Definitivamente, o ponto alto do filme é quando ultrapassa a fronteira da ficção nos depoimentos dos personagens que contam sobre as mudanças de cidade. No mais, a saga distópica de João tem ritmo um tanto quanto irregular, ora surpreendendo pelo poder de aproveitar símbolos que lembram o Cinema Novo de Glauber Rocha, ora se perdendo em longos planos de pouca força.
Há aqui um cinismo incomum na filmografia do Chaplin. Apesar de uma ou outra cena cômica datada inclusive pra época (cair de uma janela andando pra trás já não funcionava tanto assim), gosto muito dos contornos trágicos e dramáticos que o filme toma, especialmente a conversa com a garota que ele encontra na chuva e dos motivos que o fazem desistir seguir com o plano do vinho.
Pegando o contexto da época (Chaplin com problemas na vida pessoal explorados pela imprensa como escândalo, além da perseguição política e acusação de comunismo), o filme ganha contornos mais envolventes, justamente por sabermos que há no discurso de Henri Verdoux também um discurso de Charles Chaplin.
É bacana perceber como Fincher constrói a narrativa de um assassino profissional perfeccionista que, à medida que vai alcançando os alvos da vingança, vai percebendo que precisa lançar mão de algumas regras que ele mesmo criou. No entanto, apesar de gostar do texto e de como a montagem consegue manter o ritmo instigante o tempo todo, fica ao final um gosto anticlimático de… Tá, mas é isso?
É um personagem que desperta a curiosidade, que aponta o dedo para pontos muito interessantes no método (nossa confiança na tecnologia faz com que seja possível comprar facilmente acessórios de furto numa Amazon da vida, por exemplo), mas é como se faltassem mais consequências para as ações desse protagonista misterioso.
Os outros dois não são nenhuma obra-prima, mas pelo menos divertem e conseguem algum tipo de engajamento emocional que esse aqui anda looonge de conseguir. Bem ruim mesmo. Só salvam o Tronco-Bebê e a Poppy.
Gosto da proposta e de como tenta ensaiar algum tipo de profundidade com as dúvidas e objetivos dos personagens (fazer anagrama do nome dos envolvidos pode ser uma pista daquelas pessoas, reflexos um dos outros). Há um alongamento nas cenas da segunda parte, no entanto, que escapam do contemplativo e acertam mais no aborrecido mesmo.
O tom adotado pelo filme é muito mais de épico sombrio do que de investigação mirabolante. No meio disso tudo, Lily Gladstone salta aos olhos como surpresa avassaladora. A atriz, também descendente de indígenas, mostra o talento já provado em First Cow – A Primeira Vaca da América nos sutis sorrisos iniciais, que sugerem algo entre o medo e o interesse. O desenrolar da personagem e o talento da atriz permitem que ela alcance transmita a obliquidade das emoções de forma magnética, imprimindo um certo ar de mistério inebriante naquela mulher.
Da mesma maneira, DiCaprio compõe perfeitamente um Ernest como um idiota útil. Não do tipo cômico, pois a proposta do filme nem pede isso, mas do tipo perigoso, manipulável, que serve como testa de ferro para aqueles com mais poder. Mais do que projetar o queixo pra frente e curvar a boca ao estilo "grumpy cat", é acertada a escolha do ator de fazer o personagem ouvir o que a outra pessoa diz sem apelar para muitos maneirismos corporais, sem mexer muito o tronco ou os braços, dando aquela impressão de que escuta, balança a cabeça concordando, mas não tem muita certeza se aquilo que está ouvindo é correto ou não.
Pela falta de reflexão, acaba fazendo o que lhe mandam. E isso de vez em quando resulta em momentos marcantes, como na cena que ocorre logo após a explosão de uma bomba, cuja expressão do olhar do personagem sugere um arrependimento que lhe dá mais substância. Talvez ele realmente “ame tanto o dinheiro quanto ele ama a esposa”, como ele mesmo diz, o que obviamente não o faz menos culpado pelas ações que toma. O mal está em todos os lugares.
Esta crítica continua no Tardes de Cinema, na sessão de "Notícias" aqui do Filmow.
Eu queria não ter me incomodado tanto com as artificialidades da maquiagem (especialmente as do Clyde, que parecem uma máscara posta sobre o rosto do coitado), mas isso me incomodou bastante. No entanto, o retrato criado por Eastwood funciona por conta da habilidade do diretor em criar ritmo à narrativa. Seja numa conversa emotiva entre o protagonista e a secretária, ou na descoberta de verdades no fim do terceiro ato, o filme sabe como prender a atenção e criar algum tipo de conexão emocional com aqueles personagens, por mais odiosos que sejam. Isso vem muito da sensibilidade da direção.
Roteiro horrível, atuações sofríveis e um design de produção que parece as esquetes do Ru Paul`s Drag Race (com a diferença de que Ru Paul pelo menos sabe que é ridículo).
Alguém fala no documentário: “Se o artista não tem complexidade, ele não é artista.”
Eu não poderia concordar mais. Por isso que um filme assim, chapa branca, só com cabeças falantes rasgando elogios aos protagonistas em entrevistas, se torna tão sem graça frente à genialidade de Elis Regina e Tom Jobim. Além disso, o documentário tem uma visão problemática: o Tom Jobim como “professor raro”, a Elis Regina como a mulher que aprendeu muito, alguém que alcançou o ápice com aquela gravação. Essa falsa simetria me incomodou bastante. Diferente do álbum icônico, esse filme é um making off bem sem graça.
Apesar de trilhar caminhos bem conhecidos no terror (ameaça aparece, pessoas não acreditam, crenças caem), há uma honestidade que me atrai. Diferente de outras produções recentes, aqui é como se o filme soubesse das limitações e não quisesse ser um grande ensaio sobre o luto, uma grande metáfora sobre a depressão ou um manifesto contra a guerra da Ucrânia. Gosto também do trabalho da fotografia, que sabe usar os ambientes escuros e luzes diegéticas piscando pra gerar ansiedade (a bola da Sawyer, o pisca-pisca, o farol do carro…).
Provavelmente na época que foi lançado, período do cinema da retomada, causou grande impacto pelo tom mais poético de longas cenas em detrimento de uma narrativa mais linear e comportada. No entanto, as diversas explosões e arroubos dos protagonistas tornam o ritmo um tanto quanto irregular, como se não houvesse tanta coisa ali em risco. Não consegui me conectar tanto assim com o drama daquelas pessoas.
Olha, apesar do ótimo carisma da dupla de atores, o filme é uma chatice piegas e sem espaço pra nenhuma controvérsia, como se os protagonistas fossem algum tipo de santos sem defeitos.
Claudinho tinha família para além da esposa e da filha, que aparecem de relance quando é conveniente? Quais os medos e falhas dele? Ele era só o cara gente boa que ria de tudo? Pelo menos eles assumem que acham que o Claudinho é uma espécie de anjo, né?
Levando em consideração que a criação de Bram Stoker foi adaptada diversas vezes com alegorias relacionadas ao sexo, gosto de como o filme aposta na construção lenta da relação do Oskar e da Eli. Em um universo sombrio de solidão e bullying, a aproximação dos desajustados é bem feita e bem crível para aqueles personagens, além de trazer detalhes surpreendentes que podem passar despercebidos mas que, quando notados, elevam ainda mais a satisfação com o filme.
A trilha sonora é bem bonita também, trazendo uma melancolia que casa bem com a ambientação criada.
Islândia e Dinamarca possuem relação histórica forte. A primeira foi por muito tempo parte do Reino da Dinamarca até que, no fim do Século XIX, a independência islandesa começou a ser concedida. Saber dessa informação pode ajudar a entender este filme, mas não é essencial para o mergulho no desconforto sensorial que o diretor Hlynur Palmason proporciona, colocando nos ombros do dinamarquês Padre Lucas o peso de cruzar a Islândia, uma terra improdutiva, fria, brejada, onde nada cresce, para evangelizar as pessoas que ali vivem. “Terrivelmente lindo”, como diz um dos personagens, o local é tão idílico quanto perigoso, porque onde tem pessoas, haverá também relações sociais comuns e deletérias, como disputas de poder ou procura por sexo. No filme e na vida, natureza e humanidade convivem juntas. Essa é a terra que deus criou.
Apesar dos efeitos visuais, do trabalho sonoro incrível (a edição de som da grande arma americana, por exemplo) e do John David Washington excelente como sempre, o filme nunca desperta o envolvimento emocional que tanto tenta ter, o que acaba atrapalhando qualquer profundidade temática que o roteiro poderia desenvolver em relação à famigerada guerra humanos x Chat GPT. Mirou na profundidade, acertou no clichê.
Consegue recortar um pouco das complexidades do protagonista de uma forma curiosa e que não precisa apelar tanto pro sentimentalismo, mas quando vai nesse caminho, acerta o tom. Gosto muito da conversa que Beth tem com a mãe dela no sofá, quando a mãe fala sobre os conselhos que ouviu e a decisão que tomou para ficar com o marido, o que funciona muito bem como uma possível pista (verdadeira ou falsa) do que pode acontecer.
Com a pesada temática do infanticídio nas mãos, o olhar de Alice Diop se debruça sobre particularidades ainda mais profundas, como a invisibilidade do racismo de imigrantes ou a maluquice quase cósmica/mitológica que é ser mãe e gerar outro ser.
Temas encapsulados em uma câmera estática, sem firulas, valorizando a atuação e o texto. Essas lentas transformações podem soar lentas “até demais” no decorrer da primeira metade, mas a segunda parte arrebata com potência surpreendente.
Uma história com potencial, mas que se tornou um filme datado. Apesar da ação no trem em movimento ser boa, a cena de abertura é ridícula em termos de mise-en-scène. É como se o Malkovich e o ator que negocia com Ripley não tivessem sido orientados sobre posicionamento da câmera, ou então tudo deu errado na montagem, o que transforma uma passagem de ação simples num negócio confuso e estranho.
Felizmente, o filme ainda consegue despertar o mínimo de interesse do meio pro fim, quando as ações do Ripley passam a ser mais curiosas no sentido de entender a mente daquele personagem.
Quando eu vi os acusados chegando e meio que fazendo pose dramática antes de sentar no banco dos réus, me veio um mau pressentimento. Pensava eu que o filme seria um grande espetáculo de falas exaltadas e discursos acompanhados de uma trilha grandiosa, tal qual outro filme de tribunal dirigido por Stanley Kramer, O Vento Será Tua Herança. Para minha surpresa positiva, o que se seguiu foi um tom sóbrio, sob um silêncio incômodo que acompanhava as falas e discursos da acusação e defesa.
Nesse sentido, o tom é de devido respeito com o assunto sério e delicado sob o qual o tribunal se debruçava. Em meio aos milhões de mortos, a responsabilidade de condenar aqueles autores e agentes das atrocidades e o conflito: vale mais seguir as leis do próprio país, ou as leis internacionais?
Há princípios basilares que nunca devem ser esquecidos, principalmente sob a perspectiva de leis injustas. O roteiro de Abby Mann e Montgomery Clift sabe explorar muito bem as nuances da época e dificuldades do caso. Fica na memória uma frase do juiz Haywood: “ser lógico não significa ser correto”.
Dois grupos que defendem ideias de forma corajosa é quase sempre curioso de se assistir. O problema aqui é que o embate moral e jurídico perde muito do potencial por conta do ritmo arrastado e dos personagens desinteressantes, além de uma trama paralela romântica que soa um tanto quanto forçada. A relação entre Rachel e o pai, o pastor, também adentra a história de forma exageradamente afetada.
A direção de Otto Preminger é magistral, usando as lentes para distanciar os personagens ambíguos conforme os discursos vão se desenrolando: quando o promotor experiente vai pressionar Laura, por exemplo, a sensação é que o advogado Paul (Stewart) está gritando “objection!” a 40 quilômetros de distância. O “porém” aqui se encontra no fato de o acusado não funcionar como um personagem intrigante, diferente de muitos outros dramas de tribunal clássicos. É como se a consciência de Manion não possuísse minúcias ou pormenores, o que poderia deixar o filme um tanto quanto maniqueísta.
Ao mesmo tempo e apesar de atrapalhar a conclusão, esse tipo de personalidade do casal funciona se pensarmos nesse aspecto cínico como uma herança do pessimismo dos filmes noir, que é uma fonte da qual Anatomia de Um Crime bebe bastante nos aspectos visuais. Adoro o simbolismo da última cena: o salto alto da Laura achado no lixo.
Gosto da ideia inicial, mas o desenrolar é um tanto quanto superficial. Havia bastante potencial de construção de uma boa relação com o luto da protagonista e o poder da mãozinha, mas isso é desperdiçado em um terço final morno e com caminhos desgastados do gênero.
Última Cidade
3.0 2Definitivamente, o ponto alto do filme é quando ultrapassa a fronteira da ficção nos depoimentos dos personagens que contam sobre as mudanças de cidade. No mais, a saga distópica de João tem ritmo um tanto quanto irregular, ora surpreendendo pelo poder de aproveitar símbolos que lembram o Cinema Novo de Glauber Rocha, ora se perdendo em longos planos de pouca força.
Monsieur Verdoux
4.2 126 Assista AgoraHá aqui um cinismo incomum na filmografia do Chaplin. Apesar de uma ou outra cena cômica datada inclusive pra época (cair de uma janela andando pra trás já não funcionava tanto assim), gosto muito dos contornos trágicos e dramáticos que o filme toma, especialmente a conversa com a garota que ele encontra na chuva e dos motivos que o fazem desistir seguir com o plano do vinho.
Pegando o contexto da época (Chaplin com problemas na vida pessoal explorados pela imprensa como escândalo, além da perseguição política e acusação de comunismo), o filme ganha contornos mais envolventes, justamente por sabermos que há no discurso de Henri Verdoux também um discurso de Charles Chaplin.
O Assassino
3.3 516É bacana perceber como Fincher constrói a narrativa de um assassino profissional perfeccionista que, à medida que vai alcançando os alvos da vingança, vai percebendo que precisa lançar mão de algumas regras que ele mesmo criou. No entanto, apesar de gostar do texto e de como a montagem consegue manter o ritmo instigante o tempo todo, fica ao final um gosto anticlimático de… Tá, mas é isso?
É um personagem que desperta a curiosidade, que aponta o dedo para pontos muito interessantes no método (nossa confiança na tecnologia faz com que seja possível comprar facilmente acessórios de furto numa Amazon da vida, por exemplo), mas é como se faltassem mais consequências para as ações desse protagonista misterioso.
Trolls 3: Juntos Novamente
3.1 31 Assista AgoraOs outros dois não são nenhuma obra-prima, mas pelo menos divertem e conseguem algum tipo de engajamento emocional que esse aqui anda looonge de conseguir. Bem ruim mesmo. Só salvam o Tronco-Bebê e a Poppy.
Os Delinquentes
3.4 16 Assista AgoraGosto da proposta e de como tenta ensaiar algum tipo de profundidade com as dúvidas e objetivos dos personagens (fazer anagrama do nome dos envolvidos pode ser uma pista daquelas pessoas, reflexos um dos outros). Há um alongamento nas cenas da segunda parte, no entanto, que escapam do contemplativo e acertam mais no aborrecido mesmo.
O Terceiro Olho
3.0 143Ok, é um pouco datado em questões como montagem (essas transições com o barulhinho, Deus), mas até que a trama instiga e deixa um ar de curiosidade.
Assassinos da Lua das Flores
4.1 619 Assista AgoraO tom adotado pelo filme é muito mais de épico sombrio do que de investigação mirabolante. No meio disso tudo, Lily Gladstone salta aos olhos como surpresa avassaladora. A atriz, também descendente de indígenas, mostra o talento já provado em First Cow – A Primeira Vaca da América nos sutis sorrisos iniciais, que sugerem algo entre o medo e o interesse. O desenrolar da personagem e o talento da atriz permitem que ela alcance transmita a obliquidade das emoções de forma magnética, imprimindo um certo ar de mistério inebriante naquela mulher.
Da mesma maneira, DiCaprio compõe perfeitamente um Ernest como um idiota útil. Não do tipo cômico, pois a proposta do filme nem pede isso, mas do tipo perigoso, manipulável, que serve como testa de ferro para aqueles com mais poder. Mais do que projetar o queixo pra frente e curvar a boca ao estilo "grumpy cat", é acertada a escolha do ator de fazer o personagem ouvir o que a outra pessoa diz sem apelar para muitos maneirismos corporais, sem mexer muito o tronco ou os braços, dando aquela impressão de que escuta, balança a cabeça concordando, mas não tem muita certeza se aquilo que está ouvindo é correto ou não.
Pela falta de reflexão, acaba fazendo o que lhe mandam. E isso de vez em quando resulta em momentos marcantes, como na cena que ocorre logo após a explosão de uma bomba, cuja expressão do olhar do personagem sugere um arrependimento que lhe dá mais substância. Talvez ele realmente “ame tanto o dinheiro quanto ele ama a esposa”, como ele mesmo diz, o que obviamente não o faz menos culpado pelas ações que toma. O mal está em todos os lugares.
Esta crítica continua no Tardes de Cinema, na sessão de "Notícias" aqui do Filmow.
J. Edgar
3.5 646 Assista AgoraEu queria não ter me incomodado tanto com as artificialidades da maquiagem (especialmente as do Clyde, que parecem uma máscara posta sobre o rosto do coitado), mas isso me incomodou bastante. No entanto, o retrato criado por Eastwood funciona por conta da habilidade do diretor em criar ritmo à narrativa. Seja numa conversa emotiva entre o protagonista e a secretária, ou na descoberta de verdades no fim do terceiro ato, o filme sabe como prender a atenção e criar algum tipo de conexão emocional com aqueles personagens, por mais odiosos que sejam. Isso vem muito da sensibilidade da direção.
Descendentes 3
3.3 49Roteiro horrível, atuações sofríveis e um design de produção que parece as esquetes do Ru Paul`s Drag Race (com a diferença de que Ru Paul pelo menos sabe que é ridículo).
Eu tentei, sobrinha. Eu tentei.
Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você
3.9 29 Assista AgoraAlguém fala no documentário: “Se o artista não tem complexidade, ele não é artista.”
Eu não poderia concordar mais. Por isso que um filme assim, chapa branca, só com cabeças falantes rasgando elogios aos protagonistas em entrevistas, se torna tão sem graça frente à genialidade de Elis Regina e Tom Jobim. Além disso, o documentário tem uma visão problemática: o Tom Jobim como “professor raro”, a Elis Regina como a mulher que aprendeu muito, alguém que alcançou o ápice com aquela gravação. Essa falsa simetria me incomodou bastante. Diferente do álbum icônico, esse filme é um making off bem sem graça.
Boogeyman: Seu Medo é Real
2.8 229 Assista AgoraApesar de trilhar caminhos bem conhecidos no terror (ameaça aparece, pessoas não acreditam, crenças caem), há uma honestidade que me atrai. Diferente de outras produções recentes, aqui é como se o filme soubesse das limitações e não quisesse ser um grande ensaio sobre o luto, uma grande metáfora sobre a depressão ou um manifesto contra a guerra da Ucrânia. Gosto também do trabalho da fotografia, que sabe usar os ambientes escuros e luzes diegéticas piscando pra gerar ansiedade (a bola da Sawyer, o pisca-pisca, o farol do carro…).
Um bom clichê.
A Ostra e o Vento
3.6 71Provavelmente na época que foi lançado, período do cinema da retomada, causou grande impacto pelo tom mais poético de longas cenas em detrimento de uma narrativa mais linear e comportada. No entanto, as diversas explosões e arroubos dos protagonistas tornam o ritmo um tanto quanto irregular, como se não houvesse tanta coisa ali em risco. Não consegui me conectar tanto assim com o drama daquelas pessoas.
Nosso Sonho
3.8 182Olha, apesar do ótimo carisma da dupla de atores, o filme é uma chatice piegas e sem espaço pra nenhuma controvérsia, como se os protagonistas fossem algum tipo de santos sem defeitos.
Claudinho tinha família para além da esposa e da filha, que aparecem de relance quando é conveniente? Quais os medos e falhas dele? Ele era só o cara gente boa que ria de tudo? Pelo menos eles assumem que acham que o Claudinho é uma espécie de anjo, né?
Not my cup of tea.
Deixa Ela Entrar
4.0 1,6KLevando em consideração que a criação de Bram Stoker foi adaptada diversas vezes com alegorias relacionadas ao sexo, gosto de como o filme aposta na construção lenta da relação do Oskar e da Eli. Em um universo sombrio de solidão e bullying, a aproximação dos desajustados é bem feita e bem crível para aqueles personagens, além de trazer detalhes surpreendentes que podem passar despercebidos mas que, quando notados, elevam ainda mais a satisfação com o filme.
A trilha sonora é bem bonita também, trazendo uma melancolia que casa bem com a ambientação criada.
Terra de Deus
3.6 15 Assista AgoraIslândia e Dinamarca possuem relação histórica forte. A primeira foi por muito tempo parte do Reino da Dinamarca até que, no fim do Século XIX, a independência islandesa começou a ser concedida. Saber dessa informação pode ajudar a entender este filme, mas não é essencial para o mergulho no desconforto sensorial que o diretor Hlynur Palmason proporciona, colocando nos ombros do dinamarquês Padre Lucas o peso de cruzar a Islândia, uma terra improdutiva, fria, brejada, onde nada cresce, para evangelizar as pessoas que ali vivem. “Terrivelmente lindo”, como diz um dos personagens, o local é tão idílico quanto perigoso, porque onde tem pessoas, haverá também relações sociais comuns e deletérias, como disputas de poder ou procura por sexo. No filme e na vida, natureza e humanidade convivem juntas. Essa é a terra que deus criou.
Resistência
3.3 271 Assista AgoraApesar dos efeitos visuais, do trabalho sonoro incrível (a edição de som da grande arma americana, por exemplo) e do John David Washington excelente como sempre, o filme nunca desperta o envolvimento emocional que tanto tenta ter, o que acaba atrapalhando qualquer profundidade temática que o roteiro poderia desenvolver em relação à famigerada guerra humanos x Chat GPT. Mirou na profundidade, acertou no clichê.
Adam
3.9 825Consegue recortar um pouco das complexidades do protagonista de uma forma curiosa e que não precisa apelar tanto pro sentimentalismo, mas quando vai nesse caminho, acerta o tom. Gosto muito da conversa que Beth tem com a mãe dela no sofá, quando a mãe fala sobre os conselhos que ouviu e a decisão que tomou para ficar com o marido, o que funciona muito bem como uma possível pista (verdadeira ou falsa) do que pode acontecer.
Saint Omer
3.7 16 Assista AgoraCom a pesada temática do infanticídio nas mãos, o olhar de Alice Diop se debruça sobre particularidades ainda mais profundas, como a invisibilidade do racismo de imigrantes ou a maluquice quase cósmica/mitológica que é ser mãe e gerar outro ser.
Temas encapsulados em uma câmera estática, sem firulas, valorizando a atuação e o texto. Essas lentas transformações podem soar lentas “até demais” no decorrer da primeira metade, mas a segunda parte arrebata com potência surpreendente.
O Retorno do Talentoso Ripley
3.1 63 Assista AgoraUma história com potencial, mas que se tornou um filme datado. Apesar da ação no trem em movimento ser boa, a cena de abertura é ridícula em termos de mise-en-scène. É como se o Malkovich e o ator que negocia com Ripley não tivessem sido orientados sobre posicionamento da câmera, ou então tudo deu errado na montagem, o que transforma uma passagem de ação simples num negócio confuso e estranho.
Felizmente, o filme ainda consegue despertar o mínimo de interesse do meio pro fim, quando as ações do Ripley passam a ser mais curiosas no sentido de entender a mente daquele personagem.
O Conde
3.2 98 Assista AgoraPoxa, Michel Temer não topou participar de uma apariçãozinha surpresa? :(
Julgamento em Nuremberg
4.4 140 Assista AgoraQuando eu vi os acusados chegando e meio que fazendo pose dramática antes de sentar no banco dos réus, me veio um mau pressentimento. Pensava eu que o filme seria um grande espetáculo de falas exaltadas e discursos acompanhados de uma trilha grandiosa, tal qual outro filme de tribunal dirigido por Stanley Kramer, O Vento Será Tua Herança. Para minha surpresa positiva, o que se seguiu foi um tom sóbrio, sob um silêncio incômodo que acompanhava as falas e discursos da acusação e defesa.
Nesse sentido, o tom é de devido respeito com o assunto sério e delicado sob o qual o tribunal se debruçava. Em meio aos milhões de mortos, a responsabilidade de condenar aqueles autores e agentes das atrocidades e o conflito: vale mais seguir as leis do próprio país, ou as leis internacionais?
Há princípios basilares que nunca devem ser esquecidos, principalmente sob a perspectiva de leis injustas. O roteiro de Abby Mann e Montgomery Clift sabe explorar muito bem as nuances da época e dificuldades do caso. Fica na memória uma frase do juiz Haywood: “ser lógico não significa ser correto”.
O Vento Será Tua Herança
4.4 104 Assista AgoraDois grupos que defendem ideias de forma corajosa é quase sempre curioso de se assistir. O problema aqui é que o embate moral e jurídico perde muito do potencial por conta do ritmo arrastado e dos personagens desinteressantes, além de uma trama paralela romântica que soa um tanto quanto forçada. A relação entre Rachel e o pai, o pastor, também adentra a história de forma exageradamente afetada.
Anatomia de um Crime
4.1 134 Assista AgoraA direção de Otto Preminger é magistral, usando as lentes para distanciar os personagens ambíguos conforme os discursos vão se desenrolando: quando o promotor experiente vai pressionar Laura, por exemplo, a sensação é que o advogado Paul (Stewart) está gritando “objection!” a 40 quilômetros de distância. O “porém” aqui se encontra no fato de o acusado não funcionar como um personagem intrigante, diferente de muitos outros dramas de tribunal clássicos. É como se a consciência de Manion não possuísse minúcias ou pormenores, o que poderia deixar o filme um tanto quanto maniqueísta.
Ao mesmo tempo e apesar de atrapalhar a conclusão, esse tipo de personalidade do casal funciona se pensarmos nesse aspecto cínico como uma herança do pessimismo dos filmes noir, que é uma fonte da qual Anatomia de Um Crime bebe bastante nos aspectos visuais. Adoro o simbolismo da última cena: o salto alto da Laura achado no lixo.
Fale Comigo
3.6 976 Assista AgoraGosto da ideia inicial, mas o desenrolar é um tanto quanto superficial. Havia bastante potencial de construção de uma boa relação com o luto da protagonista e o poder da mãozinha, mas isso é desperdiçado em um terço final morno e com caminhos desgastados do gênero.