Assisti esse filme pela primeira vez, 20 anos depois, em um cinema de rua de São Paulo é realmente significativo. Jamais vou esquecer daquele início de tarde de uma segunda-feira de setembro, quando pude conferir essa obra inesquecível. É pesado, impactante, bonito e triste. Sem dúvida um filme para ver apenas uma vez na vida.
Uma carta de amor ao jornalismo em sua essência. A arte de se entregar a contar histórias e a coragem de seguir os fatos, relatando e vivendo, mesmo que no horror da guerra. Um documentário bonito, poético, inspirador e triste. Não poderia ser diferente. O ponto alto da produção é trazer relatos verídicos de quem testemunhou a guerra, além de uma vasta fonte de imagens de seus heróis durante o árduo trabalho que é contar histórias para o mundo. Alguns dos personagens são extremamente instigantes. Para uma apaixonada por filmes e documentários de guerra, esse, por mais que seja simples tecnicamente, mostrou uma riqueza de relatos e imagens que me fizeram perceber o quão preciosos são aqueles que arriscam suas vidas para mostrar para o mundo a realidade de um lugar, país ou circunstâncias.
Um filme com uma história que poderia render uma nota melhor. A questão da ajuda humanitária, falta de água e a guerra como pano de fundo não é de todo ruim. O problema é que tanto a direção, roteiro e fotografia utilizam todos os artifícios de filmes de guerra, exageram nos clichês, não aprofundam nenhum personagem e quando não se tem mais o que mostrar, cortam bruscamente e adicionam fade out em excesso.
Para nós, brasileiros, o que faz brilhar os olhos e atiça a curiosidade para conferir ‘O Tradutor’ (Un Traductor) é com certeza o protagonismo de Rodrigo Santoro falando espanhol e russo. O brasileiro tem total controle de seu personagem e entrega cenas dignas do gênero. O longa, dirigido pelos irmãos cubanos Rodrigo e Sebastian Barriuso, conta a história do professor de literatura russa Malin (Santoro) durante os anos 80, quando Cuba recebe vítimas do desastre nuclear de Chernobil para tratamento médico. Marlin é convocado como tradutor na ala infantil do hospital e começa sua jornada, ao ser forçado a conviver e se comunicar com crianças e adolescentes com câncer e seus familiares. Analisando pelo lado narrativo, ‘O Tradutor’ não é um filme espetacular, daqueles que nos deixa vagando ao sair da sala de cinema, mas ainda sim é uma obra excelente! A fotografia e direção de arte merecem destaque pelos cuidados ao retratar a Cuba do final dos anos 80. A trilha sonora é sutil. O primeiro ato é linear ao apresentar o professor junto a família e seu trabalho, com sua rotina comum, no entanto, peca ao fazer o protagonista exagerar na emoção em seu primeiro dia de trabalho dentro do hospital, forçando a empatia com o professor sem muita necessidade. As mudanças na vida de Malin são construídas em sintonia com as transformações dentro de casa e de seu país, como a falta de gasolina para ir trabalhar e a falta de comida nos supermercados. Apesar de brilhar com seu protagonista, Santoro divide o crédito com a enfermeira Gladys (Maricel Alvarez), responsável por orientar Malin em sua nova rotina. O roteiro cai no erro dos diálogos expositivos e no clichê de retratar o seu protagonista caindo em decadência familiar, ao iniciar a grande experiência na vida profissional ao lidar com crianças com câncer. Gosto do tom melodramático de algumas cenas, principalmente de Santoro com as crianças desenvolvendo o que eu considero como um russo fluente. A direção deixa claro que o que importa aqui é a transformação de Malin, sem muita assinatura cinematográfica. No que toca as subtramas, elas são mal desenvolvidas, principalmente a problemática função do filho de Malin, quase que descartável da trama e na vida do professor. ‘O Tradutor’ é um filme bonito ao analisar a jornada da descoberta de seu protagonista, fazendo refletir como as experiências e as pessoas nos alteram de uma maneira irreversível e de como crescemos como ser humano ao ser tocado pela vida do outro. Ao final, é essa mensagem. As coisas nunca mais serão as mesmas, essa é a beleza! Nota 8. Atuação de Santoro é 10.
É bom quando o cinema vai além de diversão. Em muitos casos, filmes nos fazem refletir, nos chocam, nos causam admiração, amor, estranheza e até repulsa. É uma sensação maravilhosa poder conferir vez ou outra, obras que vão além do óbvio, que te fisgam e te deixa sem ar. ‘NÓS’ (US), novo filme do premiado diretor Jordan Peele e protagonizado pela excepcional Lupita Nyong’o é assim: atmosférico, esquisito e sensorial.
Em ‘Nós’, Jordan dá uma aula de como escrever, dirigir e produzir um longa ‘fora da caixinha’ que sabe exatamente como envolver seu espectador. Fato é que depois das duas horas de filme, você não consegue sair indiferente da sala de cinema. É um filme para amar ou odiar, mas Justiça seja feita, é preciso respeitar e acompanhar seu criador.
O longa conta a história Adelaide (Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) que decidem levar o casal de filhos para passar um final de semana em uma casa de praia. Tudo muda quando eles recebem a visita de uma família aterrorizante. ‘Nós’ mistura com maestria artifícios dos gêneros terror e suspense.
Neste filme, Jordan Peele eleva seu nível como escritor e diretor, após o sucesso de Get Out. Ele mostra que tem o filme nas mãos, quando utiliza de excessivos planos fechados, controle da montagem, principalmente nas primeiras cenas, poderosa mise-en-scene ao guiar as expectativas e as emoções do público, a bela fotografia e a trilha sonora poderosa tem grande mérito no desenvolvimento desta arte cinematográfica.
Outro ponto positivo são as atuações. Gosto particularmente de todos os personagens. Os protagonistas tem seus arcos dramáticos bem desenhados. A narrativa dá espaço para o desenvolvimento de todos, com direitos a cenas exclusivas para os pontos de virada individual. É bem verdade que a atuação cinco estrelas de Lupita Nyong’o, sejam por suas mudanças faciais, sua voz e dedicação na cena, é a grande força do filme. Ela cria uma protagonista dúbia até os últimos minutos de projeção. Já seu parceiro de cena, Winston Duke, funciona apenas como alívio cômico. No terceiro ato, o autor perde a mão e vemos seu Gabe perdendo o interesse e se tornando dispensável.
Voltando para trilha sonora, é importante analisar como o diretor não abre mão de usar músicas bizarras, pesadas e animadas em cenas de violência, dando um toque bem pessoal à trama. Mas nem tudo são flores. ‘Nós’ como filme de terror funciona bem, porém quando tentar fazer críticas sociais e levantar questionamentos, ele acaba se explicando demais, deixando tudo muito fácil para o espectador. Prova disso é um plot twist desnecessário e mal executado, com direito a um plano aberto completamente descartável. Jordan deveria saber que, as vezes, explicar uma coisa de forma meticulosa, cansa e a torna sem graça.
Ao longo dos anos, a sétima arte desenvolveu histórias de amor de todos os tipos e gostos, desde o drama pesado à comédia romântica simples e bonita. Digam o que quiserem, mas o romance sempre será um gênero amado e defendido por seus fãs, sejam por suas histórias impossíveis ou os finais felizes que tanto gostamos. Em ‘A Cinco Passos de Você’ (Five Feet Apart) temos tudo que o fã de bom melodrama adora, porém com um roteiro mais maduro e limpo que o famoso “A Culpa é das Estrelas”. ‘A Cinco Passos de Você’, dirigido e produzido pelo estreante Justin Baldoni, conta a história de Stella (Harley Lu Richardson) e Will Newman (Cole Sprouse) que se conhecem no interior de um hospital. Stella e Will possuem fibrose cística e por conta disso precisam se manter afastados, como indica o título do filme. Obviamente eles se sentem atraídos e se apaixonam e durante a trama, vemos o desenrolar desse amor impossível. Após cinco anos da estreia de ‘A Culpa é das estrelas’ é comum o espectador, após ver o cartaz de Five Feet, se perguntar se os filmes são parecidos. Olhando pela questão da história de amor apesar da doença ou ‘graças’ a ela, sim eles são! No entanto, Five Feet nos traz um roteiro mais maduro, com uma mensagem mais palpável, ao retratar a importância do contato humano, do abraço, de manter a proximidade com quem amamos e estão a nossa volta. Uma crítica intrínseca ao uso excessivo de celulares e tecnologia quando podemos apenas aproveitar o momento e conversar olhando nos olhos. O filme segue uma narrativa linear, com uma poderosa e linda trilha sonora, uma bela fotografia e a atuação dedicada de Harley Lu, que da a sua protagonista a sagacidade, delicadeza, inteligência necessária para criar uma personagem interessante, causando empatia automática. Infelizmente Cole Sprouse sofre da maldição dos galãs, sendo apenas bonito, sexy e sombrio, falhando muito quando seu personagem preciso de uma carga dramática maior em momentos decisivos. Os roteiristas adicionam aqui todos os elementos para criar um belo melodrama, porém esquecível. Eles falham no sentido de apresentar o personagem de Will, assim como falham em desenvolver melhor o interesse inicial do casal, se tornando algo automático demais para acreditar nos dias de hoje. No terceiro ato, é visível como a direção e o roteiro perdem a mão na tentativa de criar um clímax, se estendendo demais em momentos desnecessários. Outro erro é o não desenvolvimento da relação dos protagonistas e suas respectivas famílias, que aparecem apenas em momentos de tensão, criando a impressão que são afastados e frios, coisa que a cena final deixa visível não ser o caso. Five Feet é excelente em nos faz chorar (quase todo mundo da minha sessão chorou) ao pôr em tela as consequências das nossas escolhas, os amores que não dão certo por questões além de nós, mas que valeram a pena serem vividos. Afinal, quem tem a sorte de ter um primeiro e bonito amor? Nota do coração: 9 Nota técnica: 7,5
Capitã Marvel é a prova viva que a gigante produtora dos filmes de super-heróis sabe o que faz e para quem o faz. Marvel Studios acerta mais uma vez em produzir um filme leve, divertido, colorido na medida certa, onde traz uma protagonista carismática e muito mais interessante que “Mulher Maravilha”. No entanto, se você espectador, vai esperando assistir a criação de uma heroína icônica, é melhor reduzir as expectativas. Capitã caminha no limiar de uma mulher com superpoderes, carregando uma mensagem muito clara de superação dentro de uma sociedade patriarcal e machista, mas infelizmente é mal desenvolvida e a história da heroína cai no raso de uma simples diversão cinematográfica. O longa, dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck conta a história da ex-piloto da aeronáutica Carol Danvers ou Vers (Capitã Marvel) interpretada pela vencedora do Oscar Brie Larson. Vers é membro de uma equipe militar Kree, que acaba sendo capturada por inimigos do espaço e retorna a terra. Sem lembrar de seu passado, Vers conta com a ajuda de Nick Fury (Samuel L Jackson) para capturar seus inimigos e descobrir sua própria história. Para um roteiro feito a cinco mãos, Capitã tem furos grotescos e uma protagonista que tinha todas as características plausíveis para se tornar memorável, mas se perde em clichês feministas, alívios cômicos nem tão pontuais assim e em explicitas conveniências de roteiro, principalmente quando envolve o tesseract pela milésima vez como um macgufim em sua narrativa. Mas nem tudo são espinhos. Quando se trata de mostrar uma mulher real, sagaz, que enfrenta seus medos e luta por seus sonhos, Marvel acerta em cheio. Carol Danvers é inteligente, ácida e carismática. A química entre Brie e L. Jackson é muito bem explorada no filme e funciona! Diferente de “Mulher Maravilha”, os produtores deixam claro que capitã não faz questão se seguir a linha casta, dócil e pura, principalmente quando usa roupas descoladas, jaqueta de couro e boné, criando facilmente uma identificação nas mulheres que assistem ao filme. Capitã utiliza traços claros da jornada do herói e da jornada da heroína em sua estrutura narrativa, mas se torna mais interessante quando não segue à risca as regras deste subgênero. O roteiro brinca com as regras de execução, jogando o espectador para uma cena de ação nos primeiros minutos de filme, criando curiosidade. Ao longo do filme, vemos a protagonista lutar contra forças internas e externas, na tentativa de se libertar das algemas das imposições que recaem sobre as mulheres. Analisando pela ótica feminista, o longa utiliza um subtexto simplista e frases de efeito conhecidas, para mostrar sua heroína destruindo um estereótipo que a mulher não pode e não deve fazer. O fato da protagonista ser uma piloto de avião é demonstração de poder por si só, na minha opinião, não precisava dizer o óbvio e infelizmente o roteiro se dá ao trabalho de dizer. Para quem procura personagem feminina empoderada que leva as mulheres aos aplausos dentro do cinema, vai dormir durante Capitã Marvel. Existem filmes muito melhores. Outro ponto muito claro neste filme é mostrar que a Marvel está mais preocupada em oferecer diversão, sem grandes pretensões, nos apresentando “novos heróis” que irão compor seu universo, nas próximas produções após ‘Vingadores o Ultimato’. Então, se você procura um grande filme, assista Vingadores Guerra Civil ou Pantera Negra, pois Capitã Marvel cai na rede dos filmes divertidos e esquecíveis. Nota 7.
Guerra Fria reúne tudo que há de melhor no mundo cinematográfico para os amantes de uma bonita história de amor. Um filme em preto e branco com uma bela fotografia, trilha sonora excepcional, casando com a imponente atuação de Joanna Kulig e um drama com cenas de fazer qualquer romântico suspirar. O longa do polonês Pawel Pawlikowski (ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro por Ida), reúne os conflitos durante o período histórico da Guerra Fria ao drama romântico, ao contar a história de amor entre a jovem cantora Zula (Joanna Kulig) e do maestro Wiktor Warski (Tomasz Kot) que se no conhecem interior da Polônia stalinista em 1949. O romance se desenvolve ao longo de 15 anos e é ambientado entre Paris, Berlim, Varsóvia e Zagreb. É verdade que Guerra Fria reúne todas as técnicas para se tornar uma história de amor memorável, mas o diretor polonês erra em usar o subtexto de uma forma excessiva, muitas vezes deixando o espectador sem explicações necessárias das decisões de seus protagonistas. O primeiro ato é bem desenvolvido na questão de apresentar o casal, de fazer quem assiste acompanhar a paixão de um homem e o poder de sedução de uma jovem mulher com olhar profundo e misterioso. O primeiro plano utilizado pelo diretor para gerar empatia com os personagens funciona e chega a ser o ponto alto do início do filme. Mas, com as passagens de tempo, vemos os protagonistas se reencontrado, conversando e tomando decisões que o roteiro não faz questão de mostrar, pois está claro que o centro da história é o amor, encontros e desencontros do casal desafortunado. É obvio ao expectador que o longa é contado pela visão do maestro, com exceção de duas cenas. Tudo que ele não vê, não sabe, não viveu, é inexistente na história. Chega a ser um ponto engraçado, ao analisar que durante o filme, toda carga dramática e cenas memoráveis fica a cargo de Zula, com sua linda voz, comportamento que navega entre o descontrolado, infantil, poético e passional. O maestro, apesar do charme e talento, é só mais um homem sofrendo pela mulher que ama. Ao final, Guerra Fria vai costurando uma narrativa comum como outros dramas do gênero, mas não deixa de ser um filme bonito. Quem deseja suspirar por uma bela história de amor que resiste ao tempo e conflitos, com um final satisfatório, esse é o filme! É bem verdade que alguns dos pontos listados acima podem ser ignorados e tornar a produção do diretor uma das minhas preferidas de romance. Nota: 7,5
"O trabalho do vice-presidente é esperar o presidente morrer", essa é uma das frases proferidas em Vice, por Lynne Cheney (Amy Adams), esposa de Dick Cheney, que logo se tornaria o vice-presidente do EUA na era de George W Bush. Em tempos, no Brasil, na qual vimos um vice-presidente retirar do poder a base do golpe uma presidente eleita pelo povo e, atualmente, temos um vice-presidente que é vendido pela imprensa como o próximo Michel Temer, é um tanto engraçado e temeroso conferir Vice, longa produzido por Adam Mackay (A Grande Aposta) e estrelado pelo excepcional Christian Bale, na pele do polêmico Dick Cheney, que rege a Casa Branca com mãos de ferro e tem poder de influência total sobre Bush. Vice é uma cinebiografia que conta a história de Cheney (Bale), desde a juventude, quando era apenas um homem comum, com sérios problemas com bebidas e violência até decidir mudar de vida, estudar e entrar para política. Casado com a escritora Lynne, ele tem duas filhas e, no começo da carreira política, se torna chefe de gabinete do presidente Gerald Ford, aos 34 anos, se tornando a pessoa mais jovem a ocupar o cargo. É assim que o longa de Mackay vai ganhando vida, ao relatar a ascensão e os dramas do polêmico vice-presidente. Assim como seu protagonista, o filme divide opiniões e nos confunde em alguns momentos. Diferente de “A Grande Aposta”, última produção do diretor, acho Vice bem mais inteligível em seu discurso político, mesclado entre o sarcasmo e humor negro. Nos créditos iniciais, o diretor já expõe o teor narrativo não-linear do longa, que vai contando a história com uso de flashbacks, flashforwards e quebras da quarta parede. É preciso dar crédito a Hank Corwin, responsável pela montagem poderosa, que muitas vezes segura o filme nas costas, quando Mackay exagera em sua narrativa. Acredito que um corte de 15 a 20 minutos de projeção não iam fazer mal ao longa. A fotografia de Greig Fraser me chamou a atenção em apenas uma cena, que mais parecia um quadro sombrio. Gosto muito como o roteiro de Mackay humaniza o manipulador e extremista vice-presidente, utilizando o coração frágil (literalmente!!) do protagonista. Mesmo nas horas mais polêmicas, o roteiro usa metáforas inteligentes, casando com as caras e bocas de Cheney, fazendo com que a narrativa fique, digamos assim, mais leves. Em Vice, Mackay não faz questão que seu público tenha empatia pelo protagonista, ele sabe que está ali para contar uma história polêmica de decisões que custaram vidas. A verdade é que o longa tem tantos pontos de virada, que por um momento eu parei de contar. Me incomoda a cena que retrata as decisões tomadas por Cheney, após o atentado de 11 de setembro, acredito que pelo simples fato de ser um evento que já vimos mil vezes no cinema, como também o desenvolvimento de um personagem que sai da história sem muitas explicações. Desconheço até que ponto seja verdade o tamanho da influência que Lynne Cheney tem sobre o marido, sendo uma esposa ativa em todos os passos e decisões do político que obedece a mulher em tudo. O desenvolvimento do arco dramático da personagem de Amy Adams é meu ponto favorito no longa. Se Mackay não tivesse alguns cuidados, Lynne Cheney assumiria o protagonismo da história com facilidade e beleza. Belíssimo trabalho de Amy (torço por ela no Oscar). No mais, Vice não é um filme de fácil degustação, mas super indicado principalmente para os amantes da política, teoria da conspiração, história e humor negro. Nota: 8,5.
Filmes com temáticas feministas, mostrando grandes mulheres sucumbidas ao machismo, relacionamentos tóxicos e deveres sociais estão sendo produzidos em grande escala. O maior objetivo dessas produções (acredito eu), sejam elas biografias ou dramas, é fazer com que o espectador (sociedade) reflita sobre os percalços percorridos pelo simples fatos de ser mulher e de suas escolhas nunca serem fáceis. The Wife, dirigido pelo sueco Björn Runge, é um filme que aborda essa temática de uma maneira bonita e tocante. "A Esposa" conta a história de Joan Castleman (Glenn Close) casada com o escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce), quando eles recebem a notícia que Joe receberá o prêmio Nobel de Literatura. O casal, junto com o filho mais novo David (Max Irons) viajam para Estolcomo, para a cerimônia de entrega do prêmio. The Wife é Glenn Close, literalmente! A atriz (que deve levar a estatueta de ouro durante a cerimônia do Oscar) não brinca quando o assunto é atuação. As feições de Glenn demostram com maestria todo conflito interno da protagonista. O artifício do subtexto no roteiro é quase que um personagem durante o filme. Seja quando a câmera centraliza no rosto de Joan e mostram as feições de dor da personagem, casando com tons de amarelo demonstrando toda sua melancolia. Ou quando Joan faz questão de se apresentar aos amigos do marido, mesmo depois de afirmar ser tímida e acostumada a estar de lado, ou quando a protagonista diz coisas que claramente não está sentindo. Ou quando parece no lado esquerdo do quadro, pequena, incomodada. Joan é mestre em dizer em público tudo que se espera de uma mulher recatada e do lar.
Não é preciso ser mulher para ter empatia com a protagonista, pois o roteiro desenvolve bem o arco dramático da personagem, deixando claro os motivos que a levaram fazer o que ela faz por tantos anos. Como todo filme nessa temática, The Wife tem o marido como um cara machista, egocêntrico e totalmente dependente da companheira. Os pontos de virada são bem desenvolvidos no segundo e terceiro ato, sendo meu favorito a cena durante a entrega do prêmio Nobel. É de fazer qualquer mulher chorar. O climax é bem executado. É tudo que se espera depois do incidente incitante. Dois pontos me incomodam no filme: o primeiro são os flashbacks. Depois da terceira execução, eles fazem os personagens parecerem pouco interessantes e suas tramas comuns, além de explicar algo que já estava na cara o tempo todo. O segundo é o desfecho. Apesar de saber que foi baseado em um livro, achei o final pouco satisfatório, fácil demais, entrando na ala do comum, algo que não se esperava depois de uma história assim.
Enfim, The Wife é um grande filme, que nenhum momento usa a mulher como vítima do mundo cruel (a personagem é forte e tem consciência de suas decisões) e sim como alguém subjugada por uma sociedade machista. Vale a pena conferir, se emocionar e refletir. Nota 8.
A primeira a coisa a dizer sobre Den skyldige (nome original) é: QUE FILME!! primeiro longa visto em 2019 e não decepciona! Agradeço ao cinema de arte do cinépolis por isso (sinceramente, a experiência de ver um bom filme no cinema é insubstituível!). Dito isto, vamos ao filme!
A Culpa (nome em português) é um longa que conta a história do policial Asger Home (Jakob Cedergren), que após cometer um erro no trabalho de rua, acaba confinado ao serviço de atendimento de emergência. Durante um turno, ele atende a ligação de uma mulher (Iben) que foi sequestrada e o policial acaba envolvido na trama na tentativa de salvar a vítima, apesar do trabalho dele ser estritamente repassar a situação para delegacia.
O filme Dinamarquês é dirigido por Gustav Möller que também assina o roteiro junto com Emil Nygaard Albertsen. Nos primeiros 15 minutos de filme já percebemos o peso da trama e a carga emocional do protagonista. É incrível como Gustav brinca com o público ao apresentar fragmentos de informações durante a projeção, fazendo com que o telespectador fique tenso e tentando entender o que vai acontecer a seguir.
Mesmo tendo pouquíssima experiência com longas filmados em um único ambiente, sei que é algo difícil de fazer e principalmente em deixar quem assiste interessado, mas A Culpa não sofre com esse problema. Graças a ótima direção, roteiro e também da atuação de Jakob Cedergren, ficamos atentos (sem respirar direito, no meu caso) até os últimos minutos.
É engraçado como as reações do protagonista muitas vezes refletem a nossa, como de querer estar no local, de olhar, vislumbrar, saber o que de fato é aquilo. A sensação de impotência, de querer ajudar e ao mesmo tempo não poder fazer nada (quem nunca sentiu isso?). A fotografia é regular, assim como a montagem. O trabalho na mise en scène é muito bem feito. Enfim, A Culpa é um suspense de qualidade. Para quem gosta de filme bom, sem sangue, tiros ou correria, vale a pena ser visto!
Um filme doloroso e bonito, é assim que consigo definir The Third Wife (NGUOI VO BA). Uma produção vietnamita da diretora ASH MAYFAIR, que também assina o roteiro. O longa retrata a vida na zona rural do Vietnã no século 19 e conta a história da menina May, que com apenas 14 anos que se casa com um rico dono de terras e se torna a terceira esposa, realidade da cultura local e é nesse ponto que ele choca, desde as primeiras cenas. O filme com apenas uma 1h30 minutos tem uma narrativa linear, fotografia bonita com momentos belos quando se passa nos longos e verdes campos do Vietnã. Tem trilha sonora melancólica, atuações bonitas e verossímeis. May, interpretada pela atriz (LE VU LONG) é a escolha perfeita para terceira esposa e o ponto central do longa do começo ao fim. O espectador só vê o que a protagonista enxerga e sente ao longo do filme. Coisas inimagináveis à jovem, é desconhecido para quem assiste. Por conta disso, ficamos com algumas dúvidas ao final do filme. The Third Wife é um longa sobre descobertas, sobre cultura e sexualidade. É sobre uma menina completamente inocente lançada em uma família culturalmente diferente do que estamos acostumadas. É sobre sua dor, suas dúvidas, suas confusões, seus medos e desesperos (como implorar para ter um filho homem). É também um filme sobre família, sobre mostrar que todos temos demônios interiores, apesar de tentar parecer para o mundo que somos comuns. O filme mostra sem nenhum pudor o preço que terceiros pagam por nossos pecados e, naquela realidade, a falta do poder de escolha. May nos faz sentir dor, tristeza só com o olhar, com cada palavra que ela nunca diz ou quando vemos aquela criança grávida e feliz. Uma realidade inimaginável para muitas meninas nessa idade. Dizer mais que isso seria spoiler, então recomendo ver o filme. Vale muito a pena pelas reflexões que fazemos assim que os créditos ganham vida na tela grande. Nota: 7,5
A primeira coisa que digo como fã é: como é bom ver a dupla dos lencinhos e sofrimento Shailene Woodley e Sam Claflin juntos em um dramão gostoso de se ver. Pelo trailer, você já sabe como começa e se desenvolve a história de Tami e Richard em Vidas à Deriva. O longa dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur é lindo (tecnicamente) e emocionante. Vale cada centavo da pipoca e os lenços que gastei. Vidas conta a história de um casal aventureiro que se apaixonada e, por conta de um convite, resolvem velejar até à Califórnia. Trocando em miúdos algumas técnicas, o ponto alto é a narrativa não linear. A fotografia por sua vez é belíssima e os cenários paradisíacos ajudam o telespectador a imergir na história bonita e trágica do casal. As cenas no mar, principalmente o ponto alto da história, são extremamente realistas, efeitos visuais bem executados, nada mirabolante e surreal como acontece no recente Missão Impossível. Não conheço outros trabalhos do diretor, mas é possível ver claramente o quanto ele cuida da câmera com planos detalhe e vários cortes para oferecer uma realidade bem maior à história. A maquiagem é digna de aplausos, muito similar a do clássico "Naufrago". Agora, é bem verdade que Vidas à Deriva é o filme de Shailene Woodley. A atriz faz aqui sua estreia na produção de um longa, mostra toda sua capacidade de atuação em cenas pesadas e memoráveis e carrega o filme quase que inteiro nas costas, com maestria. Pena que Sam mais uma vez fica imobilizado (literalmente) e me prova mais uma vez ser um ator mediano, apesar do rosto bonito e do sotaque inconfundível. O filme é baseado em fatos reais, o que o torna mais triste ainda. Nota 8,5. PS: Isso não é uma crítica cinematográfica (estou enferrujada).
Sou uma romântica inveterada, embora, as vezes, não goste de admitir isso. Sendo assim, é óbvio que gosto de uma comédia romântica ou um dramão clichê de qualidade. Ao ler a sinopse do mais novo romance de Rodrigo Bernardo, diretor do bonito “o filme da minha vida”, acreditei que se tratava de um clichê romântico, mas me enganei. É uma pena admitir que Talvez não consegue a carga emocional necessária para um romance, digamos que, no mínimo empático e Matheus Solano passa vergonha na pele do metódico e perdido Virgílio, protagonista do filme. O longa conta a história de Virgílio, que leva uma vida pra lá de equilibrada e monótona, mas um certo dia chega em casa do trabalho e, ao apertar o play da secretária eletrônica, ouve uma mensagem de uma mulher pondo o fim no relacionamento dos dois. Até aí nenhuma novidade, a não ser pelo fato que o personagem de Solano não lembra de nenhum ter relacionamento recente. O roteiro, assinado pelo diretor, vai se nortear completamente nessa busca de Virgílio por respostas, pela mulher da mensagem na secretária eletrônica e esse caminho não seria o erro, até porque muitas comédias românticas americanas apostam em histórias muito mais mirabolantes que essa, mas o que falta em Talvez é a química, é o desenvolvimento tangível dos personagens, principalmente de seu protagonista. Matheus Solano que eu adorava fazendo novelas, até se esforça para dar vida ao metódico Virgílio e nos primeiros 20 minutos ele quase consegue, mas o roteiro busca algumas alternativas fáceis sem a carga emocional necessária para alguém que apagou da memória “o amor da sua vida”. Os alívios cômicos são eficientes de alguma forma (ou era o meu desespero para gostar do filme), a forma como Rodrigo retrata uma São Paulo de maneira retrô, mesmo deixando claro o que longa é dos anos 2000 é interessante. A fotografia é fiel a essa ideia, mas sem grandes surpresas ou méritos. Os cenários casam com a personalidade do personagem que tem um celular dos anos 90, móveis antigos, não tem televisão e não usa computador no trabalho, um ser completamente anti-tecnologia. A trilha sonora por sua vez segue a linha romance americano com direito aos clássicos de Frank Sinatra e músicas alá A vida secreta de Walter Mitty (a cena final que o diga). A atuação dos outros personagens ficam à margem. A escolha de Thaila Ayala como par romântico de Solano faz a gente pensar que não teve sequer um teste antes, pois a química do amor tangível cinematográfico passou longe do casal, mas isso deve ser ao fato deles se encontrarem nos últimos cinco minutos de filme. Vale a pena ver Talvez uma história de amor somente para prestigiar o cinema nacional, ir ao cinema e comer pipoca, no mais, o longa entra o rol de bola fora do queridinho Rodrigo Bernardo. Nota 4.
Arábia é sem dúvida uma obra-prima nacional, um presente dos diretores Affonso Uchôa e João Dumans para nós. O longa é um retrato direto da classe trabalhadora brasileira, daqueles pobres homens e mulheres que se doam de corpo e alma para conseguir sobreviver no mundo capitalista e feito para os ricos, no qual vivemos. O filme retrata a vida de Cristiano (interpretado com maestria por Aristides de Souza), um operário que passa cerca de 10 anos na estrada, indo de cidade em cidade em busca de um emprego e um lugar para dormir. Confesso que fazia algum tempo que não assistia um filme nacional tão tocante e fiel, desde Que Horas Ela Volta com Regina Casé. Arábia inicia com um pseudo plano sequência, mostrando um menino andando de bicicleta e de fundo toca uma música folk que tem pouquíssima ligação com o que o filme vai mostrar em seguida. O longa ganha corpo (e alma) quando Cristiano aparece em cena, um sujeito gente como a gente, com as feições sofridas e ao mesmo tempo esperançosa. Quando o operário, com pouca escolaridade, começa a contar sua história, somos surpreendidos com um belíssimo texto, cheio de entrelinhas e significados, cada palavra carregando tragédias brasileiras. Os diálogos de Cristiano com os amigos, que ele faz ao longo de sua jornada, são tristes e ao mesmo tempo cômicos, digna do brasileiro que não perde a alegria de viver a vida, mesmo nas piores circunstâncias. Quando o operário fala "ruim é não ter o que comer", durante uma conversa com um amigo que reclama da comida, é algo tão simples que ainda precisa ser dito, precisa ser ouvido pela classe média que bate recordes de estrago de comida diariamente. Mas nem tudo na vida do protagonista é luta. Com momentos de alegria com os amigos e até românticos com a mulher que ele amou, acompanhada de uma linda trilha sonora com clássicos de Raul Seixas e Maria Bethânia, Arábia nos traz também uma fotografia e figurino com tanta beleza e cuidado, assim como os locais das filmagens, longos campos, estradas escuras e fábricas sujas. A fala final do personagem é tão delicada, triste e tão real, que nos colocamos na pele daquele trabalhador e entendemos a sua luta e sua dor. Resumindo, Arábia é um filme que deve ser visto e revisto por todos nós. Nota 9,6.
Um filme tão bonito e ao mesmo tempo simples. É lindo como ele mistura momentos de humor ou de completo drama com maestria, sem perder a essência. Simplesmente adorei!
Não sou fã de filmes de terror, é verdade! Mas preciso admitir que o gênero tem seu brilho até para os não fãs, por causar certa magia em seu telespectador, um certo frenesi. É uma mistura de tensão, de medo do irreal e até os sustos. Um bom filme consegue despertar isso e Um lugar silencioso (A quiet Place) consegue acertar na receita e fazer isso com certa excelência, pois é um excelente filme de terror com a mistura de suspense de ótima qualidade. O filme conta a história de uma família vivendo em uma cidade inabitada, após ser dizimada por seres sensíveis a sons. Resumindo, se você dizer algum barulho, é devorado pelo monstro (e que monstro!). O estreante diretor John Krasinski mais conhecido por suas atuações em comédias românticas, começa sua carreira com um filme que os especialistas taxam como melhor terror de 2018 até agora e com toda razão. Um lugar silencioso consegue manter o telespectador tenso, prendendo a respiração e fascinado durante os 90 minutos de filme. Toda esse fascínio se deve a excelente edição e mixagem de som (impossível não notar, pois há tempos comer pipoca ou até ofegar no cinema não soava tão alto). A ótima fotografia de Charlotte Bruus Christensen, a direção de arte de Sebastian Schroeder, a trilha sonora pontual de Marco Beltrami, além das excelentes atuações de John Krasinski (porque não basta só dirigir o filme, tem que atuar também) e da veterana Emily Blunt. Esta por sua vez é simplesmente a dona do filme e também da melhor cena do longa. Nunca mais vou olhar para uma escada da mesma maneira. É claro que Um lugar silencioso tem alguns problemas. O principal deles é não se dar ao trabalho de explicar de onde veio os seres assassinos, além de dar um resolução tosca demais para um final, digamos que, feliz. É percebível que o roteiro assinado pelo diretor e pela dupla Bryan Woods e Scott Beck se prende bastante aos detalhes de desenvolver a história de uma família que simplesmente se comunica por sinais, privada de todo tipo de vida que faça algum som, seja brincar com dados ou comer em um prato com garfo e faca. Mas não considero essas falhas no roteiro prejudicial ao filme. Nota 8,5.
É a coisa mais natural do mundo você gostar tanto de um filme a ponto de querer uma continuação, mesmo que na maioria das vezes, não exista real necessidade disso. Você simplesmente quer por curiosidade, para saber como ficaram as vidas de seus personagens preferidos, o passar do tempo para os vilões e as mudanças do cenário em si. Algumas continuações são realmente legais, como de volta para o futuro ou porque não falar da saga do bruxinho Harry Potter? Pois bem, Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim Uprising) não entra nesta lista. Após 132 minutos de filme, eu conclui, com muito pesar, que mataram meu tão amado Pacific Rim (2013) de Guillermo del Toro e tornaram esta continuação uma mistura de Transformers com Power Rangers. Neste longa, está claro que Steven S. DeKnight resolveu esquecer todo o excelente trabalho de Del Toro em 2013 ao homenagear os Mechas (animes estrelados por robôs gigantes) e seguir a fórmula de um passa tempo pipoca de robôs brigando. O filme não é de todo ruim. O mocinho Jake Pentecost (John Boyega) que também assina a produção, até consegue salvar em alguns momentos com a boa interpretação do jovem perdido que carrega o legado do pai (interpretado no original por Idris Elba). Alguns alívios cômicos são eficientes e aatuação do elenco mirim também dá um toque descompromissado nesta continuação. Se o roteiro de Emily Carmichael, Kira Snyder, Steven S. DeKnight e T.S. Nowlin são cheio de falhas e absurdos, as cenas de luta, tirando o fala fala desnecessário, até que fazem os fãs do original suspirarem um pouquinho, pois são realmente boas. Mas confesso que senti falta do conjunto efeitos visuais, da tão conhecida trilha sonora de Ramin Djawadi e das atuações mais maduras. (quem aqui esqueceu da luta épica em Hong Kong?). Para quem nunca assistiu o original, este longa realmente vai empolgar, vai divertir e fazer você comer sua pipoca feliz. Como disse acima, é um passa tempo legal, mas esquecível. No entanto, para os fãs, é difícil sair da sala de cinema (que tanto amo) com um sorriso de satisfação no rosto. Nota 5. E que venha o terceiro filme, pois ainda tenho esperança que possa ser melhor.
Maria Madalena sempre foi uma figura misteriosa no quesito histórico da passagem de Cristo na terra. A mulher tida como o simbolo do pecado e do perdão do filho de Deus sempre foi controversa na história da bíblia. Não é preciso saber muito para conhecer as várias versões que dão à ela. Na visão do diretor Garth Davis, Mary Magdalene interpretada pela maravilhosa Rooney Mara vem emponderada, diferente. A mulher que largou tudo e seguiu os passos do Messias (Joaquin Phoenix), uma típica e já esperada versão para os tempos em que vivemos. Como cristã desde o nascimento, eu poderia encontrar umas mil falhas e taxar como uma heresia algumas manobras do roteiro assinado pela dupla Helen Edmundson e Philippa Goslett, mas não! Cinema é arte e esta é livre para desenvolver o seu ponto de vista, coisa que acontece lindamente graças a atuação limpa de Rooney. É claro que alterar as versões da bíblia neste longa serve somente para adequar a mensagem central do filme que é a independência feminina naqueles tempos tenebrosos em que viviam as mulheres. Não se pode deixar de notar com alegria a bela fotografia do filme, que dá toda vida ao cenário muitas vezes já decorado pelos amantes de filmes religiosos. As cores vivas dão toda diferença e os cenários são uma atração por si só. A trilha sonora de Hildur Guðnadóttir e Jóhann Jóhannsson é sutil e bela. Nos momentos de total falta de texto, somente as atuações delicadas de Rooney e Phoenix combinada aos sons instrumentais, dão vida as sensações do telespectador (eu chorei mesmo, confesso). Outro ponto positivo é a maquiagem. Enquanto Phoenix abusa do recurso e combinado com a barba, trazendo um Jesus bem envelhecido (até demais), Rooney está quase que completamente sem maquiagem, contando apenas com o recurso da iluminação. Gosto de como Davis aprofunda a história de Judas (Tahar Rahim), o humanizando de uma maneira que nos fazem repensar os motivos que o condenamos tanto, uma vez que ele foi errado e apenas humano como todos nós. Aqui Judas ganha uma voz para contar sua história, ao mesmo tempo que o personagem de Phoenix é tratado em segundo plano, o que é muito interessante de ver. Se acho o roteiro fraco? Bom, ele poderia ser mais, mas acredito que já seria forçar demais a barra. Finalizando, Maria Madalena (2018) é um filme que vale a pena ser visto pelo contexto da história dessa mulher tão marginalizada, como todas nós. Nota 7,5.
Sempre achei que tratar de racismo em uma obra cinematográfica sem deixar o personagem parecendo um pobre coitado é um trabalho difícil e quando o diretor, o roteiro e o próprio ator conseguem isso, é uma alegria. Com Get Out (Corra - título em português) isso acontece e é extremamente bem executado. não por acaso ele concorre como melhor filme, melhor diretor (Jordan Peele), melhor ator para o ótimo Daniel Kaluuya e melhor roteiro original no Oscar 2018. O filme conta a história de Chris (Kaluuya) que vai passar um final de semana na casa dos pais da namorada Rose (Allison Williams), que é branca dos olhos claros e tem uma família repleta de burgueses brancos como leite (pra variar). Depois da apresentação do casal, aos 10 minutos de filme, já percebemos a atmosfera tensa. É visível o desconforto do personagem ao estar naquela situação e o protagonista transmite muito bem isso, claro que com a ajuda de uma boa fotografia e trilha sonora sutil. Não sei se ter visto o trailer e também algumas publicações com quase spoiler do filme ajudou na percepção, mas logo quando Chris conhece a família da namorada, fica claro que há algo estranho naquela casa, algo macabro e assustador. É gostoso de ver como Peele mantém o telespectador preso em cada desenrolar da história, que fica na tentativa de montar o quebra-cabeça e descobrir o que está acontecendo naquela casa, além do racismo escrachado. Os elementos do terror são muito bem utilizados, me atrevo a dizer que muito melhores que em filmes que se intitulam fiéis ao gênero e não há susto nenhum nos jumps scares. Apesar disso, não considero Get Out um terror, acho que ele está mais para o suspense, mas de qualquer forma, é um grande filme. E o final? É sem dúvida a cereja do bolo, embora em acredite que ele peca em algumas execuções nos últimos cinco minutos, mas nada que faça esta obra ser considerada ruim. Nota 8.
Algum tempo atrás conversava com meu professor de cinema sobre montagem, a importância dela e penso que cinquenta tons de liberdade é um dos mais recentes exemplos de uma péssima montagem. Confesso que já fui fã da história, li todos os livros em um curto espaço de tempo e o primeiro filme me agradou. No entanto, considerei o segundo quase que um fracasso total, mas o terceiro e último consegue ser pior, pois é um conjunto de um roteiro confuso e uma montagem feita as pressas (. A história em si é simples, Anastasia (Dakota Johnson) e Grey (Jamie Dornan) se casam e passam a enfrentar o vilão Jack (Eric Johnson) que tenta a todo custo prejudicar o casal e a família de Grey. Aqui, a coisa boa é que James Foley (diretor) assume o longa como sendo um crepúsculo com mulher pelada, dando maior atenção ao desenvolvimento do casal e não somente as cenas de sexo nada empolgantes. Dakota Johnson merece uma estrelinha nesse filme por tentar dar mais vida a sua Ana, agora Jamie Dornan que nos outros filmes víamos até uma tentativa de ser o sexy e magnata Christian Grey, nesse último ele está no piloto automático, chegando a ser visível o tamanho de seu desconforto nas cenas mais "quentes". A trilha sonora é sem dúvida uma qualidade no filme, além da fotografia que é simpática. No mais, mesmo sendo uma trilogia um tanto polêmica e bastante criticada, a impressão que dá é que cinquenta tons não faz nenhum esforço para dar um desfecho no mínimo digno aos seus fãs, finalizando de uma hora para outra, como se tivesse sido cortado bruscamente. Nota 6.
Achei linda e tocante a atuação de Casey Affleck. Mereceu a estatueta de ouro. Acusações de assédio a parte, Affleck conseguiu transmitir a dor, a raiva, o sentimento de perda que o seu personagem carrega. A escolha de cores e a fotografia do filme só contribuem para construir a atmosfera melancólica. Manchester by the Sea é aqueles dramas que fazem a gente sentir a dor da história dos personagens. Nota 9,5.
Oldboy
4.3 2,3K Assista AgoraAssisti esse filme pela primeira vez, 20 anos depois, em um cinema de rua de São Paulo é realmente significativo. Jamais vou esquecer daquele início de tarde de uma segunda-feira de setembro, quando pude conferir essa obra inesquecível. É pesado, impactante, bonito e triste. Sem dúvida um filme para ver apenas uma vez na vida.
A vida pela notícia
3.6 4Uma carta de amor ao jornalismo em sua essência. A arte de se entregar a contar histórias e a coragem de seguir os fatos, relatando e vivendo, mesmo que no horror da guerra. Um documentário bonito, poético, inspirador e triste. Não poderia ser diferente. O ponto alto da produção é trazer relatos verídicos de quem testemunhou a guerra, além de uma vasta fonte de imagens de seus heróis durante o árduo trabalho que é contar histórias para o mundo. Alguns dos personagens são extremamente instigantes.
Para uma apaixonada por filmes e documentários de guerra, esse, por mais que seja simples tecnicamente, mostrou uma riqueza de relatos e imagens que me fizeram perceber o quão preciosos são aqueles que arriscam suas vidas para mostrar para o mundo a realidade de um lugar, país ou circunstâncias.
Castelo de Areia
3.2 120 Assista AgoraUm filme com uma história que poderia render uma nota melhor. A questão da ajuda humanitária, falta de água e a guerra como pano de fundo não é de todo ruim. O problema é que tanto a direção, roteiro e fotografia utilizam todos os artifícios de filmes de guerra, exageram nos clichês, não aprofundam nenhum personagem e quando não se tem mais o que mostrar, cortam bruscamente e adicionam fade out em excesso.
O Tradutor
3.8 89 Assista AgoraPara nós, brasileiros, o que faz brilhar os olhos e atiça a curiosidade para conferir ‘O Tradutor’ (Un Traductor) é com certeza o protagonismo de Rodrigo Santoro falando espanhol e russo. O brasileiro tem total controle de seu personagem e entrega cenas dignas do gênero.
O longa, dirigido pelos irmãos cubanos Rodrigo e Sebastian Barriuso, conta a história do professor de literatura russa Malin (Santoro) durante os anos 80, quando Cuba recebe vítimas do desastre nuclear de Chernobil para tratamento médico. Marlin é convocado como tradutor na ala infantil do hospital e começa sua jornada, ao ser forçado a conviver e se comunicar com crianças e adolescentes com câncer e seus familiares.
Analisando pelo lado narrativo, ‘O Tradutor’ não é um filme espetacular, daqueles que nos deixa vagando ao sair da sala de cinema, mas ainda sim é uma obra excelente! A fotografia e direção de arte merecem destaque pelos cuidados ao retratar a Cuba do final dos anos 80. A trilha sonora é sutil. O primeiro ato é linear ao apresentar o professor junto a família e seu trabalho, com sua rotina comum, no entanto, peca ao fazer o protagonista exagerar na emoção em seu primeiro dia de trabalho dentro do hospital, forçando a empatia com o professor sem muita necessidade.
As mudanças na vida de Malin são construídas em sintonia com as transformações dentro de casa e de seu país, como a falta de gasolina para ir trabalhar e a falta de comida nos supermercados. Apesar de brilhar com seu protagonista, Santoro divide o crédito com a enfermeira Gladys (Maricel Alvarez), responsável por orientar Malin em sua nova rotina. O roteiro cai no erro dos diálogos expositivos e no clichê de retratar o seu protagonista caindo em decadência familiar, ao iniciar a grande experiência na vida profissional ao lidar com crianças com câncer.
Gosto do tom melodramático de algumas cenas, principalmente de Santoro com as crianças desenvolvendo o que eu considero como um russo fluente. A direção deixa claro que o que importa aqui é a transformação de Malin, sem muita assinatura cinematográfica. No que toca as subtramas, elas são mal desenvolvidas, principalmente a problemática função do filho de Malin, quase que descartável da trama e na vida do professor. ‘O Tradutor’ é um filme bonito ao analisar a jornada da descoberta de seu protagonista, fazendo refletir como as experiências e as pessoas nos alteram de uma maneira irreversível e de como crescemos como ser humano ao ser tocado pela vida do outro. Ao final, é essa mensagem. As coisas nunca mais serão as mesmas, essa é a beleza!
Nota 8.
Atuação de Santoro é 10.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraÉ bom quando o cinema vai além de diversão. Em muitos casos, filmes nos fazem refletir, nos chocam, nos causam admiração, amor, estranheza e até repulsa. É uma sensação maravilhosa poder conferir vez ou outra, obras que vão além do óbvio, que te fisgam e te deixa sem ar. ‘NÓS’ (US), novo filme do premiado diretor Jordan Peele e protagonizado pela excepcional Lupita Nyong’o é assim: atmosférico, esquisito e sensorial.
Em ‘Nós’, Jordan dá uma aula de como escrever, dirigir e produzir um longa ‘fora da caixinha’ que sabe exatamente como envolver seu espectador. Fato é que depois das duas horas de filme, você não consegue sair indiferente da sala de cinema. É um filme para amar ou odiar, mas Justiça seja feita, é preciso respeitar e acompanhar seu criador.
O longa conta a história Adelaide (Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) que decidem levar o casal de filhos para passar um final de semana em uma casa de praia. Tudo muda quando eles recebem a visita de uma família aterrorizante. ‘Nós’ mistura com maestria artifícios dos gêneros terror e suspense.
Neste filme, Jordan Peele eleva seu nível como escritor e diretor, após o sucesso de Get Out. Ele mostra que tem o filme nas mãos, quando utiliza de excessivos planos fechados, controle da montagem, principalmente nas primeiras cenas, poderosa mise-en-scene ao guiar as expectativas e as emoções do público, a bela fotografia e a trilha sonora poderosa tem grande mérito no desenvolvimento desta arte cinematográfica.
Outro ponto positivo são as atuações. Gosto particularmente de todos os personagens. Os protagonistas tem seus arcos dramáticos bem desenhados. A narrativa dá espaço para o desenvolvimento de todos, com direitos a cenas exclusivas para os pontos de virada individual.
É bem verdade que a atuação cinco estrelas de Lupita Nyong’o, sejam por suas mudanças faciais, sua voz e dedicação na cena, é a grande força do filme. Ela cria uma protagonista dúbia até os últimos minutos de projeção.
Já seu parceiro de cena, Winston Duke, funciona apenas como alívio cômico. No terceiro ato, o autor perde a mão e vemos seu Gabe perdendo o interesse e se tornando dispensável.
Voltando para trilha sonora, é importante analisar como o diretor não abre mão de usar músicas bizarras, pesadas e animadas em cenas de violência, dando um toque bem pessoal à trama. Mas nem tudo são flores. ‘Nós’ como filme de terror funciona bem, porém quando tentar fazer críticas sociais e levantar questionamentos, ele acaba se explicando demais, deixando tudo muito fácil para o espectador. Prova disso é um plot twist desnecessário e mal executado, com direito a um plano aberto completamente descartável. Jordan deveria saber que, as vezes, explicar uma coisa de forma meticulosa, cansa e a torna sem graça.
No mais, só posso dizer: Que roteiro!!
Nota 7,5
A Cinco Passos de Você
3.6 513 Assista AgoraAo longo dos anos, a sétima arte desenvolveu histórias de amor de todos os tipos e gostos, desde o drama pesado à comédia romântica simples e bonita. Digam o que quiserem, mas o romance sempre será um gênero amado e defendido por seus fãs, sejam por suas histórias impossíveis ou os finais felizes que tanto gostamos. Em ‘A Cinco Passos de Você’ (Five Feet Apart) temos tudo que o fã de bom melodrama adora, porém com um roteiro mais maduro e limpo que o famoso “A Culpa é das Estrelas”.
‘A Cinco Passos de Você’, dirigido e produzido pelo estreante Justin Baldoni, conta a história de Stella (Harley Lu Richardson) e Will Newman (Cole Sprouse) que se conhecem no interior de um hospital. Stella e Will possuem fibrose cística e por conta disso precisam se manter afastados, como indica o título do filme. Obviamente eles se sentem atraídos e se apaixonam e durante a trama, vemos o desenrolar desse amor impossível.
Após cinco anos da estreia de ‘A Culpa é das estrelas’ é comum o espectador, após ver o cartaz de Five Feet, se perguntar se os filmes são parecidos. Olhando pela questão da história de amor apesar da doença ou ‘graças’ a ela, sim eles são! No entanto, Five Feet nos traz um roteiro mais maduro, com uma mensagem mais palpável, ao retratar a importância do contato humano, do abraço, de manter a proximidade com quem amamos e estão a nossa volta. Uma crítica intrínseca ao uso excessivo de celulares e tecnologia quando podemos apenas aproveitar o momento e conversar olhando nos olhos.
O filme segue uma narrativa linear, com uma poderosa e linda trilha sonora, uma bela fotografia e a atuação dedicada de Harley Lu, que da a sua protagonista a sagacidade, delicadeza, inteligência necessária para criar uma personagem interessante, causando empatia automática. Infelizmente Cole Sprouse sofre da maldição dos galãs, sendo apenas bonito, sexy e sombrio, falhando muito quando seu personagem preciso de uma carga dramática maior em momentos decisivos.
Os roteiristas adicionam aqui todos os elementos para criar um belo melodrama, porém esquecível. Eles falham no sentido de apresentar o personagem de Will, assim como falham em desenvolver melhor o interesse inicial do casal, se tornando algo automático demais para acreditar nos dias de hoje. No terceiro ato, é visível como a direção e o roteiro perdem a mão na tentativa de criar um clímax, se estendendo demais em momentos desnecessários. Outro erro é o não desenvolvimento da relação dos protagonistas e suas respectivas famílias, que aparecem apenas em momentos de tensão, criando a impressão que são afastados e frios, coisa que a cena final deixa visível não ser o caso.
Five Feet é excelente em nos faz chorar (quase todo mundo da minha sessão chorou) ao pôr em tela as consequências das nossas escolhas, os amores que não dão certo por questões além de nós, mas que valeram a pena serem vividos. Afinal, quem tem a sorte de ter um primeiro e bonito amor?
Nota do coração: 9
Nota técnica: 7,5
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraCapitã Marvel é a prova viva que a gigante produtora dos filmes de super-heróis sabe o que faz e para quem o faz. Marvel Studios acerta mais uma vez em produzir um filme leve, divertido, colorido na medida certa, onde traz uma protagonista carismática e muito mais interessante que “Mulher Maravilha”.
No entanto, se você espectador, vai esperando assistir a criação de uma heroína icônica, é melhor reduzir as expectativas. Capitã caminha no limiar de uma mulher com superpoderes, carregando uma mensagem muito clara de superação dentro de uma sociedade patriarcal e machista, mas infelizmente é mal desenvolvida e a história da heroína cai no raso de uma simples diversão cinematográfica.
O longa, dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck conta a história da ex-piloto da aeronáutica Carol Danvers ou Vers (Capitã Marvel) interpretada pela vencedora do Oscar Brie Larson. Vers é membro de uma equipe militar Kree, que acaba sendo capturada por inimigos do espaço e retorna a terra. Sem lembrar de seu passado, Vers conta com a ajuda de Nick Fury (Samuel L Jackson) para capturar seus inimigos e descobrir sua própria história.
Para um roteiro feito a cinco mãos, Capitã tem furos grotescos e uma protagonista que tinha todas as características plausíveis para se tornar memorável, mas se perde em clichês feministas, alívios cômicos nem tão pontuais assim e em explicitas conveniências de roteiro, principalmente quando envolve o tesseract pela milésima vez como um macgufim em sua narrativa.
Mas nem tudo são espinhos. Quando se trata de mostrar uma mulher real, sagaz, que enfrenta seus medos e luta por seus sonhos, Marvel acerta em cheio. Carol Danvers é inteligente, ácida e carismática. A química entre Brie e L. Jackson é muito bem explorada no filme e funciona! Diferente de “Mulher Maravilha”, os produtores deixam claro que capitã não faz questão se seguir a linha casta, dócil e pura, principalmente quando usa roupas descoladas, jaqueta de couro e boné, criando facilmente uma identificação nas mulheres que assistem ao filme.
Capitã utiliza traços claros da jornada do herói e da jornada da heroína em sua estrutura narrativa, mas se torna mais interessante quando não segue à risca as regras deste subgênero. O roteiro brinca com as regras de execução, jogando o espectador para uma cena de ação nos primeiros minutos de filme, criando curiosidade. Ao longo do filme, vemos a protagonista lutar contra forças internas e externas, na tentativa de se libertar das algemas das imposições que recaem sobre as mulheres.
Analisando pela ótica feminista, o longa utiliza um subtexto simplista e frases de efeito conhecidas, para mostrar sua heroína destruindo um estereótipo que a mulher não pode e não deve fazer. O fato da protagonista ser uma piloto de avião é demonstração de poder por si só, na minha opinião, não precisava dizer o óbvio e infelizmente o roteiro se dá ao trabalho de dizer. Para quem procura personagem feminina empoderada que leva as mulheres aos aplausos dentro do cinema, vai dormir durante Capitã Marvel. Existem filmes muito melhores.
Outro ponto muito claro neste filme é mostrar que a Marvel está mais preocupada em oferecer diversão, sem grandes pretensões, nos apresentando “novos heróis” que irão compor seu universo, nas próximas produções após ‘Vingadores o Ultimato’.
Então, se você procura um grande filme, assista Vingadores Guerra Civil ou Pantera Negra, pois Capitã Marvel cai na rede dos filmes divertidos e esquecíveis. Nota 7.
Guerra Fria
3.8 326 Assista AgoraGuerra Fria reúne tudo que há de melhor no mundo cinematográfico para os amantes de uma bonita história de amor. Um filme em preto e branco com uma bela fotografia, trilha sonora excepcional, casando com a imponente atuação de Joanna Kulig e um drama com cenas de fazer qualquer romântico suspirar.
O longa do polonês Pawel Pawlikowski (ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro por Ida), reúne os conflitos durante o período histórico da Guerra Fria ao drama romântico, ao contar a história de amor entre a jovem cantora Zula (Joanna Kulig) e do maestro Wiktor Warski (Tomasz Kot) que se no conhecem interior da Polônia stalinista em 1949. O romance se desenvolve ao longo de 15 anos e é ambientado entre Paris, Berlim, Varsóvia e Zagreb.
É verdade que Guerra Fria reúne todas as técnicas para se tornar uma história de amor memorável, mas o diretor polonês erra em usar o subtexto de uma forma excessiva, muitas vezes deixando o espectador sem explicações necessárias das decisões de seus protagonistas. O primeiro ato é bem desenvolvido na questão de apresentar o casal, de fazer quem assiste acompanhar a paixão de um homem e o poder de sedução de uma jovem mulher com olhar profundo e misterioso. O primeiro plano utilizado pelo diretor para gerar empatia com os personagens funciona e chega a ser o ponto alto do início do filme.
Mas, com as passagens de tempo, vemos os protagonistas se reencontrado, conversando e tomando decisões que o roteiro não faz questão de mostrar, pois está claro que o centro da história é o amor, encontros e desencontros do casal desafortunado. É obvio ao expectador que o longa é contado pela visão do maestro, com exceção de duas cenas. Tudo que ele não vê, não sabe, não viveu, é inexistente na história. Chega a ser um ponto engraçado, ao analisar que durante o filme, toda carga dramática e cenas memoráveis fica a cargo de Zula, com sua linda voz, comportamento que navega entre o descontrolado, infantil, poético e passional. O maestro, apesar do charme e talento, é só mais um homem sofrendo pela mulher que ama.
Ao final, Guerra Fria vai costurando uma narrativa comum como outros dramas do gênero, mas não deixa de ser um filme bonito. Quem deseja suspirar por uma bela história de amor que resiste ao tempo e conflitos, com um final satisfatório, esse é o filme! É bem verdade que alguns dos pontos listados acima podem ser ignorados e tornar a produção do diretor uma das minhas preferidas de romance.
Nota: 7,5
Vice
3.5 488 Assista Agora"O trabalho do vice-presidente é esperar o presidente morrer", essa é uma das frases proferidas em Vice, por Lynne Cheney (Amy Adams), esposa de Dick Cheney, que logo se tornaria o vice-presidente do EUA na era de George W Bush.
Em tempos, no Brasil, na qual vimos um vice-presidente retirar do poder a base do golpe uma presidente eleita pelo povo e, atualmente, temos um vice-presidente que é vendido pela imprensa como o próximo Michel Temer, é um tanto engraçado e temeroso conferir Vice, longa produzido por Adam Mackay (A Grande Aposta) e estrelado pelo excepcional Christian Bale, na pele do polêmico Dick Cheney, que rege a Casa Branca com mãos de ferro e tem poder de influência total sobre Bush.
Vice é uma cinebiografia que conta a história de Cheney (Bale), desde a juventude, quando era apenas um homem comum, com sérios problemas com bebidas e violência até decidir mudar de vida, estudar e entrar para política. Casado com a escritora Lynne, ele tem duas filhas e, no começo da carreira política, se torna chefe de gabinete do presidente Gerald Ford, aos 34 anos, se tornando a pessoa mais jovem a ocupar o cargo. É assim que o longa de Mackay vai ganhando vida, ao relatar a ascensão e os dramas do polêmico vice-presidente.
Assim como seu protagonista, o filme divide opiniões e nos confunde em alguns momentos. Diferente de “A Grande Aposta”, última produção do diretor, acho Vice bem mais inteligível em seu discurso político, mesclado entre o sarcasmo e humor negro. Nos créditos iniciais, o diretor já expõe o teor narrativo não-linear do longa, que vai contando a história com uso de flashbacks, flashforwards e quebras da quarta parede. É preciso dar crédito a Hank Corwin, responsável pela montagem poderosa, que muitas vezes segura o filme nas costas, quando Mackay exagera em sua narrativa. Acredito que um corte de 15 a 20 minutos de projeção não iam fazer mal ao longa. A fotografia de Greig Fraser me chamou a atenção em apenas uma cena, que mais parecia um quadro sombrio.
Gosto muito como o roteiro de Mackay humaniza o manipulador e extremista vice-presidente, utilizando o coração frágil (literalmente!!) do protagonista. Mesmo nas horas mais polêmicas, o roteiro usa metáforas inteligentes, casando com as caras e bocas de Cheney, fazendo com que a narrativa fique, digamos assim, mais leves.
Em Vice, Mackay não faz questão que seu público tenha empatia pelo protagonista, ele sabe que está ali para contar uma história polêmica de decisões que custaram vidas. A verdade é que o longa tem tantos pontos de virada, que por um momento eu parei de contar.
Me incomoda a cena que retrata as decisões tomadas por Cheney, após o atentado de 11 de setembro, acredito que pelo simples fato de ser um evento que já vimos mil vezes no cinema, como também o desenvolvimento de um personagem que sai da história sem muitas explicações.
Desconheço até que ponto seja verdade o tamanho da influência que Lynne Cheney tem sobre o marido, sendo uma esposa ativa em todos os passos e decisões do político que obedece a mulher em tudo. O desenvolvimento do arco dramático da personagem de Amy Adams é meu ponto favorito no longa. Se Mackay não tivesse alguns cuidados, Lynne Cheney assumiria o protagonismo da história com facilidade e beleza. Belíssimo trabalho de Amy (torço por ela no Oscar).
No mais, Vice não é um filme de fácil degustação, mas super indicado principalmente para os amantes da política, teoria da conspiração, história e humor negro. Nota: 8,5.
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraFilmes com temáticas feministas, mostrando grandes mulheres sucumbidas ao machismo, relacionamentos tóxicos e deveres sociais estão sendo produzidos em grande escala.
O maior objetivo dessas produções (acredito eu), sejam elas biografias ou dramas, é fazer com que o espectador (sociedade) reflita sobre os percalços percorridos pelo simples fatos de ser mulher e de suas escolhas nunca serem fáceis. The Wife, dirigido pelo sueco Björn Runge, é um filme que aborda essa temática de uma maneira bonita e tocante.
"A Esposa" conta a história de Joan Castleman (Glenn Close) casada com o escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce), quando eles recebem a notícia que Joe receberá o prêmio Nobel de Literatura. O casal, junto com o filho mais novo David (Max Irons) viajam para Estolcomo, para a cerimônia de entrega do prêmio.
The Wife é Glenn Close, literalmente! A atriz (que deve levar a estatueta de ouro durante a cerimônia do Oscar) não brinca quando o assunto é atuação. As feições de Glenn demostram com maestria todo conflito interno da protagonista.
O artifício do subtexto no roteiro é quase que um personagem durante o filme. Seja quando a câmera centraliza no rosto de Joan e mostram as feições de dor da personagem, casando com tons de amarelo demonstrando toda sua melancolia. Ou quando Joan faz questão de se apresentar aos amigos do marido, mesmo depois de afirmar ser tímida e acostumada a estar de lado, ou quando a protagonista diz coisas que claramente não está sentindo. Ou quando parece no lado esquerdo do quadro, pequena, incomodada. Joan é mestre em dizer em público tudo que se espera de uma mulher recatada e do lar.
Não é preciso ser mulher para ter empatia com a protagonista, pois o roteiro desenvolve bem o arco dramático da personagem, deixando claro os motivos que a levaram fazer o que ela faz por tantos anos. Como todo filme nessa temática, The Wife tem o marido como um cara machista, egocêntrico e totalmente dependente da companheira.
Os pontos de virada são bem desenvolvidos no segundo e terceiro ato, sendo meu favorito a cena durante a entrega do prêmio Nobel. É de fazer qualquer mulher chorar. O climax é bem executado. É tudo que se espera depois do incidente incitante.
Dois pontos me incomodam no filme: o primeiro são os flashbacks. Depois da terceira execução, eles fazem os personagens parecerem pouco interessantes e suas tramas comuns, além de explicar algo que já estava na cara o tempo todo.
O segundo é o desfecho. Apesar de saber que foi baseado em um livro, achei o final pouco satisfatório, fácil demais, entrando na ala do comum, algo que não se esperava depois de uma história assim.
Enfim, The Wife é um grande filme, que nenhum momento usa a mulher como vítima do mundo cruel (a personagem é forte e tem consciência de suas decisões) e sim como alguém subjugada por uma sociedade machista. Vale a pena conferir, se emocionar e refletir.
Nota 8.
Culpa
3.9 355 Assista AgoraA primeira a coisa a dizer sobre Den skyldige (nome original) é: QUE FILME!! primeiro longa visto em 2019 e não decepciona! Agradeço ao cinema de arte do cinépolis por isso (sinceramente, a experiência de ver um bom filme no cinema é insubstituível!). Dito isto, vamos ao filme!
A Culpa (nome em português) é um longa que conta a história do policial Asger Home (Jakob Cedergren), que após cometer um erro no trabalho de rua, acaba confinado ao serviço de atendimento de emergência. Durante um turno, ele atende a ligação de uma mulher (Iben) que foi sequestrada e o policial acaba envolvido na trama na tentativa de salvar a vítima, apesar do trabalho dele ser estritamente repassar a situação para delegacia.
O filme Dinamarquês é dirigido por Gustav Möller que também assina o roteiro junto com Emil Nygaard Albertsen. Nos primeiros 15 minutos de filme já percebemos o peso da trama e a carga emocional do protagonista. É incrível como Gustav brinca com o público ao apresentar fragmentos de informações durante a projeção, fazendo com que o telespectador fique tenso e tentando entender o que vai acontecer a seguir.
Mesmo tendo pouquíssima experiência com longas filmados em um único ambiente, sei que é algo difícil de fazer e principalmente em deixar quem assiste interessado, mas A Culpa não sofre com esse problema. Graças a ótima direção, roteiro e também da atuação de Jakob Cedergren, ficamos atentos (sem respirar direito, no meu caso) até os últimos minutos.
É engraçado como as reações do protagonista muitas vezes refletem a nossa, como de querer estar no local, de olhar, vislumbrar, saber o que de fato é aquilo. A sensação de impotência, de querer ajudar e ao mesmo tempo não poder fazer nada (quem nunca sentiu isso?). A fotografia é regular, assim como a montagem. O trabalho na mise en scène é muito bem feito.
Enfim, A Culpa é um suspense de qualidade. Para quem gosta de filme bom, sem sangue, tiros ou correria, vale a pena ser visto!
Nota: 8
As Pontes de Madison
4.2 840 Assista AgoraLágrimas e amor definem esse filme. Um belo drama sobre escolhas.
A Terceira Esposa
3.8 6Um filme doloroso e bonito, é assim que consigo definir The Third Wife (NGUOI VO BA). Uma produção vietnamita da diretora ASH MAYFAIR, que também assina o roteiro.
O longa retrata a vida na zona rural do Vietnã no século 19 e conta a história da menina May, que com apenas 14 anos que se casa com um rico dono de terras e se torna a terceira esposa, realidade da cultura local e é nesse ponto que ele choca, desde as primeiras cenas.
O filme com apenas uma 1h30 minutos tem uma narrativa linear, fotografia bonita com momentos belos quando se passa nos longos e verdes campos do Vietnã. Tem trilha sonora melancólica, atuações bonitas e verossímeis.
May, interpretada pela atriz (LE VU LONG) é a escolha perfeita para terceira esposa e o ponto central do longa do começo ao fim. O espectador só vê o que a protagonista enxerga e sente ao longo do filme. Coisas inimagináveis à jovem, é desconhecido para quem assiste. Por conta disso, ficamos com algumas dúvidas ao final do filme.
The Third Wife é um longa sobre descobertas, sobre cultura e sexualidade. É sobre uma menina completamente inocente lançada em uma família culturalmente diferente do que estamos acostumadas. É sobre sua dor, suas dúvidas, suas confusões, seus medos e desesperos (como implorar para ter um filho homem). É também um filme sobre família, sobre mostrar que todos temos demônios interiores, apesar de tentar parecer para o mundo que somos comuns. O filme mostra sem nenhum pudor o preço que terceiros pagam por nossos pecados e, naquela realidade, a falta do poder de escolha.
May nos faz sentir dor, tristeza só com o olhar, com cada palavra que ela nunca diz ou quando vemos aquela criança grávida e feliz. Uma realidade inimaginável para muitas meninas nessa idade. Dizer mais que isso seria spoiler, então recomendo ver o filme. Vale muito a pena pelas reflexões que fazemos assim que os créditos ganham vida na tela grande.
Nota: 7,5
Vidas à Deriva
3.5 280 Assista AgoraA primeira coisa que digo como fã é: como é bom ver a dupla dos lencinhos e sofrimento Shailene Woodley e Sam Claflin juntos em um dramão gostoso de se ver. Pelo trailer, você já sabe como começa e se desenvolve a história de Tami e Richard em Vidas à Deriva. O longa dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur é lindo (tecnicamente) e emocionante. Vale cada centavo da pipoca e os lenços que gastei.
Vidas conta a história de um casal aventureiro que se apaixonada e, por conta de um convite, resolvem velejar até à Califórnia.
Trocando em miúdos algumas técnicas, o ponto alto é a narrativa não linear. A fotografia por sua vez é belíssima e os cenários paradisíacos ajudam o telespectador a imergir na história bonita e trágica do casal. As cenas no mar, principalmente o ponto alto da história, são extremamente realistas, efeitos visuais bem executados, nada mirabolante e surreal como acontece no recente Missão Impossível. Não conheço outros trabalhos do diretor, mas é possível ver claramente o quanto ele cuida da câmera com planos detalhe e vários cortes para oferecer uma realidade bem maior à história. A maquiagem é digna de aplausos, muito similar a do clássico "Naufrago".
Agora, é bem verdade que Vidas à Deriva é o filme de Shailene Woodley. A atriz faz aqui sua estreia na produção de um longa, mostra toda sua capacidade de atuação em cenas pesadas e memoráveis e carrega o filme quase que inteiro nas costas, com maestria. Pena que Sam mais uma vez fica imobilizado (literalmente) e me prova mais uma vez ser um ator mediano, apesar do rosto bonito e do sotaque inconfundível. O filme é baseado em fatos reais, o que o torna mais triste ainda. Nota 8,5.
PS: Isso não é uma crítica cinematográfica (estou enferrujada).
O Plano Imperfeito
3.4 419 Assista AgoraHá tempos não assistia um clichê tão fofo e gostoso desse jeito. Que filme bom!!
Talvez Uma História de Amor
3.2 85 Assista AgoraSou uma romântica inveterada, embora, as vezes, não goste de admitir isso. Sendo assim, é óbvio que gosto de uma comédia romântica ou um dramão clichê de qualidade. Ao ler a sinopse do mais novo romance de Rodrigo Bernardo, diretor do bonito “o filme da minha vida”, acreditei que se tratava de um clichê romântico, mas me enganei. É uma pena admitir que Talvez não consegue a carga emocional necessária para um romance, digamos que, no mínimo empático e Matheus Solano passa vergonha na pele do metódico e perdido Virgílio, protagonista do filme.
O longa conta a história de Virgílio, que leva uma vida pra lá de equilibrada e monótona, mas um certo dia chega em casa do trabalho e, ao apertar o play da secretária eletrônica, ouve uma mensagem de uma mulher pondo o fim no relacionamento dos dois. Até aí nenhuma novidade, a não ser pelo fato que o personagem de Solano não lembra de nenhum ter relacionamento recente.
O roteiro, assinado pelo diretor, vai se nortear completamente nessa busca de Virgílio por respostas, pela mulher da mensagem na secretária eletrônica e esse caminho não seria o erro, até porque muitas comédias românticas americanas apostam em histórias muito mais mirabolantes que essa, mas o que falta em Talvez é a química, é o desenvolvimento tangível dos personagens, principalmente de seu protagonista. Matheus Solano que eu adorava fazendo novelas, até se esforça para dar vida ao metódico Virgílio e nos primeiros 20 minutos ele quase consegue, mas o roteiro busca algumas alternativas fáceis sem a carga emocional necessária para alguém que apagou da memória “o amor da sua vida”.
Os alívios cômicos são eficientes de alguma forma (ou era o meu desespero para gostar do filme), a forma como Rodrigo retrata uma São Paulo de maneira retrô, mesmo deixando claro o que longa é dos anos 2000 é interessante. A fotografia é fiel a essa ideia, mas sem grandes surpresas ou méritos. Os cenários casam com a personalidade do personagem que tem um celular dos anos 90, móveis antigos, não tem televisão e não usa computador no trabalho, um ser completamente anti-tecnologia.
A trilha sonora por sua vez segue a linha romance americano com direito aos clássicos de Frank Sinatra e músicas alá A vida secreta de Walter Mitty (a cena final que o diga). A atuação dos outros personagens ficam à margem. A escolha de Thaila Ayala como par romântico de Solano faz a gente pensar que não teve sequer um teste antes, pois a química do amor tangível cinematográfico passou longe do casal, mas isso deve ser ao fato deles se encontrarem nos últimos cinco minutos de filme.
Vale a pena ver Talvez uma história de amor somente para prestigiar o cinema nacional, ir ao cinema e comer pipoca, no mais, o longa entra o rol de bola fora do queridinho Rodrigo Bernardo. Nota 4.
Arábia
4.2 167 Assista AgoraArábia é sem dúvida uma obra-prima nacional, um presente dos diretores Affonso Uchôa e João Dumans para nós. O longa é um retrato direto da classe trabalhadora brasileira, daqueles pobres homens e mulheres que se doam de corpo e alma para conseguir sobreviver no mundo capitalista e feito para os ricos, no qual vivemos.
O filme retrata a vida de Cristiano (interpretado com maestria por Aristides de Souza), um operário que passa cerca de 10 anos na estrada, indo de cidade em cidade em busca de um emprego e um lugar para dormir. Confesso que fazia algum tempo que não assistia um filme nacional tão tocante e fiel, desde Que Horas Ela Volta com Regina Casé.
Arábia inicia com um pseudo plano sequência, mostrando um menino andando de bicicleta e de fundo toca uma música folk que tem pouquíssima ligação com o que o filme vai mostrar em seguida.
O longa ganha corpo (e alma) quando Cristiano aparece em cena, um sujeito gente como a gente, com as feições sofridas e ao mesmo tempo esperançosa. Quando o operário, com pouca escolaridade, começa a contar sua história, somos surpreendidos com um belíssimo texto, cheio de entrelinhas e significados, cada palavra carregando tragédias brasileiras. Os diálogos de Cristiano com os amigos, que ele faz ao longo de sua jornada, são tristes e ao mesmo tempo cômicos, digna do brasileiro que não perde a alegria de viver a vida, mesmo nas piores circunstâncias. Quando o operário fala "ruim é não ter o que comer", durante uma conversa com um amigo que reclama da comida, é algo tão simples que ainda precisa ser dito, precisa ser ouvido pela classe média que bate recordes de estrago de comida diariamente.
Mas nem tudo na vida do protagonista é luta. Com momentos de alegria com os amigos e até românticos com a mulher que ele amou, acompanhada de uma linda trilha sonora com clássicos de Raul Seixas e Maria Bethânia, Arábia nos traz também uma fotografia e figurino com tanta beleza e cuidado, assim como os locais das filmagens, longos campos, estradas escuras e fábricas sujas.
A fala final do personagem é tão delicada, triste e tão real, que nos colocamos na pele daquele trabalhador e entendemos a sua luta e sua dor. Resumindo, Arábia é um filme que deve ser visto e revisto por todos nós.
Nota 9,6.
Meu Nome é Ray
3.3 269 Assista AgoraUm filme tão bonito e ao mesmo tempo simples. É lindo como ele mistura momentos de humor ou de completo drama com maestria, sem perder a essência. Simplesmente adorei!
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraNão sou fã de filmes de terror, é verdade! Mas preciso admitir que o gênero tem seu brilho até para os não fãs, por causar certa magia em seu telespectador, um certo frenesi. É uma mistura de tensão, de medo do irreal e até os sustos. Um bom filme consegue despertar isso e Um lugar silencioso (A quiet Place) consegue acertar na receita e fazer isso com certa excelência, pois é um excelente filme de terror com a mistura de suspense de ótima qualidade.
O filme conta a história de uma família vivendo em uma cidade inabitada, após ser dizimada por seres sensíveis a sons. Resumindo, se você dizer algum barulho, é devorado pelo monstro (e que monstro!).
O estreante diretor John Krasinski mais conhecido por suas atuações em comédias românticas, começa sua carreira com um filme que os especialistas taxam como melhor terror de 2018 até agora e com toda razão.
Um lugar silencioso consegue manter o telespectador tenso, prendendo a respiração e fascinado durante os 90 minutos de filme. Toda esse fascínio se deve a excelente edição e mixagem de som (impossível não notar, pois há tempos comer pipoca ou até ofegar no cinema não soava tão alto). A ótima fotografia de Charlotte Bruus Christensen, a direção de arte de Sebastian Schroeder, a trilha sonora pontual de Marco Beltrami, além das excelentes atuações de John Krasinski (porque não basta só dirigir o filme, tem que atuar também) e da veterana Emily Blunt. Esta por sua vez é simplesmente a dona do filme e também da melhor cena do longa. Nunca mais vou olhar para uma escada da mesma maneira.
É claro que Um lugar silencioso tem alguns problemas. O principal deles é não se dar ao trabalho de explicar de onde veio os seres assassinos, além de dar um resolução tosca demais para um final, digamos que, feliz. É percebível que o roteiro assinado pelo diretor e pela dupla Bryan Woods e Scott Beck se prende bastante aos detalhes de desenvolver a história de uma família que simplesmente se comunica por sinais, privada de todo tipo de vida que faça algum som, seja brincar com dados ou comer em um prato com garfo e faca. Mas não considero essas falhas no roteiro prejudicial ao filme. Nota 8,5.
Círculo de Fogo: A Revolta
2.8 491 Assista AgoraÉ a coisa mais natural do mundo você gostar tanto de um filme a ponto de querer uma continuação, mesmo que na maioria das vezes, não exista real necessidade disso. Você simplesmente quer por curiosidade, para saber como ficaram as vidas de seus personagens preferidos, o passar do tempo para os vilões e as mudanças do cenário em si.
Algumas continuações são realmente legais, como de volta para o futuro ou porque não falar da saga do bruxinho Harry Potter? Pois bem, Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim Uprising) não entra nesta lista. Após 132 minutos de filme, eu conclui, com muito pesar, que mataram meu tão amado Pacific Rim (2013) de Guillermo del Toro e tornaram esta continuação uma mistura de Transformers com Power Rangers.
Neste longa, está claro que Steven S. DeKnight resolveu esquecer todo o excelente trabalho de Del Toro em 2013 ao homenagear os Mechas (animes estrelados por robôs gigantes) e seguir a fórmula de um passa tempo pipoca de robôs brigando.
O filme não é de todo ruim. O mocinho Jake Pentecost (John Boyega) que também assina a produção, até consegue salvar em alguns momentos com a boa interpretação do jovem perdido que carrega o legado do pai (interpretado no original por Idris Elba). Alguns alívios cômicos são eficientes e aatuação do elenco mirim também dá um toque descompromissado nesta continuação.
Se o roteiro de Emily Carmichael, Kira Snyder, Steven S. DeKnight e T.S. Nowlin são cheio de falhas e absurdos, as cenas de luta, tirando o fala fala desnecessário, até que fazem os fãs do original suspirarem um pouquinho, pois são realmente boas. Mas confesso que senti falta do conjunto efeitos visuais, da tão conhecida trilha sonora de Ramin Djawadi e das atuações mais maduras. (quem aqui esqueceu da luta épica em Hong Kong?).
Para quem nunca assistiu o original, este longa realmente vai empolgar, vai divertir e fazer você comer sua pipoca feliz. Como disse acima, é um passa tempo legal, mas esquecível. No entanto, para os fãs, é difícil sair da sala de cinema (que tanto amo) com um sorriso de satisfação no rosto. Nota 5.
E que venha o terceiro filme, pois ainda tenho esperança que possa ser melhor.
Maria Madalena
3.4 166 Assista AgoraMaria Madalena sempre foi uma figura misteriosa no quesito histórico da passagem de Cristo na terra. A mulher tida como o simbolo do pecado e do perdão do filho de Deus sempre foi controversa na história da bíblia. Não é preciso saber muito para conhecer as várias versões que dão à ela. Na visão do diretor Garth Davis, Mary Magdalene interpretada pela maravilhosa Rooney Mara vem emponderada, diferente. A mulher que largou tudo e seguiu os passos do Messias (Joaquin Phoenix), uma típica e já esperada versão para os tempos em que vivemos.
Como cristã desde o nascimento, eu poderia encontrar umas mil falhas e taxar como uma heresia algumas manobras do roteiro assinado pela dupla Helen Edmundson e Philippa Goslett, mas não! Cinema é arte e esta é livre para desenvolver o seu ponto de vista, coisa que acontece lindamente graças a atuação limpa de Rooney. É claro que alterar as versões da bíblia neste longa serve somente para adequar a mensagem central do filme que é a independência feminina naqueles tempos tenebrosos em que viviam as mulheres.
Não se pode deixar de notar com alegria a bela fotografia do filme, que dá toda vida ao cenário muitas vezes já decorado pelos amantes de filmes religiosos. As cores vivas dão toda diferença e os cenários são uma atração por si só.
A trilha sonora de Hildur Guðnadóttir e Jóhann Jóhannsson é sutil e bela. Nos momentos de total falta de texto, somente as atuações delicadas de Rooney e Phoenix combinada aos sons instrumentais, dão vida as sensações do telespectador (eu chorei mesmo, confesso). Outro ponto positivo é a maquiagem. Enquanto Phoenix abusa do recurso e combinado com a barba, trazendo um Jesus bem envelhecido (até demais), Rooney está quase que completamente sem maquiagem, contando apenas com o recurso da iluminação.
Gosto de como Davis aprofunda a história de Judas (Tahar Rahim), o humanizando de uma maneira que nos fazem repensar os motivos que o condenamos tanto, uma vez que ele foi errado e apenas humano como todos nós. Aqui Judas ganha uma voz para contar sua história, ao mesmo tempo que o personagem de Phoenix é tratado em segundo plano, o que é muito interessante de ver. Se acho o roteiro fraco? Bom, ele poderia ser mais, mas acredito que já seria forçar demais a barra. Finalizando, Maria Madalena (2018) é um filme que vale a pena ser visto pelo contexto da história dessa mulher tão marginalizada, como todas nós. Nota 7,5.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraSempre achei que tratar de racismo em uma obra cinematográfica sem deixar o personagem parecendo um pobre coitado é um trabalho difícil e quando o diretor, o roteiro e o próprio ator conseguem isso, é uma alegria. Com Get Out (Corra - título em português) isso acontece e é extremamente bem executado. não por acaso ele concorre como melhor filme, melhor diretor (Jordan Peele), melhor ator para o ótimo Daniel Kaluuya e melhor roteiro original no Oscar 2018.
O filme conta a história de Chris (Kaluuya) que vai passar um final de semana na casa dos pais da namorada Rose (Allison Williams), que é branca dos olhos claros e tem uma família repleta de burgueses brancos como leite (pra variar).
Depois da apresentação do casal, aos 10 minutos de filme, já percebemos a atmosfera tensa. É visível o desconforto do personagem ao estar naquela situação e o protagonista transmite muito bem isso, claro que com a ajuda de uma boa fotografia e trilha sonora sutil.
Não sei se ter visto o trailer e também algumas publicações com quase spoiler do filme ajudou na percepção, mas logo quando Chris conhece a família da namorada, fica claro que há algo estranho naquela casa, algo macabro e assustador. É gostoso de ver como Peele mantém o telespectador preso em cada desenrolar da história, que fica na tentativa de montar o quebra-cabeça e descobrir o que está acontecendo naquela casa, além do racismo escrachado.
Os elementos do terror são muito bem utilizados, me atrevo a dizer que muito melhores que em filmes que se intitulam fiéis ao gênero e não há susto nenhum nos jumps scares. Apesar disso, não considero Get Out um terror, acho que ele está mais para o suspense, mas de qualquer forma, é um grande filme. E o final? É sem dúvida a cereja do bolo, embora em acredite que ele peca em algumas execuções nos últimos cinco minutos, mas nada que faça esta obra ser considerada ruim. Nota 8.
Cinquenta Tons de Liberdade
2.5 451Algum tempo atrás conversava com meu professor de cinema sobre montagem, a importância dela e penso que cinquenta tons de liberdade é um dos mais recentes exemplos de uma péssima montagem. Confesso que já fui fã da história, li todos os livros em um curto espaço de tempo e o primeiro filme me agradou. No entanto, considerei o segundo quase que um fracasso total, mas o terceiro e último consegue ser pior, pois é um conjunto de um roteiro confuso e uma montagem feita as pressas (.
A história em si é simples, Anastasia (Dakota Johnson) e Grey (Jamie Dornan) se casam e passam a enfrentar o vilão Jack (Eric Johnson) que tenta a todo custo prejudicar o casal e a família de Grey. Aqui, a coisa boa é que James Foley (diretor) assume o longa como sendo um crepúsculo com mulher pelada, dando maior atenção ao desenvolvimento do casal e não somente as cenas de sexo nada empolgantes. Dakota Johnson merece uma estrelinha nesse filme por tentar dar mais vida a sua Ana, agora Jamie Dornan que nos outros filmes víamos até uma tentativa de ser o sexy e magnata Christian Grey, nesse último ele está no piloto automático, chegando a ser visível o tamanho de seu desconforto nas cenas mais "quentes".
A trilha sonora é sem dúvida uma qualidade no filme, além da fotografia que é simpática. No mais, mesmo sendo uma trilogia um tanto polêmica e bastante criticada, a impressão que dá é que cinquenta tons não faz nenhum esforço para dar um desfecho no mínimo digno aos seus fãs, finalizando de uma hora para outra, como se tivesse sido cortado bruscamente. Nota 6.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraAchei linda e tocante a atuação de Casey Affleck. Mereceu a estatueta de ouro. Acusações de assédio a parte, Affleck conseguiu transmitir a dor, a raiva, o sentimento de perda que o seu personagem carrega. A escolha de cores e a fotografia do filme só contribuem para construir a atmosfera melancólica. Manchester by the Sea é aqueles dramas que fazem a gente sentir a dor da história dos personagens. Nota 9,5.