Se há uma coisa que fica marcada no expectador após o final de "Exit Through the Gift Shop" é o poder do marketing. Interessante ver como o Thierry Guetta saiu do anonimato artístico para a fama/sucesso sem desenvolver qualquer conceito no decorrer da sua obra, apenas investindo pesado em propaganda. Isso diz bastante sobre a sociedade em que vivemos, em que a aparência, o hype, importa mais que o conteúdo. Mas ficar só nesse aspecto é um pouco moralista.
Se o Thierry é uma criação do Banksy, ele acaba servindo não só a esse propósito de denúncia da futilidade das pessoas em geral, mas também funciona como crítica ao próprio Banksy. Ora, ele também é beneficiado pelo marketing, voluntariamente ou não. Sua obra só ganhou real notoriedade após ser noticiada pesadamente nos jornais, especialmente depois do episódio na Palestina. Até a atitude de se manter anônimo, sem mostrar o rosto ou revelar a voz funciona como uma campanha publicitária, pois cria uma aura em torno da figura dele.
Outra coisa que me chamou a atenção foram declarações de pessoas dizendo que Banksy era um vendido. Não sei se dá pra concordar inteiramente com isso, mas é estranho ver um artista que denuncia, dentre outras coisas, o capitalismo, aparecer com uma exposição em Hollywood vendendo obras por dezenas de milhares de dólares a figuras como Angelina Jolie e Jude Law. O que era um movimento de contracultura das ruas passa a decorar a parede de colecionadores de arte. Das duas uma: ou ele se tornou vítima sem perceber do sistema que tentou combater, ou isso tudo não passa de uma grande ironia da parte dele (e não seria a primeira). Mas, de qualquer forma, é engraçado ver logo no início o Banksy afirmando que o filme seria sobre o Thierry. "Exit Through the Gift Shop" diz muito mais sobre o Banksy do que ele pensa.
A morte como metáfora para a dor do fim de um relacionamento. Linda uma das últimas cenas em que Otto e Fritz estão se beijando e a aparência do Otto começa a mudar, como se ele estivesse deixando de ser zumbi para se tornar humano outra vez.
Realmente esperava mais de um filme tido como um dos melhores de ficção científica de todos os tempos. A obra explora o dilema do androide vs humano de forma bastante superficial (diferente de outros filmes como Ghost in the Shell), dando preferência ao visual e ação. Além disso, o personagem do Harrison Ford tá bem fraco (além de mal interpretado), principalmente quando a gente pensa que ele é um "grande caçador de androides" mas quase morre na mão de dois deles.
A cena em que o filho de Joe vai até a sacada do apartamento (igualzinha ao prólogo de Anticristo, fazendo todo mundo acreditar que teria o mesmo desfecho), foi a maior sacanagem que o Lars podia ter feito.
"O Paradoxo de Teseus, que foi discutido por filósofos como Heráclito, Sócrates, Platão, Thomas Hobbes e John Locke, diz: “Será que um objeto que teve todos os seus componentes trocados permaneceria sendo o mesmo objeto?”. Essa é a pergunta que a Major se faz ao longo do filme". E daí vem o título: seria ela ainda humana por terem preservado o que ela possuía de mais humano (a alma), ou teria perdido a humanidade, sendo apenas uma alma numa casca? Interessante discussão acerca do que faz um ser se identificar como indivíduo, ambientada num cenário onde até mesmo suas memórias podem ser alteradas e seu passado questionado.
Sabe aquele filme que você termina de ver e no momento seguinte já quer ver de novo? Um filme tão leve e apaixonante só poderia ter sido concebido a partir de uma ideia simples, mas que ao mesmo tempo diz muito sobre nós. Afinal, na era da modernidade líquida, quem não conhece alguém virtualmente ou mesmo se apaixonou à distância? Do momento que Samantha começa a adquirir sentimentos e se apaixona por Theodore, tem aí o nascimento de uma relação não muito diferente dessas virtuais que a gente vê todo dia. A personificação, idealização, o desejo de estar próximo, está tudo lá. E isso é o mais interessante de "Her", não o que é, de certa forma, profetizado como futuro, mas o que é dito sobre nós mesmos agora, como indivíduo ou como sociedade. Quando conversamos com alguém na internet, mesmo que nunca a tenhamos visto, nós acreditamos que do outro lado há uma pessoa. Nossa relação com a imagem mudou e, com isso, mudaram as formas de se relacionar (não melhores ou piores, só diferentes). E, num mundo onde somos cada vez mais homogeneizados (Facebook é a prova disso, filtrando quase sempre opiniões diversas e críticas alheias), fazer uma "pessoa" sob medida para você é um sonho, mesmo que essa pessoa não seja de carne e osso.
Tecnicamente o filme é um primor. Além do roteiro e da direção do Spike Jonze, sempre competente, temos duas ótimas performances do casal principal. Incrível como a Scarlett Johansson consegue se fazer tão presente nas cenas só com a voz, e é igualmente incrível como o Joaquin Phoenix consegue interagir tão bem com ela mesmo sem vê-la - taí uma das químicas mais estranhas e, mesmo assim, intensas que eu já vi no cinema. Isso sem falar da direção de arte meio retrofuturista e da fotografia meio melancólica, reforçada pela trilha sonora.
Sem dúvida, um dos documentários mais ousados que eu já vi, "The Act of Killing" se propõe a levantar mais questões do que respostas, borrando a linha entre o que é ficção, o que é factual ou ainda surreal dentro da história. Quem assiste já é surpreendido logo de cara pela proposta aparentemente impossível de se executar - afinal, quem espera ver, em pleno século 21, um paramilitar afirmar com alegria diante das câmeras que foi um dos autores de um genocídio que vitimou centenas de milhares de pessoas? Até que ponto o que ele diz é verdade ou atuação? Errol Morris, produtor do longa, disse em entrevista que talvez nunca saberemos o que é fato e ficção ao decorrer da narrativa, mas que provavelmente esse é o aspecto mais louvável de toda a obra, e eu concordo. Afinal, ao invés de colocar o expectador em posição de conforto por não fazer parte daquela sociedade ou não ter vivido aqueles horrores, "The Act of Killing" propõe uma auto-análise à audiência (e isso talvez seja a marca mais desconfortável desse trabalho): que características dividimos com aquelas pessoas, e, em última instância, com o protagonista daquela história? Com que naturalidade nós aceitamos nossas más-condutas no dia a dia e vivemos como se nada estivesse acontecendo?
"The Act of Killing" é um filme muito mais sobre nós mesmos do que sobre a realidade difícil da distante Indonésia, e eu vi muito de Brasil na obra, seja a nível social (perseguição ao comunismo como se esse fosse o mal supremo do mundo, um desejo pela volta da ditadura e da "ordem", machismo, corrupção), ou individual (auto-indulgência, individualismo). Meu único incômodo foi acerca da duração do documentário, que poderia ter sido melhor aproveitada (quem sabe para expor de forma mais clara a ligação dos EUA com o massacre anti-comunista). Mas talvez a intenção não seja tratar o caso com um viés histórico, e sim expor até que ponto chega a natureza humana.
Instrumento de uma pesada denúncia social histórica, "Dallars Buyers Club" retrata a sociedade de meados dos anos 80 nos EUA, acometida pelo medo da AIDS. De um lado, a indústria farmacêutica, disposta a lucrar em cima da escória pública da época (gays, travestis, viciados em drogas), apoiada pelo governo e pela mídia. Do outro, pessoas portadoras do vírus HIV que só querem sobreviver e sabem que não podem confiar no que lhes é dado nos hospitais. Mesmo tecendo uma crítica social tão densa, o diretor ainda acha meios de dar espaço ao desenvolvimento dos personagens, o que resulta nas ótimas performances do elenco principal, em especial Matthew McConaughey e Jared Leto. Isso somado ao roteiro ágil e bem pensado, edição precisa e uma sensibilidade da direção em pontuar experiências sensoriais nos momentos de crise (através da ótima edição de som), faz de "Dallars Buyers Club" um filme bastante consistente e, eu diria, subestimado.
Mais do que um roteiro bem planejado e performances bastante convicentes, "Match Point" traz reflexões existenciais sobre a vida a partir da ótima construção do personagem principal, Chris, que não sabe o que quer pro futuro e deixa que a sorte o leve. Após ter fracassado como tenista profissional e se estabelecer como genro de um empresário bem sucedido, é difícil taxá-lo de cretino quando ele resolve por o sucesso acima da paixão que sente por Nola - mesmo que o expectador espere altas doses de romantismo num filme do Woody Allen. Chris parece um psicopata quando decide proteger seu patrimônio e conquistas materiais ante o único sinal de azar que o alcançou (engravidar sua amante), mas desaba em lágrimas dentro do táxi e, num dos momentos mais nonsense e interessantes do filme, pede por redenção e por um sinal de que a vida é justa e possui propósito. Afinal, como não achar que tudo vem do acaso quando você vem de uma origem humilde na Irlanda e consegue acesso à alta classe londrina sem aparente esforço? Qual o sentido? A cena final é brilhante, com o protagonista encarando o lado de fora do apartamento, como se esperasse (ou desejasse) que a qualquer momento os policiais fossem bater à sua porta. Estaria ele arrependido ou apenas torcendo por uma contra-resposta do destino?
O roteiro deixa um pouco a desejar e os personagens em geral (com exceção de Jasmine, interpretada competentemente por Cate Blanchett) não são muito bem estruturados. Mas o filme é tratado com uma leveza singular do diretor, mesmo que a história não seja exatamente leve, o que acaba sendo positivo.
"Ninfomaníaca - Parte 1" assusta à primeira vista, principalmente pra quem não está habituado às últimas obras do Lars von Trier. O filme é excessivamente auto-explicativo, beirando a auto-indulgência, especialmente quando o diretor traça diversas associações e metáforas um tanto vazias. No entanto, quem conhece o trabalho do autor em "Melancolia" e "Anticristo" entende (ou pelo menos acredita) que o enredo serve a propósitos irônicos e de manipulação do expectador, uma vez que, anteriormente, Lars sempre foi muito sutil e cauteloso nos subtextos de suas obras.
"A cereja do bolo vem no personagem sexualmente frustrado de Stellan Skarsgard, uma referência ao comportamento do crítico de cinema. O diretor quis mostrar a figura que lança mão de incontáveis referências sobre música, literatura, filosofia etc. para sempre buscar uma interpretação, uma ressalva, ou mesmo uma análise descabida, quando algo deveria ser recebido como experiência e emoção, em lugar de racionalização mal-humorada." Isso sem falar na parte em que o mesmo personagem ressalta, num diálogo com a protagonista Joe, a diferença entre antissemitismo e antissionismo, uma clara referência ao que aconteceu com Lars na coletiva em 2011 no Festival de Cannes, à respeito da polêmica envolvendo judeus e o nazismo.
Difícil analisar um filme quando o que é apresentado é apenas metade dele (e com vários cortes), mas, julgando esse primeiro trecho como uma introdução ao que vem em seguida, diria que é eficiente no sentido de desarmar o expectador de qualquer pré-julgamento que ele possa vir a fazer sobre a parte 2 de "Ninfomaníaca", permitindo que ele adentre de maneira crua no que parece ser o segmento mais brutal dessa história.
Fotografia maravilhosa e ótima performance da Binoche. Interessante a proposta de um roteiro simples, pena que ele peca um pouco no andamento do filme.
Extremamente auto-indulgente e por vezes vazio, "To The Wonder" é o perfeito exemplo de embalagem bonita sem conteúdo. A fotografia e o jogo de câmeras é incrível como em todo filme do Malick, mas a obra patina no enredo e não consegue se desenvolver. Diferentemente do que acontece em "A Árvore da Vida", os monólogos são rasos, imersos de uma pretensa poética auto-complacente, tão clichês que soam robóticos e sem personalidade. Aliás, personalidade é o que falta nos personagens - Malick já há um tempo usa o trabalho de seus atores como mero acessório ao mise en scène dos quadros, mas dessa vez ele se superou. Com pouco ou quase nada de material nas entrelinhas a ser lido, "To The Wonder" é, em poucas palavras, entediante e pretensioso. Uma pena.
A projeção temporal sobre os personagens realça suas características mais marcantes: a dramaticidade de Céline, agora afetada por sua crise de meia-idade, e o jeito brincalhão de Jesse, como sempre despreocupado. Apesar de aparentemente opostos, os dois compartilham características comuns a qualquer pessoa em seus 40 anos, como frustrações de vida e medos pelo que há de vir. Ainda assim, mesmo após uma discussão épica, os dois mostram que estão dispostos a tentar de novo e continuar aprendendo, mesmo depois de quase duas décadas de conhecidos. Sem contos de fada ou perfeccionismos, na vida real alguém tem sempre que ceder. Lindo desfecho para uma ótima trilogia!
O filme vai bem, bem, até o desfecho final desnecessário, com essa história de vingança totalmente piegas. Nenhuma atuação realmente marcante e alguns clichês de outras obras nacionais, mas nota-se um cuidado especial com imagem e som, o que faz esse trabalho ser apreciado mais por sua experiência audiovisual do que pelo enredo em si.
Transamerica
4.1 746 Assista AgoraLindo e sensível, suave na direção, leve e engraçado, mas sem ser bobo. E que atuação da Felicity, apaixonado! Empatia enorme por esse filme!
Scoop - O Grande Furo
3.4 386 Assista Agorawoody atuando <3
Saída Pela Loja de Presentes
4.3 195Se há uma coisa que fica marcada no expectador após o final de "Exit Through the Gift Shop" é o poder do marketing. Interessante ver como o Thierry Guetta saiu do anonimato artístico para a fama/sucesso sem desenvolver qualquer conceito no decorrer da sua obra, apenas investindo pesado em propaganda. Isso diz bastante sobre a sociedade em que vivemos, em que a aparência, o hype, importa mais que o conteúdo. Mas ficar só nesse aspecto é um pouco moralista.
Se o Thierry é uma criação do Banksy, ele acaba servindo não só a esse propósito de denúncia da futilidade das pessoas em geral, mas também funciona como crítica ao próprio Banksy. Ora, ele também é beneficiado pelo marketing, voluntariamente ou não. Sua obra só ganhou real notoriedade após ser noticiada pesadamente nos jornais, especialmente depois do episódio na Palestina. Até a atitude de se manter anônimo, sem mostrar o rosto ou revelar a voz funciona como uma campanha publicitária, pois cria uma aura em torno da figura dele.
Outra coisa que me chamou a atenção foram declarações de pessoas dizendo que Banksy era um vendido. Não sei se dá pra concordar inteiramente com isso, mas é estranho ver um artista que denuncia, dentre outras coisas, o capitalismo, aparecer com uma exposição em Hollywood vendendo obras por dezenas de milhares de dólares a figuras como Angelina Jolie e Jude Law. O que era um movimento de contracultura das ruas passa a decorar a parede de colecionadores de arte. Das duas uma: ou ele se tornou vítima sem perceber do sistema que tentou combater, ou isso tudo não passa de uma grande ironia da parte dele (e não seria a primeira). Mas, de qualquer forma, é engraçado ver logo no início o Banksy afirmando que o filme seria sobre o Thierry. "Exit Through the Gift Shop" diz muito mais sobre o Banksy do que ele pensa.
Abril Despedaçado
4.2 673"Tonho! Os boi tão rodando sozinho!"
Otto; ou Viva Gente Morta
3.3 78A morte como metáfora para a dor do fim de um relacionamento. Linda uma das últimas cenas em que Otto e Fritz estão se beijando e a aparência do Otto começa a mudar, como se ele estivesse deixando de ser zumbi para se tornar humano outra vez.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraRealmente esperava mais de um filme tido como um dos melhores de ficção científica de todos os tempos. A obra explora o dilema do androide vs humano de forma bastante superficial (diferente de outros filmes como Ghost in the Shell), dando preferência ao visual e ação. Além disso, o personagem do Harrison Ford tá bem fraco (além de mal interpretado), principalmente quando a gente pensa que ele é um "grande caçador de androides" mas quase morre na mão de dois deles.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista Agoravontade de botar o leo no colo e dar um abraço. a cada cinco minutos.
Amor Para a Eternidade
4.0 52 Assista AgoraO nome do filme é "Coming Home" e já tem teaser no youtube https://www.youtube.com/watch?v=z13AgabYloA
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 809 Assista Agoravai estrear em cannes esse ano http://blogs.indiewire.com/thompsononhollywood/foxcatcher-cannes-channing-tatum-steve-carell-bennett-miller
Lincoln
3.5 1,5KUm monte de gente falando da atuação do Daniel Day Lewis, mas eu gostei mesmo do Tommy Lee Jones nesse filme.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraA melhor crítica que eu li até agora sobre esse filme http://cinepop.virgula.uol.com.br/ninfomaniaca-volumes-1-e-2-69419
A cena em que o filho de Joe vai até a sacada do apartamento (igualzinha ao prólogo de Anticristo, fazendo todo mundo acreditar que teria o mesmo desfecho), foi a maior sacanagem que o Lars podia ter feito.
O Fantasma do Futuro
4.1 395 Assista Agora"O Paradoxo de Teseus, que foi discutido por filósofos como Heráclito, Sócrates, Platão, Thomas Hobbes e John Locke, diz: “Será que um objeto que teve todos os seus componentes trocados permaneceria sendo o mesmo objeto?”. Essa é a pergunta que a Major se faz ao longo do filme". E daí vem o título: seria ela ainda humana por terem preservado o que ela possuía de mais humano (a alma), ou teria perdido a humanidade, sendo apenas uma alma numa casca? Interessante discussão acerca do que faz um ser se identificar como indivíduo, ambientada num cenário onde até mesmo suas memórias podem ser alteradas e seu passado questionado.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraSabe aquele filme que você termina de ver e no momento seguinte já quer ver de novo? Um filme tão leve e apaixonante só poderia ter sido concebido a partir de uma ideia simples, mas que ao mesmo tempo diz muito sobre nós. Afinal, na era da modernidade líquida, quem não conhece alguém virtualmente ou mesmo se apaixonou à distância? Do momento que Samantha começa a adquirir sentimentos e se apaixona por Theodore, tem aí o nascimento de uma relação não muito diferente dessas virtuais que a gente vê todo dia. A personificação, idealização, o desejo de estar próximo, está tudo lá. E isso é o mais interessante de "Her", não o que é, de certa forma, profetizado como futuro, mas o que é dito sobre nós mesmos agora, como indivíduo ou como sociedade. Quando conversamos com alguém na internet, mesmo que nunca a tenhamos visto, nós acreditamos que do outro lado há uma pessoa. Nossa relação com a imagem mudou e, com isso, mudaram as formas de se relacionar (não melhores ou piores, só diferentes). E, num mundo onde somos cada vez mais homogeneizados (Facebook é a prova disso, filtrando quase sempre opiniões diversas e críticas alheias), fazer uma "pessoa" sob medida para você é um sonho, mesmo que essa pessoa não seja de carne e osso.
Tecnicamente o filme é um primor. Além do roteiro e da direção do Spike Jonze, sempre competente, temos duas ótimas performances do casal principal. Incrível como a Scarlett Johansson consegue se fazer tão presente nas cenas só com a voz, e é igualmente incrível como o Joaquin Phoenix consegue interagir tão bem com ela mesmo sem vê-la - taí uma das químicas mais estranhas e, mesmo assim, intensas que eu já vi no cinema. Isso sem falar da direção de arte meio retrofuturista e da fotografia meio melancólica, reforçada pela trilha sonora.
Noé
3.0 2,6K Assista Agoravai ser horrível, mó cara de tela quente
O Ato de Matar
4.3 135Sem dúvida, um dos documentários mais ousados que eu já vi, "The Act of Killing" se propõe a levantar mais questões do que respostas, borrando a linha entre o que é ficção, o que é factual ou ainda surreal dentro da história. Quem assiste já é surpreendido logo de cara pela proposta aparentemente impossível de se executar - afinal, quem espera ver, em pleno século 21, um paramilitar afirmar com alegria diante das câmeras que foi um dos autores de um genocídio que vitimou centenas de milhares de pessoas? Até que ponto o que ele diz é verdade ou atuação? Errol Morris, produtor do longa, disse em entrevista que talvez nunca saberemos o que é fato e ficção ao decorrer da narrativa, mas que provavelmente esse é o aspecto mais louvável de toda a obra, e eu concordo. Afinal, ao invés de colocar o expectador em posição de conforto por não fazer parte daquela sociedade ou não ter vivido aqueles horrores, "The Act of Killing" propõe uma auto-análise à audiência (e isso talvez seja a marca mais desconfortável desse trabalho): que características dividimos com aquelas pessoas, e, em última instância, com o protagonista daquela história? Com que naturalidade nós aceitamos nossas más-condutas no dia a dia e vivemos como se nada estivesse acontecendo?
"The Act of Killing" é um filme muito mais sobre nós mesmos do que sobre a realidade difícil da distante Indonésia, e eu vi muito de Brasil na obra, seja a nível social (perseguição ao comunismo como se esse fosse o mal supremo do mundo, um desejo pela volta da ditadura e da "ordem", machismo, corrupção), ou individual (auto-indulgência, individualismo). Meu único incômodo foi acerca da duração do documentário, que poderia ter sido melhor aproveitada (quem sabe para expor de forma mais clara a ligação dos EUA com o massacre anti-comunista). Mas talvez a intenção não seja tratar o caso com um viés histórico, e sim expor até que ponto chega a natureza humana.
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraInstrumento de uma pesada denúncia social histórica, "Dallars Buyers Club" retrata a sociedade de meados dos anos 80 nos EUA, acometida pelo medo da AIDS. De um lado, a indústria farmacêutica, disposta a lucrar em cima da escória pública da época (gays, travestis, viciados em drogas), apoiada pelo governo e pela mídia. Do outro, pessoas portadoras do vírus HIV que só querem sobreviver e sabem que não podem confiar no que lhes é dado nos hospitais. Mesmo tecendo uma crítica social tão densa, o diretor ainda acha meios de dar espaço ao desenvolvimento dos personagens, o que resulta nas ótimas performances do elenco principal, em especial Matthew McConaughey e Jared Leto. Isso somado ao roteiro ágil e bem pensado, edição precisa e uma sensibilidade da direção em pontuar experiências sensoriais nos momentos de crise (através da ótima edição de som), faz de "Dallars Buyers Club" um filme bastante consistente e, eu diria, subestimado.
Ponto Final: Match Point
3.9 1,4K Assista AgoraMais do que um roteiro bem planejado e performances bastante convicentes, "Match Point" traz reflexões existenciais sobre a vida a partir da ótima construção do personagem principal, Chris, que não sabe o que quer pro futuro e deixa que a sorte o leve. Após ter fracassado como tenista profissional e se estabelecer como genro de um empresário bem sucedido, é difícil taxá-lo de cretino quando ele resolve por o sucesso acima da paixão que sente por Nola - mesmo que o expectador espere altas doses de romantismo num filme do Woody Allen. Chris parece um psicopata quando decide proteger seu patrimônio e conquistas materiais ante o único sinal de azar que o alcançou (engravidar sua amante), mas desaba em lágrimas dentro do táxi e, num dos momentos mais nonsense e interessantes do filme, pede por redenção e por um sinal de que a vida é justa e possui propósito. Afinal, como não achar que tudo vem do acaso quando você vem de uma origem humilde na Irlanda e consegue acesso à alta classe londrina sem aparente esforço? Qual o sentido? A cena final é brilhante, com o protagonista encarando o lado de fora do apartamento, como se esperasse (ou desejasse) que a qualquer momento os policiais fossem bater à sua porta. Estaria ele arrependido ou apenas torcendo por uma contra-resposta do destino?
Blue Jasmine
3.7 1,7K Assista AgoraO roteiro deixa um pouco a desejar e os personagens em geral (com exceção de Jasmine, interpretada competentemente por Cate Blanchett) não são muito bem estruturados. Mas o filme é tratado com uma leveza singular do diretor, mesmo que a história não seja exatamente leve, o que acaba sendo positivo.
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista Agora"Ninfomaníaca - Parte 1" assusta à primeira vista, principalmente pra quem não está habituado às últimas obras do Lars von Trier. O filme é excessivamente auto-explicativo, beirando a auto-indulgência, especialmente quando o diretor traça diversas associações e metáforas um tanto vazias. No entanto, quem conhece o trabalho do autor em "Melancolia" e "Anticristo" entende (ou pelo menos acredita) que o enredo serve a propósitos irônicos e de manipulação do expectador, uma vez que, anteriormente, Lars sempre foi muito sutil e cauteloso nos subtextos de suas obras.
"A cereja do bolo vem no personagem sexualmente frustrado de Stellan Skarsgard, uma referência ao comportamento do crítico de cinema. O diretor quis mostrar a figura que lança mão de incontáveis referências sobre música, literatura, filosofia etc. para sempre buscar uma interpretação, uma ressalva, ou mesmo uma análise descabida, quando algo deveria ser recebido como experiência e emoção, em lugar de racionalização mal-humorada."
Isso sem falar na parte em que o mesmo personagem ressalta, num diálogo com a protagonista Joe, a diferença entre antissemitismo e antissionismo, uma clara referência ao que aconteceu com Lars na coletiva em 2011 no Festival de Cannes, à respeito da polêmica envolvendo judeus e o nazismo.
Difícil analisar um filme quando o que é apresentado é apenas metade dele (e com vários cortes), mas, julgando esse primeiro trecho como uma introdução ao que vem em seguida, diria que é eficiente no sentido de desarmar o expectador de qualquer pré-julgamento que ele possa vir a fazer sobre a parte 2 de "Ninfomaníaca", permitindo que ele adentre de maneira crua no que parece ser o segmento mais brutal dessa história.
Camille Claudel, 1915
3.7 144Fotografia maravilhosa e ótima performance da Binoche. Interessante a proposta de um roteiro simples, pena que ele peca um pouco no andamento do filme.
Amor Pleno
3.0 558Extremamente auto-indulgente e por vezes vazio, "To The Wonder" é o perfeito exemplo de embalagem bonita sem conteúdo. A fotografia e o jogo de câmeras é incrível como em todo filme do Malick, mas a obra patina no enredo e não consegue se desenvolver. Diferentemente do que acontece em "A Árvore da Vida", os monólogos são rasos, imersos de uma pretensa poética auto-complacente, tão clichês que soam robóticos e sem personalidade. Aliás, personalidade é o que falta nos personagens - Malick já há um tempo usa o trabalho de seus atores como mero acessório ao mise en scène dos quadros, mas dessa vez ele se superou. Com pouco ou quase nada de material nas entrelinhas a ser lido, "To The Wonder" é, em poucas palavras, entediante e pretensioso. Uma pena.
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraA projeção temporal sobre os personagens realça suas características mais marcantes: a dramaticidade de Céline, agora afetada por sua crise de meia-idade, e o jeito brincalhão de Jesse, como sempre despreocupado. Apesar de aparentemente opostos, os dois compartilham características comuns a qualquer pessoa em seus 40 anos, como frustrações de vida e medos pelo que há de vir. Ainda assim, mesmo após uma discussão épica, os dois mostram que estão dispostos a tentar de novo e continuar aprendendo, mesmo depois de quase duas décadas de conhecidos. Sem contos de fada ou perfeccionismos, na vida real alguém tem sempre que ceder. Lindo desfecho para uma ótima trilogia!
Acordar para a Vida
4.3 789Um filme para dois mil e catarse
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraO filme vai bem, bem, até o desfecho final desnecessário, com essa história de vingança totalmente piegas. Nenhuma atuação realmente marcante e alguns clichês de outras obras nacionais, mas nota-se um cuidado especial com imagem e som, o que faz esse trabalho ser apreciado mais por sua experiência audiovisual do que pelo enredo em si.