Os rigorosos enquadramentos e movimentos da câmera de Chantal Akerman abarcam a natureza do espaço público ao mesmo tempo em que a leitura das cartas desvelam um universo íntimo. É uma sobreposição muito bem articulada. A Nova York dos anos 1970 é ainda mais encantadora pelas lentes dela.
Os primeiros 30 minutos mais letais do cinema. A inquietação da mulher no quarto contamina. Provoca uma angústia que lembrou-me o mais novo filme da Claire Denis, apesar da personagem de Juliette Binoche ser mais solar que a de Chantal Akerman. Um sessão dupla com as duas obras deve funcionar bem. A primeira meia hora de “Je, tu, il, elle” explora os limites da proposta de encenação minimalista. Esquadrinha corpo, espaço, tempo e movimento restringido. Além disso, há algo ainda mais gigantesco depois que deixamos o quarto para trás.
Foda como "Cam" concilia temores tão comuns aos jovens que vivem a chamada cultura participativa com uma abordagem do gênero cinematográfico bem despretensiosa. É o filme definitivo sobre os transtornos de personalidade ocasionados pela interação nas redes sociais. Não que a obra demonize a tecnologia, longe disso, até porque se compreendemos a tecnologia como uma extensão do corpo humano, só há uma origem para o mau. Num determinado momento a protagonista até cogita fazer um espetáculo em que ficaria alterando o humor a fim de conseguir um espaço na home page da plataforma. Apesar dela desistir da ideia, isso meio que acontece de forma involuntária. Uma personalidade escapa. E mesmo tratando-se de um perfil virtual a briga para reconquistá-lo se faz necessária. Creio que essa luta entre Alice e Lola seja recorrente, sobretudo em tempos de perfis falsos, duplas identidades e coisas do tipo. Nessa perspectiva, não consigo esquecer da sequência em que elas entram em contato pela primeira vez naquele motelzinho. Uma das mais tensas do ano.
"Oposto à análise psicológica o filme também não deixa de ser, por conseguinte, alheio às categorias dramáticas. Os acontecimentos não se organizam segundo leis de uma mecânica das paixões cuja realização satisfaria o espírito; a sucessão deles é uma necessidade no acidental, um encadeamento de atos livres e de coincidências. A cada instante, como a cada plano bastam seu destino e sua liberdade. Eles se orientam talvez, mas separadamente, como os grãos de limalha sobre o espectro do imã. Se a palavra tragédia vem aqui à baila, é às avessas, pois só poderia ser uma tragédia do livre arbítrio". André Bazin, O Journal d'un curpe de campagne e a estilística de Robert Bresson. A cena da motocicleta.
Sério mesmo, eu havia esquecido completamente dos últimos 10 minutos de filme, até ouvir o resumo do enredo em um podcast ontem de manhã. Gosto do desenrolar dos acontecimentos. Não é penoso, tão pouco agradável. É apático. Só acho meio pedante essa atmosfera pseudo-displicente que permeia cada plano, cada transição. Fazer o personagem do Joaquim Phoenix desaparecer das cenas antes de cortá-las é pedir para ser zoado.
Quanto mais eu penso a respeito dos supostos pontos negativos de “Estranhos Prazeres” – roteiro grosseiro, atuações histéricas e encenação frontal – mais eu fico convencido da consistência que ele conserva como unidade. Há umas soluções visuais bem felizes, especificamente a sequência inicial em primeira pessoa. E depois de tantas informações, quando finalmente a bala come, é quase epifânico. Sei lá, ganhou o meu respeito por bancar as gravatas cafonas do protagonista e ainda usar esse detalhe do figurino no clímax.
– A paranóia é a realidade vista numa escala mais precisa.
A sequência no bar é uma coisa de louco mesmo. Mas eu gosto também dos primeiros 10 minutos de filme e toda atmosfera que ele consegue construir: desde o flerte na calçada; o passeio na caminhonete; a cena do cavalo; o beijo antes do amanhecer. Na verdade eu curto praticamente tudo em “Quando Chega a Escuridão”. É massa como a Kathryn Bigelow apresenta de forma sucinta e original o grupo de vampiros: em uma montagem rápida, assistimos os integrantes caçando, cada um à sua maneira. Assim como em “Caçadores de Emoção” e “Estranhos Prazeres”, ela lida bem com a questão do relacionamento amoroso. O romance entre Caleb e Mae parte do amor à primeira vista, passa pelo amaldiçoado e – depois de um desfecho explosivo muito bem-vindo – alcança o genuíno.
Acho que eu gosto dos filmes do Wes Anderson. Mas foi difícil ficar acordado enquanto assistia este novo. É tudo muito sombrio e apático, até mesmo para os padrões das comédias dramáticas que o diretor costuma fazer. Claro, reconheço que o conteúdo desse pode ser bem mais indigesto: afinal, mandar os cachorrinhos para uma ilha-lixão é de cortar o coração. Acaba sendo a antítese malsucedida de "A Fuga das Galinhas".
Há mais remorso e paixão – para usar um termo bem genérico mesmo – neste desfecho do que redenção ou qualquer coisa do tipo. Acho que o fato das personagens agirem de modo tão individualista no decorrer do filme dificulta a assimilação de um final supostamente bem-aventurado. Por isso, me parece mais razoável aceitar o olhar confuso do protagonista no momento em que ele desiste da recompensa.
É o segundo longa-metragem do Anthony Mann que eu vejo. Assim como “Winchester 73’”, “O Preço de um Homem” carrega uma muita potência cinematográfica. Mann explora bem as locações, os cenários naturais. Ele apropria-se desse espaço para compor belos quadros. É curioso o fato dos conflitos mais importantes dessas duas obras serem ambientados em uma pedreira. Ainda quero conferir outros trabalhos desse diretor que, até então, apresenta um estilo inconfundível.
– É mesmo um grande país. A única coisa que há maior é o céu. Parece que Deus fez e esqueceu de colocar a gente.
A imagem da tripulação puxando o barco rio acima é realmente memorável. Impressionante como o filme cresceu bem com o passar dos dias. Massa que o Hawks acaba incorporando na narrativa um valioso comentário sobre conflitos inerentes a todo ser humano – primeiro contra a força da natureza e depois contra a própria espécie.
– Não tem graça alguma. Há dois homens que são amigos, depois aparece uma mulher... Muito em breve, deixam de ser amigos...
É difícil acreditar que “Os Chefões” tem apenas 1h30min de duração. São raros os filmes de máfia que desenvolvem personagens com tamanho zelo em tão pouco tempo. Essa característica acaba diferenciando a obra de Abel Ferrara de títulos mais prolixos como “O Poderoso Chefão”, “Era Uma Vez na América” e “Os Bons Companheiros”. Não gosto de comparações, mas estou realmente impressionado com o controle narrativo do diretor neste longa-metragem. As informações – que não são poucas, aliás – são expostas a conta-gotas por meio de uma decupagem concisa, aliada a encenação direta de Ferrara.
Thana mata homens evidentemente mal intencionados. Sendo assim, não há motivos para considerá-la reacionária. O mais bonito disso tudo é que o filme não demoniza a protagonista. Muito pelo contrário, Ferrara e o roteirista acabam colocando o universo fílmico contra os impulsos hostis da personagem: desde o jovem chinês que consegue se salvar ao entrar no prédio; o suicida no banco da praça; o cachorro voltando para casa; até o milagroso sussurro.
Sem dúvidas é o filme da franquia que mais se preocupa em abordar a questão do trauma. E isso não é pouca coisa, não. Muito pelo contrário, David Gordon Green retrata bem a condição na qual se encontra a personagem de Jamie Lee Curtis. Mais do que nunca conseguimos assimilar a fonte da paranoia, que levou essa senhora a construir um bunker no porão de casa e a ensinar a filha pequena a atirar com um rifle.
A começar por esta introdução fúnebre embalada pela canção que antecipa o mote da narrativa. A imagem dos homens enfileirados marchando ao encontro do quarto cavaleiro do apocalipse. O badalar dos sinos da igreja.
Fica uma lição: ouçam mais as mulheres. Que por sinal, em “Matar ou Morrer”, são personagens fortes e muito bem representadas. A Helen Ramirez de Katy Jurado está perfeita. Assim como a surpreendente Amy Kane de Grace Kelly.
É curioso como a figura de Frank Miller é construída. Ela é enaltecida – e temida – em detrimento da figura do velho xerife Will Kane, interpretado por um Gary Cooper acabado.
Um ponto positivo: acho que Gareth Evans toma o tempo certo para desenvolver o enredo. O personagem interpretado por Dan Stevens funciona tanto como um simples motor narrativo – afinal, é por intermédio desse sujeito que nós acompanhamos o desenrolar da missão, quanto como uma antena de bad vibe – por meio das desventuras do protagonista nós assimilamos as estranhezas do culto e da ilha. “Apóstolo” conseguiu, ao menos comigo, irradiar um certo desconforto, sobretudo no primeiro ato. O desdobramento da investigação, bem como a construção das personagens e tramas coadjuvantes, é bem boa. Há uma nítida mudança de tom entre os atos e o filme perde aquela aura enigmática no decorrer dessa transição. Ainda assim ele mantém o ritmo e não estraga a festa.
O recruta passa um bom tempo em pé diante do oficial Kirby Yorke, seu pai biológico. Quando Kirby fica sozinho na barraca, ele levanta da cadeira para comparar a sua altura com a do filho. Dos filmes de John Ford, pelo menos entre os que eu conheço, "Rio Grande" é o que deixa mais nítido a vontade do diretor em explorar a figura do patriarca. O oficial interpretado por John Wayne pode ser o patrono inquestionável dos soldados, mas é relapso para com a família.
Olha, de desencanto só o título brasileiro do filme mesmo. O relacionamento extraconjugal é desenvolvido a partir dos efeitos deste encontro extraordinário – o gesto de Alec limpando os olhos de Laura é maravilhoso, quase que um milagre do cotidiano. São as gesticulações e os movimentos dos atores no plano que tornam "Desencanto" tão encantador – peço desculpas pelo trocadilho: a mão de Alec no ombro de Laura; a esposa rindo na frente da lareira, depois de revelar para o marido que almoçou com outro homem; os amantes no corredor da estação, entre tantos outros momentos. De saída, acho que é uma importante aula sobre autoconhecimento.
– Devia estar arrependida e envergonhada, mas não estava. De repente, sentia-me loucamente feliz, como uma colegial romântica, como uma bobona romântica. É que ele disse que me ama... e eu disse que o amo. E era verdade! Era verdade.
Ambiente de trabalho não é ambiente de diversão. Síndrome de Estocolmo, só que ao invés da relação entre vítima e sequestrador, temos a atração entre empregado e patrão. O Inácio – dono do restaurante – com certeza votaria no candidato que representa o "cidadão de bem".
Notícias de Casa
4.1 32 Assista Agora#52FilmsByWomen (48)
Os rigorosos enquadramentos e movimentos da câmera de Chantal Akerman abarcam a natureza do espaço público ao mesmo tempo em que a leitura das cartas desvelam um universo íntimo. É uma sobreposição muito bem articulada. A Nova York dos anos 1970 é ainda mais encantadora pelas lentes dela.
Eu, Tu, Ele, Ela
3.7 34#52FilmsByWomen (47)
Os primeiros 30 minutos mais letais do cinema. A inquietação da mulher no quarto contamina. Provoca uma angústia que lembrou-me o mais novo filme da Claire Denis, apesar da personagem de Juliette Binoche ser mais solar que a de Chantal Akerman. Um sessão dupla com as duas obras deve funcionar bem. A primeira meia hora de “Je, tu, il, elle” explora os limites da proposta de encenação minimalista. Esquadrinha corpo, espaço, tempo e movimento restringido. Além disso, há algo ainda mais gigantesco depois que deixamos o quarto para trás.
São Jerônimo
3.8 3Muito doido. Gosto disso. Ainda quero rever e sonho com uma restauração à altura. Fé!
Cam
3.1 548 Assista AgoraFoda como "Cam" concilia temores tão comuns aos jovens que vivem a chamada cultura participativa com uma abordagem do gênero cinematográfico bem despretensiosa. É o filme definitivo sobre os transtornos de personalidade ocasionados pela interação nas redes sociais. Não que a obra demonize a tecnologia, longe disso, até porque se compreendemos a tecnologia como uma extensão do corpo humano, só há uma origem para o mau. Num determinado momento a protagonista até cogita fazer um espetáculo em que ficaria alterando o humor a fim de conseguir um espaço na home page da plataforma. Apesar dela desistir da ideia, isso meio que acontece de forma involuntária. Uma personalidade escapa. E mesmo tratando-se de um perfil virtual a briga para reconquistá-lo se faz necessária. Creio que essa luta entre Alice e Lola seja recorrente, sobretudo em tempos de perfis falsos, duplas identidades e coisas do tipo. Nessa perspectiva, não consigo esquecer da sequência em que elas entram em contato pela primeira vez naquele motelzinho. Uma das mais tensas do ano.
Diário de um Pároco de Aldeia
4.1 48"Oposto à análise psicológica o filme também não deixa de ser, por conseguinte, alheio às categorias dramáticas. Os acontecimentos não se organizam segundo leis de uma mecânica das paixões cuja realização satisfaria o espírito; a sucessão deles é uma necessidade no acidental, um encadeamento de atos livres e de coincidências. A cada instante, como a cada plano bastam seu destino e sua liberdade. Eles se orientam talvez, mas separadamente, como os grãos de limalha sobre o espectro do imã. Se a palavra tragédia vem aqui à baila, é às avessas, pois só poderia ser uma tragédia do livre arbítrio". André Bazin, O Journal d'un curpe de campagne e a estilística de Robert Bresson. A cena da motocicleta.
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista Agora#52FilmsByWomen (46)
Sério mesmo, eu havia esquecido completamente dos últimos 10 minutos de filme, até ouvir o resumo do enredo em um podcast ontem de manhã. Gosto do desenrolar dos acontecimentos. Não é penoso, tão pouco agradável. É apático. Só acho meio pedante essa atmosfera pseudo-displicente que permeia cada plano, cada transição. Fazer o personagem do Joaquim Phoenix desaparecer das cenas antes de cortá-las é pedir para ser zoado.
Estranhos Prazeres
3.6 134 Assista Agora#52FilmsByWomen (45)
Quanto mais eu penso a respeito dos supostos pontos negativos de “Estranhos Prazeres” – roteiro grosseiro, atuações histéricas e encenação frontal – mais eu fico convencido da consistência que ele conserva como unidade. Há umas soluções visuais bem felizes, especificamente a sequência inicial em primeira pessoa. E depois de tantas informações, quando finalmente a bala come, é quase epifânico. Sei lá, ganhou o meu respeito por bancar as gravatas cafonas do protagonista e ainda usar esse detalhe do figurino no clímax.
– A paranóia é a realidade vista numa escala mais precisa.
O Virgem de 40 Anos
3.1 829 Assista AgoraDeus no céu, Apatow na terra.
Quando Chega A Escuridão
3.3 133#52FilmsByWomen (44)
A sequência no bar é uma coisa de louco mesmo. Mas eu gosto também dos primeiros 10 minutos de filme e toda atmosfera que ele consegue construir: desde o flerte na calçada; o passeio na caminhonete; a cena do cavalo; o beijo antes do amanhecer. Na verdade eu curto praticamente tudo em “Quando Chega a Escuridão”. É massa como a Kathryn Bigelow apresenta de forma sucinta e original o grupo de vampiros: em uma montagem rápida, assistimos os integrantes caçando, cada um à sua maneira. Assim como em “Caçadores de Emoção” e “Estranhos Prazeres”, ela lida bem com a questão do relacionamento amoroso. O romance entre Caleb e Mae parte do amor à primeira vista, passa pelo amaldiçoado e – depois de um desfecho explosivo muito bem-vindo – alcança o genuíno.
The Good Time Girls
3.6 2#52FilmsByWomen (43)
Laura Dern e a Clementine mais foda do gênero.
Ilha dos Cachorros
4.2 655 Assista AgoraAcho que eu gosto dos filmes do Wes Anderson. Mas foi difícil ficar acordado enquanto assistia este novo. É tudo muito sombrio e apático, até mesmo para os padrões das comédias dramáticas que o diretor costuma fazer. Claro, reconheço que o conteúdo desse pode ser bem mais indigesto: afinal, mandar os cachorrinhos para uma ilha-lixão é de cortar o coração. Acaba sendo a antítese malsucedida de "A Fuga das Galinhas".
O Preço de um Homem
3.9 27Há mais remorso e paixão – para usar um termo bem genérico mesmo – neste desfecho do que redenção ou qualquer coisa do tipo. Acho que o fato das personagens agirem de modo tão individualista no decorrer do filme dificulta a assimilação de um final supostamente bem-aventurado. Por isso, me parece mais razoável aceitar o olhar confuso do protagonista no momento em que ele desiste da recompensa.
É o segundo longa-metragem do Anthony Mann que eu vejo. Assim como “Winchester 73’”, “O Preço de um Homem” carrega uma muita potência cinematográfica. Mann explora bem as locações, os cenários naturais. Ele apropria-se desse espaço para compor belos quadros. É curioso o fato dos conflitos mais importantes dessas duas obras serem ambientados em uma pedreira. Ainda quero conferir outros trabalhos desse diretor que, até então, apresenta um estilo inconfundível.
O Rio da Aventura
3.3 15 Assista Agora– É mesmo um grande país. A única coisa que há maior é o céu. Parece que Deus fez e esqueceu de colocar a gente.
A imagem da tripulação puxando o barco rio acima é realmente memorável. Impressionante como o filme cresceu bem com o passar dos dias. Massa que o Hawks acaba incorporando na narrativa um valioso comentário sobre conflitos inerentes a todo ser humano – primeiro contra a força da natureza e depois contra a própria espécie.
– Não tem graça alguma. Há dois homens que são amigos, depois aparece uma mulher... Muito em breve, deixam de ser amigos...
Os Chefões
3.7 29É difícil acreditar que “Os Chefões” tem apenas 1h30min de duração. São raros os filmes de máfia que desenvolvem personagens com tamanho zelo em tão pouco tempo. Essa característica acaba diferenciando a obra de Abel Ferrara de títulos mais prolixos como “O Poderoso Chefão”, “Era Uma Vez na América” e “Os Bons Companheiros”. Não gosto de comparações, mas estou realmente impressionado com o controle narrativo do diretor neste longa-metragem. As informações – que não são poucas, aliás – são expostas a conta-gotas por meio de uma decupagem concisa, aliada a encenação direta de Ferrara.
Sedução e Vingança
3.7 151 Assista AgoraThana mata homens evidentemente mal intencionados. Sendo assim, não há motivos para considerá-la reacionária. O mais bonito disso tudo é que o filme não demoniza a protagonista. Muito pelo contrário, Ferrara e o roteirista acabam colocando o universo fílmico contra os impulsos hostis da personagem: desde o jovem chinês que consegue se salvar ao entrar no prédio; o suicida no banco da praça; o cachorro voltando para casa; até o milagroso sussurro.
O Rei de Nova York
3.7 87– If i was into socialized medicine i woulda stayed in Peking Province…
No submundo nova-iorquino, o que move esses personagens? Quem sabe seja o dinheiro, a cocaína, o poder ou mesmo a redenção.
Mandy: Sede de Vingança
3.3 537 Assista AgoraSei lá, mano. Nicolas Cage cheiradaço e doido de ácido caçando uns jesus freaks não tem erro.
Halloween
3.4 1,1KSem dúvidas é o filme da franquia que mais se preocupa em abordar a questão do trauma. E isso não é pouca coisa, não. Muito pelo contrário, David Gordon Green retrata bem a condição na qual se encontra a personagem de Jamie Lee Curtis. Mais do que nunca conseguimos assimilar a fonte da paranoia, que levou essa senhora a construir um bunker no porão de casa e a ensinar a filha pequena a atirar com um rifle.
Matar ou Morrer
4.1 205 Assista AgoraA começar por esta introdução fúnebre embalada pela canção que antecipa o mote da narrativa. A imagem dos homens enfileirados marchando ao encontro do quarto cavaleiro do apocalipse. O badalar dos sinos da igreja.
Fica uma lição: ouçam mais as mulheres. Que por sinal, em “Matar ou Morrer”, são personagens fortes e muito bem representadas. A Helen Ramirez de Katy Jurado está perfeita. Assim como a surpreendente Amy Kane de Grace Kelly.
É curioso como a figura de Frank Miller é construída. Ela é enaltecida – e temida – em detrimento da figura do velho xerife Will Kane, interpretado por um Gary Cooper acabado.
Apóstolo
3.0 426Um ponto positivo: acho que Gareth Evans toma o tempo certo para desenvolver o enredo. O personagem interpretado por Dan Stevens funciona tanto como um simples motor narrativo – afinal, é por intermédio desse sujeito que nós acompanhamos o desenrolar da missão, quanto como uma antena de bad vibe – por meio das desventuras do protagonista nós assimilamos as estranhezas do culto e da ilha. “Apóstolo” conseguiu, ao menos comigo, irradiar um certo desconforto, sobretudo no primeiro ato. O desdobramento da investigação, bem como a construção das personagens e tramas coadjuvantes, é bem boa. Há uma nítida mudança de tom entre os atos e o filme perde aquela aura enigmática no decorrer dessa transição. Ainda assim ele mantém o ritmo e não estraga a festa.
Rio Grande
3.5 55 Assista AgoraO recruta passa um bom tempo em pé diante do oficial Kirby Yorke, seu pai biológico. Quando Kirby fica sozinho na barraca, ele levanta da cadeira para comparar a sua altura com a do filho. Dos filmes de John Ford, pelo menos entre os que eu conheço, "Rio Grande" é o que deixa mais nítido a vontade do diretor em explorar a figura do patriarca. O oficial interpretado por John Wayne pode ser o patrono inquestionável dos soldados, mas é relapso para com a família.
Confronto Final
2.1 39– Você acha que tem alguma chance, sozinho, contra cinco?
– Cinco não, quatro.
Depois disso, só alegria.
Desencanto
4.4 171 Assista AgoraOlha, de desencanto só o título brasileiro do filme mesmo. O relacionamento extraconjugal é desenvolvido a partir dos efeitos deste encontro extraordinário – o gesto de Alec limpando os olhos de Laura é maravilhoso, quase que um milagre do cotidiano. São as gesticulações e os movimentos dos atores no plano que tornam "Desencanto" tão encantador – peço desculpas pelo trocadilho: a mão de Alec no ombro de Laura; a esposa rindo na frente da lareira, depois de revelar para o marido que almoçou com outro homem; os amantes no corredor da estação, entre tantos outros momentos. De saída, acho que é uma importante aula sobre autoconhecimento.
– Devia estar arrependida e envergonhada, mas não estava. De repente, sentia-me loucamente feliz, como uma colegial romântica, como uma bobona romântica. É que ele disse que me ama... e eu disse que o amo. E era verdade! Era verdade.
O Animal Cordial
3.4 617 Assista Agora#52FilmsByWomen (42)
Ambiente de trabalho não é ambiente de diversão. Síndrome de Estocolmo, só que ao invés da relação entre vítima e sequestrador, temos a atração entre empregado e patrão. O Inácio – dono do restaurante – com certeza votaria no candidato que representa o "cidadão de bem".