Excelente! Essa obra proporciona ao expectador uma experiência sensorial magnífica. Primeiro filme de Gaspar Noé que assisti. Me instigou a ver os demais.
Sou fã do diretor e acompanho o seu trabalho de grande relevância. Em triângulo da tristeza, o desconforto, marca registrada de sua filmografia, se faz presente às últimas consequências. Tudo muito bem feito e a comicidade de situações absurdas são muito bem exploradas. A única questão que me trouxe contrariedade foi que,especificamente neste filme, quando comparado aos anteriores, as situações adversas postas são demasiadamente explicitadas, em todos os seus aspectos, ou seja, faltou entrelinhas. Acredito que aqui o diretor prezou tanto pelo choque das imagens que acabou reduzindo a margem de interpretação e analise do público: tudo está ali muito claramente retratado. Nos filmes anteriores isso vinha sendo feito de forma mais discreta e sublime. Até mesmo na sequência final, a fala final da modelo escancara um argumento que não precisava ser verbalizado, o que, ao meu ver, prejudica a experiência.
Um emaranhado de decisões erradas dos personagens. Deixou a desejar. Torna fácil e preguiçoso só jogar um monte de personagens em tela mirando apenas o apelo nostálgico.
A trilha é MUITO incômoda. Em alguns momentos chega a ser insuportável. Não é muito bom, infelizmente. Boa história que poderia ter sido melhor aproveitada.
Gostaria de registrar a minha grande indignação com o fato de a tão bela sacada do nome original do filme, Sound of Metal, que guarda estreita relação com as adversidades enfrentadas pelo protagonista, ter sido sumariamente arruinada com a tradução do título para português: um horrível "O Som do Silêncio". Deixem isso para Simon & Garfunkel. Bela produção, com boas atuações e trabalho técnico/sonoro impecável, que traz ao espectador a agonia vivida por Ruben. A cena final é linda e merece destaque.
Destaque tão somente para as atuações. De resto, parece um recorte de algo maior. Diálogos soltos e situações jogadas como se quisessem condensar informações relevantes em pouco tempo disponível em tela. É menos entediante que Fences (dada a duração reduzida). Não gostei da direção de arte, mas me chamou muito a atenção a maquiagem.
Nem o excelente elenco conseguiu carregar o peso do quão esse filme é ruim e malfeito. Tudo muito caricato e atropelado, sem falar naquele final medíocre que se reduz a entregar uma catarse barata.
Esplêndido. Apesar de o monólogo final de Winfried soar deveras superficial, a cena do abraço é deslumbrante e compensa as demais (e raras) faltas. É uma obra que deve ser revisitada sempre que possível.
Bom filme. Um drama introspectivo, com cenas de ação viscerais e muito bem executadas. Apesar disso, não consegui perceber muito bem nesta obra a conjunção de fatores presente na filmografia do Aronofsky que o fez reconhecidamente um dos melhores diretores da primeira década dos anos 2000. É como se não tivesse encontrado aqui o tão distinto e característico "Fator Aronofsky". Devo pontuar também que o ato final, mesmo não sendo exatamente ruim, me deixou com a impressão de que faltou algo. Longe da perfeição. Me lembrou bastante a excelente última cena de Cisne Negro, o que me leva a crer que, a partir daqui, o diretor passa a ter a preocupação de desenvolver desfecho melhor e mais impactante para as suas obras seguintes, para não ter perigo de incorrer no mesmo erro que cometeu em The Wrestler. E vem conseguindo.
Já fui assistir sabendo da repercussão e que se tratava de um fime de qualidade baixa. Assisti na expectativa de ver um bom trash, mas nem isso o filme entrega. Os elementos que flertam com o gênero são bem mau explorados, o que faz com que todo o absurdo presente no filme soe gratuito e infundado. Parece que só fizeram mesmo jogar na tela várias cenas malfeitas e com erros de pós-produção pra dar o que falar e fazer graça, o que torna a experiência vazia. Nao funciona como terror, não funciona como comédia de absurdos (os alivios cômicos são péssimos), não funciona como trash ou qualquer outro gênero. É só ruim mesmo. Tem vários filmes em que o diretor soube explorar muito bem o 'ser ruim', com a entrega de um resultado final que 'de tão ruim, fica bom' (o que não é uma tarefa fácil), mas nesse, definitivamente, não foi alcançada tal proeza. Uma pena. Nao me empolgou a ponto de assistir aos demais da franquia.
A direção cirúrgica de Vinterberg (até então tinha visto apenas Festen e pude perceber que, com ou sem a castidade do dogma, este diretor consegue fazer trabalhos excepcionais), somada à brilhante atuação de M Mikkelsen, resultam neste trabalho que possui uma atmosfera fria e sombria tão bem elaborada quanto poucas produções conseguiram reproduzir. É uma obra de destaque que merece ser contemplada e discutida.
Assisti sem grandes expectativas, mas acabei me surpreendendo positivamente. O ato final, mais especificamente na cena da guerra, é espetacular e muito bem executado. Os cortes rápidos, as imagens sobrepostas, efeitos especiais, dentre outros elementos me fizeram perceber como técnicas ainda utilizadas no cinema atual já eram tão bem exploradas na década de 30. Bela produção.
Todo o contexto em que é ambientado este documentário possui uma espécie de magia intrínseca, particular daquela época, principalmente por conta dos indivíduos que seguiam a filosofia e o modo de vida hippie do fim dos anos 60, herdados de parcela da sociedade americana que pregava a paz e o amor e que protestava contra os horrores e os absurdos da Guerra do Vietnã. É interessante ver como o documentário expôs a realidade da cultura hippie no cenário nacional, com as suas motivações, desapegos e absurdos, além de traçar um paralelo entre os conflitos bélicos internacionais e a "miniguerra" brasileira, como classificou Gil, referindo-se ao regime ditatorial militar instaurado no Brasil a a partir de 64.
Porém, dentre os diversos pontos positivos desta obra, o que quero destacar é o singular momento em que passa a ser ventilada a possibilidade de João Gilberto subir ao palco do Festival de Águas Claras, em meio a todo aquele caos psicodélico ali instaurado. Logo ele, João, tão controverso, difícil de lidar, cheio de melindres, exigências e idiossincrasias há muito conhecidas e evitadas. Definitivamente era um desafio e tanto. Ver João se preparar para subir no palco dá um grande nervosismo, pois aquela situação toda caminhava para uma grande tragédia anunciada. Felizmente, não foi. O documentário nos permite assistir a um dos momentos mais ímpares da história da música popular brasileira. Na filmagem, é notório o incômodo de João com todas as adversidades que aquele ambiente o impunha, mas ao mesmo tempo, com o desenrolar da apresentação, é perceptível a sua emoção em 'conseguir' estar ali tocando para aquela multidão, neste, que segundo ele, foi o melhor show de sua vida. É um momento único. Emocionante. É por essas e outras que sigo com o incessante desejo de me aprofundar cada vez mais na música popular brasileira que, na minha humilde opinião, possui o mais completo, qualificado e belo acervo do mundo.
Estampada no cartaz do filme, a referida frase se coloca sobre os personagens que estão dispostos na sala de uma luxuosa casa com os olhos vendados por uma tarja preta, indicando que alguém ali não pertence àquele lugar. Além disso, é possível ver os pés do que parece ser um cadáver, o que sugere que os intrusos representam uma ameaça para a vida dos demais. Mas afinal, quem são os intrusos?
Parasita (2019) é último trabalho do diretor e roteirista sul-coreano Bong Joon-Ho, que após uma bem-sucedida temporada de premiações (dentre outros, conquistou a Palma de Ouro em Cannes) atingiu o feito histórico de tornar-se o primeiro filme em língua não-inglesa a conquistar o Oscar de melhor filme do ano, além de receber os prêmios de melhor filme estrangeiro, melhor direção e melhor roteiro original.
Esse reconhecimento não diz respeito tão somente ao fato de que as quatro estatuetas douradas mais cobiçadas do mundo passarão a figurar na estante de Bong Joon-Ho, mas também refere-se a uma enorme mudança de paradigmas na indústria do cinema: a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, conhecida por adotar posicionamentos conservadores, previsíveis e narcisistas, enfim se curva e reconhece a excelência do cinema sul-coreano que há muito já mostrava o seu enorme potencial, concedendo a Parasita o maior e mais cobiçado prêmio da indústria cinematográfica mundial. Com isso, o mundo assistiu incrédulo à superação de uma barreira que por muito tempo pensou-se ser intransponível, com o cinema americano reconhecendo não ser mais absoluto. Nesse sentido, e, por ironia do destino, a obra internacional mais premiada de todos os tempos nos EUA ousa em criticar justamente o imperialismo e a opressão que o país promove, ao ditar padrões exclusórios em escala global.
Dentre os diversos elementos técnicos presentes no longa, o roteiro de Parasita destaca-se como um dos grandes méritos do filme. Inicialmente, testemunhamos a tentativa da desafortunada família Kim se infiltrar nos aposentos de uma família rica que vive no outro lado da cidade. Utilizando-se da máxima “A oportunidade faz o ladrão”, eles se aproveitam da ingenuidade dos membros ricos e forjam situações que permitam-lhes parecer o que na verdade não são, como parte de um grande “plano perfeito” que os permitirão melhorar de vida.
Com elementos de suspense e uma pitada de humor negro, a mensagem que o filme passa para os expectadores é a de que por mais que tracemos um plano que pareça impecável e impassível de erros, a vida, seguindo a máxima murphyana, é capaz de nos mostrar que “tudo o que puder dar errado, dará”. Uma genuína ode pessimista. Aliado ao roteiro, o trabalho de montagem da primeira parte do filme nos induz o tempo todo a creditar que tudo sairá tão logicamente perfeito e sequenciado como a métrica da música que a personagem Kim Ki-jeong cantarola antes de entrar na casa, um artifício usado por ela para que seja possível memorizar as características fictícias de sua personagem Jéssica. (“Jessica, only child, Illinois Chicago, classmate Kim Jin-mo, he’s your cousin.”)
Até certo ponto, após testemunhar o sucesso do plano e o pleno estabelecimento da família pobre na residência de seus patrões, passamos a acreditar que a resposta para a pergunta proposta no cartaz do filme fora claramente respondida. Pensamos ter identificado ali, afinal, que os verdadeiros intrusos são os componentes da família pobre que, deslealmente, conseguiram adentrar na casa de seus patrões e passam a desfrutar de toda a pompa e luxo que aquela vida oferece. Estabeleceu-se ali, enfim, uma relação parasitária e nociva.
Ocorre que, ao mesmo tempo em que nos valemos dessa conclusão, o diretor leva a audiência a refletir sobre a relação parasitária que pessoas de classes mais avantajadas exercem sobre as classes mais baixas. Se pudessem, os ricos viveriam confinados em suas mansões de altos muros, com segurança máxima e distanciados de toda a miséria que bate à porta. No entanto, a contragosto, deve-se permitir que a pobreza adentre a sua moradia, pois é necessário que haja a subserviência. Dessa forma, fica a clara exploração que os ricos exercem sobre as classes mais pobres, num país cuja mão de obra ainda está sujeita a longas jornadas mal remuneradas. Infelizmente, para a família rica, é preciso permitir que a pobreza adentre a sua imponente mansão, empestada com “cheiro de pobreza” que vem de fora, lá de baixo, que é para onde a água escorre e leva consigo toda a poluição e a sujeira que vem de cima.
Em certo ponto, com uma sagaz reviravolta típica do cinema sul-coreano, toda a sinfonia visual orquestrada pela já mencionada e impecável montagem, que harmonicamente casa com a arquitetura dos planos traçados pela família mais pobre, vai por água abaixo: é descoberto que naquela casa há muito já se estabelecera uma relação parasitária, envolvendo outros membros. A partir de então, a família Kim depara-se com novos inimigos (além do primeiro, o infortúnio), mas agora personificados. Trava-se, então, uma batalha entre indivíduos com menor prestígio social e financeiro que visam ao estabelecimento de sua posição na relação parasitária instalada, pois todos ali querem, de alguma forma, beneficiar-se a qualquer custo da fortuna e do status pertencentes à ingênua família hospedeira. Dessa forma, como numa tentativa desesperada de não voltar para o fundo do poço, observamos que até mesmo dentre as famílias que pertencem ao mesmo nível social calamitoso é possível se estabelecer um embate visando benefícios próprios em detrimento da miséria alheia. Vale tudo, até mesmo a exaltação na humilhação.
Os atos que se sucedem compõem uma epopeia de desastres imprevisíveis decorrentes do embate entre as famílias pobres, que culmina em uma grande tragédia que serve para provar o argumento principal levantado no roteiro, de que, na verdade, podemos até controlar nossos atos e prenunciar suas possíveis consequências, mas somos impotentes perante as implacáveis surpresas que a vida nos reserva, que fogem de qualquer prognóstico.
O filme termina com um grande ensinamento que parte dessa premissa. Nele, vemos o jovem Kim agora fragilizado pelo duro golpe que a vida e seu amuleto metafórico lhe reservaram: está abalado e debilitado, mas ainda ingenuamente esperançoso. Quando expõe o novo “plano perfeito” de resgate do seu pai, os expectadores já são capazes de entender que tal empreitada se mostra impossível. A desigualdade social naquela sociedade é implacável e não poupa nem o mais pobre coitado. O de cima sobe e o debaixo desce (como a câmera que, igualada ao plano que dá início ao filme, desce e mostra o personagem novamente em sua casa escura e claustrofóbica). Talvez ele até saiba dessa impossibilidade, mas não custa nada sonhar com a esperança de que algum dia será possível, apenas por esforço e mérito, atingir um patamar social elevado, de modo a garantir uma vida melhor para si e para a sua família.
O jovem Kim deseja um dia deixar de ser apenas um intruso e, enfim, encontrar o seu lugar no mundo.
Esse documentário equilibra perfeitamente o sutil e o extremo. Em dados momentos, eu cheguei a torcer para que não fossem mostradas mais cenas nos hospitais. A agonia, o barulho, a visceralidade das imagens e todo o sofrimento intrínseco àquelas situações demonstradas em tela causam no expectador uma grande dor, que o acompanha com a permanência de imagens fortes na cabeça por um bom tempo. Me proporcionou uma ótima experiência. Precisamente dolorosa e bela.
Ao reassistir ontem, concluí que este é o melhor filme do ano de 2019. Fico na torcida para que o favoritismo seja confirmado, com a premiação de melhor filme internacional.
Dor e Glória é um filme profundo, bastante denso e sensível.
Tive, acredito eu, uma experiência relativamente prejudicada devido ao fato de não conhecer os trabalhos antecessores a este do diretor Pedro Almodóvar. Porém, logo nos primeiros minutos de projeção pude perceber que esta não se tratava de uma obra rasa, insignificante.
Pudera. Diante das deslumbrantes experiências que tive com o cinema espanhol, que me apresentaram obras inesquecíveis, somado ao fato de ter consciência da relevante contribuição do trabalho de Almodóvar para a arte do cinema, eu sabia que estava prestes a experimentar uma sensação sem igual. Estava certo.
Uma das referências que eu tinha da obra desse notável artista era uma menção feita por Adriana Calcanhoto na música "Esquadros", em que dizia: "Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome cores de Almodóvar, cores de Frida Khalo, cores..."
E realmente, ao assistir ao filme Dor e Glória pude perceber o porque do destaque às "cores de Almodóvar". O visual de todo o filme é assustadoramente belo. Me lembro poucas vezes ter testemunhado filmes com tantos detalhes visuais em perfeita harmonia, com a utilização de cores e objetos que fazem do cenário um personagem a parte, que contracena com os atores que estão também ali dispostos.
Desgastado, melancólico, soturno e intencionalmente coberto por um véu metafórico obscuro, justamente para contrastar com toda a aura positiva proporcionada pela explosão de cores dos cenários que cercam os personagens está Salvador, o personagem principal da estória que, mesmo sem conhecer a fundo o estilo do diretor, pude constatar tão logo tratar-se de um alter-ego do seu criador Pedro. Uma versão de si mesmo que é utilizada para revelar detalhes mais íntimos do diretor como segredos, confissões, arrependimentos, desejos, dores e glórias. Algo semelhante ao que Woody Allen fez em diversas de suas obras, quando se utiliza de personagens caricatos e reclamões para expor ao mundo todo toda a sua agonia frente ao tédio que o assola.
Aqui é, no entanto, diferente. Por meio de Salvador, Pedro evoca sentimentos há muito não revisitados. Reconhece as limitações que lhe são impostas em razão da inexorável passagem do tempo e tenta aparar as arestas, realizando um acerto de contas com todos que o cercam e, principalmente, com a sua consciência.
Dor e Glória, além de ter sido uma excelente porta de entrada para o trabalho de Pedro Almodóvar, abriu os meus olhos para os detalhes que estão presentes no nosso dia a dia, que se manifestam a todo momento, mas que vão ficando para trás, restando deles apenas fragmentos de lembranças que se acumulam em nossas memórias e formam nossa personalidade. Aquilo que podemos chamar de "eu" e que às vezes pesa bastante.
É um dos melhores filmes desta temporada de premiações.
A direção de Fernando Meirelles é impecável.
Os diálogos são maravilhosos. Não permeiam eminentemente o campo religioso ou foca no embate progresso vs. conservadorismo, mas apresenta-nos questões que nos faz refletir e enxergar com outros olhos figuras que estamos habituados a olhar e lembrar somente em ocasiões bastante específicas, na maioria das vezes, pura e simplesmente em razão do cargo em que ocupam.
Ao apresentar-nos a jornada, questões internas e polêmicas, além da relação que se deu entre o para Bento XVI e o ainda Bispo Jorge Mario Bergoglio num momento bastante delicado para a Igreja Católica, o diretor não se atém a realizar nenhum juízo de valor com o intuito de apontar quem está se portando de forma correta ou errada; quem é o mocinho ou o vilão, mas nos aproxima da intimidade dos religiosos, apresentando-nos a forte humanidade e a religiosidade dos dois, que nos dá uma aula de sabedoria, compaixão, amizade e fé, junto a cenários que proporcionam deleite visual e nos proporciona serenidade.
As atuações são excepcionais. Pudera. Além do destaque às assustadoras semelhanças físicas guardadas entre os atores principais, Bento e Francisco, com as atuações é possível sentir a leveza, a paz e a serenidade que acompanhavam os dois religiosos em seus encontro e em situações adversas.
Por fim, não poderia deixar de se destacar a atuação de Anthony Hopkins que ao meu ver, junto à direção de Fernando, é a melhor coisa do filme. Hopkins, ao retratar uma figura tão controversa aos olhos do público, consegue conduzir os passos da personagem de forma tão fidedigna e serena que nos faz esquecer qualquer tipo de adversidade e volta a nossa atenção ao lado humano e sensível de seu personagem.
Este filme é uma obra de arte que será lembrada com muito apreço.
Este foi o meu primeiro contato com uma obra submetida aos mandamentos do manifesto Dogma 95. Uma bela experiência, bem válida.
A limitação técnica imposta pelo movimento em nada diminui a grandeza desta obra. Do contrário: aguça a curiosidade da grande parcela do público que, certamente, só tiveram conhecimento deste filme pelo fato de ele ser um representante do movimento e o primeiro a receber o certificado dogma.
A movimentação da câmera, os enquadramentos, as atuações são alguns dos elementos que foram cirurgicamente dispostos na tela de modo a aproximar o expectador dos acontecimentos retratados de forma a torná-lo uma espécie de testemunha ocular de todas as atrocidades que aconteceram naquela ocasião. Somos capazes de sentir o clima pesado a cada vez que os personagens estão reunidos. A tensão impera a cada proposição de brinde.
Nesse ponto, Thomas Vinterberg foi brilhante, pois conseguiu se utilizar de todos os recursos disponíveis (mesmo com o baixo orçamento), de modo a superar o desafio proposto pelo movimento, que era o de aproximar o cinema à máxima realidade possível. Com isso, o diretor traz à reflexão que, de fato, não é necessário utilizar em excesso elementos cenográficos para fazer um filme de qualidade que consiga excitar o público: com profissionalismo e ideal, é possível partir de uma premissa relativamente simples e já amplamente debatida e com poucos recursos entregar uma obra de qualidade ímpar.
Vinterberg foi notoriamente um diretor habilidoso na condução de Festen. É um trabalho admirável que deve ser visto por todos os amantes da sétima arte. É um notável exemplar do Dogma que vai de encontro às grandes produções cinematográficas atuais que pouco se preocupam com conteúdo e qualidade, mas somente com arrecadação e prêmios.
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraExcelente!
Essa obra proporciona ao expectador uma experiência sensorial magnífica.
Primeiro filme de Gaspar Noé que assisti. Me instigou a ver os demais.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraSou fã do diretor e acompanho o seu trabalho de grande relevância. Em triângulo da tristeza, o desconforto, marca registrada de sua filmografia, se faz presente às últimas consequências. Tudo muito bem feito e a comicidade de situações absurdas são muito bem exploradas. A única questão que me trouxe contrariedade foi que,especificamente neste filme, quando comparado aos anteriores, as situações adversas postas são demasiadamente explicitadas, em todos os seus aspectos, ou seja, faltou entrelinhas. Acredito que aqui o diretor prezou tanto pelo choque das imagens que acabou reduzindo a margem de interpretação e analise do público: tudo está ali muito claramente retratado. Nos filmes anteriores isso vinha sendo feito de forma mais discreta e sublime. Até mesmo na sequência final, a fala final da modelo escancara um argumento que não precisava ser verbalizado, o que, ao meu ver, prejudica a experiência.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
4.2 1,8K Assista AgoraUm emaranhado de decisões erradas dos personagens. Deixou a desejar. Torna fácil e preguiçoso só jogar um monte de personagens em tela mirando apenas o apelo nostálgico.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 797 Assista Agora“Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”.
Time
3.5 71 Assista AgoraA trilha é MUITO incômoda. Em alguns momentos chega a ser insuportável.
Não é muito bom, infelizmente. Boa história que poderia ter sido melhor aproveitada.
O Som do Silêncio
4.1 985 Assista AgoraGostaria de registrar a minha grande indignação com o fato de a tão bela sacada do nome original do filme, Sound of Metal, que guarda estreita relação com as adversidades enfrentadas pelo protagonista, ter sido sumariamente arruinada com a tradução do título para português: um horrível "O Som do Silêncio". Deixem isso para Simon & Garfunkel.
Bela produção, com boas atuações e trabalho técnico/sonoro impecável, que traz ao espectador a agonia vivida por Ruben. A cena final é linda e merece destaque.
A Voz Suprema do Blues
3.5 539 Assista AgoraDestaque tão somente para as atuações. De resto, parece um recorte de algo maior. Diálogos soltos e situações jogadas como se quisessem condensar informações relevantes em pouco tempo disponível em tela. É menos entediante que Fences (dada a duração reduzida). Não gostei da direção de arte, mas me chamou muito a atenção a maquiagem.
Os 7 de Chicago
4.0 580 Assista AgoraNem o excelente elenco conseguiu carregar o peso do quão esse filme é ruim e malfeito. Tudo muito caricato e atropelado, sem falar naquele final medíocre que se reduz a entregar uma catarse barata.
Mank
3.2 462 Assista AgoraApesar de gostar bastante da filmografia do Fincher, do trabalho de Gary Oldman e de ser fã de Cidadão Kane, achei um puta filme chato.
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
4.2 2,2K Assista AgoraUma bela adaptação de "Traumas", de Roberto Carlos.
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraEsplêndido.
Apesar de o monólogo final de Winfried soar deveras superficial, a cena do abraço é deslumbrante e compensa as demais (e raras) faltas.
É uma obra que deve ser revisitada sempre que possível.
O Lutador
4.0 912Bom filme. Um drama introspectivo, com cenas de ação viscerais e muito bem executadas. Apesar disso, não consegui perceber muito bem nesta obra a conjunção de fatores presente na filmografia do Aronofsky que o fez reconhecidamente um dos melhores diretores da primeira década dos anos 2000. É como se não tivesse encontrado aqui o tão distinto e característico "Fator Aronofsky". Devo pontuar também que o ato final, mesmo não sendo exatamente ruim, me deixou com a impressão de que faltou algo. Longe da perfeição. Me lembrou bastante a excelente última cena de Cisne Negro, o que me leva a crer que, a partir daqui, o diretor passa a ter a preocupação de desenvolver desfecho melhor e mais impactante para as suas obras seguintes, para não ter perigo de incorrer no mesmo erro que cometeu em The Wrestler. E vem conseguindo.
Sharknado
2.0 832 Assista AgoraJá fui assistir sabendo da repercussão e que se tratava de um fime de qualidade baixa. Assisti na expectativa de ver um bom trash, mas nem isso o filme entrega. Os elementos que flertam com o gênero são bem mau explorados, o que faz com que todo o absurdo presente no filme soe gratuito e infundado. Parece que só fizeram mesmo jogar na tela várias cenas malfeitas e com erros de pós-produção pra dar o que falar e fazer graça, o que torna a experiência vazia. Nao funciona como terror, não funciona como comédia de absurdos (os alivios cômicos são péssimos), não funciona como trash ou qualquer outro gênero. É só ruim mesmo. Tem vários filmes em que o diretor soube explorar muito bem o 'ser ruim', com a entrega de um resultado final que 'de tão ruim, fica bom' (o que não é uma tarefa fácil), mas nesse, definitivamente, não foi alcançada tal proeza. Uma pena. Nao me empolgou a ponto de assistir aos demais da franquia.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraA direção cirúrgica de Vinterberg (até então tinha visto apenas Festen e pude perceber que, com ou sem a castidade do dogma, este diretor consegue fazer trabalhos excepcionais), somada à brilhante atuação de M Mikkelsen, resultam neste trabalho que possui uma atmosfera fria e sombria tão bem elaborada quanto poucas produções conseguiram reproduzir. É uma obra de destaque que merece ser contemplada e discutida.
Cleópatra
3.8 28 Assista AgoraAssisti sem grandes expectativas, mas acabei me surpreendendo positivamente. O ato final, mais especificamente na cena da guerra, é espetacular e muito bem executado. Os cortes rápidos, as imagens sobrepostas, efeitos especiais, dentre outros elementos me fizeram perceber como técnicas ainda utilizadas no cinema atual já eram tão bem exploradas na década de 30. Bela produção.
O Barato de Iacanga
4.2 76Todo o contexto em que é ambientado este documentário possui uma espécie de magia intrínseca, particular daquela época, principalmente por conta dos indivíduos que seguiam a filosofia e o modo de vida hippie do fim dos anos 60, herdados de parcela da sociedade americana que pregava a paz e o amor e que protestava contra os horrores e os absurdos da Guerra do Vietnã.
É interessante ver como o documentário expôs a realidade da cultura hippie no cenário nacional, com as suas motivações, desapegos e absurdos, além de traçar um paralelo entre os conflitos bélicos internacionais e a "miniguerra" brasileira, como classificou Gil, referindo-se ao regime ditatorial militar instaurado no Brasil a a partir de 64.
Porém, dentre os diversos pontos positivos desta obra, o que quero destacar é o singular momento em que passa a ser ventilada a possibilidade de João Gilberto subir ao palco do Festival de Águas Claras, em meio a todo aquele caos psicodélico ali instaurado. Logo ele, João, tão controverso, difícil de lidar, cheio de melindres, exigências e idiossincrasias há muito conhecidas e evitadas. Definitivamente era um desafio e tanto.
Ver João se preparar para subir no palco dá um grande nervosismo, pois aquela situação toda caminhava para uma grande tragédia anunciada.
Felizmente, não foi.
O documentário nos permite assistir a um dos momentos mais ímpares da história da música popular brasileira. Na filmagem, é notório o incômodo de João com todas as adversidades que aquele ambiente o impunha, mas ao mesmo tempo, com o desenrolar da apresentação, é perceptível a sua emoção em 'conseguir' estar ali tocando para aquela multidão, neste, que segundo ele, foi o melhor show de sua vida.
É um momento único. Emocionante.
É por essas e outras que sigo com o incessante desejo de me aprofundar cada vez mais na música popular brasileira que, na minha humilde opinião, possui o mais completo, qualificado e belo acervo do mundo.
Parasita
4.5 3,6K Assista Agora[Contém Spoilers]
“Encontre os intrusos”.
Estampada no cartaz do filme, a referida frase se coloca sobre os personagens que estão dispostos na sala de uma luxuosa casa com os olhos vendados por uma tarja preta, indicando que alguém ali não pertence àquele lugar. Além disso, é possível ver os pés do que parece ser um cadáver, o que sugere que os intrusos representam uma ameaça para a vida dos demais. Mas afinal, quem são os intrusos?
Parasita (2019) é último trabalho do diretor e roteirista sul-coreano Bong Joon-Ho, que após uma bem-sucedida temporada de premiações (dentre outros, conquistou a Palma de Ouro em Cannes) atingiu o feito histórico de tornar-se o primeiro filme em língua não-inglesa a conquistar o Oscar de melhor filme do ano, além de receber os prêmios de melhor filme estrangeiro, melhor direção e melhor roteiro original.
Esse reconhecimento não diz respeito tão somente ao fato de que as quatro estatuetas douradas mais cobiçadas do mundo passarão a figurar na estante de Bong Joon-Ho, mas também refere-se a uma enorme mudança de paradigmas na indústria do cinema: a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, conhecida por adotar posicionamentos conservadores, previsíveis e narcisistas, enfim se curva e reconhece a excelência do cinema sul-coreano que há muito já mostrava o seu enorme potencial, concedendo a Parasita o maior e mais cobiçado prêmio da indústria cinematográfica mundial. Com isso, o mundo assistiu incrédulo à superação de uma barreira que por muito tempo pensou-se ser intransponível, com o cinema americano reconhecendo não ser mais absoluto. Nesse sentido, e, por ironia do destino, a obra internacional mais premiada de todos os tempos nos EUA ousa em criticar justamente o imperialismo e a opressão que o país promove, ao ditar padrões exclusórios em escala global.
Dentre os diversos elementos técnicos presentes no longa, o roteiro de Parasita destaca-se como um dos grandes méritos do filme. Inicialmente, testemunhamos a tentativa da desafortunada família Kim se infiltrar nos aposentos de uma família rica que vive no outro lado da cidade. Utilizando-se da máxima “A oportunidade faz o ladrão”, eles se aproveitam da ingenuidade dos membros ricos e forjam situações que permitam-lhes parecer o que na verdade não são, como parte de um grande “plano perfeito” que os permitirão melhorar de vida.
Com elementos de suspense e uma pitada de humor negro, a mensagem que o filme passa para os expectadores é a de que por mais que tracemos um plano que pareça impecável e impassível de erros, a vida, seguindo a máxima murphyana, é capaz de nos mostrar que “tudo o que puder dar errado, dará”. Uma genuína ode pessimista.
Aliado ao roteiro, o trabalho de montagem da primeira parte do filme nos induz o tempo todo a creditar que tudo sairá tão logicamente perfeito e sequenciado como a métrica da música que a personagem Kim Ki-jeong cantarola antes de entrar na casa, um artifício usado por ela para que seja possível memorizar as características fictícias de sua personagem Jéssica. (“Jessica, only child, Illinois Chicago, classmate Kim Jin-mo, he’s your cousin.”)
Até certo ponto, após testemunhar o sucesso do plano e o pleno estabelecimento da família pobre na residência de seus patrões, passamos a acreditar que a resposta para a pergunta proposta no cartaz do filme fora claramente respondida. Pensamos ter identificado ali, afinal, que os verdadeiros intrusos são os componentes da família pobre que, deslealmente, conseguiram adentrar na casa de seus patrões e passam a desfrutar de toda a pompa e luxo que aquela vida oferece. Estabeleceu-se ali, enfim, uma relação parasitária e nociva.
Ocorre que, ao mesmo tempo em que nos valemos dessa conclusão, o diretor leva a audiência a refletir sobre a relação parasitária que pessoas de classes mais avantajadas exercem sobre as classes mais baixas. Se pudessem, os ricos viveriam confinados em suas mansões de altos muros, com segurança máxima e distanciados de toda a miséria que bate à porta. No entanto, a contragosto, deve-se permitir que a pobreza adentre a sua moradia, pois é necessário que haja a subserviência. Dessa forma, fica a clara exploração que os ricos exercem sobre as classes mais pobres, num país cuja mão de obra ainda está sujeita a longas jornadas mal remuneradas. Infelizmente, para a família rica, é preciso permitir que a pobreza adentre a sua imponente mansão, empestada com “cheiro de pobreza” que vem de fora, lá de baixo, que é para onde a água escorre e leva consigo toda a poluição e a sujeira que vem de cima.
Em certo ponto, com uma sagaz reviravolta típica do cinema sul-coreano, toda a sinfonia visual orquestrada pela já mencionada e impecável montagem, que harmonicamente casa com a arquitetura dos planos traçados pela família mais pobre, vai por água abaixo: é descoberto que naquela casa há muito já se estabelecera uma relação parasitária, envolvendo outros membros. A partir de então, a família Kim depara-se com novos inimigos (além do primeiro, o infortúnio), mas agora personificados. Trava-se, então, uma batalha entre indivíduos com menor prestígio social e financeiro que visam ao estabelecimento de sua posição na relação parasitária instalada, pois todos ali querem, de alguma forma, beneficiar-se a qualquer custo da fortuna e do status pertencentes à ingênua família hospedeira. Dessa forma, como numa tentativa desesperada de não voltar para o fundo do poço, observamos que até mesmo dentre as famílias que pertencem ao mesmo nível social calamitoso é possível se estabelecer um embate visando benefícios próprios em detrimento da miséria alheia. Vale tudo, até mesmo a exaltação na humilhação.
Os atos que se sucedem compõem uma epopeia de desastres imprevisíveis decorrentes do embate entre as famílias pobres, que culmina em uma grande tragédia que serve para provar o argumento principal levantado no roteiro, de que, na verdade, podemos até controlar nossos atos e prenunciar suas possíveis consequências, mas somos impotentes perante as implacáveis surpresas que a vida nos reserva, que fogem de qualquer prognóstico.
O filme termina com um grande ensinamento que parte dessa premissa. Nele, vemos o jovem Kim agora fragilizado pelo duro golpe que a vida e seu amuleto metafórico lhe reservaram: está abalado e debilitado, mas ainda ingenuamente esperançoso. Quando expõe o novo “plano perfeito” de resgate do seu pai, os expectadores já são capazes de entender que tal empreitada se mostra impossível. A desigualdade social naquela sociedade é implacável e não poupa nem o mais pobre coitado. O de cima sobe e o debaixo desce (como a câmera que, igualada ao plano que dá início ao filme, desce e mostra o personagem novamente em sua casa escura e claustrofóbica). Talvez ele até saiba dessa impossibilidade, mas não custa nada sonhar com a esperança de que algum dia será possível, apenas por esforço e mérito, atingir um patamar social elevado, de modo a garantir uma vida melhor para si e para a sua família.
O jovem Kim deseja um dia deixar de ser apenas um intruso e, enfim, encontrar o seu lugar no mundo.
Para Sama
4.4 109Esse documentário equilibra perfeitamente o sutil e o extremo.
Em dados momentos, eu cheguei a torcer para que não fossem mostradas mais cenas nos hospitais. A agonia, o barulho, a visceralidade das imagens e todo o sofrimento intrínseco àquelas situações demonstradas em tela causam no expectador uma grande dor, que o acompanha com a permanência de imagens fortes na cabeça por um bom tempo.
Me proporcionou uma ótima experiência. Precisamente dolorosa e bela.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraAo reassistir ontem, concluí que este é o melhor filme do ano de 2019. Fico na torcida para que o favoritismo seja confirmado, com a premiação de melhor filme internacional.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraDireção, atuações e demais fatores técnicos impecáveis. Exceto roteiro.
Bom filme.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraDor e Glória é um filme profundo, bastante denso e sensível.
Tive, acredito eu, uma experiência relativamente prejudicada devido ao fato de não conhecer os trabalhos antecessores a este do diretor Pedro Almodóvar. Porém, logo nos primeiros minutos de projeção pude perceber que esta não se tratava de uma obra rasa, insignificante.
Pudera. Diante das deslumbrantes experiências que tive com o cinema espanhol, que me apresentaram obras inesquecíveis, somado ao fato de ter consciência da relevante contribuição do trabalho de Almodóvar para a arte do cinema, eu sabia que estava prestes a experimentar uma sensação sem igual. Estava certo.
Uma das referências que eu tinha da obra desse notável artista era uma menção feita por Adriana Calcanhoto na música "Esquadros", em que dizia:
"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome
cores de Almodóvar, cores de Frida Khalo, cores..."
E realmente, ao assistir ao filme Dor e Glória pude perceber o porque do destaque às "cores de Almodóvar". O visual de todo o filme é assustadoramente belo. Me lembro poucas vezes ter testemunhado filmes com tantos detalhes visuais em perfeita harmonia, com a utilização de cores e objetos que fazem do cenário um personagem a parte, que contracena com os atores que estão também ali dispostos.
Desgastado, melancólico, soturno e intencionalmente coberto por um véu metafórico obscuro, justamente para contrastar com toda a aura positiva proporcionada pela explosão de cores dos cenários que cercam os personagens está Salvador, o personagem principal da estória que, mesmo sem conhecer a fundo o estilo do diretor, pude constatar tão logo tratar-se de um alter-ego do seu criador Pedro. Uma versão de si mesmo que é utilizada para revelar detalhes mais íntimos do diretor como segredos, confissões, arrependimentos, desejos, dores e glórias. Algo semelhante ao que Woody Allen fez em diversas de suas obras, quando se utiliza de personagens caricatos e reclamões para expor ao mundo todo toda a sua agonia frente ao tédio que o assola.
Aqui é, no entanto, diferente. Por meio de Salvador, Pedro evoca sentimentos há muito não revisitados. Reconhece as limitações que lhe são impostas em razão da inexorável passagem do tempo e tenta aparar as arestas, realizando um acerto de contas com todos que o cercam e, principalmente, com a sua consciência.
Dor e Glória, além de ter sido uma excelente porta de entrada para o trabalho de Pedro Almodóvar, abriu os meus olhos para os detalhes que estão presentes no nosso dia a dia, que se manifestam a todo momento, mas que vão ficando para trás, restando deles apenas fragmentos de lembranças que se acumulam em nossas memórias e formam nossa personalidade. Aquilo que podemos chamar de "eu" e que às vezes pesa bastante.
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraÉ um dos melhores filmes desta temporada de premiações.
A direção de Fernando Meirelles é impecável.
Os diálogos são maravilhosos. Não permeiam eminentemente o campo religioso ou foca no embate progresso vs. conservadorismo, mas apresenta-nos questões que nos faz refletir e enxergar com outros olhos figuras que estamos habituados a olhar e lembrar somente em ocasiões bastante específicas, na maioria das vezes, pura e simplesmente em razão do cargo em que ocupam.
Ao apresentar-nos a jornada, questões internas e polêmicas, além da relação que se deu entre o para Bento XVI e o ainda Bispo Jorge Mario Bergoglio num momento bastante delicado para a Igreja Católica, o diretor não se atém a realizar nenhum juízo de valor com o intuito de apontar quem está se portando de forma correta ou errada; quem é o mocinho ou o vilão, mas nos aproxima da intimidade dos religiosos, apresentando-nos a forte humanidade e a religiosidade dos dois, que nos dá uma aula de sabedoria, compaixão, amizade e fé, junto a cenários que proporcionam deleite visual e nos proporciona serenidade.
As atuações são excepcionais. Pudera. Além do destaque às assustadoras semelhanças físicas guardadas entre os atores principais, Bento e Francisco, com as atuações é possível sentir a leveza, a paz e a serenidade que acompanhavam os dois religiosos em seus encontro e em situações adversas.
Por fim, não poderia deixar de se destacar a atuação de Anthony Hopkins que ao meu ver, junto à direção de Fernando, é a melhor coisa do filme. Hopkins, ao retratar uma figura tão controversa aos olhos do público, consegue conduzir os passos da personagem de forma tão fidedigna e serena que nos faz esquecer qualquer tipo de adversidade e volta a nossa atenção ao lado humano e sensível de seu personagem.
Este filme é uma obra de arte que será lembrada com muito apreço.
Festa de Família
4.2 395 Assista AgoraEste foi o meu primeiro contato com uma obra submetida aos mandamentos do manifesto Dogma 95. Uma bela experiência, bem válida.
A limitação técnica imposta pelo movimento em nada diminui a grandeza desta obra. Do contrário: aguça a curiosidade da grande parcela do público que, certamente, só tiveram conhecimento deste filme pelo fato de ele ser um representante do movimento e o primeiro a receber o certificado dogma.
A movimentação da câmera, os enquadramentos, as atuações são alguns dos elementos que foram cirurgicamente dispostos na tela de modo a aproximar o expectador dos acontecimentos retratados de forma a torná-lo uma espécie de testemunha ocular de todas as atrocidades que aconteceram naquela ocasião. Somos capazes de sentir o clima pesado a cada vez que os personagens estão reunidos. A tensão impera a cada proposição de brinde.
Nesse ponto, Thomas Vinterberg foi brilhante, pois conseguiu se utilizar de todos os recursos disponíveis (mesmo com o baixo orçamento), de modo a superar o desafio proposto pelo movimento, que era o de aproximar o cinema à máxima realidade possível. Com isso, o diretor traz à reflexão que, de fato, não é necessário utilizar em excesso elementos cenográficos para fazer um filme de qualidade que consiga excitar o público: com profissionalismo e ideal, é possível partir de uma premissa relativamente simples e já amplamente debatida e com poucos recursos entregar uma obra de qualidade ímpar.
Vinterberg foi notoriamente um diretor habilidoso na condução de Festen. É um trabalho admirável que deve ser visto por todos os amantes da sétima arte. É um notável exemplar do Dogma que vai de encontro às grandes produções cinematográficas atuais que pouco se preocupam com conteúdo e qualidade, mas somente com arrecadação e prêmios.
1.280 Almas
2.0 5Aguardando ansiosamente.