Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Wajda é sempre acima da média e aqui não é diferente. Hanna Schygulla carrega o filme nas costas, é uma bela interpretação, não à toa merece a fama que a precede. O comportamento dos personagens me incomodou bastante, afinal a mulher tem um filho pequeno que deveria ter alguma prioridade em sua vida, enquanto o polonês age que nem um idiota em determinado momento. Porém não podemos esquecer que se trata do Wajda, portanto o filme é muito mais profundo do que parece, pois tudo não passa de uma alegoria sobre sua Polônia em vários momentos do filme, com vários aspectos políticos entrelinhas. Interessante notar que mesmo sendo um filme feito na Alemanha, as raízes do diretor polonês se sobressaem mais. No final da sessão o que fica é bem mais do que satisfatório.
Um belo faroeste com tudo o que a gente pode querer ver neste tipo de filme. Último filme com a parceria entre John Wayne e George Heyes (o tiozinho bêbado que dirige a carroça), os dois atores eram grandes amigos na vida real. É um dos mais de vinte filmes em que Wayne contracena com Ward Bond, ou seja, tem vários elementos que fizeram de Wayne o ícone que ainda é. Mas nada disso funcionaria tão bem nesta película se não fosse Ella Raines, que mulher mais maravilhosa, rouba as cenas em que aparece e dá um baita peso para o filme. O roteiro é bem amarrado e consegue até trazer algumas surpresas no desfecho. Cumpre o que promete.
Um filme que engana muita gente, mas que achei bem ruinzinho. É um filme que teria que ter sido feito por alguém realmente revolucionário e principalmente dirigido por uma mulher, Vicente Aranda simplesmente não tinha ideia do que estava fazendo. É extremamente visível as raízes conservadoras da igreja permeando todo o filme, em nenhum momento há alguma análise ferrenha da mesma no campo ideológico do que foi a Guerra Civil Espanhola, sem contar o fato do diretor ter em seu currículo inúmeros filmes de objetificação feminina. Há até xenofobia na retratação dos árabes, tentando colocar para baixo do tapete o comportamento dos fascistas espanhóis de Franco. Tentar escancarar o apoio que o ditador teve na guerra de outros países europeus também passou bem longe. No final a mensagem que fica é tão estranha que não dá para ter certeza do que o diretor queria com o filme. Podiam mudar o título para "Um diretor em cima do muro". O filme podia ser muito melhor do que é, e eu simplesmente não entendo como muitos pró-revolucionários caem no papo furado dele. A linha narrativa pode até funcionar, você se envolve com alguns personagens, mas no geral o filme é um grande desserviço.
Um belo filme do Jeunet, mesmo não sendo perfeito como seus trabalhos anteriores (Ladrão de Sonhos e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) a história consegue nos conquistar. Todo o discurso anti empresas armamentistas é o que faz o filme valer mais a pena, mesmo com a visão eurocentrista que não consegue entender a diferença de um grupo terrorista para um grupo revolucionário (o I.R.A. é colocado no mesmo barco em um momento, por exemplo). O elenco funciona muito bem juntos e a parte técnica tem todas as particularidades que fez do diretor ser quem é. Achei que faltou mais articulação do personagem principal, poderia render diálogos melhores.
Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Excelente estreia de Panah Panahi, filho do já lendário diretor Jafar Panahi, parece que o talento na família transborda. Perdeu o prêmio em Cannes para o filme Murina, que por mais que eu tenha gostado bastante, achei inferior a este aqui. O elenco esbanja talento e quando você menos espera já está completamente imerso no filme. Rayan Sarlak, o garotinho, é de longe um dos maiores talentos mirins da atualidade. A única coisa que me incomodou um pouco foi que o irmão mais velho não foi tão bem aproveitado como todo o resto da família, existe um motivo para isso, mas achei que se ele tivesse seu "momento" o filme poderia ter sido ainda melhor. O filme acaba e você fica querendo acompanhar os personagens por muito mais tempo. A direção técnica também é muito acima da média para um estreante, tudo é conduzido em um nível profissional que impressiona. Eu simplesmente amei!
O filme diverte e tem seus momentos, mas acho que o que mais peca é que não é um filme memorável do diretor. Até os seus filmes menores ficam na minha mente por dias, faz a gente pensar e degustar o filme mesmo muito tempo depois de ter assistido, este parece que não tem essa qualidade, duas semanas depois você já não recorda de alguns detalhes. Mas como eu disse, é divertido (adoro as comédias do Bergman) e tem toda uma crítica por trás das situações absurdas que vão sendo construídas e amaranhadas de um jeito que só o diretor sabia fazer. Me parece que entre as obras existencialistas profundas ele sabia se divertir para aliviar o estresse.
Outro indicado ao Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Confesso que nunca assisti a um filme do Ozon, foi meu primeiro. Disseram que é um filme bem abaixo da média do diretor. Achei um bom filme, quando o romance engrena me convenceu mais do que ao Me Chame Pelo Seu Nome, porém antes de engrenar é meio estranho. O personagem David, interpretado por Benjamin Voisin, é muito creepy, parecia mais um personagem saído de um filme de terror. Achei a condução boa até certo ponto, há alguns anticlímax que não funcionam e no final alguns pontos eu achei meio bobo. Mas o que mais importa para mim é que foi uma película gostosa de assistir na maior parte do tempo e na média achei um bom filme. O ator principal, Félix Lefebvre, é um dos pontos altos do filme, convence.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme tem um forte tom nacionalista e segue uma certa linha ideológica contra a emigração para fora do país que o Líbano sempre sofre em tempos de crise, porém, não vi nada exagerado sendo contado. Eu mesmo vivendo como imigrante fora do meu país vejo muitas das coisas que o pai se refere em certo ponto, sair de seu próprio país está longe de ser uma solução fácil, infelizmente é um risco que temos que correr. O diretor consegue exaltar pontos culturais e contar uma história simples e interessante de uma forma bem direta, e de quebra ainda nos envolver com os personagens. Acho que o mais interessante aqui é vermos referências ao Brasil, para nós, brasileiros. É sabido que muitos libaneses enriqueceram por aqui, mas será que eram camponeses sem nada ou esses "Maluf's" da vida que já chegaram abastados? Um filme muito bom, que não envelheceu mal e ainda é muito relevante ao debate que propõe.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não da para dizer que é um filme fácil, muito menos que seja para qualquer tipo de público, mas achei que para o que o filme se propõe a fazer foi ótimo. O elenco é um primor, o diretor é excelente e a história conforme vai sendo contada é envolvente. Não tinha ideia de nada sobre a vida do compositor e depois de assistir ao filme fui dar uma pesquisada e pude notar que o filme é extremamente fiel a biografia deles segundo pesquisadores. Alguns momentos podem parecer apressados, mas o filme abrange um período onde muita coisa aconteceu, gostei que a película é focada nela, o compositor é um importante coadjuvante. Alyona Mikhailova merecia ser mais aclamada pelo papel. Acho tão enfadonho pessoas reclamando de cenas de nudez masculina enquanto se fosse feminina iriam normalizar. A cena experimental da sequência final é de tirar o fôlego de tão linda. A nota nos créditos que dizem que eles nunca mais se encontraram depois da separação não condiz com algumas pesquisas que dizem que eles se viram sim, para o desgosto de Tchaikovsky, pouquíssimas vezes. Adorei!
O filme funciona, mas apenas como uma peça de ficção. Não que algo parecido não possa ter acontecido, o cérebro consegue trabalhar como mostrado no filme, inclusive muitos contadores de cartas que tentam burlar cassinos trabalham de forma parecida, mas esta história jamais poderia ter acontecido com o idioma farsi e explico porque. Em 1936 Hitler declarou os persas imunes as Leis de Nuremberg por serem considerados arianos puros, pesquiso a relação de Hitler com os persas já há alguns anos e moro na cidade em que Abdol Hossein Sardari viveu seus últimos anos e veio a falecer. Sardari era consul iraniano em Paris em 1942, que além de brigar pela liberação de muitos judeus persas concedeu o passaporte persa de forma ilegal para outros judeus salvando um incalculável número de pessoas, foi homenageado por várias associações judaicas. Achei que o filme era sobre um homem tentando provar que era persa para ser liberado, mas para a minha surpresa não era bem isso. O elenco está muito bem e apesar do filme se estender demais é muito interessante como constrói toda a sua narrativa. A direção é estupenda e a construção do idioma é fabulosa. Engraçado como há algumas palavras reais, como "anta" que ele diz que é "mãe", e que no árabe significa "você" usado na forma masculina. O final emociona. O idiota que traduziu este título para o português deve ser o mesmo do Vida de Campeã, né? Só pode! "Lições Persas", como o original, era um título muito melhor.
Filme que fecha a famosa Trilogia do Silêncio de Bergman, Segunda vez que assisto e me surpreendi de não ter escrito um texto quando vi pela primeira vez, talvez pela complexidade. Também acho o mais fraco dos três, mas os outros dois são simplesmente perfeitos, então fica difícil querer comparar. Este é um filme muito bom para o que Bergman se propõe a fazer, o problema é que a narrativa não ajuda, deixando o filme meio difícil de assistir e arrastado, porém a construção das personagens são estratosfericamente das coisas mais perfeitas em toda a filmografia do diretor. Ester tem claramente problemas mentais que vão desde o controle que quer exercer na irmã e ao ciúmes incestuoso que sente por ela. Isso tudo provavelmente fragmentou Anna que explode em um comportamento caótico. Não reconheci o fantástico Birger Malmsten que volta aqui a trabalhar com o diretor. A parte técnica eu nem preciso falar, é Bergman, então é fantástica de se assistir. Há inúmeras camadas e dá para ficar percebendo coisas e mais coisas em entrelinhas, acho que o filme deveria se chamar "Incompreensão" e não "O Silêncio". Gunnel Lindblom finalmente ganha um papel onde pode brilhar.
Reassisti depois de muitos anos e posso dizer que continua muito bom sim, lógico que o filme peca em efeitos (na época em que foi lançado já pecava), obviamente é um filme com um baixo orçamento já para a época e os caras conseguiram entregar um filme bem legal com o pouco que tinham e fez um certo sucesso. O elenco é excelente e a menina depois que fica possuída dá um show. Talvez aja cenas teatrais demais, mas que apesar disso funcionam bem até. Me diverti de novo, o filme consegue entregar entretenimento, não tem nenhuma pretenção de ser muito mais que isso.
Um dos indicados em nova direção no nosso Festival de São Paulo, apesar do diretor já ter realizado o filme Lina em 2017. Achei o filme muito bom, claramente filmado com recursos bem limitados no Afeganistão e que consegue, brincando com a não linearidade do roteiro, contar uma história coesa com uma narrativa bem agradável de ir acompanhando. Quando termina você quer mais, quer acompanhar coisas que ficam no ar, chega a se preocupar com personagens. Daí me acendeu um alerta: comecei a me preocupar com os atores que o realizaram depois da retomada do país pelas forças do Talibã. A película, em linhas gerais, pode parecer que não tem nada demais, mas o brilhantismo está nas entrelinhas, é preciso estar atento. A cena maravilhosa em que a lindíssima Atefeh Amini, que interpreta a professora, está lendo um livro do Gabriel García Marquez fiquei curioso em descobrir qual era, mas as letras em alfabeto árabe estão muito pequenas e não consegui ler.
Gostei do filme em linhas gerais, acho que há muitas coisas que poderiam ter um desenvolvimento melhor, principalmente a figura do pai, mas também a do irmão e do tio que achei personagens bem interessantes. É gostoso de acompanhar como o diretor resolve contar sua história em um ritmo meio quebrado, delicado e com várias situações que servem de anticlímax. Definitivamente não é um filme para todo mundo, tem um ritmo bem diferente. Fiquei muito interessado em acompanhar outros trabalhos do diretor. Waiyee Rivera, a atriz principal, leva o filme muito bem em um protagonismo que pareceu-me exigir bastante dela. O reflexo do mundo pós-pandêmico é bem evidenciado aqui, mas no mundo real parece que já nem existiu.
Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Achei o filme todo errado, há os pontos interessantes, parece que vai para um lado, daí para outro e no fim fica completamente perdido. Antonio Pitanga está excelente, há cenas maravilhosas e Ana Flávia Cavalcanti está deslumbrante e é isso. A personagem Jennifer parece que vai dar o gás que o filme precisava, mas acaba não servindo para absolutamente nada, parece ter sido colocada ali por puro enfeite. O filme cai naquilo que odiei do filme Coringa, por exemplo, será que qualquer coisa se justifica pela degradação social? Fazer mal a uma criança, sem entrar em detalhes de que era um filha da puta, mas era uma criança... se justifica? Daí o filme também tenta justificar o racismo dos sulistas? (já que a figura que eles descarregam seu ódio se prega a fazer tudo aquilo que eles temem). Tem horas que o filme realmente parece que vai engrenar, mas não engrena. Achei bem decepcionante. Há cenas descartáveis, outras muito subaproveitadas na narrativa e ainda outras deslumbrantes. Um filme com um enorme potencial desperdiçado na minha opinião.
Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atuação para Maren Eggert no Festival de Berlim. Adorei o filme, estava com a expectativa lá embaixo, mas me surpreendeu bastante positivamente. As questões que levantam são ótimas e mesmo o desfecho tendo uma excelente escolha de lado, é possível defender um outro. O filme me remeteu bastante ao episódio 9 da segunda temporada de Star Trek: A Nova Geração intitulado The Measure Of A Man onde há uma discussão se o androide Data é um ser vivo. Os seres humanos também não são controlados por algoritmos que nosso cérebro vai processando através de nossas experiências? Porque que com uma IA seria diferente? Dá muito pano para a manga. A dupla principal está excelente e a direção não deixa a peteca cair, pois é leve e gostoso de assistir como uma comédia romântica que não precisa cair em clichês e ser vazia. Achei um filme extremamente importante e atual devido as discussões recentes sobre inteligência artificial.
Era um dos filmes selecionados em Cannes no ano que o Festival não aconteceu devido a pandemia. Achei o filme maravilhoso, a personagem é mais profunda do que as piscinas em que costuma nadar, onde as reflexões vão muito além do esporte. Katerine Svard convence muito como Nadia, apesar de não ser atriz e ter vários paralelos com a personagem, não se enganem, pois ela não está interpretando ela mesma (Savard também ganhou uma medalha de bronze no revezamento assim como no filme, mas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ao contrário da personagem, ela não está aposentada, participou das Olimpíadas em Tóquio ficando em 4º lugar em uma das três provas que participou e nesta semana que escrevo este texto ela iniciou a preparação olímpica para Paris em 2024). O mais legal do filme é que as Olimpíadas de Tóquio ficou quase uma versão de realidade paralela, já que o filme foi feito sem saber que iria ocorrer uma pandemia, o que deu um toque maravilhoso para o filme. Achei a direção muito competente, o filme flui, e vou falar de novo que Savard brilha. Me emocionei bastante. Fico pensando quem foi o idiota que tinha o título "Nadia, Borboleta" na mesa que dá um enorme significado para o filme, já que os dilemas da personagem a coloca em uma espécie de casulo de maturação para tentar se desenvolver em algo mais além do esporte, daí o imbecil pensa que "Vida de Campeã" é um título melhor.
Mais um filme feito para a televisão por Bergman, confesso que não caiu muito no meu gosto. Achei que o filme se estendeu demais, acaba dispersando a atenção devido a linha narrativa mais experimental. Ingrid Thulin e Uno Henning estão muito bem em suas atuações e são os principais motivos que mantive o interesse. As partes com o advogado eu achei meio chata, mas como tudo que o Bergman toca é cheio de significados. Mesmo eu não tendo gostado muito há elementos muito bons que vale a pena. De resto achei tudo muito regular mesmo, muito abaixo do que o Bergman vinha produzindo nesta época. Nunca li nenhuma peça do Strindberg, então não posso fazer nenhuma comparação neste sentido com a adaptação, mas é interessante que mesmo que não tenha me prendido tanto eu fiquei com uma curiosidade em ler o material original.
Primeira coisa a se pensar é que é um filme da Barbie, americano e de Hollywood... se você for assistir pensando que é um filme cult de cinema arte é lógico que você vai reclamar. Greta Gerwig mostra aqui porque ela é uma das maiores dentro do mercado americano, o filme é excelente, não se leva a sério quando não é para se levar e trás um monte de reflexão (coisa que o cinema comercial de Hollywood não fazia faz um certo tempo). O filme funciona inteiramente bem, é lúdico, não é a toa que está fazendo um sucesso com meninas crianças e adultas. Precisamos de muito mais filmes assim, onde a mulher é empoderada e não mero enfeite em franquias chatas de testosterona. Toda a referência da diretora, o elenco e as críticas bem construídas tanto em relação ao machismo quanto ao capitalismo (vale lembrar que Hollywood vive a maior greve cinematográfica de décadas) estão perfeitas. Eu amei!
Um dos únicos filme com um prêmio no Festival de Cannes de 2020 que foi cancelado por conta da pandemia, recebeu o prêmio da Gan Foundation para distribuição do filme. A película é muito boa, e mesmo tendo algumas situações que extrapolam demais a realidade, é tudo feito em um ritmo muito bom, com um desenvolvimento da história de uma maneira que prende a gente. O que mais chama a atenção no filme não é parte técnica ou a história em si, mas a entrega da atriz Joanna Scanlan, impressiona, faz com que a história que está sendo contada ganhe uma vida, uma realidade e uma força muito grande. Um filme de detalhes, que mexe em sentimentos internos, que pode até passar batido para muita gente, mas tem alma.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor de outros dois prêmios em competições paralelas. Primeiro filme de um dos maiores diretores de todos os tempos, que demorou três anos por falta de recursos. O filme é muito bom, apesar de ter momentos arrastados e achar que podia ser um pouco mais curto, O diretor foi fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano. Chunibala Devi, que interpreta a velinha, é de uma simpatia maravilhosa e veio a falecer no mesmo ano de lançamento do filme, mas é Uma Das Gupta que rouba a cena com seu papel de Durga: o filme é dela. Apu pode vir a se tornar o protagonista da trilogia, mas este é um filme focado em sua irmã e é assim que funciona. A raiva que dá de ver uma sociedade machista patriarcal ferrando a família é grande. O desfecho é meio apressado, mas a experiência final faz o filme valer a pena.
Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Prêmio entregue pelo European Film Promotion para a atriz Judith State no Festival de Berlim. Que filmaço! Para quem, como eu, vive uma situação de vida de emigrante na Europa não tem como não se identificar com algo. Racismo, xenofobia, preconceito, ignorância... enfim, um retrato perfeito da Europa inteira de uma maneira macro se utilizando de uma vila na Romênia de uma maneira micro. A hipocrisia reina e o futuro é de fácil vislumbre como a visão da criança andando na floresta. Um dos meus melhores amigos no trabalho é cingalês e foi revoltante algumas cenas como só um diretor competente poderia fazer. A atriz premiada em Berlim entrega muito no papel. O desfecho é tão estranho que deixa a gente pensando semanas depois... fiquei fazendo um paralelo entre os Sem Ursos do Panahi já que esse é com ursos, hahahahahaha, mas é interessante pensar nos governos falidos que nos controlam e nas visões que ambos os filmes nos dão sobre isso.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Audiard nunca decepciona e aqui não é diferente, talvez o seu filme mais simples e cotidiano em muitos aspectos, mas que funciona absurdamente bem. Não há como não se identificar com alguma coisa e a construção dos personagens é fantástica. Há todo um aspecto psicológico por trás de cada um deles que permanece oculto como em um iceberg durante todo o filme. Eu sou apaixonado pela Noémie Merlant, então sou suspeito para falar qualquer coisa dela, mas a Lucie Zhang consegue roubar todas as cenas em que aparece e é uma graça. Tive raiva do personagem masculino em alguns momentos, mas homem é assim, né? A nota subiu um pouquinho com o final fofo que entrega, eu adorei! Fiquei curioso em ler a história em quadrinhos em que é baseado, já está no meu carrinho de compras.
Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que nunca aconteceu devido a Pandemia. Para mim, definitivamente, não funcionou. O personagem é chato, o fato de ser irresponsável e infantil nem conta tanto... o cara é um baita de um chato mesmo. O filme por ser meio autobiográfico do diretor já faz eu torcer o nariz para ele. Há cenas que funcionam, a parte técnica tem uma altíssima qualidade e o filme é assistível somente por isso. A relação entre ele e a namorada e ir percebendo o quanto ele é babaca prende o telespectador assim como os momentos "roadie movie", mas para por aí. O restante do filme simplesmente não vai para lugar nenhum... é um tremendo limbo. No fim, de um modo geral, não vale a pena a assistida. Preciso comentar que o cara tem o pior penteado que eu já vi na vida.
Um Amor na Alemanha
3.4 4Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Wajda é sempre acima da média e aqui não é diferente. Hanna Schygulla carrega o filme nas costas, é uma bela interpretação, não à toa merece a fama que a precede. O comportamento dos personagens me incomodou bastante, afinal a mulher tem um filho pequeno que deveria ter alguma prioridade em sua vida, enquanto o polonês age que nem um idiota em determinado momento. Porém não podemos esquecer que se trata do Wajda, portanto o filme é muito mais profundo do que parece, pois tudo não passa de uma alegoria sobre sua Polônia em vários momentos do filme, com vários aspectos políticos entrelinhas. Interessante notar que mesmo sendo um filme feito na Alemanha, as raízes do diretor polonês se sobressaem mais. No final da sessão o que fica é bem mais do que satisfatório.
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Adorável Inimiga
3.7 2Um belo faroeste com tudo o que a gente pode querer ver neste tipo de filme. Último filme com a parceria entre John Wayne e George Heyes (o tiozinho bêbado que dirige a carroça), os dois atores eram grandes amigos na vida real. É um dos mais de vinte filmes em que Wayne contracena com Ward Bond, ou seja, tem vários elementos que fizeram de Wayne o ícone que ainda é. Mas nada disso funcionaria tão bem nesta película se não fosse Ella Raines, que mulher mais maravilhosa, rouba as cenas em que aparece e dá um baita peso para o filme. O roteiro é bem amarrado e consegue até trazer algumas surpresas no desfecho. Cumpre o que promete.
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Libertárias
4.1 28Um filme que engana muita gente, mas que achei bem ruinzinho. É um filme que teria que ter sido feito por alguém realmente revolucionário e principalmente dirigido por uma mulher, Vicente Aranda simplesmente não tinha ideia do que estava fazendo. É extremamente visível as raízes conservadoras da igreja permeando todo o filme, em nenhum momento há alguma análise ferrenha da mesma no campo ideológico do que foi a Guerra Civil Espanhola, sem contar o fato do diretor ter em seu currículo inúmeros filmes de objetificação feminina. Há até xenofobia na retratação dos árabes, tentando colocar para baixo do tapete o comportamento dos fascistas espanhóis de Franco. Tentar escancarar o apoio que o ditador teve na guerra de outros países europeus também passou bem longe. No final a mensagem que fica é tão estranha que não dá para ter certeza do que o diretor queria com o filme. Podiam mudar o título para "Um diretor em cima do muro". O filme podia ser muito melhor do que é, e eu simplesmente não entendo como muitos pró-revolucionários caem no papo furado dele. A linha narrativa pode até funcionar, você se envolve com alguns personagens, mas no geral o filme é um grande desserviço.
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MicMacs - Um Plano Complicado
3.9 161 Assista AgoraUm belo filme do Jeunet, mesmo não sendo perfeito como seus trabalhos anteriores (Ladrão de Sonhos e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) a história consegue nos conquistar. Todo o discurso anti empresas armamentistas é o que faz o filme valer mais a pena, mesmo com a visão eurocentrista que não consegue entender a diferença de um grupo terrorista para um grupo revolucionário (o I.R.A. é colocado no mesmo barco em um momento, por exemplo). O elenco funciona muito bem juntos e a parte técnica tem todas as particularidades que fez do diretor ser quem é. Achei que faltou mais articulação do personagem principal, poderia render diálogos melhores.
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Pegando a Estrada
3.9 13Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Excelente estreia de Panah Panahi, filho do já lendário diretor Jafar Panahi, parece que o talento na família transborda. Perdeu o prêmio em Cannes para o filme Murina, que por mais que eu tenha gostado bastante, achei inferior a este aqui. O elenco esbanja talento e quando você menos espera já está completamente imerso no filme. Rayan Sarlak, o garotinho, é de longe um dos maiores talentos mirins da atualidade. A única coisa que me incomodou um pouco foi que o irmão mais velho não foi tão bem aproveitado como todo o resto da família, existe um motivo para isso, mas achei que se ele tivesse seu "momento" o filme poderia ter sido ainda melhor. O filme acaba e você fica querendo acompanhar os personagens por muito mais tempo. A direção técnica também é muito acima da média para um estreante, tudo é conduzido em um nível profissional que impressiona. Eu simplesmente amei!
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Para Não Falar de Todas Essas Mulheres
3.5 34O filme diverte e tem seus momentos, mas acho que o que mais peca é que não é um filme memorável do diretor. Até os seus filmes menores ficam na minha mente por dias, faz a gente pensar e degustar o filme mesmo muito tempo depois de ter assistido, este parece que não tem essa qualidade, duas semanas depois você já não recorda de alguns detalhes. Mas como eu disse, é divertido (adoro as comédias do Bergman) e tem toda uma crítica por trás das situações absurdas que vão sendo construídas e amaranhadas de um jeito que só o diretor sabia fazer. Me parece que entre as obras existencialistas profundas ele sabia se divertir para aliviar o estresse.
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Verão de 85
3.5 173 Assista AgoraOutro indicado ao Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Confesso que nunca assisti a um filme do Ozon, foi meu primeiro. Disseram que é um filme bem abaixo da média do diretor. Achei um bom filme, quando o romance engrena me convenceu mais do que ao Me Chame Pelo Seu Nome, porém antes de engrenar é meio estranho. O personagem David, interpretado por Benjamin Voisin, é muito creepy, parecia mais um personagem saído de um filme de terror. Achei a condução boa até certo ponto, há alguns anticlímax que não funcionam e no final alguns pontos eu achei meio bobo. Mas o que mais importa para mim é que foi uma película gostosa de assistir na maior parte do tempo e na média achei um bom filme. O ator principal, Félix Lefebvre, é um dos pontos altos do filme, convence.
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Para Onde Ir?
3.5 3Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme tem um forte tom nacionalista e segue uma certa linha ideológica contra a emigração para fora do país que o Líbano sempre sofre em tempos de crise, porém, não vi nada exagerado sendo contado. Eu mesmo vivendo como imigrante fora do meu país vejo muitas das coisas que o pai se refere em certo ponto, sair de seu próprio país está longe de ser uma solução fácil, infelizmente é um risco que temos que correr. O diretor consegue exaltar pontos culturais e contar uma história simples e interessante de uma forma bem direta, e de quebra ainda nos envolver com os personagens. Acho que o mais interessante aqui é vermos referências ao Brasil, para nós, brasileiros. É sabido que muitos libaneses enriqueceram por aqui, mas será que eram camponeses sem nada ou esses "Maluf's" da vida que já chegaram abastados? Um filme muito bom, que não envelheceu mal e ainda é muito relevante ao debate que propõe.
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A Esposa de Tchaikovsky
3.5 20Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não da para dizer que é um filme fácil, muito menos que seja para qualquer tipo de público, mas achei que para o que o filme se propõe a fazer foi ótimo. O elenco é um primor, o diretor é excelente e a história conforme vai sendo contada é envolvente. Não tinha ideia de nada sobre a vida do compositor e depois de assistir ao filme fui dar uma pesquisada e pude notar que o filme é extremamente fiel a biografia deles segundo pesquisadores. Alguns momentos podem parecer apressados, mas o filme abrange um período onde muita coisa aconteceu, gostei que a película é focada nela, o compositor é um importante coadjuvante. Alyona Mikhailova merecia ser mais aclamada pelo papel. Acho tão enfadonho pessoas reclamando de cenas de nudez masculina enquanto se fosse feminina iriam normalizar. A cena experimental da sequência final é de tirar o fôlego de tão linda. A nota nos créditos que dizem que eles nunca mais se encontraram depois da separação não condiz com algumas pesquisas que dizem que eles se viram sim, para o desgosto de Tchaikovsky, pouquíssimas vezes. Adorei!
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Uma Lição de Esperança
3.8 20 Assista AgoraO filme funciona, mas apenas como uma peça de ficção. Não que algo parecido não possa ter acontecido, o cérebro consegue trabalhar como mostrado no filme, inclusive muitos contadores de cartas que tentam burlar cassinos trabalham de forma parecida, mas esta história jamais poderia ter acontecido com o idioma farsi e explico porque. Em 1936 Hitler declarou os persas imunes as Leis de Nuremberg por serem considerados arianos puros, pesquiso a relação de Hitler com os persas já há alguns anos e moro na cidade em que Abdol Hossein Sardari viveu seus últimos anos e veio a falecer. Sardari era consul iraniano em Paris em 1942, que além de brigar pela liberação de muitos judeus persas concedeu o passaporte persa de forma ilegal para outros judeus salvando um incalculável número de pessoas, foi homenageado por várias associações judaicas. Achei que o filme era sobre um homem tentando provar que era persa para ser liberado, mas para a minha surpresa não era bem isso. O elenco está muito bem e apesar do filme se estender demais é muito interessante como constrói toda a sua narrativa. A direção é estupenda e a construção do idioma é fabulosa. Engraçado como há algumas palavras reais, como "anta" que ele diz que é "mãe", e que no árabe significa "você" usado na forma masculina. O final emociona. O idiota que traduziu este título para o português deve ser o mesmo do Vida de Campeã, né? Só pode! "Lições Persas", como o original, era um título muito melhor.
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O Silêncio
4.1 110Filme que fecha a famosa Trilogia do Silêncio de Bergman, Segunda vez que assisto e me surpreendi de não ter escrito um texto quando vi pela primeira vez, talvez pela complexidade. Também acho o mais fraco dos três, mas os outros dois são simplesmente perfeitos, então fica difícil querer comparar. Este é um filme muito bom para o que Bergman se propõe a fazer, o problema é que a narrativa não ajuda, deixando o filme meio difícil de assistir e arrastado, porém a construção das personagens são estratosfericamente das coisas mais perfeitas em toda a filmografia do diretor. Ester tem claramente problemas mentais que vão desde o controle que quer exercer na irmã e ao ciúmes incestuoso que sente por ela. Isso tudo provavelmente fragmentou Anna que explode em um comportamento caótico. Não reconheci o fantástico Birger Malmsten que volta aqui a trabalhar com o diretor. A parte técnica eu nem preciso falar, é Bergman, então é fantástica de se assistir. Há inúmeras camadas e dá para ficar percebendo coisas e mais coisas em entrelinhas, acho que o filme deveria se chamar "Incompreensão" e não "O Silêncio". Gunnel Lindblom finalmente ganha um papel onde pode brilhar.
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Anjos Rebeldes
3.6 174Reassisti depois de muitos anos e posso dizer que continua muito bom sim, lógico que o filme peca em efeitos (na época em que foi lançado já pecava), obviamente é um filme com um baixo orçamento já para a época e os caras conseguiram entregar um filme bem legal com o pouco que tinham e fez um certo sucesso. O elenco é excelente e a menina depois que fica possuída dá um show. Talvez aja cenas teatrais demais, mas que apesar disso funcionam bem até. Me diverti de novo, o filme consegue entregar entretenimento, não tem nenhuma pretenção de ser muito mais que isso.
The Dogs Didn't Sleep Last Night
3.1 2Um dos indicados em nova direção no nosso Festival de São Paulo, apesar do diretor já ter realizado o filme Lina em 2017. Achei o filme muito bom, claramente filmado com recursos bem limitados no Afeganistão e que consegue, brincando com a não linearidade do roteiro, contar uma história coesa com uma narrativa bem agradável de ir acompanhando. Quando termina você quer mais, quer acompanhar coisas que ficam no ar, chega a se preocupar com personagens. Daí me acendeu um alerta: comecei a me preocupar com os atores que o realizaram depois da retomada do país pelas forças do Talibã. A película, em linhas gerais, pode parecer que não tem nada demais, mas o brilhantismo está nas entrelinhas, é preciso estar atento. A cena maravilhosa em que a lindíssima Atefeh Amini, que interpreta a professora, está lendo um livro do Gabriel García Marquez fiquei curioso em descobrir qual era, mas as letras em alfabeto árabe estão muito pequenas e não consegui ler.
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O Neon Através do Oceano
3.3 2Gostei do filme em linhas gerais, acho que há muitas coisas que poderiam ter um desenvolvimento melhor, principalmente a figura do pai, mas também a do irmão e do tio que achei personagens bem interessantes. É gostoso de acompanhar como o diretor resolve contar sua história em um ritmo meio quebrado, delicado e com várias situações que servem de anticlímax. Definitivamente não é um filme para todo mundo, tem um ritmo bem diferente. Fiquei muito interessado em acompanhar outros trabalhos do diretor. Waiyee Rivera, a atriz principal, leva o filme muito bem em um protagonismo que pareceu-me exigir bastante dela. O reflexo do mundo pós-pandêmico é bem evidenciado aqui, mas no mundo real parece que já nem existiu.
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Casa de Antiguidades
3.1 30Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Achei o filme todo errado, há os pontos interessantes, parece que vai para um lado, daí para outro e no fim fica completamente perdido. Antonio Pitanga está excelente, há cenas maravilhosas e Ana Flávia Cavalcanti está deslumbrante e é isso. A personagem Jennifer parece que vai dar o gás que o filme precisava, mas acaba não servindo para absolutamente nada, parece ter sido colocada ali por puro enfeite. O filme cai naquilo que odiei do filme Coringa, por exemplo, será que qualquer coisa se justifica pela degradação social? Fazer mal a uma criança, sem entrar em detalhes de que era um filha da puta, mas era uma criança... se justifica? Daí o filme também tenta justificar o racismo dos sulistas? (já que a figura que eles descarregam seu ódio se prega a fazer tudo aquilo que eles temem). Tem horas que o filme realmente parece que vai engrenar, mas não engrena. Achei bem decepcionante. Há cenas descartáveis, outras muito subaproveitadas na narrativa e ainda outras deslumbrantes. Um filme com um enorme potencial desperdiçado na minha opinião.
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O Homem Ideal
3.6 72Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atuação para Maren Eggert no Festival de Berlim. Adorei o filme, estava com a expectativa lá embaixo, mas me surpreendeu bastante positivamente. As questões que levantam são ótimas e mesmo o desfecho tendo uma excelente escolha de lado, é possível defender um outro. O filme me remeteu bastante ao episódio 9 da segunda temporada de Star Trek: A Nova Geração intitulado The Measure Of A Man onde há uma discussão se o androide Data é um ser vivo. Os seres humanos também não são controlados por algoritmos que nosso cérebro vai processando através de nossas experiências? Porque que com uma IA seria diferente? Dá muito pano para a manga. A dupla principal está excelente e a direção não deixa a peteca cair, pois é leve e gostoso de assistir como uma comédia romântica que não precisa cair em clichês e ser vazia. Achei um filme extremamente importante e atual devido as discussões recentes sobre inteligência artificial.
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Vida de Campeã
3.3 9 Assista AgoraEra um dos filmes selecionados em Cannes no ano que o Festival não aconteceu devido a pandemia. Achei o filme maravilhoso, a personagem é mais profunda do que as piscinas em que costuma nadar, onde as reflexões vão muito além do esporte. Katerine Svard convence muito como Nadia, apesar de não ser atriz e ter vários paralelos com a personagem, não se enganem, pois ela não está interpretando ela mesma (Savard também ganhou uma medalha de bronze no revezamento assim como no filme, mas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ao contrário da personagem, ela não está aposentada, participou das Olimpíadas em Tóquio ficando em 4º lugar em uma das três provas que participou e nesta semana que escrevo este texto ela iniciou a preparação olímpica para Paris em 2024). O mais legal do filme é que as Olimpíadas de Tóquio ficou quase uma versão de realidade paralela, já que o filme foi feito sem saber que iria ocorrer uma pandemia, o que deu um toque maravilhoso para o filme. Achei a direção muito competente, o filme flui, e vou falar de novo que Savard brilha. Me emocionei bastante. Fico pensando quem foi o idiota que tinha o título "Nadia, Borboleta" na mesa que dá um enorme significado para o filme, já que os dilemas da personagem a coloca em uma espécie de casulo de maturação para tentar se desenvolver em algo mais além do esporte, daí o imbecil pensa que "Vida de Campeã" é um título melhor.
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A Dream Play
3.6 5Mais um filme feito para a televisão por Bergman, confesso que não caiu muito no meu gosto. Achei que o filme se estendeu demais, acaba dispersando a atenção devido a linha narrativa mais experimental. Ingrid Thulin e Uno Henning estão muito bem em suas atuações e são os principais motivos que mantive o interesse. As partes com o advogado eu achei meio chata, mas como tudo que o Bergman toca é cheio de significados. Mesmo eu não tendo gostado muito há elementos muito bons que vale a pena. De resto achei tudo muito regular mesmo, muito abaixo do que o Bergman vinha produzindo nesta época. Nunca li nenhuma peça do Strindberg, então não posso fazer nenhuma comparação neste sentido com a adaptação, mas é interessante que mesmo que não tenha me prendido tanto eu fiquei com uma curiosidade em ler o material original.
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Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraPrimeira coisa a se pensar é que é um filme da Barbie, americano e de Hollywood... se você for assistir pensando que é um filme cult de cinema arte é lógico que você vai reclamar. Greta Gerwig mostra aqui porque ela é uma das maiores dentro do mercado americano, o filme é excelente, não se leva a sério quando não é para se levar e trás um monte de reflexão (coisa que o cinema comercial de Hollywood não fazia faz um certo tempo). O filme funciona inteiramente bem, é lúdico, não é a toa que está fazendo um sucesso com meninas crianças e adultas. Precisamos de muito mais filmes assim, onde a mulher é empoderada e não mero enfeite em franquias chatas de testosterona. Toda a referência da diretora, o elenco e as críticas bem construídas tanto em relação ao machismo quanto ao capitalismo (vale lembrar que Hollywood vive a maior greve cinematográfica de décadas) estão perfeitas. Eu amei!
After Love
3.9 11Um dos únicos filme com um prêmio no Festival de Cannes de 2020 que foi cancelado por conta da pandemia, recebeu o prêmio da Gan Foundation para distribuição do filme. A película é muito boa, e mesmo tendo algumas situações que extrapolam demais a realidade, é tudo feito em um ritmo muito bom, com um desenvolvimento da história de uma maneira que prende a gente. O que mais chama a atenção no filme não é parte técnica ou a história em si, mas a entrega da atriz Joanna Scanlan, impressiona, faz com que a história que está sendo contada ganhe uma vida, uma realidade e uma força muito grande. Um filme de detalhes, que mexe em sentimentos internos, que pode até passar batido para muita gente, mas tem alma.
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A Canção da Estrada
4.4 71 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor de outros dois prêmios em competições paralelas. Primeiro filme de um dos maiores diretores de todos os tempos, que demorou três anos por falta de recursos. O filme é muito bom, apesar de ter momentos arrastados e achar que podia ser um pouco mais curto, O diretor foi fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano. Chunibala Devi, que interpreta a velinha, é de uma simpatia maravilhosa e veio a falecer no mesmo ano de lançamento do filme, mas é Uma Das Gupta que rouba a cena com seu papel de Durga: o filme é dela. Apu pode vir a se tornar o protagonista da trilogia, mas este é um filme focado em sua irmã e é assim que funciona. A raiva que dá de ver uma sociedade machista patriarcal ferrando a família é grande. O desfecho é meio apressado, mas a experiência final faz o filme valer a pena.
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R.M.N.
3.8 12Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Prêmio entregue pelo European Film Promotion para a atriz Judith State no Festival de Berlim. Que filmaço! Para quem, como eu, vive uma situação de vida de emigrante na Europa não tem como não se identificar com algo. Racismo, xenofobia, preconceito, ignorância... enfim, um retrato perfeito da Europa inteira de uma maneira macro se utilizando de uma vila na Romênia de uma maneira micro. A hipocrisia reina e o futuro é de fácil vislumbre como a visão da criança andando na floresta. Um dos meus melhores amigos no trabalho é cingalês e foi revoltante algumas cenas como só um diretor competente poderia fazer. A atriz premiada em Berlim entrega muito no papel. O desfecho é tão estranho que deixa a gente pensando semanas depois... fiquei fazendo um paralelo entre os Sem Ursos do Panahi já que esse é com ursos, hahahahahaha, mas é interessante pensar nos governos falidos que nos controlam e nas visões que ambos os filmes nos dão sobre isso.
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Paris, 13° Distrito
3.8 33 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Audiard nunca decepciona e aqui não é diferente, talvez o seu filme mais simples e cotidiano em muitos aspectos, mas que funciona absurdamente bem. Não há como não se identificar com alguma coisa e a construção dos personagens é fantástica. Há todo um aspecto psicológico por trás de cada um deles que permanece oculto como em um iceberg durante todo o filme. Eu sou apaixonado pela Noémie Merlant, então sou suspeito para falar qualquer coisa dela, mas a Lucie Zhang consegue roubar todas as cenas em que aparece e é uma graça. Tive raiva do personagem masculino em alguns momentos, mas homem é assim, né? A nota subiu um pouquinho com o final fofo que entrega, eu adorei! Fiquei curioso em ler a história em quadrinhos em que é baseado, já está no meu carrinho de compras.
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Caminhando Contra o Vento
2.8 2Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que nunca aconteceu devido a Pandemia. Para mim, definitivamente, não funcionou. O personagem é chato, o fato de ser irresponsável e infantil nem conta tanto... o cara é um baita de um chato mesmo. O filme por ser meio autobiográfico do diretor já faz eu torcer o nariz para ele. Há cenas que funcionam, a parte técnica tem uma altíssima qualidade e o filme é assistível somente por isso. A relação entre ele e a namorada e ir percebendo o quanto ele é babaca prende o telespectador assim como os momentos "roadie movie", mas para por aí. O restante do filme simplesmente não vai para lugar nenhum... é um tremendo limbo. No fim, de um modo geral, não vale a pena a assistida. Preciso comentar que o cara tem o pior penteado que eu já vi na vida.
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