Acabo de rever Thelma e Louise e o filme me emocionou do mesmo jeito de há muitos anos, com o adendo de que agora fica muitíssimo mais claro para mim a importância dele enquanto obra maravilhosa para se conversar sobre a importância da luta feminina por emancipação. O mais feminista dos road movie que já vi. O filme que está sem sombra de dúvidas na minha lista de filmes sobre mulheres que se faz necessário ver, rever, ser mostrado, debater, jamais morrer: mas se eternizar como as duas protagonistas em seus caminhos para a liberdade.
Três histórias de amor na paisagem que é o sertão. Não quaisquer amores. Não qualquer sertão. É a história também do corpo. Dos corpos que desejam e lidam com esses desejos com o que têm às mãos, exceto no caso de Affonsina que se influenciar pela arte e pelo modo de vida todo poesia e imaginação (e assim também resistência) de seu tio João. E não: não são quaisquer desejos, especialmente no que tange a Dona das Dores. O enredo, por tudo isso, é singular e o seu desenvolvimento vai mesmo na contra-mão do que costuma-se entender por amor-corpo-desejo até quando nos referimos a jeitos alternativos de se falar na tríade tão política e tão íntima. Cairia no lugar comum e seria mais uma vez para engrossar o uníssono: fotografia perfeita, trilha sonora idem. Mas eu, que sou cricri até dizer basta, não deixaria de falar algo extra-filme, mas que o filme suscita por trazer das Dores com seu corpo, seu desejo, suas chagas e suas autopenitências: eu li umas cinco críticas sobre o filme e percebi nas cinco a pudicícia e os cuidados e eufemismos usados para o amor (e os desejos) dessa personagem. Não, ela não sofre apenas a "tentação da indiscrição". Mas das Dores é uma avó, seu corpo é o mais velho de todos e, por esse motivo, é mais tabu vê-lo como desejoso e ardente. O diretor sabe tocar nos pontos com delicadeza. E sabe tratar o sertão como uma paisagem, como um lugar que sim, influencia quem nele nasce, pisa, vive, mas que nem por esse motivo deixa de engendrar amor, paixão, arte, sonho de maneira ímpar, ainda que universal. E sim: eu acho "fala" o ponto alto no quesito interpretação. E entre o belo, o delicado e o sutil, o filme desmancha esteriótipos (o lugar é um vilarejo sertanejo, mas poderia ser qualquer outro) e traz o debate do machismo que silencia, machuca e mata (homens também, pois João sofre diretamente e a figura do pai não é menos atormentada por isso). Então: é um filme bonito e importante. Merece os elogios que vem recebendo.
Para mim, o melhor da trilogia! Drama, intensidade e beleza do começo ao fim! Terminei de vê-lo agora e fazer uma análise seria impossível: prefiro senti-lo a partir da chave da identificação, da emoção mesmo! Carlos Saura: apenas genial e singularíssimo no modo de conduzir películas!
Um filme para alinhavar no cotidiano a força dos Orixás, a beleza da Arte e a justiça na ocupação dos lugares: se há arte e beleza, há energia suficiente para transformar e para ficar (ficar não de ser fixo/parado, mas de fazer parte). O filme é bonito.
Não é um dos mais viscerais do Saura, ok. Mas o enredo simples junto à complexidade das escolhas políticas bem alinhavadas ao contexto histórico espanhol e à firmeza (política, sensível e técnica) da (maravilhosa) direção do trio de "artistas" e de todos os demais que aparecem no filme: arrebatam o espectador que, no final, deseja falar como que solidário a Gustavete, a seus companheiros de estrada, aos "polacos" e às mães dos polacos (como não se emocionar quando Carmem Maura diz, destemida, junto ao tenente diretor "E não há mães na Polônia?"): "Ai, Carmela!".
"Não é nada intelectualizado", "eu estava em um almoço de trabalho... conversas... essas coisas intelectualizadas...quando alguém decidiu tocar no assunto das consequências da ditadura...essa coisa da cultura e tal...aí eu decidi marcar a minha fala. Respirei fundo. Esperei o momento certo da deixa e soltei, como quem estava falando sobre o vestido da cretina à minha frente: 'pois eu, nos meus tempos de DOI-CODI...Eles não sabiam o que fazer, onde por as mãos. Era eu agora que assistia àquele espetáculo. Eu que tinha atirado o amendoin". São algumas falas do dito monólogo delirante de Irene Ravache, nesse "Que bom te ver viva". No começo do dia eu havia pensado algo sobre o delírio. Sobre o temor e a esperança serem os dois estados próprios do delírio. O dia fluiu e eu fui a uma mostra de Cinema e Direitos Humanos que homenageia a Murat. Havia visto partes soltas desse filme e não sabia que ia poder vê-lo inteiro. Não: não é uma coisa intelectualizada. Não foi intelectualizada a experiência que eu vivi diante dessa película. Meu corpo de mulher caminhou de volta para casa atarantado. Ecoava em meus ouvidos as últimas frases da Irene-todas-nós, inclusive todas nós que não sofremos a tortura da ditadura, mas que sofremos outras torturas. E a Murat deixa claro isso, faz a ponte junto às mulheres da Baixada, que vivenciam um cotidiano violento e opressor. O filme da Murat é sobre as torturas porque passaram as mulheres militantes à época da última ditadura civil-militar no Brasil, mas não é só isso. Não é mais um filme sobre essa época difícil de deglutir e de cicatrizar: é um filme sobre os silenciamentos. O filme aponta o centro da problemática da tortura que tem sido debatida - a gente sabe como funcionavam os paus-de-arara, os choques, os afogamentos...Mas, a gente não sabe (ou não suporta saber?) sobre como aquelas pessoas passavam por aquela experiência. Sim: é um assunto constrangedor para quem passou na pele e até para quem ouve. Como no pesadelo de "Os afogados e os sobreviventes", o mais cruel era querer falar e não ter ninguém que suportasse ouvir aquele testemunho. Mas é o corpo daquelas oito mulheres que está ali no filme. O corpo delas alinhavado pelo monólogo delirante de Irene Ravache e por todas nós. Pois como fala uma das depoentes: "você tem que escolher entre estar sofrendo ou ser o sofrimento". À época em que escutou esse "conselho" que pretendia acalmá-la por além das torturas porque havia passado, ter ficado "brutalmente" viúva (de um marido que era também companheiro de sonho e luta), não o compreendeu muito; depois, diz ter entendido que "ser o sofrimento" significava não estar sozinha, mas saber que outras mulheres também estavam viúvas no Vietnã, haviam mães, irmãs, mulheres que perdiam seus filhos, maridos, irmãos, pais. Ela estava o sofrimento e não estava sozinha. E são aqueles corpos reais, históricos, junto ao corpo ficcional e das possibilidades da atriz que fazem com que também sejamos corpos, queiramos dar corpo e voz ao que é silenciamento, ao que é silenciado através de imposições verticais. Num filme sobre tortura: ser Pessoa-Mulher. O filme de Lúcia Murat é um filme-guerrilha. É um filme necessário para se crescer enquanto ser humano. E não tem nada a ver com o passado que não quer passar. Tem a ver com a necessidade de marcar a fala: política ou delirante, intelectual ou emocional de quem é subsumido e nunca pode falar porque "é melhor esquecer". Porque sim "a psicanálise explica porque você enlouquece, mas não porque você sobrevive", como bem abre o filme a frase do psicanalista Bruno Betelheim.
Da Liliana Cavani só vi dois filmes. Talvez um universo muito pequeno para eu ficar julgando muito mal, mas foram suficientes as duas sessões para eu sacar que não quero ver nada dela tão cedo ou então até mesmo nunca mais. Ao menos nessa tentativa de livre biografia ela se salva mais que em "O porteiro da noite". Ao menos as caricaturas dela funcionaram bem nessa película e me fizeram ir até o fim sem me perguntar muito quanto faltava para o filme acabar. Gostei da tentativa de valorizar a figura da Lou, porém, percebe-se que não deu muito certo e ficou-se no lugar comum do que se teria para imaginar sobre uma mulher como foi a Lou Salomé. Psicologizante até o talo, Cavani exagera nas explicações a partir da sexualidade sobre Paul Rée. Talvez as viagens "italianadas" (lugar-comum também) da diretora caibam bem quando ela caricaturizou a figura do Nietzsche, especialmente no seu processo de enlouquecimento. Mas, seja como for, mesmo gostando mais desse do que do Porteiro da Noite, é a primeira vez que digo não gostar de algum cineasta italiano.
Acho injusto o que se propalou sobre esse segundo filme da trilogia maldita do Argento. O filme não é inferior ao Suspiria em nada e eu até gostei mais do roteiro deste! É certo que parece haver uma mudança, que para mim é significativa, mas que ainda bem nada tem a ver com a direção de arte e nem com a trilha sonora (que por sinal, apresenta o melhor a mais bonito ápice na cena em que o personagem Mark desce ao porão depois de cavar um buraco no assoalho, abrindo portinholas até chegar ao começo do fim!) : é que aqui acontecem mais mortes e a violência é um tanto maior na maneira como elas se dão, mas isso não significa que o filme sequer chegue perto de ser um splatter: o giallo está marcado, bem marcado e com a competência e singularidade do cineasta que estou conhecendo (e me encantando) agora, tardiamente, mas que se destaca justamente por isso: por ter um estilo. E sendo assim, inda bem que vim conferir os outros da trilogia para que as opiniões aleatórias não se fizessem parecer que têm força.
Gosto quando me sinto comovida por um filme. E esse, além das boas qualidades que carrega enquanto filme, tem grande importância política e histórica por ser dirigido pela primeira cineasta da Arábia Saudita. Bonito, simples, seguro e importante para abrir vários debates para quem está interessado em assumir uma postura mais propensa a dialogar do que a condenar, apesar dos estranhamentos, a cultura da região, uma vez que há personagens como o amigo de Wadja e o dono da loja, por exemplo.
Primeiro filme a tratar do exorcismo! Uma tese imagética sobre a questão da culpa e os poderes da Igreja Católica. Gosto muito dos personagens "secundários", a taberneira e seus companheiros beberrões, glutões e questionadores representam muito bem o contraponto, com muito escárnio - o que deve desconcertar os pudicos de plantão - a comportamentos hipócritas de beatitude, trazendo para o campo da práxis a questão que permeia todo o filme: o que viria a ser o bem e o mal. A transformação porque passa a única freira que não é possuída por demônios, mas que sai do convento e se permite experienciar o mundo que não é de Deus é fabulosa, culminando com uma noite de dança e vinho que vem lembrar bem a famosa máxima do filósofo que só poderia crer em um Deus que dançasse, além de ser crucial como força motriz para pensarmos a santidade almejada pela madre Joana. A fotografia é belíssima e alguns quadros onde a taberneira toca seu banjo mais parecem pinturas de tão bem compostos! A temática (e a inovação de abordá-la) exigiu teatralidade nas atuações - e elas se deram de forma a não deixar o espectador em paz (ponto para a direção). O diálogo entre o rabino e o padre me incomodou não pelo conteúdo (força-maior do filme), mas justamente pela teatralização dos atores que, enquanto espectadora, eu acho ajustada para o convento, mas não para um momento tão importante, histórica e filosoficamente falando e para a trama, que a cena exigia. No mais: uma preciosidade histórica pra cinematografia.
Animação perfeita! Personagens maravilhosos, livres, singulares, contestadores e os melhores (leia-se: inteligentes) diálogos sobre religião! E a canção final do gato para a sua "chefinha" fecha com chave de ouro o clima do filme! E a frase "Eu sou Deus que voltou em forma de gato para testá-lo" faz com que a gente saiba mesmo que não tem como não gostar das sacadas geniais do roteiro!
Um dos personagens mais belos e doces que tive a oportunidade de acompanhar enquanto durava um filme. Mas a duração nos sentidos e na memória será bem maior: Antonio Albanese esteve maravilhosamente bem dando vida a Antonio: não se esquece fácil um personagem assim. Mas nem só de doçura se sustenta esse filme: o modo italiano de se fazer crítica à sociedade (o trabalho, a remuneração, a substituição do "sumo" humano nas relações de exploração trabalhista) mais a falta de sentido (no sentido ruim do termo) e a tristeza como doença contemporânea que pode matar personificada em Lucia, a amiga de Antonio, estão lá no enredo do filme e na forma (montagem, som...e a música desenvolvendo toda significação para compreendermos esses tempos sombrios que para além das relações trabalhistas, desembocam nas relações pessoais, familiares, amorosas). Não dá para passar batido por esse filme. Não dá.
"O que um olhar tem que um outro não tem? O que um sorriso tem que um outro não tem?", Paulo faz a indagação-mote para o enredo do falsete em que ele havia se metido e que é a própria história do filme e eu me perguntava, ao fim da fita: "o que um cinema tem que nos fascina que um outro não tem?" Em Todas as mulheres do mundo, tem o jeito peculiar, firme, bonito de filmar de Domingos de Oliveira, tem a leveza nos passos do personagem de Paulo José, tem a beleza de todas as mulheres que aparecem no filme ( a "prima" Joana Fomm carrega na postura e na performance uma força de atração grande e diz um dos textos mais belos do filme numa sauna de maneira erotizada e erudita e equilibradamente fascinante), tem o olhar de Leila Diniz e os close-up mais contadores de sensações do rosto dela, tem uma fotografia iluminadíssima para falar sobre Maria Alice, essa mulher solar, tem uma trilha sonora fodástica e tem a surpresa de um final que para além de romântico (no sentido de firmar um tipo de amor ou de relacionamento) ou de eleição apaixonada, nos faz lembrar que contar, meus caros, contar a vida, enquanto se caminha pela cidade com um velho amigo dá pé, tanto quanto o amor, só para contrariar uma assertiva tão repetida no início do filme que se transforma em não aceitação do desfecho da história pelo personagem do Flávio Migliaccio.
Pena a cópia ter estado com a legenda comprometida, mas Murnau compõe uma peça fechadinha em relação a enredo (com nó, clímax e desfecho digníssimos, além de uma fotografia e de atuações boníssimas), com detalhes finos e pano para manga com a personagem da Baronesa, a mulher que deseja o mal e não quer ser santa...
Um filme que me surpreendeu. Bem dirigido, apesar de algumas previsibilidades, mas a trama é totalmente sustentada e as cenas de rock são boníssimas. Até mesmo as sobreposições na inusitada e totalmente singular (por conta da música, do número musical) aparição de Ivon Cury funcionam muito bem para a proposta do filme. E a atuação da Eliana Macedo é inteligentíssima!
Para sempre Fassbinder falará com a maior proximidade possível sobre a crueza que é o mundo, sobre as dores que as relações (todas e quaisquer que sejam) podem causar. Aqui o político e o mais íntimo e psicológico estão tão grudados que é impossível classificar, nomear, logo após a sessão, o que a gente sente e pensa ao ver esta obra-prima. Somos, de alguma forma, todos, um tanto de Peter. Se há dúvida, então é melhor encarar a si próprio e tentar responder a pergunta final que, para mim, é mote para o filme inteiro. Sim, Fassbinder faz em seus filmes verdadeiros ensaios filosóficos sobre o que é existir e existir sob o modelo econômico-social e afetivo que vivemos. A cena-indagação final me foi um soco no estômago: tempos para ruminá-la e tentar ter coragem para respondê-la a mim mesma.
Polêmica, polêmica, polêmica! E eu já começo dizendo que não acho que o Spike Lee estava errado não. Muita coisa me incomodou no Django do Tarantino (eu diria cinco mil delas, para contemplar a fala de um dos personagens), especialmente a monogamia cega e desenfreada que faz com que Django entregue literalmente aos cachorros não um negro: mas toda a história de seus iguais em favor de um casamento, sob o álibi de viver um amor. Conteudisticamente o filme é perigoso, não há como discordar. Porém, o apuro técnico e as interpretações estão fantásticas e o filme me encheu os ouvidos e os olhos e me fez reconectar com o Tarantino com o qual eu havia cortado desde o Bastardos Inglórios.
Esotérico, erótico e refinado é o que o filme pretende (e consegue) ser plasticamente. Em relação ao conteúdo, o diretor deseja (e consegue o intento de) abordar o feminino de maneira singularmente política, isto é, a história milenar de opressão contra a mulher é abordada através da relação que a personagem mantém com as mulheres de suas vidas passadas. Ana é a mais valente de todas porque conhece sua história através das sessões de hipnose e pode, por esse motivo, agir (reagir) de maneira diferente no presente e sobreviver às violências dos tempos hodiernos, ous eja, a sua grande arma é saber. Ana em todas as vidas passadas morreu de maneira violenta e quase sempre pelas mãos de um homem. Na vida atual, Ana mantém uma relação bastante freudiana com o pai alemão que a educa com noções de Matemática, Artes, Filosofia e História num ambiente de natureza quase intocável: os dois habitam uma caverna ornamentada com as pinturas de Ana que é artista plástica autodidata. Ana sai da caverna para uma cidade grande, para morar numa república com o intuito de aprimorar seu talento artístico - todo esse caminho não deixa de ser uma forma de buscar conhecimento, uma vez que já na cidade, Ana escreve cartas ao pai contando-lhe suas descobertas sobre amor, relações com as pessoas, sobre o fato de chamar atenção por ser uma forasteira, etc. Por todos esses signos, entendo Caótica Ana como um filme-descoberta, que pretende colocar a personagem como uma figura entre o mítico e o político, denunciando uma história milenar de violência contra a mulher de maneira plástica e refinada. O que me incomodou é que os personagens todos me pareceram forçados em suas interpretações, assim como o clima cult que impregna todo o filme. E o final não contemplou ou não condisse com todo o percurso por que passou a personagem, que sobrevive, mas apenas isso.
O filme é baseado em uma história real de amor e de indignação contra um Estado opressor. Os dois são jovens e não apenas se amam como também não suportam o clima de violência e de injustiça do governo de Rosas. Camila é uma mulher que pensa, lê livros escondido, tem opinião firme e não deseja casar-se nem porque é mulher e nem por dinheiro. Pensa em encontrar um homem com quem possa viver uma vida de compartilhamento de ideias e encontra essa possibilidade no jovem padre. O cinema argentino sempre acertando na mosca mesmo: a recomposição da época está perfeita no figurino, nos objetos de cena e nas atuações comedidas e firmes. A fotografia carrega um traço bucólico e o contexto histórico é muito bem aproveitado para a trama do filme que se posiciona (aqui, a diretora feminista Maria Luisa Bemberg pode colocar-se através não apenas da personagem principal, Camila, como também de outros dois personagens femininos fortes, indagadores da condição da mulher à época e representativo de diferentes gerações: a avó de Camila que "amou o vice-rei como as mulheres dos romances", e a mãe de Camila que maldiz ter conhecido o marido e que replica a proposta do dever de casar a filha para "parar a desordem e a anarquia que é o coração de uma mulher solteira" com a frase de que "o casamento é uma prisão invisível") politicamente contrário à manutenção de autoridade. Apesar de linear em sua narrativa, é forte e necessário para conhecermos melhor o cinema argentino que, contemporaneamente, tem sido um dos mais efervescentes.
Confesso que me decepcionei ao terminar de assistir a este filme. Apesar de concordar com Truffaut quando diz que "a arte cinematográfica só existe por meio de uma traição bem organizada da realidade. Todos os grandes cineastas dizem NÃO a alguma coisa". Ainda assim, achei a película muito voltada apenas para uma parte da vida de Maria Luisa Bombal. Apesar de ter sido esta a mais trágica e a que diz alguma coisa sobre a Santiago provinciana e não aceitadora do comportamento livre e excêntrico da escritora. Porém, no filme, o aspecto da escritora é abafado por uma obsessão amorosa. A fotografia é bonita, o figurino impecável, a atuação da Blanca Lewin tem força de ímã, porém a personagem da prima (Beatriz) é estupendo e muito pouco aproveitado até mesmo no que tange a uma teoria do feminino (nem mesmo falo no feminismo) numa América Latina espezinhada por piadas de escritores europeus (isso aparece de forma muito solta, como conversa de figurantes em uma festa onde o cheiro de tragédia mais uma vez é enfatizado na vida pessoal de Bombal). A relação dela com Pablo Neruda não é mencionada, nem a importância de sua formação em Paris como escritora e como mulher livre. Uma pena a condução ter sido tão estreita. Resta uma vontade imensa de conhecer o trabalho (os textos) dela que me pareceu enfrentar problemas de distribuição e de aceitação ao modo dos que enfrentou Anaïs Nin, por exemplo. No entanto, posso dizer que vale como ponta pé para pesquisas outras.
Eu só acho que para quem vive numa nave espacial forrada de pelúcia e que se comunica com um computador que acorda a pessoa dizendo "Barbarella, levante e brilhe", fazer a felicidade da "The Great Tyrant" não teria sido nada demais. Mas, ok, fico conformada e tentando encontrar justificativa na reunião de mulheres, antes do corredor nº 12, ao redor de um aquário com um cara, fumando "essência de homem". Mas, juro que Duran Duran possesso porque Barbarella destruiu (derreteu) sua "máquina musical" (leia-se: máquina matar de prazer) e gritano: "Que garota você é? Não tem vergonha não, é?" é impagável. O roteiro do filme pode ser fraco, mas Jane Fonda está deliciosamente boa no papel de heroína e "terráquea mediana" e a trilha sonora é tão boa, tão boa e os efeitos especiais são tão trash que vale a pena todo o conjunto, ah se vale! A metáfora do anjo (o anjo que não faz amor, mas é amor = a não ter memória (o perdão para as guerras históricas?) também é digna de se prestar atenção. Tosquices à parte, a abertura do filme é de dar água na boca de tão legal! Ironia + boas sacadas = pano de manga para se discutir (do fazer cinematográfico à revolução sexual dos anos 60).
Gostei muito do documentário. Acervo riquíssimo e uma condução afetiva e segura para a utilização da pesquisa, das entrevistas e das canções na montagem do doc. Não concordo que há muito Gil e Caetano em detrimento do que há no tropicalismo. O tropicalismo foi um movimento abrangente e o diretor tem que fazer opções, pois do contrário cai naquilo que já foi alertado por um famoso cineasta francês: "querer colocar tudo um filme (princípio do amálgama) ou nada colocar ele (princípio da vanguarda) é impedir os outros de manifestar sua opinião aterrorizado-os com a obscuridade de suas intenções". A qualidade de um filme é frequentemente proporcional à inteligência das decisões tomadas, sua lógica, sua coerência e a escolha de Gil e Caetano funciona como fio condutor da narrativa escolhida pelo diretor. Entendo isso muito mais fortemente os momentos finais do filme quando aparecem os dois (separados) vedo imagens e cantarolando junto com as imagens "Back i Bahia". Para mim, esses minutos finais estão amarrados coerentemente com o início e meio do filme onde eles aparecem um programa português falado sobre o tropicalismo como algo maior que eles dois e que só a música. As falas estão equilibradas e não teve jeito de eu não amar muito ouvir Araldo Baptista falar sobre Rogério Duprat: "Se eu pedia um pouco de ópera, se eu pedia um pouquinho de dez mandamentos, se eu pedia um pouquinho de paz: ele conseguia tudo". Um filme bom, que cumpre direitinho seu papel (especialmente para quem é muito ligado ao Tropicalismo) e que carrega boa pesquisa e utilização de preciosidades da época (diga-se de passagem que ver pedaços de filmes como "Nosferatu no Brasil" e "O demiurgo" instiga e muito o espectador).
Dorothy Malone sabe bem fazer (boa) oposição à Lauren Bacall para que o melodrama aconteça de maneira acertada - a cena do julgamento (o testemunho da irmã) é carregada de previsibilidade, mas não decepciona! Tudo é tão over e levando em conta o desenvolvimento dos personagens masculinos não fica muito difícil não pensar em Almodóvar...Melodrama digníssimo!
"Sou um deserto que monologa". Melhor descrição de si mesma não poderia haver para Violette Leduc, escritora francesa marginal que até a publicação de "A bastarda", em 1964, livro autobiográfico e prefaciado por Simone de Beauvoir, era totalmente desconhecida. E era desconhecida porque "bastarda, feia, pobre, apaixonada por mulheres e homossexuais, ladra e traficante do mercado negro...", se atrevia a escrever "sem falso pudor" sobre seu universo: o amor entre mulheres. É assim a novela "Teresa e Isabel - num colégio interno, duas ninfetas descobrem o amor. Há intensidade erótica e ternura apaixonada, mas também há muita crítica a como a homossexualidade feminina é vista. E assim foram vários romances que elegi para ler sobre a temática. Anais Nïn discute especialmente em Heny&June a liberação do corpo e do desejo e de uma forma bastante psicanalítica ela aborda o amor entre mulheres. Patrícia Highsmith, com "Carol" também aborda a epifania erótica e o surgimento de um amor condenado por todos. Falei nessas três autoras específicas e nessas três obras específicas porque concordo com uma matéria que li recentemente sobre a necessidade de se subverter o cinema gay. E a pergunta-mote para a matéria do Bruno Carmelo era: "Por que o cinema gay comercial está tão contaminado pelo amor romântico, com homens belos em tramas açucaradas?". O mote também serve para alguns muitos filmes de temática lésbica. Amor romântico e tramas açucaradas são alinhavos que tenho visto em vários filmes e que me causa incômodo, pois sinto falta da subverção de abordagens que experienciei na literatura. Essa observação não é genérica, inclusive há filmes como XXY e Tomboy que fogem a esse tipo de açucaramento. E vários outros. Porém, ao desejar assistir este "Yes or No", vim antes no site ver comentários. Quase nunca faço isso antes de ver filme algum. E, para minha não grande surpresa, se eu fizesse uma estatística, a palavra que mais li foi "fofo". Fora do site do Filmow, encontrei apenas uma crítica sobre o filme, que nem crítica se intitulava, mas sim "resenha" e lá também li a palavra "fofo". Dei chance ao filme porque li que era o primeiro filme com temática lésbica Tailandês. Não sei a veracidade da informação, mas queria eliminar a ideia de apenas "fofura" que se fez em minha cabeça. É um filme adolescente ou melhor: é um filme sobre o amor entre adolescentes. Pie não é meiga como diz na sinopse e Kim, a tomboy, sim exala doçura. O filme já começou a me fisgar por aí porque, sutilmente, percebi que a construção de feminilidade relacionada à doçura, aos cuidados com as plantas e ao ato de cozinhar não estavam com a "mais feminina delas" no modo de vestir. É um filme de descoberta, portanto, coerente com a idade das protagonistas, coerente com o ambiente (a escola) e o filme não deixa de trazer conflitos e tensões acerca da descoberta sexual. A trilha sonora é bastante boa, o que ajuda muito na construção da história que não tem necessariamente um final feliz, tem um final que dá a chance de se vivenciar o desejo... Há sim romance no filme. Mas, eu não o consideraria "fofo". É um filme delicado. Talvez seja didático demais. É linear em sua forma. Mas, para este filme-bilhete-de-escola talvez seja a abordagem mais acertada. Para mim, Yes or no é um filme bonito, dá conta do recado quando aborda os conflitos entre o desejo do corpo amoroso e a dureza do corpo receoso e tradiconal das duas adolescentes. E a personagem Kim é tão cativante que rouba várias cenas. Vale a pena assisti-lo para se conversar sobre o amor e sua construção social. Mas, no meu caso, que sou piegas assumida, confesso: eu me emocionei, fazer o quê? Importa que se abram debates, que se perceba a construção delicada e singela para a abordagem...que aos poucos se deixe de ser "um deserto que monologa", mas sem jamais se ser inocente e crítico. Falar que o filme é apenas fofo é muito pouco. Se faz necessário combatê-lo, compará-lo. Temos o "Amigas de colégio" mais sombrio para contrapor e começar a dialogar, por exemplo. É a possibilidade de marcar de verde a opção Yes. :)
Thelma & Louise
4.2 965 Assista AgoraAcabo de rever Thelma e Louise e o filme me emocionou do mesmo jeito de há muitos anos, com o adendo de que agora fica muitíssimo mais claro para mim a importância dele enquanto obra maravilhosa para se conversar sobre a importância da luta feminina por emancipação. O mais feminista dos road movie que já vi. O filme que está sem sombra de dúvidas na minha lista de filmes sobre mulheres que se faz necessário ver, rever, ser mostrado, debater, jamais morrer: mas se eternizar como as duas protagonistas em seus caminhos para a liberdade.
A História da Eternidade
4.3 448Três histórias de amor na paisagem que é o sertão. Não quaisquer amores. Não qualquer sertão. É a história também do corpo. Dos corpos que desejam e lidam com esses desejos com o que têm às mãos, exceto no caso de Affonsina que se influenciar pela arte e pelo modo de vida todo poesia e imaginação (e assim também resistência) de seu tio João. E não: não são quaisquer desejos, especialmente no que tange a Dona das Dores. O enredo, por tudo isso, é singular e o seu desenvolvimento vai mesmo na contra-mão do que costuma-se entender por amor-corpo-desejo até quando nos referimos a jeitos alternativos de se falar na tríade tão política e tão íntima. Cairia no lugar comum e seria mais uma vez para engrossar o uníssono: fotografia perfeita, trilha sonora idem. Mas eu, que sou cricri até dizer basta, não deixaria de falar algo extra-filme, mas que o filme suscita por trazer das Dores com seu corpo, seu desejo, suas chagas e suas autopenitências: eu li umas cinco críticas sobre o filme e percebi nas cinco a pudicícia e os cuidados e eufemismos usados para o amor (e os desejos) dessa personagem. Não, ela não sofre apenas a "tentação da indiscrição". Mas das Dores é uma avó, seu corpo é o mais velho de todos e, por esse motivo, é mais tabu vê-lo como desejoso e ardente. O diretor sabe tocar nos pontos com delicadeza. E sabe tratar o sertão como uma paisagem, como um lugar que sim, influencia quem nele nasce, pisa, vive, mas que nem por esse motivo deixa de engendrar amor, paixão, arte, sonho de maneira ímpar, ainda que universal. E sim: eu acho "fala" o ponto alto no quesito interpretação. E entre o belo, o delicado e o sutil, o filme desmancha esteriótipos (o lugar é um vilarejo sertanejo, mas poderia ser qualquer outro) e traz o debate do machismo que silencia, machuca e mata (homens também, pois João sofre diretamente e a figura do pai não é menos atormentada por isso). Então: é um filme bonito e importante. Merece os elogios que vem recebendo.
Amor Bruxo
3.9 23Para mim, o melhor da trilogia! Drama, intensidade e beleza do começo ao fim! Terminei de vê-lo agora e fazer uma análise seria impossível: prefiro senti-lo a partir da chave da identificação, da emoção mesmo! Carlos Saura: apenas genial e singularíssimo no modo de conduzir películas!
Esse Amor Que Nos Consome
3.5 30Um filme para alinhavar no cotidiano a força dos Orixás, a beleza da Arte e a justiça na ocupação dos lugares: se há arte e beleza, há energia suficiente para transformar e para ficar (ficar não de ser fixo/parado, mas de fazer parte). O filme é bonito.
Ay, Carmela!
3.9 8Não é um dos mais viscerais do Saura, ok. Mas o enredo simples junto à complexidade das escolhas políticas bem alinhavadas ao contexto histórico espanhol e à firmeza (política, sensível e técnica) da (maravilhosa) direção do trio de "artistas" e de todos os demais que aparecem no filme: arrebatam o espectador que, no final, deseja falar como que solidário a Gustavete, a seus companheiros de estrada, aos "polacos" e às mães dos polacos (como não se emocionar quando Carmem Maura diz, destemida, junto ao tenente diretor "E não há mães na Polônia?"): "Ai, Carmela!".
Que Bom Te Ver Viva
4.3 55 Assista Agora"Não é nada intelectualizado", "eu estava em um almoço de trabalho... conversas... essas coisas intelectualizadas...quando alguém decidiu tocar no assunto das consequências da ditadura...essa coisa da cultura e tal...aí eu decidi marcar a minha fala. Respirei fundo. Esperei o momento certo da deixa e soltei, como quem estava falando sobre o vestido da cretina à minha frente: 'pois eu, nos meus tempos de DOI-CODI...Eles não sabiam o que fazer, onde por as mãos. Era eu agora que assistia àquele espetáculo. Eu que tinha atirado o amendoin". São algumas falas do dito monólogo delirante de Irene Ravache, nesse "Que bom te ver viva".
No começo do dia eu havia pensado algo sobre o delírio. Sobre o temor e a esperança serem os dois estados próprios do delírio. O dia fluiu e eu fui a uma mostra de Cinema e Direitos Humanos que homenageia a Murat. Havia visto partes soltas desse filme e não sabia que ia poder vê-lo inteiro. Não: não é uma coisa intelectualizada. Não foi intelectualizada a experiência que eu vivi diante dessa película. Meu corpo de mulher caminhou de volta para casa atarantado. Ecoava em meus ouvidos as últimas frases da Irene-todas-nós, inclusive todas nós que não sofremos a tortura da ditadura, mas que sofremos outras torturas. E a Murat deixa claro isso, faz a ponte junto às mulheres da Baixada, que vivenciam um cotidiano violento e opressor. O filme da Murat é sobre as torturas porque passaram as mulheres militantes à época da última ditadura civil-militar no Brasil, mas não é só isso. Não é mais um filme sobre essa época difícil de deglutir e de cicatrizar: é um filme sobre os silenciamentos. O filme aponta o centro da problemática da tortura que tem sido debatida - a gente sabe como funcionavam os paus-de-arara, os choques, os afogamentos...Mas, a gente não sabe (ou não suporta saber?) sobre como aquelas pessoas passavam por aquela experiência. Sim: é um assunto constrangedor para quem passou na pele e até para quem ouve. Como no pesadelo de "Os afogados e os sobreviventes", o mais cruel era querer falar e não ter ninguém que suportasse ouvir aquele testemunho.
Mas é o corpo daquelas oito mulheres que está ali no filme. O corpo delas alinhavado pelo monólogo delirante de Irene Ravache e por todas nós. Pois como fala uma das depoentes: "você tem que escolher entre estar sofrendo ou ser o sofrimento". À época em que escutou esse "conselho" que pretendia acalmá-la por além das torturas porque havia passado, ter ficado "brutalmente" viúva (de um marido que era também companheiro de sonho e luta), não o compreendeu muito; depois, diz ter entendido que "ser o sofrimento" significava não estar sozinha, mas saber que outras mulheres também estavam viúvas no Vietnã, haviam mães, irmãs, mulheres que perdiam seus filhos, maridos, irmãos, pais. Ela estava o sofrimento e não estava sozinha.
E são aqueles corpos reais, históricos, junto ao corpo ficcional e das possibilidades da atriz que fazem com que também sejamos corpos, queiramos dar corpo e voz ao que é silenciamento, ao que é silenciado através de imposições verticais. Num filme sobre tortura: ser Pessoa-Mulher. O filme de Lúcia Murat é um filme-guerrilha. É um filme necessário para se crescer enquanto ser humano. E não tem nada a ver com o passado que não quer passar. Tem a ver com a necessidade de marcar a fala: política ou delirante, intelectual ou emocional de quem é subsumido e nunca pode falar porque "é melhor esquecer". Porque sim "a psicanálise explica porque você enlouquece, mas não porque você sobrevive", como bem abre o filme a frase do psicanalista Bruno Betelheim.
Além do bem e do mal
3.4 7Da Liliana Cavani só vi dois filmes. Talvez um universo muito pequeno para eu ficar julgando muito mal, mas foram suficientes as duas sessões para eu sacar que não quero ver nada dela tão cedo ou então até mesmo nunca mais. Ao menos nessa tentativa de livre biografia ela se salva mais que em "O porteiro da noite". Ao menos as caricaturas dela funcionaram bem nessa película e me fizeram ir até o fim sem me perguntar muito quanto faltava para o filme acabar. Gostei da tentativa de valorizar a figura da Lou, porém, percebe-se que não deu muito certo e ficou-se no lugar comum do que se teria para imaginar sobre uma mulher como foi a Lou Salomé. Psicologizante até o talo, Cavani exagera nas explicações a partir da sexualidade sobre Paul Rée. Talvez as viagens "italianadas" (lugar-comum também) da diretora caibam bem quando ela caricaturizou a figura do Nietzsche, especialmente no seu processo de enlouquecimento. Mas, seja como for, mesmo gostando mais desse do que do Porteiro da Noite, é a primeira vez que digo não gostar de algum cineasta italiano.
A Mansão do Inferno
3.4 184 Assista AgoraAcho injusto o que se propalou sobre esse segundo filme da trilogia maldita do Argento. O filme não é inferior ao Suspiria em nada e eu até gostei mais do roteiro deste! É certo que parece haver uma mudança, que para mim é significativa, mas que ainda bem nada tem a ver com a direção de arte e nem com a trilha sonora (que por sinal, apresenta o melhor a mais bonito ápice na cena em que o personagem Mark desce ao porão depois de cavar um buraco no assoalho, abrindo portinholas até chegar ao começo do fim!) : é que aqui acontecem mais mortes e a violência é um tanto maior na maneira como elas se dão, mas isso não significa que o filme sequer chegue perto de ser um splatter: o giallo está marcado, bem marcado e com a competência e singularidade do cineasta que estou conhecendo (e me encantando) agora, tardiamente, mas que se destaca justamente por isso: por ter um estilo. E sendo assim, inda bem que vim conferir os outros da trilogia para que as opiniões aleatórias não se fizessem parecer que têm força.
O Sonho de Wadjda
4.2 137 Assista AgoraGosto quando me sinto comovida por um filme. E esse, além das boas qualidades que carrega enquanto filme, tem grande importância política e histórica por ser dirigido pela primeira cineasta da Arábia Saudita. Bonito, simples, seguro e importante para abrir vários debates para quem está interessado em assumir uma postura mais propensa a dialogar do que a condenar, apesar dos estranhamentos, a cultura da região, uma vez que há personagens como o amigo de Wadja e o dono da loja, por exemplo.
Madre Joana dos Anjos
4.0 54Primeiro filme a tratar do exorcismo! Uma tese imagética sobre a questão da culpa e os poderes da Igreja Católica. Gosto muito dos personagens "secundários", a taberneira e seus companheiros beberrões, glutões e questionadores representam muito bem o contraponto, com muito escárnio - o que deve desconcertar os pudicos de plantão - a comportamentos hipócritas de beatitude, trazendo para o campo da práxis a questão que permeia todo o filme: o que viria a ser o bem e o mal. A transformação porque passa a única freira que não é possuída por demônios, mas que sai do convento e se permite experienciar o mundo que não é de Deus é fabulosa, culminando com uma noite de dança e vinho que vem lembrar bem a famosa máxima do filósofo que só poderia crer em um Deus que dançasse, além de ser crucial como força motriz para pensarmos a santidade almejada pela madre Joana. A fotografia é belíssima e alguns quadros onde a taberneira toca seu banjo mais parecem pinturas de tão bem compostos! A temática (e a inovação de abordá-la) exigiu teatralidade nas atuações - e elas se deram de forma a não deixar o espectador em paz (ponto para a direção). O diálogo entre o rabino e o padre me incomodou não pelo conteúdo (força-maior do filme), mas justamente pela teatralização dos atores que, enquanto espectadora, eu acho ajustada para o convento, mas não para um momento tão importante, histórica e filosoficamente falando e para a trama, que a cena exigia. No mais: uma preciosidade histórica pra cinematografia.
O Gato do Rabino
4.0 93Animação perfeita! Personagens maravilhosos, livres, singulares, contestadores e os melhores (leia-se: inteligentes) diálogos sobre religião! E a canção final do gato para a sua "chefinha" fecha com chave de ouro o clima do filme! E a frase "Eu sou Deus que voltou em forma de gato para testá-lo" faz com que a gente saiba mesmo que não tem como não gostar das sacadas geniais do roteiro!
Um Herói Solitário
3.3 10Um dos personagens mais belos e doces que tive a oportunidade de acompanhar enquanto durava um filme. Mas a duração nos sentidos e na memória será bem maior: Antonio Albanese esteve maravilhosamente bem dando vida a Antonio: não se esquece fácil um personagem assim. Mas nem só de doçura se sustenta esse filme: o modo italiano de se fazer crítica à sociedade (o trabalho, a remuneração, a substituição do "sumo" humano nas relações de exploração trabalhista) mais a falta de sentido (no sentido ruim do termo) e a tristeza como doença contemporânea que pode matar personificada em Lucia, a amiga de Antonio, estão lá no enredo do filme e na forma (montagem, som...e a música desenvolvendo toda significação para compreendermos esses tempos sombrios que para além das relações trabalhistas, desembocam nas relações pessoais, familiares, amorosas). Não dá para passar batido por esse filme. Não dá.
Todas as Mulheres do Mundo
4.0 89"O que um olhar tem que um outro não tem? O que um sorriso tem que um outro não tem?", Paulo faz a indagação-mote para o enredo do falsete em que ele havia se metido e que é a própria história do filme e eu me perguntava, ao fim da fita: "o que um cinema tem que nos fascina que um outro não tem?" Em Todas as mulheres do mundo, tem o jeito peculiar, firme, bonito de filmar de Domingos de Oliveira, tem a leveza nos passos do personagem de Paulo José, tem a beleza de todas as mulheres que aparecem no filme ( a "prima" Joana Fomm carrega na postura e na performance uma força de atração grande e diz um dos textos mais belos do filme numa sauna de maneira erotizada e erudita e equilibradamente fascinante), tem o olhar de Leila Diniz e os close-up mais contadores de sensações do rosto dela, tem uma fotografia iluminadíssima para falar sobre Maria Alice, essa mulher solar, tem uma trilha sonora fodástica e tem a surpresa de um final que para além de romântico (no sentido de firmar um tipo de amor ou de relacionamento) ou de eleição apaixonada, nos faz lembrar que contar, meus caros, contar a vida, enquanto se caminha pela cidade com um velho amigo dá pé, tanto quanto o amor, só para contrariar uma assertiva tão repetida no início do filme que se transforma em não aceitação do desfecho da história pelo personagem do Flávio Migliaccio.
O Castelo Vogelöd
3.6 18Pena a cópia ter estado com a legenda comprometida, mas Murnau compõe uma peça fechadinha em relação a enredo (com nó, clímax e desfecho digníssimos, além de uma fotografia e de atuações boníssimas), com detalhes finos e pano para manga com a personagem da Baronesa, a mulher que deseja o mal e não quer ser santa...
Alegria de Viver
3.5 7Um filme que me surpreendeu. Bem dirigido, apesar de algumas previsibilidades, mas a trama é totalmente sustentada e as cenas de rock são boníssimas. Até mesmo as sobreposições na inusitada e totalmente singular (por conta da música, do número musical) aparição de Ivon Cury funcionam muito bem para a proposta do filme. E a atuação da Eliana Macedo é inteligentíssima!
Eu Só Quero Que Vocês me Amem
4.0 31Para sempre Fassbinder falará com a maior proximidade possível sobre a crueza que é o mundo, sobre as dores que as relações (todas e quaisquer que sejam) podem causar. Aqui o político e o mais íntimo e psicológico estão tão grudados que é impossível classificar, nomear, logo após a sessão, o que a gente sente e pensa ao ver esta obra-prima. Somos, de alguma forma, todos, um tanto de Peter. Se há dúvida, então é melhor encarar a si próprio e tentar responder a pergunta final que, para mim, é mote para o filme inteiro. Sim, Fassbinder faz em seus filmes verdadeiros ensaios filosóficos sobre o que é existir e existir sob o modelo econômico-social e afetivo que vivemos. A cena-indagação final me foi um soco no estômago: tempos para ruminá-la e tentar ter coragem para respondê-la a mim mesma.
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraPolêmica, polêmica, polêmica! E eu já começo dizendo que não acho que o Spike Lee estava errado não. Muita coisa me incomodou no Django do Tarantino (eu diria cinco mil delas, para contemplar a fala de um dos personagens), especialmente a monogamia cega e desenfreada que faz com que Django entregue literalmente aos cachorros não um negro: mas toda a história de seus iguais em favor de um casamento, sob o álibi de viver um amor. Conteudisticamente o filme é perigoso, não há como discordar. Porém, o apuro técnico e as interpretações estão fantásticas e o filme me encheu os ouvidos e os olhos e me fez reconectar com o Tarantino com o qual eu havia cortado desde o Bastardos Inglórios.
Caótica Ana
3.6 36Esotérico, erótico e refinado é o que o filme pretende (e consegue) ser plasticamente. Em relação ao conteúdo, o diretor deseja (e consegue o intento de) abordar o feminino de maneira singularmente política, isto é, a história milenar de opressão contra a mulher é abordada através da relação que a personagem mantém com as mulheres de suas vidas passadas. Ana é a mais valente de todas porque conhece sua história através das sessões de hipnose e pode, por esse motivo, agir (reagir) de maneira diferente no presente e sobreviver às violências dos tempos hodiernos, ous eja, a sua grande arma é saber. Ana em todas as vidas passadas morreu de maneira violenta e quase sempre pelas mãos de um homem. Na vida atual, Ana mantém uma relação bastante freudiana com o pai alemão que a educa com noções de Matemática, Artes, Filosofia e História num ambiente de natureza quase intocável: os dois habitam uma caverna ornamentada com as pinturas de Ana que é artista plástica autodidata. Ana sai da caverna para uma cidade grande, para morar numa república com o intuito de aprimorar seu talento artístico - todo esse caminho não deixa de ser uma forma de buscar conhecimento, uma vez que já na cidade, Ana escreve cartas ao pai contando-lhe suas descobertas sobre amor, relações com as pessoas, sobre o fato de chamar atenção por ser uma forasteira, etc. Por todos esses signos, entendo Caótica Ana como um filme-descoberta, que pretende colocar a personagem como uma figura entre o mítico e o político, denunciando uma história milenar de violência contra a mulher de maneira plástica e refinada. O que me incomodou é que os personagens todos me pareceram forçados em suas interpretações, assim como o clima cult que impregna todo o filme. E o final não contemplou ou não condisse com todo o percurso por que passou a personagem, que sobrevive, mas apenas isso.
Camila: O Símbolo de uma Mulher Apaixonada
3.5 17O filme é baseado em uma história real de amor e de indignação contra um Estado opressor. Os dois são jovens e não apenas se amam como também não suportam o clima de violência e de injustiça do governo de Rosas. Camila é uma mulher que pensa, lê livros escondido, tem opinião firme e não deseja casar-se nem porque é mulher e nem por dinheiro. Pensa em encontrar um homem com quem possa viver uma vida de compartilhamento de ideias e encontra essa possibilidade no jovem padre. O cinema argentino sempre acertando na mosca mesmo: a recomposição da época está perfeita no figurino, nos objetos de cena e nas atuações comedidas e firmes. A fotografia carrega um traço bucólico e o contexto histórico é muito bem aproveitado para a trama do filme que se posiciona (aqui, a diretora feminista Maria Luisa Bemberg pode colocar-se através não apenas da personagem principal, Camila, como também de outros dois personagens femininos fortes, indagadores da condição da mulher à época e representativo de diferentes gerações: a avó de Camila que "amou o vice-rei como as mulheres dos romances", e a mãe de Camila que maldiz ter conhecido o marido e que replica a proposta do dever de casar a filha para "parar a desordem e a anarquia que é o coração de uma mulher solteira" com a frase de que "o casamento é uma prisão invisível") politicamente contrário à manutenção de autoridade. Apesar de linear em sua narrativa, é forte e necessário para conhecermos melhor o cinema argentino que, contemporaneamente, tem sido um dos mais efervescentes.
Bombal
3.5 6Confesso que me decepcionei ao terminar de assistir a este filme. Apesar de concordar com Truffaut quando diz que "a arte cinematográfica só existe por meio de uma traição bem organizada da realidade. Todos os grandes cineastas dizem NÃO a alguma coisa". Ainda assim, achei a película muito voltada apenas para uma parte da vida de Maria Luisa Bombal. Apesar de ter sido esta a mais trágica e a que diz alguma coisa sobre a Santiago provinciana e não aceitadora do comportamento livre e excêntrico da escritora. Porém, no filme, o aspecto da escritora é abafado por uma obsessão amorosa. A fotografia é bonita, o figurino impecável, a atuação da Blanca Lewin tem força de ímã, porém a personagem da prima (Beatriz) é estupendo e muito pouco aproveitado até mesmo no que tange a uma teoria do feminino (nem mesmo falo no feminismo) numa América Latina espezinhada por piadas de escritores europeus (isso aparece de forma muito solta, como conversa de figurantes em uma festa onde o cheiro de tragédia mais uma vez é enfatizado na vida pessoal de Bombal). A relação dela com Pablo Neruda não é mencionada, nem a importância de sua formação em Paris como escritora e como mulher livre. Uma pena a condução ter sido tão estreita. Resta uma vontade imensa de conhecer o trabalho (os textos) dela que me pareceu enfrentar problemas de distribuição e de aceitação ao modo dos que enfrentou Anaïs Nin, por exemplo. No entanto, posso dizer que vale como ponta pé para pesquisas outras.
Barbarella
3.2 276 Assista AgoraEu só acho que para quem vive numa nave espacial forrada de pelúcia e que se comunica com um computador que acorda a pessoa dizendo "Barbarella, levante e brilhe", fazer a felicidade da "The Great Tyrant" não teria sido nada demais. Mas, ok, fico conformada e tentando encontrar justificativa na reunião de mulheres, antes do corredor nº 12, ao redor de um aquário com um cara, fumando "essência de homem". Mas, juro que Duran Duran possesso porque Barbarella destruiu (derreteu) sua "máquina musical" (leia-se: máquina matar de prazer) e gritano: "Que garota você é? Não tem vergonha não, é?" é impagável. O roteiro do filme pode ser fraco, mas Jane Fonda está deliciosamente boa no papel de heroína e "terráquea mediana" e a trilha sonora é tão boa, tão boa e os efeitos especiais são tão trash que vale a pena todo o conjunto, ah se vale! A metáfora do anjo (o anjo que não faz amor, mas é amor = a não ter memória (o perdão para as guerras históricas?) também é digna de se prestar atenção. Tosquices à parte, a abertura do filme é de dar água na boca de tão legal! Ironia + boas sacadas = pano de manga para se discutir (do fazer cinematográfico à revolução sexual dos anos 60).
Tropicália
4.1 289Gostei muito do documentário. Acervo riquíssimo e uma condução afetiva e segura para a utilização da pesquisa, das entrevistas e das canções na montagem do doc. Não concordo que há muito Gil e Caetano em detrimento do que há no tropicalismo. O tropicalismo foi um movimento abrangente e o diretor tem que fazer opções, pois do contrário cai naquilo que já foi alertado por um famoso cineasta francês: "querer colocar tudo um filme (princípio do amálgama) ou nada colocar ele (princípio da vanguarda) é impedir os outros de manifestar sua opinião aterrorizado-os com a obscuridade de suas intenções". A qualidade de um filme é frequentemente proporcional à inteligência das decisões tomadas, sua lógica, sua coerência e a escolha de Gil e Caetano funciona como fio condutor da narrativa escolhida pelo diretor. Entendo isso muito mais fortemente os momentos finais do filme quando aparecem os dois (separados) vedo imagens e cantarolando junto com as imagens "Back i Bahia". Para mim, esses minutos finais estão amarrados coerentemente com o início e meio do filme onde eles aparecem um programa português falado sobre o tropicalismo como algo maior que eles dois e que só a música. As falas estão equilibradas e não teve jeito de eu não amar muito ouvir Araldo Baptista falar sobre Rogério Duprat: "Se eu pedia um pouco de ópera, se eu pedia um pouquinho de dez mandamentos, se eu pedia um pouquinho de paz: ele conseguia tudo".
Um filme bom, que cumpre direitinho seu papel (especialmente para quem é muito ligado ao Tropicalismo) e que carrega boa pesquisa e utilização de preciosidades da época (diga-se de passagem que ver pedaços de filmes como "Nosferatu no Brasil" e "O demiurgo" instiga e muito o espectador).
Palavras ao Vento
3.9 53 Assista AgoraDorothy Malone sabe bem fazer (boa) oposição à Lauren Bacall para que o melodrama aconteça de maneira acertada - a cena do julgamento (o testemunho da irmã) é carregada de previsibilidade, mas não decepciona! Tudo é tão over e levando em conta o desenvolvimento dos personagens masculinos não fica muito difícil não pensar em Almodóvar...Melodrama digníssimo!
Sim ou Não
3.9 210"Sou um deserto que monologa". Melhor descrição de si mesma não poderia haver para Violette Leduc, escritora francesa marginal que até a publicação de "A bastarda", em 1964, livro autobiográfico e prefaciado por Simone de Beauvoir, era totalmente desconhecida. E era desconhecida porque "bastarda, feia, pobre, apaixonada por mulheres e homossexuais, ladra e traficante do mercado negro...", se atrevia a escrever "sem falso pudor" sobre seu universo: o amor entre mulheres. É assim a novela "Teresa e Isabel - num colégio interno, duas ninfetas descobrem o amor. Há intensidade erótica e ternura apaixonada, mas também há muita crítica a como a homossexualidade feminina é vista. E assim foram vários romances que elegi para ler sobre a temática. Anais Nïn discute especialmente em Heny&June a liberação do corpo e do desejo e de uma forma bastante psicanalítica ela aborda o amor entre mulheres. Patrícia Highsmith, com "Carol" também aborda a epifania erótica e o surgimento de um amor condenado por todos.
Falei nessas três autoras específicas e nessas três obras específicas porque concordo com uma matéria que li recentemente sobre a necessidade de se subverter o cinema gay. E a pergunta-mote para a matéria do Bruno Carmelo era: "Por que o cinema gay comercial está tão contaminado pelo amor romântico, com homens belos em tramas açucaradas?". O mote também serve para alguns muitos filmes de temática lésbica. Amor romântico e tramas açucaradas são alinhavos que tenho visto em vários filmes e que me causa incômodo, pois sinto falta da subverção de abordagens que experienciei na literatura.
Essa observação não é genérica, inclusive há filmes como XXY e Tomboy que fogem a esse tipo de açucaramento. E vários outros. Porém, ao desejar assistir este "Yes or No", vim antes no site ver comentários. Quase nunca faço isso antes de ver filme algum. E, para minha não grande surpresa, se eu fizesse uma estatística, a palavra que mais li foi "fofo". Fora do site do Filmow, encontrei apenas uma crítica sobre o filme, que nem crítica se intitulava, mas sim "resenha" e lá também li a palavra "fofo". Dei chance ao filme porque li que era o primeiro filme com temática lésbica Tailandês. Não sei a veracidade da informação, mas queria eliminar a ideia de apenas "fofura" que se fez em minha cabeça.
É um filme adolescente ou melhor: é um filme sobre o amor entre adolescentes. Pie não é meiga como diz na sinopse e Kim, a tomboy, sim exala doçura. O filme já começou a me fisgar por aí porque, sutilmente, percebi que a construção de feminilidade relacionada à doçura, aos cuidados com as plantas e ao ato de cozinhar não estavam com a "mais feminina delas" no modo de vestir.
É um filme de descoberta, portanto, coerente com a idade das protagonistas, coerente com o ambiente (a escola) e o filme não deixa de trazer conflitos e tensões acerca da descoberta sexual. A trilha sonora é bastante boa, o que ajuda muito na construção da história que não tem necessariamente um final feliz, tem um final que dá a chance de se vivenciar o desejo...
Há sim romance no filme. Mas, eu não o consideraria "fofo". É um filme delicado. Talvez seja didático demais. É linear em sua forma. Mas, para este filme-bilhete-de-escola talvez seja a abordagem mais acertada. Para mim, Yes or no é um filme bonito, dá conta do recado quando aborda os conflitos entre o desejo do corpo amoroso e a dureza do corpo receoso e tradiconal das duas adolescentes. E a personagem Kim é tão cativante que rouba várias cenas. Vale a pena assisti-lo para se conversar sobre o amor e sua construção social. Mas, no meu caso, que sou piegas assumida, confesso: eu me emocionei, fazer o quê?
Importa que se abram debates, que se perceba a construção delicada e singela para a abordagem...que aos poucos se deixe de ser "um deserto que monologa", mas sem jamais se ser inocente e crítico. Falar que o filme é apenas fofo é muito pouco. Se faz necessário combatê-lo, compará-lo. Temos o "Amigas de colégio" mais sombrio para contrapor e começar a dialogar, por exemplo.
É a possibilidade de marcar de verde a opção Yes. :)