Como será a vida no século XXIII? Haverá paz mundial ou guerras sem fim? Terá moradia suficiente para a população? E os alimentos, estarão disponíveis quando todos precisarem? Em ‘Fuga do século 23’ (1976), as respostas são apontadas, segundo a visão do diretor Michael Anderson a partir do livro futurista que inspirou a obra, escrito pelos norte-americanos William F. Nolan e George Clayton Johnson - publicado em 1967 e que virou bestseller. Conforme o filme, no século XXIII a sociedade vive em equilíbrio. A população é feliz, não há guerras ou doenças, e tudo é provido pelos computadores inteligentes, desde as refeições até o lazer. Essa sociedade hedonista, que hipervaloriza o prazer, elimina as dores, as preocupações, os medos. Nada falta para as pessoas. As cidades são protegidas por redomas de vidro, os estádios com grandes arquibancadas preenchem a paisagem urbana, divididos por prédios altos envidraçados e espelhos d’agua. Túneis cortam a cidade de fora a fora, por onde transitam em alta velocidade veículos modernos. Na abertura do filme, os letreiros trazem a informação de que houve uma terrível guerra, e os sobreviventes residem nessa cidade fechada em um domo, “afastada e esquecida do mundo exterior”. Porém, nesse mundo ecologicamente equilibrado, ninguém envelhece, pois a vida deve terminar aos 30 anos. Quem completa tal idade, participa de um ritual selvagem chamado ‘Renovação’, em que o corpo é destruído numa máquina denominada ‘Carrossel’, e, de acordo com as leis da sociedade, o indivíduo retorna no futuro – uma espécie de reencarnação. Um dos moradores ilustres desse lugar é Logan 5 (papel de Michael York, de ‘Cabaret’) – o 5 depois do nome dos personagens é a geração de cada um, ou seja, Logan é o 5º representante de sua geração. Ele é um ‘Sandman’, um caçador de gente, que captura e mata aquele ou aquela que ousar escapar daquela sociedade controlada. Ele forma um par ideal com Francis 7 (Richard Jordan, de ‘A caçada ao outubro vermelho’); ambos são Sandmen, usam uniformes pretos com marcas cinzas, portam uma arma letal, vigiando a população. Até que um dia, depois de capturar um fugitivo após um ritual de Renovação, põe-se a questionar sua função e se realmente as pessoas eram renovadas no Carrossel, já que sua vida está prestes a acabar – as pessoas usam um ‘marcador de vida’ nas mãos, uma espécie de cristal que muda de cor conforme o avanço das idades, e a cor vermelha significa o término. Ao filosofar com uma amiga/amante, Jessica 6 (Jenny Agutter, de ‘A longa caminhada’), ele é provocado com discussões existenciais. Concluem que nunca viram ninguém voltar do Carrossel, então as pessoas morriam e acabou. Logan descobre uma brecha no sistema de vigilância, nem todos os habitantes são computados, e há possibilidades reais de fuga. Ao se passar por um foragido, recebe a missão de escapar de lá, rumo ao ‘Santuário’, local mítico onde, aparentemente, as pessoas vivem mais livres, há imunidade e tolerância e ninguém morre. Logan não imaginava existir um lugar assim – para ele, o mundo era apenas sob aquele domo rosa. Sua missão é destruir o Santuário. Ele aceita o desafio, junta-se a Jessica 6 e parte para a nova jornada de sua vida. Essa superprodução norte-americana, originalmente da MGM, contou com orçamento caro para os padrões de filmes da época – U$ 9 milhões, marcando o cinema scifi, com sua história intrigante e fotografia com cores fortíssimas, que remetiam ao Psicodelismo – as cores eram de uma Metrocolor, processo inovador feito pelos estúdios da MGM. Indicado ao Oscar de melhor fotografia e direção de arte, recebeu da Academia um prêmio técnico especial, de efeitos especiais, em 1977. O arranjo da fotografia ultracolorida, assinada por Ernest Laszlo, de ‘Aeroporto’, com a direção de arte futurista, misturando formas inusitadas de vidro, metal e gelo, da dupla Dale Hennesy e Robert De Vestel, de ‘O jovem Frankenstein’, realçam o poder visual dessa obra distópica fundamental para o cinema setentista. Um filme longe do entretenimento por si só, e sim repleto de críticas sociais, que ajudariam a compreender o comportamento social daquele período em que o filme foi feito, 1976, e os anos posteriores, década de 80, 90 e a chegada ao século XXI. A população que vive sob a redoma veste-se de maneira homogênea, com túnicas vermelhas, rosas e verdes, enquanto passeiam por aí, felizes, por ambientes parecidos com grandes shopping centers. Sim, seria uma crítica ao comportamento de grupo e imposição do padrão de consumo e da moda. Outra crítica perceptível é a da ‘sociedade do espetáculo’, ideia pensada pelo francês Guy Debord nos anos 60, quando os indivíduos se reúnem para celebrar o evento da ‘Renovação’, no Carrossel, em que as pessoas são explodidas ao vivo. É um ‘panis et circenses’ high tech - as pessoas se distribuem pela arquibancada circular, e dentro de um enorme cristal vermelho em formato de uma rosa, os que completaram 30 anos ficam lado a lado, até que de cima vem uma luz, faz o carrossel girar, e eles são levitados para o topo; a plateia histérica comemora, aplaudindo e gritando. Lá do alto, para se renovar, as pessoas explodem – quando acaba o ritual, todos voltam para casa, até que um novo ritual seja organizado. É tanto uma referência às arenas do Império Romano quanto da atual espetacularização midiática de acontecimentos. O filme traz uma visão idílica e distópica, nos moldes malthusianos, de um futuro aparentemente tranquilo, onde não há tristeza nem dor, tampouco o envelhecimento e o medo da morte. É um mundo de prazer absoluto, um século XXIII tecnológico e de pura comodidade. Mas por trás disso há um processo aterrador – as pessoas são forçadas a morrer jovens, com 30 anos – no livro de William F. Nolan e George Clayton Johnson, a idade é 21 anos. Morrer significa manter não só o equilíbrio populacional como o da distribuição eficaz de alimentos. São ideias recorrentes na literatura e no cinema sobre futuros distópicos, segundo Bertucci & Vieira (2022), já que as distopias são o oposto radical da utopia. O termo ‘distopia’, segundo os autores, surgiu, pela primeira vez, num discurso do filósofo e economista inglês John Stuart Mill no parlamento britânico em 1868, e trata de um “lugar de extrema opressão, seja pelo controle excessivo ou pelo total descontrole social, onde recorrentemente reinam o autoritarismo e a violência física ou simbólica” (p.77). Também Gomes, Cardoso & Pedro (2020) apontam que as distopias expressam visões negativas do mundo social, e elas “têm como um de seus temas centrais a dinâmica do poder e do autoritarismo. Compartilham também uma forte desconfiança diante do emprego instrumental da ciência e da tecnologia, e um fascínio com a paranoia, o aprisionamento e a alienação social do indivíduo” (p.6-7). No filme ‘Fuga do século 23’ - o título pode aparecer como ‘Fuga no século 23’, a sociedade é manipulada, vive sob vigilância, não tem liberdades plenas e há uma evidente alienação. “As distopias problematizam os danos prováveis caso determinadas tendências do presente vençam. É por isso que elas enfatizam os processos de indiferenciação subjetiva, massificação cultural, vigilância total dos indivíduos, controle da subjetividade a partir de dispositivos de saber [...] Elas contêm um pessimismo ativo [...] são a denúncia dos efeitos de poder ligados às formas discursivas”, de acordo com Hilário (2013). Questões como controle populacional, controle de natalidade, totalitarismo, opressão, narcose, ostentação ao belo, ao perfeito e ao saudável, e sociedade vigiada, que circulam em ‘Fuga do século 23’, são teores presentes - e que serviram de críticas sociais contundentes - em obras icônicas do século XX sobre distopias. Está em George Orwell (em ‘1984’), Aldous Huxley (em ‘Admirável mundo novo’), Philip K. Dick (em ‘Androides sonham com ovelhas elétricas’, que depois se chamaria ‘Blade runner’), Ray Bradbury (em ‘Fahrenheit 451’), Margaret Atwood (em ‘O conto da aia’), Anthony Burgess (em ‘Laranja mecânica’), Arthur C. Clarke (em ‘O fim da infância’), Evgéni Zamiátin (em ‘Nós’), Willian Gibson (em ‘Neuromancer) e Stanislaw Lem (em ‘O incrível congresso de Futurologia’) – e quase todos esses viraram filmes ou séries. ‘Fuga do século 23’ não era apenas ficção. Vislumbravam-se muitas coisas na sociedade daquela época, e que estariam presentes anos depois, como a tecnologia para todos os processos. Numa das cenas há o reconhecimento facial de um morto com um equipamento eletrônico portátil, e numa outra, uma espécie de biometria com a palma da mão – hoje, ambas as tecnologias são amplamente utilizadas. Em outra cena, uma espécie de TV de LED gigante toma conta da sala de Logan, controlada por controle remoto, que torna tudo interativo – lá ele consegue trazer uma mulher da TV para sua casa. As câmeras de vigilância invadem privacidade e levam a informação até os painéis numa central, como se fosse um Big Brother. Os procedimentos médicos e estéticos indolores e por robôs e máquinas também são mostrados numa cena de muita ação. Tudo isso, de uma certa maneira, já existe nos dias de hoje. A sociedade de ‘Fuga do século 23’ é limitada, castradora, vigilante e punitiva, onde não se questiona nada, nem métodos nem as informações que são passadas. É uma sociedade alienada – a cena em que Logan descobre a verdade por trás da Renovação, de que aquilo não passava de uma fraude, mostra o sistema de fake news que permeava aquele lugar, para controlar, colocar medo e adestrar os indivíduos.
A chegada ao Santuário – cuidado, spoiler alert!
O bloco da metade ao final do filme propicia um deslumbramento especial a quem assiste. Depois da fuga de Logan e Jessica, após cruzarem uma passagem de gelo, enfrentarem um robô mal-intencionado que congela os fugitivos, e se depararem com a natureza, do lado de fora da redoma, em busca do Santuário, percebem que lá existe uma civilização antiga e perdida, uma enorme floresta com corredeiras e cachoeiras, e não há sinal de vida. Após a dupla desbravar a mata e vasculhar um panteão coberto por folhagens, fica perplexa com uma estátua central, não reconhecendo quem é a pessoa. A poucos quilômetros, avistam um enorme obelisco e um prédio alto com uma cúpula quebrada. Ali só um morador vive, um senhor, apelidado de ‘Old man’ (participação de Peter Ustinov, de ‘Spartacus’), de memória atrapalhada e cercado por gatos. O local nada mais é do que a capital norte-americana, Washington D.C. O Santuário é o Capitólio, o centro legislativo dos EUA, e o obelisco, o Monumento a Washington, com seus 170 metros de altura, todo abandonado, pois há dois séculos a população sucumbiu. A estátua anteriormente vista era a de Abraham Lincoln, e o lugar visitado por Logan e Jessica, o Lincoln Memorial. Vendo aquele senhor de idade e as ruínas por onde passaram, Logan entende o sentido do que é envelhecer, aquilo que era tirado deles quando estavam na redoma de vidro. Nessa sequência, Old man, cercado pelos gatos, recita poemas de T.S. Elliot, da coleção ‘Os gatos’ – ‘Old possum's book of practical cats’ – um dos animais dele se chama Jellicle, e Old Man seria uma personificação de Old Deuteronomy, personagem de muita idade e quase transcendental, tanto dos textos de T.S. Elliot quanto do musical inspirado pelo autor, ‘Cats’. O santuário nada mais seria que o último vestígio da civilização humana, com apenas um morador que vive até chegar o seu fim natural – não só aqui, mas em todo o filme reside uma crítica ao controle de natalidade, à liberdade de escolha e à pena de morte. Vale reforçar, com outras palavras, que na sociedade da redoma de vidro a morte prematura e forçada faz parte das leis, ou seja, eram autorizados assassinatos em massa.
Notas sobre a produção e curiosidades
- William F. Nolan, um dos autores do livro ‘Logan’s run’, também escreveu contos e roteiros para cinema de terror, como a adaptação do livro para o cinema de ‘A mansão macabra’ (1976) e segmentos dos telefilmes ‘Trilogia do terror’ (1975) e ‘Trilogia do terror II’ (1996). O outro autor do romance ‘Logan’s run’, George Clayton Johnson, ao lado de Jack Golden Russell, criou a história de ‘Onze homens e um segredo’, que virou filme em 1960 e depois inspirou o remake e as continuações na década de 2000 – ele ainda escreveu episódios das séries ‘Além da imaginação’, ‘Jornada nas estrelas’ e ‘Kung fu’, e um dos segmentos do filme ‘No limite da realidade’ (1983).
- O roteiro do filme ‘Fuga do século 23’ é de David Zelag Goodman, que colaborou como roteirista em ‘Sob o domínio do medo’ (1971) e ‘Os olhos de Laura Mars’ (1978), ao lado de outros roteiristas.
- A trilha sonora é de Jerry Goldsmith, de ‘A profecia’ (1976), ‘Meninos do Brasil’ (1978) e outros 200 filmes.
- A direção é do cineasta londrino Michael Anderson, que havia feito a primeira versão do filme futurista ‘1984’, em 1956, baseado no clássico de George Orwell; depois dirigiu fitas importantes como ‘A volta ao mundo em 80 dias’ (1956), ganhadora do Oscar de melhor filme, e ‘As sandálias do pescador’ (1968).
- O filme originou nos dois anos seguintes a série norte-americana ‘Fuga das estrelas’ (1977–1978), que contou com apenas uma temporada com 14 episódios, protagonizada por Gregory Harrison.
Referências
BERTUCCI, Jonas O.; VIEIRA, Nathan. A procura por distopias no século XXI: uma análise do ranking de obras mais populares do portal Amazon Brasil. Abusões, n. 17, ano 08. 2022.
GOMES, Anderson; CARDOSO, André; Sasse, PEDRO. A distopia e o gótico. Abusões, n. 12 v. 12, ano 06. 2020.
HILÁRIO, Leomir C. Teoria crítica e literatura – a distopia como ferramenta de análise radical da modernidade. Anu. Lit., Florianópolis, v.18, n. 2, p. 201-215, 2013.
* Resenha escrita especialmente para o livro "Clássicos Sci-fi - Pérolas da coleção", lançado pela Versátil Home Video em maio desse ano. Livro disponível para venda no site da Versátil.
Terror com suspense que tem um início curioso, mas que decai ao longo de um enredo absurdo e estranho. Começa com um bebê raptado em uma casa, deixando a mãe apavorada. Tempos depois, a criança cresce, e hoje é um jovem (Carloto Cotta, ator francês, de ‘Tabu’), que busca respostas sobre seu passado e planeja encontrar a mãe biológica, que nunca viu. Depois de um teste de DNA, descobre que a mãe mora em Portugal; então, ao lado da namorada (Brigette Lundy-Paine, da série ‘Atypical’), viaja à Europa, indo até o casarão onde a mãe mora reclusa vive. Instalados lá, percebe que a mãe (Alba Baptista, atriz portuguesa, de ‘Dulcineia’) guarda segredos assustadores – a mulher é atormentada após uma série de cirurgias que não deram certo e a deixaram deformada. Gabriel Abrantes, jovem cineasta de origem portuguesa, que mora nos EUA e teve longas e curtas exibidos em festivais de prestígio como Cannes, Berlim e Veneza, não esconde as influências do cinema de Dario Argento e de David Lynch, além do estilo camp, só que tudo é muito razoável, com situações que beiram o ridículo. Ele diz que foi influenciado por filmes como ‘Suspiria’ e ‘Veludo azul’, tanto para compor a trama quanto para criar os personagens (ele é o roteirista também), mas obviamente que suas tentativas são fracassadas. Falta também engajamento dos atores, em especial o rapaz, Cotta, que aparece em três personagens diferentes. Brigette é boa, tenta segurar as pontas, só que em vão... Quem quiser arriscar, o filme está nos cinemas brasileiros pela Imagem Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Aos 90 anos, a veterana diretora italiana Liliana Cavani realizou esse seu último trabalho em 2023, um drama de ar misterioso que reúne bons nomes do cinema da Itália, como Claudia Gerini, Alessandro Gassmann (filho do ator Vittorio Gasmman e da atriz Juliette Mayniel) e participação da espanhola Ángela Molina. O longa é inspirado no livro de mesmo nome do físico Carlo Rovelli, que discorre sobre teorias físicas, como gravidade, loop, passando por Newton e Einstein. Cavani pegou a ideia central e escreveu um roteiro com vários personagens, juntando poesia e efeitos dramáticos – ela adaptou-o ao lado do roteirista Paolo Costella. Acompanhamos um grupo de amigos, homens e mulheres, reunido numa casa à beira-mar para o aniversário de uma delas. De repente, eis que um anuncia a espalhafatosa notícia de que um asteroide que está rumo à Terra, o que colocará fim ao planeta em poucas horas. A notícia causa espanto, angústia e dúvidas entre os amigos, que passam a falar incessantemente sobre o assunto. Ora engraçado, ora filosófico, não é uma grande obra de Liliana, que dirigiu filmes de arte chocantes muitas décadas atrás, como ‘O porteiro da noite’ (1974) e ‘A pele’ (1981); infelizmente, nos últimos tempos, sua carreira é bem irregular, com filmes esquecíveis. Ainda que com problemas de roteiro e a falta de ingredientes encorpados, ‘A ordem do tempo’ assiste-se até o fim, pois queremos saber como terminará a tal trama do meteoro. Exibido nos festivais de Veneza e Rio, está nos cinemas das principais capitais brasileiras pela Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Em sua estreia no cinema ficcional, a diretora mineira Cristina Maure faz uma viagem ao universo feminino ao retratar dias na vida de uma mulher que chega a uma estação para pegar um trem, que nunca aparece. Ela está em busca do marido que a abandonou. Enquanto isso, fica hospedada numa pensão e cruza com pessoas estranhas, o que a faz relembrar velhos fatos. Nessa fita independente, coprodução Brasil e Uruguai, rodada durante a pandemia e finalizada somente agora, a diretora escala um elenco misto, como atores do teatro mineiro e a atriz uruguaia Jimena Castiglioni, radicada no Brasil. Conta com uma bela fotografia em preto-e-branca que evoca o passado, de um vilarejo e de uma mulher estacionados no tempo, criando uma atmosfera de sonho e realidade, que beiram o absurdo e surrealismo. Exibido no Festival de Tiradentes desse ano, o filme está nos cinemas pela Vaca Amarela. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Documentário eletrizante e digno de aplausos conduzido pelos dois únicos integrantes vivos da primeira formação da banda de rock inglesa The Who, Pete Townshend e Roger Daltrey, respectivamente guitarrista e compositor e o vocalista. Sentados frente às câmeras, eles vasculham a memória para contar fatos inusitados do grupo, as viagens e turnês, a relação dos membros e as tragédias que abalaram cada um deles – como a morte do baterista Keith Moon, em 1978. Tudo começou como uma banda de bar londrina em 1964, influenciada pelos Beatles e pelo movimento psicodélico, transformando-se em pouco tempo num sofisticado e imponente grupo de rock e beat que percorreu os quatro cantos do mundo com suas músicas satíricas e críticas. Enquanto Townshend e Daltrey falam, reportagens e trechos de shows percorrem a tela. Não podia faltar nos depoimentos menções aos discos de sucesso da banda, como a estreia com ‘My generation’ (1965), ‘The Who sell out’ (1967), ‘Who’s next’ (1971 – onde tem a música ‘Behind blue eyes’, regravada em 2001 pela banda americana Limp Bizkit) e ‘Who are you’ (1978). Os dois também lembram o lançamento de dois álbuns que viraram filmes, ‘Tommy’ (1969) e ‘Quadrophenia’ (1973), as novas formações e a reciclagem de gênero a partir do início dos anos 80 e a polêmica prisão de Townshend em 2003, acusado indevidamente de pornografia infantil. O documentário, dos realizadores de ‘No direction home: Bob Dylan’ (2005), passou nos festivais de Toronto e no IN-Edit e concorreu ao Grammy de melhor doc musical. Disponível em DVD, em edição com dois discos, lançado pela Universal Pictures, com a metragem de cinema, de 119 minutos, a mesma exibida no Festival de Toronto; há ainda a versão estendida, de 237 minutos, lançada apenas nos EUA, e uma alternativa de 208 minutos, distribuída na Europa. A versão de cinema também pode ser assistida no Prime Video, disponível para assinantes da plataforma. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Entre os anos de 2010 e 2020, a Universal Pictures lançou nos cinemas e em mídia física (DVD e Bluray) documentários sobre atletas de diversas modalidades, como ‘Senna’ (2010, premiado no Bafta e no Festival de Sundance), ‘O time de 92’ (2013 - sobre os jogadores do Manchester United nos anos 90, liderados por David Beckham), ‘Manny’ (2014 – sobre o boxeador filipino Manny Pacquiao), ‘Eu sou Ali: A história de Muhammad Ali’ (2014) e ‘Ronaldo’ (2015 - sobre o jogador de futebol Cristiano Ronaldo). Também saiu ‘I am Bolt’ (2016), que recorta partes da vida, como infância, juventude e vida adulta de um dos maiores velocistas de todos os tempos, o jamaicano Usain Bolt. Nascido em 1986 numa pequena comunidade do condado de Cornwall chamada Trelawny, na Jamaica, Bolt cresceu nas ruas jogando críquete e futebol. Ainda na escola primária, incentivado pelos pais, praticava corridas e participava de torneios, até que aos 15 anos, em 2001, um técnico de atletismo começou a treiná-lo. Disputando torneios no país de origem e em outros lugares, sendo o primeiro passo para o estrelato no mundo do esporte. Foi tricampeão em duas modalidades de pista em Jogos Olímpicos de maneira consecutiva (100 metros rasos e 200 metros rasos), conquistou oito medalhas de ouro e recebeu o título de ‘o homem mais rápido do mundo’. O filme acompanha os treinos de Bolt na juventude e na atualidade – como o longa saiu em 2016, ele ainda era velocista, mostra sua relação com a família e o vínculo com a nação jamaicana, que nunca abandonou, as festas que participa, a relação com os fãs e com os antigos treinadores. Um ano depois do lançamento do filme, em 2017, Bolt se aposentou do atletismo e entrou para o futebol (isso não aparece no longa) - foi jogador de campo por dois anos, até 2019, nos times Strømsgodset, da Noruega, e Central Coast Mariners, da Austrália, até parar de vez. Carismático e positivo, Bolt conquistou o coração dos fãs, e nesse doc podemos apreciar parte importante de sua trajetória. Quem dirige é a dupla de irmãos diretores e produtores britânicos que fizeram o documentário ‘O time de 92’ (2013), Ben Turner e Gabe Turner. Disponível em DVD pela Universal Pictures, também pode ser encontrado no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes, Google Filmes e Apple TV. POR FELIPE BRIDA -BLOG CINEMA NA WEB
A Mubi é hoje queridinha dos cinéfilos exigentes, uma das plataformas em streaming que mais traz fitas cult, seja de antigamente ou do cinema atual. Esse documentário, produção da Mubi, está lá disponível para assinantes, um filme extraordinário que traça o perfil biográfico de John Galliano, nome de destaque da alta costura, hoje recluso aos 63 anos. No doc, Galliano recebe a equipe do filme para uma conversa em sua casa, relembra a infância na Espanha - ele é filho de um gibraltino com uma espanhola, a juventude quando estudou na prestigiada St. Martins College of Art & Design em Londres, onde ganhou o título de melhor aluno do ano, e sua entrada no mundo da alta costura, fazendo roupas para celebridades. Ele recorda de fatos marcantes da carreira, o auge nas décadas de 80 e 90, até viver um inferno quando cometeu atos antissemitas em dois bares de Paris, em 2011. Alcoolizado, agrediu verbalmente um casal e depois duas mulheres italianas, todos judeus - um vídeo com os ataques viralizaram na época, Galliano foi detido pela polícia, demitido da Dior, onde trabalhava, e nunca mais se restabeleceu. Por enfrentar problemas com o álcool, foi internado em clínicas de reabilitação, e quando saiu se fechou num mundo particular, muito devido à exposição mundial que teve com as agressões. O filme explora o universo criativo de Galliano e ao mesmo tempo seu lado temperamental e agressivo, que o destruiu. Um homem cheio de ideais, bem-quisto no mundo da moda, mas que decepcionou fãs e colegas de trabalho por sua atitude racista. E que sentiu na pele o cancelamento. Kevin Macdonald é o diretor, que cultiva uma carreira formidável de filmes politizados, como 'O último rei da Escócia' (2006), 'Intrigas de estado' (2009) e 'O mauritano' (2021) e que havia dirigido bons docs, como 'Marley' (2012) e 'Whitney' (2018). Assistam e aproveitem para conhecer o catálogo impressionante de fitas cult na plataforma da Mubi. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
O inglês Christopher Nolan ganhou, esse ano, seu primeiro Oscar de diretor, pelo filme biográfico ‘Oppenheimer’ (2023), que foi sensação de público na temporada de 2023. Também ganhou o Oscar de melhor filme pelo longa que conta a história do criador da bomba atômica. Nolan tem outras sete indicações da Academia, entre roteiro original, direção e melhor filme, por ‘Amnésia’ (2000), ‘A origem’ (2010) e ‘Dunkirk’ (2017). Nascido em 1970, Christopher Nolan faz filmes desde o finzinho dos anos 80. Iniciou a carreira aos 19 anos, com curtas experimentais na faculdade, até chamar a atenção de diretores e do público com seu primeiro longa-metragem, ‘Following’ (1998), aqui no Brasil traduzido como ‘Seguinte’, um título em português cheio de duplos sentidos. Um filme de poucos recursos, bem experimental e cheio de criatividade. Sem ser formado em cinema – Nolan gradou-se em Literatura na Universidade de Londres, demonstra em ‘Following’ noções de estética, de enquadramentos, de conteúdo cinematográfico; para o filme, reuniu um orçamento mísero de U$ 6 mil, um dos mais baratos da história do Cinema, e realizou um feito inédito, uma fita instigante de drama e suspense, de apenas 69 minutos de duração, toda em preto-e-branca, rodada na casa de amigos em Londres. Foi o primeiro filme da Syncopy, produtora que Nolan fundou com sua esposa, Emma Thomas, que aparece aqui como atriz e se tornaria produtora de seus trabalhos. Rodou o filme em película com uma câmera portátil simples, a partir de uma ideia que ele mesmo vivenciou – sua casa foi invadida e destruída por bandidos, e na história, um rapaz que segue pessoas na rua acaba se tornando parceiro de assalto de um criminoso. Parte do elenco, muitos deles seus amigos de faculdade, Nolan convidaria depois para ‘Batman Begins’ (2005), em papéis pequenos, como Jeremy Theobald, Lucy Russell e John Nolan, seu tio. Em ‘Following’, Nolan escreve, dirige, produz, faz a fotografia e a montagem. Um cinema totalmente autoral. Ele demorou um ano para gravar, pois captava as cenas nos fins de semana, já que todos do elenco trabalhavam em outras áreas, ninguém vivia de cinema. ‘Following’ é um noir moderno, com 30 tempos no enredo – entre flashbacks desdobrados e vários momentos do presente. Como já era um conhecedor de cinema, Nolan traz referências aos montes, como pôsteres emoldurados no interior das casas com clássicos, como ‘Crepúsculo dos deuses’ (1950). Apresentado no Festival de Toronto e premiado no Festival de Rotterdam, o filme é uma pequena obra-prima, que merece ser descoberta pelos cinéfilos. Disponível em DVD e Bluray pela Classicline, também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com outros dois filmes dele, ‘Amnésia’ e ‘Insônia’. Todo diretor tem um começo, muitos deles um começo com filmes pequenos, de festivais, desconhecidos. Nolan é um deles, e se transformou num realizador notável, com filmes ousados, criativos e com uma estética moderna. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Depois de estrear como diretor com o cultuado filme experimental de crime ‘Following’ (1998), o inglês Christopher Nolan realizou uma estrondosa e enigmática fita de suspense que chacoalhou a crítica, abrindo os olhos do público para um novo tipo de cinema, ‘Amnésia’ (2000). Nolan consolidaria sua carreira nesse terceiro longa-metragem, ‘Insônia’ (2002), um suspense policial classe A, remake de um instigante neonoir norueguês exibido NO Festival de Cannes. O roteiro é uma adaptação feito por uma mulher, Hillary Seitz, que reescreveu o original de 1997 dos escandinavos Erik Skjoldbjærg e Nikolaj Frobenius. Seitz manteve o thriller e as reviravoltas e inseriu alguns ingredientes a mais. O diretor recriou o tom sombrio de investigação do anterior, e agora a história se passa no extremo norte do Alaska, onde também ocorre o solstício de verão, em que por muitas semanas o dia cobre a noite – no original a trama é no solstício da Noruega. Nolan esticou a história, que tinha 96 minutos e agora passa a 118 minutos, mais explícito, violento e trágico que o outro. Al Pacino substitui Stellan Skarsgård, um detetive que não consegue dormir, sempre com cara de sono, ainda mais no verão do Alaska em que as noites não existem, e a claridade se estende por 24 horas – vejam o trocadilho do sobrenome dele, ‘Dormer’. Numa das cenas marcantes, ele tem de tapar as janelas com cobertores para o quarto ficar escuro e assim, quem sabe, poder descansar. Ele é um detetive que mata acidentalmente seu parceiro quando sai na busca por um suspeito do homicídio que investiga. Para não assumir a culpa, planta elementos falsos no caso, tentando despistar a polícia, até que será surpreendido por uma astuta policial que entra na investigação – papel de Hilary Swank. O filme tem tensão crescente, reviravoltas marcantes e uma fotografia demolidora no gelo do Alaska, assinada por Wally Pfister, que virou parceiro de trabalho de Nolan e ganharia o Oscar por ‘A origem’ – o filme foi rodado no Alaska e na Columbia Britânica no Canadá, por dois meses durante a primavera, que é sempre gelada nessas regiões. O elenco dá um show à parte, com Al Pacino liderando, Hilary Swank como uma boa coadjuvante como contraponto do protagonista, na época recém-ganhadora do Oscar por ‘Meninos não choram’ (1999), e participação especial de Robin Williams, como o vilão – ele aparece depois de uma hora de filme, e no mesmo ano, 2002, fez outro filme sinistro de suspense, ‘Retratos de uma obsessão’ (2002), saindo da curva, já que era um rosto célebre de filmes de comédia. O filme abriu no Festival de Tribeca, depois passou em Locarno, e foi distribuído mundialmente nos cinemas, sendo um dos grandes trabalhos de Nolan. Depois de ‘Insônia’, o diretor deu nova dimensão para o universo de Batman, fazendo a trilogia composta por ‘Batman Begins’ (2005), ‘Batman – O cavaleiro das trevas’ (2008) e ‘Batman – O cavaleiro das trevas ressurge’ (2012), expandindo seu trabalho em Hollywood. E não parou mais, com seus filmes intrigantes e complexos, de ‘A origem’ (2010) ao recente ‘Oppenheimer’ (2023), que puxa público às salas. Em março desse ano ganhou dois Oscars, de direção e melhor filme por ‘Oppenheimer’ (2023), e recebeu das mãos de Rei Charles III o título de Sir, pelos serviços prestados ao cinema. O filme saiu em recente versão em DVD e bluray pela Classicline, e também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com os filmes ‘Following’ e ‘Amnésia’. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
E nos cinemas brasileiros das principais capitais brasileiras estreia hoje ‘A musa de Bonnard’, uma fita de drama/romance de época para quem gosta de histórias reais, que trata do mundo das artes plásticas. Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês de 2023, traz o ator Vincent Macaigne (de ‘Vidas duplas’) como o pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947), conhecido como o ‘pintor da felicidade’, em seu casamento turbulento de cinco décadas com Marthe de Méligny (papel franco e bem conduzido por uma atriz que admiro, Cécile de France, de ‘Além da vida’), que se tornou musa de seus quadros. Entre brigas, separações e traições, o casal viveu junto inspirando um ao outro. Nesse filme delicado, com lindas paisagens de uma França interiorana e bucólica do início do século XX, conhecemos a obra de Bonnard e o processo criativo dele ao lado da esposa. Dirigido por Martin Provost, de ‘O reencontro’ e ‘A boa esposa’, que contou ser encantado pela obra de Bonnard desde a infância e, segundo ele, foi procurado pela sobrinha-neta de Marthe para filmar a história dela– ele escreveu o roteiro ao lado de Marc Abdelnour, com quem já trabalhou em outros longas. Nos cinemas pela California Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG 'CINEMA NA WEB'
O Canal Brasil exibe hoje, dia 06/06, às 20h, esse ótimo documentário sobre a crise no mundo da política brasileira a partir de 2016, após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. O diretor gaúcho Zeca Brito, de “O guri” e Legalidade”, foca seu filme nas manifestações dos estudantes secundaristas que se juntaram aos movimentos sociais para tomar as ruas quando do impeachment/golpe em 2016, que se desdobrou na eleição de Bolsonaro dois anos depois. Ao mesmo tempo, num teatro, Hamlet, o notório personagem de William Shakespeare, procura espaço na sociedade – ele está atormentado pela pergunta “ser ou não ser?”. Rodado em preto-e-branco, é um filme que deve ser visto e discutido. Venceu cinco Kikitos no Festival de Gramado, foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo me 2022, onde assisti, passou nos cinemas brasileiros esse ano, e pode ser alugado nas plataformas Claro TV+ (Now) e Vivo Play. Produção e distribuição: Galo de Briga Filmes e Anti-filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG 'CINEMA NA WEB'
De Pedro Diógenes, diretor de ‘Pajeú’ (2019), o filme brasileiro é uma das melhores estreias nos cinemas desse final de semana. Um drama familiar bem moldado, que acompanha a relação de uma menina adolescente com o pai, que trabalha como humorista em bares de Fortaleza, onde se pinta e se veste de palhaço e de mulher. Pai e filha sempre tiveram pouco tempos juntos, e um final de semana será derradeiro para reatar laços perdidos. O filme é inspirado na vida do comediante e humorista Paulo Diógenes, nascido no Rio e criado no Ceará, que criou o famoso personagem Raimundinha e faleceu em fevereiro desse ano. Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, tem dois atores excelentes em cena, a estreante Lis Sutter no papel da adolescente e Demick Lopes (dos filmes ‘Greta’ e ‘Inferninho’) como o humorista, e rápida participação especial de Jesuíta Barbosa. No filme o diretor Pedro Diogenes procura trazer reflexões sobre paternidade, sexualidade e aceitação, a partir do relacionamento distante entre pai e filha. Com produção da Marrevolto Filmes, juntamente com a Pique-Bandeira Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Nesse documentário didático, simples na forma e repleto de conteúdo informativo/histórico, conhecemos por dentro a ‘Revolta dos Búzios’, também chamada de ‘Revolução dos Alfaiates’ e ‘Conjuração Baiana’. Foi um levante popular contra o governo colonial no estado da Bahia, nascido em 1798, sob influência da Revolução Francesa, ocorrida nove anos antes, e utilizando os ideais do Iluminismo. De caráter emancipacionista, foi um movimento popular, com participação de sapateiros, alfaiates e escravos, que pregava a igualdade racial, e procurava estabelecer no país um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, além de acabar com a escravidão. O movimento foi denunciado, o governo prendeu e torturou os conspiradores, com penas de açoite público e morte, resultando em quatro homens assassinados, que foram enforcados e esquartejados em praça pública em Salvador. O diretor Antonio Olavo, pesquisador do tema, trabalhou no filme por 13 anos, e segundo ele, é uma obra para lembrar e preservar a memória do povo negro. O filme utiliza como base o famoso documento ‘Autos da Devassa’ e insere ao longo do filme desenhos, ilustrações e encenação de atores. Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens, tem distribuição da Abará Filmes e está em exibição nos principais cinemas brasileiros. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Depois de adiar a estreia por dois meses, a A2 Filmes lançou nesse final de semana nos principais cinemas brasileiros o eficiente suspense policial ‘Por trás da verdade’ (2023), com a duas vezes ganhadora do Oscar Hilary Swank, de ‘Menina de ouro’ (2004). Ela interpreta uma jornalista que investiga o assassinato do filho, ao lado da namorada dele. Juntas, adentram o hostil mundo do tráfico das drogas. Quando as investigações avançam, a vida das duas corre perigo. Marcam presenças no longa Olivia Cooke, de ‘Jogador número 1’ (2018), e Jack Reynor, de ‘Midsommar: O mal não espera a noite’ (2019). A fotografia, principalmente no ambiente noturno e em lugares fechados, ajuda a condução desse filme de suspense envolvente, dirigido por Miles Joris-Peyrafitt, de "Dreamland: Sonhos e ilusões" (2019). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Paul Schrader já foi um dos nomes mais fortes do cinema autoral norte-americano, roteirista de ‘Taxi driver’ (1976) e ‘Touro indomável’ (1980), e diretor de ‘Hardcore – No submundo do sexo’ (1979), ‘A marca da pantera’ (1982), ‘Mishima – Uma vida em quatro tempos’ (1985), ‘O dono da noite’ (1992), entre outros. Nos últimos 20 anos rodou vários filmes banais, salvando um ou outro trabalho. ‘Fé corrompida’ (2017), ‘O contador de cartas’ (2021) e esse ‘Jardim dos desejos’ são seus últimos melhores filmes, e podem ser entendidos como uma trilogia. ‘Jardim dos desejos’ acaba de estrear no Brasil, nos cinemas, é um drama que carrega, ao longo da história, um fundo de cinema policial violento e suspense, que se revela aos poucos. Conta a história de um dedicado jardineiro, papel muito bom de Joel Edgerton, que trabalha nos jardins de uma elegante proprietária de terras, uma viúva interpretada por Sigourney Weaver. A rotina tranquila do lugar muda com a chegada da problemática sobrinha-neta da dona das terras, papel de Quintessa Swindell, que vira aprendiz do jardineiro no cuidar das flores. O jardineiro guarda segredos perturbadores, de um passado envolvendo crimes e assassinatos brutais. Exibido no Festival de Veneza, não é um memorável Schrader, mas está nessa nova fase do diretor, que retoma temas que outrora o consagraram, como a brutalidade nas relações, a figura do anti-herói solitário lutando contra o passado sombrio, a redenção etc. Está nos cinemas pela Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Daisy Ridley, conhecida como a protagonista Rey da última saga “Star Wars”, é uma atriz inglesa talentosíssima e pouca vista nas telas. Em ‘Às vezes quero sumir’, tem a chance de mostrar sua versatilidade e a verve dramática, numa fita independente peculiar, indicada a dois prêmios no Festival de Sundance (incluindo o do júri para a diretora Rachel Lambert). Num papel sensível e marcante, Daisy faz uma jovem de poucas palavras, que trabalha num escritório numa cidadezinha costeira americana. Ela é afligida por pensamentos ruins, como de morrer ou de abandonar tudo e fugir de casa. A chegada de um novo colega de trabalho (o humorista Dave Merheje, aqui contido em papel sério, dramático) a transforma; eles têm forte conexão, passam a se encontrar fora do trabalho, e até um interesse romântico surge ali, fazendo com que ela veja esperança em sua tediosa vida. Com romance, comédia e drama, é um filme bonito e melancólico, que trata da solidão, da dificuldade das pessoas em estabelecer conexões. Inspirada na peça “Killers”, de Kevin Armento, que adaptou o roteiro ao lado de Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead. Está em exibição nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Synapse Distribution. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Exibido em festivais brasileiros como Mostra de Tiradentes e Mostra Intl de Cinema de SP, o novo filme de Helena Ignez – que aqui dirige, escreve, produz e protagoniza, é uma reflexão íntima sobre a liberdade sexual feminina e as políticas do corpo da mulher. Ignez, uma cineasta que veio do cinema underground, faz uma homenagem aos filmes daquele período. Ela interpreta uma artista e sexóloga de 80 anos de idade, amiga e amante de um ativista dos Direitos Humanos (papel de Ney Matogrosso, que já trabalhou em outros longas de Ignez, como ‘Ralé). Juntos, embarcam nas memórias de uma última viagem que fizeram ao Marrocos, cinquenta anos atrás, onde ocorreu uma situação desafiadora. Passado e presente se misturam com efusividade, num filme independente de grandes virtudes. Conta com um elenco grande e formidável, em pequenas participações, e na tela vemos Djin Sganzerla, Guilherme Leme, Mario Bortolotto e outros. Estreou nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Mercúrio Produções. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Polêmica e chocante, foi a fita de estreia do diretor norte-americano S. Craig Zahler, que iniciou a carreira como diretor de fotografia em curtas nos anos 90 e escreveu antes apenas um roteiro, o do terror que se passa num hospital psiquiátrico ‘Desespero’ (2011), de Alexandre Courtès - nesse filme, Zahler já demonstrava gosto pelo macabro, por situações horrendas, com personagens sanguinários. Em ‘Rastro de maldade’ (2015), Zahler escreve e dirige uma história de crueldade e horror no velho oeste, acompanhando um grupo de homens durões, composto por xerifes e pistoleiros e um marido em busca de vingança, que iniciam uma saga para resgatar uma enfermeira – esposa de um deles, raptada por uma tribo indígena. Na verdade, não são indígenas qualquer, e sim um pequeno bando de canibais primitivos que se camuflam com tintas brancas pelo corpo, fazem armadilhas e atacam com flechas; eles matam, comem as vísceras e usam partes do corpo das vítimas para rituais. O grupo fará uma caminhada ao inferno, onde todos serão alvo desses selvagens. Zahler realizou um cult movie impressionante e diferenciado, com momentos de pura violência, como as cenas de canibalismo, sadismo e monstruosidades – por isso recebeu classificação de 18 anos. Ele fez muito com pouco – o orçamento beirou U$ 1,8 milhões, e gravou em apenas 20 dias, com um script escrito em 2007, ou seja, oito anos antes. Zahler faz uma mistura inusitada de gêneros, como o faroeste com terror, passando pelo drama, ação e aventura. Um amigo crítico de cinema e diretor de filmes, Hsu Chien, disse que assistiu uma espécie de ‘Rastros de ódio’ (1956) com ‘Holocausto canibal’ (1980) e ‘O predador’ (1987). O elenco está formidável nessa fita que exige muito dos atores – em especial o quarteto Russell, Wilson, Jenkins e Fox. Exibido em diversos festivais de cinema, onde ganhou prêmios, como BFI London, Sitges e Fangoria. Concorreu ainda no Film Independent Spirit Awards, nas categorias melhor roteiro e ator coadjuvante para Jenkins. Disponível em DVD e bluray e no streaming (Amazon Prime e Apple TV). Em DVD, saiu pela Califórnia Filmes em 2016, e anos depois, em 2021, em bluray pela Versátil em parceria com a Califórnia, numa caixa em luva reforçada com um disco com quase uma hora de vídeos extras, além de pôster, livreto e cards. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Escrito e dirigido por um dos talentos mais impressionantes do cinema policial atual, o pouco conhecido S. Craig Zahler, cujos filmes precisam ser descobertos pelo público. Ele foi apontado como um novo Quentin Tarantino, um cineasta que faz obras frenéticas, com personagens complexos e de inúmeras camadas, com cenas grotescas de crimes e desfechos absurdamente chocantes. Esse filme foi planejado durante as gravações do anterior do diretor, ‘Rastro de maldade’ (2015), um pesado western com ação e momentos de terror com canibalismo, com Kurt Russell e Patrick Wilson, rodado dois anos antes. Em ‘Confronto’, Vince Vaughn, ator presente em boas fitas de comédia e drama, como ‘Penetras bons de bico’ (2005), entrega uma performance incrível, com a cabeça raspada, com uma cruz tatuada de fora a fora na nuca, um ex-boxeador traído pela esposa grávida, preso após um trabalho furado de tráfico de drogas que culminou com mortos. De poucas palavras, forte como um touro, ele sofre outro golpe do destino, quando a ex-mulher é sequestrada por um criminoso perigoso, e terá de fazer um acordo para lá de inusitado – e quase impossível – para que ela seja solta: entrar numa penitenciária de segurança máxima e matar um chefão do crime que domina o local. As situações das cenas de luta e tiros são realistas, nada de pirotecnias do cinema blockbuster; Zahler dá um tom melancólico para o protagonista e um grau de humanidade a todos os personagens. Jennifer Carpenter, da série ‘Dexter’, está correta como a esposa, ex-alcoólatra, Udo Kier, de ‘Bacurau’, faz um criminoso que negocia o acordo com ele, e o astro dos anos 80 Don Johnson, da série ‘Miami Vice’, aparece pouco, mas bem, como o diretor da penitenciária, um homem durão. Que filme espetacular e que diretor certeiro! O elenco todo retornaria no último filme do diretor – ele só tem três longas, chamado ‘Justiça brutal’ (2018), com Mel Gibson, em que ele e Vince Vaughn interpretam uma dupla de policiais que cometem atos ilegais na corporação e se infiltram no submundo do crime. ‘Confronto no pavilhão 99’ foi filmado numa prisão desativada, a Arthur Kill Correctional Facility, em Nova York, e numa instalação militar que lembra cadeia, a Fort Wadsworth, também em NY, o que dá o tom real necessário para a trama. O ‘pavilhão’ do título é referência a uma cena no fim do filme, mas até lá muita água irá rolar, muitas mortes e crimes, com uma tensão crescente, de um personagem que irá para o inferno para salvar a ex-esposa e o filho que irá nascer. Disponível em DVD pela Universal e no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes e Apple TV. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
O controverso cineasta norte-americano S. Craig Zahler, realizador do western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015) e da chocante fita de ação que se passa em duas penitenciárias ‘Confronto no pavilhão 99’ (2017), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor, e este ‘Justiça brutal’ passa bem perto. No longa-metragem, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Os astros Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas, torturando pessoas, cometendo delitos e até matando sem pestanejar. O filme recebeu uma chuva de comentários negativos na época, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e atiram sem pensar duas vezes - numa das sequências, um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. É tanta brutalidade que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’. Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas. Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, com US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época. Também é o de maior duração, com 158 minutos - mais um alerta para o público específico. Exibido no Festival de Veneza, foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes. PS: Zahler dirige atualmente um novo filme policial, com Adrien Brody e Vince Vaughn, sobre dois veteranos da Segunda Guerra Mundial, traumatizados, que tentam reajustar seus últimos dias de vida. ‘The Bookie & the Bruiser’ tem previsão de estreia nos cinemas para 2025. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Mais uma fita autoral inusitada e vibrante de Fiona Gordon e Dominique Abel, casados na vida real, que dirigem, escrevem, produzem e costumam atuar em seus filmes. Depois de ‘Rumba’ (2008) e ‘Perdidos em Paris’ (2016), retornam com criatividade vivaz em ‘A estrela cadente’, uma comédia dramática poética com uma série de personagens diferentes numa aventura policial fora do comum. Um ex-ativista trabalha como barman no bar ‘Estrela cadente’ (papel de Abel) e guarda a sete-chaves seu passado sombrio. Até que um homem, vítima de um plano malsucedido dele, o reencontra desejando vingança. Fotografia, cenários e figurinos coloridos aliados a planos e direção de arte minimalistas dialogam com o cinema do finlandês Aki Kaurismäki, em que o burlesco e o verossímil se confundem. Exibido no Festival de Locarno, o filme, uma produção França/Bélgica, estreou nesse fim de semana no Brasil, com distribuição da Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
De olho numa das melhores estreias nacionais do ano nos cinemas. Depois de percorrer mais de 15 festivais entre 2022 e 2023, chega agora nas principais salas de cinema do país esse incrível e vigoroso filme de Halder Gomes, especializado em comédias, que fez ‘Cine Holliúdy’ e ‘O shaolim do sertão’. Agora muda o tom e faz um drama íntimo, feminino e cheio de metáforas. Chico Diaz está incrível como um pintor que está perdendo a visão e procura inspiração para sua nova obra plástica. Até que se depara com uma atriz em crise (Samantha Müller) e uma marchand (Maria Fernanda Cândido). Passado e presente do artista plástico se fundirão numa fita inteligente, complexa e que discute o processo criativo de artistas pouco aceitos e o valor material e imaterial das pinturas. Adorei e recomendo. O longa é coprodução da ATC, da Glaz Entretenimento e da Globo Filmes, com produção executiva da Ukbar Filmes, de Portugal. Distribuição nos cinemas pela Pandora Filmes.
Lançado no finalzinho dos anos 80, quando já se profetizava o fim do mundo com a chegada do próximo milênio, esse filme de drama, suspense e terror foi um dos tantos nessa linha catastrofista. Na história, fenômenos climáticos entram em choque e colocam a vida de milhões em risco com a chegada de um andarilho misterioso numa cidadezinha. Um casal que espera o nascimento do primeiro filho é procurado incessantemente por esse homem, que tem uma revelação a fazer. Do outro lado, um padre, emissário do Vaticano e ligado à ciência, desconfia desses fenômenos e inicia uma longa e perigosa investigação que colocará a vida de todos em jogo. O filme popularizou-se em VHS, não é uma obra impressionante, mas serve como entretenimento nessa linha de filmes sobre o Apocalipse, ou como queiram, o Juízo Final. Há uma ambientação estranha, um clima de perturbação que nos deixa angustiados e atentos para o desfecho. Qual o segredo que o andarilho guarda? Quem dirige é Carl Schultz, que trabalhou mais em séries de TV, e o roteiro é de Clifford e Ellen Green, casados na época, de ‘SpaceCamp – Aventura no espaço’ (1986) e que depois fariam um filme semelhante a esse, ‘A filha da luz’ (2000). Demi Moore estava em início de carreira, logo se tornaria estrela, e Michael Biehn já se projetava no cinema após ‘Aliens, o resgate’ (1986). O alemão Jürgen Prochnow, de ‘O barco – Inferno no mar’ (1981), faz o papel do andarilho que não sabemos ser anjo ou demônio. Disponível em DVD, recém-lançado num digipack especial pela Classicline, com cards.
A distribuidora Obras-primas do Cinema destaca em seus últimos lançamentos em DVD o cinema de Márta Mészáros, cineasta socialista e feminista de origem judia, expoente do Novo Cinema Húngaro, que reformulou as bases e as teorias da produção cinematográfica do país no pós-guerra. Suas obras sociais e críticas tratam justamente do trabalho das mulheres no país intercalando temas como maternidade e solidão na meia-idade. ‘Adoção’ (1975), seu principal filme, trata desses temas, com enfoque nos dois últimos. De forma delicada, com muitas cenas de troca de olhares e longas sequências de silêncio, a diretora - e também roteirista aqui - conta a história de uma mulher solitária e cheia de amarguras, viúva, que deseja ser mãe agora com mais de 40 anos. Ela fica fixada em uma menina prestes a atingir a maioridade, que vive em uma instituição de caridade, uma espécie de orfanato para jovens. De início as duas mulheres de mundos tão opostos têm crispações, mas aos poucos uma encontra conforto ao lado da outra. No filme acompanhamos a crise de meia-idade da protagonista, feito pela grande atriz húngara já falecida Katalin Berek, e os dilemas da jovem que cresce sem lar, sem pais, sem futuro – outro bom papel, o da atriz Gyöngyvér Vigh. Mészáros filma tudo numa belíssima fotografia preto-e-branca, e com este trabalho ganhou o Urso de Ouro em Berlim - foi a primeira mulher a receber o prêmio no festival. É um filme belo e trágico, que merece ser descoberto, ainda mais agora nessa grande cópia em DVD pela Obras-primas do Cinema – recomendo assistirem também ao making of de quase uma hora sobre a diretora, que vem como extra.
Fuga do Século 23
3.5 73‘Fuga do século 23’ - uma sociedade de extremos
Por Felipe Brida
Como será a vida no século XXIII? Haverá paz mundial ou guerras sem fim? Terá moradia suficiente para a população? E os alimentos, estarão disponíveis quando todos precisarem? Em ‘Fuga do século 23’ (1976), as respostas são apontadas, segundo a visão do diretor Michael Anderson a partir do livro futurista que inspirou a obra, escrito pelos norte-americanos William F. Nolan e George Clayton Johnson - publicado em 1967 e que virou bestseller.
Conforme o filme, no século XXIII a sociedade vive em equilíbrio. A população é feliz, não há guerras ou doenças, e tudo é provido pelos computadores inteligentes, desde as refeições até o lazer. Essa sociedade hedonista, que hipervaloriza o prazer, elimina as dores, as preocupações, os medos. Nada falta para as pessoas. As cidades são protegidas por redomas de vidro, os estádios com grandes arquibancadas preenchem a paisagem urbana, divididos por prédios altos envidraçados e espelhos d’agua. Túneis cortam a cidade de fora a fora, por onde transitam em alta velocidade veículos modernos.
Na abertura do filme, os letreiros trazem a informação de que houve uma terrível guerra, e os sobreviventes residem nessa cidade fechada em um domo, “afastada e esquecida do mundo exterior”. Porém, nesse mundo ecologicamente equilibrado, ninguém envelhece, pois a vida deve terminar aos 30 anos. Quem completa tal idade, participa de um ritual selvagem chamado ‘Renovação’, em que o corpo é destruído numa máquina denominada ‘Carrossel’, e, de acordo com as leis da sociedade, o indivíduo retorna no futuro – uma espécie de reencarnação.
Um dos moradores ilustres desse lugar é Logan 5 (papel de Michael York, de ‘Cabaret’) – o 5 depois do nome dos personagens é a geração de cada um, ou seja, Logan é o 5º representante de sua geração. Ele é um ‘Sandman’, um caçador de gente, que captura e mata aquele ou aquela que ousar escapar daquela sociedade controlada. Ele forma um par ideal com Francis 7 (Richard Jordan, de ‘A caçada ao outubro vermelho’); ambos são Sandmen, usam uniformes pretos com marcas cinzas, portam uma arma letal, vigiando a população. Até que um dia, depois de capturar um fugitivo após um ritual de Renovação, põe-se a questionar sua função e se realmente as pessoas eram renovadas no Carrossel, já que sua vida está prestes a acabar – as pessoas usam um ‘marcador de vida’ nas mãos, uma espécie de cristal que muda de cor conforme o avanço das idades, e a cor vermelha significa o término. Ao filosofar com uma amiga/amante, Jessica 6 (Jenny Agutter, de ‘A longa caminhada’), ele é provocado com discussões existenciais. Concluem que nunca viram ninguém voltar do Carrossel, então as pessoas morriam e acabou. Logan descobre uma brecha no sistema de vigilância, nem todos os habitantes são computados, e há possibilidades reais de fuga. Ao se passar por um foragido, recebe a missão de escapar de lá, rumo ao ‘Santuário’, local mítico onde, aparentemente, as pessoas vivem mais livres, há imunidade e tolerância e ninguém morre. Logan não imaginava existir um lugar assim – para ele, o mundo era apenas sob aquele domo rosa. Sua missão é destruir o Santuário. Ele aceita o desafio, junta-se a Jessica 6 e parte para a nova jornada de sua vida.
Essa superprodução norte-americana, originalmente da MGM, contou com orçamento caro para os padrões de filmes da época – U$ 9 milhões, marcando o cinema scifi, com sua história intrigante e fotografia com cores fortíssimas, que remetiam ao Psicodelismo – as cores eram de uma Metrocolor, processo inovador feito pelos estúdios da MGM. Indicado ao Oscar de melhor fotografia e direção de arte, recebeu da Academia um prêmio técnico especial, de efeitos especiais, em 1977.
O arranjo da fotografia ultracolorida, assinada por Ernest Laszlo, de ‘Aeroporto’, com a direção de arte futurista, misturando formas inusitadas de vidro, metal e gelo, da dupla Dale Hennesy e Robert De Vestel, de ‘O jovem Frankenstein’, realçam o poder visual dessa obra distópica fundamental para o cinema setentista. Um filme longe do entretenimento por si só, e sim repleto de críticas sociais, que ajudariam a compreender o comportamento social daquele período em que o filme foi feito, 1976, e os anos posteriores, década de 80, 90 e a chegada ao século XXI.
A população que vive sob a redoma veste-se de maneira homogênea, com túnicas vermelhas, rosas e verdes, enquanto passeiam por aí, felizes, por ambientes parecidos com grandes shopping centers. Sim, seria uma crítica ao comportamento de grupo e imposição do padrão de consumo e da moda.
Outra crítica perceptível é a da ‘sociedade do espetáculo’, ideia pensada pelo francês Guy Debord nos anos 60, quando os indivíduos se reúnem para celebrar o evento da ‘Renovação’, no Carrossel, em que as pessoas são explodidas ao vivo. É um ‘panis et circenses’ high tech - as pessoas se distribuem pela arquibancada circular, e dentro de um enorme cristal vermelho em formato de uma rosa, os que completaram 30 anos ficam lado a lado, até que de cima vem uma luz, faz o carrossel girar, e eles são levitados para o topo; a plateia histérica comemora, aplaudindo e gritando. Lá do alto, para se renovar, as pessoas explodem – quando acaba o ritual, todos voltam para casa, até que um novo ritual seja organizado. É tanto uma referência às arenas do Império Romano quanto da atual espetacularização midiática de acontecimentos.
O filme traz uma visão idílica e distópica, nos moldes malthusianos, de um futuro aparentemente tranquilo, onde não há tristeza nem dor, tampouco o envelhecimento e o medo da morte. É um mundo de prazer absoluto, um século XXIII tecnológico e de pura comodidade. Mas por trás disso há um processo aterrador – as pessoas são forçadas a morrer jovens, com 30 anos – no livro de William F. Nolan e George Clayton Johnson, a idade é 21 anos. Morrer significa manter não só o equilíbrio populacional como o da distribuição eficaz de alimentos. São ideias recorrentes na literatura e no cinema sobre futuros distópicos, segundo Bertucci & Vieira (2022), já que as distopias são o oposto radical da utopia. O termo ‘distopia’, segundo os autores, surgiu, pela primeira vez, num discurso do filósofo e economista inglês John Stuart Mill no parlamento britânico em 1868, e trata de um “lugar de extrema opressão, seja pelo controle excessivo ou pelo total descontrole social, onde recorrentemente reinam o autoritarismo e a violência física ou simbólica” (p.77).
Também Gomes, Cardoso & Pedro (2020) apontam que as distopias expressam visões negativas do mundo social, e elas “têm como um de seus temas centrais a dinâmica do poder e do autoritarismo. Compartilham também uma forte desconfiança diante do emprego instrumental da ciência e da tecnologia, e um fascínio com a paranoia, o aprisionamento e a alienação social do indivíduo” (p.6-7).
No filme ‘Fuga do século 23’ - o título pode aparecer como ‘Fuga no século 23’, a sociedade é manipulada, vive sob vigilância, não tem liberdades plenas e há uma evidente alienação. “As distopias problematizam os danos prováveis caso determinadas tendências do presente vençam. É por isso que elas enfatizam os processos de indiferenciação subjetiva, massificação cultural, vigilância total dos indivíduos, controle da subjetividade a partir de dispositivos de saber [...] Elas contêm um pessimismo ativo [...] são a denúncia dos efeitos de poder ligados às formas discursivas”, de acordo com Hilário (2013).
Questões como controle populacional, controle de natalidade, totalitarismo, opressão, narcose, ostentação ao belo, ao perfeito e ao saudável, e sociedade vigiada, que circulam em ‘Fuga do século 23’, são teores presentes - e que serviram de críticas sociais contundentes - em obras icônicas do século XX sobre distopias. Está em George Orwell (em ‘1984’), Aldous Huxley (em ‘Admirável mundo novo’), Philip K. Dick (em ‘Androides sonham com ovelhas elétricas’, que depois se chamaria ‘Blade runner’), Ray Bradbury (em ‘Fahrenheit 451’), Margaret Atwood (em ‘O conto da aia’), Anthony Burgess (em ‘Laranja mecânica’), Arthur C. Clarke (em ‘O fim da infância’), Evgéni Zamiátin (em ‘Nós’), Willian Gibson (em ‘Neuromancer) e Stanislaw Lem (em ‘O incrível congresso de Futurologia’) – e quase todos esses viraram filmes ou séries.
‘Fuga do século 23’ não era apenas ficção. Vislumbravam-se muitas coisas na sociedade daquela época, e que estariam presentes anos depois, como a tecnologia para todos os processos. Numa das cenas há o reconhecimento facial de um morto com um equipamento eletrônico portátil, e numa outra, uma espécie de biometria com a palma da mão – hoje, ambas as tecnologias são amplamente utilizadas. Em outra cena, uma espécie de TV de LED gigante toma conta da sala de Logan, controlada por controle remoto, que torna tudo interativo – lá ele consegue trazer uma mulher da TV para sua casa. As câmeras de vigilância invadem privacidade e levam a informação até os painéis numa central, como se fosse um Big Brother. Os procedimentos médicos e estéticos indolores e por robôs e máquinas também são mostrados numa cena de muita ação. Tudo isso, de uma certa maneira, já existe nos dias de hoje.
A sociedade de ‘Fuga do século 23’ é limitada, castradora, vigilante e punitiva, onde não se questiona nada, nem métodos nem as informações que são passadas. É uma sociedade alienada – a cena em que Logan descobre a verdade por trás da Renovação, de que aquilo não passava de uma fraude, mostra o sistema de fake news que permeava aquele lugar, para controlar, colocar medo e adestrar os indivíduos.
A chegada ao Santuário – cuidado, spoiler alert!
O bloco da metade ao final do filme propicia um deslumbramento especial a quem assiste. Depois da fuga de Logan e Jessica, após cruzarem uma passagem de gelo, enfrentarem um robô mal-intencionado que congela os fugitivos, e se depararem com a natureza, do lado de fora da redoma, em busca do Santuário, percebem que lá existe uma civilização antiga e perdida, uma enorme floresta com corredeiras e cachoeiras, e não há sinal de vida. Após a dupla desbravar a mata e vasculhar um panteão coberto por folhagens, fica perplexa com uma estátua central, não reconhecendo quem é a pessoa. A poucos quilômetros, avistam um enorme obelisco e um prédio alto com uma cúpula quebrada. Ali só um morador vive, um senhor, apelidado de ‘Old man’ (participação de Peter Ustinov, de ‘Spartacus’), de memória atrapalhada e cercado por gatos. O local nada mais é do que a capital norte-americana, Washington D.C. O Santuário é o Capitólio, o centro legislativo dos EUA, e o obelisco, o Monumento a Washington, com seus 170 metros de altura, todo abandonado, pois há dois séculos a população sucumbiu. A estátua anteriormente vista era a de Abraham Lincoln, e o lugar visitado por Logan e Jessica, o Lincoln Memorial. Vendo aquele senhor de idade e as ruínas por onde passaram, Logan entende o sentido do que é envelhecer, aquilo que era tirado deles quando estavam na redoma de vidro. Nessa sequência, Old man, cercado pelos gatos, recita poemas de T.S. Elliot, da coleção ‘Os gatos’ – ‘Old possum's book of practical cats’ – um dos animais dele se chama Jellicle, e Old Man seria uma personificação de Old Deuteronomy, personagem de muita idade e quase transcendental, tanto dos textos de T.S. Elliot quanto do musical inspirado pelo autor, ‘Cats’.
O santuário nada mais seria que o último vestígio da civilização humana, com apenas um morador que vive até chegar o seu fim natural – não só aqui, mas em todo o filme reside uma crítica ao controle de natalidade, à liberdade de escolha e à pena de morte. Vale reforçar, com outras palavras, que na sociedade da redoma de vidro a morte prematura e forçada faz parte das leis, ou seja, eram autorizados assassinatos em massa.
Notas sobre a produção e curiosidades
- William F. Nolan, um dos autores do livro ‘Logan’s run’, também escreveu contos e roteiros para cinema de terror, como a adaptação do livro para o cinema de ‘A mansão macabra’ (1976) e segmentos dos telefilmes ‘Trilogia do terror’ (1975) e ‘Trilogia do terror II’ (1996). O outro autor do romance ‘Logan’s run’, George Clayton Johnson, ao lado de Jack Golden Russell, criou a história de ‘Onze homens e um segredo’, que virou filme em 1960 e depois inspirou o remake e as continuações na década de 2000 – ele ainda escreveu episódios das séries ‘Além da imaginação’, ‘Jornada nas estrelas’ e ‘Kung fu’, e um dos segmentos do filme ‘No limite da realidade’ (1983).
- O roteiro do filme ‘Fuga do século 23’ é de David Zelag Goodman, que colaborou como roteirista em ‘Sob o domínio do medo’ (1971) e ‘Os olhos de Laura Mars’ (1978), ao lado de outros roteiristas.
- A trilha sonora é de Jerry Goldsmith, de ‘A profecia’ (1976), ‘Meninos do Brasil’ (1978) e outros 200 filmes.
- A direção é do cineasta londrino Michael Anderson, que havia feito a primeira versão do filme futurista ‘1984’, em 1956, baseado no clássico de George Orwell; depois dirigiu fitas importantes como ‘A volta ao mundo em 80 dias’ (1956), ganhadora do Oscar de melhor filme, e ‘As sandálias do pescador’ (1968).
- O filme originou nos dois anos seguintes a série norte-americana ‘Fuga das estrelas’ (1977–1978), que contou com apenas uma temporada com 14 episódios, protagonizada por Gregory Harrison.
Referências
BERTUCCI, Jonas O.; VIEIRA, Nathan. A procura por distopias no século XXI: uma análise do ranking de obras mais populares do portal Amazon Brasil. Abusões, n. 17, ano 08. 2022.
GOMES, Anderson; CARDOSO, André; Sasse, PEDRO. A distopia e o gótico. Abusões, n. 12 v. 12, ano 06. 2020.
HILÁRIO, Leomir C. Teoria crítica e literatura – a distopia como ferramenta de análise radical da modernidade. Anu. Lit., Florianópolis, v.18, n. 2, p. 201-215, 2013.
* Resenha escrita especialmente para o livro "Clássicos Sci-fi - Pérolas da coleção", lançado pela Versátil Home Video em maio desse ano. Livro disponível para venda no site da Versátil.
A Semente do Mal
2.2 15Terror com suspense que tem um início curioso, mas que decai ao longo de um enredo absurdo e estranho. Começa com um bebê raptado em uma casa, deixando a mãe apavorada. Tempos depois, a criança cresce, e hoje é um jovem (Carloto Cotta, ator francês, de ‘Tabu’), que busca respostas sobre seu passado e planeja encontrar a mãe biológica, que nunca viu. Depois de um teste de DNA, descobre que a mãe mora em Portugal; então, ao lado da namorada (Brigette Lundy-Paine, da série ‘Atypical’), viaja à Europa, indo até o casarão onde a mãe mora reclusa vive. Instalados lá, percebe que a mãe (Alba Baptista, atriz portuguesa, de ‘Dulcineia’) guarda segredos assustadores – a mulher é atormentada após uma série de cirurgias que não deram certo e a deixaram deformada.
Gabriel Abrantes, jovem cineasta de origem portuguesa, que mora nos EUA e teve longas e curtas exibidos em festivais de prestígio como Cannes, Berlim e Veneza, não esconde as influências do cinema de Dario Argento e de David Lynch, além do estilo camp, só que tudo é muito razoável, com situações que beiram o ridículo. Ele diz que foi influenciado por filmes como ‘Suspiria’ e ‘Veludo azul’, tanto para compor a trama quanto para criar os personagens (ele é o roteirista também), mas obviamente que suas tentativas são fracassadas. Falta também engajamento dos atores, em especial o rapaz, Cotta, que aparece em três personagens diferentes. Brigette é boa, tenta segurar as pontas, só que em vão... Quem quiser arriscar, o filme está nos cinemas brasileiros pela Imagem Filmes.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Ordem do Tempo
3.0 2Aos 90 anos, a veterana diretora italiana Liliana Cavani realizou esse seu último trabalho em 2023, um drama de ar misterioso que reúne bons nomes do cinema da Itália, como Claudia Gerini, Alessandro Gassmann (filho do ator Vittorio Gasmman e da atriz Juliette Mayniel) e participação da espanhola Ángela Molina. O longa é inspirado no livro de mesmo nome do físico Carlo Rovelli, que discorre sobre teorias físicas, como gravidade, loop, passando por Newton e Einstein. Cavani pegou a ideia central e escreveu um roteiro com vários personagens, juntando poesia e efeitos dramáticos – ela adaptou-o ao lado do roteirista Paolo Costella. Acompanhamos um grupo de amigos, homens e mulheres, reunido numa casa à beira-mar para o aniversário de uma delas. De repente, eis que um anuncia a espalhafatosa notícia de que um asteroide que está rumo à Terra, o que colocará fim ao planeta em poucas horas. A notícia causa espanto, angústia e dúvidas entre os amigos, que passam a falar incessantemente sobre o assunto.
Ora engraçado, ora filosófico, não é uma grande obra de Liliana, que dirigiu filmes de arte chocantes muitas décadas atrás, como ‘O porteiro da noite’ (1974) e ‘A pele’ (1981); infelizmente, nos últimos tempos, sua carreira é bem irregular, com filmes esquecíveis. Ainda que com problemas de roteiro e a falta de ingredientes encorpados, ‘A ordem do tempo’ assiste-se até o fim, pois queremos saber como terminará a tal trama do meteoro. Exibido nos festivais de Veneza e Rio, está nos cinemas das principais capitais brasileiras pela Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Estação
3.2 2Em sua estreia no cinema ficcional, a diretora mineira Cristina Maure faz uma viagem ao universo feminino ao retratar dias na vida de uma mulher que chega a uma estação para pegar um trem, que nunca aparece. Ela está em busca do marido que a abandonou. Enquanto isso, fica hospedada numa pensão e cruza com pessoas estranhas, o que a faz relembrar velhos fatos. Nessa fita independente, coprodução Brasil e Uruguai, rodada durante a pandemia e finalizada somente agora, a diretora escala um elenco misto, como atores do teatro mineiro e a atriz uruguaia Jimena Castiglioni, radicada no Brasil. Conta com uma bela fotografia em preto-e-branca que evoca o passado, de um vilarejo e de uma mulher estacionados no tempo, criando uma atmosfera de sonho e realidade, que beiram o absurdo e surrealismo. Exibido no Festival de Tiradentes desse ano, o filme está nos cinemas pela Vaca Amarela. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Amazing Journey: The Story of The Who
4.6 17 Assista AgoraDocumentário eletrizante e digno de aplausos conduzido pelos dois únicos integrantes vivos da primeira formação da banda de rock inglesa The Who, Pete Townshend e Roger Daltrey, respectivamente guitarrista e compositor e o vocalista. Sentados frente às câmeras, eles vasculham a memória para contar fatos inusitados do grupo, as viagens e turnês, a relação dos membros e as tragédias que abalaram cada um deles – como a morte do baterista Keith Moon, em 1978. Tudo começou como uma banda de bar londrina em 1964, influenciada pelos Beatles e pelo movimento psicodélico, transformando-se em pouco tempo num sofisticado e imponente grupo de rock e beat que percorreu os quatro cantos do mundo com suas músicas satíricas e críticas. Enquanto Townshend e Daltrey falam, reportagens e trechos de shows percorrem a tela. Não podia faltar nos depoimentos menções aos discos de sucesso da banda, como a estreia com ‘My generation’ (1965), ‘The Who sell out’ (1967), ‘Who’s next’ (1971 – onde tem a música ‘Behind blue eyes’, regravada em 2001 pela banda americana Limp Bizkit) e ‘Who are you’ (1978). Os dois também lembram o lançamento de dois álbuns que viraram filmes, ‘Tommy’ (1969) e ‘Quadrophenia’ (1973), as novas formações e a reciclagem de gênero a partir do início dos anos 80 e a polêmica prisão de Townshend em 2003, acusado indevidamente de pornografia infantil.
O documentário, dos realizadores de ‘No direction home: Bob Dylan’ (2005), passou nos festivais de Toronto e no IN-Edit e concorreu ao Grammy de melhor doc musical. Disponível em DVD, em edição com dois discos, lançado pela Universal Pictures, com a metragem de cinema, de 119 minutos, a mesma exibida no Festival de Toronto; há ainda a versão estendida, de 237 minutos, lançada apenas nos EUA, e uma alternativa de 208 minutos, distribuída na Europa. A versão de cinema também pode ser assistida no Prime Video, disponível para assinantes da plataforma.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Eu Sou Bolt
3.6 12 Assista AgoraEntre os anos de 2010 e 2020, a Universal Pictures lançou nos cinemas e em mídia física (DVD e Bluray) documentários sobre atletas de diversas modalidades, como ‘Senna’ (2010, premiado no Bafta e no Festival de Sundance), ‘O time de 92’ (2013 - sobre os jogadores do Manchester United nos anos 90, liderados por David Beckham), ‘Manny’ (2014 – sobre o boxeador filipino Manny Pacquiao), ‘Eu sou Ali: A história de Muhammad Ali’ (2014) e ‘Ronaldo’ (2015 - sobre o jogador de futebol Cristiano Ronaldo). Também saiu ‘I am Bolt’ (2016), que recorta partes da vida, como infância, juventude e vida adulta de um dos maiores velocistas de todos os tempos, o jamaicano Usain Bolt.
Nascido em 1986 numa pequena comunidade do condado de Cornwall chamada Trelawny, na Jamaica, Bolt cresceu nas ruas jogando críquete e futebol. Ainda na escola primária, incentivado pelos pais, praticava corridas e participava de torneios, até que aos 15 anos, em 2001, um técnico de atletismo começou a treiná-lo. Disputando torneios no país de origem e em outros lugares, sendo o primeiro passo para o estrelato no mundo do esporte. Foi tricampeão em duas modalidades de pista em Jogos Olímpicos de maneira consecutiva (100 metros rasos e 200 metros rasos), conquistou oito medalhas de ouro e recebeu o título de ‘o homem mais rápido do mundo’. O filme acompanha os treinos de Bolt na juventude e na atualidade – como o longa saiu em 2016, ele ainda era velocista, mostra sua relação com a família e o vínculo com a nação jamaicana, que nunca abandonou, as festas que participa, a relação com os fãs e com os antigos treinadores.
Um ano depois do lançamento do filme, em 2017, Bolt se aposentou do atletismo e entrou para o futebol (isso não aparece no longa) - foi jogador de campo por dois anos, até 2019, nos times Strømsgodset, da Noruega, e Central Coast Mariners, da Austrália, até parar de vez.
Carismático e positivo, Bolt conquistou o coração dos fãs, e nesse doc podemos apreciar parte importante de sua trajetória.
Quem dirige é a dupla de irmãos diretores e produtores britânicos que fizeram o documentário ‘O time de 92’ (2013), Ben Turner e Gabe Turner. Disponível em DVD pela Universal Pictures, também pode ser encontrado no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes, Google Filmes e Apple TV.
POR FELIPE BRIDA -BLOG CINEMA NA WEB
Ascensão e Queda: John Galliano
3.7 7 Assista AgoraA Mubi é hoje queridinha dos cinéfilos exigentes, uma das plataformas em streaming que mais traz fitas cult, seja de antigamente ou do cinema atual. Esse documentário, produção da Mubi, está lá disponível para assinantes, um filme extraordinário que traça o perfil biográfico de John Galliano, nome de destaque da alta costura, hoje recluso aos 63 anos. No doc, Galliano recebe a equipe do filme para uma conversa em sua casa, relembra a infância na Espanha - ele é filho de um gibraltino com uma espanhola, a juventude quando estudou na prestigiada St. Martins College of Art & Design em Londres, onde ganhou o título de melhor aluno do ano, e sua entrada no mundo da alta costura, fazendo roupas para celebridades. Ele recorda de fatos marcantes da carreira, o auge nas décadas de 80 e 90, até viver um inferno quando cometeu atos antissemitas em dois bares de Paris, em 2011. Alcoolizado, agrediu verbalmente um casal e depois duas mulheres italianas, todos judeus - um vídeo com os ataques viralizaram na época, Galliano foi detido pela polícia, demitido da Dior, onde trabalhava, e nunca mais se restabeleceu. Por enfrentar problemas com o álcool, foi internado em clínicas de reabilitação, e quando saiu se fechou num mundo particular, muito devido à exposição mundial que teve com as agressões.
O filme explora o universo criativo de Galliano e ao mesmo tempo seu lado temperamental e agressivo, que o destruiu. Um homem cheio de ideais, bem-quisto no mundo da moda, mas que decepcionou fãs e colegas de trabalho por sua atitude racista. E que sentiu na pele o cancelamento.
Kevin Macdonald é o diretor, que cultiva uma carreira formidável de filmes politizados, como 'O último rei da Escócia' (2006), 'Intrigas de estado' (2009) e 'O mauritano' (2021) e que havia dirigido bons docs, como 'Marley' (2012) e 'Whitney' (2018). Assistam e aproveitem para conhecer o catálogo impressionante de fitas cult na plataforma da Mubi.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Following
4.0 303 Assista AgoraO inglês Christopher Nolan ganhou, esse ano, seu primeiro Oscar de diretor, pelo filme biográfico ‘Oppenheimer’ (2023), que foi sensação de público na temporada de 2023. Também ganhou o Oscar de melhor filme pelo longa que conta a história do criador da bomba atômica. Nolan tem outras sete indicações da Academia, entre roteiro original, direção e melhor filme, por ‘Amnésia’ (2000), ‘A origem’ (2010) e ‘Dunkirk’ (2017).
Nascido em 1970, Christopher Nolan faz filmes desde o finzinho dos anos 80. Iniciou a carreira aos 19 anos, com curtas experimentais na faculdade, até chamar a atenção de diretores e do público com seu primeiro longa-metragem, ‘Following’ (1998), aqui no Brasil traduzido como ‘Seguinte’, um título em português cheio de duplos sentidos. Um filme de poucos recursos, bem experimental e cheio de criatividade.
Sem ser formado em cinema – Nolan gradou-se em Literatura na Universidade de Londres, demonstra em ‘Following’ noções de estética, de enquadramentos, de conteúdo cinematográfico; para o filme, reuniu um orçamento mísero de U$ 6 mil, um dos mais baratos da história do Cinema, e realizou um feito inédito, uma fita instigante de drama e suspense, de apenas 69 minutos de duração, toda em preto-e-branca, rodada na casa de amigos em Londres. Foi o primeiro filme da Syncopy, produtora que Nolan fundou com sua esposa, Emma Thomas, que aparece aqui como atriz e se tornaria produtora de seus trabalhos. Rodou o filme em película com uma câmera portátil simples, a partir de uma ideia que ele mesmo vivenciou – sua casa foi invadida e destruída por bandidos, e na história, um rapaz que segue pessoas na rua acaba se tornando parceiro de assalto de um criminoso. Parte do elenco, muitos deles seus amigos de faculdade, Nolan convidaria depois para ‘Batman Begins’ (2005), em papéis pequenos, como Jeremy Theobald, Lucy Russell e John Nolan, seu tio.
Em ‘Following’, Nolan escreve, dirige, produz, faz a fotografia e a montagem. Um cinema totalmente autoral. Ele demorou um ano para gravar, pois captava as cenas nos fins de semana, já que todos do elenco trabalhavam em outras áreas, ninguém vivia de cinema.
‘Following’ é um noir moderno, com 30 tempos no enredo – entre flashbacks desdobrados e vários momentos do presente. Como já era um conhecedor de cinema, Nolan traz referências aos montes, como pôsteres emoldurados no interior das casas com clássicos, como ‘Crepúsculo dos deuses’ (1950). Apresentado no Festival de Toronto e premiado no Festival de Rotterdam, o filme é uma pequena obra-prima, que merece ser descoberta pelos cinéfilos.
Disponível em DVD e Bluray pela Classicline, também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com outros dois filmes dele, ‘Amnésia’ e ‘Insônia’.
Todo diretor tem um começo, muitos deles um começo com filmes pequenos, de festivais, desconhecidos. Nolan é um deles, e se transformou num realizador notável, com filmes ousados, criativos e com uma estética moderna.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Insônia
3.4 411 Assista AgoraDepois de estrear como diretor com o cultuado filme experimental de crime ‘Following’ (1998), o inglês Christopher Nolan realizou uma estrondosa e enigmática fita de suspense que chacoalhou a crítica, abrindo os olhos do público para um novo tipo de cinema, ‘Amnésia’ (2000). Nolan consolidaria sua carreira nesse terceiro longa-metragem, ‘Insônia’ (2002), um suspense policial classe A, remake de um instigante neonoir norueguês exibido NO Festival de Cannes. O roteiro é uma adaptação feito por uma mulher, Hillary Seitz, que reescreveu o original de 1997 dos escandinavos Erik Skjoldbjærg e Nikolaj Frobenius. Seitz manteve o thriller e as reviravoltas e inseriu alguns ingredientes a mais.
O diretor recriou o tom sombrio de investigação do anterior, e agora a história se passa no extremo norte do Alaska, onde também ocorre o solstício de verão, em que por muitas semanas o dia cobre a noite – no original a trama é no solstício da Noruega.
Nolan esticou a história, que tinha 96 minutos e agora passa a 118 minutos, mais explícito, violento e trágico que o outro. Al Pacino substitui Stellan Skarsgård, um detetive que não consegue dormir, sempre com cara de sono, ainda mais no verão do Alaska em que as noites não existem, e a claridade se estende por 24 horas – vejam o trocadilho do sobrenome dele, ‘Dormer’. Numa das cenas marcantes, ele tem de tapar as janelas com cobertores para o quarto ficar escuro e assim, quem sabe, poder descansar. Ele é um detetive que mata acidentalmente seu parceiro quando sai na busca por um suspeito do homicídio que investiga. Para não assumir a culpa, planta elementos falsos no caso, tentando despistar a polícia, até que será surpreendido por uma astuta policial que entra na investigação – papel de Hilary Swank. O filme tem tensão crescente, reviravoltas marcantes e uma fotografia demolidora no gelo do Alaska, assinada por Wally Pfister, que virou parceiro de trabalho de Nolan e ganharia o Oscar por ‘A origem’ – o filme foi rodado no Alaska e na Columbia Britânica no Canadá, por dois meses durante a primavera, que é sempre gelada nessas regiões.
O elenco dá um show à parte, com Al Pacino liderando, Hilary Swank como uma boa coadjuvante como contraponto do protagonista, na época recém-ganhadora do Oscar por ‘Meninos não choram’ (1999), e participação especial de Robin Williams, como o vilão – ele aparece depois de uma hora de filme, e no mesmo ano, 2002, fez outro filme sinistro de suspense, ‘Retratos de uma obsessão’ (2002), saindo da curva, já que era um rosto célebre de filmes de comédia.
O filme abriu no Festival de Tribeca, depois passou em Locarno, e foi distribuído mundialmente nos cinemas, sendo um dos grandes trabalhos de Nolan. Depois de ‘Insônia’, o diretor deu nova dimensão para o universo de Batman, fazendo a trilogia composta por ‘Batman Begins’ (2005), ‘Batman – O cavaleiro das trevas’ (2008) e ‘Batman – O cavaleiro das trevas ressurge’ (2012), expandindo seu trabalho em Hollywood. E não parou mais, com seus filmes intrigantes e complexos, de ‘A origem’ (2010) ao recente ‘Oppenheimer’ (2023), que puxa público às salas. Em março desse ano ganhou dois Oscars, de direção e melhor filme por ‘Oppenheimer’ (2023), e recebeu das mãos de Rei Charles III o título de Sir, pelos serviços prestados ao cinema.
O filme saiu em recente versão em DVD e bluray pela Classicline, e também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com os filmes ‘Following’ e ‘Amnésia’.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Musa de Bonnard
3.5 6E nos cinemas brasileiros das principais capitais brasileiras estreia hoje ‘A musa de Bonnard’, uma fita de drama/romance de época para quem gosta de histórias reais, que trata do mundo das artes plásticas. Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês de 2023, traz o ator Vincent Macaigne (de ‘Vidas duplas’) como o pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947), conhecido como o ‘pintor da felicidade’, em seu casamento turbulento de cinco décadas com Marthe de Méligny (papel franco e bem conduzido por uma atriz que admiro, Cécile de France, de ‘Além da vida’), que se tornou musa de seus quadros. Entre brigas, separações e traições, o casal viveu junto inspirando um ao outro. Nesse filme delicado, com lindas paisagens de uma França interiorana e bucólica do início do século XX, conhecemos a obra de Bonnard e o processo criativo dele ao lado da esposa. Dirigido por Martin Provost, de ‘O reencontro’ e ‘A boa esposa’, que contou ser encantado pela obra de Bonnard desde a infância e, segundo ele, foi procurado pela sobrinha-neta de Marthe para filmar a história dela– ele escreveu o roteiro ao lado de Marc Abdelnour, com quem já trabalhou em outros longas. Nos cinemas pela California Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG 'CINEMA NA WEB'
Hamlet
2.9 2O Canal Brasil exibe hoje, dia 06/06, às 20h, esse ótimo documentário sobre a crise no mundo da política brasileira a partir de 2016, após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. O diretor gaúcho Zeca Brito, de “O guri” e Legalidade”, foca seu filme nas manifestações dos estudantes secundaristas que se juntaram aos movimentos sociais para tomar as ruas quando do impeachment/golpe em 2016, que se desdobrou na eleição de Bolsonaro dois anos depois. Ao mesmo tempo, num teatro, Hamlet, o notório personagem de William Shakespeare, procura espaço na sociedade – ele está atormentado pela pergunta “ser ou não ser?”. Rodado em preto-e-branco, é um filme que deve ser visto e discutido. Venceu cinco Kikitos no Festival de Gramado, foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo me 2022, onde assisti, passou nos cinemas brasileiros esse ano, e pode ser alugado nas plataformas Claro TV+ (Now) e Vivo Play. Produção e distribuição: Galo de Briga Filmes e Anti-filmes.
POR FELIPE BRIDA - BLOG 'CINEMA NA WEB'
A Filha do Palhaço
3.7 7De Pedro Diógenes, diretor de ‘Pajeú’ (2019), o filme brasileiro é uma das melhores estreias nos cinemas desse final de semana. Um drama familiar bem moldado, que acompanha a relação de uma menina adolescente com o pai, que trabalha como humorista em bares de Fortaleza, onde se pinta e se veste de palhaço e de mulher. Pai e filha sempre tiveram pouco tempos juntos, e um final de semana será derradeiro para reatar laços perdidos. O filme é inspirado na vida do comediante e humorista Paulo Diógenes, nascido no Rio e criado no Ceará, que criou o famoso personagem Raimundinha e faleceu em fevereiro desse ano.
Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, tem dois atores excelentes em cena, a estreante Lis Sutter no papel da adolescente e Demick Lopes (dos filmes ‘Greta’ e ‘Inferninho’) como o humorista, e rápida participação especial de Jesuíta Barbosa. No filme o diretor Pedro Diogenes procura trazer reflexões sobre paternidade, sexualidade e aceitação, a partir do relacionamento distante entre pai e filha.
Com produção da Marrevolto Filmes, juntamente com a Pique-Bandeira Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba Filmes.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
1798 - Revolta dos Búzios
3.6 2Nesse documentário didático, simples na forma e repleto de conteúdo informativo/histórico, conhecemos por dentro a ‘Revolta dos Búzios’, também chamada de ‘Revolução dos Alfaiates’ e ‘Conjuração Baiana’. Foi um levante popular contra o governo colonial no estado da Bahia, nascido em 1798, sob influência da Revolução Francesa, ocorrida nove anos antes, e utilizando os ideais do Iluminismo. De caráter emancipacionista, foi um movimento popular, com participação de sapateiros, alfaiates e escravos, que pregava a igualdade racial, e procurava estabelecer no país um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, além de acabar com a escravidão. O movimento foi denunciado, o governo prendeu e torturou os conspiradores, com penas de açoite público e morte, resultando em quatro homens assassinados, que foram enforcados e esquartejados em praça pública em Salvador.
O diretor Antonio Olavo, pesquisador do tema, trabalhou no filme por 13 anos, e segundo ele, é uma obra para lembrar e preservar a memória do povo negro. O filme utiliza como base o famoso documento ‘Autos da Devassa’ e insere ao longo do filme desenhos, ilustrações e encenação de atores. Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens, tem distribuição da Abará Filmes e está em exibição nos principais cinemas brasileiros.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Por Trás da Verdade
2.8 5Depois de adiar a estreia por dois meses, a A2 Filmes lançou nesse final de semana nos principais cinemas brasileiros o eficiente suspense policial ‘Por trás da verdade’ (2023), com a duas vezes ganhadora do Oscar Hilary Swank, de ‘Menina de ouro’ (2004). Ela interpreta uma jornalista que investiga o assassinato do filho, ao lado da namorada dele. Juntas, adentram o hostil mundo do tráfico das drogas. Quando as investigações avançam, a vida das duas corre perigo. Marcam presenças no longa Olivia Cooke, de ‘Jogador número 1’ (2018), e Jack Reynor, de ‘Midsommar: O mal não espera a noite’ (2019). A fotografia, principalmente no ambiente noturno e em lugares fechados, ajuda a condução desse filme de suspense envolvente, dirigido por Miles Joris-Peyrafitt, de "Dreamland: Sonhos e ilusões" (2019). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Jardim dos Desejos
3.2 16Paul Schrader já foi um dos nomes mais fortes do cinema autoral norte-americano, roteirista de ‘Taxi driver’ (1976) e ‘Touro indomável’ (1980), e diretor de ‘Hardcore – No submundo do sexo’ (1979), ‘A marca da pantera’ (1982), ‘Mishima – Uma vida em quatro tempos’ (1985), ‘O dono da noite’ (1992), entre outros. Nos últimos 20 anos rodou vários filmes banais, salvando um ou outro trabalho. ‘Fé corrompida’ (2017), ‘O contador de cartas’ (2021) e esse ‘Jardim dos desejos’ são seus últimos melhores filmes, e podem ser entendidos como uma trilogia. ‘Jardim dos desejos’ acaba de estrear no Brasil, nos cinemas, é um drama que carrega, ao longo da história, um fundo de cinema policial violento e suspense, que se revela aos poucos. Conta a história de um dedicado jardineiro, papel muito bom de Joel Edgerton, que trabalha nos jardins de uma elegante proprietária de terras, uma viúva interpretada por Sigourney Weaver. A rotina tranquila do lugar muda com a chegada da problemática sobrinha-neta da dona das terras, papel de Quintessa Swindell, que vira aprendiz do jardineiro no cuidar das flores. O jardineiro guarda segredos perturbadores, de um passado envolvendo crimes e assassinatos brutais.
Exibido no Festival de Veneza, não é um memorável Schrader, mas está nessa nova fase do diretor, que retoma temas que outrora o consagraram, como a brutalidade nas relações, a figura do anti-herói solitário lutando contra o passado sombrio, a redenção etc. Está nos cinemas pela Pandora Filmes.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Às Vezes Quero Sumir
3.4 12Daisy Ridley, conhecida como a protagonista Rey da última saga “Star Wars”, é uma atriz inglesa talentosíssima e pouca vista nas telas. Em ‘Às vezes quero sumir’, tem a chance de mostrar sua versatilidade e a verve dramática, numa fita independente peculiar, indicada a dois prêmios no Festival de Sundance (incluindo o do júri para a diretora Rachel Lambert). Num papel sensível e marcante, Daisy faz uma jovem de poucas palavras, que trabalha num escritório numa cidadezinha costeira americana. Ela é afligida por pensamentos ruins, como de morrer ou de abandonar tudo e fugir de casa. A chegada de um novo colega de trabalho (o humorista Dave Merheje, aqui contido em papel sério, dramático) a transforma; eles têm forte conexão, passam a se encontrar fora do trabalho, e até um interesse romântico surge ali, fazendo com que ela veja esperança em sua tediosa vida.
Com romance, comédia e drama, é um filme bonito e melancólico, que trata da solidão, da dificuldade das pessoas em estabelecer conexões. Inspirada na peça “Killers”, de Kevin Armento, que adaptou o roteiro ao lado de Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead. Está em exibição nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Synapse Distribution.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Alegria é a Prova dos Nove
2.5 2Exibido em festivais brasileiros como Mostra de Tiradentes e Mostra Intl de Cinema de SP, o novo filme de Helena Ignez – que aqui dirige, escreve, produz e protagoniza, é uma reflexão íntima sobre a liberdade sexual feminina e as políticas do corpo da mulher. Ignez, uma cineasta que veio do cinema underground, faz uma homenagem aos filmes daquele período. Ela interpreta uma artista e sexóloga de 80 anos de idade, amiga e amante de um ativista dos Direitos Humanos (papel de Ney Matogrosso, que já trabalhou em outros longas de Ignez, como ‘Ralé). Juntos, embarcam nas memórias de uma última viagem que fizeram ao Marrocos, cinquenta anos atrás, onde ocorreu uma situação desafiadora. Passado e presente se misturam com efusividade, num filme independente de grandes virtudes. Conta com um elenco grande e formidável, em pequenas participações, e na tela vemos Djin Sganzerla, Guilherme Leme, Mario Bortolotto e outros. Estreou nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Mercúrio Produções. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista AgoraPolêmica e chocante, foi a fita de estreia do diretor norte-americano S. Craig Zahler, que iniciou a carreira como diretor de fotografia em curtas nos anos 90 e escreveu antes apenas um roteiro, o do terror que se passa num hospital psiquiátrico ‘Desespero’ (2011), de Alexandre Courtès - nesse filme, Zahler já demonstrava gosto pelo macabro, por situações horrendas, com personagens sanguinários. Em ‘Rastro de maldade’ (2015), Zahler escreve e dirige uma história de crueldade e horror no velho oeste, acompanhando um grupo de homens durões, composto por xerifes e pistoleiros e um marido em busca de vingança, que iniciam uma saga para resgatar uma enfermeira – esposa de um deles, raptada por uma tribo indígena. Na verdade, não são indígenas qualquer, e sim um pequeno bando de canibais primitivos que se camuflam com tintas brancas pelo corpo, fazem armadilhas e atacam com flechas; eles matam, comem as vísceras e usam partes do corpo das vítimas para rituais. O grupo fará uma caminhada ao inferno, onde todos serão alvo desses selvagens.
Zahler realizou um cult movie impressionante e diferenciado, com momentos de pura violência, como as cenas de canibalismo, sadismo e monstruosidades – por isso recebeu classificação de 18 anos. Ele fez muito com pouco – o orçamento beirou U$ 1,8 milhões, e gravou em apenas 20 dias, com um script escrito em 2007, ou seja, oito anos antes.
Zahler faz uma mistura inusitada de gêneros, como o faroeste com terror, passando pelo drama, ação e aventura. Um amigo crítico de cinema e diretor de filmes, Hsu Chien, disse que assistiu uma espécie de ‘Rastros de ódio’ (1956) com ‘Holocausto canibal’ (1980) e ‘O predador’ (1987).
O elenco está formidável nessa fita que exige muito dos atores – em especial o quarteto Russell, Wilson, Jenkins e Fox.
Exibido em diversos festivais de cinema, onde ganhou prêmios, como BFI London, Sitges e Fangoria. Concorreu ainda no Film Independent Spirit Awards, nas categorias melhor roteiro e ator coadjuvante para Jenkins.
Disponível em DVD e bluray e no streaming (Amazon Prime e Apple TV). Em DVD, saiu pela Califórnia Filmes em 2016, e anos depois, em 2021, em bluray pela Versátil em parceria com a Califórnia, numa caixa em luva reforçada com um disco com quase uma hora de vídeos extras, além de pôster, livreto e cards.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Confronto no Pavilhão 99
3.7 219 Assista AgoraEscrito e dirigido por um dos talentos mais impressionantes do cinema policial atual, o pouco conhecido S. Craig Zahler, cujos filmes precisam ser descobertos pelo público. Ele foi apontado como um novo Quentin Tarantino, um cineasta que faz obras frenéticas, com personagens complexos e de inúmeras camadas, com cenas grotescas de crimes e desfechos absurdamente chocantes. Esse filme foi planejado durante as gravações do anterior do diretor, ‘Rastro de maldade’ (2015), um pesado western com ação e momentos de terror com canibalismo, com Kurt Russell e Patrick Wilson, rodado dois anos antes. Em ‘Confronto’, Vince Vaughn, ator presente em boas fitas de comédia e drama, como ‘Penetras bons de bico’ (2005), entrega uma performance incrível, com a cabeça raspada, com uma cruz tatuada de fora a fora na nuca, um ex-boxeador traído pela esposa grávida, preso após um trabalho furado de tráfico de drogas que culminou com mortos. De poucas palavras, forte como um touro, ele sofre outro golpe do destino, quando a ex-mulher é sequestrada por um criminoso perigoso, e terá de fazer um acordo para lá de inusitado – e quase impossível – para que ela seja solta: entrar numa penitenciária de segurança máxima e matar um chefão do crime que domina o local.
As situações das cenas de luta e tiros são realistas, nada de pirotecnias do cinema blockbuster; Zahler dá um tom melancólico para o protagonista e um grau de humanidade a todos os personagens. Jennifer Carpenter, da série ‘Dexter’, está correta como a esposa, ex-alcoólatra, Udo Kier, de ‘Bacurau’, faz um criminoso que negocia o acordo com ele, e o astro dos anos 80 Don Johnson, da série ‘Miami Vice’, aparece pouco, mas bem, como o diretor da penitenciária, um homem durão. Que filme espetacular e que diretor certeiro!
O elenco todo retornaria no último filme do diretor – ele só tem três longas, chamado ‘Justiça brutal’ (2018), com Mel Gibson, em que ele e Vince Vaughn interpretam uma dupla de policiais que cometem atos ilegais na corporação e se infiltram no submundo do crime.
‘Confronto no pavilhão 99’ foi filmado numa prisão desativada, a Arthur Kill Correctional Facility, em Nova York, e numa instalação militar que lembra cadeia, a Fort Wadsworth, também em NY, o que dá o tom real necessário para a trama. O ‘pavilhão’ do título é referência a uma cena no fim do filme, mas até lá muita água irá rolar, muitas mortes e crimes, com uma tensão crescente, de um personagem que irá para o inferno para salvar a ex-esposa e o filho que irá nascer.
Disponível em DVD pela Universal e no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes e Apple TV.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Justiça Brutal
3.6 153 Assista AgoraO controverso cineasta norte-americano S. Craig Zahler, realizador do western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015) e da chocante fita de ação que se passa em duas penitenciárias ‘Confronto no pavilhão 99’ (2017), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor, e este ‘Justiça brutal’ passa bem perto. No longa-metragem, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Os astros Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas, torturando pessoas, cometendo delitos e até matando sem pestanejar.
O filme recebeu uma chuva de comentários negativos na época, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e atiram sem pensar duas vezes - numa das sequências, um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. É tanta brutalidade que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’.
Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas.
Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, com US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época. Também é o de maior duração, com 158 minutos - mais um alerta para o público específico.
Exibido no Festival de Veneza, foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes.
PS: Zahler dirige atualmente um novo filme policial, com Adrien Brody e Vince Vaughn, sobre dois veteranos da Segunda Guerra Mundial, traumatizados, que tentam reajustar seus últimos dias de vida. ‘The Bookie & the Bruiser’ tem previsão de estreia nos cinemas para 2025.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Estrela Cadente
2.7 4Mais uma fita autoral inusitada e vibrante de Fiona Gordon e Dominique Abel, casados na vida real, que dirigem, escrevem, produzem e costumam atuar em seus filmes. Depois de ‘Rumba’ (2008) e ‘Perdidos em Paris’ (2016), retornam com criatividade vivaz em ‘A estrela cadente’, uma comédia dramática poética com uma série de personagens diferentes numa aventura policial fora do comum. Um ex-ativista trabalha como barman no bar ‘Estrela cadente’ (papel de Abel) e guarda a sete-chaves seu passado sombrio. Até que um homem, vítima de um plano malsucedido dele, o reencontra desejando vingança. Fotografia, cenários e figurinos coloridos aliados a planos e direção de arte minimalistas dialogam com o cinema do finlandês Aki Kaurismäki, em que o burlesco e o verossímil se confundem.
Exibido no Festival de Locarno, o filme, uma produção França/Bélgica, estreou nesse fim de semana no Brasil, com distribuição da Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Vermelho Monet
3.4 7De olho numa das melhores estreias nacionais do ano nos cinemas. Depois de percorrer mais de 15 festivais entre 2022 e 2023, chega agora nas principais salas de cinema do país esse incrível e vigoroso filme de Halder Gomes, especializado em comédias, que fez ‘Cine Holliúdy’ e ‘O shaolim do sertão’. Agora muda o tom e faz um drama íntimo, feminino e cheio de metáforas. Chico Diaz está incrível como um pintor que está perdendo a visão e procura inspiração para sua nova obra plástica. Até que se depara com uma atriz em crise (Samantha Müller) e uma marchand (Maria Fernanda Cândido). Passado e presente do artista plástico se fundirão numa fita inteligente, complexa e que discute o processo criativo de artistas pouco aceitos e o valor material e imaterial das pinturas. Adorei e recomendo. O longa é coprodução da ATC, da Glaz Entretenimento e da Globo Filmes, com produção executiva da Ukbar Filmes, de Portugal. Distribuição nos cinemas pela Pandora Filmes.
A Sétima Profecia
3.0 118 Assista AgoraLançado no finalzinho dos anos 80, quando já se profetizava o fim do mundo com a chegada do próximo milênio, esse filme de drama, suspense e terror foi um dos tantos nessa linha catastrofista. Na história, fenômenos climáticos entram em choque e colocam a vida de milhões em risco com a chegada de um andarilho misterioso numa cidadezinha. Um casal que espera o nascimento do primeiro filho é procurado incessantemente por esse homem, que tem uma revelação a fazer. Do outro lado, um padre, emissário do Vaticano e ligado à ciência, desconfia desses fenômenos e inicia uma longa e perigosa investigação que colocará a vida de todos em jogo.
O filme popularizou-se em VHS, não é uma obra impressionante, mas serve como entretenimento nessa linha de filmes sobre o Apocalipse, ou como queiram, o Juízo Final. Há uma ambientação estranha, um clima de perturbação que nos deixa angustiados e atentos para o desfecho. Qual o segredo que o andarilho guarda?
Quem dirige é Carl Schultz, que trabalhou mais em séries de TV, e o roteiro é de Clifford e Ellen Green, casados na época, de ‘SpaceCamp – Aventura no espaço’ (1986) e que depois fariam um filme semelhante a esse, ‘A filha da luz’ (2000). Demi Moore estava em início de carreira, logo se tornaria estrela, e Michael Biehn já se projetava no cinema após ‘Aliens, o resgate’ (1986). O alemão Jürgen Prochnow, de ‘O barco – Inferno no mar’ (1981), faz o papel do andarilho que não sabemos ser anjo ou demônio.
Disponível em DVD, recém-lançado num digipack especial pela Classicline, com cards.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Adoção
3.8 7 Assista AgoraA distribuidora Obras-primas do Cinema destaca em seus últimos lançamentos em DVD o cinema de Márta Mészáros, cineasta socialista e feminista de origem judia, expoente do Novo Cinema Húngaro, que reformulou as bases e as teorias da produção cinematográfica do país no pós-guerra. Suas obras sociais e críticas tratam justamente do trabalho das mulheres no país intercalando temas como maternidade e solidão na meia-idade. ‘Adoção’ (1975), seu principal filme, trata desses temas, com enfoque nos dois últimos. De forma delicada, com muitas cenas de troca de olhares e longas sequências de silêncio, a diretora - e também roteirista aqui - conta a história de uma mulher solitária e cheia de amarguras, viúva, que deseja ser mãe agora com mais de 40 anos. Ela fica fixada em uma menina prestes a atingir a maioridade, que vive em uma instituição de caridade, uma espécie de orfanato para jovens. De início as duas mulheres de mundos tão opostos têm crispações, mas aos poucos uma encontra conforto ao lado da outra. No filme acompanhamos a crise de meia-idade da protagonista, feito pela grande atriz húngara já falecida Katalin Berek, e os dilemas da jovem que cresce sem lar, sem pais, sem futuro – outro bom papel, o da atriz Gyöngyvér Vigh.
Mészáros filma tudo numa belíssima fotografia preto-e-branca, e com este trabalho ganhou o Urso de Ouro em Berlim - foi a primeira mulher a receber o prêmio no festival.
É um filme belo e trágico, que merece ser descoberto, ainda mais agora nessa grande cópia em DVD pela Obras-primas do Cinema – recomendo assistirem também ao making of de quase uma hora sobre a diretora, que vem como extra.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB