A parte política possui um tom sóbrio, elegante, onde todos os responsáveis pelas casas, famílias ou grupos parecem ser estrategistas em algum nível. Os que são inertes, no caso do Imperador (Christopher Walken), ainda conseguem justificar essa inação, constituindo então um mosaico de personagens cujo desenvolvimento e relação se tornam mais complexos e instigantes ao mesmo tempo.
O mergulho na complexidade e paciência no desenvolvimento dos personagens fascina em cada história paralela, fortalecido pelos looooongos diálogos, que até causam um certo afastamento do protagonista por se mostrar alguém tão desagradável. Mas, ei, ele é humano. E é isso que o filme quer mostrar, não há dicotomias fáceis entre vilões e mocinhos.
Além disso, a forma como tudo é amarrado no final é muito bonita e seca ao mesmo tempo. Mesmo depois da neve opressiva, não há primavera.
Ok, muita coragem dos jornalistas da AP (Associated Press) que cobriram tudo ali arriscando as próprias vidas. Mas que cara chato em ficar narrando o tempo todo o que acontece, não cala a boca. E outra: se acha, né? O cúmulo foi ELE MESMO NARRAR: “eu agradeci a um médico por ele ter me protegido. Então o médico me disse: “não. EU quem agradeço a você por enviar essas imagens ao mundo””.
???
O que ele quer? Um Oscar? Ganhou. Mas talvez devesse ter ficado no Pulitzer.
Usa muito bem pistas e recompensas para instigar o espectador durante toda a projeção, sabendo construir a personalidade daquela família, nos deixar mais próximos das particularidades e mudanças que ocorrem com cada mulher dali, para que o impacto final seja ainda mais forte, ao mesmo tempo em que não se traveste de suspense aproveitador da dor alheia. Meu preferido da categoria.
Até que fazem um bom trabalho inicial em mostrar um Indiana Jones envelhecido e cuja rotina não representa em nada a glória do passado. Corta o coração ver como uma tradicional cena de toda a franquia (Indiana dando aula para um grupo de estudantes) é feita aqui, com o desinteresse dos estudantes no que Indiana tem a dizer.
Não tenho certeza se gosto a ação desenfreada do terço final, um tanto quanto cansativa. Além de algumas escolhas determinantes pro futuro do personagem que me pareceram erradas. No entanto, em geral, bom filme.
A WWE (World Wrestling Entertainment)) é tão importante que o canal no YouTube deles possui mais inscritos que o da NFL, de beisebol, da NBA, de basquete, e do que a própria FIFA. Apesar de não ser tão popular no Brasil, esse tipo de wrestling profissional faz bastante sucesso em diversos países mundo afora.
Mas diferente do que muitos desavisados podem pensar, não se trata de um esporte como boxe ou MMA. Trata-se de uma mescla entre artes cênicas e luta de verdade. Existe um script para tudo o que ocorre: os lutadores sabem o que vai acontecer, que golpes darão, quem deve ganhar a luta, e o juiz está ali com a função dupla de performar e de pôr ordem para evitar que alguma lesão mais grave aconteça em caso de exaltação dos ânimos (existem golpes que podem desclassificar – de verdade – um ou outro lutador).
Não é nem o plot twist que surpreende, mas a construção cuidadosa até que ele chegue e principalmente o que vem depois, a “quebra da corrente de ódio” que mais marca.
Engraçado como Wenders cria uma obra simples, mas longe de ser simplista. Hirayama é satisfeito e feliz com a vida que tem, mas o personagem vai de encontro à “positividade tóxica” que o filme poderia exalar, caso capitaneado por mãos menos habilidosas: o protagonista fica puto por ter que trabalhar dobrado e reclama aos seus superiores, ele tem medo de terminar como a pessoa em situação de rua que vê no parque e depois debilitada no meio da rua. Ele não é uma Poliana.
São essas complexidades que elevam a obra a um patamar maduro. É isso aí. Wim Wenders e aprendenders. E se Wim Wenderso conhecesse Belchior, ele encerraria com essa aqui:
"Contemplo o rio que corre parado E a dançarina de pedra que evolui Completamente, sem metas, sentado Não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui A mente quer ser, mas querendo erra / a gente quer ter, mas querendo era Pois só sem desejos é que se vive o agora Vêde o pé do ypê, apenasmente flora Revolucionariamente Apenso ao pé da serra Vêde o pé do ypê, apenasmente flora Revolucionariamente Apenso ao pé da serra"
Tira sarro dos consumidores de conteúdo popular, dos artistas que produzem esse conteúdo massificante, mas a cereja do bolo é que encontra espaço para questionar de forma muito inteligente todos esses problemas, chegando ao ponto de, bem, tirar sarro também daqueles que produzem obras ditas "elevadas", inteligentes e que “fogem do comum”, mas que rejeitam o popular.
Thelounious “Monk” é o personagem certinho e inteligente, mas que não encontra público pra sua obra, embarca nessa espiral de questionamentos principiológicos: até quando o popular é só uma cópia aproveitadora, e até quando ele é realmente fruto de estudo e pesquisa? Tudo isso ladeado por dramas da vida real, como a doença da mãe, ou a doce relação dele com Lorraine.
Há um momento em que ele pergunta à defensora pública como ela se sente por defender pessoas culpadas. Ela responde que ama, porque, no fim, são todos culpados e as “pessoas são mais do que sua pior ação”. Ora, então não seria o próprio Monk culpado por julgar artistas, obras ou consumidores? Resta aos artistas então construir personagens de forma a não julgá-los, tirar proveito do que a indústria gosta, se isso lhe apetecer.
E por isso é tão perspicaz a última tomada, na qual Monk
muda o final do roteiro para um que agrade o dito “grande público”, mas ao sair do galpão do estúdio, encontra um negro caracterizado como escravo, mais um fruto de um estereótipo dos estúdios e obras que sentem certo fetiche na tortura de negros. Aí ele pensa, provavelmente, que está vendendo a própria alma, pois ao mudar o final e “se vender pra indústria”, ele colabora com essa visão pouco inspirada. Mas o figurante tá de boa ouvindo musiquinha com fones. Olha pro Monk, faz um sinal de “peace”. Tá tudo bem. Essa é a indústria, vamos pagar o tratamento da minha mãe com eles.
E uma grua mostra todo o tamanho daquele estúdio, o tamanho daquela indústria frente ao tamanho de Monk.
Bobagem pretensiosa, que mira no grandioso e inteligente, mas acerta no desinteressante mal construido. Keoghan, meu filho, você pode escolher um papel melhor.
Podia dar errado pela quantidade de temas paralelos que trata (mudança de cidade, primeiro amor, menstruação, religião), mas tudo isso é carregado de forma extremamente encantadora ao redor do amadurecimento da protagonista, que é fofa demais com suas dúvidas e pedidos.
Adolescência é um negócio maluco, momento no qual você não sabe muito bem o que quer, é influenciado pelos outros e pode acabar fazendo uma ou outra coisa ruim. Eu amo como o roteiro aqui esquece a clássica divisão de grupos estereotipados da escola e como eles apresentam e desenvolvem a relação familiar da Margareth de forma que parece tão real, com imperfeições, mas muito amor pela garota. Gostei mesmo.
Inteligente ao respeitar o sofrimento da vítima (cortar para planos da nuca durante alguns choros, por exemplo), mas principalmente por retratar a nobreza e imperfeições daquela luta, com quase desistências do pai devido às imensas pressões, ou pensamentos enviesados de diversas pessoas da comunidade.
Gosto de algumas ideias, principalmente na primeira metade (a reação do Indy quando Mutt e Indiana estão na moto, a maluca cena da geladeira), que demonstra uma energia muito divertida. Diferente da segunda metade, onde a ação desenfreada se mostra muito mais aleatória e apressada do que algo bem-vindo (Mutt… Nos cipós…).
Timing horrível pra um projeto que exalta a postura de um líder israelense na guerra, né? De qualquer forma, Golda fazia parte do Labour Party e as condições eram muito diferentes das atuais, o que nos leva ao filme.
Adoro que Guy Nattiv trabalha bem os silêncios em vez de apostar nos exageros melodramáticos, assim como ele faz a câmera flutuar sem que pareça firulas inócuas, mas movimentos muito bonitos pra demonstrar a volatilidade daquela situação e uma certa “lentidão” - em movimentos e atitudes - da líder.
No entanto, me parece que Golda aqui é uma personagem difícil de se trabalhar, principalmente pelo lado humano ficar restrito à doença e aos eventuais sentimentos de culpa durante a guerra. Onde está a neta que ela comenta numa passagem do filme, por exemplo? Ainda assim, o roteiro escapa como pode, como inserir falas espirituosas na fala da protagonista (“você esquece que nos lemos da direita pra esquerda”, diz ela respondendo o secretário de estado norte-americano, por exemplo).
Ok, tirando as obrigatórias declarações de amor e agradecimentos melosas e clichês fotográficos de representatividade, até que tem poucos flashbacks expositivos e até que a direção sabe trabalhar bem com os atores pra tirar boas sacadas de humor (“o "C." é de carisma”).
Considerando os últimos filmes-Diane-Warren (Elas Por Elas, 4 Dias Com Ela, Rosa & Momo, Superação - O Milagre da Fé), esse aqui até que é palatável.
Michael Mann já começa o filme mostrando pela montagem o quão apaixonado por corrida Enzo Ferrari é. Os cortes do montador Pietro Scalia enquanto Enzo dirige saindo da casa da amante, unidos ao ronco do motor e cliques de troca de marcha fazem logo dessa introdução um prenúncio de que vem coisa boa por aí. E veio mesmo.
O que me admira aqui em Ferrari é como o Mann tem o controle de tudo e como cada decisão funciona bastante para trazer energia ao filme. Alternar imagens dos homens olhando o cronômetro durante a Missa dos Trabalhadores com as imagens de corrida, por exemplo, traduz a obsessão daqueles personagens pelos motores e pela vitória. Aliás, até mesmo o discurso do padre naquela missa traduz a importância da indústria automobilística para aquele público, visto que o religioso quase compara o nascimento de um motor como se fosse um milagre, e os trabalhadores os responsáveis por esse milagre.
Mas não só há energia orgástica o tempo todo: vemos uma “conversa” entre Enzo e o filho morto, para logo depois chegar Laura Ferrari que, sem trocar uma palavra, emociona somente por entrar no túmulo do garoto e sentir a presença dele ali dentro. Nesse sentido, foi fundamental que o filme tivesse uma performance de gala da Penélope Cruz, que merecia estar indicada ao Oscar, se houvesse justiça em premiações.
E não é só a Cruz que está excelente, como Adam Driver também oferece uma incrível faceta do executivo italiano: nos poucos momentos que tira os óculos escuros, Driver consegue expressar a dor, confusão e obsessão que aquele homem tinha com pouco esforço, sem muitos maneirismos ou exageros hiperbólicos. Há uma cena durante a ópera, por exemplo, na qual o close no rosto do personagem é capaz de capturar o exato instante no qual ele luta para não sorrir ou marejar os olhos, isso com um mínimo de sobrancelhas franzidas e microexpressões. Essa cena poderia muito bem descambar para o brega de mal gosto, mas é bastante eficiente em unir todos aqueles personagens numa volta ao passado.
Gosto da ideia de pegarem um artista e não fazerem uma biografia convencional com juventude no início, dificuldades no meio e glória no fim, do berço à cova, mas sim um recorte específico de um momento na vida daquela pessoa. No entanto, ao mesmo tempo que mostra percalços cortantes, Batiste pouco expõe vulnerabilidades e, se mostra, logo as supera. Ele já se viu obrigado a trair alguém? Ele já respondeu críticas com ódio? Ele pelo menos já xingou alguém? Ainda assim, bom filme.
Real Madrid, Paris Saint-Germain, Barcelona, Tottenham, Arsenal e Atlético de Madrid. Esses são alguns dos times de futebol cujos personagens de Eu, Capitão usam as camisas, sejam eles senegaleses, maleses, nigerianos ou libaneses. Admiração de um continente economicamente pobre por outro supostamente desenvolvido que se reflete no sonho de migração África-Europa, tema central do filme.
Na trama, o adolescente senegalês Seydou (Seydou Sarr) já inicia sendo despertado do sono pelo barulho das crianças com as quais divide o quarto. Inicialmente irritado, não demora muito até que o gentil protagonista troque afetos com os pequenos familiares. Seydou pretende sair em segredo de seu país junto com o primo também adolescente Moussa (Moustapha Fall) rumo à Itália. Essa diáspora econômica em busca de melhores condições de vida é retratada pelo diretor italiano Matteo Garrone (também responsável por uma das adaptações recentes de Pinóquio, com Roberto Benigni) como uma jornada épica tortuosa.
Spielberg acerta em cheio ao inserir e desenvolver a relação paterna entre os Jones. Da figura misteriosa e distante, mas encantada com o próprio trabalho, passando por tiradas geniais (“ela fala enquanto dorme”) e chegando ao final onde o que se busca não é um prêmio, mas iluminação,
Apesar da abordagem íntima sobre a tragédia de um personagem que tanto lidou com a memória do povo chileno durante a ditadura militar, não consigo deixar de dizer que me incomodou a ideia de ser “mosca na parede” (em oposição à "mosca na sopa" dos cineastas do Cinema Verdade) nos momentos mais sensíveis. Até que ponto isso é respeito ou desrespeito? Não sei, muitos sentimentos contraditórios aqui, algo que passei longe de ter em O Agente Duplo, da mesma diretora, talvez porque O Agente Duplo fosse mais eficiente em trazer abordagens cinematográficas um pouco mais ousadas do que Memória Infinita.
Como instrumento de potencializar revolta contra um ditador, ótimo na exposição das atrocidades atentatórias a um regime democrático. Como cinema? Bem quadrado, com trilha sonora intrusiva e uma linguagem mais jornalística do que artística.
Todos Nós Desconhecidos
3.9 148Parabéns pra quem conseguiu se conectar com os personagens aqui, porque eu mesmo… Passei foi longe dessa languidez.
Duna: Parte 2
4.4 576A parte política possui um tom sóbrio, elegante, onde todos os responsáveis pelas casas, famílias ou grupos parecem ser estrategistas em algum nível. Os que são inertes, no caso do Imperador (Christopher Walken), ainda conseguem justificar essa inação, constituindo então um mosaico de personagens cujo desenvolvimento e relação se tornam mais complexos e instigantes ao mesmo tempo.
Crítica completa no Canal Messias Adriano.
Ervas Secas
3.9 10O mergulho na complexidade e paciência no desenvolvimento dos personagens fascina em cada história paralela, fortalecido pelos looooongos diálogos, que até causam um certo afastamento do protagonista por se mostrar alguém tão desagradável. Mas, ei, ele é humano. E é isso que o filme quer mostrar, não há dicotomias fáceis entre vilões e mocinhos.
Além disso, a forma como tudo é amarrado no final é muito bonita e seca ao mesmo tempo. Mesmo depois da neve opressiva, não há primavera.
Encurralado
3.9 431 Assista AgoraSpielbergzinho botando uma cena de acidente entre um caminhão e um carro depois de passar 75 mil horas botando carro e trem de brinquedo pra bater: :)
Spielbergzinho enquadrando o horizonte no meio: :(
20 Dias em Mariupol
3.8 55 Assista AgoraOk, muita coragem dos jornalistas da AP (Associated Press) que cobriram tudo ali arriscando as próprias vidas. Mas que cara chato em ficar narrando o tempo todo o que acontece, não cala a boca. E outra: se acha, né? O cúmulo foi ELE MESMO NARRAR: “eu agradeci a um médico por ele ter me protegido. Então o médico me disse: “não. EU quem agradeço a você por enviar essas imagens ao mundo””.
???
O que ele quer? Um Oscar? Ganhou. Mas talvez devesse ter ficado no Pulitzer.
As 4 Filhas de Olfa
3.7 33 Assista AgoraUsa muito bem pistas e recompensas para instigar o espectador durante toda a projeção, sabendo construir a personalidade daquela família, nos deixar mais próximos das particularidades e mudanças que ocorrem com cada mulher dali, para que o impacto final seja ainda mais forte, ao mesmo tempo em que não se traveste de suspense aproveitador da dor alheia. Meu preferido da categoria.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino
3.2 325 Assista AgoraAté que fazem um bom trabalho inicial em mostrar um Indiana Jones envelhecido e cuja rotina não representa em nada a glória do passado. Corta o coração ver como uma tradicional cena de toda a franquia (Indiana dando aula para um grupo de estudantes) é feita aqui, com o desinteresse dos estudantes no que Indiana tem a dizer.
Não tenho certeza se gosto a ação desenfreada do terço final, um tanto quanto cansativa. Além de algumas escolhas determinantes pro futuro do personagem que me pareceram erradas. No entanto, em geral, bom filme.
A Sala dos Professores
3.9 135 Assista AgoraTrama que conduz o espectador por uma espiral angustiante de incômodo pela situação.
Garra de Ferro
3.9 96A WWE (World Wrestling Entertainment)) é tão importante que o canal no YouTube deles possui mais inscritos que o da NFL, de beisebol, da NBA, de basquete, e do que a própria FIFA. Apesar de não ser tão popular no Brasil, esse tipo de wrestling profissional faz bastante sucesso em diversos países mundo afora.
Mas diferente do que muitos desavisados podem pensar, não se trata de um esporte como boxe ou MMA. Trata-se de uma mescla entre artes cênicas e luta de verdade. Existe um script para tudo o que ocorre: os lutadores sabem o que vai acontecer, que golpes darão, quem deve ganhar a luta, e o juiz está ali com a função dupla de performar e de pôr ordem para evitar que alguma lesão mais grave aconteça em caso de exaltação dos ânimos (existem golpes que podem desclassificar – de verdade – um ou outro lutador).
Crítica completa em tardesdecinema . com. br
Incêndios
4.5 1,9K Assista AgoraNão é nem o plot twist que surpreende, mas a construção cuidadosa até que ele chegue e principalmente o que vem depois, a “quebra da corrente de ódio” que mais marca.
Dias Perfeitos
4.2 230 Assista AgoraEngraçado como Wenders cria uma obra simples, mas longe de ser simplista. Hirayama é satisfeito e feliz com a vida que tem, mas o personagem vai de encontro à “positividade tóxica” que o filme poderia exalar, caso capitaneado por mãos menos habilidosas: o protagonista fica puto por ter que trabalhar dobrado e reclama aos seus superiores, ele tem medo de terminar como a pessoa em situação de rua que vê no parque e depois debilitada no meio da rua. Ele não é uma Poliana.
São essas complexidades que elevam a obra a um patamar maduro. É isso aí. Wim Wenders e aprendenders. E se Wim Wenderso conhecesse Belchior, ele encerraria com essa aqui:
"Contemplo o rio que corre parado
E a dançarina de pedra que evolui
Completamente, sem metas, sentado
Não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui
A mente quer ser, mas querendo erra / a gente quer ter, mas querendo era
Pois só sem desejos é que se vive o agora
Vêde o pé do ypê, apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra
Vêde o pé do ypê, apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra"
Ficção Americana
3.8 355 Assista AgoraTira sarro dos consumidores de conteúdo popular, dos artistas que produzem esse conteúdo massificante, mas a cereja do bolo é que encontra espaço para questionar de forma muito inteligente todos esses problemas, chegando ao ponto de, bem, tirar sarro também daqueles que produzem obras ditas "elevadas", inteligentes e que “fogem do comum”, mas que rejeitam o popular.
Thelounious “Monk” é o personagem certinho e inteligente, mas que não encontra público pra sua obra, embarca nessa espiral de questionamentos principiológicos: até quando o popular é só uma cópia aproveitadora, e até quando ele é realmente fruto de estudo e pesquisa? Tudo isso ladeado por dramas da vida real, como a doença da mãe, ou a doce relação dele com Lorraine.
Há um momento em que ele pergunta à defensora pública como ela se sente por defender pessoas culpadas. Ela responde que ama, porque, no fim, são todos culpados e as “pessoas são mais do que sua pior ação”. Ora, então não seria o próprio Monk culpado por julgar artistas, obras ou consumidores? Resta aos artistas então construir personagens de forma a não julgá-los, tirar proveito do que a indústria gosta, se isso lhe apetecer.
E por isso é tão perspicaz a última tomada, na qual Monk
muda o final do roteiro para um que agrade o dito “grande público”, mas ao sair do galpão do estúdio, encontra um negro caracterizado como escravo, mais um fruto de um estereótipo dos estúdios e obras que sentem certo fetiche na tortura de negros. Aí ele pensa, provavelmente, que está vendendo a própria alma, pois ao mudar o final e “se vender pra indústria”, ele colabora com essa visão pouco inspirada. Mas o figurante tá de boa ouvindo musiquinha com fones. Olha pro Monk, faz um sinal de “peace”. Tá tudo bem. Essa é a indústria, vamos pagar o tratamento da minha mãe com eles.
E uma grua mostra todo o tamanho daquele estúdio, o tamanho daquela indústria frente ao tamanho de Monk.
Saltburn
3.5 843Bobagem pretensiosa, que mira no grandioso e inteligente, mas acerta no desinteressante mal construido. Keoghan, meu filho, você pode escolher um papel melhor.
Crescendo Juntas
3.8 96Podia dar errado pela quantidade de temas paralelos que trata (mudança de cidade, primeiro amor, menstruação, religião), mas tudo isso é carregado de forma extremamente encantadora ao redor do amadurecimento da protagonista, que é fofa demais com suas dúvidas e pedidos.
Adolescência é um negócio maluco, momento no qual você não sabe muito bem o que quer, é influenciado pelos outros e pode acabar fazendo uma ou outra coisa ruim. Eu amo como o roteiro aqui esquece a clássica divisão de grupos estereotipados da escola e como eles apresentam e desenvolvem a relação familiar da Margareth de forma que parece tão real, com imperfeições, mas muito amor pela garota. Gostei mesmo.
Matar um Tigre
3.8 27 Assista AgoraInteligente ao respeitar o sofrimento da vítima (cortar para planos da nuca durante alguns choros, por exemplo), mas principalmente por retratar a nobreza e imperfeições daquela luta, com quase desistências do pai devido às imensas pressões, ou pensamentos enviesados de diversas pessoas da comunidade.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
3.2 614 Assista AgoraGosto de algumas ideias, principalmente na primeira metade (a reação do Indy quando Mutt e Indiana estão na moto, a maluca cena da geladeira), que demonstra uma energia muito divertida. Diferente da segunda metade, onde a ação desenfreada se mostra muito mais aleatória e apressada do que algo bem-vindo (Mutt… Nos cipós…).
Golda: A Mulher De Uma Nação
3.0 60Timing horrível pra um projeto que exalta a postura de um líder israelense na guerra, né? De qualquer forma, Golda fazia parte do Labour Party e as condições eram muito diferentes das atuais, o que nos leva ao filme.
Adoro que Guy Nattiv trabalha bem os silêncios em vez de apostar nos exageros melodramáticos, assim como ele faz a câmera flutuar sem que pareça firulas inócuas, mas movimentos muito bonitos pra demonstrar a volatilidade daquela situação e uma certa “lentidão” - em movimentos e atitudes - da líder.
No entanto, me parece que Golda aqui é uma personagem difícil de se trabalhar, principalmente pelo lado humano ficar restrito à doença e aos eventuais sentimentos de culpa durante a guerra. Onde está a neta que ela comenta numa passagem do filme, por exemplo? Ainda assim, o roteiro escapa como pode, como inserir falas espirituosas na fala da protagonista (“você esquece que nos lemos da direita pra esquerda”, diz ela respondendo o secretário de estado norte-americano, por exemplo).
Flamin' Hot: O Sabor que Mudou a História
3.3 64 Assista AgoraOk, tirando as obrigatórias declarações de amor e agradecimentos melosas e clichês fotográficos de representatividade, até que tem poucos flashbacks expositivos e até que a direção sabe trabalhar bem com os atores pra tirar boas sacadas de humor (“o "C." é de carisma”).
Considerando os últimos filmes-Diane-Warren (Elas Por Elas, 4 Dias Com Ela, Rosa & Momo, Superação - O Milagre da Fé), esse aqui até que é palatável.
Ferrari
3.3 89 Assista AgoraMichael Mann já começa o filme mostrando pela montagem o quão apaixonado por corrida Enzo Ferrari é. Os cortes do montador Pietro Scalia enquanto Enzo dirige saindo da casa da amante, unidos ao ronco do motor e cliques de troca de marcha fazem logo dessa introdução um prenúncio de que vem coisa boa por aí. E veio mesmo.
O que me admira aqui em Ferrari é como o Mann tem o controle de tudo e como cada decisão funciona bastante para trazer energia ao filme. Alternar imagens dos homens olhando o cronômetro durante a Missa dos Trabalhadores com as imagens de corrida, por exemplo, traduz a obsessão daqueles personagens pelos motores e pela vitória. Aliás, até mesmo o discurso do padre naquela missa traduz a importância da indústria automobilística para aquele público, visto que o religioso quase compara o nascimento de um motor como se fosse um milagre, e os trabalhadores os responsáveis por esse milagre.
Mas não só há energia orgástica o tempo todo: vemos uma “conversa” entre Enzo e o filho morto, para logo depois chegar Laura Ferrari que, sem trocar uma palavra, emociona somente por entrar no túmulo do garoto e sentir a presença dele ali dentro. Nesse sentido, foi fundamental que o filme tivesse uma performance de gala da Penélope Cruz, que merecia estar indicada ao Oscar, se houvesse justiça em premiações.
E não é só a Cruz que está excelente, como Adam Driver também oferece uma incrível faceta do executivo italiano: nos poucos momentos que tira os óculos escuros, Driver consegue expressar a dor, confusão e obsessão que aquele homem tinha com pouco esforço, sem muitos maneirismos ou exageros hiperbólicos. Há uma cena durante a ópera, por exemplo, na qual o close no rosto do personagem é capaz de capturar o exato instante no qual ele luta para não sorrir ou marejar os olhos, isso com um mínimo de sobrancelhas franzidas e microexpressões. Essa cena poderia muito bem descambar para o brega de mal gosto, mas é bastante eficiente em unir todos aqueles personagens numa volta ao passado.
Filmão.
Jon Batiste: American Symphony
3.3 25Gosto da ideia de pegarem um artista e não fazerem uma biografia convencional com juventude no início, dificuldades no meio e glória no fim, do berço à cova, mas sim um recorte específico de um momento na vida daquela pessoa. No entanto, ao mesmo tempo que mostra percalços cortantes, Batiste pouco expõe vulnerabilidades e, se mostra, logo as supera. Ele já se viu obrigado a trair alguém? Ele já respondeu críticas com ódio? Ele pelo menos já xingou alguém? Ainda assim, bom filme.
Eu, Capitão
4.0 68Real Madrid, Paris Saint-Germain, Barcelona, Tottenham, Arsenal e Atlético de Madrid. Esses são alguns dos times de futebol cujos personagens de Eu, Capitão usam as camisas, sejam eles senegaleses, maleses, nigerianos ou libaneses. Admiração de um continente economicamente pobre por outro supostamente desenvolvido que se reflete no sonho de migração África-Europa, tema central do filme.
Na trama, o adolescente senegalês Seydou (Seydou Sarr) já inicia sendo despertado do sono pelo barulho das crianças com as quais divide o quarto. Inicialmente irritado, não demora muito até que o gentil protagonista troque afetos com os pequenos familiares. Seydou pretende sair em segredo de seu país junto com o primo também adolescente Moussa (Moustapha Fall) rumo à Itália. Essa diáspora econômica em busca de melhores condições de vida é retratada pelo diretor italiano Matteo Garrone (também responsável por uma das adaptações recentes de Pinóquio, com Roberto Benigni) como uma jornada épica tortuosa.
Crítica completa no site Tardes de Cinema.
Indiana Jones e a Última Cruzada
4.0 486 Assista AgoraSpielberg acerta em cheio ao inserir e desenvolver a relação paterna entre os Jones. Da figura misteriosa e distante, mas encantada com o próprio trabalho, passando por tiradas geniais (“ela fala enquanto dorme”) e chegando ao final onde o que se busca não é um prêmio, mas iluminação,
com Dr. Jones chamando o filho de Indiana pela primeira vez.
Posso falar? Melhor da quadrilogia (ainda verei o quinto).
A Memória Infinita
4.0 42Apesar da abordagem íntima sobre a tragédia de um personagem que tanto lidou com a memória do povo chileno durante a ditadura militar, não consigo deixar de dizer que me incomodou a ideia de ser “mosca na parede” (em oposição à "mosca na sopa" dos cineastas do Cinema Verdade) nos momentos mais sensíveis. Até que ponto isso é respeito ou desrespeito? Não sei, muitos sentimentos contraditórios aqui, algo que passei longe de ter em O Agente Duplo, da mesma diretora, talvez porque O Agente Duplo fosse mais eficiente em trazer abordagens cinematográficas um pouco mais ousadas do que Memória Infinita.
Bobi Wine: O Presidente Do Povo
3.6 26Como instrumento de potencializar revolta contra um ditador, ótimo na exposição das atrocidades atentatórias a um regime democrático. Como cinema? Bem quadrado, com trilha sonora intrusiva e uma linguagem mais jornalística do que artística.