É preciso ter em mente que o cinema de Terrence Malick não é aquele que lhe trará um roteiro linear nem tão pouco dinâmico. Isso posto, é bem possível que o público não se empolgue com seus filmes, entretanto, é preciso destacar a beleza dos planos apresentados e o modelo narrativo como forma estética. "De canção em canção" é um filme que trata das reflexões sobre os rumos dos seus relacionamentos. Talvez isso não fique claro na primeira camada, mas ao tirar da frente a questão dos triângulos amorosos que são os fios condutores do filme, encontra-se personagens narrando seus conflitos, suas dúvidas e decisões. Interessante observar que Malick propõe um roteiro que não deixa exposto ao expectador se há uma cronologia específica ou se é colocado alguns fatos conectados, mas não encadeados. Apenas como referência, e longe de qualquer comparação, "De canção em canção" lembra em sua forma alguns filmes do brasileiro Julio Bressane e do francês Alain Resnais. Nota 3 em 5
Trainspotting 2 é um filme que foi pensado para fãs. E trata-se de uma continuação clássica do ponto de vista cronológico e temporal. Não necessariamente se atém a explicar o primeiro filme, mas utiliza-se de referências evidentes nos seus planos fazendo alusão a primeira produção. É um filme que mostra as consequências das escolhas da juventude, mas não se preocupa em julgar explicitamente no que se transformaram os seus personagens, mas em reforçar que mesmo após 20 anos as escolhas da meia idade também trarão consigo os resultados à frente. Seria a vida uma sequência fílmica? Mais do que a vida dos personagens após 20 anos, Danny Boyle conseguiu inserir no contexto as transformações sócio-econômicas da Europa neste período, encaixando os personagens dentro desta realidade e consequentemente criando um novo cenário para o desenvolvimento da trama, com isso o diretor consegue "atualizar" o filme. Sinal evidente disso é a renovação da "profissão de fé" Choose Life que acontece em um dos diálogos dentro da trama, o qual inclusive destaco como ponto alto do filme. T2 em termos de trilha sonora não encanta tanto quanto o primeiro, mas tem boas canções encaixadas entre suas sequências. Como disse no início, é um filme para fãs, mas que pode ser assistido por quem não teve contato com o primeiro filme, sem muito prejuízo. Para um contemporâneo da geração de Renton & Cia, minha nota é 4 em 5.
Já inicio com o famoso comentário que muita gente deve fazer sobre este tipo de filme: "Eu não gosto de musicais, mas..." . Mas La La Land entra para a minha categoria de filmes queridos para confirmar a tal regra pessoal. O filme é de uma construção belíssima, excelentes planos, fotografia bem construída, paleta de cores impactante e um figurino na linha do menos é mais e é sempre mais! A dupla Emma Stone e Ryan Gosling funciona muito bem, inclusive nas limitações de canto que dão a história um fator, digamos, mais "realistico". A primeira cena do filme soou para mim como um cartão de visitas, um plano sequência de movimento de câmera bem dinâmico, com variações de geral a close, acompanhado por uma música gostosa de ouvir. Quem dera nosso trânsito fosse daquela forma. Referências ao cinema clássico não faltam, seja nas coreografias ou nas cenas inspiradas na grande época dos musicais. Ademais a trama fala de se construir a sua história. O diretor do filme que é a minha vida sou eu mesmo, são nos encontros e desencontros que aparecem nesta jornada que devo interpretar e viver com a intensidade máxima, de modo que quando eu desejar "rodar o filme" eu possa apreciar a minha crítica positiva. Damien Chazelle propõe claramente ao expectador o benefício do "E se..." dentro de um mundo imaginativo, o qual dá ao filme um adjetivo de encantador, afinal, a lembrança deste filme que é a sua vida necessita ser intenso, assim como La La Land. Nota 5 em 5.
Eu demorei para escrever sobre "A Chegada" por dois motivos: Tempo físico e tempo de reflexão. Sim é uma brincadeira com o filme...rsrs Deste modo, vou tentar dividir o texto em duas partes, a primeira um pouco mais técnica e a segunda, como de costume mais focada na mensagem filmográfica. Dennis Vilenneuve constrói um roteiro bem costurado, e bem no meu gosto pessoal, bagunçando a mente do espectador. Também traz efeitos especiais de muito bom gosto aliados a uma fotografia muito linear. A atuação de Amy Adams é matadora de Jeremy Renner faz uma escada legal para ela brilhar. Bem, quanto a mensagem, "A Chegada" entra para a galeria dos filmes do tipo "dê-me o tema e a gente correlaciona..." Tem tudo ali! Viagem no tempo, escolhas de vida, relações internacionais, relações pai-filho-esposa-marido-filha, enfim, bastante coisa. Mas o ponto que mais me intrigou é uma pergunta que me ficou batendo na cabeça ao final do filme: Se você soubesse o que aconteceria no seu futuro, o que você faria? Olhar para o passado e dizer o que faria de diferente talvez seja mais fácil do que olhar para o futuro e dizer o que fazer no agora, qual a decisão. Você optará por passar pelas provações que a vida lhe proporá, ou fará algo para mudar o curso da sua história e de outros? A fluidez entre tempos proposta por Villeneuve consegue ambientar este questionamento que eu definiria como até "moral / ético" e para mim a beleza do filme está ai. Na linguagem popular, a gente manda: "Vai encarar ou vai arregar!"
Pense em um filme tenso durante todo o seu curso. Animais Noturnos é assim porque a vida é tensa. Porque saber que as escolhas e ações que você fez ou faz podem afetar alguém de maneira tão profunda que o afetado pode correlacionar suas feridas com qualquer outra violência que você nem imagina. E o pior é você descobrir que as escolhas que você fez ou faz afetam também a sua vida de forma violenta e deixam cicatrizes que não podem ser tocadas. Tom Ford trabalha muito bem a questão da história dentro da história e deixa apimentar com mais uma 3ª história, o que deixa o filme tensionado em 3 linhas interligadas. As transições temporais durante a trama também chamam a atenção e dão as correlações necessárias ao expectador para o entendimento do contexto geral do filme. Amy Adams e Jake Gyllenhaal estão ótimos e seguram bem as interpretações. Nota 4 em 5
Doutor Estranho vem para confirmar o modelo comercial de sucesso que a Marvel repete baseado nas histórias em quadrinhos. O de conexão entre as produções, onde o espectador para entender o todo, precisa ter assistido a outros filmes da produtora. O roteiro do filme é OK e ganha bastante com a interpretação do versátil Benedict Comberbatch, que é muito semelhante fisicamente ao personagem dos quadrinhos, entretanto, os antagonistas não criam a devida conexão com o espectador, deixando a desejar. O que chama bastante a atenção é a qualidade dos efeitos que correspondem muito bem às demandas de uma história de magia e ilusionismo. Segue-se ainda um roteiro que marca bem o modelo Marvel que é o do constante conflito moral, ético e de personalidade dos personagens, que contribui para a humanização do herói, trazendo de certa forma um pouco de realismo à trama. Nota 3,5 em 5
Andrzej Wajda constrói uma parte de sua obra para retratar a luta da classe trabalhadora contra o modelo do regime socialista na Polônia. "O homem de ferro" é a continuação de um outro filme chamado "O homem de mármore". Wajda nos conta a forma como o regime funcionava através das figuras de seus personagens, estando eles inseridos dentro de um contexto real. Por isso, o diretor lança mão por várias vezes de imagens reais da época das greves dos trabalhadores e estudantes. Trata-se de um filme denso, ao estilo Wajda, nos quais os diálogos tem grandes nuances para se compreender os contextos que estão sendo vividos. Apresenta-se ali também, a crítica ao sistema, ao distanciamento do governo de seu povo e o modus operandi de uma política que pensa que tudo é obra de uma oposição não representativa do povo. Nota 4,5 em 5
Entrelinhas é um filme com grande pretensões, mas que falha na sua entrega. Ele se inicia dando elementos ricos para contar uma boa história de realidade misturada com ficção dentro do próprio filme, mas acaba tropeçando em seu próprio roteiro e em uma montagem que faz o filme parecer uma série de TV pré advento da Netflix. Jaqueline é uma autora que escreve peças baseadas em suas próprias vivências e sonhos, e encontra o diretor de teatro Skene que resolve encenar uma de suas obras. No período de preparação da peça, Skene vai se envolvendo com Jaqueline, em um movimento que remete a como o teatro flerta com a literatura enquanto artes distintas mas interligadas. Jaqueline por sua vez, provoca Skene com suas histórias que confundem fantasia com realidade, assim como ela faz com seus outros casos de amor. Para mim, perde-se a oportunidade de apresentar algo mais rico em termos estéticos e de roteiro. Nota 2,5 em 5
Neste filme de Oliver Hirschbiegel, que é o mesmo diretor de "A queda", volta-se a tratar as histórias do Nazismo. Em A queda, o foco é apresentar o crepúsculo de um regime. Já em 13 minutos, o objetivo é mostrar o seu desenvolvimento e como aquilo se intensificava dentro da sociedade alemã. É um filme biográfico, que conta a história de Georg Elser, um homem comum da Alemanha, que ousou tentar matar Hitler. O filme segue um formato que alterna cenas da pós prisão de Elser, com as lembranças da trajetória que o fez tomar a decisão de realizar o atentado. O que chama a atenção durante o filme é como se demonstra os "sintomas" de uma sociedade politicamente doente. Em sua maioria as pessoas ainda não se deram conta do que há por vir, mas as suas ações, as ações do governo e a intolerância presente começam a dar os sinais do que a sociedade alemã vai se transformar. Evidente que o principal fio condutor da história é o atentado provocado por Elser, mas em tempos tumultuados, a periferia de 13 minutos tem muito a nos mostrar. Nota 4 em 5
Os Demônios é o primeiro trabalho de ficção de Philippe Lesage, talvez por isso, o ritmo impresso à trama tenha mais de acompanhamento do desenvolvimento do personagem principal do que ao enlace do roteiro em sua totalidade, mas isso não pode ser encarado como algo ruim. Felix está naquela idade de descoberta, e o mérito do filme é demonstrar as desconfianças, conclusões e suposições do personagem em seus atos e não somente na fala. O filme está ambientado ali pelos anos 80 início dos 90 e o diretor faz isso de maneira bastante discreta, o que também é um ponto alto do roteiro. Os Demônios fala sobre a descoberta, e é só através dela que você os exorcisa, um a um. Nota 3,5 em 5
Através do muro é mais um filme que nos pega pela fofura. O importante aqui é ponderar a cultura na qual ela se desenvolve, uma vez que Rama Burshtein é uma cineasta bastante ligada à comunidade Judaica Ortodoxa, logo, os valores que a personagem protagonista Michal tem para a vida é casar-se com o homem ideal para que possa estar mais ativa junto a tudo o que a comunidade judaica tem de tradição. Mas Michal já tem 32 anos e ainda não conseguiu encontrar o marido ideal. É ai que ela decide colocar o marco de reservar o salão, preparar os convites, ajustar a cerimônia e ai sim... procurar o noivo. Em certa altura da trama, você acha que a diretora entrega o final precocemente, mas quando se dá conta ela consegue montar possibilidades que deixam o 3º ato bem indefinido. Reforçando as ponderações culturais, podemos trazer Michal como a mulher que sonha, mas com certa dificuldade de realização, entretanto, ela descobre que Deus vai iluminar seus caminhos a partir de seus próprios olhos e de suas decisões. Nota 3,5 em 5
Barravento é uma obra fundamental de Glauber Rocha realizada em 1961 e que ainda impressiona pela sua atualidade. Uma das principais características dos filmes do Cinema Novo é o retrato profundo da população brasileira, bem como a capacidade de se contar histórias através deste ambiente. Barravento se passa no litoral da Bahia e nos apresenta uma comunidade de pescadores com grande religiosidade e que trabalha exclusivamente para um grande comerciante de peixes da cidade que imprime suas regras àquele povo. Quando Firmino chega da cidade com novidades, onde guarda-se certa semelhança com a Parábola da Caverna de Platão, provoca as condições necessárias para o início do Barravento, que é a ruptura com a antiga condição daquela vila de pescadores. Lindo filme, trilha sonora incrível, imagens belíssimas. Um retrato brasileiro! Nota 5 em 5
Eryk Rocha cria um documentário fascinante contando através de trechos de filmes, a história do principal movimento cinematográfico brasileiro. O cinema novo. A competência aqui se explica porque Eryk faz o desenvolvimento do filme através de uma linha de transições desde o início da ideia até o seu legado, e ainda nos entrega o serviço de contar um trecho importante da história do Brasil, cultural e politicamente. Em tempos onde há a dificuldade de se redescobrir como nação, Cinema Novo nos coloca em contato com o passado para podermos descortinar melhor o presente e quiçá o futuro. Soma-se a isso, a bela homenagem aos militantes deste movimento, que não se resume apenas ao expoente do pai de Eryk, Glauber Rocha, mas a Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirzman, Nelson Pereira do Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr e por ai vai. Nota 4,5 em 5
Sonar é daquelas histórias que tratam da obsessão. Thomaz é um aplicado engenheiro de som que grava tudo a sua volta, capta sons com seus equipamentos e os trabalha metodicamente. Sua vida muda quando conhece a marroquina ilegal Amina, que é uma personagem marcante, com posicionamentos firmes e uma história de vida desconhecida e que a perturba. Ao envolver-se com Amina, Thomaz vê-se obcecado por entender e conhecer aquela jovem mulher, e lança-se nesta busca utilizando o elemento que melhor consegue captar, gravando sons. É ouvindo, gravando e editando que Thomaz vai descobrindo a história de Amina e resgatando um passado escondido. Vê-se um belo plot, mas no seu desenvolvimento perde-se um pouco do ritmo, deixando o filme um tanto tedioso, mas volta a ganhar força no seu final. Nota 3 em 5
Ao ler a resenha e sem conhecer a história da produção você pode imaginar, como eu, que se trata de um drama água com açúcar, mas La Vingança entrega o que não promete. Trata-se de uma comédia que busca seguir os padrões comerciais nacionais para o gênero, e que no final das contas, se mostra um pouco melhor do que seus filmes pares da história recente. A história gira em torno da "rivalidade" Brasil-Argentina que se mostra quando um brasileiro flagra sua namorada o traindo com um argentino. Caco, o traído encontra consolo no amigo solteirão Vadão, que propõe uma viagem à Argentina para se vingar do fato, com o mote "Se os argentinos pegam as brasileiras, lá vamos nós pegar as argentinas". Bem, é no trajeto da viagem que as confusões acontecem no ritmo das nossas comédias com muita provocação entre brasileiros e hermanos. Passa de ano. Nota 3 em 5
Uma das coisas mais singelas do mundo é um pai brincando e contando histórias para seu filho, certo? Mas este filme torna essa imagem quase que insuportável por querer trabalhar excessivamente uma história de pai para filho como narrativa para o desenvolvimento do filme. O que se vê é um desenvolvimento cansativo, com um diálogo interminável em plano fechado na maior parte do tempo, o que nem dá ao espectador a oportunidade de viajar na exuberante paisagem onde se desenvolve o filme. Nota 1,5 em 5
Atenção roteiristas! Vejam este filme do Asghar Farhadi. O desenvolvimento da história é fantástico, prendendo a atenção do espectador durante toda a trama e mantendo uma tensão que vai fluindo no decorrer do filme. O apartamento trata da história de um casal de atores que são obrigados a mudar de casa devido a um colapso estrutural no seu prédio. Na nova morada , Rana é violentada após uma invasão em seu apartamento. Sua negação em procurar a polícia (contextualiza-se aqui a cultura iraniana) faz com que seu marido Emad faça a investigação para encontrar o autor do crime. Para mim fica a metáfora da mudança que forçada por situações alheias a sua vontade, te leva para outro lugar mas não lhe desobriga a estar atento a outros acontecimentos que podem vir a ocorrer e lhe tirar a paz que tanto busca. Nota 4,5 em 5
Fukushima mon amour entra para a galeria dos filmes fofos que devemos assistir. A referência com o título do filme de Alain Resnais, fica somente no nome, pois trata-se ali de um cenário mais atualizado. O pano de fundo dos desastres decorrentes do terremoto em Fukushima apresenta Marie, que destroçada por um fracasso amoroso resolve ir para o Japão na busca pela reconstrução de sua vida, e é ali que encontra pessoas que resistem para reconstruir suas vidas em uma cidade praticamente devastada pelo acidente nuclear ocorrido ali. E é neste ambiente que Marie encontra Satomi, que de maneira especial, busca reconstruir o seu lar, porém, muito mais focada em tentar se reconectar com o seu passado. A conexão entre as duas, tão diferentes cultural e fisicamente, proporciona o aprendizado de que reconstituir também significa olhar para a frente, aprendendo com o passado mas conectando-se com o futuro. Nota 4 em 5
O Nascimento de uma Nação é filme grande. E por que para mim é nesta linha? Porque ousa contestar. E começa pelo título homônimo do clássico de D.W.Griffith , só que contando a história "as avessas", colocando o outro lado, mesmo 100 anos depois do filme de Griffith. O Nascimento ainda contesta o quanto o conservadorismo se utiliza de peças estratégicas para manter os seus privilégios, e a seu modo manter os oprimidos sob suas rédeas para que não questionem, afinal, "os livros de brancos não podem ser lidos pela sua espécie, vocês não entenderiam". Há a contestação do quão é justificável a reação violenta, a decisão de entrar em uma guerra para derramar sangue e consequentemente sofrer os contragolpes inevitáveis, mas deixando o legado de que se faz necessário sempre contestar. Nota 5 em 5
Este filme tem tudo para se tornar um ícone documental das questões LGBT no Brasil. Além de uma homenagem às artistas, também é apresentado como era viver a homossexualidade nos anos 60 no país. Soma-se a isto, ainda a questão pessoal e afetiva da diretora Leandra Leal com o tema, uma vez que seu avô era o dono do Teatro onde haviam os shows de transformistas nesta época no Rio de Janeiro. As histórias que ali se passam, contadas pelas protagonistas que ousaram em época de repressão, assumir sua personalidade diante de um país conservador, trazem consigo a constante lembrança que é preciso e urgente, criar as condições para que as pessoas vivam sua sexualidade sem julgamentos públicos, em uma sociedade que pratique de fato o respeito à diversidade. Nota 4,5/5
Alice de Andrade foi para Cuba literalmente e traz consigo um documentário que mostra como vivem os casais que 20 anos atrás ela mesmo filmou para serem o fio condutor de um retrato da ilha. O filme mostra o início das transformações que começam a surgir em Cuba após o restabelecimento das relações diplomáticas com os EUA. E as famílias ali retratadas, representam de alguma forma as expectativas para mudanças que certamente virão. É na ilustração de uma vida de luta, distâncias por aqueles que sairam de Cuba e principalmente esperança, que se encontra neste filme uma apresentação de um futuro ainda que incerto, mas que deve transformar vidas. Nota 3 em 5
Assistir a um filme de Julio Bressane é antes de tudo entrar em contato com a beleza estética da imagem e com a inevitável reflexão de diálogos provocativos, em um movimento que mistura a intensidade do teatro com a expressão cinematográfica. Não espere um filme de roteiro linear, este não é o objetivo de Bressane, o que me parece transmitir é que o observador de sua obra seja um participante do roteiro, que pense por si só sobre o que se passa a sua frente. Tem-se em Beduíno o diálogo do masculino com o feminino, seus encontros e desencontros, bem como suas visões sobre as questões filosóficas a que estão colocados. Nota 3,5 em 5
The Young Pope deve se transformar em uma microssérie para a TV, e teve seus primeiros episódios apresentados na 40ª Mostra. Simplesmente uma voadora questionadora sobre a estrutura do Vaticano, sem medo e sem culpa. Trata-se de uma história sobre uma eleição papal onde sobe ao cargo um Pio XIII déspota, vaidoso e com fome de mudar todo o status quo da Igreja, rompendo as hierarquias, tradições e dogmas de uma só vez. A pergunta do novo Papa, muito bem interpretado por Jude Law é "O que perdemos?", que contesta não só o clero, mas o povo católico de forma geral. O filme tem cenas extremamente fortes no contexto dogmático católico romano, iniciando com um plano chocante, seguido de um discurso papal muito forte e revelador. Nota 4,5 em 5
A qualidade estética impressa por Paolo Sorrentino já é bem sentida neste filme de 2001, estão lá bons planos-sequência, alguns travellings e prudentes planos que dão ritmo à história. Ademais, o que para mim ficou de mensagem é a questão da decadência do homem e a sua busca pelo recomeço, que passa inevitavelmente pela depressão inicial, a negação para a nova realidade e a decisão de ir ou não em frente e como fazê-lo. Trabalha-se a questão da autoestima frente as nossas derrotas, o quão abalados e capazes de ressurgir após o luto imediato. É certo que o renascimento passa por renúncias de aspectos e comportamentos passados, mas principalmente por descobertas de que pode-se ainda encontrar um outro caminho. Nota 3,5 em 5
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraÉ preciso ter em mente que o cinema de Terrence Malick não é aquele que lhe trará um roteiro linear nem tão pouco dinâmico. Isso posto, é bem possível que o público não se empolgue com seus filmes, entretanto, é preciso destacar a beleza dos planos apresentados e o modelo narrativo como forma estética.
"De canção em canção" é um filme que trata das reflexões sobre os rumos dos seus relacionamentos. Talvez isso não fique claro na primeira camada, mas ao tirar da frente a questão dos triângulos amorosos que são os fios condutores do filme, encontra-se personagens narrando seus conflitos, suas dúvidas e decisões.
Interessante observar que Malick propõe um roteiro que não deixa exposto ao expectador se há uma cronologia específica ou se é colocado alguns fatos conectados, mas não encadeados.
Apenas como referência, e longe de qualquer comparação, "De canção em canção" lembra em sua forma alguns filmes do brasileiro Julio Bressane e do francês Alain Resnais.
Nota 3 em 5
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraTrainspotting 2 é um filme que foi pensado para fãs. E trata-se de uma continuação clássica do ponto de vista cronológico e temporal. Não necessariamente se atém a explicar o primeiro filme, mas utiliza-se de referências evidentes nos seus planos fazendo alusão a primeira produção.
É um filme que mostra as consequências das escolhas da juventude, mas não se preocupa em julgar explicitamente no que se transformaram os seus personagens, mas em reforçar que mesmo após 20 anos as escolhas da meia idade também trarão consigo os resultados à frente. Seria a vida uma sequência fílmica?
Mais do que a vida dos personagens após 20 anos, Danny Boyle conseguiu inserir no contexto as transformações sócio-econômicas da Europa neste período, encaixando os personagens dentro desta realidade e consequentemente criando um novo cenário para o desenvolvimento da trama, com isso o diretor consegue "atualizar" o filme. Sinal evidente disso é a renovação da "profissão de fé" Choose Life que acontece em um dos diálogos dentro da trama, o qual inclusive destaco como ponto alto do filme.
T2 em termos de trilha sonora não encanta tanto quanto o primeiro, mas tem boas canções encaixadas entre suas sequências.
Como disse no início, é um filme para fãs, mas que pode ser assistido por quem não teve contato com o primeiro filme, sem muito prejuízo.
Para um contemporâneo da geração de Renton & Cia, minha nota é 4 em 5.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraJá inicio com o famoso comentário que muita gente deve fazer sobre este tipo de filme: "Eu não gosto de musicais, mas..." . Mas La La Land entra para a minha categoria de filmes queridos para confirmar a tal regra pessoal.
O filme é de uma construção belíssima, excelentes planos, fotografia bem construída, paleta de cores impactante e um figurino na linha do menos é mais e é sempre mais!
A dupla Emma Stone e Ryan Gosling funciona muito bem, inclusive nas limitações de canto que dão a história um fator, digamos, mais "realistico".
A primeira cena do filme soou para mim como um cartão de visitas, um plano sequência de movimento de câmera bem dinâmico, com variações de geral a close, acompanhado por uma música gostosa de ouvir. Quem dera nosso trânsito fosse daquela forma.
Referências ao cinema clássico não faltam, seja nas coreografias ou nas cenas inspiradas na grande época dos musicais.
Ademais a trama fala de se construir a sua história. O diretor do filme que é a minha vida sou eu mesmo, são nos encontros e desencontros que aparecem nesta jornada que devo interpretar e viver com a intensidade máxima, de modo que quando eu desejar "rodar o filme" eu possa apreciar a minha crítica positiva. Damien Chazelle propõe claramente ao expectador o benefício do "E se..." dentro de um mundo imaginativo, o qual dá ao filme um adjetivo de encantador, afinal, a lembrança deste filme que é a sua vida necessita ser intenso, assim como La La Land.
Nota 5 em 5.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraEu demorei para escrever sobre "A Chegada" por dois motivos: Tempo físico e tempo de reflexão. Sim é uma brincadeira com o filme...rsrs
Deste modo, vou tentar dividir o texto em duas partes, a primeira um pouco mais técnica e a segunda, como de costume mais focada na mensagem filmográfica.
Dennis Vilenneuve constrói um roteiro bem costurado, e bem no meu gosto pessoal, bagunçando a mente do espectador. Também traz efeitos especiais de muito bom gosto aliados a uma fotografia muito linear. A atuação de Amy Adams é matadora de Jeremy Renner faz uma escada legal para ela brilhar.
Bem, quanto a mensagem, "A Chegada" entra para a galeria dos filmes do tipo "dê-me o tema e a gente correlaciona..." Tem tudo ali! Viagem no tempo, escolhas de vida, relações internacionais, relações pai-filho-esposa-marido-filha, enfim, bastante coisa.
Mas o ponto que mais me intrigou é uma pergunta que me ficou batendo na cabeça ao final do filme: Se você soubesse o que aconteceria no seu futuro, o que você faria?
Olhar para o passado e dizer o que faria de diferente talvez seja mais fácil do que olhar para o futuro e dizer o que fazer no agora, qual a decisão. Você optará por passar pelas provações que a vida lhe proporá, ou fará algo para mudar o curso da sua história e de outros?
A fluidez entre tempos proposta por Villeneuve consegue ambientar este questionamento que eu definiria como até "moral / ético" e para mim a beleza do filme está ai. Na linguagem popular, a gente manda: "Vai encarar ou vai arregar!"
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraPense em um filme tenso durante todo o seu curso.
Animais Noturnos é assim porque a vida é tensa. Porque saber que as escolhas e ações que você fez ou faz podem afetar alguém de maneira tão profunda que o afetado pode correlacionar suas feridas com qualquer outra violência que você nem imagina. E o pior é você descobrir que as escolhas que você fez ou faz afetam também a sua vida de forma violenta e deixam cicatrizes que não podem ser tocadas.
Tom Ford trabalha muito bem a questão da história dentro da história e deixa apimentar com mais uma 3ª história, o que deixa o filme tensionado em 3 linhas interligadas.
As transições temporais durante a trama também chamam a atenção e dão as correlações necessárias ao expectador para o entendimento do contexto geral do filme.
Amy Adams e Jake Gyllenhaal estão ótimos e seguram bem as interpretações.
Nota 4 em 5
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraDoutor Estranho vem para confirmar o modelo comercial de sucesso que a Marvel repete baseado nas histórias em quadrinhos. O de conexão entre as produções, onde o espectador para entender o todo, precisa ter assistido a outros filmes da produtora.
O roteiro do filme é OK e ganha bastante com a interpretação do versátil Benedict Comberbatch, que é muito semelhante fisicamente ao personagem dos quadrinhos, entretanto, os antagonistas não criam a devida conexão com o espectador, deixando a desejar. O que chama bastante a atenção é a qualidade dos efeitos que correspondem muito bem às demandas de uma história de magia e ilusionismo.
Segue-se ainda um roteiro que marca bem o modelo Marvel que é o do constante conflito moral, ético e de personalidade dos personagens, que contribui para a humanização do herói, trazendo de certa forma um pouco de realismo à trama.
Nota 3,5 em 5
O Homem de Ferro
3.7 18Andrzej Wajda constrói uma parte de sua obra para retratar a luta da classe trabalhadora contra o modelo do regime socialista na Polônia. "O homem de ferro" é a continuação de um outro filme chamado "O homem de mármore".
Wajda nos conta a forma como o regime funcionava através das figuras de seus personagens, estando eles inseridos dentro de um contexto real. Por isso, o diretor lança mão por várias vezes de imagens reais da época das greves dos trabalhadores e estudantes.
Trata-se de um filme denso, ao estilo Wajda, nos quais os diálogos tem grandes nuances para se compreender os contextos que estão sendo vividos. Apresenta-se ali também, a crítica ao sistema, ao distanciamento do governo de seu povo e o modus operandi de uma política que pensa que tudo é obra de uma oposição não representativa do povo.
Nota 4,5 em 5
Entrelinhas
2.5 2Entrelinhas é um filme com grande pretensões, mas que falha na sua entrega. Ele se inicia dando elementos ricos para contar uma boa história de realidade misturada com ficção dentro do próprio filme, mas acaba tropeçando em seu próprio roteiro e em uma montagem que faz o filme parecer uma série de TV pré advento da Netflix.
Jaqueline é uma autora que escreve peças baseadas em suas próprias vivências e sonhos, e encontra o diretor de teatro Skene que resolve encenar uma de suas obras. No período de preparação da peça, Skene vai se envolvendo com Jaqueline, em um movimento que remete a como o teatro flerta com a literatura enquanto artes distintas mas interligadas. Jaqueline por sua vez, provoca Skene com suas histórias que confundem fantasia com realidade, assim como ela faz com seus outros casos de amor.
Para mim, perde-se a oportunidade de apresentar algo mais rico em termos estéticos e de roteiro.
Nota 2,5 em 5
13 Minutos
3.6 50 Assista AgoraNeste filme de Oliver Hirschbiegel, que é o mesmo diretor de "A queda", volta-se a tratar as histórias do Nazismo. Em A queda, o foco é apresentar o crepúsculo de um regime. Já em 13 minutos, o objetivo é mostrar o seu desenvolvimento e como aquilo se intensificava dentro da sociedade alemã.
É um filme biográfico, que conta a história de Georg Elser, um homem comum da Alemanha, que ousou tentar matar Hitler. O filme segue um formato que alterna cenas da pós prisão de Elser, com as lembranças da trajetória que o fez tomar a decisão de realizar o atentado.
O que chama a atenção durante o filme é como se demonstra os "sintomas" de uma sociedade politicamente doente. Em sua maioria as pessoas ainda não se deram conta do que há por vir, mas as suas ações, as ações do governo e a intolerância presente começam a dar os sinais do que a sociedade alemã vai se transformar. Evidente que o principal fio condutor da história é o atentado provocado por Elser, mas em tempos tumultuados, a periferia de 13 minutos tem muito a nos mostrar.
Nota 4 em 5
Demônios
3.3 29Os Demônios é o primeiro trabalho de ficção de Philippe Lesage, talvez por isso, o ritmo impresso à trama tenha mais de acompanhamento do desenvolvimento do personagem principal do que ao enlace do roteiro em sua totalidade, mas isso não pode ser encarado como algo ruim.
Felix está naquela idade de descoberta, e o mérito do filme é demonstrar as desconfianças, conclusões e suposições do personagem em seus atos e não somente na fala.
O filme está ambientado ali pelos anos 80 início dos 90 e o diretor faz isso de maneira bastante discreta, o que também é um ponto alto do roteiro.
Os Demônios fala sobre a descoberta, e é só através dela que você os exorcisa, um a um.
Nota 3,5 em 5
Através do Muro
3.4 2Através do muro é mais um filme que nos pega pela fofura. O importante aqui é ponderar a cultura na qual ela se desenvolve, uma vez que Rama Burshtein é uma cineasta bastante ligada à comunidade Judaica Ortodoxa, logo, os valores que a personagem protagonista Michal tem para a vida é casar-se com o homem ideal para que possa estar mais ativa junto a tudo o que a comunidade judaica tem de tradição.
Mas Michal já tem 32 anos e ainda não conseguiu encontrar o marido ideal. É ai que ela decide colocar o marco de reservar o salão, preparar os convites, ajustar a cerimônia e ai sim... procurar o noivo.
Em certa altura da trama, você acha que a diretora entrega o final precocemente, mas quando se dá conta ela consegue montar possibilidades que deixam o 3º ato bem indefinido.
Reforçando as ponderações culturais, podemos trazer Michal como a mulher que sonha, mas com certa dificuldade de realização, entretanto, ela descobre que Deus vai iluminar seus caminhos a partir de seus próprios olhos e de suas decisões.
Nota 3,5 em 5
Barravento
3.9 70Barravento é uma obra fundamental de Glauber Rocha realizada em 1961 e que ainda impressiona pela sua atualidade.
Uma das principais características dos filmes do Cinema Novo é o retrato profundo da população brasileira, bem como a capacidade de se contar histórias através deste ambiente.
Barravento se passa no litoral da Bahia e nos apresenta uma comunidade de pescadores com grande religiosidade e que trabalha exclusivamente para um grande comerciante de peixes da cidade que imprime suas regras àquele povo.
Quando Firmino chega da cidade com novidades, onde guarda-se certa semelhança com a Parábola da Caverna de Platão, provoca as condições necessárias para o início do Barravento, que é a ruptura com a antiga condição daquela vila de pescadores.
Lindo filme, trilha sonora incrível, imagens belíssimas. Um retrato brasileiro!
Nota 5 em 5
Cinema Novo
3.9 55Eryk Rocha cria um documentário fascinante contando através de trechos de filmes, a história do principal movimento cinematográfico brasileiro. O cinema novo.
A competência aqui se explica porque Eryk faz o desenvolvimento do filme através de uma linha de transições desde o início da ideia até o seu legado, e ainda nos entrega o serviço de contar um trecho importante da história do Brasil, cultural e politicamente.
Em tempos onde há a dificuldade de se redescobrir como nação, Cinema Novo nos coloca em contato com o passado para podermos descortinar melhor o presente e quiçá o futuro.
Soma-se a isso, a bela homenagem aos militantes deste movimento, que não se resume apenas ao expoente do pai de Eryk, Glauber Rocha, mas a Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirzman, Nelson Pereira do Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr e por ai vai.
Nota 4,5 em 5
Sonar
3.1 2Sonar é daquelas histórias que tratam da obsessão. Thomaz é um aplicado engenheiro de som que grava tudo a sua volta, capta sons com seus equipamentos e os trabalha metodicamente. Sua vida muda quando conhece a marroquina ilegal Amina, que é uma personagem marcante, com posicionamentos firmes e uma história de vida desconhecida e que a perturba.
Ao envolver-se com Amina, Thomaz vê-se obcecado por entender e conhecer aquela jovem mulher, e lança-se nesta busca utilizando o elemento que melhor consegue captar, gravando sons. É ouvindo, gravando e editando que Thomaz vai descobrindo a história de Amina e resgatando um passado escondido.
Vê-se um belo plot, mas no seu desenvolvimento perde-se um pouco do ritmo, deixando o filme um tanto tedioso, mas volta a ganhar força no seu final.
Nota 3 em 5
La Vingança
3.2 81Ao ler a resenha e sem conhecer a história da produção você pode imaginar, como eu, que se trata de um drama água com açúcar, mas La Vingança entrega o que não promete. Trata-se de uma comédia que busca seguir os padrões comerciais nacionais para o gênero, e que no final das contas, se mostra um pouco melhor do que seus filmes pares da história recente.
A história gira em torno da "rivalidade" Brasil-Argentina que se mostra quando um brasileiro flagra sua namorada o traindo com um argentino.
Caco, o traído encontra consolo no amigo solteirão Vadão, que propõe uma viagem à Argentina para se vingar do fato, com o mote "Se os argentinos pegam as brasileiras, lá vamos nós pegar as argentinas".
Bem, é no trajeto da viagem que as confusões acontecem no ritmo das nossas comédias com muita provocação entre brasileiros e hermanos.
Passa de ano.
Nota 3 em 5
Um Dia Perfeito para Voar
2.2 2Uma das coisas mais singelas do mundo é um pai brincando e contando histórias para seu filho, certo?
Mas este filme torna essa imagem quase que insuportável por querer trabalhar excessivamente uma história de pai para filho como narrativa para o desenvolvimento do filme. O que se vê é um desenvolvimento cansativo, com um diálogo interminável em plano fechado na maior parte do tempo, o que nem dá ao espectador a oportunidade de viajar na exuberante paisagem onde se desenvolve o filme.
Nota 1,5 em 5
O Apartamento
3.9 258 Assista AgoraAtenção roteiristas! Vejam este filme do Asghar Farhadi. O desenvolvimento da história é fantástico, prendendo a atenção do espectador durante toda a trama e mantendo uma tensão que vai fluindo no decorrer do filme.
O apartamento trata da história de um casal de atores que são obrigados a mudar de casa devido a um colapso estrutural no seu prédio. Na nova morada , Rana é violentada após uma invasão em seu apartamento. Sua negação em procurar a polícia (contextualiza-se aqui a cultura iraniana) faz com que seu marido Emad faça a investigação para encontrar o autor do crime.
Para mim fica a metáfora da mudança que forçada por situações alheias a sua vontade, te leva para outro lugar mas não lhe desobriga a estar atento a outros acontecimentos que podem vir a ocorrer e lhe tirar a paz que tanto busca.
Nota 4,5 em 5
Fukushima, Mon Amour
3.6 4Fukushima mon amour entra para a galeria dos filmes fofos que devemos assistir.
A referência com o título do filme de Alain Resnais, fica somente no nome, pois trata-se ali de um cenário mais atualizado.
O pano de fundo dos desastres decorrentes do terremoto em Fukushima apresenta Marie, que destroçada por um fracasso amoroso resolve ir para o Japão na busca pela reconstrução de sua vida, e é ali que encontra pessoas que resistem para reconstruir suas vidas em uma cidade praticamente devastada pelo acidente nuclear ocorrido ali.
E é neste ambiente que Marie encontra Satomi, que de maneira especial, busca reconstruir o seu lar, porém, muito mais focada em tentar se reconectar com o seu passado. A conexão entre as duas, tão diferentes cultural e fisicamente, proporciona o aprendizado de que reconstituir também significa olhar para a frente, aprendendo com o passado mas conectando-se com o futuro.
Nota 4 em 5
O Nascimento de Uma Nação
3.6 149O Nascimento de uma Nação é filme grande.
E por que para mim é nesta linha? Porque ousa contestar. E começa pelo título homônimo do clássico de D.W.Griffith , só que contando a história "as avessas", colocando o outro lado, mesmo 100 anos depois do filme de Griffith.
O Nascimento ainda contesta o quanto o conservadorismo se utiliza de peças estratégicas para manter os seus privilégios, e a seu modo manter os oprimidos sob suas rédeas para que não questionem, afinal, "os livros de brancos não podem ser lidos pela sua espécie, vocês não entenderiam".
Há a contestação do quão é justificável a reação violenta, a decisão de entrar em uma guerra para derramar sangue e consequentemente sofrer os contragolpes inevitáveis, mas deixando o legado de que se faz necessário sempre contestar.
Nota 5 em 5
Divinas Divas
4.3 133 Assista AgoraEste filme tem tudo para se tornar um ícone documental das questões LGBT no Brasil. Além de uma homenagem às artistas, também é apresentado como era viver a homossexualidade nos anos 60 no país. Soma-se a isto, ainda a questão pessoal e afetiva da diretora Leandra Leal com o tema, uma vez que seu avô era o dono do Teatro onde haviam os shows de transformistas nesta época no Rio de Janeiro.
As histórias que ali se passam, contadas pelas protagonistas que ousaram em época de repressão, assumir sua personalidade diante de um país conservador, trazem consigo a constante lembrança que é preciso e urgente, criar as condições para que as pessoas vivam sua sexualidade sem julgamentos públicos, em uma sociedade que pratique de fato o respeito à diversidade.
Nota 4,5/5
Vinte Anos
3.1 2Alice de Andrade foi para Cuba literalmente e traz consigo um documentário que mostra como vivem os casais que 20 anos atrás ela mesmo filmou para serem o fio condutor de um retrato da ilha.
O filme mostra o início das transformações que começam a surgir em Cuba após o restabelecimento das relações diplomáticas com os EUA. E as famílias ali retratadas, representam de alguma forma as expectativas para mudanças que certamente virão.
É na ilustração de uma vida de luta, distâncias por aqueles que sairam de Cuba e principalmente esperança, que se encontra neste filme uma apresentação de um futuro ainda que incerto, mas que deve transformar vidas.
Nota 3 em 5
Beduíno
3.3 17Assistir a um filme de Julio Bressane é antes de tudo entrar em contato com a beleza estética da imagem e com a inevitável reflexão de diálogos provocativos, em um movimento que mistura a intensidade do teatro com a expressão cinematográfica.
Não espere um filme de roteiro linear, este não é o objetivo de Bressane, o que me parece transmitir é que o observador de sua obra seja um participante do roteiro, que pense por si só sobre o que se passa a sua frente.
Tem-se em Beduíno o diálogo do masculino com o feminino, seus encontros e desencontros, bem como suas visões sobre as questões filosóficas a que estão colocados.
Nota 3,5 em 5
O Jovem Papa
4.4 76The Young Pope deve se transformar em uma microssérie para a TV, e teve seus primeiros episódios apresentados na 40ª Mostra.
Simplesmente uma voadora questionadora sobre a estrutura do Vaticano, sem medo e sem culpa.
Trata-se de uma história sobre uma eleição papal onde sobe ao cargo um Pio XIII déspota, vaidoso e com fome de mudar todo o status quo da Igreja, rompendo as hierarquias, tradições e dogmas de uma só vez.
A pergunta do novo Papa, muito bem interpretado por Jude Law é "O que perdemos?", que contesta não só o clero, mas o povo católico de forma geral.
O filme tem cenas extremamente fortes no contexto dogmático católico romano, iniciando com um plano chocante, seguido de um discurso papal muito forte e revelador.
Nota 4,5 em 5
Um Homem a Mais
3.5 5A qualidade estética impressa por Paolo Sorrentino já é bem sentida neste filme de 2001, estão lá bons planos-sequência, alguns travellings e prudentes planos que dão ritmo à história.
Ademais, o que para mim ficou de mensagem é a questão da decadência do homem e a sua busca pelo recomeço, que passa inevitavelmente pela depressão inicial, a negação para a nova realidade e a decisão de ir ou não em frente e como fazê-lo. Trabalha-se a questão da autoestima frente as nossas derrotas, o quão abalados e capazes de ressurgir após o luto imediato. É certo que o renascimento passa por renúncias de aspectos e comportamentos passados, mas principalmente por descobertas de que pode-se ainda encontrar um outro caminho.
Nota 3,5 em 5