Só para registrar mesmo: primeira vez que eu entro em uma sala de cinema sem saber nada – nem o extenso título brasileiro – do filme exibido.
Sem rodeios: "A Casa do Medo - Incidente em Ghostland" foi uma boa surpresa. A narrativa impressiona, não apenas por brincar com sugestões, mas por trabalhar bem essa proposta. Acho que ela acerta ao estabelecer os dois universos – concreto e imaginário. Concordo que o conteúdo pode ser excessivamente sádico ao insistir em situações de violência extrema. No entanto, acho interessante a maneira como a forma apresenta concessões em meio a tudo isso. Pascal Laugier demonstra uma autonomia intrépida, sobretudo na sequência em que duas garotas correm sem rumo por uma floresta. Me parece um diretor interessado em explorar o lugar que ocupa.
Engraçado que ao longo da sessão de "Homem-Formiga e a Vespa" eu não havia apreciado o filme tanto quanto agora. Aliás, eu comentava que foram basicamente 118 minutos para justificar a existência de uma cena pós-créditos. Maior bobagem. Acho que o caráter episódico desse longa-metragem encaixa-se muito bem no universo do Homem-Formiga – e agora da Vespa, Hank Pym, Janet Van Dyne e Bill Foster. Se considerarmos um eventual desgaste do sub-gênero, acredito que a pegada secundária dessa obra possa fazer um bem danado para as próximas produções do Universo Cinematográfico Marvel.
“Western” é quase um filme sobre o que teria acontecido com o protagonista de “Beau Travail” da Claire Denis. Cinematograficamente é meio que uma versão solar e calorosa do longa-metragem francês. Acho significativo apontar o interesse da diretora no registro naturalista destes homens que trabalham juntos, em uma convivência bruta e árida. É difícil ignorar os ecos da obra de 1999, sobretudo ao assistir as sugestivas trocas de olhares entre Meinhard e Vincent.
No final das contas, é mais sobre construir do que procurar. Trata-se de um homem que não possui mais nada. Nem saudades. Ele guarda a faca e dança. Agora, além de construir pontes, ele constrói relações.
Convenhamos que seria meio impossível "Deadpool 2" superar o primeiro filme, né? Mesmo assim ele consegue explorar bem alguns elementos dramáticos, narrativos e metalinguísticos construídos pelo antecessor. Devo dizer que eu não dava nada. Mas felizmente as sequências exageradas e as piadas verborrágicas não atrapalharam tanto.
Acho que ressaltar os temas sombrios sutilmente abordados pela narrativa seria chover no molhado. Mas é importante destacar o trabalho de encenação do diretor Mark Robson. Poucas sequências me deixaram tão agoniado quanto aquela em que Mary visita a fábrica de madrugada.
Apenas algumas considerações. Anthony Mann manifesta uma certa transparência na encenação. A sequência do torneio de tiros concilia bem as técnicas cinematográficas com a composição dos elementos pertencentes ao espaço fílmico. O universo imaginário é apresentado para nós, espectadores, da melhor maneira possível: cenas mais longas; profundidade de campo; planos abertos no momento dos disparos; planos detalhes em moedas, por exemplo. Tudo está claro, desde as linhas nas faces dos atiradores até os populares na sacada do consultório odontológico. Poucas sequências conseguem representar de modo tão belo as especificidades de um determinado cosmos.
Também é interessante perceber a relação da sociedade com as armas. O parceiro do protagonista, inclusive, estranha o fato do cidadãos de Dodge City “andarem despidos”, ou seja, desarmados. As crianças tocam na espingarda como se ela fosse um ídolo divino. O diretor ainda enfatiza as diferentes posições ideológicas do personagem de James e do antagonista de forma inteligente.
– É um rifle muito bom para um homem que só atira em coelhos.
– Ou atira traiçoeiramente pelas costas.
Na moral eu acho que daria para escrever um texto apreciando apenas sobre o jogo de pôquer e investimento em detalhar os procedimentos. No mais, devo dizer que 2018 está sendo um ano bem especial. Em janeiro, foi um prazer conhecer o Mann que desestabiliza a mise-en-scène (Michael Mann). Agora, fico feliz em visitar o Mann que conversa essa encenação translúcida e direta.
É fabulosa a maneira como Dario Argento concilia elementos distintos na criação desta unidade fílmica tão peculiar e convidativa. Penso em "Phenomena" como um filme sobre o terror de estar sozinho. Seja pela sequência na qual assistimos uma adolescente perder o ônibus e ficar desacompanhada em uma região isolada. A própria protagonista não consegue se comunicar com o pai para pedir a transferência do colégio interno. Depois que o professor é assassinado, será a vez da macaca Inga enfrentar a solidão. Eu posso estar forçando a barra, mas talvez o sonambulismo seja a potência máxima dessa questão: afinal, deixa-se o corpo só à mercê de uma força misteriosa.
Existem alguns filmes que poderiam ganhar uma nova versão. Mais pelo potencial das qualidades que apresentaram do que pelos defeitos ou qualquer coisa do tipo. “O Valente Treme-Treme” é um desses. As intervenções de Calamity Jane que acabam transformando o medroso Peter Potter em um herói do oeste são bem sagazes. Algumas piadas se repetem sem dó, uma opção corajosa, mas também traiçoeira: não precisavam “arrastar” a Jane Russell daquele jeito.
– Por que se mata um homem, tentando fazer do senhor um parceiro do feito?
A boiada chegou em Kansas. As locomotivas cederam espaço para os transportes aéreos. Enfim, passaram-se décadas e continuamos convivendo com gestores tão brutos quanto o Tom Dunson de John Wayne. Ainda bem que temos alguns jovens Montgomerys Clift’s tentando administrar as situações. Mas eu prefiro mesmo a iniciativa de personagens como a Tess Millay de Joanne Dru, que tenta amansar o ânimo dos frágeis vaqueiros por meio do diálogo.
Império dos desconfortos. A começar pelo odioso protagonista Diego de Zama, um americano que cobiça o inalcançável estilo de vida europeu. Lembra-se melhor da Europa quem nunca esteve lá. Toda a esperança do personagem pela promoção transforma-se em uma verdadeira tortura. Logo, assim como as personagens de “O Pântano”, ele será consumido pela febre dos trópicos. Esse mal-estar é sugerido por elementos presentes tanto no segundo plano do espaço fílmico – corpos suados, escravos distantes da ação, uma lhama – quanto no extracampo – sons e presenças invisíveis, fantasmagóricas.
– Faço por vocês o que ninguém fez por mim. – Está mentindo. – Digo não às suas esperanças.
Eu realmente não esperava algo tão gigantesco. É difícil elaborar um comentário a respeito de "Scarface - A Vergonha de Uma Nação", devido a perfeição dessa obra. Acho curioso ideia de uma incessante busca por ascensão social que acaba destruindo o sujeito. No mais, Howard Hawks possuí um frescor muito moderno na encenação. Impressionante.
Hoje, se me perguntassem o que é cinema, eu responderia que é movimento: seja o Wyatt Earpp de Henry Fonda equilibrando-se na cadeira; a agitação no alpendre devido a chegada de uma diligência; o casal dançando no baile da igreja; ou a nuvem de poeira que atravessa o duelo entre dois homens. "Paixão dos Fortes" é John Ford mitificando o mito.
Antes de tudo, parece-me um filme sobre o quão foda é descobrir as coisas pela boca dos outros. Toda a cruzada ciumenta de George Minafer parte dessa revelação meio que involuntária. O desfecho trágico acaba reforçando toda a áurea edipiana que existe na relação entre mãe e filho.
Quanto a linguagem, impressiona a maneira como Orson Welles lida com a profusão de vozes. As sequências apresentam diversos personagens dialogando ao mesmo tempo, além disso, Welles utiliza bem as narrações no estilo radiofônico para contextualizar certos elementos do enredo. Lembrou-me Aaron Sorkin, mas ao invés de pouco cinema, em “Soberba” nós temos muito cinema. Afinal, todos essas cenas possuem uma plasticidade muito refinada.
Cinema que orbita a figura do James Woods. É um filme que acompanha os passos do protagonista com apreço. John Carpenter não teme em deixar claro o único objetivo do personagem: queimar vampiros. Não à toa, ele começa e termina com os caçadores entrando em edificações para matar os monstros. Poucos realizadores conseguem ser tão descolados quanto o Carpenter.
Muitas imagens da TV Câmara e TV Senado para poucas de fato interessantes – tipo a Janaína Paschoal bebendo um Toddynho. Os registros dos bastidores da defesa da ex-presidenta Dilma Rousseff antecedem as filmagens das sessões do senado. Essa montagem que apresenta os fatos de maneira didática também deixa transparecer toda a angústia ocasionada pelo desfecho premeditado deste processo.
Pode não ser o mais aterrorizante dos filmes produzidos pelo James Wan, mas pelo menos "A Freira" experimenta em alguns aspectos. Seja na investigação que me remete ao "Nome da Rosa" de Umberto Eco ou no constante alívio cômico em momentos de inquietação. É uma pena que esses elementos promissores manifestam-se com um certo desequilíbrio. Apesar da existência de uma vontade em construir sequências inventivas, essas unidades acabam convergindo para um resultado bem desorganizado.
Um casal estadunidense que pretende ensinar mandarim para os filhos porque a China é o futuro. E a Rachel McAdams segurando uma submetralhadora. Já quero assistir o Flash dos diretores.
É um dos filmes mais tristes que eu assisti nos últimos anos. Fico angustiado com a situação da protagonista, pois penso no quão desolador deve ser sentir-se sozinho. A última cena funciona como um bálsamo para aquela mulher: deixe a luz do sol entrar. A respeito do trabalho de Claire Denis, existe um investimento interessante nas sequências dos diversos diálogos que compõem a narrativa. É uma encenação que parece simples, que aparenta ser fácil de realizar. A grande verdade é que poucos colocam em cena com a transparência e aptidão de Denis. Espero rever qualquer dia desses, afinal, o discurso do personagem interpretado por Gérard Depardieu é um presente.
Poucos cineastas conseguem assimilar a realidade à sua volta e fazer filmes tão honestos a partir disso. Acho que o Hong Sang-soo necessita do cinema para se expressar. Os filmes surgem como blocos de notas em que o diretor compartilhará inquietações e reflexões. É cinema como confessionário. Portanto, que seja o filme de férias do Hong Sang-soo! Afinal, se todo mundo precisa de uma folga, Sang-soo deve realizar um longa-metragem durante o verão em Cannes, sim.
“A Câmera de Claire” é muito significativo no que diz respeito ao método sangsooniano de fazer cinema. Não importa o lugar, me parece que ele sempre estará querendo filmar alguma coisa. Aqui, o cineasta parte da estadia provisória de diferentes pessoas, seja uma professora aspirante a poeta e fotógrafa ou uma garota que trabalha com divulgação de filmes. Apesar de não fazer parte da gênesis esses sujeitos, Cannes é um lugar que fará parte de um momento marcante da vida deles. É um lugar mítico, globalizado. Não demora para assistirmos algumas passagens genuínas, como por exemplo o encontro da professora parisiense com a jovem sul-coreana. O diálogo entre elas se dá por meio da língua inglesa e, no fundo do quadro, algumas crianças saltam de uma rocha para o mar.
Madrugada dos Mortos
3.5 1,4K Assista Agora– O que eu disse para vocês, rapazes? Os EUA sempre dão um jeito.
A Casa do Medo: Incidente em Ghostland
3.5 749Só para registrar mesmo: primeira vez que eu entro em uma sala de cinema sem saber nada – nem o extenso título brasileiro – do filme exibido.
Sem rodeios: "A Casa do Medo - Incidente em Ghostland" foi uma boa surpresa. A narrativa impressiona, não apenas por brincar com sugestões, mas por trabalhar bem essa proposta. Acho que ela acerta ao estabelecer os dois universos – concreto e imaginário. Concordo que o conteúdo pode ser excessivamente sádico ao insistir em situações de violência extrema. No entanto, acho interessante a maneira como a forma apresenta concessões em meio a tudo isso. Pascal Laugier demonstra uma autonomia intrépida, sobretudo na sequência em que duas garotas correm sem rumo por uma floresta. Me parece um diretor interessado em explorar o lugar que ocupa.
Homem-Formiga e a Vespa
3.6 988 Assista AgoraEngraçado que ao longo da sessão de "Homem-Formiga e a Vespa" eu não havia apreciado o filme tanto quanto agora. Aliás, eu comentava que foram basicamente 118 minutos para justificar a existência de uma cena pós-créditos. Maior bobagem. Acho que o caráter episódico desse longa-metragem encaixa-se muito bem no universo do Homem-Formiga – e agora da Vespa, Hank Pym, Janet Van Dyne e Bill Foster. Se considerarmos um eventual desgaste do sub-gênero, acredito que a pegada secundária dessa obra possa fazer um bem danado para as próximas produções do Universo Cinematográfico Marvel.
Western
3.6 15 Assista Agora#52FilmsByWomen (41)
“Western” é quase um filme sobre o que teria acontecido com o protagonista de “Beau Travail” da Claire Denis. Cinematograficamente é meio que uma versão solar e calorosa do longa-metragem francês. Acho significativo apontar o interesse da diretora no registro naturalista destes homens que trabalham juntos, em uma convivência bruta e árida. É difícil ignorar os ecos da obra de 1999, sobretudo ao assistir as sugestivas trocas de olhares entre Meinhard e Vincent.
No final das contas, é mais sobre construir do que procurar. Trata-se de um homem que não possui mais nada. Nem saudades. Ele guarda a faca e dança. Agora, além de construir pontes, ele constrói relações.
Deadpool 2
3.8 1,3K Assista AgoraConvenhamos que seria meio impossível "Deadpool 2" superar o primeiro filme, né? Mesmo assim ele consegue explorar bem alguns elementos dramáticos, narrativos e metalinguísticos construídos pelo antecessor. Devo dizer que eu não dava nada. Mas felizmente as sequências exageradas e as piadas verborrágicas não atrapalharam tanto.
A Sétima Vítima
3.3 36Acho que ressaltar os temas sombrios sutilmente abordados pela narrativa seria chover no molhado. Mas é importante destacar o trabalho de encenação do diretor Mark Robson. Poucas sequências me deixaram tão agoniado quanto aquela em que Mary visita a fábrica de madrugada.
Winchester '73
4.0 53 Assista AgoraApenas algumas considerações. Anthony Mann manifesta uma certa transparência na encenação. A sequência do torneio de tiros concilia bem as técnicas cinematográficas com a composição dos elementos pertencentes ao espaço fílmico. O universo imaginário é apresentado para nós, espectadores, da melhor maneira possível: cenas mais longas; profundidade de campo; planos abertos no momento dos disparos; planos detalhes em moedas, por exemplo. Tudo está claro, desde as linhas nas faces dos atiradores até os populares na sacada do consultório odontológico. Poucas sequências conseguem representar de modo tão belo as especificidades de um determinado cosmos.
Também é interessante perceber a relação da sociedade com as armas. O parceiro do protagonista, inclusive, estranha o fato do cidadãos de Dodge City “andarem despidos”, ou seja, desarmados. As crianças tocam na espingarda como se ela fosse um ídolo divino. O diretor ainda enfatiza as diferentes posições ideológicas do personagem de James e do antagonista de forma inteligente.
– É um rifle muito bom para um homem que só atira em coelhos.
– Ou atira traiçoeiramente pelas costas.
Na moral eu acho que daria para escrever um texto apreciando apenas sobre o jogo de pôquer e investimento em detalhar os procedimentos. No mais, devo dizer que 2018 está sendo um ano bem especial. Em janeiro, foi um prazer conhecer o Mann que desestabiliza a mise-en-scène (Michael Mann). Agora, fico feliz em visitar o Mann que conversa essa encenação translúcida e direta.
Phenomena
3.7 246É fabulosa a maneira como Dario Argento concilia elementos distintos na criação desta unidade fílmica tão peculiar e convidativa. Penso em "Phenomena" como um filme sobre o terror de estar sozinho. Seja pela sequência na qual assistimos uma adolescente perder o ônibus e ficar desacompanhada em uma região isolada. A própria protagonista não consegue se comunicar com o pai para pedir a transferência do colégio interno. Depois que o professor é assassinado, será a vez da macaca Inga enfrentar a solidão. Eu posso estar forçando a barra, mas talvez o sonambulismo seja a potência máxima dessa questão: afinal, deixa-se o corpo só à mercê de uma força misteriosa.
O Valente Treme-Treme
3.5 25Existem alguns filmes que poderiam ganhar uma nova versão. Mais pelo potencial das qualidades que apresentaram do que pelos defeitos ou qualquer coisa do tipo. “O Valente Treme-Treme” é um desses. As intervenções de Calamity Jane que acabam transformando o medroso Peter Potter em um herói do oeste são bem sagazes. Algumas piadas se repetem sem dó, uma opção corajosa, mas também traiçoeira: não precisavam “arrastar” a Jane Russell daquele jeito.
Rio Vermelho
4.0 80 Assista Agora– Por que se mata um homem, tentando fazer do senhor um parceiro do feito?
A boiada chegou em Kansas. As locomotivas cederam espaço para os transportes aéreos. Enfim, passaram-se décadas e continuamos convivendo com gestores tão brutos quanto o Tom Dunson de John Wayne. Ainda bem que temos alguns jovens Montgomerys Clift’s tentando administrar as situações. Mas eu prefiro mesmo a iniciativa de personagens como a Tess Millay de Joanne Dru, que tenta amansar o ânimo dos frágeis vaqueiros por meio do diálogo.
Zama
3.4 51#52FilmsByWomen (40)
Império dos desconfortos. A começar pelo odioso protagonista Diego de Zama, um americano que cobiça o inalcançável estilo de vida europeu. Lembra-se melhor da Europa quem nunca esteve lá. Toda a esperança do personagem pela promoção transforma-se em uma verdadeira tortura. Logo, assim como as personagens de “O Pântano”, ele será consumido pela febre dos trópicos. Esse mal-estar é sugerido por elementos presentes tanto no segundo plano do espaço fílmico – corpos suados, escravos distantes da ação, uma lhama – quanto no extracampo – sons e presenças invisíveis, fantasmagóricas.
– Faço por vocês o que ninguém fez por mim.
– Está mentindo.
– Digo não às suas esperanças.
Jejum de Amor
4.0 89 Assista Agora– Não são humanos!
– Eu sei. São jornalistas.
O Ataque dos Vermes Malditos
3.3 675 Assista AgoraOs monstros de "O Ataque dos Vermes Malditos" funcionam bem como uma metáfora das dificuldades pelas quais o caipira passa para ir embora do interior.
Scarface, a Vergonha de uma Nação
4.0 117 Assista AgoraEu realmente não esperava algo tão gigantesco. É difícil elaborar um comentário a respeito de "Scarface - A Vergonha de Uma Nação", devido a perfeição dessa obra. Acho curioso ideia de uma incessante busca por ascensão social que acaba destruindo o sujeito. No mais, Howard Hawks possuí um frescor muito moderno na encenação. Impressionante.
Paixão dos Fortes
4.0 57 Assista AgoraHoje, se me perguntassem o que é cinema, eu responderia que é movimento: seja o Wyatt Earpp de Henry Fonda equilibrando-se na cadeira; a agitação no alpendre devido a chegada de uma diligência; o casal dançando no baile da igreja; ou a nuvem de poeira que atravessa o duelo entre dois homens. "Paixão dos Fortes" é John Ford mitificando o mito.
Soberba
3.8 75 Assista AgoraAntes de tudo, parece-me um filme sobre o quão foda é descobrir as coisas pela boca dos outros. Toda a cruzada ciumenta de George Minafer parte dessa revelação meio que involuntária. O desfecho trágico acaba reforçando toda a áurea edipiana que existe na relação entre mãe e filho.
Quanto a linguagem, impressiona a maneira como Orson Welles lida com a profusão de vozes. As sequências apresentam diversos personagens dialogando ao mesmo tempo, além disso, Welles utiliza bem as narrações no estilo radiofônico para contextualizar certos elementos do enredo. Lembrou-me Aaron Sorkin, mas ao invés de pouco cinema, em “Soberba” nós temos muito cinema. Afinal, todos essas cenas possuem uma plasticidade muito refinada.
Vampiros de John Carpenter
3.1 268 Assista AgoraCinema que orbita a figura do James Woods. É um filme que acompanha os passos do protagonista com apreço. John Carpenter não teme em deixar claro o único objetivo do personagem: queimar vampiros. Não à toa, ele começa e termina com os caçadores entrando em edificações para matar os monstros. Poucos realizadores conseguem ser tão descolados quanto o Carpenter.
O Processo
4.0 240#52FilmsByWomen (39)
Muitas imagens da TV Câmara e TV Senado para poucas de fato interessantes – tipo a Janaína Paschoal bebendo um Toddynho. Os registros dos bastidores da defesa da ex-presidenta Dilma Rousseff antecedem as filmagens das sessões do senado. Essa montagem que apresenta os fatos de maneira didática também deixa transparecer toda a angústia ocasionada pelo desfecho premeditado deste processo.
A Freira
2.5 1,5K Assista AgoraPode não ser o mais aterrorizante dos filmes produzidos pelo James Wan, mas pelo menos "A Freira" experimenta em alguns aspectos. Seja na investigação que me remete ao "Nome da Rosa" de Umberto Eco ou no constante alívio cômico em momentos de inquietação. É uma pena que esses elementos promissores manifestam-se com um certo desequilíbrio. Apesar da existência de uma vontade em construir sequências inventivas, essas unidades acabam convergindo para um resultado bem desorganizado.
O Anjo Nasceu
3.6 24– Só o casamento transforma uma rosa em repolho.
Trajetória controversa deste malando que assassina levianamente, vê um anjo e, antes de pegar a estrada, saúda os seus guias.
A Mulher de Todos
3.9 68– O que eu queria mesmo era fazer poesia sem precisar roubar e vender carro.
A Noite do Jogo
3.5 672 Assista AgoraUm casal estadunidense que pretende ensinar mandarim para os filhos porque a China é o futuro. E a Rachel McAdams segurando uma submetralhadora. Já quero assistir o Flash dos diretores.
Deixe a Luz do Sol Entrar
3.0 73#52FilmsByWomen (38)
É um dos filmes mais tristes que eu assisti nos últimos anos. Fico angustiado com a situação da protagonista, pois penso no quão desolador deve ser sentir-se sozinho. A última cena funciona como um bálsamo para aquela mulher: deixe a luz do sol entrar. A respeito do trabalho de Claire Denis, existe um investimento interessante nas sequências dos diversos diálogos que compõem a narrativa. É uma encenação que parece simples, que aparenta ser fácil de realizar. A grande verdade é que poucos colocam em cena com a transparência e aptidão de Denis. Espero rever qualquer dia desses, afinal, o discurso do personagem interpretado por Gérard Depardieu é um presente.
A Câmera de Claire
3.4 73 Assista AgoraPoucos cineastas conseguem assimilar a realidade à sua volta e fazer filmes tão honestos a partir disso. Acho que o Hong Sang-soo necessita do cinema para se expressar. Os filmes surgem como blocos de notas em que o diretor compartilhará inquietações e reflexões. É cinema como confessionário. Portanto, que seja o filme de férias do Hong Sang-soo! Afinal, se todo mundo precisa de uma folga, Sang-soo deve realizar um longa-metragem durante o verão em Cannes, sim.
“A Câmera de Claire” é muito significativo no que diz respeito ao método sangsooniano de fazer cinema. Não importa o lugar, me parece que ele sempre estará querendo filmar alguma coisa. Aqui, o cineasta parte da estadia provisória de diferentes pessoas, seja uma professora aspirante a poeta e fotógrafa ou uma garota que trabalha com divulgação de filmes. Apesar de não fazer parte da gênesis esses sujeitos, Cannes é um lugar que fará parte de um momento marcante da vida deles. É um lugar mítico, globalizado. Não demora para assistirmos algumas passagens genuínas, como por exemplo o encontro da professora parisiense com a jovem sul-coreana. O diálogo entre elas se dá por meio da língua inglesa e, no fundo do quadro, algumas crianças saltam de uma rocha para o mar.