john waters quer que você se irrite, que você sinta repulsa, e consegue, de um jeito estranhamente "gostável" (apoio, pelo menos na teoria, qualquer projeto de guerrilha). parece uma reunião da turminha da escola para ver quem tira mais meleca do nariz.
p.s.: uma vez li uma comparação entre waters e buñuel, e faz todo o sentido! a cena da execução, nos minutos finais, com a presença da imprensa como testemunha, me lembrou muito um segmento de o fantasma da liberdade em que um sniper é visto como herói.
gus van sant é (ou costumava ser) tão eclético e imprevisível que conseguiu, em um único filme, prestar homenagem a serial mom, do john waters, que havia sido lançado um ano antes, com o mesmo tom satírico e sensacionalista, dessa vez brincando com o estilo do mockumentary, e também contou a melhor e mais longa piada já feita sobre a carreira dos guns n' roses. o filme caçoa o tempo todo do jeitão edgy dos membros e dos fãs da banda, e a introdução, que mostra várias reportagens jornalísticas de quinta categoria da protagonista que amava o marido, mas esteve envolvida em seu assassinato (basicamente a letra bizarra de used to love her, de axl rose e cia, mas invertida, e resumida em uma cena), é a grande prova de que o diretor, errando ou acertando, estava sempre experimentando. pena que, nos últimos anos, tenha entrado no modo piloto automático com trabalhos de caráter duvidoso.
p.s.: a ponta do cronenberg foi totalmente inesperada, mas muito bem-vinda!
p.s. 2: faz total sentido o jimmy do joaquin phoenix ter um pôster do tony manero no quarto.
nossa, dos três que vi até agora, esse foi o meu favorito disparado! dá para entender totalmente porque é um filme à parte na franquia: não só porque escalaram atores diferentes, mas porque não é sobre competitividade masculina ou disputa de ego. é um filme sobre tóquio, com seu ritmo contemplativo e frenético ao mesmo tempo, suas luzes e cores embriagantes. tem momentos genuinamente bonitos, como toda a sequência em que o sean e a neela têm uma conversa super espontânea em uma loja de conveniência, como se estivessem vivendo um primeiro encontro, e depois dão uma volta de carro pelo simples prazer de dirigir, sem racha, sem nada.
p.s.: teve uma hora que alguém falou em português do nada. eles adoram o brasil!
no final, quando a comunidade toda recebe o paddington na casa da família brown e ele percebe que cada um ali carrega um pouco dele e sua ausência foi sentida por todos, eu não tive como não lembrar dos últimos minutos de "a felicidade não se compra", meu filme preferido do mundo. uma coisa é certa: ambos me fazem acreditar na humanidade, pelo menos por algumas horas.
p.s.: sally hawkins pode continuar interpretando personagens adoráveis pelo resto da vida. tem minha benção.
tendo 10, 30, 50 ou 80 anos, tem que ser muito insensível para pelo menos não esboçar um sorriso assistindo. o tempo todo me lembrei de "angus, thongs and perfect snogging", especialmente pelo núcleo das crianças (existe um coming-of-age dentro do filme de aventura para a família) e por como os valores britânicos são exaltados.
p.s.: quem teve a ideia de escalar a nicole kidman como super vilã merece um prêmio.
quatro anos antes de frances ha ser lançado, o diretor mike leigh já havia nos alertado sobre os prós e contras de ser uma pessoa autêntica e curiosa em uma sociedade individualista e egoísta. poppy, vivida pela sempre ótima sally hawkins, é muito intensa, mas não é caricata, porque sabe ouvir tanto quanto sabe falar, sendo, acima de tudo, muito humana.
foi o primeiro dos seis contos morais que eu vi, curiosamente o último, um filme onde a moral é vista como um jogo entre representação e tentação. conforme a trama se desenvolve, a linha entre intuição (ser um "bom moço" e um "bom marido") e instinto (ter uma relação extra-conjugal e assumir uma nova posição) vai se tornando cada vez mais tênue e, quando esperamos pelo clímax, uma explosão de sentimento e rancor, somos lembrados por rohmer que esse é um filme contido. os gestos existem, mas são muito mais implícitos do que declarados.
quando há a reconciliação entre o casal, já não há mais nada para vermos: esse é um assunto privado. vemos a janela da sala e a decoração de fundo. o filme que conhecíamos acabou, e o próximo nós não veremos.
que filme DELICIOSO! às vezes a "marca" wes anderson me incomoda, porque não vejo muita autenticidade, mas esse filme tem alma, e não apenas um design bonito. me lembrou muito o conceito do "bottle rocket", mas em formato de animação (o que o torna mais dinâmico e divertido) e com raposas ao invés de humanos (o que o torna mais legal). adorei! <3
- o que vem acima do subtexto? - o texto? - isso! por que ninguém comenta a respeito?
hahahaha o equilíbrio perfeito entre o lado analítico e politizado de metropolitan e a leveza e descontração de os últimos embalados da disco. não é à toa que é o filme do meio da trilogia. dos três, esse é o que as personagens masculinas são mais ingênuas, às vezes parecem bobos da corte, mas é muito engraçado e divertido de acompanhar. depois da primeira metade, ainda se converte em um conto de amizade inserido em uma trama de espionagem (!), melhor escolha impossível.
fincher tinha um material riquíssimo em mãos, em uma era, a da hollywood antiga, onde o ego dos donos de estúdio, diretores e atores poderia consagrar ou detonar um projeto, mas optou por uma abordagem não somente "fria" (isso por si só não teria problema, a maioria dos filmes dele são assim), como também extremamente burocrática. quando foi anunciado, eu esperava ver mais nuances, uma história sobre a ascensão e queda de um homem que representou um ponto de virada para hollywood, mas vi apenas um filme decorativo, de muita pompa, mas pouca utilidade prática. a figura do orson welles poderia aparecer em mais cenas e, honestamente, gary oldman deixou de see um bom ator há uns 10 anos. esses últimos papeis dele dão uma preguiça...
do que adianta o filme ser perfeito tecnicamente se não te diz nada além disso? fincher se divide entre mank enquanto homem de negócios envolvido com política e gênio amargurado. não emplaca em nenhuma das duas caracterizações.
quando o filme volta suas atenções ao núcleo que envolve a relação cheia de lacunas do bill com o fred, que atinge a todos os outros membros dos panteras negras, tem uma energia incrível, um jogo de gato e rato que se contrasta com o núcleo entre bill e o fbi, filmado de forma mais protocolar, dando ao filme uma aparência mais próxima às biopics tradicionais de hollywood. mas existe esse lado que se preocupa com o gênero que me atrai bastante. o laiketh stanfield e o daniel kaluuya estão bem entregues à proposta e o desenvolvimento das imagens de arquivo é interessante porque podemos ver o bill escancarado em sua culpa, seu remorso, sua humanidade. é um filme do qual não há nada a reclamar, só acho que a direção, apesar de segura, poderia ser ainda mais ambiciosa.
eu defendo muitas atuações mais caricatas do johnny depp, mas adoro vê-lo em papeis mais sérios, onde ele é a pessoa mais sóbria do filme. é bem divertido, cheio de pontas soltas, enigmas que polanski vai fazendo o público decifrar enquanto emula um clima de eurocrime e até elementos do giallo, nessa mistura de filme investigativo e sobrenatural, principalmente nas sequências europeias, onde consegue ser bem cirúrgico em alguns momentos e bem fantasioso em outros. às vezes o lado "over the top" funciona, como na cena de abertura e nos créditos iniciais, bem impactantes, e, em outras, nem tanto, como na cena em que há uma briga entre a personagem da lena olin e o johnny depp. um filme muito curioso, mas que, pra mim, funcionou melhor no papel do que na prática.
um filme que em nenhum momento fala diretamente sobre a fama ou a profissão de músico, mas sim sobre o uso de silêncio como forma de ouvir o que a sua expressão artística tem a dizer. palmas para o trabalho de som.
abordagem simples e até discreta, sem muito "oba oba", dá conta da pessoa humilde que era chorão. tinha personalidade, sim, mas tratava a todos com respeito, e, como é dito no fim, mais do que a si mesmo. o final é dilacerente não porque quer causar esse efeito no espectador, mas porque a realidade foi assim.
primeiramente, eu achei a ideia boa, e acho válido que o filme exista porque fomenta discussões importantes, mas achei a execução equivocada.
eu só consigo ter uma visão artificial desse filme porque, para mim, ele é um artifício, e não há nenhum problema em ser. eu particularmente adoro filmes como aves de rapina e scott pilgrim, que traduzem o conteúdo na forma, como se a relação entre ambos fosse simbiótica, mas eles bancam a inverossimilhança o tempo todo. é uma situação que só faz sentido naquele universo. quando um filme se propõe a ser sério, é preciso ter coragem de bancar essa posição, sustentar seu argumento. no caso, acho que, até nas histórias de vingança, existe a questão do sofrimento, e, de fato, a personagem sofre, mas o filme negligencia um pouco o sentimento pela pose de bad-ass dela, que mais parece uma vigilante dos quadrinhos e, mesmo sem querer, a diretora às vezes confunde um pouco as definições de cada lado. o filme deveria retratar a vítima e o abusador, e, se é para se comprometer, mostrar o que acontece, e não se basear em conceitos pré-definidos de bom ou mau (óbvio que quem comete um crime merece ser punido, e isso diz respeito ao caráter de cada um, mas ao transformar as pessoas em heróis e vilões caricaturizados, como personagens de desenho infantil, e não seres humanos, você corre o risco de se contradizer) para ditar como acontece. é bem diferente mostrar a condição de uma pessoa a tender para uma visão maniqueísta ou moralista, e eram os riscos que o filme corria, mas eu não sei se ele é tão consciente disso.
parece um pouco em cima do muro, como imaginar um filme super legal e descolado, com trilha sonora pop de britney spears e hits dos anos 2000, cores vibrantes e estilização digna de quadrinhos com as mesmas intenções de um filme de michael haneke. para o bem ou para o mal, eu preferia que assumisse uma posição. não teria nenhum problema no fato de o filme categorizar tanto suas personagens, se ele assumisse essa abordagem durante toda sua duração, e não tentasse ser mais crível, ou verossímil.
até mais ou menos meus 20 anos, eu "me escondia" de alguns filmes ou diretores, a vontade espontânea de ver nunca surgia porque eu reprimia ao máximo. era como se eu tivesse usando uma venda e mesmo assim fechasse os olhos, um mecanismo de defesa para velar o que já estava velado: meu medo de me sentir inferior à obra, como se eu não tivesse capacidade cognitiva de me abrir à experiência e sair das amarras do significado.
quando eu vejo um filme como "el topo" na tarde de um feriado de quarta-feira, porque não tinha nada melhor para ver, eu me sinto aliviado de ter tirado das costas (e da consciência) o peso de dar uma importância a um filme maior do que a que ele de fato tem, a ponto de me paralisar.
como eu li em outra review, o diretor se importa mais com simbolismos e representação do que pessoas. aqui, as personagens expressam ideias, não importa de onde elas vêm ou para onde elas vão, tampouco seus nomes. são objetos sem fundo, sem profundidade. só os seus gestos interessam, totalmente imprevisíveis.
o primeiro é mais coerente com a narrativa do batman enquanto herói, bom-moço, cidadão correto etc., mas é menos autoral, um filme que não se sustenta muito e tem um vilão tão over que mal dá para levá-lo a sério como um oponente, enquanto o batman de keaton se sustenta pela postura de agir mais do que falar, e com isso atingir um certo charme.
já nesse segundo filme, o batman é basicamente um coajudvante de luxo, saem o carisma e a personalidade de herói e ficam a arrogância e a antipatia de um rico que vive em uma mansão gigante. tanto a mulher-gato de michelle pfeiffer quanto o pinguim de danny devito possuem uma malícia que os garante uma imagem própria, independente, que vai muito além da opinião ou das ações combativas do batman, enquanto o coringa de nicholson tinha sua existência condicionada pelo herói, literalmente.
aqui já dá para perceber como tim burton tira sarro do mundo corporativo e dos grandes empresários. a personagem do christopher walken é, mesmo sem que ele interprete um vilão no papel, a mais odiada do filme, porque representa tudo o que há de mais ganancioso e corrupto nesse meio.
foi o primeiro longa mais soturno do tim burton, e a arquitetura da mansão do batman é uma boa prévia da construção do castelo de "edward mãos de tesoura", com as conhecidas influências do expressionismo alemão, mas o filme em si é inofensivo, e isso que adoro tim burton de 80 a 90.
se "american pie" fosse dirigido pelo todd solondz, mais especificamente em "felicidade", muito provavelmente sairia algo parecido com isso. saem de cena os adultos em crise de meia-idade, e entram adolescentes com problemas de adultos (tópicos que tendem a ser romantizados em filmes indies mais comentados, são abordados aqui e, se você espremer um por um, só sai cinismo). mesmo assim, diferentemente dos filmes do solondz, aqui o diretor tem uma linguagem bem pop, usando flashbacks de uma forma bem criativa, rompendo bastante com a sequência lógica esperada, o que permite que conheçamos cada personagem por um ângulo diferente. então, apesar de se tratar de uma visão bem pessimista de mundo, o filme usa essa "cara" mais acessível, escalando no elenco principal o então astro de "dawson's creek" como quem quisesse dizer: "eles ainda são adolescentes privilegiados, rostinhos bonitos, e não pessoas miseráveis que sofrem". e acho que é até por isso que eu gostei bem mais do que, sei lá, felicidade, do solondz, que está mais para "misery porn". parece mais honesto, menos maniqueísta.
a "atração" do nome consiste em acreditar em algo, mas fazer exatamente o oposto, porque você só sabe se sabotar, se atrai pela ruína, e, o pior, se alimenta disso e busca isso.
"eu só transei com ela porque estou apaixonado por você!"
por mais "velozes e furiosos" com cenas de luta corpo a corpo, um pouco menos de carros rolando no asfalto (ainda que seja um deleite ver isso), e mais homens rolando no chão (se a cena da briga entre o brian e o roman fosse um pouco mais longa, seria quase uma releitura do embate em "eles vivem"). trocação de soco sem motivo algum entre duas personagens que estão do mesmo lado é um conceito legal, e devia ser mais explorado.
esse filme ganha vantagem sobre o primeiro porque tem coadjuvantes melhores (suki <3) e o tyrese gibson tá mais solto e descolado que o vin diesel, mas em compensação senti falta do jeito mais direto do segundo.
dentre todos os filmes aleatórios que eu vi, esse provavelmente ganhará um lugar no top 3. me pergunto quando gus van sant se tornou um diretor tão cafona. quer dizer, ele sempre teve um lado emotivo, às vezes com efeitos positivos, como em "gênio indomável", e às vezes com efeitos negativos, como em "procurando forrester", mas esse seu lado auto-ajuda nunca foi tão evidente.
os atores estão convincentes, gosto do joaquin phoenix principalmente a partir da segunda metade (ainda que seja difícil levá-lo a sério com esse visual), mas quem rouba a cena, para mim, é o jonah hill. ganha meio ponto a mais pelas coadjuvantes de luxo kim gordon, carrie brownstein e beth ditto (van sant sempre teve bom gosto musical).
jack black pode ser um cara muito legal, mas suas caras e bocas e aqueles gestos que ele faz com a língua só funcionaram em escola de rock (não gosto de alta fidelidade versão filme), por isso sua segunda aparição no filme, já sóbrio, conversando com o joaquin phoenix, é muito provavelmente o ápice da carreira dele como ator sério.
p.s.: o ator sonny suljic, que vive o protagonista do ótimo anos 90, do jonah hill, faz uma ponta como um dos skatistas do bairro.
o filme ia muito bem enquanto trabalhava com os arquétipos pré-determinados das personagens, parece que elas tinham mais profundidade emocional, eram elas mesmas, e se baseavam em seus ideais para impor sua personalidade. funciona até a cena em que eles confessam o motivo real de estarem ali, que é muito boa e impactante. até ali, era óbvio que rolava uma tensão sexual muito sutil entre quatro personagens, mas que não havia sido explorada o suficiente para virar química e formar casais.
é tudo muito apressado, não tinha necessidade nenhuma de que aqueles adolescentes, até então pessoas comuns, com seus defeitos e virtudes, virassem modelos de revista, exalando sex appeal e desconstruindo totalmente a imagem formada até então. seria muito mais coerente manter essa questão nas entrelinhas, e focar mais no desenvolvimento narrativo.
um filme sensual do avesso. tem o mesmo alcance imagético de um álbum do tindersticks (não à toa a música que abre o filme é deles) ou do the national, servindo de pano de fundo para as necessidades quase desesperadas de duas pessoas desamparadas, que mal sabem porque precisam uma da outra. seus corpos rolam pela cama, pela sujeira, e o sexo é sentido, nos mínimos toques, nos movimentos, e não encenado ou fingido, como nos filmes glamourizados tipicamente hollywoodianos, com atores que atingem um padrão de beleza inalcançável e se produzem para as cenas. mark rylance e kerry fox são bonitos sem precisar forçar uma imagem à qual eles não correspondem. se não bastasse tudo isso, é um dos únicos, se não o único, filmes que eu vi que mostram um homem tendo um orgasmo de verdade, se contorcendo e gemendo de prazer.
Viver Desesperado
4.0 50a disney teria lucrado muito com esse filme
Pink Flamingos
3.4 879john waters quer que você se irrite, que você sinta repulsa, e consegue, de um jeito estranhamente "gostável" (apoio, pelo menos na teoria, qualquer projeto de guerrilha). parece uma reunião da turminha da escola para ver quem tira mais meleca do nariz.
p.s.: uma vez li uma comparação entre waters e buñuel, e faz todo o sentido! a cena da execução, nos minutos finais, com a presença da imprensa como testemunha, me lembrou muito um segmento de o fantasma da liberdade em que um sniper é visto como herói.
Um Sonho Sem Limites
3.5 187 Assista Agoragus van sant é (ou costumava ser) tão eclético e imprevisível que conseguiu, em um único filme, prestar homenagem a serial mom, do john waters, que havia sido lançado um ano antes, com o mesmo tom satírico e sensacionalista, dessa vez brincando com o estilo do mockumentary, e também contou a melhor e mais longa piada já feita sobre a carreira dos guns n' roses. o filme caçoa o tempo todo do jeitão edgy dos membros e dos fãs da banda, e a introdução, que mostra várias reportagens jornalísticas de quinta categoria da protagonista que amava o marido, mas esteve envolvida em seu assassinato (basicamente a letra bizarra de used to love her, de axl rose e cia, mas invertida, e resumida em uma cena), é a grande prova de que o diretor, errando ou acertando, estava sempre experimentando. pena que, nos últimos anos, tenha entrado no modo piloto automático com trabalhos de caráter duvidoso.
p.s.: a ponta do cronenberg foi totalmente inesperada, mas muito bem-vinda!
p.s. 2: faz total sentido o jimmy do joaquin phoenix ter um pôster do tony manero no quarto.
Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio
3.2 669 Assista Agoranossa, dos três que vi até agora, esse foi o meu favorito disparado! dá para entender totalmente porque é um filme à parte na franquia: não só porque escalaram atores diferentes, mas porque não é sobre competitividade masculina ou disputa de ego. é um filme sobre tóquio, com seu ritmo contemplativo e frenético ao mesmo tempo, suas luzes e cores embriagantes. tem momentos genuinamente bonitos, como toda a sequência em que o sean e a neela têm uma conversa super espontânea em uma loja de conveniência, como se estivessem vivendo um primeiro encontro, e depois dão uma volta de carro pelo simples prazer de dirigir, sem racha, sem nada.
p.s.: teve uma hora que alguém falou em português do nada. eles adoram o brasil!
As Aventuras de Paddington 2
4.0 131a sub-trama de espionagem tornou os momentos de pura aventura ainda mais farsecos, e o desenvolvimento emocional do filme é muito mais genuíno.
no final, quando a comunidade toda recebe o paddington na casa da família brown e ele percebe que cada um ali carrega um pouco dele e sua ausência foi sentida por todos, eu não tive como não lembrar dos últimos minutos de "a felicidade não se compra", meu filme preferido do mundo. uma coisa é certa: ambos me fazem acreditar na humanidade, pelo menos por algumas horas.
p.s.: sally hawkins pode continuar interpretando personagens adoráveis pelo resto da vida. tem minha benção.
As Aventuras de Paddington
3.6 279 Assista Agoratendo 10, 30, 50 ou 80 anos, tem que ser muito insensível para pelo menos não esboçar um sorriso assistindo. o tempo todo me lembrei de "angus, thongs and perfect snogging", especialmente pelo núcleo das crianças (existe um coming-of-age dentro do filme de aventura para a família) e por como os valores britânicos são exaltados.
p.s.: quem teve a ideia de escalar a nicole kidman como super vilã merece um prêmio.
Simplesmente Feliz
3.4 254quatro anos antes de frances ha ser lançado, o diretor mike leigh já havia nos alertado sobre os prós e contras de ser uma pessoa autêntica e curiosa em uma sociedade individualista e egoísta. poppy, vivida pela sempre ótima sally hawkins, é muito intensa, mas não é caricata, porque sabe ouvir tanto quanto sabe falar, sendo, acima de tudo, muito humana.
Amor à Tarde
4.1 41 Assista Agorafoi o primeiro dos seis contos morais que eu vi, curiosamente o último, um filme onde a moral é vista como um jogo entre representação e tentação. conforme a trama se desenvolve, a linha entre intuição (ser um "bom moço" e um "bom marido") e instinto (ter uma relação extra-conjugal e assumir uma nova posição) vai se tornando cada vez mais tênue e, quando esperamos pelo clímax, uma explosão de sentimento e rancor, somos lembrados por rohmer que esse é um filme contido. os gestos existem, mas são muito mais implícitos do que declarados.
quando há a reconciliação entre o casal, já não há mais nada para vermos: esse é um assunto privado. vemos a janela da sala e a decoração de fundo. o filme que conhecíamos acabou, e o próximo nós não veremos.
O Fantástico Sr. Raposo
4.2 935 Assista Agoraque filme DELICIOSO! às vezes a "marca" wes anderson me incomoda, porque não vejo muita autenticidade, mas esse filme tem alma, e não apenas um design bonito. me lembrou muito o conceito do "bottle rocket", mas em formato de animação (o que o torna mais dinâmico e divertido) e com raposas ao invés de humanos (o que o torna mais legal). adorei! <3
Barcelona
3.4 5- o que vem acima do subtexto?
- o texto?
- isso! por que ninguém comenta a respeito?
hahahaha o equilíbrio perfeito entre o lado analítico e politizado de metropolitan e a leveza e descontração de os últimos embalados da disco. não é à toa que é o filme do meio da trilogia. dos três, esse é o que as personagens masculinas são mais ingênuas, às vezes parecem bobos da corte, mas é muito engraçado e divertido de acompanhar. depois da primeira metade, ainda se converte em um conto de amizade inserido em uma trama de espionagem (!), melhor escolha impossível.
Mank
3.2 461 Assista Agorafincher tinha um material riquíssimo em mãos, em uma era, a da hollywood antiga, onde o ego dos donos de estúdio, diretores e atores poderia consagrar ou detonar um projeto, mas optou por uma abordagem não somente "fria" (isso por si só não teria problema, a maioria dos filmes dele são assim), como também extremamente burocrática. quando foi anunciado, eu esperava ver mais nuances, uma história sobre a ascensão e queda de um homem que representou um ponto de virada para hollywood, mas vi apenas um filme decorativo, de muita pompa, mas pouca utilidade prática. a figura do orson welles poderia aparecer em mais cenas e, honestamente, gary oldman deixou de see um bom ator há uns 10 anos. esses últimos papeis dele dão uma preguiça...
do que adianta o filme ser perfeito tecnicamente se não te diz nada além disso? fincher se divide entre mank enquanto homem de negócios envolvido com política e gênio amargurado. não emplaca em nenhuma das duas caracterizações.
Judas e o Messias Negro
4.1 516 Assista Agoraquando o filme volta suas atenções ao núcleo que envolve a relação cheia de lacunas do bill com o fred, que atinge a todos os outros membros dos panteras negras, tem uma energia incrível, um jogo de gato e rato que se contrasta com o núcleo entre bill e o fbi, filmado de forma mais protocolar, dando ao filme uma aparência mais próxima às biopics tradicionais de hollywood. mas existe esse lado que se preocupa com o gênero que me atrai bastante. o laiketh stanfield e o daniel kaluuya estão bem entregues à proposta e o desenvolvimento das imagens de arquivo é interessante porque podemos ver o bill escancarado em sua culpa, seu remorso, sua humanidade. é um filme do qual não há nada a reclamar, só acho que a direção, apesar de segura, poderia ser ainda mais ambiciosa.
O Último Portal
3.2 461 Assista Agoraeu defendo muitas atuações mais caricatas do johnny depp, mas adoro vê-lo em papeis mais sérios, onde ele é a pessoa mais sóbria do filme. é bem divertido, cheio de pontas soltas, enigmas que polanski vai fazendo o público decifrar enquanto emula um clima de eurocrime e até elementos do giallo, nessa mistura de filme investigativo e sobrenatural, principalmente nas sequências europeias, onde consegue ser bem cirúrgico em alguns momentos e bem fantasioso em outros. às vezes o lado "over the top" funciona, como na cena de abertura e nos créditos iniciais, bem impactantes, e, em outras, nem tanto, como na cena em que há uma briga entre a personagem da lena olin e o johnny depp. um filme muito curioso, mas que, pra mim, funcionou melhor no papel do que na prática.
O Som do Silêncio
4.1 988 Assista Agoraum filme que em nenhum momento fala diretamente sobre a fama ou a profissão de músico, mas sim sobre o uso de silêncio como forma de ouvir o que a sua expressão artística tem a dizer. palmas para o trabalho de som.
Chorão: Marginal Alado
3.7 178 Assista Agoraabordagem simples e até discreta, sem muito "oba oba", dá conta da pessoa humilde que era chorão. tinha personalidade, sim, mas tratava a todos com respeito, e, como é dito no fim, mais do que a si mesmo. o final é dilacerente não porque quer causar esse efeito no espectador, mas porque a realidade foi assim.
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista Agoraprimeiramente, eu achei a ideia boa, e acho válido que o filme exista porque fomenta discussões importantes, mas achei a execução equivocada.
eu só consigo ter uma visão artificial desse filme porque, para mim, ele é um artifício, e não há nenhum problema em ser. eu particularmente adoro filmes como aves de rapina e scott pilgrim, que traduzem o conteúdo na forma, como se a relação entre ambos fosse simbiótica, mas eles bancam a inverossimilhança o tempo todo. é uma situação que só faz sentido naquele universo. quando um filme se propõe a ser sério, é preciso ter coragem de bancar essa posição, sustentar seu argumento. no caso, acho que, até nas histórias de vingança, existe a questão do sofrimento, e, de fato, a personagem sofre, mas o filme negligencia um pouco o sentimento pela pose de bad-ass dela, que mais parece uma vigilante dos quadrinhos e, mesmo sem querer, a diretora às vezes confunde um pouco as definições de cada lado. o filme deveria retratar a vítima e o abusador, e, se é para se comprometer, mostrar o que acontece, e não se basear em conceitos pré-definidos de bom ou mau (óbvio que quem comete um crime merece ser punido, e isso diz respeito ao caráter de cada um, mas ao transformar as pessoas em heróis e vilões caricaturizados, como personagens de desenho infantil, e não seres humanos, você corre o risco de se contradizer) para ditar como acontece. é bem diferente mostrar a condição de uma pessoa a tender para uma visão maniqueísta ou moralista, e eram os riscos que o filme corria, mas eu não sei se ele é tão consciente disso.
parece um pouco em cima do muro, como imaginar um filme super legal e descolado, com trilha sonora pop de britney spears e hits dos anos 2000, cores vibrantes e estilização digna de quadrinhos com as mesmas intenções de um filme de michael haneke. para o bem ou para o mal, eu preferia que assumisse uma posição. não teria nenhum problema no fato de o filme categorizar tanto suas personagens, se ele assumisse essa abordagem durante toda sua duração, e não tentasse ser mais crível, ou verossímil.
El Topo
4.0 219até mais ou menos meus 20 anos, eu "me escondia" de alguns filmes ou diretores, a vontade espontânea de ver nunca surgia porque eu reprimia ao máximo. era como se eu tivesse usando uma venda e mesmo assim fechasse os olhos, um mecanismo de defesa para velar o que já estava velado: meu medo de me sentir inferior à obra, como se eu não tivesse capacidade cognitiva de me abrir à experiência e sair das amarras do significado.
quando eu vejo um filme como "el topo" na tarde de um feriado de quarta-feira, porque não tinha nada melhor para ver, eu me sinto aliviado de ter tirado das costas (e da consciência) o peso de dar uma importância a um filme maior do que a que ele de fato tem, a ponto de me paralisar.
como eu li em outra review, o diretor se importa mais com simbolismos e representação do que pessoas. aqui, as personagens expressam ideias, não importa de onde elas vêm ou para onde elas vão, tampouco seus nomes. são objetos sem fundo, sem profundidade. só os seus gestos interessam, totalmente imprevisíveis.
Batman: O Retorno
3.4 851 Assista Agorao primeiro é mais coerente com a narrativa do batman enquanto herói, bom-moço, cidadão correto etc., mas é menos autoral, um filme que não se sustenta muito e tem um vilão tão over que mal dá para levá-lo a sério como um oponente, enquanto o batman de keaton se sustenta pela postura de agir mais do que falar, e com isso atingir um certo charme.
já nesse segundo filme, o batman é basicamente um coajudvante de luxo, saem o carisma e a personalidade de herói e ficam a arrogância e a antipatia de um rico que vive em uma mansão gigante. tanto a mulher-gato de michelle pfeiffer quanto o pinguim de danny devito possuem uma malícia que os garante uma imagem própria, independente, que vai muito além da opinião ou das ações combativas do batman, enquanto o coringa de nicholson tinha sua existência condicionada pelo herói, literalmente.
aqui já dá para perceber como tim burton tira sarro do mundo corporativo e dos grandes empresários. a personagem do christopher walken é, mesmo sem que ele interprete um vilão no papel, a mais odiada do filme, porque representa tudo o que há de mais ganancioso e corrupto nesse meio.
Batman
3.5 830 Assista Agorafoi o primeiro longa mais soturno do tim burton, e a arquitetura da mansão do batman é uma boa prévia da construção do castelo de "edward mãos de tesoura", com as conhecidas influências do expressionismo alemão, mas o filme em si é inofensivo, e isso que adoro tim burton de 80 a 90.
Regras da Atração
3.1 179 Assista Agorase "american pie" fosse dirigido pelo todd solondz, mais especificamente em "felicidade", muito provavelmente sairia algo parecido com isso. saem de cena os adultos em crise de meia-idade, e entram adolescentes com problemas de adultos (tópicos que tendem a ser romantizados em filmes indies mais comentados, são abordados aqui e, se você espremer um por um, só sai cinismo). mesmo assim, diferentemente dos filmes do solondz, aqui o diretor tem uma linguagem bem pop, usando flashbacks de uma forma bem criativa, rompendo bastante com a sequência lógica esperada, o que permite que conheçamos cada personagem por um ângulo diferente. então, apesar de se tratar de uma visão bem pessimista de mundo, o filme usa essa "cara" mais acessível, escalando no elenco principal o então astro de "dawson's creek" como quem quisesse dizer: "eles ainda são adolescentes privilegiados, rostinhos bonitos, e não pessoas miseráveis que sofrem". e acho que é até por isso que eu gostei bem mais do que, sei lá, felicidade, do solondz, que está mais para "misery porn". parece mais honesto, menos maniqueísta.
a "atração" do nome consiste em acreditar em algo, mas fazer exatamente o oposto, porque você só sabe se sabotar, se atrai pela ruína, e, o pior, se alimenta disso e busca isso.
"eu só transei com ela porque estou apaixonado por você!"
+Velozes +Furiosos
3.1 510 Assista Agorapor mais "velozes e furiosos" com cenas de luta corpo a corpo, um pouco menos de carros rolando no asfalto (ainda que seja um deleite ver isso), e mais homens rolando no chão (se a cena da briga entre o brian e o roman fosse um pouco mais longa, seria quase uma releitura do embate em "eles vivem"). trocação de soco sem motivo algum entre duas personagens que estão do mesmo lado é um conceito legal, e devia ser mais explorado.
esse filme ganha vantagem sobre o primeiro porque tem coadjuvantes melhores (suki <3) e o tyrese gibson tá mais solto e descolado que o vin diesel, mas em compensação senti falta do jeito mais direto do segundo.
próxima parada: tóquio!
A Pé Ele Não Vai Longe
3.6 122 Assista Agoradentre todos os filmes aleatórios que eu vi, esse provavelmente ganhará um lugar no top 3. me pergunto quando gus van sant se tornou um diretor tão cafona. quer dizer, ele sempre teve um lado emotivo, às vezes com efeitos positivos, como em "gênio indomável", e às vezes com efeitos negativos, como em "procurando forrester", mas esse seu lado auto-ajuda nunca foi tão evidente.
os atores estão convincentes, gosto do joaquin phoenix principalmente a partir da segunda metade (ainda que seja difícil levá-lo a sério com esse visual), mas quem rouba a cena, para mim, é o jonah hill. ganha meio ponto a mais pelas coadjuvantes de luxo kim gordon, carrie brownstein e beth ditto (van sant sempre teve bom gosto musical).
jack black pode ser um cara muito legal, mas suas caras e bocas e aqueles gestos que ele faz com a língua só funcionaram em escola de rock (não gosto de alta fidelidade versão filme), por isso sua segunda aparição no filme, já sóbrio, conversando com o joaquin phoenix, é muito provavelmente o ápice da carreira dele como ator sério.
p.s.: o ator sonny suljic, que vive o protagonista do ótimo anos 90, do jonah hill, faz uma ponta como um dos skatistas do bairro.
Clube dos Cinco
4.2 2,6K Assista Agorao filme ia muito bem enquanto trabalhava com os arquétipos pré-determinados das personagens, parece que elas tinham mais profundidade emocional, eram elas mesmas, e se baseavam em seus ideais para impor sua personalidade. funciona até a cena em que eles confessam o motivo real de estarem ali, que é muito boa e impactante. até ali, era óbvio que rolava uma tensão sexual muito sutil entre quatro personagens, mas que não havia sido explorada o suficiente para virar química e formar casais.
é tudo muito apressado, não tinha necessidade nenhuma de que aqueles adolescentes, até então pessoas comuns, com seus defeitos e virtudes, virassem modelos de revista, exalando sex appeal e desconstruindo totalmente a imagem formada até então. seria muito mais coerente manter essa questão nas entrelinhas, e focar mais no desenvolvimento narrativo.
Intimidade
3.1 27um filme sensual do avesso. tem o mesmo alcance imagético de um álbum do tindersticks (não à toa a música que abre o filme é deles) ou do the national, servindo de pano de fundo para as necessidades quase desesperadas de duas pessoas desamparadas, que mal sabem porque precisam uma da outra. seus corpos rolam pela cama, pela sujeira, e o sexo é sentido, nos mínimos toques, nos movimentos, e não encenado ou fingido, como nos filmes glamourizados tipicamente hollywoodianos, com atores que atingem um padrão de beleza inalcançável e se produzem para as cenas. mark rylance e kerry fox são bonitos sem precisar forçar uma imagem à qual eles não correspondem. se não bastasse tudo isso, é um dos únicos, se não o único, filmes que eu vi que mostram um homem tendo um orgasmo de verdade, se contorcendo e gemendo de prazer.
não entendo a média tão baixa.