Esse é um filme feito para homens - não necessariamente homens gays. Ele aborda em camadas profundas o quão difícil é para nós termos que sustentar a tal da "masculinidade", e evidencia a pressão social ao desempenho de determinados papéis sociais pré-determinados.
De longe o que eu mais gostei foi da sutileza. Evidente que os acontecimentos no decorrer do longa nos deixam consternados, mas o diretor quis (e conseguiu) ser o mais verossímil possível. Leo, mas também Remi, dialogam com o espectador só com o olhar, e as expressões não precisam ser fortes demais e passam longe de serem caricatas. Outra coisa que eu gostei foi a realidade com a qual o assunto foi tratado.
Certeza que se fosse um filme nacional o espírito/lembrança do Remi ia ficar aparecendo, inclusive em flashback.
Gostei também do fato de os pais de ambos os garotos enxergarem aquela amizade com absoluta naturalidade, o que só evidencia o quão a escola pode ser cruel (e ela definitivamente é) com quem não se propõe a protagonizar ações no padrão social pré-estabelecido. Os homens são homoafetivos (no sentido literal da palavra) mas demonstrar essa afeição em público pode custar caro - afinal, eles eram somente duas crianças. Isso é que é triste de se pensar. A maldade está nos olhos de quem vê, definitivamente.
O que é realidade e o que é fantasia? O roteiro do filme nos questiona acerca disso todo o tempo e nos brinda com um recheio religioso em alegorias. "Fernando" é o nome de batismo de Santo Antônio de Pádua e, tal como na sua biografia repleta de misticismo, o nosso protagonista se vê numa jornada íntima de autodescoberta, uma espécie de "despertar" para fé com elementos contemporâneos e cheios de simbolismo - desde a amarração pelas técnicas shibari, sua pregação solitária aos animais, até a interação com Jesus e Tomé. Não é um longa para "fazer sentido", afinal.
Eu assisti ao filme sem ter me atentado à sinopse e só fui tomar ciência daquilo que o protagonista nos apresenta lendo os comentários aqui. É claro que, no decorrer do filme, temos pistas (bem mais que pistas, eu diria) daquilo que ele atravessa e de tudo o que a filha representa para ele, mas, tudo é muito sutil e nos é transmitido de uma maneira quase enigmática.
As peças só se encaixaram, para mim, na cena em que ela chora desesperadamente, sozinho, e escreve um cartão-postal para a filha. Penso que ele teria se matado ali mesmo, mas não o fez por ela.
Para uma pessoa desprovida de sensibilidade, ou simplesmente desatenta, as férias entre Sophie e Calum foram mais que perfeitas. E posso dizer com propriedade: para uma pessoa como eu, que não tive o meu pai presente, o filme bateu em mim numa outra ótica, algo do tipo "Sophie era muito sortuda por ter um pai tão atencioso e carinhoso, mas ao mesmo tempo tão zeloso e atento quanto o Calum". É estranho, mas ao mesmo tempo genial, que esse filme desperta sentimentos muito diferentes em cada um de nós.
A direção é linda. Os enquadramentos são muito inteligentes e dão o tom do longa, cujo roteiro é, ao mesmo tempo, vazio e acolhedor.
O filme tem dois grandes arcos: um que envolve os acontecimentos cotidianos do Sr. Kafuku, nosso protagonista, e todos os seus desdobramentos sentimentais, e o outro, que é o cotidiano dele em seu ofício de diretor no desenvolvimento da peça "Tio Vânia" do russo Tchékov. Penso que é sugerível ler a obra dramatúrgica que permeia o filme para compreendermos a extensão da conexão do texto ali contido com o longa em tela (as penúltimas cenas parecem deixar isso claro), mas como eu não fiz isso, julgo que o início e o fim do filme são bons, mas o que acontece entre eles é excessivamente monótono.
Foi muito bom percorrer as ensolaradas ruas da cidade eterna ao lado de Jep Gambardella nesse filme, e mergulhar junto com ele nas reflexões a respeito da vida sob a ótica da decadente alta sociedade romana. Nosso protagonista é charmoso, mas inquieto, e nos insere na declinante aristocracia italiana, seja nas rodas dos intelectuais, ou em meio a subcelebridades de televisão, e até mesmo em figuras decrépitas de um clero cada vez mais desnecessário. Talvez o Jep seja a transfiguração dessa ruína, mas que apesar do decaimento sempre terá um ar de belo e de nobre. É um filme que tinha tudo para ser monótono, mas ao contrário do que muita gente diz, não é - muito em razão do protagonista, que é capaz de nos envolver num carisma sutil. A Grande Beleza que intitula o filme está contida ali - e em muitos lugares e momentos do longa. Eu adorei.
Todavia, falando como homem gay cisgênero lamento informar que o roteiro não me surpreendeu. Talvez eu tenha lido a história sob uma ótica exageradamente clichê porque a gente cruza muito com as personagens principais do filme ao longo da nossa vida.
A direção é mais que boa, a fotografia é crua como tem que ser e o Saboia é mais que maravilhoso, mas realmente esse filme não merecia nem chegar aos indicados ao Oscar.
Num país com longas do quilate de "Bacurau" e do mais recente "Medida Provisória", esse filme tem um fio condutor que até atiça a curiosidade do espectador nos primeiros momentos, mas cai na vala comum da tragédia de que praticamente todo LGBTQIAPNB+ parece ser vítima - embora, ao contrário da grande maioria, nesse ainda exista alguma ponta de esperança. Peca pelo excesso de obviedades.
É um filme longo. Os sentimentos das personagens vão se aprofundando aos poucos, tipo uma massa de pão que cresce vagarosamente, mas cuja profundidade é expressada nos pequenos detalhes.
Não gostei dos diálogos irritantes daquele grupo de amigos do qual os protagonistas fazem parte (talvez eu não tenha entendido o humor irritante deles, ou eu simplesmente me transformei num velho ranzinza) e, sinceramente, o Matthias é o tipo de cara que faz tempestade num copo d'água.
Você precisa de paciência, porque o filme nos revela alguns momentos emocionantes. Os diálogos intensos do Max com a família (sobretudo a mãe) e algumas cenas genuinamente poéticas, como o perdido que o Matt dá no início do filme naquele lago - e a partir dali tudo desanda - ou dele voltando da festa quando surtou, com as folhas farfalhando ao redor do seu corpo involuntariamente em razão do vento, e sobretudo nas tomadas daquela primeira vez que ele se entrega ao que sente pelo Max, tudo ali soa maravilhosamente bem, mas todo o resto é enfadonho.
Sobre o Matt, em especial: o filme reflete a clássica figura irritante de masculinidade frágil que gente como eu odeia ter que conviver. Talvez o roteiro sob a ótica do Matt fizesse mais sentido numa High School ou coisa assim, mas na turminha desconstruída na qual ele estava inserido... Eu entendo que os sentimentos são algo genuinamente individuais e profundos, mas a repressão dele canalizada em raiva não fazia sentido (pelo menos pra mim). Só que... Mesmo eu detestando ele durante 99% do longa, na cena em que ele se entrega ao sentimento e ao Max há um excesso de ternura, poesia e amor, direcionada do jeito errado, evidentemente. É algo que transcende a tela, tamanha a realidade ali contida, mas essas cenas são raras na totalidade do filme e soam como espasmos de liberdade em uma personagem atormentada e acorrentada aos seus próprios preconceitos e limitações.
Difícil identificar quem é o mais passional. O filme é um jogo, ou uma dança, em que os movimentos são friamente calculados pelos dois protagonistas. Não há culpados ou inocentes aqui, apenas seres humanos tentando lidar com uma paixão avassaladora. Erros na condução de ambos os lados corroeram a relação entre Po Wing e Fai, cujo sentimento eventualmente se impõe e se debate quase que involuntariamente, tentando sobreviver às custas de muita toxicidade. Há muita ternura, é verdade, mas esse não é um sentimento capaz de coexistir pacificamente com a intensidade de uma paixão.
A direção é simplesmente sensacional. Os takes em diversos tons, velocidades e ângulos nas cenas-chave dão a tônica de um enredo extremamente envolvente. Sem falar que a melancólica Buenos Aires é uma locação capaz de canalizar todos os sentimentos presentes no longa.
A clássica história de paixão impossível entre pessoas de classes sociais diferentes no imóvel esquema de sociedade britânico - adicionado com uma enorme pitada de erotismo num roteiro que, talvez pela putaria, evita que a trama caia num marasmo total. A fotografia é OK, as locações são muito lindas, o figurino atende ao que se pede e as interpretações são convincentes. Achei o Jack O'Connell bem bonito.
Filmaço! O roteiro segue um determinado caminho, mas quando você pensa que ele finalmente chegou a alguma conclusão, eventos acontecem e te levam a crer que, não, ainda há muito para desbravar. Achei o título dado ao longa muito interessante, capaz de despertar em nós alguns questionamentos: qual foi o verdadeiro milagre? E para quem esse milagre foi direcionado? Todos os envolvidos saíram diferentes do desenrolar dessa história. Do ponto de vista estético, o filme é riquíssimo e os ambientes lúgubres e silenciosos nos obrigam a prestar atenção na brilhante atuação de Florence Pugh, O início convida o espectador a assistir; o desenrolar da história envolve-nos de tal forma que somos fisgados pelo filme, incapazes de abandoná-lo; e o final é não-óbvio do jeito que a gente gosta. Há muitos momentos de clímax nesse filme, que o deixa sempre "nivelado por cima". Não é enfadonho, mesmo se passando num período excessivamente rigoroso em dogmas e costumes. Genial!
Mais um filme que escancara a nossa realidade social desigual e desumana. Boas atuações. Um tapa na cara de quem ainda se acha a última bolacha do pacote - aquela que vem geralmente quebrada. Ele desperta em nós sentimentos muito primitivos: raiva, repulsa, repugnância, mas também tem seus momentos de glória quando a burguesia fétida do Rio de Janeiro se vê com a vida real batendo à soleira. Desperta necessárias reflexões sem ser pedante.
O ponto alto desse filme são as irrepreensíveis atuações da tríade: Taís Araújo, Seu Jorge e Alfie Enoch - uma generosa surpresa. A direção do Lázaro é correta e o roteiro tem seus momentos ruins, mas ainda assim eu fico muito feliz de ver o cinema brasileiro desbravando além do óbvio. Estamos muito acostumados a assistir nas telonas os longas que escancaram a nossa violência e a nossa desigualdade - Tropa de Elite, Cidade de Deus, Carandiru, Bicho de Sete Cabeças, etc. - mas felizmente essa nova leva de filmes tem feito o mesmo trabalho, mas de um jeito mais sutil e cult. Que Horas Ela Volta? Bacurau e Medida Provisória nos põem para pensar e abordam realidades [nem tão] paralelas de um jeito sofisticado e genuinamente brasileiro. Para quem sofre racismo o filme bate diferente, então não me cabe dizer o que senti, intimamente, mas a obra é das mais interessantes.
Isso sim é um reboot de verdade: as mesmas atrizes, o mesmo visual trash (com direito a update de respeito nos aspectos tecnológicos), um humor devidamente atualizado, de qualidade e na dosagem certa, além de uma mensagem bonitinha no final.
Artisticamente falando é uma obra das mais bonitas. Figurino lindíssimo, fotografia adequada e uma convincente interpretação da Kristen Stewart, atrelada a uma direção capaz de captar aquilo que se propõe. Todavia, não sei se o roteiro realmente me agradou. A Diana tem sido retratada como uma figura enfadonha ao longo da história - outras séries e filmes deixam isso claro. Achei que o recorte "cult" que quiseram impor foi excessivo. Evidente que os filmes não são obrigados a retratar fidedignamente os personagens históricos, mas achei que pesaram a mão e mais de uma vez me vi estranhando toda aquela correlação com a Ana Bolena, ou me vi diante de uma figura fictícia, muito distante daquilo que sabemos que aconteceu. Em mais de um momento senti raiva da Diana pela postura que é retratada no longa.
Bom filme sobre a história de um monarca britânico menos conhecido que Ricardo III ou Henrique VIII. Grande e sensacional elenco, com uma direção correta e montagem mais que convincente. O roteiro beira o óbvio, com poucas coisas fora do padrão para esse tipo de longa, e sinto inclusive que ele poderia ter tipo pelo menos 30 minutos menos de duração. Apesar disso, Timotheé e Pattinson brilharam em seus respectivos papéis. Boa pedida para quem gosta desse tipo de história.
Olha, eu gosto muito de filmes de natal, mas esse é extremamente ruim. São muitas histórias juntas que, pelo tempo do filme, não se aprofundam, e você fica sempre com a impressão de que faltou alguma coisa. Aleatoriedade pura.
Gosto de comédias românticas porque elas são todas iguais: baseada numa história de amor inicialmente despretensiosa, no fim das contas, faz o casal se apaixonar e ficar junto.
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4.2 470 Assista AgoraEsse é um filme feito para homens - não necessariamente homens gays. Ele aborda em camadas profundas o quão difícil é para nós termos que sustentar a tal da "masculinidade", e evidencia a pressão social ao desempenho de determinados papéis sociais pré-determinados.
De longe o que eu mais gostei foi da sutileza. Evidente que os acontecimentos no decorrer do longa nos deixam consternados, mas o diretor quis (e conseguiu) ser o mais verossímil possível. Leo, mas também Remi, dialogam com o espectador só com o olhar, e as expressões não precisam ser fortes demais e passam longe de serem caricatas. Outra coisa que eu gostei foi a realidade com a qual o assunto foi tratado.
Certeza que se fosse um filme nacional o espírito/lembrança do Remi ia ficar aparecendo, inclusive em flashback.
Gostei também do fato de os pais de ambos os garotos enxergarem aquela amizade com absoluta naturalidade, o que só evidencia o quão a escola pode ser cruel (e ela definitivamente é) com quem não se propõe a protagonizar ações no padrão social pré-estabelecido. Os homens são homoafetivos (no sentido literal da palavra) mas demonstrar essa afeição em público pode custar caro - afinal, eles eram somente duas crianças. Isso é que é triste de se pensar. A maldade está nos olhos de quem vê, definitivamente.
A Elefanta do Mágico
3.4 22 Assista AgoraQue gracinha.
Belchior: Apenas um Coração Selvagem
3.7 17Poético.
And Just Like That... O Documentário
3.5 4Impecável o cuidado aos mínimos detalhes. De fato, reconstruir algo tão marcante como Sex and The City é uma missão muito difícil.
Gato de Botas 2: O Último Pedido
4.1 450 Assista AgoraAssisti depois de um dia cansativo de trabalho e me diverti muito.
O Ornitólogo
3.5 84O que é realidade e o que é fantasia? O roteiro do filme nos questiona acerca disso todo o tempo e nos brinda com um recheio religioso em alegorias. "Fernando" é o nome de batismo de Santo Antônio de Pádua e, tal como na sua biografia repleta de misticismo, o nosso protagonista se vê numa jornada íntima de autodescoberta, uma espécie de "despertar" para fé com elementos contemporâneos e cheios de simbolismo - desde a amarração pelas técnicas shibari, sua pregação solitária aos animais, até a interação com Jesus e Tomé. Não é um longa para "fazer sentido", afinal.
Mas o Fernando tem um pauzão, hein?
Aftersun
4.1 700Eu assisti ao filme sem ter me atentado à sinopse e só fui tomar ciência daquilo que o protagonista nos apresenta lendo os comentários aqui. É claro que, no decorrer do filme, temos pistas (bem mais que pistas, eu diria) daquilo que ele atravessa e de tudo o que a filha representa para ele, mas, tudo é muito sutil e nos é transmitido de uma maneira quase enigmática.
As peças só se encaixaram, para mim, na cena em que ela chora desesperadamente, sozinho, e escreve um cartão-postal para a filha. Penso que ele teria se matado ali mesmo, mas não o fez por ela.
Para uma pessoa desprovida de sensibilidade, ou simplesmente desatenta, as férias entre Sophie e Calum foram mais que perfeitas. E posso dizer com propriedade: para uma pessoa como eu, que não tive o meu pai presente, o filme bateu em mim numa outra ótica, algo do tipo "Sophie era muito sortuda por ter um pai tão atencioso e carinhoso, mas ao mesmo tempo tão zeloso e atento quanto o Calum". É estranho, mas ao mesmo tempo genial, que esse filme desperta sentimentos muito diferentes em cada um de nós.
A direção é linda. Os enquadramentos são muito inteligentes e dão o tom do longa, cujo roteiro é, ao mesmo tempo, vazio e acolhedor.
Muito bom.
Drive My Car
3.8 382 Assista AgoraO filme tem dois grandes arcos: um que envolve os acontecimentos cotidianos do Sr. Kafuku, nosso protagonista, e todos os seus desdobramentos sentimentais, e o outro, que é o cotidiano dele em seu ofício de diretor no desenvolvimento da peça "Tio Vânia" do russo Tchékov. Penso que é sugerível ler a obra dramatúrgica que permeia o filme para compreendermos a extensão da conexão do texto ali contido com o longa em tela (as penúltimas cenas parecem deixar isso claro), mas como eu não fiz isso, julgo que o início e o fim do filme são bons, mas o que acontece entre eles é excessivamente monótono.
Bem-Vinda a Quixeramobim
3.2 99 Assista AgoraUm bom filme de humor nacional. Só isso.
A Grande Beleza
3.9 463 Assista AgoraFoi muito bom percorrer as ensolaradas ruas da cidade eterna ao lado de Jep Gambardella nesse filme, e mergulhar junto com ele nas reflexões a respeito da vida sob a ótica da decadente alta sociedade romana. Nosso protagonista é charmoso, mas inquieto, e nos insere na declinante aristocracia italiana, seja nas rodas dos intelectuais, ou em meio a subcelebridades de televisão, e até mesmo em figuras decrépitas de um clero cada vez mais desnecessário. Talvez o Jep seja a transfiguração dessa ruína, mas que apesar do decaimento sempre terá um ar de belo e de nobre. É um filme que tinha tudo para ser monótono, mas ao contrário do que muita gente diz, não é - muito em razão do protagonista, que é capaz de nos envolver num carisma sutil. A Grande Beleza que intitula o filme está contida ali - e em muitos lugares e momentos do longa. Eu adorei.
Deserto Particular
3.8 183 Assista AgoraSuco de Brasil contemporâneo.
Todavia, falando como homem gay cisgênero lamento informar que o roteiro não me surpreendeu. Talvez eu tenha lido a história sob uma ótica exageradamente clichê porque a gente cruza muito com as personagens principais do filme ao longo da nossa vida.
A direção é mais que boa, a fotografia é crua como tem que ser e o Saboia é mais que maravilhoso, mas realmente esse filme não merecia nem chegar aos indicados ao Oscar.
Num país com longas do quilate de "Bacurau" e do mais recente "Medida Provisória", esse filme tem um fio condutor que até atiça a curiosidade do espectador nos primeiros momentos, mas cai na vala comum da tragédia de que praticamente todo LGBTQIAPNB+ parece ser vítima - embora, ao contrário da grande maioria, nesse ainda exista alguma ponta de esperança. Peca pelo excesso de obviedades.
Matthias & Maxime
3.4 132 Assista AgoraÉ um filme longo. Os sentimentos das personagens vão se aprofundando aos poucos, tipo uma massa de pão que cresce vagarosamente, mas cuja profundidade é expressada nos pequenos detalhes.
Não gostei dos diálogos irritantes daquele grupo de amigos do qual os protagonistas fazem parte (talvez eu não tenha entendido o humor irritante deles, ou eu simplesmente me transformei num velho ranzinza) e, sinceramente, o Matthias é o tipo de cara que faz tempestade num copo d'água.
Você precisa de paciência, porque o filme nos revela alguns momentos emocionantes. Os diálogos intensos do Max com a família (sobretudo a mãe) e algumas cenas genuinamente poéticas, como o perdido que o Matt dá no início do filme naquele lago - e a partir dali tudo desanda - ou dele voltando da festa quando surtou, com as folhas farfalhando ao redor do seu corpo involuntariamente em razão do vento, e sobretudo nas tomadas daquela primeira vez que ele se entrega ao que sente pelo Max, tudo ali soa maravilhosamente bem, mas todo o resto é enfadonho.
Sobre o Matt, em especial: o filme reflete a clássica figura irritante de masculinidade frágil que gente como eu odeia ter que conviver. Talvez o roteiro sob a ótica do Matt fizesse mais sentido numa High School ou coisa assim, mas na turminha desconstruída na qual ele estava inserido... Eu entendo que os sentimentos são algo genuinamente individuais e profundos, mas a repressão dele canalizada em raiva não fazia sentido (pelo menos pra mim). Só que... Mesmo eu detestando ele durante 99% do longa, na cena em que ele se entrega ao sentimento e ao Max há um excesso de ternura, poesia e amor, direcionada do jeito errado, evidentemente. É algo que transcende a tela, tamanha a realidade ali contida, mas essas cenas são raras na totalidade do filme e soam como espasmos de liberdade em uma personagem atormentada e acorrentada aos seus próprios preconceitos e limitações.
Felizes Juntos
4.2 261 Assista AgoraDifícil identificar quem é o mais passional. O filme é um jogo, ou uma dança, em que os movimentos são friamente calculados pelos dois protagonistas. Não há culpados ou inocentes aqui, apenas seres humanos tentando lidar com uma paixão avassaladora. Erros na condução de ambos os lados corroeram a relação entre Po Wing e Fai, cujo sentimento eventualmente se impõe e se debate quase que involuntariamente, tentando sobreviver às custas de muita toxicidade. Há muita ternura, é verdade, mas esse não é um sentimento capaz de coexistir pacificamente com a intensidade de uma paixão.
A direção é simplesmente sensacional. Os takes em diversos tons, velocidades e ângulos nas cenas-chave dão a tônica de um enredo extremamente envolvente. Sem falar que a melancólica Buenos Aires é uma locação capaz de canalizar todos os sentimentos presentes no longa.
Filmaço.
O Amante de Lady Chatterley
3.4 156 Assista AgoraA clássica história de paixão impossível entre pessoas de classes sociais diferentes no imóvel esquema de sociedade britânico - adicionado com uma enorme pitada de erotismo num roteiro que, talvez pela putaria, evita que a trama caia num marasmo total. A fotografia é OK, as locações são muito lindas, o figurino atende ao que se pede e as interpretações são convincentes. Achei o Jack O'Connell bem bonito.
O Milagre
3.5 219Filmaço! O roteiro segue um determinado caminho, mas quando você pensa que ele finalmente chegou a alguma conclusão, eventos acontecem e te levam a crer que, não, ainda há muito para desbravar. Achei o título dado ao longa muito interessante, capaz de despertar em nós alguns questionamentos: qual foi o verdadeiro milagre? E para quem esse milagre foi direcionado? Todos os envolvidos saíram diferentes do desenrolar dessa história.
Do ponto de vista estético, o filme é riquíssimo e os ambientes lúgubres e silenciosos nos obrigam a prestar atenção na brilhante atuação de Florence Pugh, O início convida o espectador a assistir; o desenrolar da história envolve-nos de tal forma que somos fisgados pelo filme, incapazes de abandoná-lo; e o final é não-óbvio do jeito que a gente gosta. Há muitos momentos de clímax nesse filme, que o deixa sempre "nivelado por cima". Não é enfadonho, mesmo se passando num período excessivamente rigoroso em dogmas e costumes.
Genial!
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraMais um filme que escancara a nossa realidade social desigual e desumana. Boas atuações. Um tapa na cara de quem ainda se acha a última bolacha do pacote - aquela que vem geralmente quebrada. Ele desperta em nós sentimentos muito primitivos: raiva, repulsa, repugnância, mas também tem seus momentos de glória quando a burguesia fétida do Rio de Janeiro se vê com a vida real batendo à soleira. Desperta necessárias reflexões sem ser pedante.
Medida Provisória
3.6 432O ponto alto desse filme são as irrepreensíveis atuações da tríade: Taís Araújo, Seu Jorge e Alfie Enoch - uma generosa surpresa. A direção do Lázaro é correta e o roteiro tem seus momentos ruins, mas ainda assim eu fico muito feliz de ver o cinema brasileiro desbravando além do óbvio.
Estamos muito acostumados a assistir nas telonas os longas que escancaram a nossa violência e a nossa desigualdade - Tropa de Elite, Cidade de Deus, Carandiru, Bicho de Sete Cabeças, etc. - mas felizmente essa nova leva de filmes tem feito o mesmo trabalho, mas de um jeito mais sutil e cult. Que Horas Ela Volta? Bacurau e Medida Provisória nos põem para pensar e abordam realidades [nem tão] paralelas de um jeito sofisticado e genuinamente brasileiro.
Para quem sofre racismo o filme bate diferente, então não me cabe dizer o que senti, intimamente, mas a obra é das mais interessantes.
Abracadabra 2
3.3 349 Assista AgoraIsso sim é um reboot de verdade: as mesmas atrizes, o mesmo visual trash (com direito a update de respeito nos aspectos tecnológicos), um humor devidamente atualizado, de qualidade e na dosagem certa, além de uma mensagem bonitinha no final.
Spencer
3.7 569 Assista AgoraArtisticamente falando é uma obra das mais bonitas. Figurino lindíssimo, fotografia adequada e uma convincente interpretação da Kristen Stewart, atrelada a uma direção capaz de captar aquilo que se propõe.
Todavia, não sei se o roteiro realmente me agradou. A Diana tem sido retratada como uma figura enfadonha ao longo da história - outras séries e filmes deixam isso claro. Achei que o recorte "cult" que quiseram impor foi excessivo. Evidente que os filmes não são obrigados a retratar fidedignamente os personagens históricos, mas achei que pesaram a mão e mais de uma vez me vi estranhando toda aquela correlação com a Ana Bolena, ou me vi diante de uma figura fictícia, muito distante daquilo que sabemos que aconteceu. Em mais de um momento senti raiva da Diana pela postura que é retratada no longa.
O Rei
3.6 404Bom filme sobre a história de um monarca britânico menos conhecido que Ricardo III ou Henrique VIII. Grande e sensacional elenco, com uma direção correta e montagem mais que convincente. O roteiro beira o óbvio, com poucas coisas fora do padrão para esse tipo de longa, e sinto inclusive que ele poderia ter tipo pelo menos 30 minutos menos de duração. Apesar disso, Timotheé e Pattinson brilharam em seus respectivos papéis. Boa pedida para quem gosta desse tipo de história.
Um Castelo Para o Natal
2.8 58 Assista AgoraClichê de natal bem desenvolvido, mas com atuações pouco convincentes.
Terra do Natal
2.7 12 Assista AgoraBonitinho como tudo o que a Hallmark faz.
Deixe a Neve Cair
2.8 275 Assista AgoraOlha, eu gosto muito de filmes de natal, mas esse é extremamente ruim. São muitas histórias juntas que, pelo tempo do filme, não se aprofundam, e você fica sempre com a impressão de que faltou alguma coisa. Aleatoriedade pura.
Amor em Verona
2.6 89 Assista AgoraGosto de comédias românticas porque elas são todas iguais: baseada numa história de amor inicialmente despretensiosa, no fim das contas, faz o casal se apaixonar e ficar junto.
Além do mais, venhamos e convenhamos, o Tom Hopper é muito gostoso.