tentar mostrar uma tensão maior ao espectador, alterna para uma sala de operações da CIA que, nervosa, tenta ajudar o agente Jack de toda a maneira possível - e é formidável que ninguém da agência sequer dê atenção ao agente em praticamente todo o resto da projeção.
Onde o diretor acerta, é quando deixa a cena para que Willis e Jai Courtney metralhar alguns bandidos e pular de alguns prédios - e em certas cenas o diretor tenta fazer uso da câmera lenta e só irrita ainda mais o espectador. Porém o filme acerta nas referências, como o destino de um dos personagens ao final do longa ou a famosa frase de McClane e seu típico senso de humor.
Dispensável tanto para o cinema quanto para a franquia, seria melhor se o projeto de um quinto filme da série só saísse da gaveta quando tivesse algo mais elaborado - e um diretor decente para filmar e não o "cara que dirigiu Max Payne". Não foi dessa que vez eu pensei: " Yippie Ki Yay Mother-Focker!".
2 Coelhos
4.0 2,7K Assista Agora2 Coelhos funciona na maior parte do tempo, mas as tantas idas e vindas do roteiro acabam soando desinteressantes cedo demais Contando com um elenco de coadjuvantes eficiente, o filme ainda conta com uma produção técnica caprichada que impressiona pelo bom uso da música e da mixagem de som, principalmente.
No entanto, o protagonista, interpretado por Fernando Alves Pinto e o seu plano são justamente o elo fraco da história. O ator, por sua ineficiência em carregar o longa nas costas (sua narração, em off, é deprimente) e o plano por se tornar óbvio e repleto de furos, e confesso que a resolução da história não me agradou.
O destaque fica mesmo nos diálogos inspiradíssimos do grupo de bandidos de Maicom, (Marat Descartes), assim como o próprio personagem; a dupla de bandidos liderada por Velinha (Thaide); a beleza e o charme indiscutíveis de Alessandra Negrini; e até mesmo Caco Ciocler, ator que eu geralmente considero inexpressivo, tem a interpretação mais intensa com o personagem mais complexo e interessante do longa.
2 Coelhos pode não ser o melhor longa brasileiro já realizado, aliás está longe disso, porém significa frescor, algo novo para o público acostumado aos complexos dramas de Cláudio Assis ou as comédias da Globo. E Alfonso Poyart tem tudo para evoluir e se tornar um grande diretor - e se sua carreira em Hollywood não deslanchar, será sempre bem-vindo em seu país de origem para afastar o público de aberrações como As Aventuras de Agamenon ou E aí, Comeu?.
Lincoln
3.5 1,5KO design de produção de Lincoln e o figurino reconstroem o cenário da Guerra Civil norte-americanas com tamanha perfeição e realismo, que é impossível não se colocar dentro daquele cenário; por outro lado, é incrível o quanto fabulesca e hipócrita é a trama dirigida por Steven Spielberg.
Colocando Lincoln como o grande responsável pela libertação dos escravos nos Estados Unidos, Sileberg ignora por completo qualquer motivação política ou econômica que o presidente possa ter para tal fato. E o diretor ainda insiste em filmar cada quadro como se Lincoln fosse o grande herói de todos os tempos, ou simplesmente manipular o espectador de todas as maneiras possíveis para que nos juntamos aos Republicanos a favor da emenda que salvará todos os negros da América (claro que não podemos mencionar que após isso eles simplesmente são jogados às traças sem qualquer aparato por parte dos libertadores, mas tudo bem...).
Melodramático como o filme anterior do diretor Cavalo de Guerra, Spielberg não consegue emocionar nem com a cena final, que além de ser extremamente manipuladora e desnecessária, é mais uma prova que o homem que fez Tubarão já não consegue mais impactar o público como geralmente fazia. E nem mesmo a boa performance de Daniel Day-Lewis pode salvar um projeto como Lincoln que, inexplicavelmente, foi cotado um dos melhores filmes de 2012.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraCom uma história repleta de clichês, alguns até um pouco maniqueístas, O Lado Bom da Vida se sai melhor quando dá espaço apenas para a dinâmica entre os personagens de Bradley Cooper e Jennifer Lawrence; já quando tenta forçar a história desinteressante das apostas esportivas ou a relação entre os irmãos, praticamente uma informação que não leva o filme a nada, O. Russell parece se desviar totalmente da história que quer contar, apenas para que no terceiro ato aconteça aquilo que já previamos desde o início do longa, quando os dois protagonistas se conhecem em um jantar.
Inexplicavelmente sendo indicado às categorias principais do Oscar e em outras premiações, O Lado Bom da Vida é um filme ingênuo, que perde a oportunidade de explorar seus personagens para dar mais atenção a elementos que pouco importam para a narrativa. Ainda assim, Cooper e Lawrence aproveitam ao máximo os seus tempos em tela e merecem todos os elogios.
O Legado Bourne
3.2 885 Assista AgoraO Legado Bourne falha em praticamente tudo o tem a pretensão de ser. Como integrante do universo de Jason Bourne, sempre que ouvimos o nome de Bourne, sempre nos recordamos dos bons momentos em que a franquia atingia quando Matt Damon era o protagonista e a trilogia era perfeita do jeito que era; quanto a filme de ação independente, falha em justamente não conseguir se desprender daquele universo, tanto que o longa conta com participações dispensáveis de Albert Finney, David Strathaim e Joan Allen como se tivessem em uma trama paralela para acompanharmos o que aconteceu após O Ultimato Bourne, o que de fato não interessa pois o desfecho foi completamente satisfatório, não precisando de explicação alguma.
Portanto, por mais que Jeremy Renner se esforce ao máximo para ser um novo agente "super-homem", somos obrigados conhecer mais e mais programas das agências secretas, não bastasse Treadstone e Blackbriar. E como se Tony Gilroy, diretor e roteirista de O Legado Bourne (e responsável pelo roteiro dos anteriores) não percebeu o medíocre roteiro antes de filmar, é um mistério que nem mesmo a equipe de Pam Landy poderia resolver.
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraA Hora Mais Escura, sobre a caçada de Osama Bin Laden, é mais um acerto de Kathryn Bigelow na direção. O filme serve muito bem como uma espécie de epílogo à Guerra ao Terror - e seria ideal vê-los em uma sessão dupla.
Sempre deixando a questão política em segundo plano, acompanhamos a caçada dos agentes da CIA para capturar os maiores líderes da Al Qaeda e, em especial, de Osama Bin Laden. Em tela preta, o longa começa com os diálogos das vítimas dos ataques às Torres Gêmeas no fatídico mês de setembro em 2001. A partir daí, acompanhamos a caçada durante os anos e os eventos que mais marcaram o mundo nos últimos tempos - como a explosão de ônibus em Londres.
Jessica Chastain interpreta a personagem mais forte do longa. A sua Maya é forte, decisiva e que não tem medo de enfrentar os eu chefe quando este parece não dar a minima para as suas teorias. É uma pena, no entanto, que Chastain seja prejudicada pelo roteiro de Mark Boal, que nunca nos revela os reais motivos pelos quais Maya TEM que capturar Osama Bin Laden a todo o custo ou porque ela simplesmente não pode desistir e pegar uma vaga em Washington, longe do ambiente de guerrilha em que vive no Paquistão, Afeganistão ou em qualquer lugar que ela precise estar para recolher pistas e informações.
Igualmente problemático são pulos temporais que o filme dá, de 2001 somos jogados a 2004, para depois nos encontrarmos em 2005, e assim por diante e nem nos damos conta. Não acontece com naturalidade e isso atrapalha um pouco a fluidez com que a narrativa se encaminhava, sendo necessário mais um esforço da diretora e os atores para colocar a produção no ritmo novamente.
E nisso Bigelow não mede esforços. Os trinta minutos finais são excelentes, com toda a tensão e ação que fez a diretora ser premiada com seu ótimo Guerra ao Terror. Auxiliado pela esperta fotografia de Greig Fraser, que opta por mostrar a operação sob o ponto de vista dos soldados, com a luz noturna ativada, o ato final é brilhantemente dirigido por Bigelow. E ela, afinal, mostra-se ter muito mais colhões para filmar a violência do que muitos outros diretores covardes homens que estão por aí. Não tem final água-com-alúcar, a questão não é se Osama Bin Laden foi morto ou não, mas todos os sacríficios que foram feitos em nome de ideais. E isso serve para ambos os lados.
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraArrastado e cansativo, parece mais um comercial estendido de Tom Hooper ensinando a utilizar um novo modelo de filmadora mostrando seus diversos ângulos e inclinações. Porém, Hooper consegue algumas boas cenas - destacando aquelas em todas as canções são interpretadas coletivamente. Hugh Jackman está excelente no papel do ladrão Jean Valjean, Anne Hatheway traz intensidade em sua participação e Russel Crowe até que está bem interpretando (não cantando). No mais, algumas canções são chatas e demoradas, outras têm ritmo e se encaixam perfeitamente na narrativa e as infinitas passagens de tempo sempre quebram o ritmo quando o filme parece engrenar.
As Aventuras de Agamenon - O Repórter
1.2 1,0KÉ impressionante o quanto Hubert e Marcelo Madureira continuam a repetir as mesmas "piadas" de sempre para tentar fazer o espectador rir, mesmo estas já estando datadas e sem graça até mesmo para um menino de quatro anos de idade - que provavelmente consegue fazer trocadilhos muito mais inteligentes que esta dupla de "roteiristas". O pior mesmo é ter de assistir a um ótimo comediante como Marcelo Adnet se sujeitando a "atuar" com caretas e sorrisos forçados ou mesmo ter que ouvir a voz de Fernanda Montenegro narrando a "epopéia" de Agamenon em uma narrativa que se caracteriza pela falta de lógica e de humor.
Mais triste ainda é ver figuras como Caetano Velloso, Fernando Henrique Cardoso e até mesmo Jô Soares participando da "brincadeira". E digo "brincadeira" porque As Aventuras de Agamenon - O Repórter não é uma brincadeira em que Hubert e Marcelo Madureira convidam os seus amigos para filmar um filme divertido. É uma ofensa à inteligência do espectador, que tem que aguentar uma hora e vinte minutos de piadas como "Jacinto Leite Aquino Rêgo", perguntas como "Que time é teu?", um rato chamado Jerry que foge de um gato chamado Tom, trocadilhos como "diariamente, todo domingo" e mais besteiras deste estilo.
O horror! O horror!
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraA incursão de Peter Jackson no mundo de Tolkien resultou em uma das grandes trilogias no cinema dos últimos tempos. Um marco do cinema fantástico e o grande trunfo de Jackson. Como era de se esperar, o diretor retorna à Terra-Média muito mais a vontade, explorando cada canto da Nova Zelândia , abusando dos movimentos de câmera e trazendo cada vez mais criaturas bizarras para a tela. É uma pena, no entanto, que o diretor pareça ter desaprendido que ele está fazendo um filme e não filmando o livro. E este é o maior problema de O Hobbit.
(...)
Crítica completa:
Os Infratores
3.8 895 Assista AgoraOs Infratores é um bom filme de gângster, é bem conduzido por John Hillcoat, mas peca justamente no que era para ser o mais importante: dar mais vida à lenda dos irmãos Bondurant. Claro que Forrest (interpretado com uma frieza por Tom Hardy) faz jus à imortalidade dos irmãos, mas no decorrer do longa o único que ganha espaço para construir seu personagem é Shia LaBeoulf com seu Jack Bondurant. Gary Oldman, Jessica Chastain e Mia Wasikowska pouco podem fazer com seus personagens - e o primeiro é relegado ao segundo plano facilmente durante a projeção, por mais que seu personagem seja infinitamente mais interessante a qualquer um dos irmãos.
Porém Hillcoat é ágil, preciso e sabe filmar a violência com elegância, conseguindo fazer com que o público escolha a torcida pelos irmãos rapidamente - mérito também de um inspirado Guy Pearce que faz aqui um vilão bizarro que parece ter saído direto de histórias em quadrinhos. Se Os Infratores não é um dos melhores filmes de 2012, ao menos é um dos mais prazerosos longas que tivemos a chance de assistir nos cinemas em um ano em que os super-heróis, mais uma vez, dominaram o circuito.
Este Mundo é um Hospício
4.0 80 Assista AgoraUma verdadeira pérola do cinema-pastelão. Este Mundo é um Hospício ganha ainda mais pontos quando se aprofunda em seu aspecto teatral, como nas cenas da briga em seu terceiro ato, divertídissima, ou simplesmente quando as irmãs Bewster contam à Mortimer com a maior simplicidade que envenenaram não apenas um, mas doze senhores solitários (!) e que estão esncondidos no porão. Junta-se a isso a um dos melhores personagens da filmografia de Capra, o coronel Theodore Roosevelt, interpretado brilhantemente e com carisma de sobra por John Alexander Lowe. Fora Cary Grant em uma das melhores interpretações de sua carreira. Este Mundo é um Hospício é uma das obras-primas do Cinema-comédia.
007: Operação Skyfall
3.9 2,5K Assista Agora007 - Operação Skyfall (que na verdade não é uma operação) é um dos melhores filmes de James Bond nos 50 anos que o espião dá as caras nos cinemas. Com uma jornada mais intimista que a maioria dos filmes do personagem, este novo exemplar nos revela um pouco do passado tanto do agente quanto da própria M, com um vilão interpretado com bastante eficácia por Javier Bardem, que também procura uma vingança bem pessoal contra uma certa pessoa do MI6.
Com uma direção realmente eficiente, Sam Mendes demonstra segurança e personalidade nas cenas de ação, sempre mostrando lógica tanto nos enquadramentos quanto na montagem. Daniel Craig é o melhor James Bond depois de Sean Connery e ainda consegue estabelecer uma química bem interessante com novos personagens que são introduzidos no terceiro filme em que protagoniza (Ben Wishaw, Ralph Fiennes e Naomie Harries). E Judi Dench mostra toda a sua experiência com sua M, que ganha mais espaço aqui do que nos demais filmes da série.
No fim, Skyfall me ganhou justamente por conferir tridimensionalidade aos personagens do universo de James Bond. Ao mostrar M e 007 enfrentando os fantasmas de seus passados, a franquia mostra que ainda tem fôlego para continuar a custurar elementos de outras produções com inovações. Se em Quantum of Solace a produção havia perdido parte da energia de Cassino Royale, em Skyfall ela se renova, criando uma espécie de reboot dentro do reboot - o que torna ainda mais interessante esta nova fase de James Bond.
Observação: A música "Skyfall", tema do filme e interpretado por Adele é uma das melhores canções da série e os créditos iniciais não deixam de ser uma excelente homenagem aos 50 anos de Bond - além de ser uma excelente prévia para o que vem a seguir.
A Malvada
4.4 660 Assista AgoraCom uma atuação realmente impressionante da gigante Bette Davis, o filme investe no over do teatro para criar uma fábula sobre a ambição humana que transforma os bastidores do teatro em um jogo de mentiras e manipulação. Pegando carona com Davis, Anne Baxter dá a performance de sua vida como a "malvada" do título, Eve e Mankiewicz conduz como ninguém um texto digno de Billy Wilder.
Quem Vê Cara Não Vê Coração
3.4 98 Assista AgoraMais uma ótima comédia oitentista de Hughes. John Candy está inesquecível como o Tio Buck, um dos melhores personagens tanto da carreira do ator quanto do diretor. De quebra, o elenco infantil sai ganhando com o pequeno Macaulay Culkin e a garotinha inteprretada por Gaby Hoffmann,
A Montanha dos Sete Abutres
4.4 246 Assista AgoraKirk Douglas interpreta com um intensidade única o seu personagem, Chuck Tatum e Wylder ainda aproveita para criticar não só a imprensa sensacionalista, mas a nossa curiosidade cruel pelo sofrimento humano.
Branca de Neve e o Caçador
3.0 4,3K Assista AgoraUma releitura de qualquer obra é sempre bem-vinda. E a repaginada no clássico conto de Branca de Neve e os Sete Anões não é uma ideia de se colocar fora. Muito pelo contrário. O problema é que para repaginar a história da mais bela de todas no Cinema é preciso competência. É o que carece na obra dirigida pelo diretor Rupert Sanders.
Convencer o espectador que Kristen Stewart é mais bela que Charlize Theron é algo que nem mesmo Hithcock ou Kubrick conseguiria fazer, mas a incopetência do diretor em conduzir seu longa-metragem é algo desastroso de acompanhar. Quando Sanders mostra Branca de Neve, o Caçador e os anões percorrendo uma linda paisagem, o diretor filma planos aéreos para tentar nos dizer: "veja, estamos filmando um épico". Quando há um exército pronto para atravessar uma praia, Sanders filma os líderes cavalgando, a água espirrando, os soldados gritando, a música aumentando e... "veja, estamos filmando um épico". O problema, Sanders, é que não há épico sem emoção.
Stewart não consegue mais se desvincular de sua personagem da "saga" Crepúsculo. E o seu discurso para comover alguns soldados a batalharem em certo momento do longa-metragem é terrível - além de ser muito mal-escrito. Há uma tentativa frustrada em fazer um arco romântico com o Caçador e com o jovem William, mas parece que tanto o roteiro quanto o diretor se esquecem disso, como se não houvesse mais importância as informações que eles tem nos jogado desde a cena inicial.
Por fim, você acaba torcendo mesmo é para a rainha Rovenna, interpretada com exagero por Charlize Theron. E é nesse exagero que Theron se sai melhor - e você acaba torcendo para que ela possa absorver a "beleza" de Stewart e se torne linda para o resto do filme.
No fundo, Branca de Neve e o Caçador tem suas boas cenas: algumas interpretadas por Ravenna, outros pelos anões (que conta com um time de atores de dar inveja a qualquer outros anões de outros filmes baseados na história). Faltou mais emoção à Branca de Neve e, principalmente, competência. Tinha orçamento e tinha elenco. Só não tinha o resto.
Observação: A música de Florence + The Machine, "Breath of Life" é realmente muito bonita, merecia ser acompanhada por um filme melhor.
Testemunha de Acusação
4.5 355 Assista AgoraBilly Wilder mostra toda a sua maturidade ao conduzir um dos melhores roteiros que ele tem a chance de escrever. Baseado na obra de Agatha Christie (a qual eu recomendo tanto quanto o longa), Testemunha de Acusação se apoia na brilhante performance do trio protagonista. Tyrone Power dá o carisma certo para Leonard Vole, que é apenas um homem ingênuo e romântico o suficiente que seria capaz de proteger sua esposa acima de tudo. E se Marlene Dietrich encarna uma Christine misteriosa e fria à primeira vista, sua personagem sempre estremece o tribunal quando entra em cena.
Mas é na figura do advogado Sir Wilfrid Robarts que reside a grande performance do filme. Rabugento e desbocado, o advogado demonstra uma inteligência calculista sempre apoiado nas leis e na crença do seu caso, mesmo quando tudo parece perdido. Não é à toa que Sir Wilfrid é o "salvador das causas perdidas", frase dita por um dos personagens ao longo da produção. Charles Laughton entrega uma performance realmente digna de prêmios, já que até mesmo no humor, o ator mostra um ótimo timing cômico com a sua parceria de cena, a enfermeira Miss Plimsoll (interpretada por Elsa Lanchester).
Com um desfecho surpreendente e convincente na sua explicação, o velho clichê do didatismo em que um personagem explica tudo o que aconteceu nunca deu tão certo. Obigatório para todos que apreciam Wilder e para qualquer fã do bom Cinema.