Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Que filmaço, cheio de gatilhos da minha vida, me enxerguei a todo momento no personagem Aksel e meu coração foi dilacerado por toda a película. Uma ode que gera discussão sobre essa geração de amores líquidos de Bauman, que nasceu conectada no mundo digital e quer tudo, sem pensar em consequências, no egoísmo, onde só existe o eu. Julie nunca está feliz com nada, nunca está satisfeita com o que tem e vai minando a própria vida, revivi um relacionamento de uma década com esse filme e sai completamente abalado. O filme pode ter um enredo simples, mas é muito profundo, cheio de nuances com uma direção e condução incrível. Renate Reinsve é uma baita atriz. Sinto pena de quem assistiu e não conseguiu levar um choque da realidade. Um dos meus favoritos da vida. Chorei litros.
Indicado ao Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes para Marcello Fonte. Eu confesso que esperava mais, o filme é muito previsível (tão previsível que até o pôster não poupa o telespectador da previsibilidade geral da película) e o personagem principal, mesmo sendo muito bem interpretado, acaba caindo demais em esteriótipos e criando situações pouco críveis. Interessante é ver o prognóstico desta Itália crua e fascista que vem renascendo nas últimas décadas, lembro quando deixei o país em 2007 era um, quando voltei em 2019 era outro completamente diferente. Li que é baseado em uma situação real, mas fiquei curioso em saber até onde o filme trás esta "realidade" do que aconteceu. Fiquei com raiva do personagem em alguns momentos, confesso, principalmente em detalhes ligados a sua filha.
Vencedor do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Para entender a importância deste filme é preciso pensar que ele veio antes de clássicos como Acossado do Jean-Luc Godard ou do O Imprestável do Yoshishige Yoshida, praticamente criando um estilo entre o noir americano e a nouvelle vague francesa que estava em estágio embrionário. Wajda foi um dos maiores gênios do cinema, e extremamente subestimado, a crítica a Polônia comunista também serve para o mundo capitalista ocidental em sua hipocrisia. Um país quebrado, perdido e em derrota independente do resultado da guerra. O astro Zbigniew Cybulski, o James Dean polonês que teve um fim precoce como sua contraparte americana, dá um show, o desenrolar do personagem e o amor que floresce é tão improvável e por isso é tão real, que nos faz divagar sobre muitas coisas. A fotografia é maravilhosa, achei que o desfecho podia ser diferente, mas funciona. Da trilogia, prefiro o primeiro (Geração), mas vi faz muito tempo, preciso rever.
Vencedor no Festival de Sundance. Que filme lindo, de uma sutileza e ao mesmo tempo tão simples. A parte técnica é linda, cada tomada da câmera é uma obra de arte. Apenas o ator Santos Choque, que interpreta o neto Clever, é um ator profissional. O casal de avós são casados na vida real e achei toda a interpretação deles de uma sinceridade muito bonita, não sei se atores conseguiriam pegar a essência deles tão bem. Interessante como é um filme que dialoga com Alcarrás do mesmo ano. Não teve como não lembrar de meus avós e das ligações que tinha com eles quando mais novo e gera um sentimento nostálgico, mas também amargo na boca pela distância que acaba se criando conforme envelhecemos. 2022 foi um ano de excelentes filmes e este fica entres os obrigatórios.
Resolvi assistir exatamente no Chaharshanbe-soori deste ano (2023), já que o Nowruz (Ano Novo do calendário persa acontece agora segunda feira dia 20 de março). Achei um dos melhores filmes do Farhadi, não pela história em si, mas pela incrível capacidade de transformar um dia cotidiano em uma narrativa frenética que não fica devendo em nada para o Alfred Hitchcock. Quase que um prelúdio do A Separação, mas este é mais mundano, corriqueiro, enquanto o outro é uma crítica mais sagaz a sociedade religiosa do Irã. Elenco está fantástico, os detalhes vão sendo construídos em conta gotas e a tensão é crescente, não é a toa que o diretor já ganhou dois Oscar de filme estrangeiro e coleciona premiações pelo mundo. Um dos meus preferidos dele.
Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. É realmente impressionante que Bergman tenha feito O Sétimo Selo e este em um mesmo ano, mais uma obra prima do diretor que coleciona várias. O filme é um road movie com um idoso (soberbamente interpretado pelo legendário Victor Sjöström) carrancudo, mas que vai reconstruindo sua história aos poucos para o telespectador. A narrativa é maravilhosa e o envolvimento tanto de quem está assistindo como os personagens que o rodeiam acabam convergindo na empatia que surge ao personagem de Sjöström. Tudo funciona, não há nada fora do lugar, é a vida despida de qualquer ilusão, um dos filmes mais verdadeiros da história do cinema. Todo momento me vinha a literatura de Philip Roth: "envelhecer não é uma batalha, é um massacre". Há dores que duram uma vida inteira.
Vencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. O filme me surpreendeu muito positivamente em vários aspectos, é impressionante como algumas histórias só podem ser contadas pelas mãos de uma diretora, o comportamento de todos os personagens masculinos se mostram tóxicos em algum momento, a personagem de Ada é uma graça, da vontade de cuidar dela, fugir com ela dali. A atuação da estreante Milana Aguzarova é impressionante e a melhor coisa do filme, no mais, o filme reflete muito os conflitos e traumas daquela região tão castigada com conflitos. O ataque com reféns na escola que o filme usa realmente aconteceu na região em 2004 e ainda é uma enorme sombra. A narrativa cria situações de tensão e alívio muito bem. Um filme bem acima da média para mim, com mais acertos que erros, me tocou.
Que erro da Disney em matar o personagem título. O primeiro é meu segundo filme preferido da Marvel, esse aqui está muito abaixo. Letitia Wright não tem carisma nenhum para o personagem (comprar a personagem tecnológico dela sabendo de toda a postura anti-ciência da atriz torna tudo ainda mais difícil). Se fosse para ter um Pantera Negra feminino Lupita Nyong'o seria mil vezes uma opção mais acertada. De resto o filme é cheio de fórmulas prontas que não oferece absolutamente nada de novo. A cena inicial da Rainha metendo o loko na reunião da ONU foi o que mais valeu todo o filme. Outro ponto que merece ser dito é mostrar os EUA e outros países imperialistas como um perigo para Wakanda, finalmente um filme que mostra como esses países realmente são. De resto é a marmita de sempre, ver a Lupita Nyong'o em cena faz o coração bater mais rápido, pena que foi pouco aproveitada.
Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes e o derradeiro canto do cisne de um dos maiores diretores de todos os tempos. Concordo quando dizem que é o filme mais "Bergman" do diretor russo, os paralelos são vários. Sempre prorroguei em assistir porque depois que o fizesse não teria mais nada de novo para ver do diretor, havia chegado a hora finalmente e sinto esse vazio existencial por vários motivos além do filme. O filme é brilhante, as mensagens são inúmeras. A morte, o vazio, a fé, o medo que permeava a humanidade nos anos 80 de uma guerra nuclear, está tudo aí na película. Nunca vou entender esse sentimento de "temos que salvar a humanidade", não consigo ver nenhum motivo para salvá-la, inclusive acho que já durou demais; então mesmo com essa dificuldade em entender os motivos o filme ainda teve muito a dialogar comigo, muito a refletir e a ponderar. Filme bom é assim!
Filme que deu dois Oscars para John Huston (direção e roteiro) e um para seu pai Walter Huston (ator coadjuvante). O filme é muito bom, sem dúvida merece o título de clássico, a construção dos personagens e o desenrolar das coisas é muito bem conduzido. Achei alguns pontos do desfecho meio decepcionantes, mas a mensagem que fica sobre ganância e o individualismo fazem do filme necessário, até me espanta não terem perseguido o diretor como comunista na época. Bogart dá um show, coincidência é eu ter visto na semana em que morreu o controverso ator Robert Blake que aparece aqui em um de seus primeiros papéis como uma criança que vende bilhetes de loteria.
Vencedor do Câmera de Ouro no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um filme falado em vietnamita, que se passa e com atores do Vietnã, mas rodado inteiro na França, ou seja, com uma certa visão eurocentrista. O diretor foi educado na França, portanto é complicado embarcar na sua visão do Vietnã. O que vale o filme é sua qualidade técnica e a graciosidade da atriz Man San Lu, que interpreta a atriz principal quando garotinha. Não da para comprar o discurso "Você era como uma filha para mim" da dona da casa que manteve a "filha de coração" em condição de serva morando em um quartinho mixuruca de empregada. A sequência final fica meio perdida, o salto de 10 anos não ajuda o filme que perde vários fios que estavam indo muito bem. Vale pelas cenas lindíssimas da fotografia mais do que qualquer outra coisa.
Indicado para o Festival de Sundance e ganhador de vários prêmios em festivais nacionais (Festival Internacional de São Paulo, Rio de Janeiro e Prêmio Guarani). Nunca tinha visto, sempre me falaram que eu lembro o Selton Mello neste filme, espero que seja mais de aparência, apesar de já ter me apaixonado por uma bunda. Ok, eu tenho um certo grau de excentricidade, mas o personagem é nojento demais e sei que passa longe de mim neste quesito. Dá raiva! Selton Mello brilha em vários momentos, mas acho que há outros que ele força demais e não funciona, fica meio falso. O filme é bem louco, típico do Mutarelli. Interessante ver que o diretor tem duas obras baseadas em histórias em quadrinhos na sua carreira, gostei mais deste filme, talvez porque não tenha lido. Tungstênio eu li e prefiro mais a HQ mesmo, apesar do trabalho sempre competente do diretor. Paula Braun está uma graça no filme, conquista todo mundo com ou sem a bunda. No geral, gostei bastante, mais pelo nível de ousadia do roteiro do que qualquer outra coisa. Não é algo que vemos com frequência em nenhum cinema mainstream.
Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Christian Petzold vem escalando posições entre meus diretores favoritos de todos os tempos e aqui ele consegue avançar mais algumas posições. Amei! A mistura entre uma história de filme de época filmada em um cenário contemporâneo só reforça o que venho gritando aos sete ventos que a Europa caminha de novo para o fascismo a passos largos. O filme se passa durante a Segunda Guerra tanto como pode se passar em uma Europa mais atual. Portanto a cenografia não importa e o diretor faz questão disso. As relações pessoais com o clima de desastre iminente regional são perfeitas e os atores abraçam a ideia muito bem. Ninguém quer ficar sozinho, ninguém quer ser abandonado, mas é um salve-se quem puder. "Quem esquece primeiro, o abandonado ou quem abandona?", aaaaaah, eu espero que quem abandona sofra bastante, me senti vingado. Obrigado Petzold, tirou um muro de concreto das minhas costas.
Pode não ter figurado entre os selecionados nos festivais de cinema de maior prestígio, mas com certeza figura entre os melhores filmes do ano. Quem me conhece sabe o nojo que eu tenho do imperialismo britânico (eu moro nessa ilha nojenta de lama), ver isso escancarado no filme é lindo demais, porque ele chegou a ser até pior do que mostrado em tela em países como Sudão e Quênia. Ver esses caras se fodendo é lindo demais e nesse nível de cinema que eu achei que havia morrido, foi melhor ainda. O cinema indiano dá uma aula para Hollywood com tudo aquilo que o cinema americano esqueceu: o filme tem mensagem, história, motivo, emoção, ação, aventura... e muito mais que eu não vou nem lembrar. Rajamouli conseguiu pegar tudo e colocar em um filme só, mas sem se perder. Acho que a grande lição que fica é a de amizade e da importância de se rebelar contra a opressão imperialista. Me espanta que tenha feito certo sucesso nos EUA, hoje, o país com o imperialismo mais sujo, sanguinário e nojento na face do planeta. Pena que o Netflix não tem a opção de ver com o áudio original, tive que usar outros meios para assistir. Que atores! Que direção! Que cinema!
É um drama adolescente, mas que carrega todo um diferencial pela competência de Greta Gerwig... é arrastado, pois parece durar mais do que dura, mas normal já que não sou mais um adolescente. Então não me prendeu tanto em alguns pontos típicos de qualquer drama desta faixa etária... porém há cenas lindíssimas. São essas cenas pontuais que carregam o filme, seja ela abraçando o ex chorando no fundo do trabalho, seja a difícil relação com a mãe (já conheci algumas mães malucas assim, inclusive tive uma sogra). O filme é bem acima da média no gênero que está, Saoirse Ronan convence muito mesmo não tendo a idade. Valeu a conferida no final.
É interessante notar que o filme reflete o declínio que vivia a própria Alemanha no pós Primeira Guerra Mundial, um país considerado próspero que acabou caindo em declínio frente aos outros europeus. Marlene Dietrich está fabulosa, arranca suspiros e merece toda a fama que suas cenas lhe trouxeram, mas não é ela que rouba o filme para si. Emil Jannings prova aqui que é um dos grandes nomes da história do cinema, sua atuação é catártica, impressionante de assistir. É interessante como a história, bem óbvia no quesito roteiro, consegue cativar mesmo assim... afinal ela avisou "se por acaso se queimam, não posso evitar".
O filme venceu o Festival de Sundance e ganhou o Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim entre outros. O universo feminino pela lente da diretora é magistral e angustiante. Não tem como um homem fazer algo assim, os detalhes, as linhas que os personagens cruzam, as situações. Um filme que jamais poderia ser realizado por um homem. O silêncio me incomodou um pouco, afinal são duas primas adolescentes juntas e mais diálogos entre elas traria mais veracidade a película. Há cumplicidade, há uma ligação, muito amor entre elas, mas que achei desperdiçada pelo silêncio entre elas em alguns momentos. A cena do título é a melhor de todo o filme, maravilhosa! As atrizes dão um show a parte. Você fica querendo continuar acompanhando elas, mas o filme acaba. Não é fácil de assistir, incomoda. Filme super necessário.
O filme teve uma certa badalação no meio cinematográfico nacional, ganhou prêmios nos festivais Guarani, SESC e do Rio de Janeiro. Queria ver desde que saiu, mas fui deixando. Achei que o filme tinha um potencial enorme que foi inteiramente desperdiçado na sala de edição, a montagem dele atrapalhou todo o desenrolar. Há cenas extremamente supérfluas que não contribuem em nada para a narrativa, dava para cortar uns vinte minutos quase: o momento de masturbação é patético, o encontro com os avós constrangedor. Você só vai entender o que está acontecendo quase uma hora depois de filme, o que atrapalha a conexão do espectador com o enredo. Uma das melhores cenas é a do rapaz bebendo vinho com a mãe, faltou explorar mais a relação ali. Enfim, no fim, ficou aquele sentimento de desperdício, de algo que poderia ter sido muito melhor. Não achei ruim, mas decepciona no geral por conta desse sentimento. Trilha sonora espetacular, mas com Dylan fica fácil.
Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Cannes, empatado com o filme Canal. Tinha assistido quando moleque e sempre figurou entre meus preferidos, ensaiava de rever fazia anos, continua tão bom quanto me lembro, mas não é mais o meu preferido do diretor (Prefiro o Através de um Espelho). Acho que chega a ser um dos filmes mais pop do diretor, de fácil digestão, porém com todos os elementos de um Bergman. Gunnar Björnstrand está melhor que qualquer um no elenco como o escudeiro Jöns, rouba a cena toda hora que aparece. O que vale, como em quase todos os filmes do diretor, são os diálogos no meio de ações mundanas, o cenário da peste e dos momentos clássicos do jogo de xadrez com a Morte são mero detalhes. Achei a personagem da Bibi Andersson meio perdida no meio da história, mas passa. A cena da inquisição com a bruxa ainda é a minha preferida. Filme obrigatório!
Quando adentrei a sessão de cinema em meados do ano de 1997 minha vida mudou completamente, o garoto menor de idade que saiu daquela sessão não era o mesmo que entrou praticamente plagiando o personagem principal. Hollywood com seu cinema pipoca morria ali para mim, minha busca por esse tipo de arte cinematográfica se tornou uma certa obsessão. Assisti umas duas vezes depois em VHS, mas fazia mais de 20 anos que não revisitava este filme. Para a minha surpresa é um outro filme, completamente diferente daquele que assisti em 1997. O filme interage de acordo com a vivência do telespectador e pode tomar formas diferentes de acordo com as experiências vividas. Hoje é muito mais um filme sobre aquele amor que dói, o ciúmes doentio que cresce e as mudanças que tudo isso trás na vida depois disso. A cena em que Patricia Arquette diz "Você nunca mais vai me ter" fez lágrimas brotarem nos meus olhos. Pura arte! Lynch é um gênio e nunca vou me cansar de dizer isso, o filme está muito melhor do que quando o assisti pela primeira vez e continua figurando entre meus favoritos. O ser misterioso, que gerava imensos debates como foco principal entre amigos naquela época, hoje é uma figura diminuída como a representação do 'ciúmes', sem interferir na magnanimidade que é o filme. Perfeito!
Outro filme muito competente de Satyajit Ray, não decepciona. Sempre um crítico ferrenho da fé cega, o diretor volta a alfinetar a sociedade conservadora do seu país usando de uma maneira muito bem orquestrada a peça teatral do escritor norueguês adaptando para a Índia. O elenco é ótimo, Dhritiman Chatterjee interpreta um vilão bem canastrão como o irmão rico do doutor e que nunca troca de lenço. Mamata Shankar como a filha tira suspiros. Só achei que faltou maior embate entre o casal principal, já que ela aparentemente é uma pessoa religiosa e seu marido não, poderia ter tido diálogos excelentes daí. Assusta as coincidências com o mundo de hoje, parece que estagnamos lá atrás.
Indicado a Palma de Ouro em Cannes, mas no ano do 'Paris, Texas' não tinha para ninguém. Adorei o filme, a dinâmica, a construção dos personagens, direção e condução. Talvez se estenda um pouco, mas no geral foi um dos melhores filmes do diretor que assisti. Me apaixonei pelo Nikhilesh, que maridão! Acho que as pessoas julgam meio mal o Sandip, não consigo enxergá-lo como um vilão, mas sim como um alienado hipócrita que não percebe que é raso e fútil. Bimala é o reflexo da opressão machista. Há tantas camadas no filme, que por mais que não dê para trabalhar tudo, está tudo lá de alguma maneira. Algumas coisas mais aparentes e outras não. O filme dá pano pra manga para se refletir sobre muita coisa, isso que é o grande acerto. Baseado na obra de Rabindranath Tagore, ganhador do Nobel de literatura. Recomendo muito! Interessante tentar entender o contexto da Índia pré Primeira Guerra Mundial.
Eu odeio a palavra "terrorismo", acho ela sempre muito mal utilizada, mas fica difícil classificar o ISIS como alguma outra coisa. Não quero deixar o comentário aqui como um texto político enaltecendo meu amor e ligações com Apo e o YPG, portanto vou tentar me ater a película. O filme, realizado até onde eu sei, em Rojava impressiona pela qualidade enorme, tanto técnica, elenco, efeitos, simplesmente tudo. Sabendo dos recursos mínimos que eles têm perto de uma produção americana, é simplesmente maravilhoso de assistir. Emociona e aquece o coração de qualquer um que acredita na revolução. Achei ótimo o desfecho enaltecendo a luta curda e desconstruindo a vitória sob condições da ajuda internacional aérea (que foi importante sim, mas veio tardia). Os olhos encheram de lágrimas nas cenas reais finais mostrando os companheiros martirizados e Heval Masîro que continua a luta. Um filme que se faz necessário para levar a luta curda, que eu considero a revolução mais importante em curso hoje no planeta, para as pessoas que a desconhecem. A virada começou logo ali, em Kobanê.
O filme foi colocado inteiro com legendas no YouTube por pessoas ligadas a organizações da luta curda
Fraquinho, mas com alguns momentos que salvam. Já não sou muito de histórias natalinas, então sou suspeito pra falar. Tudo parece meio forçado, situações cômicas exageradas que não trazem nada de novo, há até momentos bobos que não funcionam muito bem. Esperava mais do James Gunn. Como algo mais focado em um público bem infantil parece funcionar melhor, comigo já não funcionou como os filmes. As cenas com Youndu são as melhores, mesmo que em desenho animado.
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 608 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Que filmaço, cheio de gatilhos da minha vida, me enxerguei a todo momento no personagem Aksel e meu coração foi dilacerado por toda a película. Uma ode que gera discussão sobre essa geração de amores líquidos de Bauman, que nasceu conectada no mundo digital e quer tudo, sem pensar em consequências, no egoísmo, onde só existe o eu. Julie nunca está feliz com nada, nunca está satisfeita com o que tem e vai minando a própria vida, revivi um relacionamento de uma década com esse filme e sai completamente abalado. O filme pode ter um enredo simples, mas é muito profundo, cheio de nuances com uma direção e condução incrível. Renate Reinsve é uma baita atriz. Sinto pena de quem assistiu e não conseguiu levar um choque da realidade. Um dos meus favoritos da vida. Chorei litros.
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Dogman
3.7 113 Assista AgoraIndicado ao Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes para Marcello Fonte. Eu confesso que esperava mais, o filme é muito previsível (tão previsível que até o pôster não poupa o telespectador da previsibilidade geral da película) e o personagem principal, mesmo sendo muito bem interpretado, acaba caindo demais em esteriótipos e criando situações pouco críveis. Interessante é ver o prognóstico desta Itália crua e fascista que vem renascendo nas últimas décadas, lembro quando deixei o país em 2007 era um, quando voltei em 2019 era outro completamente diferente. Li que é baseado em uma situação real, mas fiquei curioso em saber até onde o filme trás esta "realidade" do que aconteceu. Fiquei com raiva do personagem em alguns momentos, confesso, principalmente em detalhes ligados a sua filha.
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Cinzas e Diamantes
4.1 40 Assista AgoraVencedor do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Para entender a importância deste filme é preciso pensar que ele veio antes de clássicos como Acossado do Jean-Luc Godard ou do O Imprestável do Yoshishige Yoshida, praticamente criando um estilo entre o noir americano e a nouvelle vague francesa que estava em estágio embrionário. Wajda foi um dos maiores gênios do cinema, e extremamente subestimado, a crítica a Polônia comunista também serve para o mundo capitalista ocidental em sua hipocrisia. Um país quebrado, perdido e em derrota independente do resultado da guerra. O astro Zbigniew Cybulski, o James Dean polonês que teve um fim precoce como sua contraparte americana, dá um show, o desenrolar do personagem e o amor que floresce é tão improvável e por isso é tão real, que nos faz divagar sobre muitas coisas. A fotografia é maravilhosa, achei que o desfecho podia ser diferente, mas funciona. Da trilogia, prefiro o primeiro (Geração), mas vi faz muito tempo, preciso rever.
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Utama - Terra Esquecida
3.9 6Vencedor no Festival de Sundance. Que filme lindo, de uma sutileza e ao mesmo tempo tão simples. A parte técnica é linda, cada tomada da câmera é uma obra de arte. Apenas o ator Santos Choque, que interpreta o neto Clever, é um ator profissional. O casal de avós são casados na vida real e achei toda a interpretação deles de uma sinceridade muito bonita, não sei se atores conseguiriam pegar a essência deles tão bem. Interessante como é um filme que dialoga com Alcarrás do mesmo ano. Não teve como não lembrar de meus avós e das ligações que tinha com eles quando mais novo e gera um sentimento nostálgico, mas também amargo na boca pela distância que acaba se criando conforme envelhecemos. 2022 foi um ano de excelentes filmes e este fica entres os obrigatórios.
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Fireworks Wednesday
3.9 14Resolvi assistir exatamente no Chaharshanbe-soori deste ano (2023), já que o Nowruz (Ano Novo do calendário persa acontece agora segunda feira dia 20 de março). Achei um dos melhores filmes do Farhadi, não pela história em si, mas pela incrível capacidade de transformar um dia cotidiano em uma narrativa frenética que não fica devendo em nada para o Alfred Hitchcock. Quase que um prelúdio do A Separação, mas este é mais mundano, corriqueiro, enquanto o outro é uma crítica mais sagaz a sociedade religiosa do Irã. Elenco está fantástico, os detalhes vão sendo construídos em conta gotas e a tensão é crescente, não é a toa que o diretor já ganhou dois Oscar de filme estrangeiro e coleciona premiações pelo mundo. Um dos meus preferidos dele.
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Morangos Silvestres
4.4 658Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. É realmente impressionante que Bergman tenha feito O Sétimo Selo e este em um mesmo ano, mais uma obra prima do diretor que coleciona várias. O filme é um road movie com um idoso (soberbamente interpretado pelo legendário Victor Sjöström) carrancudo, mas que vai reconstruindo sua história aos poucos para o telespectador. A narrativa é maravilhosa e o envolvimento tanto de quem está assistindo como os personagens que o rodeiam acabam convergindo na empatia que surge ao personagem de Sjöström. Tudo funciona, não há nada fora do lugar, é a vida despida de qualquer ilusão, um dos filmes mais verdadeiros da história do cinema. Todo momento me vinha a literatura de Philip Roth: "envelhecer não é uma batalha, é um massacre". Há dores que duram uma vida inteira.
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Unclenching the Fists
3.3 13 Assista AgoraVencedor do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. O filme me surpreendeu muito positivamente em vários aspectos, é impressionante como algumas histórias só podem ser contadas pelas mãos de uma diretora, o comportamento de todos os personagens masculinos se mostram tóxicos em algum momento, a personagem de Ada é uma graça, da vontade de cuidar dela, fugir com ela dali. A atuação da estreante Milana Aguzarova é impressionante e a melhor coisa do filme, no mais, o filme reflete muito os conflitos e traumas daquela região tão castigada com conflitos. O ataque com reféns na escola que o filme usa realmente aconteceu na região em 2004 e ainda é uma enorme sombra. A narrativa cria situações de tensão e alívio muito bem. Um filme bem acima da média para mim, com mais acertos que erros, me tocou.
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Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 803 Assista AgoraQue erro da Disney em matar o personagem título. O primeiro é meu segundo filme preferido da Marvel, esse aqui está muito abaixo. Letitia Wright não tem carisma nenhum para o personagem (comprar a personagem tecnológico dela sabendo de toda a postura anti-ciência da atriz torna tudo ainda mais difícil). Se fosse para ter um Pantera Negra feminino Lupita Nyong'o seria mil vezes uma opção mais acertada. De resto o filme é cheio de fórmulas prontas que não oferece absolutamente nada de novo. A cena inicial da Rainha metendo o loko na reunião da ONU foi o que mais valeu todo o filme. Outro ponto que merece ser dito é mostrar os EUA e outros países imperialistas como um perigo para Wakanda, finalmente um filme que mostra como esses países realmente são. De resto é a marmita de sempre, ver a Lupita Nyong'o em cena faz o coração bater mais rápido, pena que foi pouco aproveitada.
O Sacrifício
4.3 148Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes e o derradeiro canto do cisne de um dos maiores diretores de todos os tempos. Concordo quando dizem que é o filme mais "Bergman" do diretor russo, os paralelos são vários. Sempre prorroguei em assistir porque depois que o fizesse não teria mais nada de novo para ver do diretor, havia chegado a hora finalmente e sinto esse vazio existencial por vários motivos além do filme. O filme é brilhante, as mensagens são inúmeras. A morte, o vazio, a fé, o medo que permeava a humanidade nos anos 80 de uma guerra nuclear, está tudo aí na película. Nunca vou entender esse sentimento de "temos que salvar a humanidade", não consigo ver nenhum motivo para salvá-la, inclusive acho que já durou demais; então mesmo com essa dificuldade em entender os motivos o filme ainda teve muito a dialogar comigo, muito a refletir e a ponderar. Filme bom é assim!
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O Tesouro de Sierra Madre
4.4 169 Assista AgoraFilme que deu dois Oscars para John Huston (direção e roteiro) e um para seu pai Walter Huston (ator coadjuvante). O filme é muito bom, sem dúvida merece o título de clássico, a construção dos personagens e o desenrolar das coisas é muito bem conduzido. Achei alguns pontos do desfecho meio decepcionantes, mas a mensagem que fica sobre ganância e o individualismo fazem do filme necessário, até me espanta não terem perseguido o diretor como comunista na época. Bogart dá um show, coincidência é eu ter visto na semana em que morreu o controverso ator Robert Blake que aparece aqui em um de seus primeiros papéis como uma criança que vende bilhetes de loteria.
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O Cheiro do Papaia Verde
3.8 53Vencedor do Câmera de Ouro no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um filme falado em vietnamita, que se passa e com atores do Vietnã, mas rodado inteiro na França, ou seja, com uma certa visão eurocentrista. O diretor foi educado na França, portanto é complicado embarcar na sua visão do Vietnã. O que vale o filme é sua qualidade técnica e a graciosidade da atriz Man San Lu, que interpreta a atriz principal quando garotinha. Não da para comprar o discurso "Você era como uma filha para mim" da dona da casa que manteve a "filha de coração" em condição de serva morando em um quartinho mixuruca de empregada. A sequência final fica meio perdida, o salto de 10 anos não ajuda o filme que perde vários fios que estavam indo muito bem. Vale pelas cenas lindíssimas da fotografia mais do que qualquer outra coisa.
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O Cheiro do Ralo
3.7 1,1K Assista AgoraIndicado para o Festival de Sundance e ganhador de vários prêmios em festivais nacionais (Festival Internacional de São Paulo, Rio de Janeiro e Prêmio Guarani). Nunca tinha visto, sempre me falaram que eu lembro o Selton Mello neste filme, espero que seja mais de aparência, apesar de já ter me apaixonado por uma bunda. Ok, eu tenho um certo grau de excentricidade, mas o personagem é nojento demais e sei que passa longe de mim neste quesito. Dá raiva! Selton Mello brilha em vários momentos, mas acho que há outros que ele força demais e não funciona, fica meio falso. O filme é bem louco, típico do Mutarelli. Interessante ver que o diretor tem duas obras baseadas em histórias em quadrinhos na sua carreira, gostei mais deste filme, talvez porque não tenha lido. Tungstênio eu li e prefiro mais a HQ mesmo, apesar do trabalho sempre competente do diretor. Paula Braun está uma graça no filme, conquista todo mundo com ou sem a bunda. No geral, gostei bastante, mais pelo nível de ousadia do roteiro do que qualquer outra coisa. Não é algo que vemos com frequência em nenhum cinema mainstream.
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Em Trânsito
3.8 48 Assista AgoraIndicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Christian Petzold vem escalando posições entre meus diretores favoritos de todos os tempos e aqui ele consegue avançar mais algumas posições. Amei! A mistura entre uma história de filme de época filmada em um cenário contemporâneo só reforça o que venho gritando aos sete ventos que a Europa caminha de novo para o fascismo a passos largos. O filme se passa durante a Segunda Guerra tanto como pode se passar em uma Europa mais atual. Portanto a cenografia não importa e o diretor faz questão disso. As relações pessoais com o clima de desastre iminente regional são perfeitas e os atores abraçam a ideia muito bem. Ninguém quer ficar sozinho, ninguém quer ser abandonado, mas é um salve-se quem puder. "Quem esquece primeiro, o abandonado ou quem abandona?", aaaaaah, eu espero que quem abandona sofra bastante, me senti vingado. Obrigado Petzold, tirou um muro de concreto das minhas costas.
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RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
4.1 325 Assista AgoraPode não ter figurado entre os selecionados nos festivais de cinema de maior prestígio, mas com certeza figura entre os melhores filmes do ano. Quem me conhece sabe o nojo que eu tenho do imperialismo britânico (eu moro nessa ilha nojenta de lama), ver isso escancarado no filme é lindo demais, porque ele chegou a ser até pior do que mostrado em tela em países como Sudão e Quênia. Ver esses caras se fodendo é lindo demais e nesse nível de cinema que eu achei que havia morrido, foi melhor ainda. O cinema indiano dá uma aula para Hollywood com tudo aquilo que o cinema americano esqueceu: o filme tem mensagem, história, motivo, emoção, ação, aventura... e muito mais que eu não vou nem lembrar. Rajamouli conseguiu pegar tudo e colocar em um filme só, mas sem se perder. Acho que a grande lição que fica é a de amizade e da importância de se rebelar contra a opressão imperialista. Me espanta que tenha feito certo sucesso nos EUA, hoje, o país com o imperialismo mais sujo, sanguinário e nojento na face do planeta. Pena que o Netflix não tem a opção de ver com o áudio original, tive que usar outros meios para assistir. Que atores! Que direção! Que cinema!
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Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraÉ um drama adolescente, mas que carrega todo um diferencial pela competência de Greta Gerwig... é arrastado, pois parece durar mais do que dura, mas normal já que não sou mais um adolescente. Então não me prendeu tanto em alguns pontos típicos de qualquer drama desta faixa etária... porém há cenas lindíssimas. São essas cenas pontuais que carregam o filme, seja ela abraçando o ex chorando no fundo do trabalho, seja a difícil relação com a mãe (já conheci algumas mães malucas assim, inclusive tive uma sogra). O filme é bem acima da média no gênero que está, Saoirse Ronan convence muito mesmo não tendo a idade. Valeu a conferida no final.
O Anjo Azul
4.2 86 Assista AgoraÉ interessante notar que o filme reflete o declínio que vivia a própria Alemanha no pós Primeira Guerra Mundial, um país considerado próspero que acabou caindo em declínio frente aos outros europeus. Marlene Dietrich está fabulosa, arranca suspiros e merece toda a fama que suas cenas lhe trouxeram, mas não é ela que rouba o filme para si. Emil Jannings prova aqui que é um dos grandes nomes da história do cinema, sua atuação é catártica, impressionante de assistir. É interessante como a história, bem óbvia no quesito roteiro, consegue cativar mesmo assim... afinal ela avisou "se por acaso se queimam, não posso evitar".
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Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
4.0 218 Assista AgoraO filme venceu o Festival de Sundance e ganhou o Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim entre outros. O universo feminino pela lente da diretora é magistral e angustiante. Não tem como um homem fazer algo assim, os detalhes, as linhas que os personagens cruzam, as situações. Um filme que jamais poderia ser realizado por um homem. O silêncio me incomodou um pouco, afinal são duas primas adolescentes juntas e mais diálogos entre elas traria mais veracidade a película. Há cumplicidade, há uma ligação, muito amor entre elas, mas que achei desperdiçada pelo silêncio entre elas em alguns momentos. A cena do título é a melhor de todo o filme, maravilhosa! As atrizes dão um show a parte. Você fica querendo continuar acompanhando elas, mas o filme acaba. Não é fácil de assistir, incomoda. Filme super necessário.
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Os Famosos e os Duendes da Morte
3.7 670 Assista AgoraO filme teve uma certa badalação no meio cinematográfico nacional, ganhou prêmios nos festivais Guarani, SESC e do Rio de Janeiro. Queria ver desde que saiu, mas fui deixando. Achei que o filme tinha um potencial enorme que foi inteiramente desperdiçado na sala de edição, a montagem dele atrapalhou todo o desenrolar. Há cenas extremamente supérfluas que não contribuem em nada para a narrativa, dava para cortar uns vinte minutos quase: o momento de masturbação é patético, o encontro com os avós constrangedor. Você só vai entender o que está acontecendo quase uma hora depois de filme, o que atrapalha a conexão do espectador com o enredo. Uma das melhores cenas é a do rapaz bebendo vinho com a mãe, faltou explorar mais a relação ali. Enfim, no fim, ficou aquele sentimento de desperdício, de algo que poderia ter sido muito melhor. Não achei ruim, mas decepciona no geral por conta desse sentimento. Trilha sonora espetacular, mas com Dylan fica fácil.
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O Sétimo Selo
4.4 1,0KVencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Cannes, empatado com o filme Canal. Tinha assistido quando moleque e sempre figurou entre meus preferidos, ensaiava de rever fazia anos, continua tão bom quanto me lembro, mas não é mais o meu preferido do diretor (Prefiro o Através de um Espelho). Acho que chega a ser um dos filmes mais pop do diretor, de fácil digestão, porém com todos os elementos de um Bergman. Gunnar Björnstrand está melhor que qualquer um no elenco como o escudeiro Jöns, rouba a cena toda hora que aparece. O que vale, como em quase todos os filmes do diretor, são os diálogos no meio de ações mundanas, o cenário da peste e dos momentos clássicos do jogo de xadrez com a Morte são mero detalhes. Achei a personagem da Bibi Andersson meio perdida no meio da história, mas passa. A cena da inquisição com a bruxa ainda é a minha preferida. Filme obrigatório!
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Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraQuando adentrei a sessão de cinema em meados do ano de 1997 minha vida mudou completamente, o garoto menor de idade que saiu daquela sessão não era o mesmo que entrou praticamente plagiando o personagem principal. Hollywood com seu cinema pipoca morria ali para mim, minha busca por esse tipo de arte cinematográfica se tornou uma certa obsessão. Assisti umas duas vezes depois em VHS, mas fazia mais de 20 anos que não revisitava este filme. Para a minha surpresa é um outro filme, completamente diferente daquele que assisti em 1997. O filme interage de acordo com a vivência do telespectador e pode tomar formas diferentes de acordo com as experiências vividas. Hoje é muito mais um filme sobre aquele amor que dói, o ciúmes doentio que cresce e as mudanças que tudo isso trás na vida depois disso. A cena em que Patricia Arquette diz "Você nunca mais vai me ter" fez lágrimas brotarem nos meus olhos. Pura arte! Lynch é um gênio e nunca vou me cansar de dizer isso, o filme está muito melhor do que quando o assisti pela primeira vez e continua figurando entre meus favoritos. O ser misterioso, que gerava imensos debates como foco principal entre amigos naquela época, hoje é uma figura diminuída como a representação do 'ciúmes', sem interferir na magnanimidade que é o filme. Perfeito!
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O Inimigo do Povo
3.9 6 Assista AgoraOutro filme muito competente de Satyajit Ray, não decepciona. Sempre um crítico ferrenho da fé cega, o diretor volta a alfinetar a sociedade conservadora do seu país usando de uma maneira muito bem orquestrada a peça teatral do escritor norueguês adaptando para a Índia. O elenco é ótimo, Dhritiman Chatterjee interpreta um vilão bem canastrão como o irmão rico do doutor e que nunca troca de lenço. Mamata Shankar como a filha tira suspiros. Só achei que faltou maior embate entre o casal principal, já que ela aparentemente é uma pessoa religiosa e seu marido não, poderia ter tido diálogos excelentes daí. Assusta as coincidências com o mundo de hoje, parece que estagnamos lá atrás.
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A Casa e o Mundo
3.9 2Indicado a Palma de Ouro em Cannes, mas no ano do 'Paris, Texas' não tinha para ninguém. Adorei o filme, a dinâmica, a construção dos personagens, direção e condução. Talvez se estenda um pouco, mas no geral foi um dos melhores filmes do diretor que assisti. Me apaixonei pelo Nikhilesh, que maridão! Acho que as pessoas julgam meio mal o Sandip, não consigo enxergá-lo como um vilão, mas sim como um alienado hipócrita que não percebe que é raso e fútil. Bimala é o reflexo da opressão machista. Há tantas camadas no filme, que por mais que não dê para trabalhar tudo, está tudo lá de alguma maneira. Algumas coisas mais aparentes e outras não. O filme dá pano pra manga para se refletir sobre muita coisa, isso que é o grande acerto. Baseado na obra de Rabindranath Tagore, ganhador do Nobel de literatura. Recomendo muito! Interessante tentar entender o contexto da Índia pré Primeira Guerra Mundial.
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Kobanê
5.0 1Eu odeio a palavra "terrorismo", acho ela sempre muito mal utilizada, mas fica difícil classificar o ISIS como alguma outra coisa. Não quero deixar o comentário aqui como um texto político enaltecendo meu amor e ligações com Apo e o YPG, portanto vou tentar me ater a película. O filme, realizado até onde eu sei, em Rojava impressiona pela qualidade enorme, tanto técnica, elenco, efeitos, simplesmente tudo. Sabendo dos recursos mínimos que eles têm perto de uma produção americana, é simplesmente maravilhoso de assistir. Emociona e aquece o coração de qualquer um que acredita na revolução. Achei ótimo o desfecho enaltecendo a luta curda e desconstruindo a vitória sob condições da ajuda internacional aérea (que foi importante sim, mas veio tardia). Os olhos encheram de lágrimas nas cenas reais finais mostrando os companheiros martirizados e Heval Masîro que continua a luta. Um filme que se faz necessário para levar a luta curda, que eu considero a revolução mais importante em curso hoje no planeta, para as pessoas que a desconhecem. A virada começou logo ali, em Kobanê.
O filme foi colocado inteiro com legendas no YouTube por pessoas ligadas a organizações da luta curda
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Guardiões da Galáxia: Especial de Festas
3.5 169 Assista AgoraFraquinho, mas com alguns momentos que salvam. Já não sou muito de histórias natalinas, então sou suspeito pra falar. Tudo parece meio forçado, situações cômicas exageradas que não trazem nada de novo, há até momentos bobos que não funcionam muito bem. Esperava mais do James Gunn. Como algo mais focado em um público bem infantil parece funcionar melhor, comigo já não funcionou como os filmes. As cenas com Youndu são as melhores, mesmo que em desenho animado.