Bom trabalho do elenco em geral. Feliz em ver o De Niro voltando com um filme mais consistente que seus últimos trabalhos. Boa também foi a direção do David O. Russell, bem como a adaptação do roteiro feita por ele. Não deve levar muitos Oscars pra casa, mas, se levar algum, provavelmente será o de melhor atriz (desmerecidamente, já que a Emmanuelle Riva entregou a melhor performance feminina dentre as concorrentes).
Esse filme não faz o menor sentido. Tudo nele, dos diálogos ao roteiro em si, soa deliberadamente forçado e extremamente falso. Sem falar nas atuações risíveis. Perda de tempo.
Dose maciça de humor britânico, repleto de humor negro e piadinha de cunho sexual, pode deixar muita gente constrangida. Engraçado, mas um pouco esquisito.
Dono de um roteiro bastante inusitado, edição interessante e fotografia sombria, "O Homem da Máfia" faz de tudo para trazer a sensação de decadência humana (seja através da moral, seja através da falência financeira) da forma mais pungente possível, culminando na brutalidade dos assassinatos, mesmo que estes, ironicamente, sirvam a um propósito de restabelecimento da ordem. Circular, porém não entediante, ácido e cru.
Cheio de altos e baixos, "Argo" é um filme que começa relativamente anêmico, mecânico, com personagens que se movem quase que automaticamente e sem nenhuma paixão. Da metade para o final temos um aumento considerável de ritmo, bem como da tensão da história, pontuada por diversos clichês do gênero de ação estadunidense. O tom patriótico é derrubado no início do filme quando se associou a figura do terrível Xá Reza Pahlevi ao governo dos EUA, bem como quando, através de imagens de arquivo, é mostrado como o povo do Irã sofreu nas mãos do Xá e validado o seu desejo de vingança (tal qual como ocorreu com a caça a Osama Bin Laden após o 11/9). O que permanece na maior parte do tempo, de forma mais clara, é o ponto de vista de reféns que procuram ter sua liberdade de volta, independentemente de suas nacionalidades. Um trabalho competente, mas nada excepcional.
Um exercício pra mostrar como certos aspectos da sociedade (a citar: preconceito, liberdade, guerra) não mudam, por mais que a sociedade aparentemente mude. É meio óbvio e sem muita criatividade (com clichês do tipo "marcas de nascença que se repetem" e "bordões que são citados por um mesmo personagem ao longo de suas várias vidas") mas bem executado e consegue fazer com que 3h passem rápido.
Assisti a "Adaptação" me lembrando de "As Horas", porque as várias tramas com as quais o filme trabalha não são apenas paralelas, elas se inserem uma na outra, proporcionando uma dinâmica bastante intrigante, que requer ainda mais a atenção do espectador, jogado pra frente e pra trás pela narrativa fragmentada. É um roteiro realmente bem escrito, que ainda traz uma dose de metalinguagem inserida em si. Somado a isso, temos ótimas atuações de Meryl Streep, Chris Cooper e, quem diria, Nicolas Cage (interpretando dois personagens ou dois lados de um personagem?), além de diálogos pertinentes, que explicitam as analogias feitas entre a busca pela Orquídea Fantasma (e pelo roteiro) e a busca por uma paixão na vida; e entre o processo de adaptação descrito por Darwin e a adaptação constante e pessoal de cada um, seja ela incentivada (como na figura de Donald) ou reprimida (tal qual na figura de Charlie). Entretenimento inteligente!
"Antes do Pôr-do-Sol" é um primor de roteiro. Escapa completamente dos maneirismos do gênero romântico, se apresentando de forma bem natural e espontânea ao espectador. Faz uma conexão bastante coerente com o filme antecessor, "Antes do Amanhecer", mostrando como os personagens desiludiram-se da vida, mas sem deixar o sonho de reencontro se esvanecer com o tempo. Os diálogos continuam ótimos, assim como as atuações, e o final é simplesmente incrível, mas a evolução entre uma obra e outra é o que realmente chama a atenção. Jesse e Celine já são um dos meus casais favoritos! E que venha "Antes da Meia-Noite"!
Filme simples, que te permite uma fácil identificação com o que os personagens dizem, mas que te deixa encantados pelo que eles são e por toda a situação que ocorre. Do tipo que se aprecia pelos detalhes, como discretos olhares e uma determinada entonação na voz.
Alguém não tem ideia, só vendo pelos telejornais, do que se passa com uma pessoa atingida por um tsunami. É preciso que o cinema mostre com um olhar menos generalizado o sofrimento desses indivíduos, é preciso que os números das estatísticas se tornem seres humanos com dramas pessoais para que as dimensões de um desastre natural como esse sejam sentidas de forma convincente. Assim, Bayona entrega um filme com andamento bastante vigoroso, através de uma abordagem intensa dos fatos. O espectador sofre com as feridas abertas e o sangue, fica sem chão e se desespera com a sequência aterrorizante do tsunami, anseia a cada minuto pelo melhor e se emociona várias e várias vezes com a dor e com o alívio dos personagens (emoção essa que provoca reflexão ao final da história, quando se pensa que aquilo ocorreu de fato). "O Impossível" poderia ter sido melhor escrito, mas as ótimas atuações de Watts e McGregor, somadas aos efeitos visuais impressionantes compensam a ida ao cinema. Aliás, um trabalho que retrata uma tragédia dessa magnitude só deve ser conferido na telona, onde as imagens e os sons envolvem com mais facilidade quem assiste.
Bullying com releitura de massacres americanos + ótimas atuações + ótima fotografia + sensibilidade ao tratar as emoções da protagonista. Só achei que o final foi rápido demais em comparação ao andamento do resto do filme. Mas a sensação de vingança que se tem no encerramento é catártica.
Muito bom! "As Aventuras de Pi" possui um ritmo bastante vigoroso, que não é prejudicado pela dupla narrativa da história e dificilmente deixa o espectador entediado. Visualmente, o filme é um primor, e isso já era esperado graças à amostra dada pelo trailer. A surpresa fica por conta do roteiro, simples, mas de grande profundidade, que resguarda em si algumas alegorias e uma bela mensagem. Certamente conseguirá algumas indicações para o Oscar (Efeitos Especiais deve ser uma delas), e tem potencial para levar a estatueta.
Ao contrário do que mencionaram, não achei um filme religioso. "As Aventuras de Pi" defende a crença em um deus, não a existência de um deus, é há certa diferença quando se procura impor a crença de algo (nesse caso, imposição que seria feita para o espectador) e quando se dá a escolha de acreditar ou não nessa determinada coisa. Quando Pi diz ao final que escolher acreditar em deus é uma opção para diminuir o sofrimento, a obra toda adquire um tom cético, como se deus fosse uma ilusão escapista para os que não conseguem aguentar as dores da vida (engraçado que o roteiro é capaz de expor isso de uma maneira bastante positiva).
O ponto negativo mais gritante certamente foi o didatismo no final, que é compreensível (em se tratando de um filme com pretensões comerciais) porém dispensável.
Diferentemente de como se vê usualmente, quando uma pessoa é chamada a combater as injustiças e tragédias que se abatem em determinado círculo social e o faz com fervor de espírito, "Detachment" conta a história de um homem que quer ajudar, mas não consegue. Distanciado dos outros por traumas do passado, ele não possui sentimentos positivos que possa compartilhar com as pessoas, somente tristeza, melancolia e revolta. Por mais que ele tente, ele não consegue se aproximar o suficiente de quem necessita dele, seja por suas próprias limitações, seja por sua profissão (a qual requer o não-contato pessoal com alunos). As denúncias das falhas no sistema de ensino de jovens (que vai desde o ambiente familiar negligente até à escola despreparada) estão lá, mas adquirem tons de segundo plano ante o drama existencialista do protagonista que, como a Casa de Usher, se vê em irreversível desintegração. O ritmo implacável do filme, que não para um segundo sequer (e isso é bem demarcado pela presença constante de banda sonora), somado às performances agressivas do elenco em geral e aos movimentos frenéticos de câmera do diretor, fazem essa desintegração caminhar a passos rápidos e dolorosos pra quem assiste. Com toda a apelação e manipulação, tem que ser um iceberg pra não se emocionar.
Não é difícil ver logo de cara que "Amour" é um filme tipicamente Hanekiano. Os créditos silenciosos, simples, seguidos de um breve "prefácio", Schubert como parte principal da escassa trilha sonora, a personagem principal feminina chamando-se Anne. Outros maneirismos característicos do diretor ainda viriam, e tudo estaria bem, não fosse o fato de que eles são a única coisa que dão substância à obra. Porque "Amour" é um trabalho bastante contido numa determinada zona de conforto, arriscando-se em momentos bem pontuais (a citar o tapa que George dá em sua esposa quando ela se recusa a tomar água), que promovem uma intervenção brusca no ritmo excessivamente pacato da história, traço que marca o realismo extremo de Haneke. Dois pontos merecem ser destacados: o jogo que o cineasta faz com a memória e o sonho de seus personagens é uma das poucas escolhas frescas do filme, e mostram de uma forma elegante uma outra dimensão da dor da morte iminente; e a atuação de Emmanuelle Riva, talvez a interpretação feminina mais forte do ano. A fotografia acertada e o uso de câmeras fixas, que já são recorrentes na filmografia do diretor, também se fazem presentes. O final deixa um pouco a desejar, pois, apesar de trazer a típica brutalidade de Haneke mais uma vez à tona, é uma referência bastante clara ao final de "Um Estranho no Ninho" - o que faz a escolha de "matar por amor" soar um tanto preguiçosa. No geral, "Amour" é um filme simples, porém sincero, sobre um tema que diz respeito a todos, mas que perde bastante potencial na busca de se tornar extremamente realista.
Ulrich Seidl novamente toca em tabus delicados. Sem usar cenas de sexo (implícito ou explícito) - o que soa incoerente com a proposta do filme, mas é uma escolha elegante -, conta a história de mulheres que vão para longe de seus círculos sociais em busca de alguém que as reconheça pelo que realmente são, que olhem para dentro de suas almas e não que fiquem somente retidos na pele. Vindas de um continente onde a imagem é supervalorizada e a velhice é algo a ser execrado, na África elas podem ser amadas, mesmo que seja em troca de algum dinheiro. É notável a fragilidade de Teresa, personagem principal, muito bem interpretada por Maria Hofstätter, que mais se assemelha a uma pré-adolescente se iniciando sexual e emocionalmente. Ótima fotografia e cenários deslumbrantes, sem falar na acertada escolha pela quase ausência de trilha sonora.
O final contém o típico pessimismo do autor, ficando a ambiguidade: as europeias exploram (sexualmente) os africanos ou, ironicamente, elas são exploradas (financeiramente) por eles, depois de séculos em que o oposto ocorria?
É difícil imaginar o impacto que um filme como "Salò" deva ter causado na época em que foi lançado. Visualmente, é sem sombra de dúvidas transgressor e ousado. O roteiro cumpre o objetivo de fazer com que a obra seja tão desagradável quanto possível, mas não de forma gratuita, como acontece com alguns filmes de terror hoje em dia. "Salò" deve ser observado como se vê "Anticristo" ou "Irreversível", olhando além da mera retratação dos fatos extremos e em direção a metáforas bastante pertinentes - nesse caso, a crítica ferrenha à ditadura tirânica por parte do alto escalão do poder italiano (o clero, a nobreza, a justiça e os políticos), que insistem no exercício de uma superioridade considerada por eles como natural (através do sexo, da violência e da humilhação) contra um povo submisso que se deixa explorar sem praticamente nenhum sinal de revolta ou fadiga, inclusive com traços de corrupção advindos da própria fraqueza interna. O "sexo como metáfora do poder", como disse a nágila abaixo.
É preciso muita sensibilidade pra se fazer um filme que, ao mesmo tempo, é tão doce e tão duro, como a própria Hushpuppy. Aliás, "Beasts of the Southern Wild" (o título é até meio irônico) se sustenta basicamente em cima de paradoxos do tipo natureza vs artificialidade, animal vs homem, mas, ao invés de pregar o discurso de guerra de castas, o diretor opta por, sabiamente, colocar o foco em cima da visão bastante original da protagonista, uma menina que aprendeu desde cedo a viver de forma áspera, mas que não perdeu a inocência da pouca idade. Isso somado a uma fotografia fascinante e ótimas atuações resulta numa obra bastante coesa, verdadeira e que invariavelmente vai emocionar o espectador. Uma grata surpresa assistir a esse trabalho do Benh Zeitlin, que eu espero que alce voos ainda maiores daqui pra frente.
Bela crítica aos rumos que essa sociedade da internet (e dos avatares) tem tomado, proporcionando a encarnação de diversas personalidades numa só pessoa, mas às custas da identidade dela (o filme parece até se passar numa espécie de futuro pessimista). Fotografia ótima e atuação brilhante do Denis Lavant, favorecido por um roteiro totalmente livre de amarras convencionais e que proporcionou momentos tão nonsense que beiram o surrealismo (mas nunca gratuitos, uma vez que o simbolismo aqui é bastante nítido e carrega consigo uma série de outras críticas sociais).
Não consegui uma empatia tão forte com "Holy Motors" quanto eu queria, mas não sei se isso se deve a certa perda de ritmo narrativo na segunda metade da história ou se foi causado pelo estranhamento natural dos filmes do Leos Carax (experienciei uma sensação parecida ao assistir "Os Amantes da Pont Neuf), que podem causar algum distanciamento. Mas tenho consciência que é o melhor filme de 2012 (até agora) e um dos mais originais dos últimos anos.
Apesar do ponto de vista um tanto conservador e apocalíptico, é um filme que mostra de forma bem clara como o tempo e o meio agem sobre as pessoas. Interessante tanto do ponto de vista histórico quanto do psicológico.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraBom trabalho do elenco em geral. Feliz em ver o De Niro voltando com um filme mais consistente que seus últimos trabalhos. Boa também foi a direção do David O. Russell, bem como a adaptação do roteiro feita por ele. Não deve levar muitos Oscars pra casa, mas, se levar algum, provavelmente será o de melhor atriz (desmerecidamente, já que a Emmanuelle Riva entregou a melhor performance feminina dentre as concorrentes).
Paris-Manhattan
3.4 391 Assista AgoraEsse filme não faz o menor sentido. Tudo nele, dos diálogos ao roteiro em si, soa deliberadamente forçado e extremamente falso. Sem falar nas atuações risíveis. Perda de tempo.
Dou-lhes Um Ano
2.5 138 Assista AgoraDose maciça de humor britânico, repleto de humor negro e piadinha de cunho sexual, pode deixar muita gente constrangida. Engraçado, mas um pouco esquisito.
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraPela primeira vez gostei de uma atuação do Leonardo de Caprio. E Waltz, faz o favor de levar outro oscar pra casa.
O Homem da Máfia
3.1 592 Assista AgoraDono de um roteiro bastante inusitado, edição interessante e fotografia sombria, "O Homem da Máfia" faz de tudo para trazer a sensação de decadência humana (seja através da moral, seja através da falência financeira) da forma mais pungente possível, culminando na brutalidade dos assassinatos, mesmo que estes, ironicamente, sirvam a um propósito de restabelecimento da ordem. Circular, porém não entediante, ácido e cru.
Argo
3.9 2,5KCheio de altos e baixos, "Argo" é um filme que começa relativamente anêmico, mecânico, com personagens que se movem quase que automaticamente e sem nenhuma paixão. Da metade para o final temos um aumento considerável de ritmo, bem como da tensão da história, pontuada por diversos clichês do gênero de ação estadunidense. O tom patriótico é derrubado no início do filme quando se associou a figura do terrível Xá Reza Pahlevi ao governo dos EUA, bem como quando, através de imagens de arquivo, é mostrado como o povo do Irã sofreu nas mãos do Xá e validado o seu desejo de vingança (tal qual como ocorreu com a caça a Osama Bin Laden após o 11/9). O que permanece na maior parte do tempo, de forma mais clara, é o ponto de vista de reféns que procuram ter sua liberdade de volta, independentemente de suas nacionalidades. Um trabalho competente, mas nada excepcional.
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraUm exercício pra mostrar como certos aspectos da sociedade (a citar: preconceito, liberdade, guerra) não mudam, por mais que a sociedade aparentemente mude. É meio óbvio e sem muita criatividade (com clichês do tipo "marcas de nascença que se repetem" e "bordões que são citados por um mesmo personagem ao longo de suas várias vidas") mas bem executado e consegue fazer com que 3h passem rápido.
Adaptação.
3.9 707 Assista AgoraAssisti a "Adaptação" me lembrando de "As Horas", porque as várias tramas com as quais o filme trabalha não são apenas paralelas, elas se inserem uma na outra, proporcionando uma dinâmica bastante intrigante, que requer ainda mais a atenção do espectador, jogado pra frente e pra trás pela narrativa fragmentada. É um roteiro realmente bem escrito, que ainda traz uma dose de metalinguagem inserida em si. Somado a isso, temos ótimas atuações de Meryl Streep, Chris Cooper e, quem diria, Nicolas Cage (interpretando dois personagens ou dois lados de um personagem?), além de diálogos pertinentes, que explicitam as analogias feitas entre a busca pela Orquídea Fantasma (e pelo roteiro) e a busca por uma paixão na vida; e entre o processo de adaptação descrito por Darwin e a adaptação constante e pessoal de cada um, seja ela incentivada (como na figura de Donald) ou reprimida (tal qual na figura de Charlie). Entretenimento inteligente!
Antes do Pôr-do-Sol
4.2 1,5K Assista Agora"Antes do Pôr-do-Sol" é um primor de roteiro. Escapa completamente dos maneirismos do gênero romântico, se apresentando de forma bem natural e espontânea ao espectador. Faz uma conexão bastante coerente com o filme antecessor, "Antes do Amanhecer", mostrando como os personagens desiludiram-se da vida, mas sem deixar o sonho de reencontro se esvanecer com o tempo. Os diálogos continuam ótimos, assim como as atuações, e o final é simplesmente incrível, mas a evolução entre uma obra e outra é o que realmente chama a atenção. Jesse e Celine já são um dos meus casais favoritos! E que venha "Antes da Meia-Noite"!
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraFilme simples, que te permite uma fácil identificação com o que os personagens dizem, mas que te deixa encantados pelo que eles são e por toda a situação que ocorre. Do tipo que se aprecia pelos detalhes, como discretos olhares e uma determinada entonação na voz.
O Impossível
4.1 3,1K Assista AgoraAlguém não tem ideia, só vendo pelos telejornais, do que se passa com uma pessoa atingida por um tsunami. É preciso que o cinema mostre com um olhar menos generalizado o sofrimento desses indivíduos, é preciso que os números das estatísticas se tornem seres humanos com dramas pessoais para que as dimensões de um desastre natural como esse sejam sentidas de forma convincente. Assim, Bayona entrega um filme com andamento bastante vigoroso, através de uma abordagem intensa dos fatos. O espectador sofre com as feridas abertas e o sangue, fica sem chão e se desespera com a sequência aterrorizante do tsunami, anseia a cada minuto pelo melhor e se emociona várias e várias vezes com a dor e com o alívio dos personagens (emoção essa que provoca reflexão ao final da história, quando se pensa que aquilo ocorreu de fato). "O Impossível" poderia ter sido melhor escrito, mas as ótimas atuações de Watts e McGregor, somadas aos efeitos visuais impressionantes compensam a ida ao cinema. Aliás, um trabalho que retrata uma tragédia dessa magnitude só deve ser conferido na telona, onde as imagens e os sons envolvem com mais facilidade quem assiste.
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraBullying com releitura de massacres americanos + ótimas atuações + ótima fotografia + sensibilidade ao tratar as emoções da protagonista. Só achei que o final foi rápido demais em comparação ao andamento do resto do filme. Mas a sensação de vingança que se tem no encerramento é catártica.
Zeitgeist: The Movie
3.8 311 Assista AgoraTerrorismo
As Aventuras de Pi
3.9 4,4KMuito bom! "As Aventuras de Pi" possui um ritmo bastante vigoroso, que não é prejudicado pela dupla narrativa da história e dificilmente deixa o espectador entediado. Visualmente, o filme é um primor, e isso já era esperado graças à amostra dada pelo trailer. A surpresa fica por conta do roteiro, simples, mas de grande profundidade, que resguarda em si algumas alegorias e uma bela mensagem. Certamente conseguirá algumas indicações para o Oscar (Efeitos Especiais deve ser uma delas), e tem potencial para levar a estatueta.
Ao contrário do que mencionaram, não achei um filme religioso. "As Aventuras de Pi" defende a crença em um deus, não a existência de um deus, é há certa diferença quando se procura impor a crença de algo (nesse caso, imposição que seria feita para o espectador) e quando se dá a escolha de acreditar ou não nessa determinada coisa. Quando Pi diz ao final que escolher acreditar em deus é uma opção para diminuir o sofrimento, a obra toda adquire um tom cético, como se deus fosse uma ilusão escapista para os que não conseguem aguentar as dores da vida (engraçado que o roteiro é capaz de expor isso de uma maneira bastante positiva).
O ponto negativo mais gritante certamente foi o didatismo no final, que é compreensível (em se tratando de um filme com pretensões comerciais) porém dispensável.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista Agorapossui alguns momentos de nostalgia, que não se sobrepõem a outros vários momentos bem constrangedores. parece um lotr com apelo infantil.
O Substituto
4.4 1,7K Assista AgoraDiferentemente de como se vê usualmente, quando uma pessoa é chamada a combater as injustiças e tragédias que se abatem em determinado círculo social e o faz com fervor de espírito, "Detachment" conta a história de um homem que quer ajudar, mas não consegue. Distanciado dos outros por traumas do passado, ele não possui sentimentos positivos que possa compartilhar com as pessoas, somente tristeza, melancolia e revolta. Por mais que ele tente, ele não consegue se aproximar o suficiente de quem necessita dele, seja por suas próprias limitações, seja por sua profissão (a qual requer o não-contato pessoal com alunos). As denúncias das falhas no sistema de ensino de jovens (que vai desde o ambiente familiar negligente até à escola despreparada) estão lá, mas adquirem tons de segundo plano ante o drama existencialista do protagonista que, como a Casa de Usher, se vê em irreversível desintegração. O ritmo implacável do filme, que não para um segundo sequer (e isso é bem demarcado pela presença constante de banda sonora), somado às performances agressivas do elenco em geral e aos movimentos frenéticos de câmera do diretor, fazem essa desintegração caminhar a passos rápidos e dolorosos pra quem assiste. Com toda a apelação e manipulação, tem que ser um iceberg pra não se emocionar.
Amor
4.2 2,2K Assista AgoraNão é difícil ver logo de cara que "Amour" é um filme tipicamente Hanekiano. Os créditos silenciosos, simples, seguidos de um breve "prefácio", Schubert como parte principal da escassa trilha sonora, a personagem principal feminina chamando-se Anne. Outros maneirismos característicos do diretor ainda viriam, e tudo estaria bem, não fosse o fato de que eles são a única coisa que dão substância à obra. Porque "Amour" é um trabalho bastante contido numa determinada zona de conforto, arriscando-se em momentos bem pontuais (a citar o tapa que George dá em sua esposa quando ela se recusa a tomar água), que promovem uma intervenção brusca no ritmo excessivamente pacato da história, traço que marca o realismo extremo de Haneke.
Dois pontos merecem ser destacados: o jogo que o cineasta faz com a memória e o sonho de seus personagens é uma das poucas escolhas frescas do filme, e mostram de uma forma elegante uma outra dimensão da dor da morte iminente; e a atuação de Emmanuelle Riva, talvez a interpretação feminina mais forte do ano. A fotografia acertada e o uso de câmeras fixas, que já são recorrentes na filmografia do diretor, também se fazem presentes.
O final deixa um pouco a desejar, pois, apesar de trazer a típica brutalidade de Haneke mais uma vez à tona, é uma referência bastante clara ao final de "Um Estranho no Ninho" - o que faz a escolha de "matar por amor" soar um tanto preguiçosa. No geral, "Amour" é um filme simples, porém sincero, sobre um tema que diz respeito a todos, mas que perde bastante potencial na busca de se tornar extremamente realista.
Paraíso: Amor
3.8 70 Assista AgoraUlrich Seidl novamente toca em tabus delicados. Sem usar cenas de sexo (implícito ou explícito) - o que soa incoerente com a proposta do filme, mas é uma escolha elegante -, conta a história de mulheres que vão para longe de seus círculos sociais em busca de alguém que as reconheça pelo que realmente são, que olhem para dentro de suas almas e não que fiquem somente retidos na pele. Vindas de um continente onde a imagem é supervalorizada e a velhice é algo a ser execrado, na África elas podem ser amadas, mesmo que seja em troca de algum dinheiro. É notável a fragilidade de Teresa, personagem principal, muito bem interpretada por Maria Hofstätter, que mais se assemelha a uma pré-adolescente se iniciando sexual e emocionalmente. Ótima fotografia e cenários deslumbrantes, sem falar na acertada escolha pela quase ausência de trilha sonora.
O final contém o típico pessimismo do autor, ficando a ambiguidade: as europeias exploram (sexualmente) os africanos ou, ironicamente, elas são exploradas (financeiramente) por eles, depois de séculos em que o oposto ocorria?
Salò, ou os 120 Dias de Sodoma
3.2 1,0KÉ difícil imaginar o impacto que um filme como "Salò" deva ter causado na época em que foi lançado. Visualmente, é sem sombra de dúvidas transgressor e ousado. O roteiro cumpre o objetivo de fazer com que a obra seja tão desagradável quanto possível, mas não de forma gratuita, como acontece com alguns filmes de terror hoje em dia. "Salò" deve ser observado como se vê "Anticristo" ou "Irreversível", olhando além da mera retratação dos fatos extremos e em direção a metáforas bastante pertinentes - nesse caso, a crítica ferrenha à ditadura tirânica por parte do alto escalão do poder italiano (o clero, a nobreza, a justiça e os políticos), que insistem no exercício de uma superioridade considerada por eles como natural (através do sexo, da violência e da humilhação) contra um povo submisso que se deixa explorar sem praticamente nenhum sinal de revolta ou fadiga, inclusive com traços de corrupção advindos da própria fraqueza interna. O "sexo como metáfora do poder", como disse a nágila abaixo.
Só achei que o final em aberto poderia ter sido melhor trabalhado.
Indomável Sonhadora
3.8 1,2KÉ preciso muita sensibilidade pra se fazer um filme que, ao mesmo tempo, é tão doce e tão duro, como a própria Hushpuppy. Aliás, "Beasts of the Southern Wild" (o título é até meio irônico) se sustenta basicamente em cima de paradoxos do tipo natureza vs artificialidade, animal vs homem, mas, ao invés de pregar o discurso de guerra de castas, o diretor opta por, sabiamente, colocar o foco em cima da visão bastante original da protagonista, uma menina que aprendeu desde cedo a viver de forma áspera, mas que não perdeu a inocência da pouca idade. Isso somado a uma fotografia fascinante e ótimas atuações resulta numa obra bastante coesa, verdadeira e que invariavelmente vai emocionar o espectador. Uma grata surpresa assistir a esse trabalho do Benh Zeitlin, que eu espero que alce voos ainda maiores daqui pra frente.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraBem divertido, mas não consigo engolir esse final
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraEngraçado isso de todo mundo atrás de Jesus, mas ninguém o acha.
Holy Motors
3.9 652 Assista AgoraBela crítica aos rumos que essa sociedade da internet (e dos avatares) tem tomado, proporcionando a encarnação de diversas personalidades numa só pessoa, mas às custas da identidade dela (o filme parece até se passar numa espécie de futuro pessimista). Fotografia ótima e atuação brilhante do Denis Lavant, favorecido por um roteiro totalmente livre de amarras convencionais e que proporcionou momentos tão nonsense que beiram o surrealismo (mas nunca gratuitos, uma vez que o simbolismo aqui é bastante nítido e carrega consigo uma série de outras críticas sociais).
Não consegui uma empatia tão forte com "Holy Motors" quanto eu queria, mas não sei se isso se deve a certa perda de ritmo narrativo na segunda metade da história ou se foi causado pelo estranhamento natural dos filmes do Leos Carax (experienciei uma sensação parecida ao assistir "Os Amantes da Pont Neuf), que podem causar algum distanciamento. Mas tenho consciência que é o melhor filme de 2012 (até agora) e um dos mais originais dos últimos anos.
Anna dos 6 aos 18
4.0 25Apesar do ponto de vista um tanto conservador e apocalíptico, é um filme que mostra de forma bem clara como o tempo e o meio agem sobre as pessoas. Interessante tanto do ponto de vista histórico quanto do psicológico.