Geralmente os filmes se parecem uns com os outros, mas Hausu não se parece com nenhum. É um filme de escola única, de insights únicos, de um surrealismo e experimentalismo abissal. É impossível descrever o quanto eu fiquei feliz vendo o filme. É uma pérola difícil de encontrar igual, pois falta coragem para criar uma coisa tão maravilhosa como essa.
Não vou comentar sobre as implicações morais do roteiro, que são muitas, diga-se de passagem, mas vou me ater somente ao fascínio estético que o filme despertou em mim. Cenas e mais cenas lindamente elaboradas, escolhas de enquadramento muito refinadas e uma fotografia que envelheceu maravilhosamente bem. A gratuidade de tudo me deixou boquiaberto: o roteiro poderia ser jogado no lixo que eu ainda me envolveria com o filme apenas pelas escolhas de cores e takes. Puro prazer estético.
Aquilo que geralmente é compreendido como "informação desorganizada" é, na verdade, parte da montagem idiossincrática do filme. Não existe absolutamente nada desorganizado e é um deslumbre do começo ao fim. Não vou nem tocar no fator beleza da atriz principal e ficarei só com o roteiro e as imagens que são as coisas mais belas possíveis. Como dito aí: a cena dos espelhos é o clímax e eleva o filme às alturas.
Muitos comentários acerca da genialidade do filme, do terror apocalíptico que ele causa, do estrondoso apelo anti-belicista etc (todos muito bem observados, óbvio) mas nenhum sobre a opção "documentário" utilizada por Watkins. O fato de que o filme ganhou o Oscar de melhor documentário e a ação posterior de mudar as regras desse tipo de premiação para não agraciar "falsos documentários" é um sinal claro daquilo que Peter estava tentando causar: desconforto não só com o conteúdo alarmante do filme, mas também com a ideia perturbadora de que a verdade pode ser inventada. O estilo documental geralmente vem acoplado com uma espécie de selo simbólico que garante que tudo o que está ali é verdadeiro, mas como lidar com uma obra que utiliza todos esses recursos para forjar uma falsa-verdade (ou possível-verdade, no caso do filme)? A resposta, pra mim, é bem clara: o filme falso-documentário de Watkins serve como dispositivo para desmascarar o próprio documentário enquanto gênero portador da verdade. Se a mensagem do filme sobre o futuro destruidor que uma hipotética terceira guerra mundial causaria é clara, a sua segunda mensagem, embutida no gênero escolhido pelo diretor, é mais elíptica: com uma série de recursos diversos é possível fabricar a "verdade". A lição é clara tanto para documentários como para fotografias, ou seja, tudo pode ser organizado e posto como verdade. 51 anos depois, no ano de 2016, o dicionário de Oxford definiu a palavra post-truth (pós-verdade) como a palavra do ano para descrever certo mal-estar dentro do cenário político em que as ideias são manipuladas com emoções e não com a razão e os fatos. A grande questão é: The War Game não seria - além de ser um grande panfleto cinematográfico anti-belicista - um dispositivo que explicita exatamente o mal-estar causado pelo reconhecimento de que a verdade pode ser inventada?
Os irmãos Taviani tem um talento incrível para montagens idiossincráticas de seus filmes. Sob o signo de escorpião é um desses filmes cujo ritmo e montagem aliadas a um leitmotiv angustiante por parte da trilha sonora provocam certo mal estar. Aconselho a tomar o roteiro como uma história fechada sem conotações políticas absurdas. É apenas o homem em sociedade e em natureza, choques entre visões de mundo diferentes e reações exacerbadas de ambas as partes. Nada que não aconteça diariamente entre sociedades, tribos, países, concepções. O microcosmos da ilha se converte, assim, no mundo.
Primeira reação: caralho!!! Segunda: que roteiro impressionante e que selvageria mais linda. Desde o começo somos lançados em um mar de objetos simbólicos que vão se acumulando - como no velho jogo tetris - até se tornar um todo completo e arrebatadoramente violento. É um thriller erótico e psicológico estupendo. Dedicado a Buñuel e até lançando sementes no futuro trabalho do diretor: afinal, em 1977 foi lançado "Cet obscur objet du désir" e a referência ao trabalho de Saura é clara, mas subvertida. Em Peppermint Frappé, uma única atriz interpreta duas personagens, já no filme supracitado de Buñuel duas atrizes interpretam uma única personagem. Essas duas experimentações cinematográficas só acentuam o perturbador deslocamento do feminino nas duas obras: objetos de desejo, servas, algozes, violentas, loucas, sensuais, santas - a história subjetiva do feminino.
Mais uma vez me surpreendo com a enxurrada de comentários depreciativos aqui: ao que parece, filmes que não são didáticos em seu conteúdo acabam por sofrer esse bullying do espectador médio. Eu já havia ficado fascinado pelo trabalho de Skolimowski em Deep End, uma obra-prima inacreditável e apesar de The shout não se igualar ao filme supracitado, ele merece toda atenção possível: mais uma vez o diretor utilizou elementos ultramente simbólicos para contar uma história intrigante, hermética, surpreendente. O trabalho desse polonês é excepcional e este filme parece fazer parte daquela tradição polonesa de literatura extremamente perturbadora como os trabalhos de Bruno Schulz. Merece muito ser visto com atenção: o simbolismo das imagens, a justaposições de cenas, as metáforas abundantes, tudo, absolutamente tudo nesse filme merece atenção.
Eu estou sim um pouco chocado com a enxurrada de comentários negativos aqui, pois simplesmente acabo de ver um dos melhores filmes já feitos, de todos os tempos. Não há exagero em dizer que este filme não tem defeitos e é uma obra-prima imagética. Cada cena, cada detalhe, tudo transborda de significados. Talvez esse seja o grande pecado de Sunday Bloody Sunday: não adular o seu público com o didatismo vulgar, mas antes mergulhá-lo em uma torrente inesgotável de imagens que vão surgindo e decifrando o enigma. A coragem de Schlesinger de lançar um roteiro desses em 1971 com cenas tão deliciosas e francamente polêmicas e dar um tratamento estético tão deslumbrante é de encher os olhos de lágrimas. Impossível esquecer o monólogo final e o olhar de Hirsh lançado diretamente na cara do espectador. Já disse uma vez de outro filme, mas torno a dizer desse: depois deste filme, le déluge. Imperdível e impecável!
É um dos raros filmes em que todas as cenas são icônicas. Impossível esquecer diversas partes... e é um desfile sensacional de mulheres lindas. O filme transforma a ética contemporânea de problematizações em lixo e parece se alinhar aquele "espírito venenoso" tão típico da literatura mais ousada. Tem que ser visto com o coração aberto...e louco. Sentir a potência explosiva de cada minuto de projeção. Viva Les Valseuses!
É um dos filmes mais melancólicos do Ferreri que já vi e vai ficando cada vez mais sombrio conforme o final da película vai chegando. A construção dos personagens é, diga-se de passagem, literária: Luigi lembra muito alguns personagens de Dickens. Como sempre, Ferreri e seus roteiros idiossincráticos. Não fez feio! Gostei muito e o final ficará guardado na memória como um momento único de melancolia profunda na filmografia deste fascinante e complexo diretor italiano. Palmas para a interpretação do Marcelo Mastroianni e do macaco. rs!
ps: estou rindo da sinopse que tenta dar um sentido quase "sessão da tarde" para o filme. Não se enganem!
Talvez seja o filme mais pop, escandaloso, kitsch e divertido de Ken Russell. Todos os delírios imagéticos tão característicos do diretor estão aí, elevados a potência máxima. Têm acusações históricas sérias (Wagner e Nietzsche, gêneses do nazismo?), têm material em abundância para os videoclipes indies feito no nosso futuro 2000, têm danças fálicas exuberantes e um mal gosto estético explícito em diversas ocasiões: uma verdadeira poplândia. Mas o mais impressionante de tudo é que essa zombaria, essa jornada satírica desse imaginário Franz Liszt metamorfoseado em rock star, seja, sobretudo, uma crítica avassaladora ao moderno mundo do espetáculo. A ver!
Estou passadíssimo com o percurso deste filme: como alguém pode esmurrar tão brutalmente a lógica vulgar dos roteiros policialescos\noir? É a implosão da narrativa sequencial e coerente e o parto do irrealismo e incoerência necessárias para a criação de uma verdadeira obra de arte do cinema. Buffet Froid é uma delícia! Irônico, explosivo, transgressivo e chocante para os padrões morais do "certo\errado". Tem que ser visto, tem que ser degustado. Filme impressionante!
Eu nunca vou superar o "desfile de moda católico", é uma das cenas mais ousadas que já vi. Fellini nos transforma em flâneurs percorrendo as ruas de Roma, insaciáveis por mais e mais imagens.
impressionado com o percurso brutal deste filme. Eu realmente ri em vários momentos, mas era sempre um riso nervoso. Quando o fim vai se aproximando, o humor vai acabando e fica um aperto no coração... mas nada nos prepara para a cena final.
deslumbrado com a qualidade estética do filme, com sua aura psicológica perturbadora e com as andanças intermináveis da protagonista perdida entre dois mundos. Parece um filme de terror que Michelangelo Antonioni teria feito. Muito belo e com uma atmosfera única.
Estarrecido com o percurso avassalador deste filme. O ócio aqui não é um poço de criatividade, mas a negação absoluta da experiência humana. A vida felina de comer, amar e dormir desta família grega é transformada pouco a pouco em uma vegetativa peça moral dirigida contra os parasitas deste mundo. O filme poderá passar por uma espécie extravagante de apologia ao trabalho, mas na verdade é, acima de tudo, uma apologia àquilo que nos faz humanos: criar, criar e criar. A experiência do homem no mundo é o retratro da transformação desse mundo, a experiência dessa família grega é o retrato da paralisação do mundo. A oligarquia recebe uma punhalada. O filme deve ser redescoberto urgentemente, pois a atualidade do tema é óbvia.
Fiquei surpreso: achei que se tratava de alguma versão invejosa de blow up do Antonioni ou de Peeping Tom do Powell, mas é, na verdade, um conto surpreendente sobre o díptico erotismo\morte. Quem reparou na fotografia de Georges Bataille sobre a mesa de Stan tem aí um ótimo começo para analisar os meandros do filme, mas prefiro a fruição estética e passo a interpretação intelectual. Sonoplastia incisiva, imagens vítimas de cortes abruptos: tudo no filme tem força sufocante. Poderia ter sido melhor executado (de um ponto de vista técnica), mas nada nos prepara para a sequência final protagonizada por Josée e o surpreendente resumo da sua epopeia erótica naquela explosão de cores\flashes\significados. "O erotismo é a aprovação da vida até na morte" (Bataille)
Estou boquiaberto: Buñuel é um monstro de genialidade. Como pode alguém quebrar de forma tão sutil todas as regras do roteiro convencional? Como pode alguém expor de forma tão brilhante nossos vícios e obsessões? Sem contar o prazer de ver um macho subjugado por uma Conchita em dose dupla. Pra quem não entendeu o uso de duas atrizes para um único papel: podem voltar dez casas no jogo da vida, pois não sabem nada sobre os seres humanos.
Diante da enxurrada de comentários positivos aqui, me vejo obrigado a oferecer um contrapeso. De fato, o filme oferece delícias para quem procura a representação da angústia, mas seu existencialismo self-service com frases de caráter literário duvidoso (é incrível como nos rendemos fácil para a pretensa profundidade de frases que contenham as palavras "vida", "vazio", "angústia etc.) não me soaram convincentes, em nada. Colocar Erik Satie para tocar em momentos pretensamente epifânicos também não decolou comigo. A teatralidade do personagem central desfocou, para mim, o pàthos que a atmosfera de homens suicidas geralmente desperta. É preto-e-branco, tem Satie, abusa de frases impactantes e do existencialismo francês, contêm enquadramentos muito belos, mas não!, não consegue me convencer. Parece um filme que reúne todos os elementos para agradar àqueles que esperam exatamente isso de um filme francês: uma espécie de clichê-cult. Eu ainda fico com a angústia de La dolce vita de Fellini e com a peregrinação existencial de Cléo em "Cléo das 5 às 7" da Agnes Varda. Este aqui eu passo!
Nove Meses
3.8 3 Assista AgoraA cena do parto é IMPRESSIONANTE!
Incrível como a temática do filme é tão tocante aos dias de hoje, principalmente quando analisamos a situação feminina no Brasil.
Hungria 1976 dos anos 2021
Hausu
3.7 241Geralmente os filmes se parecem uns com os outros, mas Hausu não se parece com nenhum. É um filme de escola única, de insights únicos, de um surrealismo e experimentalismo abissal. É impossível descrever o quanto eu fiquei feliz vendo o filme. É uma pérola difícil de encontrar igual, pois falta coragem para criar uma coisa tão maravilhosa como essa.
Se Don Juan Fosse Mulher
3.4 41Não vou comentar sobre as implicações morais do roteiro, que são muitas, diga-se de passagem, mas vou me ater somente ao fascínio estético que o filme despertou em mim. Cenas e mais cenas lindamente elaboradas, escolhas de enquadramento muito refinadas e uma fotografia que envelheceu maravilhosamente bem. A gratuidade de tudo me deixou boquiaberto: o roteiro poderia ser jogado no lixo que eu ainda me envolveria com o filme apenas pelas escolhas de cores e takes. Puro prazer estético.
O Meu Século XX
3.7 3 Assista AgoraAquilo que geralmente é compreendido como "informação desorganizada" é, na verdade, parte da montagem idiossincrática do filme. Não existe absolutamente nada desorganizado e é um deslumbre do começo ao fim. Não vou nem tocar no fator beleza da atriz principal e ficarei só com o roteiro e as imagens que são as coisas mais belas possíveis. Como dito aí: a cena dos espelhos é o clímax e eleva o filme às alturas.
O Jogo da Guerra
4.0 15Muitos comentários acerca da genialidade do filme, do terror apocalíptico que ele causa, do estrondoso apelo anti-belicista etc (todos muito bem observados, óbvio) mas nenhum sobre a opção "documentário" utilizada por Watkins. O fato de que o filme ganhou o Oscar de melhor documentário e a ação posterior de mudar as regras desse tipo de premiação para não agraciar "falsos documentários" é um sinal claro daquilo que Peter estava tentando causar: desconforto não só com o conteúdo alarmante do filme, mas também com a ideia perturbadora de que a verdade pode ser inventada. O estilo documental geralmente vem acoplado com uma espécie de selo simbólico que garante que tudo o que está ali é verdadeiro, mas como lidar com uma obra que utiliza todos esses recursos para forjar uma falsa-verdade (ou possível-verdade, no caso do filme)? A resposta, pra mim, é bem clara: o filme falso-documentário de Watkins serve como dispositivo para desmascarar o próprio documentário enquanto gênero portador da verdade. Se a mensagem do filme sobre o futuro destruidor que uma hipotética terceira guerra mundial causaria é clara, a sua segunda mensagem, embutida no gênero escolhido pelo diretor, é mais elíptica: com uma série de recursos diversos é possível fabricar a "verdade". A lição é clara tanto para documentários como para fotografias, ou seja, tudo pode ser organizado e posto como verdade. 51 anos depois, no ano de 2016, o dicionário de Oxford definiu a palavra post-truth (pós-verdade) como a palavra do ano para descrever certo mal-estar dentro do cenário político em que as ideias são manipuladas com emoções e não com a razão e os fatos. A grande questão é: The War Game não seria - além de ser um grande panfleto cinematográfico anti-belicista - um dispositivo que explicita exatamente o mal-estar causado pelo reconhecimento de que a verdade pode ser inventada?
Sob o Signo do Escorpião
3.2 2Os irmãos Taviani tem um talento incrível para montagens idiossincráticas de seus filmes. Sob o signo de escorpião é um desses filmes cujo ritmo e montagem aliadas a um leitmotiv angustiante por parte da trilha sonora provocam certo mal estar. Aconselho a tomar o roteiro como uma história fechada sem conotações políticas absurdas. É apenas o homem em sociedade e em natureza, choques entre visões de mundo diferentes e reações exacerbadas de ambas as partes. Nada que não aconteça diariamente entre sociedades, tribos, países, concepções. O microcosmos da ilha se converte, assim, no mundo.
Peppermint Frappé
3.9 8Primeira reação: caralho!!! Segunda: que roteiro impressionante e que selvageria mais linda. Desde o começo somos lançados em um mar de objetos simbólicos que vão se acumulando - como no velho jogo tetris - até se tornar um todo completo e arrebatadoramente violento. É um thriller erótico e psicológico estupendo. Dedicado a Buñuel e até lançando sementes no futuro trabalho do diretor: afinal, em 1977 foi lançado "Cet obscur objet du désir" e a referência ao trabalho de Saura é clara, mas subvertida. Em Peppermint Frappé, uma única atriz interpreta duas personagens, já no filme supracitado de Buñuel duas atrizes interpretam uma única personagem. Essas duas experimentações cinematográficas só acentuam o perturbador deslocamento do feminino nas duas obras: objetos de desejo, servas, algozes, violentas, loucas, sensuais, santas - a história subjetiva do feminino.
O Estranho Poder de Matar
3.2 24Mais uma vez me surpreendo com a enxurrada de comentários depreciativos aqui: ao que parece, filmes que não são didáticos em seu conteúdo acabam por sofrer esse bullying do espectador médio. Eu já havia ficado fascinado pelo trabalho de Skolimowski em Deep End, uma obra-prima inacreditável e apesar de The shout não se igualar ao filme supracitado, ele merece toda atenção possível: mais uma vez o diretor utilizou elementos ultramente simbólicos para contar uma história intrigante, hermética, surpreendente. O trabalho desse polonês é excepcional e este filme parece fazer parte daquela tradição polonesa de literatura extremamente perturbadora como os trabalhos de Bruno Schulz. Merece muito ser visto com atenção: o simbolismo das imagens, a justaposições de cenas, as metáforas abundantes, tudo, absolutamente tudo nesse filme merece atenção.
Domingo Maldito
3.6 42Eu estou sim um pouco chocado com a enxurrada de comentários negativos aqui, pois simplesmente acabo de ver um dos melhores filmes já feitos, de todos os tempos. Não há exagero em dizer que este filme não tem defeitos e é uma obra-prima imagética. Cada cena, cada detalhe, tudo transborda de significados. Talvez esse seja o grande pecado de Sunday Bloody Sunday: não adular o seu público com o didatismo vulgar, mas antes mergulhá-lo em uma torrente inesgotável de imagens que vão surgindo e decifrando o enigma. A coragem de Schlesinger de lançar um roteiro desses em 1971 com cenas tão deliciosas e francamente polêmicas e dar um tratamento estético tão deslumbrante é de encher os olhos de lágrimas. Impossível esquecer o monólogo final e o olhar de Hirsh lançado diretamente na cara do espectador. Já disse uma vez de outro filme, mas torno a dizer desse: depois deste filme, le déluge. Imperdível e impecável!
Corações Loucos
3.8 25É um dos raros filmes em que todas as cenas são icônicas. Impossível esquecer diversas partes... e é um desfile sensacional de mulheres lindas. O filme transforma a ética contemporânea de problematizações em lixo e parece se alinhar aquele "espírito venenoso" tão típico da literatura mais ousada. Tem que ser visto com o coração aberto...e louco. Sentir a potência explosiva de cada minuto de projeção. Viva Les Valseuses!
Ciao Maschio
3.8 7É um dos filmes mais melancólicos do Ferreri que já vi e vai ficando cada vez mais sombrio conforme o final da película vai chegando. A construção dos personagens é, diga-se de passagem, literária: Luigi lembra muito alguns personagens de Dickens. Como sempre, Ferreri e seus roteiros idiossincráticos. Não fez feio! Gostei muito e o final ficará guardado na memória como um momento único de melancolia profunda na filmografia deste fascinante e complexo diretor italiano. Palmas para a interpretação do Marcelo Mastroianni e do macaco. rs!
ps: estou rindo da sinopse que tenta dar um sentido quase "sessão da tarde" para o filme. Não se enganem!
Lisztomania
3.8 15Talvez seja o filme mais pop, escandaloso, kitsch e divertido de Ken Russell. Todos os delírios imagéticos tão característicos do diretor estão aí, elevados a potência máxima. Têm acusações históricas sérias (Wagner e Nietzsche, gêneses do nazismo?), têm material em abundância para os videoclipes indies feito no nosso futuro 2000, têm danças fálicas exuberantes e um mal gosto estético explícito em diversas ocasiões: uma verdadeira poplândia. Mas o mais impressionante de tudo é que essa zombaria, essa jornada satírica desse imaginário Franz Liszt metamorfoseado em rock star, seja, sobretudo, uma crítica avassaladora ao moderno mundo do espetáculo. A ver!
Coquetel de Assassinos
3.6 16 Assista AgoraEstou passadíssimo com o percurso deste filme: como alguém pode esmurrar tão brutalmente a lógica vulgar dos roteiros policialescos\noir? É a implosão da narrativa sequencial e coerente e o parto do irrealismo e incoerência necessárias para a criação de uma verdadeira obra de arte do cinema. Buffet Froid é uma delícia! Irônico, explosivo, transgressivo e chocante para os padrões morais do "certo\errado". Tem que ser visto, tem que ser degustado. Filme impressionante!
Roma de Fellini
4.1 65 Assista AgoraEu nunca vou superar o "desfile de moda católico", é uma das cenas mais ousadas que já vi. Fellini nos transforma em flâneurs percorrendo as ruas de Roma, insaciáveis por mais e mais imagens.
A Vida Como Ela É
3.9 7impressionado com o percurso brutal deste filme. Eu realmente ri em vários momentos, mas era sempre um riso nervoso. Quando o fim vai se aproximando, o humor vai acabando e fica um aperto no coração... mas nada nos prepara para a cena final.
O Parque Macabro
3.8 142 Assista Agoradeslumbrado com a qualidade estética do filme, com sua aura psicológica perturbadora e com as andanças intermináveis da protagonista perdida entre dois mundos. Parece um filme de terror que Michelangelo Antonioni teria feito. Muito belo e com uma atmosfera única.
Mimi, o Metalúrgico
3.9 10 Assista Agoracenas icônicas numa comédia surreal tão divertida e politicamente irônica que chega a doer. Lina Wertmüller ganhou meu coração com este filme!
Mandriões No Vale Fértil
3.6 1Estarrecido com o percurso avassalador deste filme. O ócio aqui não é um poço de criatividade, mas a negação absoluta da experiência humana. A vida felina de comer, amar e dormir desta família grega é transformada pouco a pouco em uma vegetativa peça moral dirigida contra os parasitas deste mundo. O filme poderá passar por uma espécie extravagante de apologia ao trabalho, mas na verdade é, acima de tudo, uma apologia àquilo que nos faz humanos: criar, criar e criar. A experiência do homem no mundo é o retratro da transformação desse mundo, a experiência dessa família grega é o retrato da paralisação do mundo. A oligarquia recebe uma punhalada. O filme deve ser redescoberto urgentemente, pois a atualidade do tema é óbvia.
A Prisioneira
3.8 12Fiquei surpreso: achei que se tratava de alguma versão invejosa de blow up do Antonioni ou de Peeping Tom do Powell, mas é, na verdade, um conto surpreendente sobre o díptico erotismo\morte. Quem reparou na fotografia de Georges Bataille sobre a mesa de Stan tem aí um ótimo começo para analisar os meandros do filme, mas prefiro a fruição estética e passo a interpretação intelectual. Sonoplastia incisiva, imagens vítimas de cortes abruptos: tudo no filme tem força sufocante. Poderia ter sido melhor executado (de um ponto de vista técnica), mas nada nos prepara para a sequência final protagonizada por Josée e o surpreendente resumo da sua epopeia erótica naquela explosão de cores\flashes\significados. "O erotismo é a aprovação da vida até na morte" (Bataille)
Profanação
3.9 9É um filme extremamente bonito e a tragédia não poderia ser mais grega.
Esse Obscuro Objeto do Desejo
4.2 87Estou boquiaberto: Buñuel é um monstro de genialidade. Como pode alguém quebrar de forma tão sutil todas as regras do roteiro convencional? Como pode alguém expor de forma tão brilhante nossos vícios e obsessões? Sem contar o prazer de ver um macho subjugado por uma Conchita em dose dupla. Pra quem não entendeu o uso de duas atrizes para um único papel: podem voltar dez casas no jogo da vida, pois não sabem nada sobre os seres humanos.
Stroszek
4.1 77Ops, a América entrou em curto-circuito...
Nosferatu: O Vampiro da Noite
4.0 248Que coisa belíssima. Plasticamente irretocável. Estou chocado com a beleza perturbadora deste filme. Viva Herzog!
Trinta Anos Esta Noite
4.3 142Diante da enxurrada de comentários positivos aqui, me vejo obrigado a oferecer um contrapeso. De fato, o filme oferece delícias para quem procura a representação da angústia, mas seu existencialismo self-service com frases de caráter literário duvidoso (é incrível como nos rendemos fácil para a pretensa profundidade de frases que contenham as palavras "vida", "vazio", "angústia etc.) não me soaram convincentes, em nada. Colocar Erik Satie para tocar em momentos pretensamente epifânicos também não decolou comigo. A teatralidade do personagem central desfocou, para mim, o pàthos que a atmosfera de homens suicidas geralmente desperta. É preto-e-branco, tem Satie, abusa de frases impactantes e do existencialismo francês, contêm enquadramentos muito belos, mas não!, não consegue me convencer. Parece um filme que reúne todos os elementos para agradar àqueles que esperam exatamente isso de um filme francês: uma espécie de clichê-cult. Eu ainda fico com a angústia de La dolce vita de Fellini e com a peregrinação existencial de Cléo em "Cléo das 5 às 7" da Agnes Varda. Este aqui eu passo!