Esforço interessante A Praia do Futuro. O sexo gay já no início do filme, sem pequenas pistas de que aconteceria, sem pegar na mão, surpreende. É corajoso. Faz isso pra depois falar de covardia. As concessões entre o desejo e o medo: Donato tem medo de ficar na Alemanha. O desejo vence, ele fica e põe no lugar o medo da exposição à família. Depois é o irmão que traz a dicotomia pra tela: tem medo de rever Donato. O desejo vence, ele aprende alemão e vai até o mano por... por desejo. Tese boa - e corajosa - a de Ainouz. Gosto disso.
Assim se faz um melodrama. Muito bom! Cada vez que o filme avançava ao inverossímil, eu pedia por mais. A estereotipação é das mais divertidas já colocadas em cinema. O presunto, o alho, a omelete, o sexo. Tudo tem cheiro. O culhão, o touro, o porco, o riquinho magricela. Tudo é texto mastigado e cuspido da boca da comédia. Que bom que não aparece o pau do Javier Badern, porque nada superaria o que fica subentendido. Já Penélope... pode mostrar tudo. É perfeita. Vai ter quem assista e queira trepar com multidão e ache que dá pra ir andando de Roraima ao Leblon, né? Zzzzz
Camus cantou a pedra. É preciso imaginar Sísifo feliz. Cabíria começa e termina o filme da mesma maneira: sobe com sua pedra o sonho-morro de amor para ser derrubada e refazer o trajeto. Ainda que goste mais do primeiro ato, em que Cabíria vive nos fundos da high society, as cenas mais bonitas são, mesmo, a da -ex- bela Bomba recebendo donativos e Cabíria hipnotizada. É preciso imaginar Cabíria feliz também. Como é bom Fellini.
que bom que o novo veio aí e, por isso, assisti a esse. Que beleza de filme pipoca! Acessível, divertido e de roteiro esperto. Quando as moças dizem no início que os caras desistiriam no lugar delas, e por isso elas deveriam ir, vi que não estava diante de um filme de terror bobo qualquer dos anos 90. É isso também. Mas feito muito bem. Aos olhos de hoje, algumas coisas não descem, como os estereótipos do negro sedutor e da mulher louca, mas, fora isso, filmaço.
Não sei qual era a expectativa do pessoal que não gostou, mas eu fiquei bem satisfeito. Sabia que seria uma produção modesta e acho que se realizou bastante com isso. Me parece haver dois sustentáculos muito claros que o filme deseja mostrar: como ela nunca foi vista como uma artista independente da Factory (Velvet, Andy, etc.), e como a maternidade, apesar de tudo, é um ponto central na vida de NIco. A atriz, embora não se aproxime da beleza da musa alemã - nem mesmo quando "feia" -, é de uma competência poucas vezes vista em cinebiografias. O elenco é bem decente, com destaque, também, para o ator que faz papel do filho perturbado. Se escuta Velvet Underground e aquele sotaque fascinante por 93 minutos. Quem não se deleita está morto por dentro :-p
A intenção é boa e a vida de Marighella é tão interessante que difícil mesmo seria realizar um filme chato sobre ela. Ainda assim, fica a sensação de que poderia ter sido muito mais. Em uma entrevista dessas por aí, vi Wagner Moura dizendo que faria um filmão. Tá bem. Comprei. Assistindo, fica nítido que ele tentou. Frases feitas sob medida para viralizarem... algumas delas sem timing, outras perdidas no meio do filme que não empolga. A fotografia, essa sim, belíssima. O texto, muito fraco. Todos as personagens parecem discursar numa audiência da ONU quando falam, exceto por Humberto Carrão e Bruno Gagliasso, não atoa, os mais interessantes do filme. O didatismo excessivo cansa, embora seja compreensível dado o peso que o cineasta deve ter sentido ao realizar um filme como esse em plena era bolsonarista. Era uma responsabilidade pesada demais para um filme de estreia. Aliás, alguns cacoetes de Tropa de Elite são colocados aqui sem que se entenda porquê. O saldo não é ruim... viva Margihella!
Fiquei intrigado com o quão gay o casal vilão era. Achei mesmo que tinha perdido alguma informação durante o filme que aliviasse essa sugestão. Legal ver na internet que isso não foi coisa da minha cabeça. Filme interessantíssimo.
Cheio de chantagens emocionais que não são superadas ao longo do filme. Francis é uma atriz incrível, mas não foi capaz de fazer Nomadland funcionar pra mim.
Há avulsa pela internet, ao pesquisar o nome do diretor e ator protagonista, a informação de que ele seria um Czarista. Ainda que pra mim chegue como notícia sem qualquer aprofundamento, pesa sobre O Sol Enganador. Há no longa uma tensão latente entre seu talento enquanto realizador de filmes e seu desejo extra-estético de propaganda, ou melhor, anti-propaganda. Seu talento é responsável por imprimir com mãos de mestre a trajetória do herói trágico anotada por Aristóteles que sugere a esse tipo de personagem o caráter nobre que enfrentará um fim trágico financiado por erros do passado. A transição entre o tom de humor pastelão do primeiro ato e a violência do terceiro é realizada com competência raramente alcançada. Em compensação, seu vício anticomunista é autor de escolhas infelizes que diminuem a obra, como o balão com o rosto de Stalin ao final e o acostumado desconforto que os artistas sentem na presença do coronel. Vale a pena ver com olhos sem capa... não serve pra quem vai assisti-lo de torcida.
Imaginem a seguinte cena: Você caminha pelo bairro quando de repente dá de cara com um bolo centralizado numa mesa. Uma singela mesa enfeitada sob um bolo muito cheiroso e muito belo, embora nada espalhafatoso. Nenhum sinal de que o bolo pertença a alguém, mas toda a situação parece duvidosa: Assim é a experiência de assistir este filme. Há por trás da aparência de despretensão muito sobre o que se debruçar, mas, aqueles mais ajuizados vão seguir caminho sem aventuras. Em somente 69 minutos, Hong Sang-soo abre mão de uma narrativa dramática tradicional para fazer ensaios que contemplam arte e filosofia. Vai embutida na pouca minutagem bastante material para reflexões: A estupidez dos empregos, inveja, ciúmes, parecer x ser, empoderamento artístico, autoconfiança, sexismo e mais e mais e mais... Há mesmo a impressão de que o filme é curto por nossa cabeça não conseguir assimilar mais discussões, caso houvesse extensão. Não discordo das pessoas que comentaram que a obra faz parecer que o diretor aproveitou estar em Cannes para fazer um filme e passar o tempo, só não entendo porque isso o desmereceria. Pelo contrário, somente um diretor com total domínio de sua poética seria capaz de realizar um filme como A câmera de Claire nos day-offs de uma viagem. Não posso condenar aqueles que seguiram seu caminho, com medo de cair numa pegadinha ao avançar à sobremesa, mas eu sou culpado: Mergulhei de cara neste bolo de reflexões. E que delícia.
Após o desastroso Aquarius, Kleber Mendonça Filho une forças à Juliano Dornelles para seu novo longa. Bacurau é a estória de uma cidade sertaneja que, esquecida pelas autoridades, engendra uma comunidade utopicamente unida: O velório da moradora antiga mexe com a cidade. O retorno da jovem graduada a todos alegra. A ideia de cumplicidade comunitária chega ao extremo na cena em que uma reunião para tomadas de decisões coletivas acontecem como na peça/filme Dogville, onde a falsa cidade cabe num palco. A vida fraterna e, dirão os mais afetados, comunista de Bacurau sofre ameaças quando forasteiros começam a aparecer pela cidade. Kleber Mendonça Filho dá sequência à seus vícios burgueses autoindulgentes e delírios fetichistas, mas, em Bacurau, os maus momentos são engolidos pela comédia farsesca: Toda a chantagem emocional de Aquarius volta a aparecer aqui, agora incorporada mais convincentemente na vida de pessoas pobres, mas são, quase todas as vezes, desarmados pela comédia. Na cena em que o inverossímil herói, criminoso queer de visual punk, retorna à cidade em câmera lenta para salvá-la dos ataques homicidas, uma senhorinha quebra a construção idólatra em uma frase: "Que roupa estranha, menino!" Sentindo também o peso das diversas ilações fáceis que tornam-se cada vez mais cansativas ao decorrer do longa, o vilão alemão arranja uma frase retcom: "Se quer ofender alguém, não use algo tão clichê."
Por fim, a sensação ao final de Bacurau é a de que o diretor nunca vai acertar a mão ao falar de Brasil por conhecê-lo somente através de relatos, mas há, pelo menos, a esperança de que ele saiba usar isso a seu favor.
Não gostei tanto do filme como me esforcei para gostar e preciso ser fiel àquele que está o tempo todo comigo. Duas razões me censuraram o prazer pelo filme:
1 - O "plágio": Coringa é uma fusão preguiçosa entre Taxi Driver e Rei da comédia. Chama-se Coringa e usa esse personagem só porque o que mais atrai gente aos cinemas hoje são filmes baseados em quadrinhos. Não há problema algum em lançar mão de influências, um exemplo contemporâneo que faz referências óbvias todo o tempo é Tarantino. Ele reutiliza cenas, mas em um arredor completamente próprio. Não é o caso aqui: O diretor não parece se apropriar de ideias, mas sim, da essência desses outros longas. Saí do cinema com uma sensação de que já havia assistido esse filme - e ele parecia melhor antes.
2 - Complexo de épico: Há nesse coringa VÁRIOS momentos que são claramente montados para ser grandiosos. O exemplo máximo fica para cena em que o protagonista mata pela primeira vez, foge em desespero, arruma um abrigo e segundos depois... começa a dançar. Sem qualquer sutileza. Uau, ele matou dois caras e a reação dele é dançar? Ele deve mesmo ser desequilibrado. É tratar o público por idiotas. Chega a ser irritante. Os grandes momentos do cinema nunca foram feitos assim... o que move a ideia de cinema é, claro, a pretensão, mas é preciso saber resistir às tentações que se colocam.
Sem contar Joaquin Phoenix que está, para mim, em uma de suas piores atuações (e me sinto confortável para dizê-lo por Joaquin ter seu sarrafo em altíssima altura) dos últimos 10 anos. Atirando pra tudo quanto é lado, tocando, sem qualquer coesão, todas as extremidades de uma atuação de Oscar que uma personagem como o Coringa proporciona. Por sorte há também talento. A cena em que os dois ex colegas de trabalho vão visitar o já transformado coringa é muito boa. E há outras. Mas, na era das franquias, na era dos remakes é um dever nosso não tratar esse como a grande obra da nossa época.
QUE B#STA, EIN? O filme ser longo não é um problema. O problema é ser ruim. Que triste a vida da moça que tem 5 apartamentos e é pressionada a abrir mão de um por 2 milhões, né? Não dá pra comprar a trama. Essa classe média alta que tem consciência de que é cuzona não é menos cuzona do que a que não tem. O filme não consegue disfarçar isso, apesar de tentar. E não fica empurrando um monte de capa de disco e de livro em mim, não. Adoro Paulinho da Viola, Gil, Betânia, sim... mas mostrar isso no filme não o melhora. A cena final é boa, quase salva o filme, mas... não.
7 Prisioneiros
3.9 318car4lho...
In Water
3.5 2que privilégio ser contemporâneo do Hong San-soo <3
Praia do Futuro
3.4 933 Assista Agora"Não vai dar mais pra ser super herói."
Esforço interessante A Praia do Futuro. O sexo gay já no início do filme, sem pequenas pistas de que aconteceria, sem pegar na mão, surpreende. É corajoso. Faz isso pra depois falar de covardia. As concessões entre o desejo e o medo: Donato tem medo de ficar na Alemanha. O desejo vence, ele fica e põe no lugar o medo da exposição à família. Depois é o irmão que traz a dicotomia pra tela: tem medo de rever Donato. O desejo vence, ele aprende alemão e vai até o mano por... por desejo. Tese boa - e corajosa - a de Ainouz. Gosto disso.
A Doce Vida
4.2 316 Assista AgoraNico <3
Com Um Pé no Céu
3.4 4onde assistir?
Jámon, Jámon
3.6 59Assim se faz um melodrama. Muito bom! Cada vez que o filme avançava ao inverossímil, eu pedia por mais. A estereotipação é das mais divertidas já colocadas em cinema. O presunto, o alho, a omelete, o sexo. Tudo tem cheiro. O culhão, o touro, o porco, o riquinho magricela. Tudo é texto mastigado e cuspido da boca da comédia.
Que bom que não aparece o pau do Javier Badern, porque nada superaria o que fica subentendido. Já Penélope... pode mostrar tudo. É perfeita.
Vai ter quem assista e queira trepar com multidão e ache que dá pra ir andando de Roraima ao Leblon, né? Zzzzz
Noites de Cabíria
4.5 381 Assista AgoraCamus cantou a pedra. É preciso imaginar Sísifo feliz. Cabíria começa e termina o filme da mesma maneira: sobe com sua pedra o sonho-morro de amor para ser derrubada e refazer o trajeto. Ainda que goste mais do primeiro ato, em que Cabíria vive nos fundos da high society, as cenas mais bonitas são, mesmo, a da -ex- bela Bomba recebendo donativos e Cabíria hipnotizada. É preciso imaginar Cabíria feliz também. Como é bom Fellini.
Cabeça de Nêgo
3.9 37onde assistir?
Crock of Gold: A Few Rounds with Shane MacGowan
4.9 3onde assistir?
O Mistério de Candyman
3.3 407 Assista Agoraque bom que o novo veio aí e, por isso, assisti a esse. Que beleza de filme pipoca! Acessível, divertido e de roteiro esperto. Quando as moças dizem no início que os caras desistiriam no lugar delas, e por isso elas deveriam ir, vi que não estava diante de um filme de terror bobo qualquer dos anos 90. É isso também. Mas feito muito bem. Aos olhos de hoje, algumas coisas não descem, como os estereótipos do negro sedutor e da mulher louca, mas, fora isso, filmaço.
Nico, 1988
3.4 23Não sei qual era a expectativa do pessoal que não gostou, mas eu fiquei bem satisfeito. Sabia que seria uma produção modesta e acho que se realizou bastante com isso.
Me parece haver dois sustentáculos muito claros que o filme deseja mostrar: como ela nunca foi vista como uma artista independente da Factory (Velvet, Andy, etc.), e como a maternidade, apesar de tudo, é um ponto central na vida de NIco. A atriz, embora não se aproxime da beleza da musa alemã - nem mesmo quando "feia" -, é de uma competência poucas vezes vista em cinebiografias. O elenco é bem decente, com destaque, também, para o ator que faz papel do filho perturbado. Se escuta Velvet Underground e aquele sotaque fascinante por 93 minutos. Quem não se deleita está morto por dentro :-p
Marighella
3.9 1,1K Assista AgoraA intenção é boa e a vida de Marighella é tão interessante que difícil mesmo seria realizar um filme chato sobre ela. Ainda assim, fica a sensação de que poderia ter sido muito mais. Em uma entrevista dessas por aí, vi Wagner Moura dizendo que faria um filmão. Tá bem. Comprei. Assistindo, fica nítido que ele tentou. Frases feitas sob medida para viralizarem... algumas delas sem timing, outras perdidas no meio do filme que não empolga. A fotografia, essa sim, belíssima. O texto, muito fraco. Todos as personagens parecem discursar numa audiência da ONU quando falam, exceto por Humberto Carrão e Bruno Gagliasso, não atoa, os mais interessantes do filme. O didatismo excessivo cansa, embora seja compreensível dado o peso que o cineasta deve ter sentido ao realizar um filme como esse em plena era bolsonarista. Era uma responsabilidade pesada demais para um filme de estreia. Aliás, alguns cacoetes de Tropa de Elite são colocados aqui sem que se entenda porquê. O saldo não é ruim... viva Margihella!
A Morte de um Burocrata
4.2 20 Assista Agoraquem já atravessou uma jornada burocrática frustrante, vai ficar agoniado. Como eu fiquei.
Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos
2.9 778A nota é injusta. O filme não tá na prateleira dos grandes filmes do diretor, mas garante um bom divertimento
Festim Diabólico
4.3 882 Assista AgoraFiquei intrigado com o quão gay o casal vilão era. Achei mesmo que tinha perdido alguma informação durante o filme que aliviasse essa sugestão. Legal ver na internet que isso não foi coisa da minha cabeça. Filme interessantíssimo.
Maridos e Esposas
3.9 108 Assista AgoraQue atuação do Sydney Pollack!
Nomadland
3.9 895 Assista AgoraCheio de chantagens emocionais que não são superadas ao longo do filme. Francis é uma atriz incrível, mas não foi capaz de fazer Nomadland funcionar pra mim.
O Sol Enganador
4.0 25Há avulsa pela internet, ao pesquisar o nome do diretor e ator protagonista, a informação de que ele seria um Czarista. Ainda que pra mim chegue como notícia sem qualquer aprofundamento, pesa sobre O Sol Enganador. Há no longa uma tensão latente entre seu talento enquanto realizador de filmes e seu desejo extra-estético de propaganda, ou melhor, anti-propaganda. Seu talento é responsável por imprimir com mãos de mestre a trajetória do herói trágico anotada por Aristóteles que sugere a esse tipo de personagem o caráter nobre que enfrentará um fim trágico financiado por erros do passado. A transição entre o tom de humor pastelão do primeiro ato e a violência do terceiro é realizada com competência raramente alcançada. Em compensação, seu vício anticomunista é autor de escolhas infelizes que diminuem a obra, como o balão com o rosto de Stalin ao final e o acostumado desconforto que os artistas sentem na presença do coronel. Vale a pena ver com olhos sem capa... não serve pra quem vai assisti-lo de torcida.
A Câmera de Claire
3.4 73 Assista AgoraImaginem a seguinte cena: Você caminha pelo bairro quando de repente dá de cara com um bolo centralizado numa mesa. Uma singela mesa enfeitada sob um bolo muito cheiroso e muito belo, embora nada espalhafatoso. Nenhum sinal de que o bolo pertença a alguém, mas toda a situação parece duvidosa: Assim é a experiência de assistir este filme. Há por trás da aparência de despretensão muito sobre o que se debruçar, mas, aqueles mais ajuizados vão seguir caminho sem aventuras.
Em somente 69 minutos, Hong Sang-soo abre mão de uma narrativa dramática tradicional para fazer ensaios que contemplam arte e filosofia. Vai embutida na pouca minutagem bastante material para reflexões: A estupidez dos empregos, inveja, ciúmes, parecer x ser, empoderamento artístico, autoconfiança, sexismo e mais e mais e mais... Há mesmo a impressão de que o filme é curto por nossa cabeça não conseguir assimilar mais discussões, caso houvesse extensão.
Não discordo das pessoas que comentaram que a obra faz parecer que o diretor aproveitou estar em Cannes para fazer um filme e passar o tempo, só não entendo porque isso o desmereceria. Pelo contrário, somente um diretor com total domínio de sua poética seria capaz de realizar um filme como A câmera de Claire nos day-offs de uma viagem.
Não posso condenar aqueles que seguiram seu caminho, com medo de cair numa pegadinha ao avançar à sobremesa, mas eu sou culpado: Mergulhei de cara neste bolo de reflexões. E que delícia.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraA COMÉDIA REDIME KLEBER MENDONÇA FILHO
Após o desastroso Aquarius, Kleber Mendonça Filho une forças à Juliano Dornelles para seu novo longa.
Bacurau é a estória de uma cidade sertaneja que, esquecida pelas autoridades, engendra uma comunidade utopicamente unida: O velório da moradora antiga mexe com a cidade. O retorno da jovem graduada a todos alegra. A ideia de cumplicidade comunitária chega ao extremo na cena em que uma reunião para tomadas de decisões coletivas acontecem como na peça/filme Dogville, onde a falsa cidade cabe num palco. A vida fraterna e, dirão os mais afetados, comunista de Bacurau sofre ameaças quando forasteiros começam a aparecer pela cidade.
Kleber Mendonça Filho dá sequência à seus vícios burgueses autoindulgentes e delírios fetichistas, mas, em Bacurau, os maus momentos são engolidos pela comédia farsesca: Toda a chantagem emocional de Aquarius volta a aparecer aqui, agora incorporada mais convincentemente na vida de pessoas pobres, mas são, quase todas as vezes, desarmados pela comédia. Na cena em que o inverossímil herói, criminoso queer de visual punk, retorna à cidade em câmera lenta para salvá-la dos ataques homicidas, uma senhorinha quebra a construção idólatra em uma frase: "Que roupa estranha, menino!"
Sentindo também o peso das diversas ilações fáceis que tornam-se cada vez mais cansativas ao decorrer do longa, o vilão alemão arranja uma frase retcom: "Se quer ofender alguém, não use algo tão clichê."
Por fim, a sensação ao final de Bacurau é a de que o diretor nunca vai acertar a mão ao falar de Brasil por conhecê-lo somente através de relatos, mas há, pelo menos, a esperança de que ele saiba usar isso a seu favor.
Torquato Neto - Todas as horas do fim
3.9 21 Assista AgoraALGUÉM TEM TORRENT?
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraNão gostei tanto do filme como me esforcei para gostar e preciso ser fiel àquele que está o tempo todo comigo. Duas razões me censuraram o prazer pelo filme:
1 - O "plágio": Coringa é uma fusão preguiçosa entre Taxi Driver e Rei da comédia. Chama-se Coringa e usa esse personagem só porque o que mais atrai gente aos cinemas hoje são filmes baseados em quadrinhos. Não há problema algum em lançar mão de influências, um exemplo contemporâneo que faz referências óbvias todo o tempo é Tarantino. Ele reutiliza cenas, mas em um arredor completamente próprio. Não é o caso aqui: O diretor não parece se apropriar de ideias, mas sim, da essência desses outros longas. Saí do cinema com uma sensação de que já havia assistido esse filme - e ele parecia melhor antes.
2 - Complexo de épico: Há nesse coringa VÁRIOS momentos que são claramente montados para ser grandiosos. O exemplo máximo fica para cena em que o protagonista mata pela primeira vez, foge em desespero, arruma um abrigo e segundos depois... começa a dançar. Sem qualquer sutileza. Uau, ele matou dois caras e a reação dele é dançar? Ele deve mesmo ser desequilibrado. É tratar o público por idiotas. Chega a ser irritante. Os grandes momentos do cinema nunca foram feitos assim... o que move a ideia de cinema é, claro, a pretensão, mas é preciso saber resistir às tentações que se colocam.
Sem contar Joaquin Phoenix que está, para mim, em uma de suas piores atuações (e me sinto confortável para dizê-lo por Joaquin ter seu sarrafo em altíssima altura) dos últimos 10 anos. Atirando pra tudo quanto é lado, tocando, sem qualquer coesão, todas as extremidades de uma atuação de Oscar que uma personagem como o Coringa proporciona.
Por sorte há também talento. A cena em que os dois ex colegas de trabalho vão visitar o já transformado coringa é muito boa. E há outras. Mas, na era das franquias, na era dos remakes é um dever nosso não tratar esse como a grande obra da nossa época.
Peaky Blinders: Sangue, Apostas e Navalhas (5ª Temporada)
4.4 256 Assista AgoraMichael e Poly como vilões da próxima temporada vai ser foda, ein?
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraQUE B#STA, EIN?
O filme ser longo não é um problema. O problema é ser ruim.
Que triste a vida da moça que tem 5 apartamentos e é pressionada a abrir mão de um por 2 milhões, né? Não dá pra comprar a trama. Essa classe média alta que tem consciência de que é cuzona não é menos cuzona do que a que não tem. O filme não consegue disfarçar isso, apesar de tentar.
E não fica empurrando um monte de capa de disco e de livro em mim, não. Adoro Paulinho da Viola, Gil, Betânia, sim... mas mostrar isso no filme não o melhora. A cena final é boa, quase salva o filme, mas... não.