''Esta é a realidade e é insuportável. Falo, respondo, penso, visto-me, durmo e como. É compulsivo. Uma estranha e dura superfície. Mas debaixo estou chorando. Choro por mim, porque não posso voltar a ser o que era. O que foi já não pode voltar a ser, foi destruído, desapareceu... como um sonho."
Bergman constrói não somente um filme sobre a psique humana, sua construção social e nossas ilimitadas probabilidades do ser como mostra um notável thriller existencialista que rememora muito a frase de Sartre: "o inferno são os outros".
Os diálogos são praticamente monólogos - e claramente, foram feitos pra ser assim -, onde ressoa a todo instante que tudo é um grande teatro: o filme é feito em recortes o que corrobora os atos de uma peça teatral onde os personagens/humanos se veem infelizes (ou de maneira um pouco melhor, acostumados) de serem marionetes de si mesmos.
Acredito que esta passagem do livro, de 1961, reflita bem a problemática do filme:
"A impressão que se tem é que você se recusa propositalmente a entender - suspirou ele. - Estou falando de Solaris, o tempo inteiro, somente sobre Solaris. Não tenho culpa se a verdade é difícil de ser engolida. De qualquer modo, depois de tudo pelo que você já passou, deveria ser capaz de escutar-me até o fim. Partimos para o cosmos prontos para qualquer coisa: para a solidão, para o sofrimento, o cansaço, a morte. A modéstia nos impede de dizer, mas há momentos em que fazemos um belo conceito de nós mesmos. E se examinarmos mais detalhadamente isso, nosso entusiasmo mostra-se uma impostura. Não queremos conquistar o cosmos, simplesmente queremos estender os limites da Terra às fronteiras do cosmos. Para nós, um planeta é tão árido quanto o Saara; outro, tão gelado quanto o pólo norte; um terceiro, tão viçoso quanto a bacia do Amazonas. Somos humanitários e quixotescos, não queremos escravizar outras raças, queremos simplesmente legar-lhes novos valores e em troca tomar posse de sua herança. Imaginamo-nos cavaleiros do Santo Contato. Essa é outra mentira. Estamos somente procurando o homem. Não temos necessidade de outros mundos. Precisamos de espelhos. Não sabemos o que fazer com outros mundos. Basta-nos um único mundo, o nosso próprio; mas não podemos aceitá-lo tal como é. Procuramos uma imagem ideal para nosso próprio mundo; vamos em busca de um planeta, de uma civilização superior à nossa, mas desenvolvida na base de um protótipo do nosso passado primário. Ao mesmo tempo, existe algo dentro de nós que não gostamos de enfrentar, algo de que tentamos nos proteger, mas que no entanto subsiste, já que não saímos da Terra em um estado de inocência primária. Chegamos aqui como somos na realidade, e, quando a página é virada e essa realidade nos é mostrada - essa parte da nossa realidade que preferimos ignorar em silêncio -, já não mais gostamos dela."
"O amor, querida, é um processo mútuo de perda de cabeça."
Parece-me que a guerra também o é. Quando olhamos em retrospecto todas as guerras, todas as batalhas pelo poder, o mar de sangue feito pela busca de um momento de superioridade, afirmo: isso também é loucura.
Filme belíssimo sobre o período conturbado de guerras, como a esperança e o amor por uma pessoa pode ser tão puro e pleno ao ponto de negarmos uma realidade crua e dolorosa. Filme que mostra como a guerra devasta não somente o país e sua estrutura, mas principalmente as pessoas e suas relações/sonhos umas com as outras. Tecnicamente impecável, com destaque para a cena do piano e a do campo de batalha. Merecedor do Palma de Ouro e de algumas teimosas lágrimas.
"Ela esvaziou minhas reservas de amor por uns vinte anos. Todo aquele amor, uma nuvem atômica sobre a Ilha de Biquíni, me trouxe aqui, aos fundos de um beco de boliche. Então vou ficar com o conselho de um filósofo grego, que disse: 'Em tempos de desespero, medidas desesperadas'. Eu vou começar uma nova vida também."
"Quando você está assistindo televisão, assistindo o noticiário, é bombardeado por medos: inundações, aids, assassinatos. E quando começam os comerciais: 'Compre cremes'. 'Compre Colgate'. 'Se você tiver mau hálito, ninguém vai falar com você'. 'Se você tiver espinhas, as garotas não vão foder com você'. É uma campanha de medo e consumismo. Essa que eu acho que é a ideia global: mantenha as pessoas com medo, e elas vão consumir".
Michael Moore acertou em cheio nesse documentário. Com uma visão totalmente apurada da sociedade - da cultura norte-americana, da cultura do medo, da falta de argumento de grandes nomes que defendem o direito da posse de armas -, Michael Moore desconstrói todos os argumentos em defesa do armamento com tão livre acesso, com tanta naturalidade em tê-lo; mostra também que a culpa não é das armas em si mas da cultura deste medo, da pressão diária da mídia exortando este medo, mantendo sempre a população em estado de alerta, em estado de guerra.
Vale fazer a comparação midiática do Brasil que urra que bandido bom é bandido morto. Que fatura milhões em cima de tragédias. Que incita a violência contra a violência. "Quem abre uma escola fecha uma prisão". Por mais amor e menos ódio. Por medidas que tragam mais paz sem trazer consigo mais sangue.
A dantesca tarefa de entender - e adaptar - Thomas Pynchon.
Paul Thomas Anderson é, sem dúvida, um dos diretores mais excêntricos e originais da atualidade. Vimos muito disso em O Mestre e Magnólia, tanto escritos como dirigidos por ele. Por conta disso não esperava nada diferente do que esta viagem lisérgica pelo início dos anos 70. Época contemporânea a contracultura, movimento hippie e a paranoia generalizada contra o sistema. Mas será que "adaptar" Thomas Pynchon é realmente boa ideia? Well...
Pra quem já é familiarizado com a obra literária de Thomas Pynchon, e também com a obra cinematográfica de Paul Thomas Anderson, tinha no fundo do coração uma pulsação esperançosa que iria dar certo, que iria casar a loucura, a narrativa em abismo e toda a espiral conspiratória que há em Thomas Pynchon com a mente distinta de Anderson. Não foi bem assim.
Nesses quase 150min admito que fiquei deslumbrado com a acurácia de Anderson em conseguir dar tanta vida a década de 70. Desde as imagens muito coloridas, ao figurino muito bem escolhido, até a luz que persegue Doc até o final do filme. Diga-se de passagem, está é a parte boa do filme (além claro da ótima atuação de Phoenix). Mas o sentimento que fica (infelizmente) é que o filme traz mais o saudosismo de Doc e de todos personagens da trama do mundo que vivem com a loucura deste tempo, do que preocupados com a investigação em espiral que toma conta do filme (e é sua base).
Em resumo se torna um filme mediano. Não por ter um roteiro raso ou por ter sido mal interpretado ou mal dirigido; mas apenas por ter uma história tão emaranhada, tão confusa e complexa, que, infelizmente se perde em si mesma. Deixando "apenas" esse sentimento de "que época maneira de se viver e como eu gostaria de estar ali".
"Democracia pressupõe a liberdade de comunicação, a liberdade de expressão. E não haverá liberdade de expressão se os meios de comunicação não forem democratizados. Se você tem um instrumento de comunicação que por dia ele fala com 60, 70 milhões de pessoas e o controle das mensagens é feita por uma equipe ordenada ideologicamente por um senhor, eu penso que aí está descaracterizada qualquer possibilidade de democracia."
O peso histórico usado neste documentário é fantástico. A influência do maior meio de comunicação - e alienação - de um país em todo viés político e cultural. Dificilmente alguém assistirá esse documentário e não irá se sentir enojado.
(E pra quem ainda acha que esse documentário envelhece com o tempo, que a Globo não mais é a extraordinária farsante de informação e forte influenciadora política, lembrem-se da última eleição. "Que os ricos sejam mais ricos. Para que graças a eles os pobres por sua vez sejam menos pobres".)
Relatos Selvagens é fiel em sua sinopse ao dizer que é tênue a linha que separa a civilização da barbárie. Nestes seis relatos - os quais lembram muito a literatura argentina, que se consagrou justamente em cima de contos - vemos o quanto somos propícios ao impulso, a ira, e tudo de animal (e selvagem) que existe dentro de nós em situações limites.
Grande filme argentino, com um ritmo rápido e finais inesperáveis. Uma maneira muito diferente e destacada de fazer cinema.
"Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se empavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, que nada significa.”
Iñárritu foi muito feliz quando parafraseou Shakespeare, em Macbeth, para um filme. Embebedado de contemporaneidade, este filme caiu como uma luva saindo em 2014, nesta nossa era onde as redes sociais, os virais, e toda parafernália online substituíram o verdadeiro convívio social. Era onde não conseguimos sair de casa sem nosso celular.
"Você nem mesmo tem Facebook, você não existe." - Sam.
De quebra o diretor ainda une uma metalinguagem nada discreta, onde critica o mercado de filmes (e seus consumidores) e os sentimentos/personalidades dos atores (a verdadeira decadência de Keaton pós Batman, e o egocentrismo de Norton apesar de ser indiscutivelmente ótimo ator). É, sem dúvida, um filme ímpar. Uma representação satírica de uma "geração logada", e, infelizmente, muitas vezes levada pelo mercado fast-food de filmes.
"When I think of my wife, I always think of the back of her head. I picture cracking her lovely skull, unspooling her brain, trying to get answers. The primal questions of a marriage: What are you thinking? How are you feeling? What have we done to each other? What will we do?"
"Seria como atirar em um tordo, não seria, Atticus?"
Filme fantasticamente bem adaptado. Terminei o livro umas duas semanas atrás, então pude notar alguns detalhes que faltaram no filme - que não é grande coisa, diga-se de passagem -. Pra quem assistiu e não leu o livro: Vá ler porque é muito bom. Uma coisa que senti falta no filme foi justamente da Scout narrando-o mais, com sua simplicidade de criança e sua pureza. Afinal ela narra o livro todo, o que é seu ponto forte. Nunca vi um roteiro tão simples, retilíneo, com falas tão simples envolver num assunto tão sério o qual é apresentado aqui. No fim, um assunto que gente grande debate, e qualquer criança sabe qual é o lado certo.
"Acredito na permanente alienação dos sentidos para alcançar o desconhecido. Vivo no subconsciente. A fraqueza da nossa mente esconde de nós o infinito"
" - Deus? É isso? Deus? Pois eu vou lhe dizer, vou lhe dar umas informações exclusivas sobre Deus. Deus gosta de observar, é um brincalhão. Pense nisso. Ele dá ao homem instintos, ele dá esse presente extraordinário e depois o que ele faz?! Eu juro para o seu próprio divertimento, para o seu próprio espetáculo cósmico particular. Estabelece regras opostas, contrárias. E é esta a piada maior. Olhe, mas não toque. Toque, mas não prove. Prove, não engula. Enquanto você tenta entender o todo poderoso o que ele faz? Ele fica lá em cima morrendo de rir de você. Ele é um intolerante, é um sádico. Ele é um senhorio relapso. Adorar isso? Nunca.
- Melhor reinar no inferno do servir no paraíso.
- Por que não? Eu tenho o meu nariz aqui na terra desde que a coisa toda começou. Eu alimentei cada sensação que o homem é inspirado a sentir. Eu me importei com o que ele quer, e eu nunca o julguei. E sabe porque? Por que eu jamais o rejeitei apesar de todas as suas imperfeições. Eu sou fã do homem. Sou um humanista. Talvez o ultimo humanista. Quem, em seu juízo perfeito, Kevin, poderia negar a evidencia que o século XX foi totalmente meu? Todo ele, Kevin. Todo ele. Meu. Eu estou no auge. É a minha vez de triunfar. É a sua vez."
"Mas pergunte-se uma coisa: O que é mais obsceno, sexo ou guerra?"
Assisti despreocupado, achando que só ficaria na pornografia, e nas ideias loucas de Larry e me surpreendi, para melhor, é claro. O grande "q" do filme é externizar a hipocrisia, falso moralismo e puritanismo. Tudo entrelaçado num país que se intitula "livre" e mesmo assim necessitam de leis (desculpa, é pessoal, sou anarquista). A lei por si é uma ata contra a liberdade. "Você não pode fazer isso, é contra a lei". O que é contra a lei, o que é loucura, é tudo subjetivo. Se é ou não para os outros não é problema nosso. Você se preocupa com a heroína injetada na veia duma pessoa que cuida da própria vida, e compra sua própria droga? Se preocupa com a masturbação alheia? Cada um sabe o que é bom pra si, vamos crescer nessa porra. É mais ou menos puraí...
E Larry, um cara totalmente largado, que faz o que quer VS o mundo limitado, regido por poderosos. E com um advogado talentoso consegue, no fim, tacar na cara de todos e mostrar que temos o direito de achar o que quiser de tudo, desde que não infrinja e perturbe o próximo. Isso seja de comprar pornografia, armas, drogas. Podemos fazer, sim, e até ser contra lei. Mas nada nos impede a não ser nós mesmos.
Uma coisa é algo absurdo, tipo assassinato. Ok, é óbvio que todos somos contra essa droga. Saber que se matar alguém, tirar a vida do próximo é (super) errado e tu vai se foder por isso. Agora leis para limitar nossos direitos? Como grande exemplo o aborto. Em casos de estupros, ou família não tem dinheiro, não tem estrutura para criar uma criança, ou até a mesma tem poucas chances de vida. Pra quê alimentar essa dor e prolongar o sofrimento? Me desculpem, mas ainda não consegui engolir esse tipo de coisa... Não de existir leis, mas delas dizerem o que a gente pode ou não fazer.
Da Vida das Marionetes
4.3 70''Esta é a realidade e é insuportável. Falo, respondo, penso, visto-me, durmo e como. É compulsivo. Uma estranha e dura superfície. Mas debaixo estou chorando. Choro por mim, porque não posso voltar a ser o que era. O que foi já não pode voltar a ser, foi destruído, desapareceu... como um sonho."
Bergman constrói não somente um filme sobre a psique humana, sua construção social e nossas ilimitadas probabilidades do ser como mostra um notável thriller existencialista que rememora muito a frase de Sartre: "o inferno são os outros".
Os diálogos são praticamente monólogos - e claramente, foram feitos pra ser assim -, onde ressoa a todo instante que tudo é um grande teatro: o filme é feito em recortes o que corrobora os atos de uma peça teatral onde os personagens/humanos se veem infelizes (ou de maneira um pouco melhor, acostumados) de serem marionetes de si mesmos.
Solaris
4.2 368 Assista AgoraAcredito que esta passagem do livro, de 1961, reflita bem a problemática do filme:
"A impressão que se tem é que você se recusa propositalmente a entender - suspirou ele. - Estou falando de Solaris, o tempo inteiro, somente sobre Solaris. Não tenho culpa se a verdade é difícil de ser engolida. De qualquer modo, depois de tudo pelo que você já passou, deveria ser capaz de escutar-me até o fim. Partimos para o cosmos prontos para qualquer coisa: para a solidão, para o sofrimento, o cansaço, a morte. A modéstia nos impede de dizer, mas há momentos em que fazemos um belo conceito de nós mesmos. E se examinarmos mais detalhadamente isso, nosso entusiasmo mostra-se uma impostura. Não queremos conquistar o cosmos, simplesmente queremos estender os limites da Terra às fronteiras do cosmos. Para nós, um planeta é tão árido quanto o Saara; outro, tão gelado quanto o pólo norte; um terceiro, tão viçoso quanto a bacia do Amazonas. Somos humanitários e quixotescos, não queremos escravizar outras raças, queremos simplesmente legar-lhes novos valores e em troca tomar posse de sua herança. Imaginamo-nos cavaleiros do Santo Contato. Essa é outra mentira. Estamos somente procurando o homem. Não temos necessidade de outros mundos. Precisamos de espelhos. Não sabemos o que fazer com outros mundos. Basta-nos um único mundo, o nosso próprio; mas não podemos aceitá-lo tal como é. Procuramos uma imagem ideal para nosso próprio mundo; vamos em busca de um planeta, de uma civilização superior à nossa, mas desenvolvida na base de um protótipo do nosso passado primário. Ao mesmo tempo, existe algo dentro de nós que não gostamos de enfrentar, algo de que tentamos nos proteger, mas que no entanto subsiste, já que não saímos da Terra em um estado de inocência primária. Chegamos aqui como somos na realidade, e, quando a página é virada e essa realidade nos é mostrada - essa parte da nossa realidade que preferimos ignorar em silêncio -, já não mais gostamos dela."
Quando Voam as Cegonhas
4.3 72"O amor, querida, é um processo mútuo de perda de cabeça."
Parece-me que a guerra também o é. Quando olhamos em retrospecto todas as guerras, todas as batalhas pelo poder, o mar de sangue feito pela busca de um momento de superioridade, afirmo: isso também é loucura.
Filme belíssimo sobre o período conturbado de guerras, como a esperança e o amor por uma pessoa pode ser tão puro e pleno ao ponto de negarmos uma realidade crua e dolorosa. Filme que mostra como a guerra devasta não somente o país e sua estrutura, mas principalmente as pessoas e suas relações/sonhos umas com as outras. Tecnicamente impecável, com destaque para a cena do piano e a do campo de batalha. Merecedor do Palma de Ouro e de algumas teimosas lágrimas.
Não Sou Eu, Eu Juro!
4.4 579"Ela esvaziou minhas reservas de amor por uns vinte anos. Todo aquele amor, uma nuvem atômica sobre a Ilha de Biquíni, me trouxe aqui, aos fundos de um beco de boliche. Então vou ficar com o conselho de um filósofo grego, que disse: 'Em tempos de desespero, medidas desesperadas'. Eu vou começar uma nova vida também."
Tiros em Columbine
4.2 350"Quando você está assistindo televisão, assistindo o noticiário, é bombardeado por medos: inundações, aids, assassinatos. E quando começam os comerciais: 'Compre cremes'. 'Compre Colgate'. 'Se você tiver mau hálito, ninguém vai falar com você'. 'Se você tiver espinhas, as garotas não vão foder com você'. É uma campanha de medo e consumismo. Essa que eu acho que é a ideia global: mantenha as pessoas com medo, e elas vão consumir".
Michael Moore acertou em cheio nesse documentário. Com uma visão totalmente apurada da sociedade - da cultura norte-americana, da cultura do medo, da falta de argumento de grandes nomes que defendem o direito da posse de armas -, Michael Moore desconstrói todos os argumentos em defesa do armamento com tão livre acesso, com tanta naturalidade em tê-lo; mostra também que a culpa não é das armas em si mas da cultura deste medo, da pressão diária da mídia exortando este medo, mantendo sempre a população em estado de alerta, em estado de guerra.
Vale fazer a comparação midiática do Brasil que urra que bandido bom é bandido morto. Que fatura milhões em cima de tragédias. Que incita a violência contra a violência.
"Quem abre uma escola fecha uma prisão". Por mais amor e menos ódio. Por medidas que tragam mais paz sem trazer consigo mais sangue.
Vício Inerente
3.5 554 Assista AgoraA dantesca tarefa de entender - e adaptar - Thomas Pynchon.
Paul Thomas Anderson é, sem dúvida, um dos diretores mais excêntricos e originais da atualidade. Vimos muito disso em O Mestre e Magnólia, tanto escritos como dirigidos por ele. Por conta disso não esperava nada diferente do que esta viagem lisérgica pelo início dos anos 70. Época contemporânea a contracultura, movimento hippie e a paranoia generalizada contra o sistema. Mas será que "adaptar" Thomas Pynchon é realmente boa ideia? Well...
Pra quem já é familiarizado com a obra literária de Thomas Pynchon, e também com a obra cinematográfica de Paul Thomas Anderson, tinha no fundo do coração uma pulsação esperançosa que iria dar certo, que iria casar a loucura, a narrativa em abismo e toda a espiral conspiratória que há em Thomas Pynchon com a mente distinta de Anderson. Não foi bem assim.
Nesses quase 150min admito que fiquei deslumbrado com a acurácia de Anderson em conseguir dar tanta vida a década de 70. Desde as imagens muito coloridas, ao figurino muito bem escolhido, até a luz que persegue Doc até o final do filme. Diga-se de passagem, está é a parte boa do filme (além claro da ótima atuação de Phoenix). Mas o sentimento que fica (infelizmente) é que o filme traz mais o saudosismo de Doc e de todos personagens da trama do mundo que vivem com a loucura deste tempo, do que preocupados com a investigação em espiral que toma conta do filme (e é sua base).
Em resumo se torna um filme mediano. Não por ter um roteiro raso ou por ter sido mal interpretado ou mal dirigido; mas apenas por ter uma história tão emaranhada, tão confusa e complexa, que, infelizmente se perde em si mesma. Deixando "apenas" esse sentimento de "que época maneira de se viver e como eu gostaria de estar ali".
Muito Além do Cidadão Kane
4.1 344 Assista Agora"Democracia pressupõe a liberdade de comunicação, a liberdade de expressão. E não haverá liberdade de expressão se os meios de comunicação não forem democratizados. Se você tem um instrumento de comunicação que por dia ele fala com 60, 70 milhões de pessoas e o controle das mensagens é feita por uma equipe ordenada ideologicamente por um senhor, eu penso que aí está descaracterizada qualquer possibilidade de democracia."
O peso histórico usado neste documentário é fantástico. A influência do maior meio de comunicação - e alienação - de um país em todo viés político e cultural. Dificilmente alguém assistirá esse documentário e não irá se sentir enojado.
(E pra quem ainda acha que esse documentário envelhece com o tempo, que a Globo não mais é a extraordinária farsante de informação e forte influenciadora política, lembrem-se da última eleição. "Que os ricos sejam mais ricos. Para que graças a eles os pobres por sua vez sejam menos pobres".)
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraRelatos Selvagens é fiel em sua sinopse ao dizer que é tênue a linha que separa a civilização da barbárie. Nestes seis relatos - os quais lembram muito a literatura argentina, que se consagrou justamente em cima de contos - vemos o quanto somos propícios ao impulso, a ira, e tudo de animal (e selvagem) que existe dentro de nós em situações limites.
Grande filme argentino, com um ritmo rápido e finais inesperáveis. Uma maneira muito diferente e destacada de fazer cinema.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0K"Ainda há lampejos de civilização no açougue bárbaro que já foi a humanidade".
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraQuando a arte imita a vida.
"Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se empavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, que nada significa.”
Iñárritu foi muito feliz quando parafraseou Shakespeare, em Macbeth, para um filme. Embebedado de contemporaneidade, este filme caiu como uma luva saindo em 2014, nesta nossa era onde as redes sociais, os virais, e toda parafernália online substituíram o verdadeiro convívio social. Era onde não conseguimos sair de casa sem nosso celular.
"Você nem mesmo tem Facebook, você não existe." - Sam.
De quebra o diretor ainda une uma metalinguagem nada discreta, onde critica o mercado de filmes (e seus consumidores) e os sentimentos/personalidades dos atores (a verdadeira decadência de Keaton pós Batman, e o egocentrismo de Norton apesar de ser indiscutivelmente ótimo ator).
É, sem dúvida, um filme ímpar. Uma representação satírica de uma "geração logada", e, infelizmente, muitas vezes levada pelo mercado fast-food de filmes.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista Agora"When I think of my wife, I always think of the back of her head. I picture cracking her lovely skull, unspooling her brain, trying to get answers. The primal questions of a marriage: What are you thinking? How are you feeling? What have we done to each other? What will we do?"
A Viagem
3.7 2,5K Assista Agora- Não importa o que você faça, nunca vai parecer mais do que uma mísera gota num oceano infinito
- O que é um oceano senão uma infinidade de gotas.
O Sol É Para Todos
4.3 414 Assista Agora"Seria como atirar em um tordo, não seria, Atticus?"
Filme fantasticamente bem adaptado. Terminei o livro umas duas semanas atrás, então pude notar alguns detalhes que faltaram no filme - que não é grande coisa, diga-se de passagem -. Pra quem assistiu e não leu o livro: Vá ler porque é muito bom. Uma coisa que senti falta no filme foi justamente da Scout narrando-o mais, com sua simplicidade de criança e sua pureza. Afinal ela narra o livro todo, o que é seu ponto forte. Nunca vi um roteiro tão simples, retilíneo, com falas tão simples envolver num assunto tão sério o qual é apresentado aqui. No fim, um assunto que gente grande debate, e qualquer criança sabe qual é o lado certo.
Fahrenheit 451
4.2 419Eu não sei o que é mais distópico e utópico: Pensar que os livros não tem nada a oferecer ou conseguir decorar um livro inteiro.
Johnny Vai à Guerra
4.3 189Mortos na guerra desde 1914: Aproximadamente 80.000.000
Desaparecidos ou feridos: 150.000.000
"É doce e honroso morrer pela pátria".
Geração Prozac
3.6 465Essa Elizabeth é a Christiane F. dos remédios.
The Doors
4.0 505 Assista Agora"Acredito na permanente alienação dos sentidos para alcançar o desconhecido. Vivo no subconsciente. A fraqueza da nossa mente esconde de nós o infinito"
Deus da Carnificina
3.8 1,4KUm "Quem tem medo de Virginia Woolf? para menores".
8½
4.3 409 Assista AgoraTodos querendo participar de algo que não existia. Tornando-o existente apenas no fim, quando já se torna coexistente. A vida deles, em filme.
Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
4.3 497 Assista AgoraOuso dizer que foi um dos filmes com melhores diálogos que já vi.
Magnólia
4.1 1,3K Assista Agora"Um gênio frequentemente é a causa de sua própria ruína"
Advogado do Diabo
4.0 1,4K Assista Agora" - Deus? É isso? Deus? Pois eu vou lhe dizer, vou lhe dar umas informações exclusivas sobre Deus. Deus gosta de observar, é um brincalhão. Pense nisso. Ele dá ao homem instintos, ele dá esse presente extraordinário e depois o que ele faz?! Eu juro para o seu próprio divertimento, para o seu próprio espetáculo cósmico particular. Estabelece regras opostas, contrárias. E é esta a piada maior. Olhe, mas não toque. Toque, mas não prove. Prove, não engula. Enquanto você tenta entender o todo poderoso o que ele faz? Ele fica lá em cima morrendo de rir de você. Ele é um intolerante, é um sádico. Ele é um senhorio relapso. Adorar isso? Nunca.
- Melhor reinar no inferno do servir no paraíso.
- Por que não? Eu tenho o meu nariz aqui na terra desde que a coisa toda começou. Eu alimentei cada sensação que o homem é inspirado a sentir. Eu me importei com o que ele quer, e eu nunca o julguei. E sabe porque? Por que eu jamais o rejeitei apesar de todas as suas imperfeições. Eu sou fã do homem. Sou um humanista. Talvez o ultimo humanista. Quem, em seu juízo perfeito, Kevin, poderia negar a evidencia que o século XX foi totalmente meu? Todo ele, Kevin. Todo ele. Meu. Eu estou no auge. É a minha vez de triunfar. É a sua vez."
Quase virei satanista depois disso, rs.
O Substituto
4.4 1,7K Assista Agora"It's so easy to be careless, but it takes courage and character to care".
O Povo Contra Larry Flynt
3.9 251 Assista Agora"Mas pergunte-se uma coisa: O que é mais obsceno, sexo ou guerra?"
Assisti despreocupado, achando que só ficaria na pornografia, e nas ideias loucas de Larry e me surpreendi, para melhor, é claro. O grande "q" do filme é externizar a hipocrisia, falso moralismo e puritanismo. Tudo entrelaçado num país que se intitula "livre" e mesmo assim necessitam de leis (desculpa, é pessoal, sou anarquista). A lei por si é uma ata contra a liberdade. "Você não pode fazer isso, é contra a lei". O que é contra a lei, o que é loucura, é tudo subjetivo. Se é ou não para os outros não é problema nosso. Você se preocupa com a heroína injetada na veia duma pessoa que cuida da própria vida, e compra sua própria droga? Se preocupa com a masturbação alheia? Cada um sabe o que é bom pra si, vamos crescer nessa porra. É mais ou menos puraí...
E Larry, um cara totalmente largado, que faz o que quer VS o mundo limitado, regido por poderosos. E com um advogado talentoso consegue, no fim, tacar na cara de todos e mostrar que temos o direito de achar o que quiser de tudo, desde que não infrinja e perturbe o próximo. Isso seja de comprar pornografia, armas, drogas. Podemos fazer, sim, e até ser contra lei. Mas nada nos impede a não ser nós mesmos.
Uma coisa é algo absurdo, tipo assassinato. Ok, é óbvio que todos somos contra essa droga. Saber que se matar alguém, tirar a vida do próximo é (super) errado e tu vai se foder por isso. Agora leis para limitar nossos direitos? Como grande exemplo o aborto. Em casos de estupros, ou família não tem dinheiro, não tem estrutura para criar uma criança, ou até a mesma tem poucas chances de vida. Pra quê alimentar essa dor e prolongar o sofrimento? Me desculpem, mas ainda não consegui engolir esse tipo de coisa... Não de existir leis, mas delas dizerem o que a gente pode ou não fazer.