muito interessante como a história do filme se mistura com a história do livro que Jo escrevia. ao mesmo tempo em que ela é compelida a escrever um final para sua personagem (ela mesma) que incluísse matrimônio, somos levados a crer que só o casamento seria o final ideal para o filme que assistíamos - e nos decepcionamos quando descobrimos que o desfecho mostrado (o beijo) era apenas verdade no livro. histórias com mulheres protagonistas só se vendem com casamentos no final, e infelizmente pouco mudou do século 18 pra cá.
Uma das coisas que eu mais gosto nos trabalhos do Yorgos Lanthimos é a capacidade dele de causar estranhamento nas mais diversas situações. Em "A Favorita" não é diferente: você não sabe se está assistindo a um drama psicológico ou uma comédia satírica; os diálogos fogem do formalismo próprio aos filmes de época, carregando marcas contemporâneas; e, ultimamente, o final aberto nos deixa perguntando se ser a favorita de uma rainha temperamental e emocionalmente instável é, de fato, ser amada. Grande roteiro, direção, direção de arte e ótimas atuações, especialmente da Olivia Colman, que eu não conhecia mas certamente vou prestar mais atenção no futuro.
Roteiro fraco, superficial, edição e montagem muito estranhas e por vezes piegas. O que salva é a atuação do Rami, mas fica a sensação de que era um filme feito pros fãs.
Para um trabalho contemplado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, confesso que fiquei decepcionado. As atuações são no máximo medianas e o roteiro é fraco, o que se reflete principalmente nos diálogos. Mesmo os aspectos estéticos acabam sendo supervalorizados, uma vez que o diretor se vale das mesmas técnicas ao longo do filme (ex: zoom in) de forma exagerada, tornando-o maçante e cansativo. Uma pena em se tratando de um tema que merece ser discutido mais no cinema.
Não me agrada muito o formato de melodrama, especialmente vindo do Todd Haynes, que eu sei ser capaz de coisas bem mais inventivas. Mas, escolhas à parte, ainda é um filme válido por suas críticas ao moralismo gritante na suposta "terra da liberdade", além de fugir do clichê de filme lésbico com final triste.
Se existe algo de bom nesse filme é fomentar a discussão em torno dos direitos humanos, discussão essa importantíssima nos dias de hoje. É interessante notar como as coisas realmente funcionam no suposto país da liberdade e da justiça e o quanto isso se reflete na nossa própria realidade. Porque a história de Abel não é muito distante da situação de diversas pessoas por aqui que por vezes são condenadas, linchadas e até mortas sem sequer receber o devido julgamento que lhes é de direito. No mais é outro filme enlatado e sentimentalóide de propaganda estadunidense, com aquele velho maniqueísmo da guerra fria: bem vs mal, capitalismo vs comunismo e etc.
Confesso que fiquei um pouco decepcionado com "O Peso do Silêncio", mas acho que por ter nutrido muita expectativa graças a "O Ato de Matar". Apesar da escolha por focar em um drama familiar específico, diferentemente do que foi feito no documentário anterior, é possível perceber um certo esgotamento da fórmula do diretor. Na primeira parte, Joshua Oppenheimer lançava mão não só da abordagem crua e sem rodeios, mas também de recursos que borravam a linha já tênue entre ficção e documento, surreal e real. Agora, num trabalho mais enxuto (talvez tendo em vista as críticas à duração de "O Ato..."), restou um esquema que por vezes é repetitivo e exaustivo, o que acaba por diluir parte da força do que é retratado em tela. No entanto ainda impressiona como um crime tão bárbaro quanto o massacre dos comunistas na Indonésia é capaz de permanecer tantos anos impune e principalmente naturalizado entre as pessoas.
Engraçado como essa terceira parte se parece com a quarta: 1 - uma cidade pós apocalíptica no meio do deserto, onde quem dita as regras é quem possui os recursos necessários para a sobrevivência de todos; 2 - o protagonista encontra um grupo de dissidentes que tem como objetivo alcançar um lugar onde as condições de vida são mais favoráveis; 3 - esse lugar não existe e a única perspectiva de melhora passa a ser, então, se dirigir à cidade caótica.
"Amores Brutos" adaptado por algum roteirista de filme B de terror. Qualquer argumento se dilui diante de um roteiro cheio de clichês, tão caricato que beira o cômico. Porém pontos pra direção, que deve ter tido um trabalho enorme pra lidar com aquela quantidade de cachorros, e para Hagen, cuja atuação é a melhor do filme.
uma lufada de ar novo nos filmes de ação, que estão cada vez mais batidos. só senti falta de uma inserção maior nos personagens e na história daquele mundo. mas pontos pela ousadia tanto estética quanto narrativa, ou mesmo de escolha de personagens, empoderando um grupo de mulheres num gênero cinematográfico onde elas normalmente ficam em segundo plano.
- Gostaria do seu conselho sobre o que fazer com os fariseus que usam o púlpito para contar mentiras, incitar o ódio e encorajar grupos armados para atacar e por em perigo a vida de pessoas inocentes. Quero o seu conselho sobre o pecado da soberba, aqueles que assumem que são a fonte do saber, e não fazem nada além de promover a ignorância e a superstição. E que tentam destruir o que há de melhor em nós, a nossa criatividade, o nosso senso de diversão, com ameaças de danação. Mas o pior é tentar matar o nosso espírito com a sua monotonia miserável, colocando tanto veneno em seus corações por tudo aquilo que eles não podem controlar.
- Gralton, isso é um sacrilégio!
- Não, eu é quem vou dizer o que é um sacrilégio, padre. É ter mais ódio do que amor no seu coração.
Dolan sempre se preocupou especialmente com duas coisas ao fazer seus trabalhos: estética e interpretação. E em "Mommy" é possível notar como os dois estão interligados. Optar pelo formato 1:1 para destacar melhor as atuações (bastante competentes, diga-se de passagem, principalmente da dupla Dorval e Clément) foi uma escolha brilhante e bastante ousada. Leva-se um tempo pra se acostumar a uma tela tão apertada, mas, depois que isso acontece, o expectador passa a achar qualquer outro formato grande demais. É preciso bastante maturidade como diretor para passar tal sentimento a quem assiste um filme.
"Nietzsche uma vez escreveu: 'Quando você olha para o abismo, o abismo também olha para você'. Salgado teve a coragem de encarar o abismo, sem piscar - mas fotografando. Ele o fez para dar aos outros a oportunidade de saber e, possivelmente, entender melhor o significado do termo 'humanidade'. Algumas das imagens de Sebastião Salgado são terríveis, mas é muito pior pensar que, sem ele, esses horrores teriam acontecido sem ninguém para se lembrar deles. Seu trabalho cria bases para a memória, e a memória aumenta as chances de que haja esperança, enquanto a esperança nos dá alguma razão para acreditar num futuro melhor para o nosso conturbado planeta."
Provavelmente uma das fotografias mais bonitas que eu já vi. Cada cena parecia um quadro vivo. Assistir ao filme já valeria a pena apenas por esse aspecto, mas o enredo é também muito bonito e tocante, mesmo que bastante simples.
Diferentemente do que eu pensava, "Boyhood" não é um filme apenas sobre "a vida" ou apegado à nostalgia da infância, apesar desses serem dois fatores que pesam no argumento da obra. É também e principalmente sobre existir de acordo com as regras impostas pela sociedade (nascer, crescer, estudar, arrumar um emprego, ter filhos e morrer) ou lutar contra essas amarras. Isso fica bastante claro na fala final de Olivia, quando ela desabafa ao filho Mason suas frustrações, achando que "haveria mais" da vida. É uma característica que traz ainda mais melancolia a uma obra que já é por si só um pouco saudosista e deprimente, pois leva invariavelmente o espectador a refletir sobre conformismo, sonhos e o futuro, e isso pode ser um soco no estômago.
Termino de assistir "O Jogo da Imitação" com um sentimento de revolta, não pelo filme, mas pelo fato histórico em si. É inaceitável o que foi feito de Alan Turing, um dos homens mais importantes de seu tempo, condenado por "obscenidade". Obsceno era o que se fazia com os homossexuais daquela época na Inglaterra, presos ou forçados a passar por uma espécie de "cura gay" hormonal (qualquer paralelo com os projetos propostos no Brasil por gente como Marco Feliciano não é mera coincidência), apenas por desviar da norma imposta. Sabe-se lá quais avanços a humanidade perdeu ao assistir Turing tirar a própria vida, tão novo e já debilitado, mas tendo conquistado tanto. Mas o mais triste é ler ao final do filme que "A Rainha Elizabeth concedeu em 2013 (!!!) o perdão real a Alan Turing". Como assim? Ela quem deveria pedir perdão por terem jogado no limbo uma das pessoas mais brilhantes que esse mundo já viu. Simplesmente lamentável.
À primeira vista, "Grandes Olhos" é um filme que escapa do estereótipo pelo qual Tim Burton é conhecido (se aproximando de trabalhos mais "sérios", como Ed Wood, mas mantendo alguns dos trejeitos característicos). Nem por isso é uma obra que cai no marasmo, muito pelo contrário. O roteiro dinâmico é sustentado pelas ótimas atuações dos atores principais, em especial Waltz.
Dito isso, duas coisas me chamam a atenção em especial (e esse trabalho é uma excelente oportunidade de por esses pontos em discussão). A primeira diz respeito a essa realidade onde mulheres ainda hoje não recebem os créditos pelo trabalho que fazem (especialmente no mundo artístico), como se de alguma forma o fato deles serem assinados por homens os desse mais credibilidade.
A segunda trata do status da arte e do quanto o sucesso comercial de um artista está (em geral) mais ligado ao marketing do que à qualidade em si do seu trabalho. Em dado momento da trama, Margaret reconhece que, apesar de ser um mentiroso, Walter é um excelente marqueteiro, o que nos leva a pensar se a obra da pintora fez realmente tanto sucesso por seu valor intrínseco ou porque, devido a golpes de publicidade, se tornou um ícone pop (tão pop que, na segunda metade do filme os pôsteres vendiam mais que os quadros e era possível encontrar cópias até em supermercados).
Se existe um personagem que define bem o arquétipo hollywoodiano criticado por Cronenberg em "Mapas Para as Estrelas", esse personagem é o psicólogo/terapeuta Stafford. Com os pacientes ele é equilibrado e os ajuda a extirpar suas dores; na TV ele profere suas frases de auto-ajuda de forma extremamente convincente; mas sua vida familiar é uma tragédia. O filho Benji é completamente distante dele (e deixa isso claro em certa parte), buscando um escape nas drogas; a mulher, Cristina, permanece segurando a barra sozinha, cada vez mais fragilizada; por fim, a filha Agatha, que foi simplesmente "varrida pra debaixo do tapete" por ele, volta pra tentar se desculpar, mas o rancor de Stafford é mais forte (irônico quando se trata de uma pessoa que faz a vida tentando resolver os traumas dos outros).
Tudo o que importa pro terapeuta é o seu livro e, pra que ele tenha uma turnê impecável, é necessário criar essa vida de fachada, sempre buscando esconder os problemas ao invés de resolvê-los. Pra isso, Stafford tem que ser um excelente ator - aliás, essa talvez seja o mote do filme: todos naquele ambiente são atores em tempo integral, como por exemplo quando Havana comemora a morte de Micah em um momento e, no momento seguinte, lamenta o fato. Essa crítica a uma Hollywood fútil, vazia e cheia de jogos de aparência parece batida, mas em "Mapas Para as Estrelas" Cronenberg sai do lugar comum com uma trama misteriosa, eventos sobrenaturais e, como sempre, cenas fortes.
Adoráveis Mulheres
4.0 974 Assista Agoramuito interessante como a história do filme se mistura com a história do livro que Jo escrevia. ao mesmo tempo em que ela é compelida a escrever um final para sua personagem (ela mesma) que incluísse matrimônio, somos levados a crer que só o casamento seria o final ideal para o filme que assistíamos - e nos decepcionamos quando descobrimos que o desfecho mostrado (o beijo) era apenas verdade no livro. histórias com mulheres protagonistas só se vendem com casamentos no final, e infelizmente pouco mudou do século 18 pra cá.
Clímax
3.6 1,1K Assista Agorao filho de irreversível e enter the void
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraUma das coisas que eu mais gosto nos trabalhos do Yorgos Lanthimos é a capacidade dele de causar estranhamento nas mais diversas situações. Em "A Favorita" não é diferente: você não sabe se está assistindo a um drama psicológico ou uma comédia satírica; os diálogos fogem do formalismo próprio aos filmes de época, carregando marcas contemporâneas; e, ultimamente, o final aberto nos deixa perguntando se ser a favorita de uma rainha temperamental e emocionalmente instável é, de fato, ser amada. Grande roteiro, direção, direção de arte e ótimas atuações, especialmente da Olivia Colman, que eu não conhecia mas certamente vou prestar mais atenção no futuro.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraRoteiro fraco, superficial, edição e montagem muito estranhas e por vezes piegas. O que salva é a atuação do Rami, mas fica a sensação de que era um filme feito pros fãs.
Uma Mulher Fantástica
4.1 421 Assista AgoraPara um trabalho contemplado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, confesso que fiquei decepcionado. As atuações são no máximo medianas e o roteiro é fraco, o que se reflete principalmente nos diálogos. Mesmo os aspectos estéticos acabam sendo supervalorizados, uma vez que o diretor se vale das mesmas técnicas ao longo do filme (ex: zoom in) de forma exagerada, tornando-o maçante e cansativo. Uma pena em se tratando de um tema que merece ser discutido mais no cinema.
Carol
3.9 1,5K Assista AgoraNão me agrada muito o formato de melodrama, especialmente vindo do Todd Haynes, que eu sei ser capaz de coisas bem mais inventivas. Mas, escolhas à parte, ainda é um filme válido por suas críticas ao moralismo gritante na suposta "terra da liberdade", além de fugir do clichê de filme lésbico com final triste.
Ponte dos Espiões
3.7 694Se existe algo de bom nesse filme é fomentar a discussão em torno dos direitos humanos, discussão essa importantíssima nos dias de hoje. É interessante notar como as coisas realmente funcionam no suposto país da liberdade e da justiça e o quanto isso se reflete na nossa própria realidade. Porque a história de Abel não é muito distante da situação de diversas pessoas por aqui que por vezes são condenadas, linchadas e até mortas sem sequer receber o devido julgamento que lhes é de direito.
No mais é outro filme enlatado e sentimentalóide de propaganda estadunidense, com aquele velho maniqueísmo da guerra fria: bem vs mal, capitalismo vs comunismo e etc.
O Peso do Silêncio
4.2 57Confesso que fiquei um pouco decepcionado com "O Peso do Silêncio", mas acho que por ter nutrido muita expectativa graças a "O Ato de Matar". Apesar da escolha por focar em um drama familiar específico, diferentemente do que foi feito no documentário anterior, é possível perceber um certo esgotamento da fórmula do diretor. Na primeira parte, Joshua Oppenheimer lançava mão não só da abordagem crua e sem rodeios, mas também de recursos que borravam a linha já tênue entre ficção e documento, surreal e real. Agora, num trabalho mais enxuto (talvez tendo em vista as críticas à duração de "O Ato..."), restou um esquema que por vezes é repetitivo e exaustivo, o que acaba por diluir parte da força do que é retratado em tela. No entanto ainda impressiona como um crime tão bárbaro quanto o massacre dos comunistas na Indonésia é capaz de permanecer tantos anos impune e principalmente naturalizado entre as pessoas.
What Happened, Miss Simone?
4.4 401 Assista Agora"How can you be an artist and not reflect the times?"
Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão
3.4 486 Assista AgoraEngraçado como essa terceira parte se parece com a quarta:
1 - uma cidade pós apocalíptica no meio do deserto, onde quem dita as regras é quem possui os recursos necessários para a sobrevivência de todos;
2 - o protagonista encontra um grupo de dissidentes que tem como objetivo alcançar um lugar onde as condições de vida são mais favoráveis;
3 - esse lugar não existe e a única perspectiva de melhora passa a ser, então, se dirigir à cidade caótica.
Deus Branco
3.7 178 Assista Agora"Amores Brutos" adaptado por algum roteirista de filme B de terror.
Qualquer argumento se dilui diante de um roteiro cheio de clichês, tão caricato que beira o cômico.
Porém pontos pra direção, que deve ter tido um trabalho enorme pra lidar com aquela quantidade de cachorros, e para Hagen, cuja atuação é a melhor do filme.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista Agorauma lufada de ar novo nos filmes de ação, que estão cada vez mais batidos.
só senti falta de uma inserção maior nos personagens e na história daquele mundo.
mas pontos pela ousadia tanto estética quanto narrativa, ou mesmo de escolha de personagens, empoderando um grupo de mulheres num gênero cinematográfico onde elas normalmente ficam em segundo plano.
Jimmy's Hall
3.6 32 Assista Agora- Gostaria do seu conselho sobre o que fazer com os fariseus que usam o púlpito para contar mentiras, incitar o ódio e encorajar grupos armados para atacar e por em perigo a vida de pessoas inocentes. Quero o seu conselho sobre o pecado da soberba, aqueles que assumem que são a fonte do saber, e não fazem nada além de promover a ignorância e a superstição. E que tentam destruir o que há de melhor em nós, a nossa criatividade, o nosso senso de diversão, com ameaças de danação. Mas o pior é tentar matar o nosso espírito com a sua monotonia miserável, colocando tanto veneno em seus corações por tudo aquilo que eles não podem controlar.
- Gralton, isso é um sacrilégio!
- Não, eu é quem vou dizer o que é um sacrilégio, padre. É ter mais ódio do que amor no seu coração.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraDolan sempre se preocupou especialmente com duas coisas ao fazer seus trabalhos: estética e interpretação. E em "Mommy" é possível notar como os dois estão interligados. Optar pelo formato 1:1 para destacar melhor as atuações (bastante competentes, diga-se de passagem, principalmente da dupla Dorval e Clément) foi uma escolha brilhante e bastante ousada. Leva-se um tempo pra se acostumar a uma tela tão apertada, mas, depois que isso acontece, o expectador passa a achar qualquer outro formato grande demais. É preciso bastante maturidade como diretor para passar tal sentimento a quem assiste um filme.
O Sal da Terra
4.6 450 Assista Agora"Nietzsche uma vez escreveu: 'Quando você olha para o abismo, o abismo também olha para você'. Salgado teve a coragem de encarar o abismo, sem piscar - mas fotografando. Ele o fez para dar aos outros a oportunidade de saber e, possivelmente, entender melhor o significado do termo 'humanidade'. Algumas das imagens de Sebastião Salgado são terríveis, mas é muito pior pensar que, sem ele, esses horrores teriam acontecido sem ninguém para se lembrar deles. Seu trabalho cria bases para a memória, e a memória aumenta as chances de que haja esperança, enquanto a esperança nos dá alguma razão para acreditar num futuro melhor para o nosso conturbado planeta."
A Tragédia de Belladonna
4.1 95malice in wonderland meets lars von trier
Perfect Blue
4.3 813あなたは誰?
Força Maior
3.6 240um purgatório de situações socialmente constrangedoras
Ida
3.7 439Provavelmente uma das fotografias mais bonitas que eu já vi. Cada cena parecia um quadro vivo. Assistir ao filme já valeria a pena apenas por esse aspecto, mas o enredo é também muito bonito e tocante, mesmo que bastante simples.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraDiferentemente do que eu pensava, "Boyhood" não é um filme apenas sobre "a vida" ou apegado à nostalgia da infância, apesar desses serem dois fatores que pesam no argumento da obra. É também e principalmente sobre existir de acordo com as regras impostas pela sociedade (nascer, crescer, estudar, arrumar um emprego, ter filhos e morrer) ou lutar contra essas amarras. Isso fica bastante claro na fala final de Olivia, quando ela desabafa ao filho Mason suas frustrações, achando que "haveria mais" da vida. É uma característica que traz ainda mais melancolia a uma obra que já é por si só um pouco saudosista e deprimente, pois leva invariavelmente o espectador a refletir sobre conformismo, sonhos e o futuro, e isso pode ser um soco no estômago.
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraTermino de assistir "O Jogo da Imitação" com um sentimento de revolta, não pelo filme, mas pelo fato histórico em si. É inaceitável o que foi feito de Alan Turing, um dos homens mais importantes de seu tempo, condenado por "obscenidade". Obsceno era o que se fazia com os homossexuais daquela época na Inglaterra, presos ou forçados a passar por uma espécie de "cura gay" hormonal (qualquer paralelo com os projetos propostos no Brasil por gente como Marco Feliciano não é mera coincidência), apenas por desviar da norma imposta. Sabe-se lá quais avanços a humanidade perdeu ao assistir Turing tirar a própria vida, tão novo e já debilitado, mas tendo conquistado tanto.
Mas o mais triste é ler ao final do filme que "A Rainha Elizabeth concedeu em 2013 (!!!) o perdão real a Alan Turing". Como assim? Ela quem deveria pedir perdão por terem jogado no limbo uma das pessoas mais brilhantes que esse mundo já viu. Simplesmente lamentável.
Grandes Olhos
3.8 1,1K Assista grátisÀ primeira vista, "Grandes Olhos" é um filme que escapa do estereótipo pelo qual Tim Burton é conhecido (se aproximando de trabalhos mais "sérios", como Ed Wood, mas mantendo alguns dos trejeitos característicos). Nem por isso é uma obra que cai no marasmo, muito pelo contrário. O roteiro dinâmico é sustentado pelas ótimas atuações dos atores principais, em especial Waltz.
Dito isso, duas coisas me chamam a atenção em especial (e esse trabalho é uma excelente oportunidade de por esses pontos em discussão). A primeira diz respeito a essa realidade onde mulheres ainda hoje não recebem os créditos pelo trabalho que fazem (especialmente no mundo artístico), como se de alguma forma o fato deles serem assinados por homens os desse mais credibilidade.
A segunda trata do status da arte e do quanto o sucesso comercial de um artista está (em geral) mais ligado ao marketing do que à qualidade em si do seu trabalho. Em dado momento da trama, Margaret reconhece que, apesar de ser um mentiroso, Walter é um excelente marqueteiro, o que nos leva a pensar se a obra da pintora fez realmente tanto sucesso por seu valor intrínseco ou porque, devido a golpes de publicidade, se tornou um ícone pop (tão pop que, na segunda metade do filme os pôsteres vendiam mais que os quadros e era possível encontrar cópias até em supermercados).
Problemas Femininos
4.0 99"the world of heterosexual is a sick and boring life"
Mapas para as Estrelas
3.3 478 Assista AgoraSe existe um personagem que define bem o arquétipo hollywoodiano criticado por Cronenberg em "Mapas Para as Estrelas", esse personagem é o psicólogo/terapeuta Stafford. Com os pacientes ele é equilibrado e os ajuda a extirpar suas dores; na TV ele profere suas frases de auto-ajuda de forma extremamente convincente; mas sua vida familiar é uma tragédia. O filho Benji é completamente distante dele (e deixa isso claro em certa parte), buscando um escape nas drogas; a mulher, Cristina, permanece segurando a barra sozinha, cada vez mais fragilizada; por fim, a filha Agatha, que foi simplesmente "varrida pra debaixo do tapete" por ele, volta pra tentar se desculpar, mas o rancor de Stafford é mais forte (irônico quando se trata de uma pessoa que faz a vida tentando resolver os traumas dos outros).
Tudo o que importa pro terapeuta é o seu livro e, pra que ele tenha uma turnê impecável, é necessário criar essa vida de fachada, sempre buscando esconder os problemas ao invés de resolvê-los. Pra isso, Stafford tem que ser um excelente ator - aliás, essa talvez seja o mote do filme: todos naquele ambiente são atores em tempo integral, como por exemplo quando Havana comemora a morte de Micah em um momento e, no momento seguinte, lamenta o fato. Essa crítica a uma Hollywood fútil, vazia e cheia de jogos de aparência parece batida, mas em "Mapas Para as Estrelas" Cronenberg sai do lugar comum com uma trama misteriosa, eventos sobrenaturais e, como sempre, cenas fortes.