A cortisona vem abalar o pacato ambiente burguês e faz um homem declarar em plena década de 50 em um país conservador que "God was wrong!". Nicholas Ray quebrou todo o decoro do cinema de estúdios e criou uma obra estupenda.
Pasolini tentou a mesma metáfora em Pocilga, mas foi Imamura em Todos Porcos que atingiu o ápice dela, conjugando porcos e humanos em um único quadro estarrecedor. Este filme é dono de um dos maiores clímaxes do cinema, inesperado e insano em sua obsessão por transformar a metáfora em algo concreto. Imamura é rei! Estou chocado.
Embasbacado com a eloquência simbólica e concreta deste filme: Meu deus, que coisa maravilhosa! Desde o momento dos créditos inicias projetados de forma completamente criativa já sabemos que estamos diante de uma pérola inesquecível do cinema nacional. Verdadeira obra-prima de fechamento de ciclo: o cinema novo. Agora radicalizado pelo agravamento da situação política do Brasil (Golpe em 64, AI-5 em 68), este filme não poderia falar de outra coisa senão Da decadência da política nacional - com o colapso da democracia - e a visão sombria de um futuro inóspito, cuja guerra nuclear entre as potências (EUA x URSS) acabou com a esperança no dito terceiro-mundo. Filme imperdível, Brasil ano 2000, cujo desrecalque do título que já assume sua brasilidade e tropicalismo é um dos destaques, é um dos trabalhos mais memoráveis do fim da década de 60, cujo impacto estético (a trilha sonora é uma das coisas mais lindas que já ouvi) e político se unem para criar uma obra de arte. Merece ser visto com muito mais qualidade, pois tive acesso a uma cópia muito ruim: cadê a cinemateca brasileira para restaurá-lo?
Me encontro de joelhos diante deste filme. Ouso dizer que nunca vi algo tão poderoso no cinema. Cada minuto de projeção é avassalador, cada detalhe, impressionante. Obra imortal de Teshigahara. Muito mais poderoso que Les yeux sans visage do Franju, muito mais artístico e incrível que Seconds do Frankenheimer, filmes que dividem ostensivamente o mesmo tema que a obra de Teshigahara, mas que se colocados lado a lado perdem um pouco do brilho. Parece que houve uma espécie de trilogia informal do questionamento da identidade nos três mais poderosos cinemas do mundo: França, EUA e Japão colocaram em circulação, na mesma década, os três filmes supracitados. Coincidência ou sinal concreto do mal-estar na modernidade? Os filmes formam um tríptico assustador da individualidade atacada dentro de sua fortaleza: a identidade. Teshigahara foi muito longe... um caminho sem volta. Impossível permanecer indiferente. Imperdível!
Estou positivamente chocado e escandalizado diante deste filme. Desde o primeiro minuto já sabemos que estamos diante de uma obra sui generis dentro do cânone norte-americano. Uma linha que começa com Gun Crazy em 1950 de Joseph H. Lewis para desembocar em Badlands de Malick, uma linha que percorre a amargura e a violência seminal da sociedade ianque. Bonnie & Clyde não é apenas uma história sobre armas e bandidos, mas um retrato cáustico da desilução e da revolta. O jacobinismo dos personagens principais só acentua o teor revolucionário desse banditismo que mistura crítica social e busca pelo sucesso midiático pela via da violência. Polemizando com a pretensa seriedade do gênero, o filme se constrói como uma tragicomédia e termina da maneira mais melancólica possível. Há algo de profundamente triste na viagem dessas pessoas rumo ao abismo, mas há algo de extremamente hipócrita em todo o meio que os envolve. Uma sociedade fundada na violência primordial e que busca a redenção pela violência não pode negar o mesmo caminho aos seus semelhantes: Bonnie e Clyde não são heróis e muito menos vilões, são seres humanos submetidos em um momento histórico de profunda comoção social (lembremos que a crise do capital em 1929 foi a pior crise do capitalismo e também o cerne decisivo para a ascensão do fascismo e do nazismo na Europa) e de violência extrema. A crise financeira de 1929 é também a crise psicológica de toda uma civilização. Sobre a renovação cinematográfica do filme, se restringe exclusivamente ao decadente cinema hollywoodiano, pois a Europa e alguns países da América Latina já tinham visto em seu próprio cinema a explosão vanguardista. (Acossado é do começo da década e o Cinema Novo no Brasil já tinha rendido seus mais saborosos frutos). Bonnie e Clyde continuará causando o impacto seminal de sua estrutura inovadora e continuará colocando aqueles que apenas esperam entretenimento diante dos dilemas morais e existenciais mais perturbadores.
Escrevo sob o efeito singular e devastador dessa obra-prima do cinema japonês: estou profundamente chocado, comovido, arrasado com o desenrolar deste filme e igualmente impactado com o nível de abstracionismo sem precedentes do roteiro. Os telespectadores deste filme são reduzidos ao mesmo nível do filho mudo do personagem principal: vítimas do desenrolar incompreensível da vida, dos motivos dos homens e do sentido do mundo. Otoshiana é um filme absolutamente desafiador e poucas vezes me senti tão atingido no cinema. Ao final, resta-nos perguntar: por que?, mas como os fantasmas do filme nunca teremos uma resposta, pois o planeta parece girar sem se preocupar em dar satisfações. Esse é o sentido profundo de Otoshiana, que dispensa interpretações baratas para abraçar o abstracionismo radical da arte. Quem ainda enxerga o cinema como mero ventilador de entretenimento não encontrará nada neste filme, mas quem está preparado para captar o sentimento de absurdo da existência encontrará nele uma obra sem igual. Imperdível!
Experiência cinematográfica arrebatadora, radical e incontornável: Kaneto Shindo ofereceu um monumento de austeridade ritualística e repetição exaustiva da vida sobre a terra aos seus telespectadores. Talvez Jeanne Dielman da Akerman seja a obra europeia que mais se aproxima do que Shindo fez neste filme: o expurgo da metafísica e a materialização violenta do mundo: não há histórinhas, o que há são os contornos drásticos da vida no mundo sob configurações históricas específicas.
Oshima é praticante de um realismo exasperante e sufoca ilusões com o frio calculismo de um menino que mira em e depois acerta belos pássaros com o estilingue: o amor, a juventude, a maturidade e a impotência dos seres humanos são pincelados com excessivo detalhismo, nada escapa da lente microscópica de uma câmera que filma sem piedades a ebulição de uma juventude igualmente impiedosa. Primoroso em suas cores quentes, sem espaço para fabulações românticas e inquestionável na sua obsessiva vontade de enquadrar o gênero humano como animal do prazer, Nagisa constrói um filme inesquecível.
Você espera tudo dos EUA na década de 60, menos um filme como este. Kafka chega ao novo mundo: Frankenheimer criou a fantasmagórica jornada do homem comum, ou seja, o homem que não escolhe o próprio caminho e se deixa levar pelos meandros de uma vida cujo timão lhe escapa, cujo sentido não lhe alcança. Seja pela alienação no consumismo ("things! just things!) ou pela alienação da ética burguesa de construção do lar e da identidade que acabam se tornando prisões. Frankenheimer ataca a nossa obsessão pela personalidade (o individualismo) e a transforma em pesadelo. Impossível não mergulhar em um mal-estar profundo, principalmente com o final impactante. Primorosamente fotografado, este filme é uma das maiores pérolas que já vi de um cinema tão pobre e conservador (do ponto de vista artístico) como o dos EUA.
Impressionante como essa obra se converte, pouco a pouco, em um borbulhante caldeirão de crítica social. Não é um filme sobre "bandidos e assaltos", mas uma história sobre o Brasil e isso significa que é uma história do "monumento de injustiça social" (Eric Hobsbawm) que foi o Brasil ao longo de seu percurso. A imagem final é sua síntese, imagem congelada e transformada em fotografia de bolso para que todos se lembrem.
A peregrinação psicológica de Mizuki se converte, pouco a pouco, em uma vertiginosa aventura erótica, permeada pelo questionamento da "imaginação pornográfica" de toda uma sociedade. A cena de "filme-dentro-do-filme" funciona mais ou menos como a peça de Hamlet que, ao ensaiar uma peça dentro da peça, denuncia o assassinato do pai. Ao encenar a cena de filmagem, Yoshida denuncia o puro voyeurismo dos personagens e dos espectadores. Uma aula de fotografia (e que fotografia!), uma aula de enquadramentos e planos-sequência, uma aula de narrativa: Woman of the lake é uma gramática absoluta do cinema de Yoshida: impenetrável, mas não incompreensível; anti-psicológico, mas não vazio. Exuberante do começo ao fim!
Candeias subverte maravilhosamente o gênero western, debochando de sua seriedade (a onipresença das risadas em cenas tensas e chocantes) e inserindo um ritmo fílmico completamente peculiar e incrível. Revitalizando e derrubando a máscara de cansaço de um "O Cangaceiro" de Lima Barreto ou dos westerns norte-americanos e europeus, Candeias filma sua escalada de violência cujo único fim é a própria violência: não há heróis aqui e sim mal-estar diante da padronização e aceitação da barbárie como "natural", aceitação compartilhada por um público de cinema que invade as salas em busca de sangue. Público esse que encontra em Candeias um manancial de tédio e deboche: a sequência ininterrupta de risadas é a sátira final de um público que retira seu gozo da escalada de mortes. Os personagens risonhos interpretam uma sociedade risonha diante do mal, mal que, como disse Hannah Arendt, se tornou banal.
Filme e roteiro parecem existir somente na função de satélites para a transformação de Marlene Dietrich (ou melhor, na sua transubstanciação) em símbolo erótico e metafísico. A história é cheia de lacunas inexplicáveis, o cinismo perante a guerra é insolente e a sensação de "teatro filmado" mata qualquer brilhantismo do filme enquanto imagem-palavra. Duas cenas se destacam: Dietrich caminhando até a câmera para tocar piano e a sequência do baile de máscaras, o restante é apenas uma criação narrativa mecânica para a transformação de uma pessoa em ícone, aquilo que os italianos chamaram de Divismo.
Toshio é o filme mais violento de Oshima da década de 60 e quando falo em violência não me refiro ao que ele fez em, por exemplo, O Túmulo do Sol, mas na violência simbólica carregada de uma sequência de mal-estares que este filme nos faz contemplar. Toshio tem algo de Zazie (a Zazie de Malle e a Zazie de Queneau) na medida em que vaga sem destino por um mundo cuja lógica (capitalismo perverso?) lhe escapa de todo. Preenchido com metáforas imagéticas poderosas, cada minuto do filme se converte em uma experiência tortuosa de iniciação ao manual básico de sobrevivência de seres humanos submetidos em sistemas perversos. Como Zazie no final de sua jornada, Toshio também aprendeu algo: enquanto Zazie cresceu, Toshio foi a Hokkaido, o que é uma forma de dizer que cresceu e perdeu qualquer quinhão de inocência possível (inocência que ele próprio assassina na cena do boneco de neve). Oshima é um esteta imperdível e um crítico avassalador: fotografia, narrativa, conteúdo, tudo se transforma diante de nossos olhos em um laboratório de ciência social.
A vida de María Luisa Bombal é uma grande tentação para quem ousa abordar a sua biografia, pois é repleta de lances passionais completamente sedutores para quem necessita de uma história cheia de desenlaces melodramáticos. Ferrari abordou exatamente esse quinhão da vida dessa maravilhosa escritora e, apesar da contenção, acabou caindo em um filme acadêmico e formalmente conservador, apesar de às vezes emular o estilo Bombal de contar histórias. Uma das coisas de que mais gostei é a presença gostante dos "açudes" e da personagem sempre se banhar neles, pois quem leu os romances de Bombal sabe o quão simbólicos são esses banhos. O fato da câmera se focar obsessivamente no rosto dos personagens, ao ponto de deixar todo o décor sem qualquer menção e excluir qualquer pathos geralmente associado às paisagens, é uma técnica antiga, desde pelo menos A paixão de Joana D'arc do Dreyer, e visa, na minha opinião, a criar uma empatia instantânea com os personagens: maneirismo só perdoável se levarmos em conta outro efeito causado pelas tomadas extremamente fechadas escolhidas pelo diretor: o de causar o efeito de afogamento e falta de espaço para respirar.
Leonardo Favio produziu com uma audácia artesanal o seu próprio "Os incompreendidos". A versão argentina do filme de Truffaut é uma descrição deliciosa e comovente da vida na periferia de Buenos Aires, sem qualquer pretensão para contar uma grande história, Favio se concentra nos detalhes: o seu filme é descritivo, não anedótico. É um filme que pretende, de maneira documentária, captar o fluxo da vida. O uso da câmera é muito criativo. Pérola do cinema argentino, Crónica de um nino solo merece ser visto com muito carinho. O cantor Leonardo Favio foi um grande diretor.
Os nomes dos críticos que denunciaram a inautenticidade do filme dispensam reservas: Godard, caminhando pelo mesmo Rio de Janeiro retratado por Camus, não conseguiu ver a cidade de cartão-postal que ele pintou. Caetano Veloso e Cacá Diegues foram mais incisivos: criaram o seu próprio Orfeu 40 anos depois como um anti-Orfeu camusiano. De fato, o Brasil de Camus é um pouco exótico até mesmo para os brasileiros: eu simplesmente não acreditei que estava diante de um filme nacional, tamanha foi a minha falta de reconhecimento, o que não acontece, por exemplo, com outros exemplares do cinema novo posteriores ao filme e com outro exemplar de "olhar estrangeiro" sobre o Brasil anterior ao Orfeu de Camus: O Canto do Mar de Alberto Cavalcanti que era, virtualmente, um estrangeiro das metrópoles parisienses e londrinas. A explosão de cores exuberante e os elementos da peça do Vinicius salvam um pouco o filme da completa bancarrota em retratar os morros cariocas, pois conseguem seduzir a maioria dos espectadores, estrangeiros e brasileiros. Falar que o filme é "o último olhar inocente sobre o Brasil" não deveria suscitar nostalgia, pois a última coisa que este país precisa é de um olhar inocente e isso, é claro, para quem realmente reflete sobre a história do negro no Brasil. O filme foi o responsável por criar uma aura para a música brasileira lá fora e também abriu o espaço para os críticos europeus e norte-americanos se interessarem pelo cinema brasileiro que iria explodir logo depois, mas o cartão-postal de Camus deixa desconforto e continuará gerando polêmica.
Quando a sociedade americana leva um derradeiro tapa de realidade na cara. O fugitivo da prisão parece apenas mais uma vítima do que um vilão. É incrível como certas estruturas se assemelham aos extratos que já conhecemos por aqui: a figura de coronel centralizador dos poderes e das atenções de Val Rogers e seu séquito. A violência contra os negros é tão internalizada que se naturaliza diante de nossos olhos, uma violência que também conhecemos por aqui (apesar da pretensa "harmonia dos contrários" e "democracia racial" mitologizada por figuras como Freyre e outros), a completa decadência da camada burguesa da pequena sociedade com suas instituições falidas (família, casamento, respeito social) e a pulsão violenta de todo os brancos tutelados pelo poder moderador da história social de um país que transformou a violência em tradição e o preconceito em modus operandi de vida. O Novo Mundo é um bestiário!
Obra brilhante de Oshima que funde literatura e cinema, anarquismo e erotismo, pesquisa narrativa e crítica política de maneira formidável. A narrativa aparentemente desordenada na verdade segue fielmente o projeto do título: a escrita de um diário, que basicamente são amontoados de momentos desconexos da vida. O cinema é uma arte gráfica e Nagisa preenche o seu filme delicioso com momentos antológicos: a cena das vozes na livraria recitando trechos de obras literárias, a discussão sobre a sexualidade, a interpretação teatral, etc. é difícil escolher um só momento. Sob a atmosfera turbulenta de 68 (o ano revolucionário do século XX) os personagens se movimentam e a câmera corajosa desse filme os segue nos meandros de Tóquio em ebulição.
Bressane em um espetáculo sem igual de invenção e genialidade. Epicentro do cinema marginal, com uma violência inaudita conjugada com experimentação formal e diagnóstico político, este filme é um desafio e um deleite, preenchido de acidez e insolência perante os valores consagradas e a narrativa fossilizada do cinema comercial. A simples existência do filme é um milagre de execução e criatividade. Filho da época que iniciou o período mais repressivo da ditadura militar (o AI-5 foi em 68 ao lado da explosão estudantil e contestatória da ditadura que iria prosseguir com as violações aos direitos humanos como apresentadas na cena insuportável da tortura), a obra de Bressane se inscreve como um lance superior no cinema brasileiro. Indispensável!
A devastadora ironia contida no título do filme só acentua o mal-estar. De repente somos arremessados em um emaranhado de relações que poderiam sucumbir as barreiras de classe social, mas que com o passar do tempo vai revelando sua verdadeira e intransponível natureza: o final é o clímax supremo da incompreensão burguesa perante um mundo radicalmente diferente daquele imaginado pelos ricos. "Esse não voltará!" - e não voltou!
Estou profundamente comovido com este épico supremo de Imamura. Relato vertiginoso sobre a vida e a crença de homens e mulheres vivendo em uma ilha japonesa e a crescente modernização capitalista tentando transformar tudo. A figura de Ryu, o "coronel" da ilha, e a sua constante manipulação das crenças dos habitantes com fins pecuniários é a maior prova de que o título desse filme carrega uma terrível ironia: É o profundo desejo de deuses ou de homens cúpidos? Segue uma tragédia em câmera lenta (três horas de duração) e a soturna transformação de um mundo mágico em um mundo racional guiado pela lógica moderna do turismo e do capitalismo. Uma história que já foi contada muitas vezes desde as navegações que descobriram o Novo Mundo. O duelo entre dois mundos: um terá necessariamente de morrer. Filme imperdível, milagroso, incontornável!
Clássico absoluto, filme que explode de cores e de violência, teatro filmado sem pedir perdão ao cinema, grandes interpretações e um texto absolutamente impagável na sua missão de mostrar seres humanos e não "gays". Retrato fascinante do mundo homossexual pré-AIDS e pré-Stonewall. Obra de arte!
Impossível permanecer indiferente ao filme, Oshima desafia nossos vícios interpretativos e nossa histórica proprensão a acreditar que tudo tem um sentido. Elementos explosivos se encontram e colocam em marcha a pulsão destrutiva e autodestrutiva do gênero humano; Fascinante, do começo ao fim: e que fim!
Delírio de Loucura
3.9 36A cortisona vem abalar o pacato ambiente burguês e faz um homem declarar em plena década de 50 em um país conservador que "God was wrong!". Nicholas Ray quebrou todo o decoro do cinema de estúdios e criou uma obra estupenda.
Todos Porcos
4.1 11Pasolini tentou a mesma metáfora em Pocilga, mas foi Imamura em Todos Porcos que atingiu o ápice dela, conjugando porcos e humanos em um único quadro estarrecedor. Este filme é dono de um dos maiores clímaxes do cinema, inesperado e insano em sua obsessão por transformar a metáfora em algo concreto. Imamura é rei! Estou chocado.
Brasil Ano 2000
3.7 10Embasbacado com a eloquência simbólica e concreta deste filme: Meu deus, que coisa maravilhosa! Desde o momento dos créditos inicias projetados de forma completamente criativa já sabemos que estamos diante de uma pérola inesquecível do cinema nacional. Verdadeira obra-prima de fechamento de ciclo: o cinema novo. Agora radicalizado pelo agravamento da situação política do Brasil (Golpe em 64, AI-5 em 68), este filme não poderia falar de outra coisa senão Da decadência da política nacional - com o colapso da democracia - e a visão sombria de um futuro inóspito, cuja guerra nuclear entre as potências (EUA x URSS) acabou com a esperança no dito terceiro-mundo. Filme imperdível, Brasil ano 2000, cujo desrecalque do título que já assume sua brasilidade e tropicalismo é um dos destaques, é um dos trabalhos mais memoráveis do fim da década de 60, cujo impacto estético (a trilha sonora é uma das coisas mais lindas que já ouvi) e político se unem para criar uma obra de arte. Merece ser visto com muito mais qualidade, pois tive acesso a uma cópia muito ruim: cadê a cinemateca brasileira para restaurá-lo?
A Face do Outro
4.2 60Me encontro de joelhos diante deste filme. Ouso dizer que nunca vi algo tão poderoso no cinema. Cada minuto de projeção é avassalador, cada detalhe, impressionante. Obra imortal de Teshigahara. Muito mais poderoso que Les yeux sans visage do Franju, muito mais artístico e incrível que Seconds do Frankenheimer, filmes que dividem ostensivamente o mesmo tema que a obra de Teshigahara, mas que se colocados lado a lado perdem um pouco do brilho. Parece que houve uma espécie de trilogia informal do questionamento da identidade nos três mais poderosos cinemas do mundo: França, EUA e Japão colocaram em circulação, na mesma década, os três filmes supracitados. Coincidência ou sinal concreto do mal-estar na modernidade? Os filmes formam um tríptico assustador da individualidade atacada dentro de sua fortaleza: a identidade. Teshigahara foi muito longe... um caminho sem volta. Impossível permanecer indiferente. Imperdível!
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraEstou positivamente chocado e escandalizado diante deste filme. Desde o primeiro minuto já sabemos que estamos diante de uma obra sui generis dentro do cânone norte-americano. Uma linha que começa com Gun Crazy em 1950 de Joseph H. Lewis para desembocar em Badlands de Malick, uma linha que percorre a amargura e a violência seminal da sociedade ianque. Bonnie & Clyde não é apenas uma história sobre armas e bandidos, mas um retrato cáustico da desilução e da revolta. O jacobinismo dos personagens principais só acentua o teor revolucionário desse banditismo que mistura crítica social e busca pelo sucesso midiático pela via da violência. Polemizando com a pretensa seriedade do gênero, o filme se constrói como uma tragicomédia e termina da maneira mais melancólica possível. Há algo de profundamente triste na viagem dessas pessoas rumo ao abismo, mas há algo de extremamente hipócrita em todo o meio que os envolve. Uma sociedade fundada na violência primordial e que busca a redenção pela violência não pode negar o mesmo caminho aos seus semelhantes: Bonnie e Clyde não são heróis e muito menos vilões, são seres humanos submetidos em um momento histórico de profunda comoção social (lembremos que a crise do capital em 1929 foi a pior crise do capitalismo e também o cerne decisivo para a ascensão do fascismo e do nazismo na Europa) e de violência extrema. A crise financeira de 1929 é também a crise psicológica de toda uma civilização. Sobre a renovação cinematográfica do filme, se restringe exclusivamente ao decadente cinema hollywoodiano, pois a Europa e alguns países da América Latina já tinham visto em seu próprio cinema a explosão vanguardista. (Acossado é do começo da década e o Cinema Novo no Brasil já tinha rendido seus mais saborosos frutos). Bonnie e Clyde continuará causando o impacto seminal de sua estrutura inovadora e continuará colocando aqueles que apenas esperam entretenimento diante dos dilemas morais e existenciais mais perturbadores.
Otoshiana
3.9 13Escrevo sob o efeito singular e devastador dessa obra-prima do cinema japonês: estou profundamente chocado, comovido, arrasado com o desenrolar deste filme e igualmente impactado com o nível de abstracionismo sem precedentes do roteiro. Os telespectadores deste filme são reduzidos ao mesmo nível do filho mudo do personagem principal: vítimas do desenrolar incompreensível da vida, dos motivos dos homens e do sentido do mundo. Otoshiana é um filme absolutamente desafiador e poucas vezes me senti tão atingido no cinema. Ao final, resta-nos perguntar: por que?, mas como os fantasmas do filme nunca teremos uma resposta, pois o planeta parece girar sem se preocupar em dar satisfações. Esse é o sentido profundo de Otoshiana, que dispensa interpretações baratas para abraçar o abstracionismo radical da arte. Quem ainda enxerga o cinema como mero ventilador de entretenimento não encontrará nada neste filme, mas quem está preparado para captar o sentimento de absurdo da existência encontrará nele uma obra sem igual. Imperdível!
A Ilha Nua
4.4 25Experiência cinematográfica arrebatadora, radical e incontornável: Kaneto Shindo ofereceu um monumento de austeridade ritualística e repetição exaustiva da vida sobre a terra aos seus telespectadores. Talvez Jeanne Dielman da Akerman seja a obra europeia que mais se aproxima do que Shindo fez neste filme: o expurgo da metafísica e a materialização violenta do mundo: não há histórinhas, o que há são os contornos drásticos da vida no mundo sob configurações históricas específicas.
Juventude Desenfreada
3.7 14Oshima é praticante de um realismo exasperante e sufoca ilusões com o frio calculismo de um menino que mira em e depois acerta belos pássaros com o estilingue: o amor, a juventude, a maturidade e a impotência dos seres humanos são pincelados com excessivo detalhismo, nada escapa da lente microscópica de uma câmera que filma sem piedades a ebulição de uma juventude igualmente impiedosa. Primoroso em suas cores quentes, sem espaço para fabulações românticas e inquestionável na sua obsessiva vontade de enquadrar o gênero humano como animal do prazer, Nagisa constrói um filme inesquecível.
O Segundo Rosto
4.1 68 Assista AgoraVocê espera tudo dos EUA na década de 60, menos um filme como este. Kafka chega ao novo mundo: Frankenheimer criou a fantasmagórica jornada do homem comum, ou seja, o homem que não escolhe o próprio caminho e se deixa levar pelos meandros de uma vida cujo timão lhe escapa, cujo sentido não lhe alcança. Seja pela alienação no consumismo ("things! just things!) ou pela alienação da ética burguesa de construção do lar e da identidade que acabam se tornando prisões. Frankenheimer ataca a nossa obsessão pela personalidade (o individualismo) e a transforma em pesadelo. Impossível não mergulhar em um mal-estar profundo, principalmente com o final impactante. Primorosamente fotografado, este filme é uma das maiores pérolas que já vi de um cinema tão pobre e conservador (do ponto de vista artístico) como o dos EUA.
O Assalto ao Trem Pagador
4.1 91Impressionante como essa obra se converte, pouco a pouco, em um borbulhante caldeirão de crítica social. Não é um filme sobre "bandidos e assaltos", mas uma história sobre o Brasil e isso significa que é uma história do "monumento de injustiça social" (Eric Hobsbawm) que foi o Brasil ao longo de seu percurso. A imagem final é sua síntese, imagem congelada e transformada em fotografia de bolso para que todos se lembrem.
Woman of the Lake
4.1 10A peregrinação psicológica de Mizuki se converte, pouco a pouco, em uma vertiginosa aventura erótica, permeada pelo questionamento da "imaginação pornográfica" de toda uma sociedade. A cena de "filme-dentro-do-filme" funciona mais ou menos como a peça de Hamlet que, ao ensaiar uma peça dentro da peça, denuncia o assassinato do pai. Ao encenar a cena de filmagem, Yoshida denuncia o puro voyeurismo dos personagens e dos espectadores. Uma aula de fotografia (e que fotografia!), uma aula de enquadramentos e planos-sequência, uma aula de narrativa: Woman of the lake é uma gramática absoluta do cinema de Yoshida: impenetrável, mas não incompreensível; anti-psicológico, mas não vazio. Exuberante do começo ao fim!
Meu Nome é... Tonho
3.4 17Candeias subverte maravilhosamente o gênero western, debochando de sua seriedade (a onipresença das risadas em cenas tensas e chocantes) e inserindo um ritmo fílmico completamente peculiar e incrível. Revitalizando e derrubando a máscara de cansaço de um "O Cangaceiro" de Lima Barreto ou dos westerns norte-americanos e europeus, Candeias filma sua escalada de violência cujo único fim é a própria violência: não há heróis aqui e sim mal-estar diante da padronização e aceitação da barbárie como "natural", aceitação compartilhada por um público de cinema que invade as salas em busca de sangue. Público esse que encontra em Candeias um manancial de tédio e deboche: a sequência ininterrupta de risadas é a sátira final de um público que retira seu gozo da escalada de mortes. Os personagens risonhos interpretam uma sociedade risonha diante do mal, mal que, como disse Hannah Arendt, se tornou banal.
Desonrada
3.8 9Filme e roteiro parecem existir somente na função de satélites para a transformação de Marlene Dietrich (ou melhor, na sua transubstanciação) em símbolo erótico e metafísico. A história é cheia de lacunas inexplicáveis, o cinismo perante a guerra é insolente e a sensação de "teatro filmado" mata qualquer brilhantismo do filme enquanto imagem-palavra. Duas cenas se destacam: Dietrich caminhando até a câmera para tocar piano e a sequência do baile de máscaras, o restante é apenas uma criação narrativa mecânica para a transformação de uma pessoa em ícone, aquilo que os italianos chamaram de Divismo.
O Garoto Toshio
4.0 9Toshio é o filme mais violento de Oshima da década de 60 e quando falo em violência não me refiro ao que ele fez em, por exemplo, O Túmulo do Sol, mas na violência simbólica carregada de uma sequência de mal-estares que este filme nos faz contemplar. Toshio tem algo de Zazie (a Zazie de Malle e a Zazie de Queneau) na medida em que vaga sem destino por um mundo cuja lógica (capitalismo perverso?) lhe escapa de todo. Preenchido com metáforas imagéticas poderosas, cada minuto do filme se converte em uma experiência tortuosa de iniciação ao manual básico de sobrevivência de seres humanos submetidos em sistemas perversos. Como Zazie no final de sua jornada, Toshio também aprendeu algo: enquanto Zazie cresceu, Toshio foi a Hokkaido, o que é uma forma de dizer que cresceu e perdeu qualquer quinhão de inocência possível (inocência que ele próprio assassina na cena do boneco de neve). Oshima é um esteta imperdível e um crítico avassalador: fotografia, narrativa, conteúdo, tudo se transforma diante de nossos olhos em um laboratório de ciência social.
Bombal
3.5 6A vida de María Luisa Bombal é uma grande tentação para quem ousa abordar a sua biografia, pois é repleta de lances passionais completamente sedutores para quem necessita de uma história cheia de desenlaces melodramáticos. Ferrari abordou exatamente esse quinhão da vida dessa maravilhosa escritora e, apesar da contenção, acabou caindo em um filme acadêmico e formalmente conservador, apesar de às vezes emular o estilo Bombal de contar histórias. Uma das coisas de que mais gostei é a presença gostante dos "açudes" e da personagem sempre se banhar neles, pois quem leu os romances de Bombal sabe o quão simbólicos são esses banhos. O fato da câmera se focar obsessivamente no rosto dos personagens, ao ponto de deixar todo o décor sem qualquer menção e excluir qualquer pathos geralmente associado às paisagens, é uma técnica antiga, desde pelo menos A paixão de Joana D'arc do Dreyer, e visa, na minha opinião, a criar uma empatia instantânea com os personagens: maneirismo só perdoável se levarmos em conta outro efeito causado pelas tomadas extremamente fechadas escolhidas pelo diretor: o de causar o efeito de afogamento e falta de espaço para respirar.
Crónica de un Niño Solo
3.6 2Leonardo Favio produziu com uma audácia artesanal o seu próprio "Os incompreendidos". A versão argentina do filme de Truffaut é uma descrição deliciosa e comovente da vida na periferia de Buenos Aires, sem qualquer pretensão para contar uma grande história, Favio se concentra nos detalhes: o seu filme é descritivo, não anedótico. É um filme que pretende, de maneira documentária, captar o fluxo da vida. O uso da câmera é muito criativo. Pérola do cinema argentino, Crónica de um nino solo merece ser visto com muito carinho. O cantor Leonardo Favio foi um grande diretor.
Orfeu do Carnaval
3.7 123 Assista AgoraOs nomes dos críticos que denunciaram a inautenticidade do filme dispensam reservas: Godard, caminhando pelo mesmo Rio de Janeiro retratado por Camus, não conseguiu ver a cidade de cartão-postal que ele pintou. Caetano Veloso e Cacá Diegues foram mais incisivos: criaram o seu próprio Orfeu 40 anos depois como um anti-Orfeu camusiano. De fato, o Brasil de Camus é um pouco exótico até mesmo para os brasileiros: eu simplesmente não acreditei que estava diante de um filme nacional, tamanha foi a minha falta de reconhecimento, o que não acontece, por exemplo, com outros exemplares do cinema novo posteriores ao filme e com outro exemplar de "olhar estrangeiro" sobre o Brasil anterior ao Orfeu de Camus: O Canto do Mar de Alberto Cavalcanti que era, virtualmente, um estrangeiro das metrópoles parisienses e londrinas. A explosão de cores exuberante e os elementos da peça do Vinicius salvam um pouco o filme da completa bancarrota em retratar os morros cariocas, pois conseguem seduzir a maioria dos espectadores, estrangeiros e brasileiros. Falar que o filme é "o último olhar inocente sobre o Brasil" não deveria suscitar nostalgia, pois a última coisa que este país precisa é de um olhar inocente e isso, é claro, para quem realmente reflete sobre a história do negro no Brasil. O filme foi o responsável por criar uma aura para a música brasileira lá fora e também abriu o espaço para os críticos europeus e norte-americanos se interessarem pelo cinema brasileiro que iria explodir logo depois, mas o cartão-postal de Camus deixa desconforto e continuará gerando polêmica.
Caçada Humana
3.7 45Quando a sociedade americana leva um derradeiro tapa de realidade na cara. O fugitivo da prisão parece apenas mais uma vítima do que um vilão. É incrível como certas estruturas se assemelham aos extratos que já conhecemos por aqui: a figura de coronel centralizador dos poderes e das atenções de Val Rogers e seu séquito. A violência contra os negros é tão internalizada que se naturaliza diante de nossos olhos, uma violência que também conhecemos por aqui (apesar da pretensa "harmonia dos contrários" e "democracia racial" mitologizada por figuras como Freyre e outros), a completa decadência da camada burguesa da pequena sociedade com suas instituições falidas (família, casamento, respeito social) e a pulsão violenta de todo os brancos tutelados pelo poder moderador da história social de um país que transformou a violência em tradição e o preconceito em modus operandi de vida. O Novo Mundo é um bestiário!
Diário de um Ladrão de Shinjuku
4.1 6Obra brilhante de Oshima que funde literatura e cinema, anarquismo e erotismo, pesquisa narrativa e crítica política de maneira formidável. A narrativa aparentemente desordenada na verdade segue fielmente o projeto do título: a escrita de um diário, que basicamente são amontoados de momentos desconexos da vida. O cinema é uma arte gráfica e Nagisa preenche o seu filme delicioso com momentos antológicos: a cena das vozes na livraria recitando trechos de obras literárias, a discussão sobre a sexualidade, a interpretação teatral, etc. é difícil escolher um só momento. Sob a atmosfera turbulenta de 68 (o ano revolucionário do século XX) os personagens se movimentam e a câmera corajosa desse filme os segue nos meandros de Tóquio em ebulição.
Matou a Família e Foi ao Cinema
3.6 91Bressane em um espetáculo sem igual de invenção e genialidade. Epicentro do cinema marginal, com uma violência inaudita conjugada com experimentação formal e diagnóstico político, este filme é um desafio e um deleite, preenchido de acidez e insolência perante os valores consagradas e a narrativa fossilizada do cinema comercial. A simples existência do filme é um milagre de execução e criatividade. Filho da época que iniciou o período mais repressivo da ditadura militar (o AI-5 foi em 68 ao lado da explosão estudantil e contestatória da ditadura que iria prosseguir com as violações aos direitos humanos como apresentadas na cena insuportável da tortura), a obra de Bressane se inscreve como um lance superior no cinema brasileiro. Indispensável!
Uma Cidade de Amor e de Esperança
4.1 9A devastadora ironia contida no título do filme só acentua o mal-estar. De repente somos arremessados em um emaranhado de relações que poderiam sucumbir as barreiras de classe social, mas que com o passar do tempo vai revelando sua verdadeira e intransponível natureza: o final é o clímax supremo da incompreensão burguesa perante um mundo radicalmente diferente daquele imaginado pelos ricos. "Esse não voltará!" - e não voltou!
O Profundo Desejo dos Deuses
4.3 10Estou profundamente comovido com este épico supremo de Imamura. Relato vertiginoso sobre a vida e a crença de homens e mulheres vivendo em uma ilha japonesa e a crescente modernização capitalista tentando transformar tudo. A figura de Ryu, o "coronel" da ilha, e a sua constante manipulação das crenças dos habitantes com fins pecuniários é a maior prova de que o título desse filme carrega uma terrível ironia: É o profundo desejo de deuses ou de homens cúpidos? Segue uma tragédia em câmera lenta (três horas de duração) e a soturna transformação de um mundo mágico em um mundo racional guiado pela lógica moderna do turismo e do capitalismo. Uma história que já foi contada muitas vezes desde as navegações que descobriram o Novo Mundo. O duelo entre dois mundos: um terá necessariamente de morrer. Filme imperdível, milagroso, incontornável!
Os Rapazes da Banda
4.1 71Clássico absoluto, filme que explode de cores e de violência, teatro filmado sem pedir perdão ao cinema, grandes interpretações e um texto absolutamente impagável na sua missão de mostrar seres humanos e não "gays". Retrato fascinante do mundo homossexual pré-AIDS e pré-Stonewall. Obra de arte!
Duplo Suicídio Forçado: Verão Japonês
3.8 7Impossível permanecer indiferente ao filme, Oshima desafia nossos vícios interpretativos e nossa histórica proprensão a acreditar que tudo tem um sentido. Elementos explosivos se encontram e colocam em marcha a pulsão destrutiva e autodestrutiva do gênero humano; Fascinante, do começo ao fim: e que fim!