A sequência em que o personagem de Gary Cooper reencontra o tio é muito boa. Anthony Mann faz questão de literalmente iluminar as coisas aos poucos. É curioso observar como as situações movem o enredo para uma cidade praticamente fantasma, para um frustrante banco vazio.
A narrativa direta aliada ao decór hipnótico desconcerta qualquer pessoa. Quem sabe tenha sido isso que me distanciou da obra na primeira vez. Por mais estilizado que seja, tudo o que Dario Argento faz neste filme vem ao encontro de algo gigantesco. Ele constrói um colosso de vidro que despenca no final. Espetáculo.
Corpos como espectros que vagam em busca da única coisa que pode torná-los ascensionados – dinheiro, prazer. Brisseau compõe plasticamente um universo em que atores e locações se convergem num só: sombras. Ele materializa de forma única o jogo de poder presente nos esquemas confabulados ao longo da narrativa. Encenação da encenação.
Quem sabe seja uma das mais encenações mais puras do cinema. A sequência antes do voo que coloca os antagonistas Bat e Kid na mesma cabine é maravilhosa. O personagem do Cary Grant entra no salão, pede uma xícara de café e para pra observar os relâmpagos através da janela do estabelecimento. Ele começa a discutir com Dutchy sobre o perigoso voo que pretende fazer. No fundo do quadro, depois que uma figura se desloca da esquerda para fora do campo, enxergamos inteiramente o semblante preocupado da apaixonada Bonnie. A respeito da inesquecível locação artificial onde as personagens se encontram, Barranca, acho importante ressaltar a mística por trás desse ambiente capaz de aflorar vícios, que por sua vez acabam valorizando as sutis virtudes desses sujeitos isolados.
Shyamalan parte de um filme sobre perspectiva para um compêndio de tudo o que há de mais comovente na própria obra.
Ele não apenas trabalha com diferentes pontos de vista discursivos – todo o debate a respeito de acreditar ou não nos poderes –, como também materializa essa questão.
“Vidro” apresenta diversos planos em primeira pessoa – a inclinação holandesa manifestando o olhar do Mr. Glass para a Dr. Ellie Staple –, closes que quase quebram a quarta parede e até movimentos de câmera representando nitidamente a visão das personagens – a cena da psiquiatra observando panoramicamente a luta no estacionamento, por exemplo.
Acho que o confronto na sala rosa, que na minha opinião é o grande momento do longa-metragem, converge muito bem todos esses elementos.
No mais, curto muito a participação do Spencer Treat Clark. Quando Joseph Dunn vira para trás e vê o vídeo do pai é foda...
Eu não gostaria de começar este comentário sobre “Suspiria” de Luca Guadagnino invocando a memória do filme de Dario Argento. Mas é inevitável. Uma vez que na minha concepção este longa-metragem funciona mais ou menos como uma depredação da herança, tanto mitológica quanto iconográfica, estabelecida pela obra de 1977 – basta observar a irritação do público mais apegado ao clássico.
Quando digo mitológica me refiro, sobretudo, ao que tange à humanização da Mater Suspiriorum. E depois a uma dilatação narrativa contrária ao dinamismo do filme de Argento.
Acho a contextualização histórica e política proposta pelo roteirista David Kajganich e Guadagnino esparsa – e quem sabe seja um problema da minha falta de conhecimento do período histórico. Por outro lado, considero a inserção do personagem dr. Klemperer muito útil. Não apenas por ocasionar parte da desconstrução da imagem maléfica que temos da mãe dos sussurros, mas também por representar a ânsia do espectador por desvendar os mistérios da companhia.
No que diz respeito a cinematografia, Guadagnino renega uma emulação da estética de Argento – o que convenhamos seria desastroso. Ele apropria-se desse legado de maneira contida para compor cenas sofisticadas, a partir de práticas simples.
Enfim, faz uma semana que eu assisti ao filme e o epílogo continua mexendo comigo. O que a obra faz com a figura da bruxa é valioso demais, assim como o último plano.
Os meninos agendaram uma entrevista rápida com o Bresson, cerca de duas ou três perguntas, daí quando eles ligaram para confirmar o cara mandou na lata que responderia apenas uma. Muito solicito com os fãs.
Até agora é o filme que melhor ilustra o talento do Bresson em suprimir a ação para dar origem a uma força expressiva única no cinema. O Balthazar nem sequer dá um coice no Gérard.
O esqueleto de um ex-xerife – corrupto, racista e maçom – é encontrado nas cercanias de uma pequena cidade texana. O filme atira o espectador em um fluxo quase que incontrolável de analepses, personagens e subtramas. Afinal, o que está se passando?
Paralelamente, surge uma questão: que filme está acontecendo? Confesso que demorou um pouco para assimilar a forma da obra de John Sayles. No entanto, assim que isso ocorreu, ficou nítido o brilho dela.
“A Estrela Solitária” é “O Homem Que Matou o Facínora” da nossa geração. Ele reconfigura a iconografia do gênero, até mesmo utiliza de ferramentas semelhantes às que Ford havia usado, para retratar o herói como necessidade social. A importância do mito na manutenção da ordem.
“O Homem Que Matou o Facínora” é o mergulho de John Ford na mitologia que ele ajudou a criar. É o exame de toda uma tradição muito bem assentada conceitual e esteticamente na história da cinematografia. E o cineasta utiliza isso em prol de uma narrativa lúgubre e plasticamente bucólica. O filme desenha uma sociedade que depende de heróis, muitas vezes fictícios, para alimentar esperanças.
O apuro plástico de Steve McQueen pode ser bonito, mas acaba enclausurando o filme em uma redoma. Quem sabe se “As Viúvas” assumisse de fato as características do gênero cinematográfico em evidência – vale dizer que o diretor manda bem nas sequências de ação – não soaria tão afetado. Acho que McQueen trabalha com tantas ideias e conceitos que às vezes ofusca o principal da obra: as atrizes.
Responsabilidade afetiva é fogo! O melhor de “Play Misty for Me” está na maneira como Clint Eastwood registra, sem condenar, as atitudes das personagens. Contudo, acho que há tonalidades ao longo da narrativa muito destoantes. Isso acaba expondo o dispositivo, algo incomum nos trabalhos vindouros do diretor. Mas também sustenta o caráter experimental do filme que é realmente bem curioso.
É difícil não amar uma mulher como a personagem da Regina Hall. E eu acho que Lisa tem consciência disso. Ela está disposta a ajudar todo mundo, mesmo quando essas pessoas vacilam.
O filme coloca uma série de confusões e problemas orbitando ao redor da protagonista. A cena em que ela caminha até a mesa de um cliente e pede para ele se retirar ilustra isso muito bem. No trajeto, Lisa encontra o cozinheiro supostamente cúmplice da tentativa de assalto e repara em Maci se aproximando de um cliente.
O que salta aos olhos em “Support the Girls” é a forma como as personagens lidam com as consequências desses acontecimentos. A última sequência não poderia ser outra: Lisa encontra-se ao lado de duas amigas em um ambiente neutro, gritando como se não houvesse amanhã.
É bem legal a mudança de perspectiva que ocorre com relação ao protagonista. No começo, ouvimos poucas e boas a respeito do Saci, mas no final das constas é ele quem toma as rédeas da situação e resolve o problema.
Acho que o filme investe muito em uma construção dramática que não chega a lugar nenhum. Pelo menos, comigo não funcionou. Ainda por cima, “Sem Lei e Sem Alma” enrola tanto a trama até o tão esperado desfecho: um tiroteio mal encenado – saudade do filme do Ford.
Há planos interessantes, de fato, sobretudo os contrapontos entre saloons vazios e aglomerados. Gosto mesmo é do desenvolvimento das personagens. Enfim, Burt Lancaster e Kirk Douglas metendo bala sempre será bem-vindo.
É meio que sobre assumir a paranóia como objetivo de vida. Sem entrar no mérito dos motivos que levam o protagonista a investigar o desaparecimento da vizinha, o que interessa mesmo é a jornada concedendo sentido à existência. Ele nem se importa mais com o fato de estar desempregado – algo que o filme ressalta em diversos momentos.
Me parece um trabalho extremamente pessoal em que David Robert Mitchell deixa transparecer referências e predileções – por exemplo, essa áurea atemporal de “Under The Silver Lake” aparece com mais sutileza em “It Follows”.
As cenas operam em uma lógica tão própria. O tipo físico do Andrew Garfield é explorado muito bem dentro da chave cômica. Aliás, devemos concordar que as sequências engraçadas são realmente engraçadas.
Acho que há gordura sobrando no meio disso tudo. Lembra mais ainda um filme dos anos 1940 ou 1950, porém, ao invés da ameaça comunista temos uma sociedade discreta de neo-faraós.
O diálogo do casal no último jantar juntos é poderoso. A cena apresenta uma autoconsciência incomum no gênero. É importante frisar que eu no estou me referindo a uma desconstrução, muito pelo contrário. O que ocorre é uma quebra de expectativas desoladora, porém apropriada. É como despertar de um sonho e descobrir que nunca mais vai ter-lo. Francesca antecipa friamente o eventual desgaste daquela paixão e prefere conservá-la na memória.
Chorar na chuva ajuda a esconder as lágrimas.
Essas sequências convergem tão bem as emoções construídas no desenrolar de “As Pontes de Madison”. Somente o Clint consegue – depois dessas cenas memoráveis – extrair tantos sentimentos em uma montagem simples, como aquela em que Francesca abre a caixa deixada por Robert. Ele organiza os signos – pulseira, colar e bilhete – trabalhados ao longo do filme de uma maneira comovente e puramente cinematográfica.
O que mais encanta em “Nasce Uma Estrela” é a fé na história que será contada. É a convicção do filme em configurar para os dias de hoje uma história de amor clássica. E talvez não haveria uma melhor maneira de fazer isso: Bradley Cooper acertou muito bem.
Primeiro porque existe essa fé no poder que a história carrega, assim como na relação dela com a contemporaneidade. E eu acho que outra característica importante da obra é a modéstia. Sinto que “Nasce Uma Estrela” não tenta impressionar de maneira gratuita. O filme dispõe de qualidades, mas não é exibido. Não ostenta virtuosismos à toa.
A obra coloca os atores em cena – e que atores – e faz a coisa acontecer. Eu acredito que nasce daí essa força. Surge de uma encenação que explora – e confia – em todas as suas potencialidades dramáticas de forma sincera.
O debut de Jonah Hill na direção de um longa-metragem não poderia ser mais animador. Ainda que o filme apresente alguns probleminhas, sobretudo no que diz respeito aos arcos dramáticos, acho que a narrativa consegue avançar e desenvolver as personagens de uma maneira bem espontânea. Sei lá, a encenação têm vida. É muito cedo para afirmar qualquer coisa, mas parece que o Jonah soube tirar o melhor desses atores.
O Homem do Oeste
3.8 46 Assista AgoraA sequência em que o personagem de Gary Cooper reencontra o tio é muito boa. Anthony Mann faz questão de literalmente iluminar as coisas aos poucos. É curioso observar como as situações movem o enredo para uma cidade praticamente fantasma, para um frustrante banco vazio.
Suspiria
3.8 979 Assista AgoraA narrativa direta aliada ao decór hipnótico desconcerta qualquer pessoa. Quem sabe tenha sido isso que me distanciou da obra na primeira vez. Por mais estilizado que seja, tudo o que Dario Argento faz neste filme vem ao encontro de algo gigantesco. Ele constrói um colosso de vidro que despenca no final. Espetáculo.
Coisas Secretas
3.6 29Corpos como espectros que vagam em busca da única coisa que pode torná-los ascensionados – dinheiro, prazer. Brisseau compõe plasticamente um universo em que atores e locações se convergem num só: sombras. Ele materializa de forma única o jogo de poder presente nos esquemas confabulados ao longo da narrativa. Encenação da encenação.
O Paraíso Infernal
3.9 26Quem sabe seja uma das mais encenações mais puras do cinema. A sequência antes do voo que coloca os antagonistas Bat e Kid na mesma cabine é maravilhosa. O personagem do Cary Grant entra no salão, pede uma xícara de café e para pra observar os relâmpagos através da janela do estabelecimento. Ele começa a discutir com Dutchy sobre o perigoso voo que pretende fazer. No fundo do quadro, depois que uma figura se desloca da esquerda para fora do campo, enxergamos inteiramente o semblante preocupado da apaixonada Bonnie. A respeito da inesquecível locação artificial onde as personagens se encontram, Barranca, acho importante ressaltar a mística por trás desse ambiente capaz de aflorar vícios, que por sua vez acabam valorizando as sutis virtudes desses sujeitos isolados.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraShyamalan parte de um filme sobre perspectiva para um compêndio de tudo o que há de mais comovente na própria obra.
Ele não apenas trabalha com diferentes pontos de vista discursivos – todo o debate a respeito de acreditar ou não nos poderes –, como também materializa essa questão.
“Vidro” apresenta diversos planos em primeira pessoa – a inclinação holandesa manifestando o olhar do Mr. Glass para a Dr. Ellie Staple –, closes que quase quebram a quarta parede e até movimentos de câmera representando nitidamente a visão das personagens – a cena da psiquiatra observando panoramicamente a luta no estacionamento, por exemplo.
Acho que o confronto na sala rosa, que na minha opinião é o grande momento do longa-metragem, converge muito bem todos esses elementos.
No mais, curto muito a participação do Spencer Treat Clark. Quando Joseph Dunn vira para trás e vê o vídeo do pai é foda...
Levada da Breca
4.0 165Nada melhor que um leopardo para representar o quão selvagem e irracional pode ser o começo de um namoro.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraEu não gostaria de começar este comentário sobre “Suspiria” de Luca Guadagnino invocando a memória do filme de Dario Argento. Mas é inevitável. Uma vez que na minha concepção este longa-metragem funciona mais ou menos como uma depredação da herança, tanto mitológica quanto iconográfica, estabelecida pela obra de 1977 – basta observar a irritação do público mais apegado ao clássico.
Quando digo mitológica me refiro, sobretudo, ao que tange à humanização da Mater Suspiriorum. E depois a uma dilatação narrativa contrária ao dinamismo do filme de Argento.
Acho a contextualização histórica e política proposta pelo roteirista David Kajganich e Guadagnino esparsa – e quem sabe seja um problema da minha falta de conhecimento do período histórico. Por outro lado, considero a inserção do personagem dr. Klemperer muito útil. Não apenas por ocasionar parte da desconstrução da imagem maléfica que temos da mãe dos sussurros, mas também por representar a ânsia do espectador por desvendar os mistérios da companhia.
No que diz respeito a cinematografia, Guadagnino renega uma emulação da estética de Argento – o que convenhamos seria desastroso. Ele apropria-se desse legado de maneira contida para compor cenas sofisticadas, a partir de práticas simples.
Enfim, faz uma semana que eu assisti ao filme e o epílogo continua mexendo comigo. O que a obra faz com a figura da bruxa é valioso demais, assim como o último plano.
Condenado À Vitória
3.6 1De certa forma é sobre reconhecer que sonhos não valem mais do que princípios.
A Fortaleza Infernal
2.7 61Se em "The Jericho Mile" o protagonista pôs fogo no dinheiro de neonazistas, aqui, são os próprios nazistas que se fodem.
The Road to Bresson
4.0 2Os meninos agendaram uma entrevista rápida com o Bresson, cerca de duas ou três perguntas, daí quando eles ligaram para confirmar o cara mandou na lata que responderia apenas uma. Muito solicito com os fãs.
Mouchette, a Virgem Possuída
4.0 58 Assista AgoraPensar em tudo que aconteceu antes disto (http://imgbox.com/g/uprIs6GboG) desarma qualquer pessoa.
A Grande Testemunha
4.0 94 Assista AgoraAté agora é o filme que melhor ilustra o talento do Bresson em suprimir a ação para dar origem a uma força expressiva única no cinema. O Balthazar nem sequer dá um coice no Gérard.
Um Condenado à Morte Escapou
4.4 69– Você nunca reza?
– De vez em quando.
– Quando as coisas vão mal?
– Sim.
– Assim é fácil.
– Fácil demais. Seria fácil demais se Deus resolvesse tudo.
Eu não poderia ter escolhido filme melhor para assistir no início da semana em que retornam as minhas aulas da faculdade. Mãos à obra.
A Estrela Solitária
3.5 24O esqueleto de um ex-xerife – corrupto, racista e maçom – é encontrado nas cercanias de uma pequena cidade texana. O filme atira o espectador em um fluxo quase que incontrolável de analepses, personagens e subtramas. Afinal, o que está se passando?
Paralelamente, surge uma questão: que filme está acontecendo? Confesso que demorou um pouco para assimilar a forma da obra de John Sayles. No entanto, assim que isso ocorreu, ficou nítido o brilho dela.
“A Estrela Solitária” é “O Homem Que Matou o Facínora” da nossa geração. Ele reconfigura a iconografia do gênero, até mesmo utiliza de ferramentas semelhantes às que Ford havia usado, para retratar o herói como necessidade social. A importância do mito na manutenção da ordem.
O Homem Que Matou o Facínora
4.3 167“O Homem Que Matou o Facínora” é o mergulho de John Ford na mitologia que ele ajudou a criar. É o exame de toda uma tradição muito bem assentada conceitual e esteticamente na história da cinematografia. E o cineasta utiliza isso em prol de uma narrativa lúgubre e plasticamente bucólica. O filme desenha uma sociedade que depende de heróis, muitas vezes fictícios, para alimentar esperanças.
As Viúvas
3.4 410 Assista AgoraO apuro plástico de Steve McQueen pode ser bonito, mas acaba enclausurando o filme em uma redoma. Quem sabe se “As Viúvas” assumisse de fato as características do gênero cinematográfico em evidência – vale dizer que o diretor manda bem nas sequências de ação – não soaria tão afetado. Acho que McQueen trabalha com tantas ideias e conceitos que às vezes ofusca o principal da obra: as atrizes.
Perversa Paixão
3.4 70Responsabilidade afetiva é fogo! O melhor de “Play Misty for Me” está na maneira como Clint Eastwood registra, sem condenar, as atitudes das personagens. Contudo, acho que há tonalidades ao longo da narrativa muito destoantes. Isso acaba expondo o dispositivo, algo incomum nos trabalhos vindouros do diretor. Mas também sustenta o caráter experimental do filme que é realmente bem curioso.
Support The Girls
3.5 47É difícil não amar uma mulher como a personagem da Regina Hall. E eu acho que Lisa tem consciência disso. Ela está disposta a ajudar todo mundo, mesmo quando essas pessoas vacilam.
O filme coloca uma série de confusões e problemas orbitando ao redor da protagonista. A cena em que ela caminha até a mesa de um cliente e pede para ele se retirar ilustra isso muito bem. No trajeto, Lisa encontra o cozinheiro supostamente cúmplice da tentativa de assalto e repara em Maci se aproximando de um cliente.
O que salta aos olhos em “Support the Girls” é a forma como as personagens lidam com as consequências desses acontecimentos. A última sequência não poderia ser outra: Lisa encontra-se ao lado de duas amigas em um ambiente neutro, gritando como se não houvesse amanhã.
O Saci
3.7 20É bem legal a mudança de perspectiva que ocorre com relação ao protagonista. No começo, ouvimos poucas e boas a respeito do Saci, mas no final das constas é ele quem toma as rédeas da situação e resolve o problema.
Sem Lei e Sem Alma
3.7 48 Assista AgoraAcho que o filme investe muito em uma construção dramática que não chega a lugar nenhum. Pelo menos, comigo não funcionou. Ainda por cima, “Sem Lei e Sem Alma” enrola tanto a trama até o tão esperado desfecho: um tiroteio mal encenado – saudade do filme do Ford.
Há planos interessantes, de fato, sobretudo os contrapontos entre saloons vazios e aglomerados. Gosto mesmo é do desenvolvimento das personagens. Enfim, Burt Lancaster e Kirk Douglas metendo bala sempre será bem-vindo.
O Mistério de Silver Lake
3.0 289 Assista AgoraÉ meio que sobre assumir a paranóia como objetivo de vida. Sem entrar no mérito dos motivos que levam o protagonista a investigar o desaparecimento da vizinha, o que interessa mesmo é a jornada concedendo sentido à existência. Ele nem se importa mais com o fato de estar desempregado – algo que o filme ressalta em diversos momentos.
Me parece um trabalho extremamente pessoal em que David Robert Mitchell deixa transparecer referências e predileções – por exemplo, essa áurea atemporal de “Under The Silver Lake” aparece com mais sutileza em “It Follows”.
As cenas operam em uma lógica tão própria. O tipo físico do Andrew Garfield é explorado muito bem dentro da chave cômica. Aliás, devemos concordar que as sequências engraçadas são realmente engraçadas.
Acho que há gordura sobrando no meio disso tudo. Lembra mais ainda um filme dos anos 1940 ou 1950, porém, ao invés da ameaça comunista temos uma sociedade discreta de neo-faraós.
As Pontes de Madison
4.2 840 Assista AgoraApenas algumas divagações, vamos lá.
O diálogo do casal no último jantar juntos é poderoso. A cena apresenta uma autoconsciência incomum no gênero. É importante frisar que eu no estou me referindo a uma desconstrução, muito pelo contrário. O que ocorre é uma quebra de expectativas desoladora, porém apropriada. É como despertar de um sonho e descobrir que nunca mais vai ter-lo. Francesca antecipa friamente o eventual desgaste daquela paixão e prefere conservá-la na memória.
Chorar na chuva ajuda a esconder as lágrimas.
Essas sequências convergem tão bem as emoções construídas no desenrolar de “As Pontes de Madison”. Somente o Clint consegue – depois dessas cenas memoráveis – extrair tantos sentimentos em uma montagem simples, como aquela em que Francesca abre a caixa deixada por Robert. Ele organiza os signos – pulseira, colar e bilhete – trabalhados ao longo do filme de uma maneira comovente e puramente cinematográfica.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraO que mais encanta em “Nasce Uma Estrela” é a fé na história que será contada. É a convicção do filme em configurar para os dias de hoje uma história de amor clássica. E talvez não haveria uma melhor maneira de fazer isso: Bradley Cooper acertou muito bem.
Primeiro porque existe essa fé no poder que a história carrega, assim como na relação dela com a contemporaneidade. E eu acho que outra característica importante da obra é a modéstia. Sinto que “Nasce Uma Estrela” não tenta impressionar de maneira gratuita. O filme dispõe de qualidades, mas não é exibido. Não ostenta virtuosismos à toa.
A obra coloca os atores em cena – e que atores – e faz a coisa acontecer. Eu acredito que nasce daí essa força. Surge de uma encenação que explora – e confia – em todas as suas potencialidades dramáticas de forma sincera.
Anos 90
3.9 502O debut de Jonah Hill na direção de um longa-metragem não poderia ser mais animador. Ainda que o filme apresente alguns probleminhas, sobretudo no que diz respeito aos arcos dramáticos, acho que a narrativa consegue avançar e desenvolver as personagens de uma maneira bem espontânea. Sei lá, a encenação têm vida. É muito cedo para afirmar qualquer coisa, mas parece que o Jonah soube tirar o melhor desses atores.