O filme dá uma guinada nas últimas cenas e gradualmente melhora. Por mais que um musical tenha uma pegada característica, que não se leva tão a sério, alguns furos no roteiro me incomodaram. Primeiro, os astros decadentes, inicialmente oportunistas, não me convenceram de ter comprado tão bem a história da personagem Emma: que, por sinal, não é desenvolvida tão bem para criar empatia suficiente no público, nem convence a aproximação mútua entre eles. E os pais de Emma? Ninguém na escola a apoiava antes da festa de formatura? Segundo, que o final da personagem interpretada pela Kerry Washington foi muito forçado, o que manchou a complexa temática LGBT e a simplificou de uma forma estereotipada apenas para agradar o público. Isso só para citar alguns furos. Do elenco, destaco as atuações afinadas da sempre boa Meryl Streep e de Ariana DeBose. Porém me incomodou muito uma atriz tão grandiosa como Nicole Kidman sendo desperdiçada como coadjuvante quase irrelevante pro roteiro. James Corden foi pra mim o pico baixo do filme: sua história foi forçada e mal desenvolvida, além de sua interpretação me parecer exagerada para a abordagem, que acabou por não me convencer. Entretanto, destaco a parte artística e os números de dança muito bem elaborados do filme, sobretudo o do Andrew Rannells e a performance final do baile, que foi brilhante. A cena do vídeo que Emma canta e repercute na internet também me emocionou. Em suma, é um filme inovador na proposta de musical LGBT, com uma temática trazendo diversidade e empatia, mas que acumulou falhas que acabaram lhe tirando todo o brilho que merecia.
Já aposto que será O Irlandês dessa temporada de prêmios. Com um Mankiewicz bem desenvolvido e uma atuação refinada, o ponto alto vai para Gary Oldman. O roteiro também é claramente cheio de referências ao Cidadão Kane e ao momento histórico. Contudo, o filme não se esforça em nenhum momento em didatizar minimanente para o público leigo no assunto sobre os astros, os envolvidos por trás das câmeras, sobre Hollywood de meados do século XX, sobre os presidentes. Portanto, eu, que assisti Cidadão Kane há muito tempo, não consegui me conectar à história e torcia para que chegasse logo ao fim. É um filme para quem já é familiarizado com o tema ou para quem está disposto a estudar, revisitando os filmes antigos. Ainda assim, gostei de algumas críticas políticas e de uma das cenas finais: polêmica e que mostra como Oldman é um monstro como ator.
Mas dêem logo um segundo Oscar para essa mulher! Sophia Loren rouba o filme! Que química entre os dois protagonistas! O menino também têm uma interpretação que dá inveja a muitos atores experientes. O roteiro deixa pontos em aberto propositalmente, mas que despertam curiosidade e o deixam mais interessante. Filme sensível, simbólico, bela trilha sonora (surpreendemente com Elza Soares), interpretações e personagens trazidos com profundidade. Tudo isso sem cair num lugar fácil de didatismo e melodrama.
O filme consegue trazer o tema do feminismo e da sexualidade feminina de uma forma suave e convincente, numa história na qual você vai se cativando pelos personagens gradualmente. Um filme que conversa com a realidade familiar brasileira - seja do casamento, seja da relação pais-filhos - a desvenda e a discute de forma sutil, mas eficiente. Em especial, Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra dão simplesmente um show de interpretação, trazendo personagens inspiradoras e fortes que, ao mesmo tempo, não são ofuscadas pelos seus evidentes defeitos.
Confesso que saí decepcionado do cinema. Muito mais pelas expectativas altas do que por qualquer coisa. Não nego que o filme é bom: os pontos altos dele são a fotografia e como os efeitos sonoros conseguem tirar cenas tão boas de suspense e tensão, puxando o espectador pra dentro delas. No entanto, achei os personagens bem rasos, não consegui me envolver por nenhum deles e não vi nada de original para um filme de guerra, considerando tudo que ouvi sobre ele. Nesse ponto o "Até o Último Homem" do Gibson foi bem mais original, tratando a guerra com a crueldade real que ela merece. De todos os filmes que assisti do Nolan, levando em conta o padrão dele, foi o que menos me cativou.
Antes de assistir já sabia da controvérsia sobre o filme, mas não imaginava que seria tão ruim: machista, clichê, explicações científicas e diálogos rasos, melodramático, tudo isso num roteiro, no mínimo, problemático. Nem a química que diziam dos protagonistas me chamou atenção, ainda mais mantendo o espectador ciente que a personagem da Lawrence se apaixonou sendo enganada. O triste é ver que a ideia central do filme poderia ser muito bem aproveitada, se centrasse em discussões éticas e psicológicas geradas após a atitude do protagonista, mas o filme prefere cair nas chances remotas deles se apaixonarem e serem felizes para sempre sozinhos e por isso agradar preguiçosamente o público. E se ela fosse lésbica? E se eles de fato se relacionassem mas simplesmente cansassem um do outro pelo tédio de viver sozinhos a vida inteira? E os planos que ela tinha feito para o outro planeta que a fizeram tomar a decisão ousada de desistir de todos da Terra: eles caem assim por terra facilmente? E se Pratt não fosse um galã: será que o público ainda torceria por ele e teria mais pena de Aurora? Além disso, o filme ainda insiste em forçar a barra para justificar as atitudes do Jim (reforçando o direcionamento machista do filme), torná-lo um herói que salvou a nave praticamente sozinho, chocando com seus comportamentos anteriores que mostram egoísmo e falta de remorso por enganá-la tranquilamente por muito tempo. Por que não acordaram mais alguém para ajudar quando perceberam que tava dando um tilte titânico na nave, antes mesmo do personagem de Fishburne morrer e, portanto, deixaram pra pensar isso na última hora? E a tentativa do filme ser um Titanic? E a tentativa do filme ser um Romeu e Julieta? E a ressurreição que funciona com o personagem de Pratt mas não com o de Fishburne? Nada funciona. Pior filme do ano!
Convicto em dizer que, na minha opinião, é o melhor filme brasileiro desse século (até agora), Pablo Villaça já me contemplou completamente com sua crítica: "Estabelecendo-se como um filme que, como dizia Eric Rohmer, acaba funcionando também como um “documento de sua época”, Que Horas Ela Volta? é um estudo de personagem e, não menos importante, de um país em mudança. É uma obra que aponta a contradição entre uma elite que se julga generosa e liberal, mas conversa em inglês diante dos subalternos quando não quer ser compreendida por estes. É um longa que sabe como é positivo que a filha da empregada não “saiba seu lugar”. É, enfim, o reconhecimento de que só não haverá luta de classes quando finalmente percebermos que dividir a humanidade por status econômico é algo que já deveria pertencer ao esgoto da História."
Ostentando um show de efeitos especiais, numa bela fotografia, com ótimas cenas de ação e suspense, Jurassic World traz, no entanto, um pacote mínimo para ser apenas bom. Feito para agradar a família tradicional mas que, por outro lado, desaba fazendo o mínimo na criatividade do roteiro. Entupido de clichês como o par romântico feito do durão sagaz e da fresca convencida - fazendo a regrinha dos opostos que se atraem e que não dão o braço a torcer que se gostam. Tem também a criança intelectualmente fanática e o adolescente rebelde garanhão - ambos passando pela crise do divórcio dos pais, totalmente mal discutida e aleatória, e dispensados pela tia poderosa e workaholic. Vilões inteiramente estereotipados e chatos. Furos grotescos de incoerência lógica e científica: pense na mocinha toda pomposa mas que sabe atirar e não dispensa o salto bico fino, mesmo correndo dos dinossauros na selva; pense no híbrido T-rex que tem genes que desenvolvem sensores pra termorrecepção, como as serpentes, mas que não percebe o mocinho porque ele jogou gasolina e confundiu o cheiro; pense na lógica de controle de uma arma biológica militar como um T-rex híbrido. Enfim, poderia citar outros furos, mas fica por aqui. É um tema que desperta uma curiosidade imensa e fascínio através de uma superprodução, mas desperdiçada para visar a uma grande bilheteria e que nem chega perto do pioneiro e eletrizante Jurassic Park de 1993.
Um soco no estômago que doi ao longo do filme inteiro e depois. Eu, como um grande admirador de Michael Haneke, tenho que reconhecer sua bela direção e a ótima interpretação dos atores, com destaque para Naomi Watts. O filme inevitavelmente desperta um ódio e uma aflição constante no espectador durante todo o longa, testando o quanto este aguenta junto com os personagens, aflorando suas emoções e instigando-o a todo momento a aconselhar as vítimas para possíveis saídas do jogo de torturas. O ponto alto é mostrar que toda aquela violência repugnante pode ser prazerosa a nós, espectadores, quando revertida para os vilões na cena do click (não vou descrevê-la pra não ser spoiler) e o quanto nós nos assemelhamos aos vilões ao desejar que as vítimas virem o jogo e façam o mesmo (ou pior) aos agressores. Isso gera a reflexão de quanto nós podemos ser manipulados e a nossa violência pode ser justificada dentro de um contexto. Ainda assim, acho que o longa peca em castigar demais os espectadores com seu sadismo levado ao extremo e acredito que é quase impossível não sair péssimo depois de assistir o filme. Observação: raramente uma tradução é bem feita, mas o título em português descreve claramente o que o filme é, para os não adeptos já passarem longe. Enquanto o título em inglês expressa o ponto de vista dos torturadores do filme: apenas uma brincadeira divertida.
Bridesmaids mostra o quanto as mulheres podem ser empoderadas dentro da comédia e o quanto podem ser ridiculamente engraçadas assim como os homens. Algo difícil de ser visto dentro do gênero, uma vez que o grande estereótipo das comédias são a presença de atores (pense em filmes de Jim Carrey, Adam Sandler ou Steve Carrell) que são o centro das risadas e, por outro lado, as atrizes geralmente ficam como coadjuvantes dos risos ou apenas "as musas" do filme. Aqui o alvo da graça são apenas personagens femininas, dos mais variados (às vezes um pouco caricaturais, mas bem desenvolvidas), num roteiro que constroi situações e diálogos absurdamente hilários, inteligentes e que discutem vários clichês atribuídos ao comportamento do gênero feminino. O filme marca a ascensão de estrelas na comédia, como Kristen Wiig e Melissa McCarthy (que já vem ganhando espaço no gênero). Um filme que entra naquela restrita lista de comédias que valem a pena assistir.
Existem poucas pessoas que posso dizer que sinto uma grande admiração e Sebastião Salgado se tornou uma delas. Um documentário lindamente inquietante, mas ainda esperançoso, que enaltece a arte colocando-a como ferramenta para uma afiada crítica social e política. A história de vida corajosa e as viagens fantásticas de Salgado são ilustradas, sobretudo, por suas próprias fotografias exibidas ao longo do filme, que carregam uma sensibilidade marcante, descrevem expressivamente o contexto do ambiente e são um eficiente instrumento de denúncia de algumas das maiores atrocidades humanas. Recomendo muito!
Inteligente, sensível, instigante, numa bela fotografia do litoral francês. Seu título deveria ser melhor traduzido, visto que o filme poderia ser descrito certeiramente como um passeio na mente. O filme introduz o conceito da teoria de sistemas, que se traduz na tendência do paradigma pós-moderno da ciência, e demonstra a postura que deveria ser central em todo cidadão num mundo ideal: que analisa interdisciplinarmente as questões, questionador, ético e politizado. De fato, o mais interessante é que ele traz à tona o quanto nossa sociedade vive a tal "crise de percepção". Destaco a ótima personagem da talentosa Liv Ullmann. Um filme que, apesar de parecer monótono por se desenrolar inteiramente em diálogos, pode ser um balde de ação para o cérebro.
Apesar do ponto positivo do tema ser inusitado e inovador, visto a partir de um cunho feminista, vários fatores, na minha opinião, tornam o filme fraco. Personagens mal construídos e estereotipados, roteiro fraco, incoerências científicas e falhas lógicas, que beiram ao absurdo. No entanto, até vale a pena assistir, pois as situações mostradas são tão absurdamente constrangedoras que o tornam inevitavelmente engraçado.
Intenso, satírico, carregado de crítica social e com uma bela fotografia, Timbuktu é o retrato de uma cidade de Mali, na África, silenciada pelo poder de fundamentalistas islâmicos. Uma cidade esquecida, onde não existe liberdade de expressão, democracia, direitos humanos e que a religião reina e pune severamente seu povo ao mesmo tempo que os aliena, frequentemente levando a uma aceitação da situação por parte deles, o que inibe qualquer revolta popular. Lugar onde cantar é motivo de chibatada, affair antes do casamento é apedrejamento e futebol com bola é crime (fato que repercute numa cena memorável no filme). Absurdo mas totalmente coerente com algumas situações políticas de alguns países atualmente. Recomendo e torço pra vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Demonstrando um patriotismo americano exagerado e um ideal pró-guerra, Clint Eastwood decepciona nesse filme. O protagonista é tratado como salvador da pátria americana, o que, pra mim, é questionável considerando ser o maior assassino do povo árabe. Eastwood até tenta demonstrar as consequências psicológicas da guerra para um combatente, no entanto não senti que houve desenvolvimento suficiente desse tema nem do ato final, que poderia ter enriquecido o filme. Além de tudo, ainda há várias críticas sobre a veracidade da história, que é baseada na história real do atirador Chris Kyle. Bradley Cooper até faz uma boa atuação, inclusive o maior ponto positivo do filme. Contudo, sua indicação para o Oscar foi injusta. Ralph Fiennes em "O Grande Hotel Budapeste" e Jake Gyllenhaal em "O Abutre" mereciam muito mais estar nessa disputa do que ele.
Contando com um elenco talentoso, Pride consegue retratar a união de militâncias numa Inglaterra dominada por Thatcher nos anos 80, de uma forma leve, divertida e emocionante. Inclusive, da mesma forma que relata a aceitação de grupos tão diferentes (o movimento grevista dos mineiros e o dos direitos LGBT), mas que detêm de propósitos convergentes, o filme tem o potencial para agradar e engajar tipos diferentes de público, com a grande sacada de não cair, para isso, no sentimentalismo ou num cansativo didatismo.
O retrato mais verossímil possível da infância e adolescência feita por um filme. Uma sacada esperta e inovadora com filmagens ao longo de 12 anos, que nos faz acompanhar os personagens como mais um membro da família, vendo o tempo agir ano a ano no amadurecimento, nas escolhas e nos conflitos dos personagens. Uma história trivial, como a vida de qualquer garoto, mas construída num realismo que caracteriza muito bem os personagens, tornando-os marcantes e convincentes. Um filme que, sobretudo, nos faz refletir sobre a ação do tempo na nossa vida. Fascinante.
Foi o primeiro filme banido no Brasil desde a constituição de 1988. Isso em 2012. No entanto, a decisão foi reconsiderada e logo após voltou ao mercado brasileiro, em prol da liberdade artística do cinema e visto que não houve irregularidades nas gravações do ponto de vista judicial (nas cenas polêmicas utilizaram-se bonecos). Ainda assim tal filme sérvio continua proibido (na versão sem cortes) em vários países, inclusive países ditos liberais como Noruega, Espanha e Alemanha. Achei que fosse conservadorismo, até assisti-lo... O filme me aterrorizou de uma maneira que nunca outro o fez. Toda perversão sexual violenta que existe acredito que seja retratada. No entanto, ainda busco algum questionamento mais profundo, além da crítica em relação à ética e os limites do mercado e do consumidor pornô. Muitos acham inovador, até admiro a ousadia do diretor, uma arte aterrorizante, tocando em questões tão difíceis de lidar e ver (nunca um filme me fez ter uma repulsa misturada a um medo tão grande a ponto de pensar em desistir de assistir). Você se sente vítima de um estupro ao fim do filme. Contudo, ao meu ver, chocar tanto não teve por trás uma justificativa suficientemente relevante.
Um intenso e eletrizante panorama da época da ditadura militar no Brasil. O filme tenta esclarecer a utilização do sequestro pelos comunistas e sugere a diferença de atitudes e ideologias entre os mesmos e os militares, desmistificando a imagem dos primeiros como terroristas. Dessa forma, observa-se o cunho ideológico do filme e verifica-se como tais movimentos foram fundamentais para o início da desestabilização do sistema vigente em busca da instalação da democracia. Recomendo-o para os ainda poucos alienados que vêem o período militar como algo positivo. Outro ponto interessante é a constelação presente nesse filme, servindo como lançamento de atores brasileiros tão talentosos e que, no futuro, seriam grandes estrelas da TV: Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Alessandra Negrini. Ainda conta com participações dos majestosos e premiados Alan Arkin e Fernanda Montenegro. Na minha opinião, um dos melhores filmes brasileiros (se não o melhor).
Uma boa ideia que foi completamente desperdiçada. Seu enredo é fraco, com diálogos rasos e uma lacuna durante toda a adolescência dos protagonistas. Portanto, foram abafados quaisquer conflitos que poderiam gerar discussões muito interessantes sobre limites para amar, incesto e homossexualidade. O filme apenas cai num sentimentalismo cansativo.
O filme mais polêmico da história: foi assim que o encontrei em algumas listas. Na segunda parte do filme, deu pra entender bem o rótulo e se revoltar completamente. Apesar disso, há alguns pontos bem interessantes pra se atentar. É a clara representação do pensamento dos escravocratas do Sul dos EUA no pós-guerra do século XIX, criando um grande romance e ação em cima disso e distorcendo totalmente os fatos pra que o próprio público apoie os ideais racistas (o que é quase impossível atualmente, mas muito frequente e apoiado na época do filme). É interessante notar toda a caracterização dos personagens para isso. Primeiro, uma escrava que defende com unha e dentes seus senhores escravocratas, submissa e consciente da sua suposta inferioridade, portanto, tratada como a única heroína negra na história. Além disso, note a escassez de negros de verdade no elenco (provavelmente porque a maioria dos negros não quiseram participar de tal filme). Percebe-se que a maioria são brancos com pó de café, ou seja lá o que for na cara, com um maquiagem que os deixava meio aterrorizantes, ajudando a caracterizá-los como vilões da história. Outro artíficio usado é o aspecto doentil, incoerente e, até certo ponto debilóide, do comportamento dos abolicionistas. Por outro lado, ressalto que esse filme tem de fato um grande valor histórico, tanto como retrato da criação do Ku Klux Klan e da história norte-americana contada pelos sulinos, como pelos seus avanços cinematográficos para a época. Contudo, suas distorções são tão grotescas e revoltantes que meu asco por esse filme me leva a limitar e despencar minha avaliação sobre ele. Pra somar à repugnância, o diretor D. W. Griffith tenta trazer ideais pacíficos ao fim do filme, o que esconde uma grande incoerência. Afinal, enquanto ainda houver pessoas com ideias discriminatórios e retrógrados como os trazidos nesse filme, continuará havendo justamente o oposto: guerra.
Polêmica pura. Assim como é extremo em suas cenas, é extremo nas reações e opiniões que trazem ao público. Ao meu ver, o filme peca em algumas associações errôneas entre a perversão sexual e a homossexualidade, o que, no entanto, é compreensível levando em conta a época que foi feito. Seu ponto forte é a associação entre arte (literatura de Marquês de Sade e música clássica), história (fascismo italiano) e tortura (passíveis de já terem ocorrido de fato na história da humanidade). Tais fatores repercutem num enlouquecedor, chocante e repugnante retrato da crueldade, gerando uma reflexão sobre a dignidade humana e o poder.
A Festa de Formatura
3.1 238O filme dá uma guinada nas últimas cenas e gradualmente melhora. Por mais que um musical tenha uma pegada característica, que não se leva tão a sério, alguns furos no roteiro me incomodaram.
Primeiro, os astros decadentes, inicialmente oportunistas, não me convenceram de ter comprado tão bem a história da personagem Emma: que, por sinal, não é desenvolvida tão bem para criar empatia suficiente no público, nem convence a aproximação mútua entre eles.
E os pais de Emma? Ninguém na escola a apoiava antes da festa de formatura?
Segundo, que o final da personagem interpretada pela Kerry Washington foi muito forçado, o que manchou a complexa temática LGBT e a simplificou de uma forma estereotipada apenas para agradar o público. Isso só para citar alguns furos.
Do elenco, destaco as atuações afinadas da sempre boa Meryl Streep e de Ariana DeBose. Porém me incomodou muito uma atriz tão grandiosa como Nicole Kidman sendo desperdiçada como coadjuvante quase irrelevante pro roteiro. James Corden foi pra mim o pico baixo do filme: sua história foi forçada e mal desenvolvida, além de sua interpretação me parecer exagerada para a abordagem, que acabou por não me convencer.
Entretanto, destaco a parte artística e os números de dança muito bem elaborados do filme, sobretudo o do Andrew Rannells e a performance final do baile, que foi brilhante. A cena do vídeo que Emma canta e repercute na internet também me emocionou.
Em suma, é um filme inovador na proposta de musical LGBT, com uma temática trazendo diversidade e empatia, mas que acumulou falhas que acabaram lhe tirando todo o brilho que merecia.
Mank
3.2 462 Assista AgoraJá aposto que será O Irlandês dessa temporada de prêmios. Com um Mankiewicz bem desenvolvido e uma atuação refinada, o ponto alto vai para Gary Oldman. O roteiro também é claramente cheio de referências ao Cidadão Kane e ao momento histórico. Contudo, o filme não se esforça em nenhum momento em didatizar minimanente para o público leigo no assunto sobre os astros, os envolvidos por trás das câmeras, sobre Hollywood de meados do século XX, sobre os presidentes. Portanto, eu, que assisti Cidadão Kane há muito tempo, não consegui me conectar à história e torcia para que chegasse logo ao fim. É um filme para quem já é familiarizado com o tema ou para quem está disposto a estudar, revisitando os filmes antigos. Ainda assim, gostei de algumas críticas políticas e de uma das cenas finais: polêmica e que mostra como Oldman é um monstro como ator.
Rosa e Momo
3.7 302 Assista AgoraMas dêem logo um segundo Oscar para essa mulher! Sophia Loren rouba o filme! Que química entre os dois protagonistas! O menino também têm uma interpretação que dá inveja a muitos atores experientes. O roteiro deixa pontos em aberto propositalmente, mas que despertam curiosidade e o deixam mais interessante. Filme sensível, simbólico, bela trilha sonora (surpreendemente com Elza Soares), interpretações e personagens trazidos com profundidade. Tudo isso sem cair num lugar fácil de didatismo e melodrama.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraApenas um dos melhores filmes que já vi.
Como Nossos Pais
3.8 444O filme consegue trazer o tema do feminismo e da sexualidade feminina de uma forma suave e convincente, numa história na qual você vai se cativando pelos personagens gradualmente. Um filme que conversa com a realidade familiar brasileira - seja do casamento, seja da relação pais-filhos - a desvenda e a discute de forma sutil, mas eficiente. Em especial, Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra dão simplesmente um show de interpretação, trazendo personagens inspiradoras e fortes que, ao mesmo tempo, não são ofuscadas pelos seus evidentes defeitos.
Grave
3.4 1,1KSou vegetariano, assisti e fiquei com fome. Normal?
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraConfesso que saí decepcionado do cinema. Muito mais pelas expectativas altas do que por qualquer coisa. Não nego que o filme é bom: os pontos altos dele são a fotografia e como os efeitos sonoros conseguem tirar cenas tão boas de suspense e tensão, puxando o espectador pra dentro delas. No entanto, achei os personagens bem rasos, não consegui me envolver por nenhum deles e não vi nada de original para um filme de guerra, considerando tudo que ouvi sobre ele. Nesse ponto o "Até o Último Homem" do Gibson foi bem mais original, tratando a guerra com a crueldade real que ela merece. De todos os filmes que assisti do Nolan, levando em conta o padrão dele, foi o que menos me cativou.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraAntes de assistir já sabia da controvérsia sobre o filme, mas não imaginava que seria tão ruim: machista, clichê, explicações científicas e diálogos rasos, melodramático, tudo isso num roteiro, no mínimo, problemático. Nem a química que diziam dos protagonistas me chamou atenção, ainda mais mantendo o espectador ciente que a personagem da Lawrence se apaixonou sendo enganada. O triste é ver que a ideia central do filme poderia ser muito bem aproveitada, se centrasse em discussões éticas e psicológicas geradas após a atitude do protagonista, mas o filme prefere cair nas chances remotas deles se apaixonarem e serem felizes para sempre sozinhos e por isso agradar preguiçosamente o público. E se ela fosse lésbica? E se eles de fato se relacionassem mas simplesmente cansassem um do outro pelo tédio de viver sozinhos a vida inteira? E os planos que ela tinha feito para o outro planeta que a fizeram tomar a decisão ousada de desistir de todos da Terra: eles caem assim por terra facilmente? E se Pratt não fosse um galã: será que o público ainda torceria por ele e teria mais pena de Aurora? Além disso, o filme ainda insiste em forçar a barra para justificar as atitudes do Jim (reforçando o direcionamento machista do filme), torná-lo um herói que salvou a nave praticamente sozinho, chocando com seus comportamentos anteriores que mostram egoísmo e falta de remorso por enganá-la tranquilamente por muito tempo. Por que não acordaram mais alguém para ajudar quando perceberam que tava dando um tilte titânico na nave, antes mesmo do personagem de Fishburne morrer e, portanto, deixaram pra pensar isso na última hora? E a tentativa do filme ser um Titanic? E a tentativa do filme ser um Romeu e Julieta? E a ressurreição que funciona com o personagem de Pratt mas não com o de Fishburne?
Nada funciona. Pior filme do ano!
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraConvicto em dizer que, na minha opinião, é o melhor filme brasileiro desse século (até agora), Pablo Villaça já me contemplou completamente com sua crítica:
"Estabelecendo-se como um filme que, como dizia Eric Rohmer, acaba funcionando também como um “documento de sua época”, Que Horas Ela Volta? é um estudo de personagem e, não menos importante, de um país em mudança. É uma obra que aponta a contradição entre uma elite que se julga generosa e liberal, mas conversa em inglês diante dos subalternos quando não quer ser compreendida por estes. É um longa que sabe como é positivo que a filha da empregada não “saiba seu lugar”. É, enfim, o reconhecimento de que só não haverá luta de classes quando finalmente percebermos que dividir a humanidade por status econômico é algo que já deveria pertencer ao esgoto da História."
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros
3.6 3,0K Assista AgoraOstentando um show de efeitos especiais, numa bela fotografia, com ótimas cenas de ação e suspense, Jurassic World traz, no entanto, um pacote mínimo para ser apenas bom. Feito para agradar a família tradicional mas que, por outro lado, desaba fazendo o mínimo na criatividade do roteiro. Entupido de clichês como o par romântico feito do durão sagaz e da fresca convencida - fazendo a regrinha dos opostos que se atraem e que não dão o braço a torcer que se gostam. Tem também a criança intelectualmente fanática e o adolescente rebelde garanhão - ambos passando pela crise do divórcio dos pais, totalmente mal discutida e aleatória, e dispensados pela tia poderosa e workaholic. Vilões inteiramente estereotipados e chatos. Furos grotescos de incoerência lógica e científica: pense na mocinha toda pomposa mas que sabe atirar e não dispensa o salto bico fino, mesmo correndo dos dinossauros na selva; pense no híbrido T-rex que tem genes que desenvolvem sensores pra termorrecepção, como as serpentes, mas que não percebe o mocinho porque ele jogou gasolina e confundiu o cheiro; pense na lógica de controle de uma arma biológica militar como um T-rex híbrido. Enfim, poderia citar outros furos, mas fica por aqui. É um tema que desperta uma curiosidade imensa e fascínio através de uma superprodução, mas desperdiçada para visar a uma grande bilheteria e que nem chega perto do pioneiro e eletrizante Jurassic Park de 1993.
Violência Gratuita
3.4 1,3KUm soco no estômago que doi ao longo do filme inteiro e depois. Eu, como um grande admirador de Michael Haneke, tenho que reconhecer sua bela direção e a ótima interpretação dos atores, com destaque para Naomi Watts.
O filme inevitavelmente desperta um ódio e uma aflição constante no espectador durante todo o longa, testando o quanto este aguenta junto com os personagens, aflorando suas emoções e instigando-o a todo momento a aconselhar as vítimas para possíveis saídas do jogo de torturas. O ponto alto é mostrar que toda aquela violência repugnante pode ser prazerosa a nós, espectadores, quando revertida para os vilões na cena do click (não vou descrevê-la pra não ser spoiler) e o quanto nós nos assemelhamos aos vilões ao desejar que as vítimas virem o jogo e façam o mesmo (ou pior) aos agressores. Isso gera a reflexão de quanto nós podemos ser manipulados e a nossa violência pode ser justificada dentro de um contexto.
Ainda assim, acho que o longa peca em castigar demais os espectadores com seu sadismo levado ao extremo e acredito que é quase impossível não sair péssimo depois de assistir o filme.
Observação: raramente uma tradução é bem feita, mas o título em português descreve claramente o que o filme é, para os não adeptos já passarem longe. Enquanto o título em inglês expressa o ponto de vista dos torturadores do filme: apenas uma brincadeira divertida.
Missão Madrinha de Casamento
3.2 1,7K Assista AgoraBridesmaids mostra o quanto as mulheres podem ser empoderadas dentro da comédia e o quanto podem ser ridiculamente engraçadas assim como os homens. Algo difícil de ser visto dentro do gênero, uma vez que o grande estereótipo das comédias são a presença de atores (pense em filmes de Jim Carrey, Adam Sandler ou Steve Carrell) que são o centro das risadas e, por outro lado, as atrizes geralmente ficam como coadjuvantes dos risos ou apenas "as musas" do filme. Aqui o alvo da graça são apenas personagens femininas, dos mais variados (às vezes um pouco caricaturais, mas bem desenvolvidas), num roteiro que constroi situações e diálogos absurdamente hilários, inteligentes e que discutem vários clichês atribuídos ao comportamento do gênero feminino. O filme marca a ascensão de estrelas na comédia, como Kristen Wiig e Melissa McCarthy (que já vem ganhando espaço no gênero). Um filme que entra naquela restrita lista de comédias que valem a pena assistir.
O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraExistem poucas pessoas que posso dizer que sinto uma grande admiração e Sebastião Salgado se tornou uma delas. Um documentário lindamente inquietante, mas ainda esperançoso, que enaltece a arte colocando-a como ferramenta para uma afiada crítica social e política. A história de vida corajosa e as viagens fantásticas de Salgado são ilustradas, sobretudo, por suas próprias fotografias exibidas ao longo do filme, que carregam uma sensibilidade marcante, descrevem expressivamente o contexto do ambiente e são um eficiente instrumento de denúncia de algumas das maiores atrocidades humanas. Recomendo muito!
Ponto de Mutação
4.0 149Inteligente, sensível, instigante, numa bela fotografia do litoral francês. Seu título deveria ser melhor traduzido, visto que o filme poderia ser descrito certeiramente como um passeio na mente. O filme introduz o conceito da teoria de sistemas, que se traduz na tendência do paradigma pós-moderno da ciência, e demonstra a postura que deveria ser central em todo cidadão num mundo ideal: que analisa interdisciplinarmente as questões, questionador, ético e politizado. De fato, o mais interessante é que ele traz à tona o quanto nossa sociedade vive a tal "crise de percepção". Destaco a ótima personagem da talentosa Liv Ullmann. Um filme que, apesar de parecer monótono por se desenrolar inteiramente em diálogos, pode ser um balde de ação para o cérebro.
Vagina Dentada
2.7 583Apesar do ponto positivo do tema ser inusitado e inovador, visto a partir de um cunho feminista, vários fatores, na minha opinião, tornam o filme fraco. Personagens mal construídos e estereotipados, roteiro fraco, incoerências científicas e falhas lógicas, que beiram ao absurdo. No entanto, até vale a pena assistir, pois as situações mostradas são tão absurdamente constrangedoras que o tornam inevitavelmente engraçado.
Timbuktu
3.8 134 Assista AgoraIntenso, satírico, carregado de crítica social e com uma bela fotografia, Timbuktu é o retrato de uma cidade de Mali, na África, silenciada pelo poder de fundamentalistas islâmicos. Uma cidade esquecida, onde não existe liberdade de expressão, democracia, direitos humanos e que a religião reina e pune severamente seu povo ao mesmo tempo que os aliena, frequentemente levando a uma aceitação da situação por parte deles, o que inibe qualquer revolta popular. Lugar onde cantar é motivo de chibatada, affair antes do casamento é apedrejamento e futebol com bola é crime (fato que repercute numa cena memorável no filme). Absurdo mas totalmente coerente com algumas situações políticas de alguns países atualmente. Recomendo e torço pra vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraDemonstrando um patriotismo americano exagerado e um ideal pró-guerra, Clint Eastwood decepciona nesse filme. O protagonista é tratado como salvador da pátria americana, o que, pra mim, é questionável considerando ser o maior assassino do povo árabe. Eastwood até tenta demonstrar as consequências psicológicas da guerra para um combatente, no entanto não senti que houve desenvolvimento suficiente desse tema nem do ato final, que poderia ter enriquecido o filme. Além de tudo, ainda há várias críticas sobre a veracidade da história, que é baseada na história real do atirador Chris Kyle. Bradley Cooper até faz uma boa atuação, inclusive o maior ponto positivo do filme. Contudo, sua indicação para o Oscar foi injusta. Ralph Fiennes em "O Grande Hotel Budapeste" e Jake Gyllenhaal em "O Abutre" mereciam muito mais estar nessa disputa do que ele.
Orgulho e Esperança
4.3 291 Assista AgoraContando com um elenco talentoso, Pride consegue retratar a união de militâncias numa Inglaterra dominada por Thatcher nos anos 80, de uma forma leve, divertida e emocionante. Inclusive, da mesma forma que relata a aceitação de grupos tão diferentes (o movimento grevista dos mineiros e o dos direitos LGBT), mas que detêm de propósitos convergentes, o filme tem o potencial para agradar e engajar tipos diferentes de público, com a grande sacada de não cair, para isso, no sentimentalismo ou num cansativo didatismo.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraO retrato mais verossímil possível da infância e adolescência feita por um filme. Uma sacada esperta e inovadora com filmagens ao longo de 12 anos, que nos faz acompanhar os personagens como mais um membro da família, vendo o tempo agir ano a ano no amadurecimento, nas escolhas e nos conflitos dos personagens. Uma história trivial, como a vida de qualquer garoto, mas construída num realismo que caracteriza muito bem os personagens, tornando-os marcantes e convincentes. Um filme que, sobretudo, nos faz refletir sobre a ação do tempo na nossa vida. Fascinante.
A Serbian Film: Terror Sem Limites
2.5 2,0KFoi o primeiro filme banido no Brasil desde a constituição de 1988. Isso em 2012. No entanto, a decisão foi reconsiderada e logo após voltou ao mercado brasileiro, em prol da liberdade artística do cinema e visto que não houve irregularidades nas gravações do ponto de vista judicial (nas cenas polêmicas utilizaram-se bonecos). Ainda assim tal filme sérvio continua proibido (na versão sem cortes) em vários países, inclusive países ditos liberais como Noruega, Espanha e Alemanha. Achei que fosse conservadorismo, até assisti-lo... O filme me aterrorizou de uma maneira que nunca outro o fez. Toda perversão sexual violenta que existe acredito que seja retratada. No entanto, ainda busco algum questionamento mais profundo, além da crítica em relação à ética e os limites do mercado e do consumidor pornô. Muitos acham inovador, até admiro a ousadia do diretor, uma arte aterrorizante, tocando em questões tão difíceis de lidar e ver (nunca um filme me fez ter uma repulsa misturada a um medo tão grande a ponto de pensar em desistir de assistir). Você se sente vítima de um estupro ao fim do filme. Contudo, ao meu ver, chocar tanto não teve por trás uma justificativa suficientemente relevante.
O Que é Isso, Companheiro?
3.8 339 Assista AgoraUm intenso e eletrizante panorama da época da ditadura militar no Brasil. O filme tenta esclarecer a utilização do sequestro pelos comunistas e sugere a diferença de atitudes e ideologias entre os mesmos e os militares, desmistificando a imagem dos primeiros como terroristas. Dessa forma, observa-se o cunho ideológico do filme e verifica-se como tais movimentos foram fundamentais para o início da desestabilização do sistema vigente em busca da instalação da democracia. Recomendo-o para os ainda poucos alienados que vêem o período militar como algo positivo. Outro ponto interessante é a constelação presente nesse filme, servindo como lançamento de atores brasileiros tão talentosos e que, no futuro, seriam grandes estrelas da TV: Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Alessandra Negrini. Ainda conta com participações dos majestosos e premiados Alan Arkin e Fernanda Montenegro. Na minha opinião, um dos melhores filmes brasileiros (se não o melhor).
Do Começo ao Fim
3.0 1,3KUma boa ideia que foi completamente desperdiçada. Seu enredo é fraco, com diálogos rasos e uma lacuna durante toda a adolescência dos protagonistas. Portanto, foram abafados quaisquer conflitos que poderiam gerar discussões muito interessantes sobre limites para amar, incesto e homossexualidade. O filme apenas cai num sentimentalismo cansativo.
O Nascimento de uma Nação
3.0 231O filme mais polêmico da história: foi assim que o encontrei em algumas listas. Na segunda parte do filme, deu pra entender bem o rótulo e se revoltar completamente. Apesar disso, há alguns pontos bem interessantes pra se atentar. É a clara representação do pensamento dos escravocratas do Sul dos EUA no pós-guerra do século XIX, criando um grande romance e ação em cima disso e distorcendo totalmente os fatos pra que o próprio público apoie os ideais racistas (o que é quase impossível atualmente, mas muito frequente e apoiado na época do filme). É interessante notar toda a caracterização dos personagens para isso. Primeiro, uma escrava que defende com unha e dentes seus senhores escravocratas, submissa e consciente da sua suposta inferioridade, portanto, tratada como a única heroína negra na história. Além disso, note a escassez de negros de verdade no elenco (provavelmente porque a maioria dos negros não quiseram participar de tal filme). Percebe-se que a maioria são brancos com pó de café, ou seja lá o que for na cara, com um maquiagem que os deixava meio aterrorizantes, ajudando a caracterizá-los como vilões da história. Outro artíficio usado é o aspecto doentil, incoerente e, até certo ponto debilóide, do comportamento dos abolicionistas. Por outro lado, ressalto que esse filme tem de fato um grande valor histórico, tanto como retrato da criação do Ku Klux Klan e da história norte-americana contada pelos sulinos, como pelos seus avanços cinematográficos para a época. Contudo, suas distorções são tão grotescas e revoltantes que meu asco por esse filme me leva a limitar e despencar minha avaliação sobre ele. Pra somar à repugnância, o diretor D. W. Griffith tenta trazer ideais pacíficos ao fim do filme, o que esconde uma grande incoerência. Afinal, enquanto ainda houver pessoas com ideias discriminatórios e retrógrados como os trazidos nesse filme, continuará havendo justamente o oposto: guerra.
Salò, ou os 120 Dias de Sodoma
3.2 1,0KPolêmica pura. Assim como é extremo em suas cenas, é extremo nas reações e opiniões que trazem ao público. Ao meu ver, o filme peca em algumas associações errôneas entre a perversão sexual e a homossexualidade, o que, no entanto, é compreensível levando em conta a época que foi feito. Seu ponto forte é a associação entre arte (literatura de Marquês de Sade e música clássica), história (fascismo italiano) e tortura (passíveis de já terem ocorrido de fato na história da humanidade). Tais fatores repercutem num enlouquecedor, chocante e repugnante retrato da crueldade, gerando uma reflexão sobre a dignidade humana e o poder.