Desde "Matrix" eu não via um filme com tal grandeza 'filosófica' no roteiro, configurando-se como uma sofisticada obra de ficção científica e costurando (literalmente) realidade e sonho com tanta verossimilhança que fica difícil não acreditar no que é representado na tela. Ainda que, paradoxalmente, seja um filme que exija uma interpretação complexa e multifacetada, é fascinante acompanhá-lo, mesmo sabendo que será necessário revê-lo - e que, a cada 'assistida', novas lacunas surgirão e outras serão preenchidas. O elenco dá um show de interpretações inspiradas, sendo que alguns já são nossos conhecidos dos trabalhos com a trilogia Batman, do mesmo diretor: Michael Caine, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt e outros. Quanto a Christopher Nolan, que não apenas dirige, mas roteiriza o filme, entrega uma obra que deslumbra os olhos, com incríveis efeitos especiais, e a mente, com uma história intencionalmente confusa, feita de camadas interpretativas (como os sonhos), cheia de reviravoltas que prendem a respiração. Genial!
Um filme triste... Porém, não necessariamente na acepção da história, mas no desenvolvimento pobre da mesma. Realmente é triste ver um elenco tão competente ser desperdiçado assim; mais triste ainda é saber que o roteiro (adaptado de um excelente livro de Bernhard Schlink) tinha potencial suficiente para dar origem a um filme verdadeiramente bonito e profundo, com toques filosóficos, se fosse mais fiel à obra original, ao invés de usá-la apenas como "tapa-buraco" em um filme raso e clichê sobre mais um caso de adultério. Outra ruptura do encanto que a história poderia proporcionar está na comunicação entre Lisa e Rafe, feita de forma 'clássica' no livro, por meio de cartas, transformadas no filme em uma fria correspondência por e-mails. Suprimindo a sutileza das cartas, o teor reflexivo do filme escorre pelo ralo e o que sobra é uma película supérflua e previsível.
Em se tratando de filmes com temática relacionada à Segunda Guerra e, mais especificamente, ao Nazismo, "A menina que roubava livros" é um dos mais belos que eu já tive a oportunidade de ver. Naturalmente, há inúmeros outras obras 'melhores' na abordagem dessa fase tão obscura da História e o próprio filme de Brian Percival resgata apenas uma fatia do grandioso romance de Markus Zusak, no qual se baseia. Contudo, a beleza do filme está no seu lirismo, na sua capacidade de transformar a dor e a tristeza em algo poético, ainda que bastante dramático, como não poderia deixar de ser. Mais que isso, é lindo ver a perspectiva infantil de Liesel e Rudy, símbolos da inocência ameaçada pelos conflitos de sua época, acerca da guerra. Também são trabalhados valores como a amizade e a incrível capacidade - que chega a soar como utopia - de mudar o mundo com palavras. Em suma, um filme sensível e tão profundo quanto a infância pode permitir.
Arrebatador nas cenas de ação, mas cansativo em alguns pontos do desenrolar da trama (realmente era indispensável que o filme tivesse quase três horas de duração?), eu definiria este filme de Zack Snyder como uma montanha-russa: cheia de altos e baixos. Desde "300", o diretor ganhou o rótulo de visionário, provando que sabe adaptar bem HQs... pelo menos no sentido visual. Quanto ao roteiro e o desenvolvimento do história, são também ótimos, embora tenha parecido muito irregular em certos momentos, resultando em algumas cenas arrastadas e outras meio confusas de tão aceleradas. Mesmo assim, deixando de lado essas pequenas oscilações de ritmo (que não chegam a estragar o prazer de ver o filme) e não levando muito a sério a 'filosofia' dos personagens, dá para se divertir um bocado.
Não há dúvida de que Lars Von Trier é um cineasta controverso; decerto é um dos diretores favoritos dos indivíduos que se consideram "cult", o que definitivamente não é meu caso. A fotografia de "Melancolia" é deslumbrante, bem como a temática chamativa. Dar uma abordagem dramática/psicológica ao tema 'fim do mundo' ao invés de apelar aos velhos clichês que acompanham esse tipo de filme é algo muito original. Contudo, à exceção da parte inicial, até o final da festa de casamento de Justine e dos momentos finais do filme, realmente arrebatadores, o resto pareceu (opinião totalmente subjetiva) muito arrastado e entediante na tentativa de mostrar - ou melhor, sugerir - uma catástrofe metafórica (o destino de Justine) em sincronia com uma outra, física (a destruição da Terra).
É muito óbvio que adaptações de clássicos ficam muito aquém das obras escritas, e isso tende a piorar dependendo do livro e dos responsáveis pela releitura cinematográfica. No caso da versão de Rob Letterman, o resultado final ficou patético: não bastasse atualizar a obra (o que já dilui parte da identidade da mesma), ainda conta com um protagonista que, ainda que tenha certo potencial, não se encaixaria no papel de Gulliver nem sequer numa versão liliputiana. Swift deve estar se revirando no túmulo.
Um dos filmes em desenho animado mais visualmente belos da Disney, com cara de infância... belas canções, ambientação e uma boa adaptação - a nível infantil - da obra de Victor Hugo. É um filme que mescla alegria e melancolia em doses generosas, criando um ar triste e, mesmo assim, encantador.
As obras clássicas da literatura estão constantemente sendo adaptadas para o cinema, mas o resultado nem sempre é agradável. Um dos erros mais frequentes é a ideia de atualizar a história e suas peculiaridades para novos públicos, ignorando-se intencionalmente os “detalhes” de época, que são, afinal de contas, parte essencial no contexto de tais obras. Felizmente, o diretor Joe Wright (pouco conhecido até a produção deste filme) percebeu a importância crucial dos detalhes históricos na reconstrução cinematográfica de um livro e entregou um dos filmes mais fiéis e dignos da obra original já produzidos.
É desnecessário tecer comentários favoráveis a "The Dark Knight", já que suas qualidades são reconhecidas com relativa unanimidade por público e crítica. Pessoalmente, vejo pouco de "super-herói" na trilogia do Batman dirigida por Nolan: isto não é uma crítica, mas uma observação acerca do rumo e da abordagem definidas pelo diretor para um dos personagens mais queridos das HQs. Quando digo que não vejo muito de super-herói, me refiro à história surpreendentemente verossimilhante e sem furos, sem as velhas sacadas manjadas e previsíveis que os filmes de herói costumam apresentar, com uma fórmula mais ou menos preparada. Nos 3 filmes de Nolan, com mais destaque neste (que é meu favorito não só da trilogia, mas do próprio gênero "filme de herói"), as decisões tomadas pelos personagens, suas inquietações, medos, inseguranças, enfim, o lado humano - portanto, com defeitos que também vêm à tona - aproximam o que é visto na tela da realidade vivida pelo espectador. Os personagens centrais (Batman e Coringa) não são estereótipos do tipo mocinho justiceiro irrepreensível versus vilão frio e sanguinário; a concepção de suas perspectivas vai muito além disso, o que se pode constatar através do roteiro enxuto e, ainda assim, filosófico à sua maneira. Bom seria se mais filmes fossem feitos seguindo essa linha: roteiros que humanizam seus personagens e produções que enfatizem mais o desenvolvimento de algo criativo do que o excesso de efeitos especiais milionários em 3D invadindo a tela.
Muito se fala do "fiasco" de Ridley Scott com o filme "Hannibal" (algo que eu sempre considerei uma injustiça), mas, particularmente, considero este "Hannibal Rising" o mais fraco da brilhante trajetória do psiquiatra canibal. A história propriamente, se a considerarmos uma trama isolada, até que funciona bem: bons atores, bom roteiro, boa ambientação (ótima fotografia); o problema aparece quando se tenta ligar este filme à trilogia protagonizada por Anthony Hopkins. Aí, nota-se que a história não apenas é fraca como também é forçada ao sugerir uma conexão direta com os filmes seguintes. Como um filme sobre vingança, é uma boa distração; porém, como apêndice à trilogia de Hannibal, soa desnecessário e sem nexo suficiente.
Entre tantos remakes desnecessários (que evidenciam a falta de criatividade para os roteiros do gênero terror atualmente), "A Casa da Colina" é relativamente satisfatório, apresentando uma trama simples e com alguns bons momentos de tensão, acompanhados dos típicos sustos que fazem parte da cartilha do horror teen. Geoffey Rush está com uma ótima atuação de homem excêntrico, o sr. Steven Price (referência a Vincent Price, do original); Famke Janssen, que mais tarde seria mundialmente conhecida como a mutante Jean Grey, também apresenta uma boa performance de início de carreira. "A Casa da Colina" não é, decerto, um marco do cinema de terror, mas cumpre bem sua função de assustar "à moda antiga", mesmo se distanciando visivelmente do estilo clássico do filme original e enveredando para o caminho do público jovem.
Embora prevaleça mais uma vez a velha ladainha de que "o livro é melhor que o filme", o filme de Truffaut carrega grande parte dos questionamentos da obra de Ray Bradbury e o faz com brilhantismo. Apresentando um futuro não muito distante onde os livros são proibidos (o título da obra representa a temperatura na qual os livros são queimados), o filme traça paralelos diretos com a realidade atemporal na qual as massas são "dominadas" pela televisão, o meio de comunicação que oferece entretenimento, mas não o conhecimento crítico que apenas os livros podem instigar. O filme satiriza e critica a manipulação das pessoas pela mídia e a censura política à busca do conhecimento, ainda que em menor grau. Entretanto, acima disso, fica evidente a importância da leitura na formação das pessoas. Duas cenas memoráveis: o incêndio na casa da senhora que prefere morrer junto com seus livros a abandoná-los e o final "literalmente" belíssimo, no qual vê-se um fio de esperança e liberdade.
Esplêndido. "Austrália" é uma obra grandiosa (literalmente, levando em conta sua duração), um épico que conta não necessariamente uma aventura, mas várias delas, interligadas pelo par romântico Sarah (Kidman) e "Drover" (Jackman): da jornada de tocar o gado para venda através de longínquas terras, enfrentando perigosos inimigos, até o clímax com o ataque japonês em Darwin. Assim, não falta nem a dose de melodrama indispensável nessa obra particularmente, nem a pitada de História, já que a trama se passa durante a Segunda Guerra. A fotografia natural da Austrália, acentuada virtualmente em alguns trechos com efeitos visuais fantásticos fornece, ao longo do filme, uma experiência belíssima, que remonta aos filmes antigos ao estilo "...E o Vento Levou" - algo notável até nos pôsteres de divulgação. Destaque também para as referências ao clássico "O Mágico de Oz" (1939).
Um suspense político excepcional, onde não faltam o realismo na reprodução de problemas atemporais da sociedade (corrupção, censura, autoritarismo) nem a generosa dose de fantasia e inventividade visual da trilogia "MATRIX" (sobretudo a filosofia do primeiro filme), arquitetada tão bem pelos irmãos Wachowski. "V de Vingança" configura-se como uma daquelas raras adaptações de HQ que deixam uma mensagem universal e atual, não idealizando heróis ou estereotipando vilões, na tentativa de subestimar a inteligência do espectador; bem contrário a isto, o filme de McTeigue é desafiador e sutil ao mesmo tempo, traçando paralelos brilhantes entre sua história e a realidade de ilusória liberdade de expressão em que vivemos.
É sempre difícil ver um filme adaptado de uma obra literária (sobretudo quando a obra em questão é o livro favorito do espectador), sem traçar paralelos e fazer as inevitáveis comparações... Esta adaptação de "Dorian Gray" tem méritos bastante significativos, sendo o maior deles, talvez, a fidelidade do roteiro à obra original. Além disso, é magnificamente fotografado, bem montado e cuidadoso nos detalhes, com destaque para o famoso retrato. Contudo, o filme dilui duas características essenciais do romance de Wilde, o que acaba eclipsando parte de sua identidade: as referências homossexuais do livro foram suprimidas por completo (algo justificável para a época); outro aspecto que deixa a desejar é justamente a interpretação do protagonista, Hurd Hatfield. O ator carece do charme e da mistura gradual de ingenuidade e malícia do personagem e não consegue representar a degradação moral por que Dorian Gray passa no decorrer do romance. Em parte, isso se deve ao próprio roteiro, que, embora fiel, simplificou muito a história. Assim, sem considerar a história, mas apenas a interpretação do personagem, continuo preferindo Ben Barnes no papel.
Minha hesitação em ver "Sweeney Todd" era o fato de eu apresentar relutância com o gênero cinematográfico musical. Contudo, grande foi a satisfação de presenciar mais um filme visualmente magistral de Burton. Mesmo não sendo fã do diretor, reconheço nele muitos méritos, que neste filme alcançam proporções notáveis, como na maioria de suas obras. Depp encarna competentemente o magoado e vingativo barbeiro que retorna a Londres em busca de sangue, arquitetando, para isso, um plano realmente "demoníaco"; Helena Bonham Carter também está num papel satisfatório e, embora um tanto eclipsada por Depp (que realmente rouba a cena), demonstra incrível desenvoltura no seu papel, particularmente nas inúmeras cenas em que está cantando. O aspecto visual do filme, carregado de um tom soturno e gótico, acrescenta o ar de terror que Burton deseja transmitir; os figurinos e a fotografia são também impecáveis e, nesse aspecto, há que se concordar que o Oscar de Melhor direção de arte foi muito merecido. "Sweeney Todd" é uma experiência muito interessante; ao final, é bom ver um lado de Tim Burton menos infantil e mais adulto, sombrio... sem abrir mão da veia fantasiosa característica dele.
Perverso, cruel, constrangedor, sensível, íntimo... adjetivos um tanto contraditórios, mas que Gaspar Noé sabe inserir com perícia impecável nos diversos contextos do filme "Irreversível", à medida que ele progride (ou, mais necessariamente, regride, se levarmos em conta a estrutura narrativa inversa adotada pelo realizador). A sequência de abertura, com créditos confusos, embaralhados e invertidos já fornece um prenúncio de que "Irreversível" não é um filme comum, organizado de forma tradicional, linear. As cores escuras (preto e vermelho) dos créditos também servem como aviso quanto ao conteúdo de violência e sexo estilizados - embora de forma crua e intencionalmente desagradável. A vingança alucinante do homem cuja namorada foi brutalmente violentada apresenta-se, na perspectiva genial de Noé, de maneira subjetiva e visceral, notável, por exemplo, na câmera difusa nas sequências iniciais, nos takes rápidos e apressados, no desvario do personagem que sai às cegas em busca de pistas, sem se importar com a lógica ou sequer parar para refletir. Nesses momentos, fica clara a intenção de Noé em fazer com que o espectador se sinta na pele de Marcus. Tudo é representado em tons sombrios, intercalados por sequências visuais chocantes, que têm seu ápice no famigerado estupro no túnel do metrô. O ambiente em si não é sombrio, mas é claustrofóbico e assustador num sentido amplamente psicológico. Quanto à cena do estupro, esta se desenvolve, ou, antes, se arrasta por minutos que parecem intermináveis, tamanha a aflição e constrangimento conferidos pelo ato. Monica Bellucci realmente se mostra competente no papel de vítima indefesa, o que, aliado à sua incrível beleza, ajudou-a a ficar marcada na história do cinema por este filme, no qual ela sofre um trauma tão grosseiro, tão ofensivo à dignidade humana que não deixa de ser, de fato, irreversível.
Um daqueles filmes sobre os quais é difícil emitir uma opinião direta e imparcial; David Mackenzie constrói um drama complexo, embora tudo seja gradativo, sugestivo e, ainda assim, cru, realista. Com um ritmo bastante lento (o que era essencial para o propósito desenvolvido pela trama, mas que evidentemente não agrada àqueles que buscam um entretenimento ágil), o filme possui roteiro simplista, com diálogos escassos, porém significativos. Assim, não há “desperdícios verbais” e Mackenzie prefere explorar outras linguagens, em especial a visual. O filme também se permite rupturas na própria estrutura narrativa, de modo que segue um roteiro linear intercalado por digressões que servem para intercalar lembranças, memórias ao contexto da história que se desnuda aos poucos, a fim de revelar os detalhes pertinentes a um crime em torno do qual o filme se desenvolve Falando em desnudar, “Pecados Ardentes” (será que só eu considerei o título nacional execrável?) abusa de cenas de nudez e sexo, quase todas protagonizadas por Ewan McGregor, que aqui interpreta um dos personagens mais estranhos – e não necessariamente agradável – de sua carreira. De fato, particularmente considero Joe (o personagem dele) um sujeito difícil de compreender e de gostar, ainda que pareça raso e esteja o tempo todo transando com diferentes mulheres, às quais não se prende emotivamente. Talvez, com Ella (Tilda Swinton, em uma atuação fria, mas de acordo com a personagem), Joe possua o que de mais próximo existe ao amor; contudo, eles vivem um caso extraconjugal marcado por relações sexuais sem nenhuma emoção, tudo muito mecânico, instintivo. À medida que o filme avança, conhecemos particularidades acerca da vida sexualmente ativa de Joe e seus segredos ancorados na inércia do personagem, que não possui um nível de remorso suficiente para arcar com as consequências de seus atos desvairados. Essas descobertas não o tornam “querido” pelo espectador, que finalmente compreende o significado, muito adequado, por sinal, do título “Young Adam”; realmente, Joe é um Adão entre muitas Evas.
Como definir um filme tão "precisamente perfeito" como "American Beauty"?! Alan Ball, com seu talento incrível em roteirizar mostra o poder que possui para construir histórias densas e delicadas ao mesmo tempo, criando conexões entre elas e resultando em turbulenta trama repleta de significados subentendidos que se desnudam aos poucos. A direção firme de Sam Mendes, responsável por "Revolutionary Road", só aumenta a qualidade e a tenacidade ímpares do filme. Toda a história (se é que se pode referir-se assim, no singular) segue trilhando caminhos próprios, abrindo espaço para diálogos profundos e situações crivadas de ironia... É mesmo aí nesses pontos que reconhecemos o brilhante roteirista e criador de "Six Feet Under", já antecipando sua forma peculiar de satirizar as relações humanas e evidenciar certos aspectos poéticos da vida (incluindo a própria e paradoxal morte, tão bem trabalhada no seriado referido).
Apesar de curto em duração, "Amigo Imaginário" se arrasta muito em algumas partes, fazendo com que o filme pareça mais extenso do que realmente é. Entretanto, o clímax e o final são bem interessantes e compensam a espera, quando a imaginação de Estrella vai de encontro à realidade assoladora e seus "monstros interiores" vêm à tona. A proposta do filme é boa, (incluindo as referências aos clássicos do horror); só faltou desenvolver melhor.
Definitivamente, nunca curti filmes sobre "animais assassinos": tubarões, crocodilos, piranhas, abelhas, etc... Entretanto, "Rottweiler" foi o único desse estilo que chamou um pouco minha atenção ao inovar com sua versão canina do Exterminador do Futuro. O roteiro é muito irregular, ruim em vários pontos, se arrastando aqui, forçando ali... e assim vai, entre trancos e barrancos. Porém, nos momentos em que "decide" assustar, o filme consegue, com cenas violentas muito tensas e sanguinárias, num clima de suspense e horror gritantes. Se vale a pena? Depende do gosto do espectador: se quer um filme cheio de perseguição, sangue, sexo e tensão, "Rottweiler" é uma boa opção... mas, se deseja um entretenimento mais inteligente e menos apelativo, é melhor ficar longe deste filme de Yuzna.
Difícil encontrar um filme que sintetize em si tudo o que foi construído aos poucos no decorrer de gerações - neste caso, com o subgênero de horror "trash"; Peter Jackson, no entanto, conseguiu tal façanha de maneira no mínimo "exemplar" em BRAINDEAD, o filme que não apenas resume o que de melhor (ou pior, dependendo da perspectiva) havia no gênero, mas também eleva, por assim dizer, o horror explícito a um nível ainda não visto no cinema. Reunindo comédia escrachada, horror escatológico e um excelente timing, o filme é uma viagem alucinante, daquelas sem controle, meio sem nexo, de revirar o estômago com tanta nojeira, embora tudo recheado com um humor negro raramente observado na época dentro de produções desse estilo.
Mais um clássico do tempo em que se "sabia" fazer filmes de terror, sem apelações ou escorando-se em efeitos especiais... Um filme que evidencia os terrores mais sombrios com uma trama realmente assustadora, embora bastante simples. A mansão mal-assombrada, por si só, já causa arrepios, mas as atuações de Deborah Kerr e das duas crianças são um show à parte. Impossível ficar indiferente àquela melodia cantarolada por Flora ou pelo olhar aparentemente meigo de Miles. Quando se percebe, então, que a "inocência" das crianças é apenas fachada, o filme ganha contornos verdadeiramente macabros - tudo de forma implícita, dosada no terror psicológico. Mais que recomendado!
A Origem
4.4 5,9K Assista AgoraDesde "Matrix" eu não via um filme com tal grandeza 'filosófica' no roteiro, configurando-se como uma sofisticada obra de ficção científica e costurando (literalmente) realidade e sonho com tanta verossimilhança que fica difícil não acreditar no que é representado na tela. Ainda que, paradoxalmente, seja um filme que exija uma interpretação complexa e multifacetada, é fascinante acompanhá-lo, mesmo sabendo que será necessário revê-lo - e que, a cada 'assistida', novas lacunas surgirão e outras serão preenchidas.
O elenco dá um show de interpretações inspiradas, sendo que alguns já são nossos conhecidos dos trabalhos com a trilogia Batman, do mesmo diretor: Michael Caine, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt e outros. Quanto a Christopher Nolan, que não apenas dirige, mas roteiriza o filme, entrega uma obra que deslumbra os olhos, com incríveis efeitos especiais, e a mente, com uma história intencionalmente confusa, feita de camadas interpretativas (como os sonhos), cheia de reviravoltas que prendem a respiração. Genial!
O Amante
2.8 162Um filme triste...
Porém, não necessariamente na acepção da história, mas no desenvolvimento pobre da mesma. Realmente é triste ver um elenco tão competente ser desperdiçado assim; mais triste ainda é saber que o roteiro (adaptado de um excelente livro de Bernhard Schlink) tinha potencial suficiente para dar origem a um filme verdadeiramente bonito e profundo, com toques filosóficos, se fosse mais fiel à obra original, ao invés de usá-la apenas como "tapa-buraco" em um filme raso e clichê sobre mais um caso de adultério.
Outra ruptura do encanto que a história poderia proporcionar está na comunicação entre Lisa e Rafe, feita de forma 'clássica' no livro, por meio de cartas, transformadas no filme em uma fria correspondência por e-mails. Suprimindo a sutileza das cartas, o teor reflexivo do filme escorre pelo ralo e o que sobra é uma película supérflua e previsível.
A Menina que Roubava Livros
4.0 3,4K Assista AgoraEm se tratando de filmes com temática relacionada à Segunda Guerra e, mais especificamente, ao Nazismo, "A menina que roubava livros" é um dos mais belos que eu já tive a oportunidade de ver. Naturalmente, há inúmeros outras obras 'melhores' na abordagem dessa fase tão obscura da História e o próprio filme de Brian Percival resgata apenas uma fatia do grandioso romance de Markus Zusak, no qual se baseia.
Contudo, a beleza do filme está no seu lirismo, na sua capacidade de transformar a dor e a tristeza em algo poético, ainda que bastante dramático, como não poderia deixar de ser. Mais que isso, é lindo ver a perspectiva infantil de Liesel e Rudy, símbolos da inocência ameaçada pelos conflitos de sua época, acerca da guerra. Também são trabalhados valores como a amizade e a incrível capacidade - que chega a soar como utopia - de mudar o mundo com palavras.
Em suma, um filme sensível e tão profundo quanto a infância pode permitir.
Watchmen: O Filme
4.0 2,8K Assista AgoraArrebatador nas cenas de ação, mas cansativo em alguns pontos do desenrolar da trama (realmente era indispensável que o filme tivesse quase três horas de duração?), eu definiria este filme de Zack Snyder como uma montanha-russa: cheia de altos e baixos. Desde "300", o diretor ganhou o rótulo de visionário, provando que sabe adaptar bem HQs... pelo menos no sentido visual. Quanto ao roteiro e o desenvolvimento do história, são também ótimos, embora tenha parecido muito irregular em certos momentos, resultando em algumas cenas arrastadas e outras meio confusas de tão aceleradas. Mesmo assim, deixando de lado essas pequenas oscilações de ritmo (que não chegam a estragar o prazer de ver o filme) e não levando muito a sério a 'filosofia' dos personagens, dá para se divertir um bocado.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraNão há dúvida de que Lars Von Trier é um cineasta controverso; decerto é um dos diretores favoritos dos indivíduos que se consideram "cult", o que definitivamente não é meu caso. A fotografia de "Melancolia" é deslumbrante, bem como a temática chamativa. Dar uma abordagem dramática/psicológica ao tema 'fim do mundo' ao invés de apelar aos velhos clichês que acompanham esse tipo de filme é algo muito original. Contudo, à exceção da parte inicial, até o final da festa de casamento de Justine e dos momentos finais do filme, realmente arrebatadores, o resto pareceu (opinião totalmente subjetiva) muito arrastado e entediante na tentativa de mostrar - ou melhor, sugerir - uma catástrofe metafórica (o destino de Justine) em sincronia com uma outra, física (a destruição da Terra).
As Viagens de Gulliver
2.6 920É muito óbvio que adaptações de clássicos ficam muito aquém das obras escritas, e isso tende a piorar dependendo do livro e dos responsáveis pela releitura cinematográfica. No caso da versão de Rob Letterman, o resultado final ficou patético: não bastasse atualizar a obra (o que já dilui parte da identidade da mesma), ainda conta com um protagonista que, ainda que tenha certo potencial, não se encaixaria no papel de Gulliver nem sequer numa versão liliputiana. Swift deve estar se revirando no túmulo.
O Corcunda de Notre Dame
3.7 535 Assista AgoraUm dos filmes em desenho animado mais visualmente belos da Disney, com cara de infância... belas canções, ambientação e uma boa adaptação - a nível infantil - da obra de Victor Hugo. É um filme que mescla alegria e melancolia em doses generosas, criando um ar triste e, mesmo assim, encantador.
Orgulho e Preconceito
4.2 2,8K Assista AgoraAs obras clássicas da literatura estão constantemente sendo adaptadas para o cinema, mas o resultado nem sempre é agradável. Um dos erros mais frequentes é a ideia de atualizar a história e suas peculiaridades para novos públicos, ignorando-se intencionalmente os “detalhes” de época, que são, afinal de contas, parte essencial no contexto de tais obras. Felizmente, o diretor Joe Wright (pouco conhecido até a produção deste filme) percebeu a importância crucial dos detalhes históricos na reconstrução cinematográfica de um livro e entregou um dos filmes mais fiéis e dignos da obra original já produzidos.
http://cliquecritique.blogspot.com.br/2013/10/recado-em-breve-uma-nova-resenha-sera.html
Batman: O Cavaleiro das Trevas
4.5 3,8K Assista AgoraÉ desnecessário tecer comentários favoráveis a "The Dark Knight", já que suas qualidades são reconhecidas com relativa unanimidade por público e crítica. Pessoalmente, vejo pouco de "super-herói" na trilogia do Batman dirigida por Nolan: isto não é uma crítica, mas uma observação acerca do rumo e da abordagem definidas pelo diretor para um dos personagens mais queridos das HQs. Quando digo que não vejo muito de super-herói, me refiro à história surpreendentemente verossimilhante e sem furos, sem as velhas sacadas manjadas e previsíveis que os filmes de herói costumam apresentar, com uma fórmula mais ou menos preparada.
Nos 3 filmes de Nolan, com mais destaque neste (que é meu favorito não só da trilogia, mas do próprio gênero "filme de herói"), as decisões tomadas pelos personagens, suas inquietações, medos, inseguranças, enfim, o lado humano - portanto, com defeitos que também vêm à tona - aproximam o que é visto na tela da realidade vivida pelo espectador. Os personagens centrais (Batman e Coringa) não são estereótipos do tipo mocinho justiceiro irrepreensível versus vilão frio e sanguinário; a concepção de suas perspectivas vai muito além disso, o que se pode constatar através do roteiro enxuto e, ainda assim, filosófico à sua maneira.
Bom seria se mais filmes fossem feitos seguindo essa linha: roteiros que humanizam seus personagens e produções que enfatizem mais o desenvolvimento de algo criativo do que o excesso de efeitos especiais milionários em 3D invadindo a tela.
Hannibal: A Origem do Mal
3.6 753Muito se fala do "fiasco" de Ridley Scott com o filme "Hannibal" (algo que eu sempre considerei uma injustiça), mas, particularmente, considero este "Hannibal Rising" o mais fraco da brilhante trajetória do psiquiatra canibal.
A história propriamente, se a considerarmos uma trama isolada, até que funciona bem: bons atores, bom roteiro, boa ambientação (ótima fotografia); o problema aparece quando se tenta ligar este filme à trilogia protagonizada por Anthony Hopkins. Aí, nota-se que a história não apenas é fraca como também é forçada ao sugerir uma conexão direta com os filmes seguintes.
Como um filme sobre vingança, é uma boa distração; porém, como apêndice à trilogia de Hannibal, soa desnecessário e sem nexo suficiente.
A Casa da Colina
2.9 484 Assista AgoraEntre tantos remakes desnecessários (que evidenciam a falta de criatividade para os roteiros do gênero terror atualmente), "A Casa da Colina" é relativamente satisfatório, apresentando uma trama simples e com alguns bons momentos de tensão, acompanhados dos típicos sustos que fazem parte da cartilha do horror teen. Geoffey Rush está com uma ótima atuação de homem excêntrico, o sr. Steven Price (referência a Vincent Price, do original); Famke Janssen, que mais tarde seria mundialmente conhecida como a mutante Jean Grey, também apresenta uma boa performance de início de carreira.
"A Casa da Colina" não é, decerto, um marco do cinema de terror, mas cumpre bem sua função de assustar "à moda antiga", mesmo se distanciando visivelmente do estilo clássico do filme original e enveredando para o caminho do público jovem.
Fahrenheit 451
4.2 419Embora prevaleça mais uma vez a velha ladainha de que "o livro é melhor que o filme", o filme de Truffaut carrega grande parte dos questionamentos da obra de Ray Bradbury e o faz com brilhantismo.
Apresentando um futuro não muito distante onde os livros são proibidos (o título da obra representa a temperatura na qual os livros são queimados), o filme traça paralelos diretos com a realidade atemporal na qual as massas são "dominadas" pela televisão, o meio de comunicação que oferece entretenimento, mas não o conhecimento crítico que apenas os livros podem instigar.
O filme satiriza e critica a manipulação das pessoas pela mídia e a censura política à busca do conhecimento, ainda que em menor grau. Entretanto, acima disso, fica evidente a importância da leitura na formação das pessoas.
Duas cenas memoráveis: o incêndio na casa da senhora que prefere morrer junto com seus livros a abandoná-los e o final "literalmente" belíssimo, no qual vê-se um fio de esperança e liberdade.
Austrália
3.5 1,1K Assista AgoraEsplêndido.
"Austrália" é uma obra grandiosa (literalmente, levando em conta sua duração), um épico que conta não necessariamente uma aventura, mas várias delas, interligadas pelo par romântico Sarah (Kidman) e "Drover" (Jackman): da jornada de tocar o gado para venda através de longínquas terras, enfrentando perigosos inimigos, até o clímax com o ataque japonês em Darwin. Assim, não falta nem a dose de melodrama indispensável nessa obra particularmente, nem a pitada de História, já que a trama se passa durante a Segunda Guerra.
A fotografia natural da Austrália, acentuada virtualmente em alguns trechos com efeitos visuais fantásticos fornece, ao longo do filme, uma experiência belíssima, que remonta aos filmes antigos ao estilo "...E o Vento Levou" - algo notável até nos pôsteres de divulgação. Destaque também para as referências ao clássico "O Mágico de Oz" (1939).
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraUm suspense político excepcional, onde não faltam o realismo na reprodução de problemas atemporais da sociedade (corrupção, censura, autoritarismo) nem a generosa dose de fantasia e inventividade visual da trilogia "MATRIX" (sobretudo a filosofia do primeiro filme), arquitetada tão bem pelos irmãos Wachowski.
"V de Vingança" configura-se como uma daquelas raras adaptações de HQ que deixam uma mensagem universal e atual, não idealizando heróis ou estereotipando vilões, na tentativa de subestimar a inteligência do espectador; bem contrário a isto, o filme de McTeigue é desafiador e sutil ao mesmo tempo, traçando paralelos brilhantes entre sua história e a realidade de ilusória liberdade de expressão em que vivemos.
O Retrato de Dorian Gray
3.9 88 Assista AgoraÉ sempre difícil ver um filme adaptado de uma obra literária (sobretudo quando a obra em questão é o livro favorito do espectador), sem traçar paralelos e fazer as inevitáveis comparações... Esta adaptação de "Dorian Gray" tem méritos bastante significativos, sendo o maior deles, talvez, a fidelidade do roteiro à obra original. Além disso, é magnificamente fotografado, bem montado e cuidadoso nos detalhes, com destaque para o famoso retrato.
Contudo, o filme dilui duas características essenciais do romance de Wilde, o que acaba eclipsando parte de sua identidade: as referências homossexuais do livro foram suprimidas por completo (algo justificável para a época); outro aspecto que deixa a desejar é justamente a interpretação do protagonista, Hurd Hatfield. O ator carece do charme e da mistura gradual de ingenuidade e malícia do personagem e não consegue representar a degradação moral por que Dorian Gray passa no decorrer do romance. Em parte, isso se deve ao próprio roteiro, que, embora fiel, simplificou muito a história. Assim, sem considerar a história, mas apenas a interpretação do personagem, continuo preferindo Ben Barnes no papel.
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
3.9 2,2K Assista AgoraMinha hesitação em ver "Sweeney Todd" era o fato de eu apresentar relutância com o gênero cinematográfico musical. Contudo, grande foi a satisfação de presenciar mais um filme visualmente magistral de Burton. Mesmo não sendo fã do diretor, reconheço nele muitos méritos, que neste filme alcançam proporções notáveis, como na maioria de suas obras.
Depp encarna competentemente o magoado e vingativo barbeiro que retorna a Londres em busca de sangue, arquitetando, para isso, um plano realmente "demoníaco"; Helena Bonham Carter também está num papel satisfatório e, embora um tanto eclipsada por Depp (que realmente rouba a cena), demonstra incrível desenvoltura no seu papel, particularmente nas inúmeras cenas em que está cantando.
O aspecto visual do filme, carregado de um tom soturno e gótico, acrescenta o ar de terror que Burton deseja transmitir; os figurinos e a fotografia são também impecáveis e, nesse aspecto, há que se concordar que o Oscar de Melhor direção de arte foi muito merecido.
"Sweeney Todd" é uma experiência muito interessante; ao final, é bom ver um lado de Tim Burton menos infantil e mais adulto, sombrio... sem abrir mão da veia fantasiosa característica dele.
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraPerverso, cruel, constrangedor, sensível, íntimo... adjetivos um tanto contraditórios, mas que Gaspar Noé sabe inserir com perícia impecável nos diversos contextos do filme "Irreversível", à medida que ele progride (ou, mais necessariamente, regride, se levarmos em conta a estrutura narrativa inversa adotada pelo realizador). A sequência de abertura, com créditos confusos, embaralhados e invertidos já fornece um prenúncio de que "Irreversível" não é um filme comum, organizado de forma tradicional, linear. As cores escuras (preto e vermelho) dos créditos também servem como aviso quanto ao conteúdo de violência e sexo estilizados - embora de forma crua e intencionalmente desagradável.
A vingança alucinante do homem cuja namorada foi brutalmente violentada apresenta-se, na perspectiva genial de Noé, de maneira subjetiva e visceral, notável, por exemplo, na câmera difusa nas sequências iniciais, nos takes rápidos e apressados, no desvario do personagem que sai às cegas em busca de pistas, sem se importar com a lógica ou sequer parar para refletir. Nesses momentos, fica clara a intenção de Noé em fazer com que o espectador se sinta na pele de Marcus. Tudo é representado em tons sombrios, intercalados por sequências visuais chocantes, que têm seu ápice no famigerado estupro no túnel do metrô. O ambiente em si não é sombrio, mas é claustrofóbico e assustador num sentido amplamente psicológico.
Quanto à cena do estupro, esta se desenvolve, ou, antes, se arrasta por minutos que parecem intermináveis, tamanha a aflição e constrangimento conferidos pelo ato.
Monica Bellucci realmente se mostra competente no papel de vítima indefesa, o que, aliado à sua incrível beleza, ajudou-a a ficar marcada na história do cinema por este filme, no qual ela sofre um trauma tão grosseiro, tão ofensivo à dignidade humana que não deixa de ser, de fato, irreversível.
Pecados Ardentes
3.1 48 Assista AgoraUm daqueles filmes sobre os quais é difícil emitir uma opinião direta e imparcial; David Mackenzie constrói um drama complexo, embora tudo seja gradativo, sugestivo e, ainda assim, cru, realista. Com um ritmo bastante lento (o que era essencial para o propósito desenvolvido pela trama, mas que evidentemente não agrada àqueles que buscam um entretenimento ágil), o filme possui roteiro simplista, com diálogos escassos, porém significativos. Assim, não há “desperdícios verbais” e Mackenzie prefere explorar outras linguagens, em especial a visual. O filme também se permite rupturas na própria estrutura narrativa, de modo que segue um roteiro linear intercalado por digressões que servem para intercalar lembranças, memórias ao contexto da história que se desnuda aos poucos, a fim de revelar os detalhes pertinentes a um crime em torno do qual o filme se desenvolve
Falando em desnudar, “Pecados Ardentes” (será que só eu considerei o título nacional execrável?) abusa de cenas de nudez e sexo, quase todas protagonizadas por Ewan McGregor, que aqui interpreta um dos personagens mais estranhos – e não necessariamente agradável – de sua carreira. De fato, particularmente considero Joe (o personagem dele) um sujeito difícil de compreender e de gostar, ainda que pareça raso e esteja o tempo todo transando com diferentes mulheres, às quais não se prende emotivamente. Talvez, com Ella (Tilda Swinton, em uma atuação fria, mas de acordo com a personagem), Joe possua o que de mais próximo existe ao amor; contudo, eles vivem um caso extraconjugal marcado por relações sexuais sem nenhuma emoção, tudo muito mecânico, instintivo.
À medida que o filme avança, conhecemos particularidades acerca da vida sexualmente ativa de Joe e seus segredos ancorados na inércia do personagem, que não possui um nível de remorso suficiente para arcar com as consequências de seus atos desvairados. Essas descobertas não o tornam “querido” pelo espectador, que finalmente compreende o significado, muito adequado, por sinal, do título “Young Adam”; realmente, Joe é um Adão entre muitas Evas.
Beleza Americana
4.1 2,9K Assista AgoraComo definir um filme tão "precisamente perfeito" como "American Beauty"?! Alan Ball, com seu talento incrível em roteirizar mostra o poder que possui para construir histórias densas e delicadas ao mesmo tempo, criando conexões entre elas e resultando em turbulenta trama repleta de significados subentendidos que se desnudam aos poucos. A direção firme de Sam Mendes, responsável por "Revolutionary Road", só aumenta a qualidade e a tenacidade ímpares do filme.
Toda a história (se é que se pode referir-se assim, no singular) segue trilhando caminhos próprios, abrindo espaço para diálogos profundos e situações crivadas de ironia... É mesmo aí nesses pontos que reconhecemos o brilhante roteirista e criador de "Six Feet Under", já antecipando sua forma peculiar de satirizar as relações humanas e evidenciar certos aspectos poéticos da vida (incluindo a própria e paradoxal morte, tão bem trabalhada no seriado referido).
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraParanoia, tensão psicológica e o suspense macabro, ingredientes que tão bem definem Roman Polanski.
Amigo Imaginário
2.5 28Apesar de curto em duração, "Amigo Imaginário" se arrasta muito em algumas partes, fazendo com que o filme pareça mais extenso do que realmente é. Entretanto, o clímax e o final são bem interessantes e compensam a espera, quando a imaginação de Estrella vai de encontro à realidade assoladora e seus "monstros interiores" vêm à tona.
A proposta do filme é boa, (incluindo as referências aos clássicos do horror); só faltou desenvolver melhor.
Rottweiler
1.8 30Definitivamente, nunca curti filmes sobre "animais assassinos": tubarões, crocodilos, piranhas, abelhas, etc... Entretanto, "Rottweiler" foi o único desse estilo que chamou um pouco minha atenção ao inovar com sua versão canina do Exterminador do Futuro.
O roteiro é muito irregular, ruim em vários pontos, se arrastando aqui, forçando ali... e assim vai, entre trancos e barrancos.
Porém, nos momentos em que "decide" assustar, o filme consegue, com cenas violentas muito tensas e sanguinárias, num clima de suspense e horror gritantes.
Se vale a pena? Depende do gosto do espectador: se quer um filme cheio de perseguição, sangue, sexo e tensão, "Rottweiler" é uma boa opção... mas, se deseja um entretenimento mais inteligente e menos apelativo, é melhor ficar longe deste filme de Yuzna.
Fome Animal
3.9 877Difícil encontrar um filme que sintetize em si tudo o que foi construído aos poucos no decorrer de gerações - neste caso, com o subgênero de horror "trash"; Peter Jackson, no entanto, conseguiu tal façanha de maneira no mínimo "exemplar" em BRAINDEAD, o filme que não apenas resume o que de melhor (ou pior, dependendo da perspectiva) havia no gênero, mas também eleva, por assim dizer, o horror explícito a um nível ainda não visto no cinema.
Reunindo comédia escrachada, horror escatológico e um excelente timing, o filme é uma viagem alucinante, daquelas sem controle, meio sem nexo, de revirar o estômago com tanta nojeira, embora tudo recheado com um humor negro raramente observado na época dentro de produções desse estilo.
Os Inocentes
4.1 396Mais um clássico do tempo em que se "sabia" fazer filmes de terror, sem apelações ou escorando-se em efeitos especiais... Um filme que evidencia os terrores mais sombrios com uma trama realmente assustadora, embora bastante simples. A mansão mal-assombrada, por si só, já causa arrepios, mas as atuações de Deborah Kerr e das duas crianças são um show à parte.
Impossível ficar indiferente àquela melodia cantarolada por Flora ou pelo olhar aparentemente meigo de Miles. Quando se percebe, então, que a "inocência" das crianças é apenas fachada, o filme ganha contornos verdadeiramente macabros - tudo de forma implícita, dosada no terror psicológico.
Mais que recomendado!