Depois de um filmaço atrás do outro - e depois de tantos anos após o último, Garota Exemplar, Fincher entrega um filme aquém do seu talento. Tinha tudo para ser interessante... acompanhar as "desventuras" do roteirista do clássico Cidadão Kane... Contudo, o que vemos, fora de aspectos técnicos competentes e boas atuações, é um roteiro que não sabe que direção tomar... se explora relação entre personagens, se explora situação política da época, se explora como eram as jogadas de poder dentro dos estúdios, enfim... nada e nada e em tudo acaba, pelo menos no texto, morrendo na praia. Uma pena.
Só para constar, o longa Filmando Casablanca, que também está na Netflix, é melhor.
Eu queria entender onde viram que esse longa é uma "ode a pedofilia"? Ah, sim, por um momento esqueci que vivemos numa onda conservadora... e é típico do "cidadão de bem" se "escandalizar" por algo que, na real, mexe com seus desejos mais obscuros.
Só vale pelo excelente plano sequência lá pelo meio da película.
De resto, roteiro clichê, com percepção de mundo totalmente ultrapassada, onde, mais uma vez, usam o povo de um país pobre como bucha de canhão à gana assassina do europeu de "olho azul".
Esse longa é inaceitável. A Disney cuspiu na nossa cara e nos chamou de estúpidos. Para mim, a saga acaba na excelente cena final do episódio anterior, com o garotinho sensível a Força encarando as estrelas, num olhar cheio de esperança. O que fizeram com o Rian Johnson é imperdoável.
Por que o Steven Knight não se focou somente na trama neo-noir - mesmo que batida - ao invés de nos brindar com um plot-twist ridículo desses? Ainda bem que ele nos deu Peaky Blinders para compensar esse fiasco.
A hipocrisia do brasileiro não tem limites. Tem a cara de pau de aparecer aqui munido de falso moralismo e aposto que adora filmes onde a bandidagem norte americana é idolatrada, tipo Al Capone, Bonnie e Clyde, Butch Cassidy, entre outros. Gente que cometia crimes por pura ganância, ao contrário do Marighella, cujos "crimes" visavam enfraquecer um regime brutal que tomou de assalto nosso país. Fora o uso fora de contexto da palavra "terrorista". Algum trabalhador tinha "terror" do Marighella? Claro que não! O trabalhador tinha TERROR era de ser parado numa blitz e levar pancada dos milicos.
Merece parabéns por ser uma produção de um grande estúdio onde temos um elenco 100% asiático. Viva a diversidade! Pena que a trama é sem sal. Clichê ao extremo. E ocidentalizada. O que, no final, acaba tirando toda a graça de termos o elenco chinês.
Dos candidatos ao Oscar 2019, Vice era o meu segundo favorito. A obra de Adam McKay segue o mesmo estilo de narrativa do filme anterior, o também ótimo A Grande Aposta, apostando em grandes atuações, no humor negro e na sátira para tratar de um assunto sério que assombrou os EUA durante o governo do republicano George W. Bush.
Munido de grande sarcasmo, Vice nos convida a acompanhar os bastidores da vida política de Dick Cheney - vivido com maestria por Christian Bale - nos meandros lamacentos de Washington. Assim como em seu filme anterior, McKay não poupa ninguém, retratando os manda-chuvas do país "líder do mundo livre" como figuras maquiavélicas sem nenhum tipo escrúpulo, sempre em busca de mais e mais poder e influência, mesmo que isso custe a derrocada de outras nações. Ou seja, Vice é uma sátira sobre o imperialismo yankee muito bem orquestrada, com momentos de puro brilhantismo, quando, por exemplo, descobrimos o verdadeiro papel do sujeito que narra a trajetória de Dick ao longo da película.
Não entendo quem acusa o filme de ser arrastado. Eu, pelo contrário, achei-o, nesse sentido, na medida certa. Soube abordar toda a carreira do sujeito até o final do governo Bush de forma agradável de se assistir, com cortes espertos.
A partir de agora vou ficar atento aos próximos filmes de McKay. Suas duas bolas dentro nessa pegada de sátira com crítica ácida me agradaram muito. Esperarei ansiosamente pelo próximo.
O grande mérito de Nasce Uma Estrela é que o filme prende a atenção. Se você o encarar como uma sessão da tarde de luxo pode até curtir a trama um tanto água com açúcar dirigida e protagonizada pelo Bradley Cooper ao lado de Lady Gaga. Aliás, Gaga revela-se uma boa atriz (eu desconheço seu trabalho em American Horror Story) e carrega o filme nas costas. Enfim, para quem não tiver nada melhor para fazer numa tarde qualquer, fica a dica.
Segundo longa de Yorgos Lanthimos que aprecio, a Favorita é um pouco inferior ao seu anterior, O Sacrifício do Cervo Sagrado, contudo dá um bom caldo.
Nas mãos de Lanthimos o longa de época vira uma mistura de drama, farsa e comédia, sustentado pelas ótimas atuações das três protagonistas femininas, com destaque para Olivia Colman no papel da mimada rainha Anne. Lanthimos acerta ao desglamourizar a corte inglesa do século XVIII, retratando-os de forma cínica, onde temos uma rainha cheia de problemas de saúde, emocionais e caricata na medida certa, aliada a seu séquito de puxa-sacos cheios de maquiagem e perucas bufantes que não demonstram a menor preocupação com a vida do povo.
Tecnicamente, em A Favorita, destacam-se a direção de arte e figurinos. Lanthimos ousa na fotografia causando uma estranheza estética bem vinda.
No mais, o embate entre Emma Stone e Rachel Weisz é ótimo, porém falha ao não engatar uma quinta marcha, terminando de forma abrupta. Se Lanthimos tivesse ido mais longe, acredito, o filme teria um resultado mais satisfatório.
Outra vez: cinebiografias que tendem a querer abordar longos anos e diversos fatos - quase sempre dão com os burros n'água. Raramente temos um Amadeus da vida e, infelizmente, Bohemian Rhapsody se encaixa perfeitamente nos dizeres da primeira frase.
Freddie Mercury merecia mais. O Queen merecia mais. Há tempos Brian Singer não sabe mais dirigir um filme com decência. E, pelo que eu soube, a produção foi conturbada acarretando na demissão do cineasta. E isso é sentido no longa. Falta ritmo. Falta aprofundamento. Mimetizar a antológica apresentação do Live Aid, apesar de esteticamente boa, só serve mesmo para arrancar lágrimas dos incautos (sem acrescentar nada ao filme como um todo), numa falsa demonstração de superação do protagonista já que o roteiro apresenta furos cronológicos imperdoáveis. E não adianta vir com o argumento de que "é uma cinebiografia e não um documentário". Nada justifica erros grotescos como colocar a apresentação do Rock In Rio nos anos setenta.
No mais, o elenco faz uma boa imitação da banda e Rami Malek deve faturar o Oscar, injustamente. Há boatos de que haverá uma continuação, contudo dessa eu vou passar longe. Não estou nem um pouco afim de ver Mercury definhando na tela grande em seus últimos anos para que Brian May encha os bolsos novamente.
Shyamalan acertou em cheio com Fragmentado e pegou todo mundo positivamente de surpresa ao revelar que o universo do filme se passava no mesmo de sua melhor obra como cineasta: Corpo Fechado. Assim o cara deixou todo mundo na expectativa do que viria. Estava com a faca e o queijo na mão, contudo não soube aproveitar. Vidro é a primeira decepção em tela grande do ano.
Corpo Fechado e Fragmentado são filmes díspares. O que fazer então para unir todos esses personagens numa mesma história? Colocá-los num hospital psiquiátrico onde uma profissional - a sempre competente Sarah Poulson - tanta provar que seus "poderes" não passam de ilusões de grandeza.
A princípio a ideia é ótima e a primeira hora do filme é bastante interessante, embora de desenvolvimento lento (porém isso também era uma característica de Corpo Fechado), fato que pode decepcionar, principalmente, os fãs mais ardorosos de Fragmentado.
O problema realmente começa do segundo para o terceiro ato que é pobre tanto tecnicamente - é evidente a falta de recursos financeiros para a realização do clímax - quanto, principalmente, de roteiro. Shy conseguiu a proeza de colocar tudo a perder, deixando que os problemas de Vidro respingassem nos dois outros filmes, comprometendo toda a trilogia.
Se em Corpo Fechado o personagem de Samuel L Jackson usava - com sutileza - dos quadrinhos para exemplificar o mundo, aqui há um tremendo exagero nesse quesito, com um blá blá blá chato de filosofia de botequim. Isso sem contar que Vidro não é o protagonista de, pasmem, Vidro!(?). O personagem aparece muito pouco e apesar da sempre ótima performance de Jackson, não consegue nem ser a sombra daquele Mr Glass de Corpo Fechado. Também temos, para variar, um plot twist, só que, dessa vez, completamente sem fundamento, quase uma afronta a inteligência.
Enfim, Vidro era a grande aposta do cinema blockbuster desse início de ano, ainda mais por se tratar de uma história original, coisa rara nos dias de hoje. Infelizmente, Shyamalan não soube aproveitar do seu universo de "super heróis" para nos dar um respiro de Marvel e DC. Uma tremenda pena.
Apesar da boa performance de Andréa Horta como Elis, a cinebiografia - da excelente cantora - sofre do mesmo problemas que outras obras do gênero: a falta aprofundamento. Não adianta, é preciso ter uma direção e roteiro muito espertos para não cair na armadilha da cena x para cena y sem contexto e profundidade.
O melhor a fazer nesses casos é ou partir logo para o documentário ou pegar um determinado episódio da vida do sujeito e explorar em toda plenitude.
Assistir Roma na tela do celular é um pecado. O ideal, já que o filme estreou em poucas salas, é arrumar a maior tela caseira possível para poder apreciar o exímio trabalho técnico de Alfonso Cuarón.
Roma é, sem dúvidas, o filme plasticamente mais lindo de 2018. Fotografia em preto e branco inspiradora. Planos sequências. Tomadas abertas. Cinema em sua mais alta forma. Contudo, com relação ao roteiro, tenho sérias ressalvas.
Não consigo ter empatia pelas lembranças de infância de um cineasta de vida abastada. Cuarón nos leva a um passeio entre memórias de sua família e empregada doméstica. Apesar de ter bastante destaque no longa, a personagem nada mais é que o arquétipo latino-americano da "mucama quase da família". Aparentemente é super bem tratada, porém basta um pequeno momento de stress da patroa para que ela seja colocada no seu "devido lugar".
A cena final do longa, de fato, é muito bonita, e nesse momento até consegui ter certa simpatia pela família. Contudo, bastou eles retornarem à casa para que a garotinha coloque tudo a perder ao "solicitar" algo para a "mucama" - e, de novo, ela é colocada no seu "devido lugar".
Infiltrados na Klan é o retorno de Spike Lee ao cinema ácido, de cunho político, sem medo de tacar o dedo na ferida. O mix entre a seriedade do tema abordado e a homenagem aos filmes de blacksploitation foi muito bem vindo, dando um tom leve e até divertido - mesmo carregado de cinismo - ao filme.
A KKK não passa de uma piada de mau gosto - embora perigosa - e rir desses embusteiros racistas de meia pataca é muito bom. O elenco foi escolhido a dedo e a dupla John David Washington/Adam Driver é sensacional. (Detalhe para como Spike Lee mudou a dinâmica dos filmes de dupla de tiras ao colocar o policial negro como protagonista e o branco seu subordinado). Também há de se destacar a atuação de Topher Grace como David Duke - sujeito da Klan que mandou "congratulations" ao "presidente" brasileiro recém "eleito" - e Corey Hawkins, como o ativista Kwame Ture, que protagoniza uma das melhores cenas da película.
Já o final é um tapa na cara da audiência que não sai indiferente da sessão. Infiltrado na Klan é o melhor filme de 2018, sem dúvida.
Mank
3.2 462 Assista AgoraDepois de um filmaço atrás do outro - e depois de tantos anos após o último, Garota Exemplar, Fincher entrega um filme aquém do seu talento. Tinha tudo para ser interessante... acompanhar as "desventuras" do roteirista do clássico Cidadão Kane... Contudo, o que vemos, fora de aspectos técnicos competentes e boas atuações, é um roteiro que não sabe que direção tomar... se explora relação entre personagens, se explora situação política da época, se explora como eram as jogadas de poder dentro dos estúdios, enfim... nada e nada e em tudo acaba, pelo menos no texto, morrendo na praia. Uma pena.
Só para constar, o longa Filmando Casablanca, que também está na Netflix, é melhor.
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraPeca pelo excesso de efeitos especiais em determinadas cenas. Ao invés do gore, o diretor opta por por mortes à la A Múmia lá do final dos anos 90.
Lindinhas
3.0 195 Assista AgoraEu queria entender onde viram que esse longa é uma "ode a pedofilia"? Ah, sim, por um momento esqueci que vivemos numa onda conservadora... e é típico do "cidadão de bem" se "escandalizar" por algo que, na real, mexe com seus desejos mais obscuros.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraSó vale pelas atuações e uma ou outra cena. Charlie Kaufman é um ótimo roteirista quando quer, contudo, nesse caso específico, a pretensão o cegou.
Resgate
3.5 803Só vale pelo excelente plano sequência lá pelo meio da película.
De resto, roteiro clichê, com percepção de mundo totalmente ultrapassada, onde, mais uma vez, usam o povo de um país pobre como bucha de canhão à gana assassina do europeu de "olho azul".
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraEsse longa é inaceitável. A Disney cuspiu na nossa cara e nos chamou de estúpidos. Para mim, a saga acaba na excelente cena final do episódio anterior, com o garotinho sensível a Força encarando as estrelas, num olhar cheio de esperança. O que fizeram com o Rian Johnson é imperdoável.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraFilme insosso que até lembra o também sem sal Gente Como A Gente... que infelizmente ganhou o Oscar de Melhor Filme... Só falta acontecer de novo.
Calmaria
2.5 242 Assista AgoraPor que o Steven Knight não se focou somente na trama neo-noir - mesmo que batida - ao invés de nos brindar com um plot-twist ridículo desses? Ainda bem que ele nos deu Peaky Blinders para compensar esse fiasco.
Privacidade Hackeada
3.8 119 Assista AgoraBom documentário. Pena que não se aprofunda realmente sobre o assunto que é deveras interessante e assustador.
Aquaman
3.7 1,7K Assista AgoraColorido e divertido. Vale uma sessão da tarde.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraSe tivesse uns 30 minutos a menos seria melhor.
Marighella
3.9 1,1K Assista AgoraA hipocrisia do brasileiro não tem limites. Tem a cara de pau de aparecer aqui munido de falso moralismo e aposto que adora filmes onde a bandidagem norte americana é idolatrada, tipo Al Capone, Bonnie e Clyde, Butch Cassidy, entre outros. Gente que cometia crimes por pura ganância, ao contrário do Marighella, cujos "crimes" visavam enfraquecer um regime brutal que tomou de assalto nosso país. Fora o uso fora de contexto da palavra "terrorista". Algum trabalhador tinha "terror" do Marighella? Claro que não! O trabalhador tinha TERROR era de ser parado numa blitz e levar pancada dos milicos.
1964: O Brasil Entre Armas e Livros
3.1 332Esse engodo tá com média de 3,7!? É, quando a gente acha que a burrice coletiva não poderia piorar é ai que ela ainda surpreende. Triste.
Podres de Ricos
3.5 509 Assista AgoraMerece parabéns por ser uma produção de um grande estúdio onde temos um elenco 100% asiático. Viva a diversidade! Pena que a trama é sem sal. Clichê ao extremo. E ocidentalizada. O que, no final, acaba tirando toda a graça de termos o elenco chinês.
Henfil
3.7 6O filme é bom, contudo faltou um foco maior na obra do Henfil.
Vice
3.5 488 Assista AgoraDos candidatos ao Oscar 2019, Vice era o meu segundo favorito. A obra de Adam McKay segue o mesmo estilo de narrativa do filme anterior, o também ótimo A Grande Aposta, apostando em grandes atuações, no humor negro e na sátira para tratar de um assunto sério que assombrou os EUA durante o governo do republicano George W. Bush.
Munido de grande sarcasmo, Vice nos convida a acompanhar os bastidores da vida política de Dick Cheney - vivido com maestria por Christian Bale - nos meandros lamacentos de Washington. Assim como em seu filme anterior, McKay não poupa ninguém, retratando os manda-chuvas do país "líder do mundo livre" como figuras maquiavélicas sem nenhum tipo escrúpulo, sempre em busca de mais e mais poder e influência, mesmo que isso custe a derrocada de outras nações. Ou seja, Vice é uma sátira sobre o imperialismo yankee muito bem orquestrada, com momentos de puro brilhantismo, quando, por exemplo, descobrimos o verdadeiro papel do sujeito que narra a trajetória de Dick ao longo da película.
Não entendo quem acusa o filme de ser arrastado. Eu, pelo contrário, achei-o, nesse sentido, na medida certa. Soube abordar toda a carreira do sujeito até o final do governo Bush de forma agradável de se assistir, com cortes espertos.
A partir de agora vou ficar atento aos próximos filmes de McKay. Suas duas bolas dentro nessa pegada de sátira com crítica ácida me agradaram muito. Esperarei ansiosamente pelo próximo.
FYRE Festival: Fiasco no Caribe
3.6 227Só vale mesmo para dar risada dos otários.
Ja Rule "Será o evento cultural da década" Hahahaha!
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraO grande mérito de Nasce Uma Estrela é que o filme prende a atenção. Se você o encarar como uma sessão da tarde de luxo pode até curtir a trama um tanto água com açúcar dirigida e protagonizada pelo Bradley Cooper ao lado de Lady Gaga. Aliás, Gaga revela-se uma boa atriz (eu desconheço seu trabalho em American Horror Story) e carrega o filme nas costas. Enfim, para quem não tiver nada melhor para fazer numa tarde qualquer, fica a dica.
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraSegundo longa de Yorgos Lanthimos que aprecio, a Favorita é um pouco inferior ao seu anterior, O Sacrifício do Cervo Sagrado, contudo dá um bom caldo.
Nas mãos de Lanthimos o longa de época vira uma mistura de drama, farsa e comédia, sustentado pelas ótimas atuações das três protagonistas femininas, com destaque para Olivia Colman no papel da mimada rainha Anne. Lanthimos acerta ao desglamourizar a corte inglesa do século XVIII, retratando-os de forma cínica, onde temos uma rainha cheia de problemas de saúde, emocionais e caricata na medida certa, aliada a seu séquito de puxa-sacos cheios de maquiagem e perucas bufantes que não demonstram a menor preocupação com a vida do povo.
Tecnicamente, em A Favorita, destacam-se a direção de arte e figurinos. Lanthimos ousa na fotografia causando uma estranheza estética bem vinda.
No mais, o embate entre Emma Stone e Rachel Weisz é ótimo, porém falha ao não engatar uma quinta marcha, terminando de forma abrupta. Se Lanthimos tivesse ido mais longe, acredito, o filme teria um resultado mais satisfatório.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraOutra vez: cinebiografias que tendem a querer abordar longos anos e diversos fatos - quase sempre dão com os burros n'água. Raramente temos um Amadeus da vida e, infelizmente, Bohemian Rhapsody se encaixa perfeitamente nos dizeres da primeira frase.
Freddie Mercury merecia mais. O Queen merecia mais. Há tempos Brian Singer não sabe mais dirigir um filme com decência. E, pelo que eu soube, a produção foi conturbada acarretando na demissão do cineasta. E isso é sentido no longa. Falta ritmo. Falta aprofundamento. Mimetizar a antológica apresentação do Live Aid, apesar de esteticamente boa, só serve mesmo para arrancar lágrimas dos incautos (sem acrescentar nada ao filme como um todo), numa falsa demonstração de superação do protagonista já que o roteiro apresenta furos cronológicos imperdoáveis. E não adianta vir com o argumento de que "é uma cinebiografia e não um documentário". Nada justifica erros grotescos como colocar a apresentação do Rock In Rio nos anos setenta.
No mais, o elenco faz uma boa imitação da banda e Rami Malek deve faturar o Oscar, injustamente. Há boatos de que haverá uma continuação, contudo dessa eu vou passar longe. Não estou nem um pouco afim de ver Mercury definhando na tela grande em seus últimos anos para que Brian May encha os bolsos novamente.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraShyamalan acertou em cheio com Fragmentado e pegou todo mundo positivamente de surpresa ao revelar que o universo do filme se passava no mesmo de sua melhor obra como cineasta: Corpo Fechado. Assim o cara deixou todo mundo na expectativa do que viria. Estava com a faca e o queijo na mão, contudo não soube aproveitar. Vidro é a primeira decepção em tela grande do ano.
Corpo Fechado e Fragmentado são filmes díspares. O que fazer então para unir todos esses personagens numa mesma história? Colocá-los num hospital psiquiátrico onde uma profissional - a sempre competente Sarah Poulson - tanta provar que seus "poderes" não passam de ilusões de grandeza.
A princípio a ideia é ótima e a primeira hora do filme é bastante interessante, embora de desenvolvimento lento (porém isso também era uma característica de Corpo Fechado), fato que pode decepcionar, principalmente, os fãs mais ardorosos de Fragmentado.
O problema realmente começa do segundo para o terceiro ato que é pobre tanto tecnicamente - é evidente a falta de recursos financeiros para a realização do clímax - quanto, principalmente, de roteiro. Shy conseguiu a proeza de colocar tudo a perder, deixando que os problemas de Vidro respingassem nos dois outros filmes, comprometendo toda a trilogia.
Se em Corpo Fechado o personagem de Samuel L Jackson usava - com sutileza - dos quadrinhos para exemplificar o mundo, aqui há um tremendo exagero nesse quesito, com um blá blá blá chato de filosofia de botequim. Isso sem contar que Vidro não é o protagonista de, pasmem, Vidro!(?). O personagem aparece muito pouco e apesar da sempre ótima performance de Jackson, não consegue nem ser a sombra daquele Mr Glass de Corpo Fechado. Também temos, para variar, um plot twist, só que, dessa vez, completamente sem fundamento, quase uma afronta a inteligência.
Enfim, Vidro era a grande aposta do cinema blockbuster desse início de ano, ainda mais por se tratar de uma história original, coisa rara nos dias de hoje. Infelizmente, Shyamalan não soube aproveitar do seu universo de "super heróis" para nos dar um respiro de Marvel e DC. Uma tremenda pena.
Elis
3.5 519 Assista AgoraApesar da boa performance de Andréa Horta como Elis, a cinebiografia - da excelente cantora - sofre do mesmo problemas que outras obras do gênero: a falta aprofundamento. Não adianta, é preciso ter uma direção e roteiro muito espertos para não cair na armadilha da cena x para cena y sem contexto e profundidade.
O melhor a fazer nesses casos é ou partir logo para o documentário ou pegar um determinado episódio da vida do sujeito e explorar em toda plenitude.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraAssistir Roma na tela do celular é um pecado. O ideal, já que o filme estreou em poucas salas, é arrumar a maior tela caseira possível para poder apreciar o exímio trabalho técnico de Alfonso Cuarón.
Roma é, sem dúvidas, o filme plasticamente mais lindo de 2018. Fotografia em preto e branco inspiradora. Planos sequências. Tomadas abertas. Cinema em sua mais alta forma. Contudo, com relação ao roteiro, tenho sérias ressalvas.
Não consigo ter empatia pelas lembranças de infância de um cineasta de vida abastada. Cuarón nos leva a um passeio entre memórias de sua família e empregada doméstica. Apesar de ter bastante destaque no longa, a personagem nada mais é que o arquétipo latino-americano da "mucama quase da família". Aparentemente é super bem tratada, porém basta um pequeno momento de stress da patroa para que ela seja colocada no seu "devido lugar".
A cena final do longa, de fato, é muito bonita, e nesse momento até consegui ter certa simpatia pela família. Contudo, bastou eles retornarem à casa para que a garotinha coloque tudo a perder ao "solicitar" algo para a "mucama" - e, de novo, ela é colocada no seu "devido lugar".
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraInfiltrados na Klan é o retorno de Spike Lee ao cinema ácido, de cunho político, sem medo de tacar o dedo na ferida. O mix entre a seriedade do tema abordado e a homenagem aos filmes de blacksploitation foi muito bem vindo, dando um tom leve e até divertido - mesmo carregado de cinismo - ao filme.
A KKK não passa de uma piada de mau gosto - embora perigosa - e rir desses embusteiros racistas de meia pataca é muito bom. O elenco foi escolhido a dedo e a dupla John David Washington/Adam Driver é sensacional. (Detalhe para como Spike Lee mudou a dinâmica dos filmes de dupla de tiras ao colocar o policial negro como protagonista e o branco seu subordinado). Também há de se destacar a atuação de Topher Grace como David Duke - sujeito da Klan que mandou "congratulations" ao "presidente" brasileiro recém "eleito" - e Corey Hawkins, como o ativista Kwame Ture, que protagoniza uma das melhores cenas da película.
Já o final é um tapa na cara da audiência que não sai indiferente da sessão. Infiltrado na Klan é o melhor filme de 2018, sem dúvida.