A primeira telesserie da Max, plataforma de streaming da HBO, estreou no dia 27 de janeiro, após muitos adiamentos e incertezas. As gravações dos 40 capítulos duraram por volta de sete meses e mesmo depois da finalização dos trabalhos não havia uma data certa para sua exibição. Chegou a ser anunciada para 2024, mas a produtora decidiu deixar para 2025. Na sexta-feira (21/03), foi exibido o último capítulo, após o esquema de 5 capítulos semanais disponibilizados toda segunda-feira --- estratégia quase igual a do Globoplay. Com criação e roteiro de Raphael Montes e direção geral de Maria de Médicis, a produção marca a aposta da Warner Bros.Discovery no gênero, sendo a primeira novela original nacional da plataforma na América Latina. "Beleza Fatal" traz no enredo uma história clássica de busca por justiça que se passa no agitado mundo da beleza e dos tratamentos estéticos.
Sofia (Camila Queiroz) viu sua mãe ser presa injustamente por causa de sua tia Lola (Camila Pitanga). Acolhida pela amorosa família Paixão, liderada por Elvira (Giovanna Antonelli), que está sofrendo porque a filha Rebeca (Fernanda Marques) foi parar em um hospital e morreu, após uma cirurgia plástica mal sucedida, se unem na dor e indignação contra os culpados pelas suas tragédias.
Com a ajuda da família Paixão, Sofia quer destruir Lola e todos aqueles que lhe fizeram mal. Em sua obsessão, ela reencontra um amor de infância, questiona os próprios passos e descobre que fazer justiça custa um preço muito alto.
A produção lembra muito o fenômeno "Avenida Brasil", de João Emanuel Carneiro, exibido na Globo em 2012, que por sua vez também é bastante parecido com a série americana "Revenge". E realmente há inúmeras similaridades ao longo da história, ainda que a saga de vingança seja um dos maiores clichês da teledramaturgia. Tanto que, assim como na obra de sucesso protagonizada por Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves), apenas as crianças crescem com a passagem de tempo, já os demais personagens continuam exatamente iguais, sem qualquer caracterização de envelhecimento. E a mocinha também se aproxima da vilã e cria um falso vínculo de amizade e confiança para poder traí-la na melhor oportunidade. A estruturação é igual até mesmo nos tons acima de vários perfis da história, que algumas vezes mergulham na caricatura. Mas não chega a ser um demérito porque o autor conduziu seu roteiro com competência através de ótimos ganchos e conflitos deliciosos.
O grande atrativo da trama é justamente a vilã. Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque. Ao lado de Benjamin Argento, ela projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou. A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos.
A novela coloca logo no início o foco no embate entre Sofia e Lola, cujas vidas se cruzam em um turbilhão de injustiças e ambições conflitantes. O autor equilibra bem o protagonismo entre as duas. Até a metade da novela é de Lola o maior destaque e Camila Pitanga rouba todas as cenas. Depois começa uma ascensão de Sofia e quanto mais se aproxima de sua algoz, mais se parece com ela e tem seu caráter moldado ao longo de seu plano de vingança. É através da mudança de arco dramático da mocinha que Camila Queiroz sobressai e mostra uma faceta até então desconhecida do público: o de vilã. Já Elvira nunca consegue o tamanho do protagonismo que as outras duas têm, apesar de estar presente na abertura e dividir o espaço na logo da obra. Ainda assim, Giovanna Antonelli brilha e domina todas as aparições da personagem, que é carregada no drama e no humor. A intérprete se sai bem em ambas situações e forma uma dupla harmônica com Augusto Madeira. Aliás, o Lino é o melhor coadjuvante da trama. O ator é uma figura quase onipresente em filmes, séries e folhetins, mas ganhou seu melhor papel até hoje em "Beleza Fatal".
Há também uma gama de bons conflitos nos demais núcleos, que se conectam com o central e em nenhum momento parecem avulsos ou utilizados apenas para preencher o tempo dos capítulos. Toda a engenharia envolvendo a família Argento desperta interesse desde o início e ao longo do tempo os segredos obscuros daquelas pessoas vão sendo expostos através de ótimas viradas, com direito a ganchos de impacto. A personagem que mais conquistou o público foi Gisela (Júlia Stockler), uma mulher que vivia uma relação abusiva e tinha transtorno de imagem por culpa do marido, Rog. A sua volta por cima é de lavar a alma, com direito a uma vingança satisfatória e um final feliz. O patriarca Átila também é outra figura que proporciona excelentes cenas ao grande Herson Capri, há tempos afastado das novelas. O vilão que transbordou transfobia e encobriu inúmeros crimes do filho, Benjamin, sempre sofreu com a culpa pela morte da filha e era um homossexual enrustido. Para culminar, ainda precisou lidar com a volta da esposa, Ana (Monica Torres), que se fingiu de morta por anos. Vale destacar ainda a ousadia do autor em colocar um clima de flerte constante entre Benjamin e Rog, a ponto da última cena juntos ter resultado em um beijo. Algo impossível de ser visto na atual gestão conservadora da Globo. Aliás, a própria transa de Sofia e Lola foi um dos momentos mais corajosos da narrativa por se tratar de um quase incesto lésbico.
O único conflito um pouco repetitivo foi o romance de Tomás e Andrea (Kiara Felippe). O plot do seu passado com a sogra também se mostrou um ponto fora da curva. Soou gratuito e apenas para provocar uma surpresa a mais na reta final. Outro fator que precisa ser mencionado é a quantidade de furos no roteiro. O telespectador precisou voar muito para engolir diversas situações. A principal delas foi a abertura de portas sem a verificação no chamado 'olho mágico'. É verdade que o recurso é amplamente utilizado na teledramaturgia porque há a necessidade do fator surpresa e muitos autores até brincam no texto quando citam que o 'porteiro nunca avisa no interfone' ou algo do tipo. Porém, houve um excesso na trama. Praticamente em todos os capítulos tinha alguma cena assim. E o que foi a motivação de Cléo (Vanessa Giácomo) para ter assumido o crime cometido por Lola? Ela achou mais vantajoso ir para a cadeia e deixar a filha órfã, mas estudando em um colégio particular pago pela Lola? Não era bem melhor ter ficado livre e ao lado da menina, ainda que a deixasse em uma escola pública? Outra situação foi o conflito de interesses de Gabriel. O filho de Lola jamais poderia investigar os crimes da mãe, da Sofia ou da própria família por razões óbvias. Se ao menos tivesse feito tudo de forma ilegal, dava para relevar. Mas o rapaz fazia seu trabalho usando toda a estrutura da Polícia Civil porque esbanjava integridade. O mais absurdo foi quando o policial conseguiu tirar a Sofia da cadeia com um telefonema. Não dá para esquecer também da sequência em que Elvira roubou toda a fortuna de Lola do banco. A cena foi divertida, mas absurda. No entanto, todas essas falhas são amenizadas diante da boa condução do autor, que criou personagens atrativos e se preocupou em preencher todos os capítulos com bons embates, viradas bem amarradas e ganchos que mantiveram o interesse do telespectador. Tanto que dava para maratonar a novela com facilidade.
O último capítulo deixou algumas pontas soltas, vide o desfecho a respeito da fortuna no exterior deixada por Átila, com direito a uma espécie de corrida de golpistas atrás do tesouro. Com quem Ramona (Patricia Gasppar) falava ao telefone? Por que Nara (Georgette Fadel) apareceu do nada no mesmo local? Ana era mãe de Benjamin e não herdou parte da clínica? Marcelo ia para Roma por pura coincidência? Enfim, ficou em aberto. Os demais finais fecharam seus respectivos ciclos. Elvira e Lino finalmente tiveram paz com a morte dos responsáveis pela perda de Rebeca (Fernanda Marques) e Carol (Manu Morelli) herdou a clínica Argento em memória ao legado de sua falecida mãe. Tomás se casou com Andrea e a cena emocionou. Já o clássico final feliz de folhetim não aconteceu com a mocinha, o que foi mais um acerto do autor. Sofia se 'fantasiou' de Lola e matou Benjamin para que a vilã fosse julgada e condenada por um crime que não cometeu, exatamente como aconteceu com sua mãe, Cléo. A melhor punição possível. Porém, Sofia não ficou com Gabriel e nem com a sua família. Ficou sozinha e infeliz. O confronto final das personagens foi a melhor cena de Camila Queiroz e Camila Pitanga. A mocinha debochou da vilã, que devolveu a ironia a respeito da solidão que irá persegui-las até o fim. Afinal, uma estará para sempre ligada a outra. A última sequência da novela também merece menção: Sofia vendo uma menina vendendo quentinhas ao lado do presídio e logo depois se deparando com a sua figura na infância, representada por Melissa Fernandes. Ela viu a sua inocência perdida.
"Beleza Fatal" foi uma telesserie de 40 capítulos. Após o sucesso conquistado através de muitos livros lançados e da série "Bom Dia, Verônica", o autor provou que também sabe fazer novela. É importante ressaltar que produção teve supervisão de Silvio de Abreu, o que fez toda diferença diante de sua experiência como novelista em mais de 40 anos de Globo. A direção de Maria de Médicis (outra profissional experiente que trabalhou por muitos anos na líder) foi mais um êxito da trama, que ainda teve a supervisão de Mariano Cesar, Monica Albuquerque e Anouk Aaron por parte da Warner Bros.Discovery.
a vingança quando te consome só leva a isso mesmo, solidão, rejeição...,custou tudo oq ela tinha,ficou só e sem nada
Final como deveria ser, Lola foi incriminada por um assassinato que não fez ok,mais de alguma forma paga pelo assassinato do primeiro marido e deixar a prima na cadeia por um crime que não cometeu,Sofia ficou sozinha também foi merecido,porque perdeu a noção da vingança e ficou na obsessão, na minha opinião no momento que ela foi para cama com Benjamin e tbm com Lola ela passou do limite não havia necessidade, não deu valor aos pais adotivos ao amor de infância então era o mínimo ficar só.
Beleza Fatal não é nem uma obra do realismo fantástico nem é canonicamente alegórica, mas ela foi aceita por grande parte do público como se fosse. A distensão de realismo a que a novela se propôs foi proporcionalmente equivalente ao desejo dos espectadores de se permitirem esse “voo”. E para conseguir esse voto de confiança, Raphael e Maria atacaram com elementos eficazes, como uma trama de vingança entre mulheres (que ajuda a construir expectativa), uma vilã cômica, núcleos paralelos interconectados e momentos que poderiam viralizar pela internet.
Desde seu primeiro capítulo, Beleza Fatal cometeu erros grosseiros de condução. Mas, quando a receita do “ela vai voltar para se vingar” se ajusta corretamente entre o texto e a direção, o público se compromete a perdoar. Quando esse processo é ajudado por personagens limítrofes dizendo barbaridades e injustiças sendo cometidas com a promessa da revanche, o acerto é quase uma certeza. Quando Raphael Montes decidiu-se por uma Lola em descontrole; uma Elvira carismática e uma Sofia justiceira; ele apostou nesse “pacto”.
Com um material na mão que era sempre excessivo, Camila Pitanga brincou como se a novela fosse um playground. Dosou corretamente com as dores de Lola, mas quando pesou a mão nunca foi por muito tempo. Giovana Antonelli não foi sempre bem-sucedida em imprimir uma suburbana, mas a parceria com Augusto Madeira funcionou para além do esperado. Ele foi a doçura que a novela precisava. E liderando tudo isso, Camila Queiroz sustentou Sofia com maturidade; e fez uma transição segura entre a mulher que busca justiça e a mulher que viciou-se na adrenalina da farsa.
Em volta, a novela acertou em sempre fazer personagens se cruzarem e se conectarem. Foi uma ótima oportunidade para Herson Capri sair do lugar comum; para Caio Blat e Marcelo Serrado se divertirem com um homoerotismo que orgulharia Ryan Murphy; para Julia Stockler construir uma Gisela surpreendente e para Manu Morelli sustentar uma Carol que era a única verdadeira “mocinha” da história. A trama de Murilo Rosa carecia de certo apelo emocional e tanto Enzo Ramoní quanto Breno Ferreira talvez precisassem de uma direção mais severa. Enzo, principalmente, não tinha maturidade ainda para sustentar o peso de Gabriel. Mesmo assim, nada foi suficientemente problemático para comprometer o andamento da novela.
O trabalho de Raphael Montes foi carimbado por uma infinidade de influências que todos os fãs de novela conhecem bem. Ali havia a trajetória de vingança feminina simbiótica típica de João Emanuel Carneiro; a família trambiqueira típica de Sílvio de Abreu; as questões sociais típicas de Gloria Perez; o exagero vilanesco visual e textual típico de Aguinaldo Silva e as personalidades inescrupulosas da elite carioca, típicas de Gilberto Braga. E tudo isso com a assinatura do próprio Raphael, mais conectado à linguagem das redes que todos eles; e aproveitando a liberdade do streaming para fazer o que a TV aberta jamais faria.
Maria de Medicis reconheceu essa receita e tirou tudo que pôde dela. É verdade que a novela penou um pouco com baixo orçamento (ela saiu pouco do estúdio e tinha dificuldades de representar corretamente o tamanho da Lolaland). E com o último capítulo, avançou tão rápido que acabou sendo menos convincente que em qualquer outro de seu bloco de capítulos. Os capítulos, aliás, provaram que uma quantidade menor é bem-vinda. Porém, talvez 10 a mais tivessem ajudado a novela a fluir melhor na reta final. 100 é muito, 40 é pouco. 60 talvez seja o número mágico.
E sim, a trama teve dezenas de “furos” no roteiro. Mas, não; eles não seriam “criticados se estivessem numa novela do Walcyr”, porque eles já estiveram e foram perdoados da mesma maneira (A Dona do Pedaço e O Outro Lado do Paraíso foram gigantes). A questão é que talvez Beleza Fatal dialogue um pouco melhor com as exigências do internauta, que se sente menos, dessa vez, o voyer de uma linguagem feita para o “sofá”. Se isso representa sucesso, não há como dizer com toda certeza. Há, claramente, uma quentura diferente, uma inquietação e uma excitação suficientemente grandes para provocar os esperados posts de “ah como esse povo é emocionado”.
Mais do que tentar desvendar o sucesso de Beleza Fatal, talvez devêssemos só abraçar a dúvida como uma evidente demonstração de êxito. Sim, porque se há uma coisa sobre a qual não se tem dúvida nenhuma, é de que o fracasso é sempre indiscutível. PS: O triunfo do invisível.
O momento de estrear Beleza Fatal na Max não poderia ter sido mais propício. A Rede Globo, grande produtora de novelas do país, tem enfrentado momentos difíceis com o gênero desde que a pandemia acabou. Que fique claro que essa suposta “dificuldade” é muito mais em termos de alcance popular do que mercadologicamente falando. As novelas da casa ainda rendem bons contratos publicitários, uma audiência estável (em quase todos os casos); mas, falham num setor que pode ser preocupante a longo prazo: crítica e repercussão.
Vejam só… os títulos do pós-pandemia dos três horários principais dizem bastante sobre o atual momento da empresa.
- Às 18 as obras foram:
Nos Tempos do Imperador (um fracasso retumbante e traumático)
Além da Ilusão (respeitada pela crítica e com um público pequeno, mas fiel)
Mar do Sertão (não causou nenhum barulho, mas era correta)
Amor Perfeito (outro título esquecível)
Elas Por Elas (mais um fracasso de proporções traumáticas)
No Rancho Fundo (uma sequência inexplicável, mesmo que digna)
- No horário das 19 as obras foram:
Quanto Mais Vida Melhor (um acerto que passou despercebido)
Cara e Coragem (completamente esquecível)
Vai na Fé (essa sim, um sucesso de público e crítica)
Fuzuê (um desastre em todas as esferas)
Família é Tudo (nada nem minimante marcante)
- No horário das 21 as obras foram:
Um Lugar ao Sol (uma promessa que se diluiu no meio do caminho)
Pantanal (uma acertada decisão de remake, que funcionou bastante)
Travessia (uma novela inexplicavelmente ruim, quase um delírio)
Terra e Paixão (sustentou-se em um ou dois núcleos populares)
Renascer (uma novela bem-feita, mas inexpressiva)
Atualmente, os horários das 18 e 19 vivem momentos de fôlego, com Garota do Momento e Volta por Cima. Contudo, o horário das 21 amarga aquela que talvez seja a pior novela de sua história, a tenebrosa Mania de Você. Além disso, em retrospectiva, não há muitas cenas ou personagens marcantes saídos dessa lista. Talvez a Kate de Vai Na Fé e o casal Kelmiro de Terra e Paixão resistam ao tempo; mas, é seguro dizer que dentro de uma pequena margem de erro, a teledramaturgia enfrenta mais obstáculos na hora de ser marcar no imaginário popular.
Entre remakes e fracassos, ficou a sensação de que o departamento enfrenta uma “crise”. Geralmente, a ideia que as pessoas têm de uma boa novela se divide em duas vertentes: a primeira considera que precisamos de mais realismo, textos apurados e atuações dramáticas, mas sóbrias; tal qual se podia encontrar em Manoel Carlos no passado e em Licia Manzo e Rosane Svartman no presente. A outra já considera que o que precisamos é do exagero visual e do delírio cômico de Aguinaldo Silva, Silvio de Abreu e Walcyr Carrasco. Mas, é geralmente assim: ou é bom porque soa intelectual ou é bom porque é mais alegoria.
Uma olhada rápida em Beleza Fatal já adianta que Raphael Montes e Maria de Medicis escolheram a alegoria. As pessoas conhecem essa expressão do carnaval, em que fantasias e carros expressam a verdade por uma ótica lúdica, não-precisa, que ainda desperta emoções, mas que não vem do literal. Na dramaturgia, mesmo que enraizada em bosques diferentes, a alegoria é parte do DNA do realismo fantástico ou mesmo da simples “licença poética”. Não é para ser “de verdade”, mas o que provoca é absolutamente verdadeiro.
Curiosidades sobre Scars of Beauty (Cicatrizes da Beleza):
A primeira novela brasileira a se tornar um sucesso estrondoso no streaming.
A produção foi temporariamente suspensa em setembro de 2022, devido à fusão da Warner Bros. e Discovery +. No entanto, o criador Raphael Montes continuou escrevendo todos os episódios e já havia entregue a série completa quando ela finalmente recebeu sinal verde. Muitos atores saíram do elenco durante esse hiato, como Daniel de Oliveira (substituído por Caio Blat) e Alice Wegmann.
O criador Raphael Montes supostamente teve a ideia para a história quando chegou em casa e viu seu marido usando uma máscara facial de LED. Assim, ele decidiu criar uma história sobre a indústria da beleza, particularmente o mundo da cirurgia plástica.
Giovanna Antonelli substituiu Karine Teles no papel de Elvira.
O criador Raphael Montes é um grande fã de Silvio de Abreu, ex-supervisor de telenovelas do Max e famoso criador de sucessos da TV brasileira como Rainha da Sucata (1990), The Next Victim (1995) e Torre de Babel (1998).
A repercussão desta série causou mudanças na exibição de Vale Tudo (2025), da Globo. A Globo decidiu disponibilizar os seis primeiros episódios da série gratuitamente em seu próprio streaming, o Globoplay.
‘Encontro com Patrícia Poeta’ ruma ao abismo dos programas policiais!
No programa 'Encontro', a apresentadora Patrícia Poeta foi duramente criticada por ter revelado, ao vivo, detalhes de um assassinato para o pai da vítima.
Há um buraco atualmente na grade da TV Globo pela manhã. Isso pode ter começado em 2022, com a decisão de inversão de dois programas matutinos de perfil mais destinado a mulheres que estão em casa. O Encontro (outrora Encontro com Fátima Bernardes, que passou a ser apresentado por Patrícia Poeta e Manoel Soares em 2022 e, depois, só por Patrícia) foi invertido em seu horário com o Mais Você, programa que Ana Maria Braga apresenta desde 1999.
Na época, a alteração foi justificada assim pela emissora: “a mudança do local de transmissão do programa para a capital paulista vai possibilitar maior sinergia com a produção do Mais Você, em busca de uma pauta matinal mais integrada. ‘Com isso, estamos reforçando a complementaridade dessas produções, cujas equipes poderão trabalhar ainda mais entrosadas'”, destacou o diretor de gênero de variedades, Mariano Boni, em matéria do G1.
Ao longo dos últimos três anos decorridos desde então, pode-se dizer que a atração criada para Fátima Bernardes quando ela resolveu migrar para o entretenimento se desconfigurou tanto que acabou virando uma espécie de Frankenstein em que as partes não se conectam. Quem acompanha a pauta do Encontro, vai notar que os assuntos policiais têm se tornado cada vez mais recorrentes, e Patrícia Poeta é com constância colocada para adentrar em uma editoria que, historicamente, nunca foi de interesse da Globo.
Só que há várias nuances nessa escolha de programação que simplesmente não se encaixam. Para começar, o Encontro ainda mantém o seu cenário leve de entrevista em sofá, enquadramento normalmente explorado pelos matutinos dedicados às donas de casa. Há ainda fofocas de celebridades, cobertura de BBB, e tudo isso é escalonado com enorme facilidade com a exploração de casos policiais que, outrora, pareciam só aparecer nos Brasil Urgente e Balanço Geral mais típicos de outras emissoras.
Nada faz sentido ali, mas o mais complicado é que o programa parece disposto a caminhar para destinos ainda piores.
Patrícia Poeta e o “chá revelação de assassinato”
Caso pode ajudar a explicitar os atuais problemas do ‘Encontro’. Imagem: Reprodução. Na semana passada, um episódio envolvendo Patrícia Poeta e seu programa gerou uma repercussão nacional extremamente negativa. O Encontro embarcou (é claro) na cobertura do assassinato da adolescente Vitória, ocorrido na cidade de Cajamar, no interior de São Paulo. Trata-se de uma tragédia horrorosa repleta de elementos que a tornam um “produto” perfeito para o sensacionalismo: uma morte de uma jovem com requintes de crueldade e várias peças faltando, fazendo com o que o jornalismo tenha pistas novas todos os dias para continuar explorando.
O programa de Patrícia Poeta conseguiu uma entrevista ao vivo na sexta-feira, dia 7 de março, com Carlos Alberto Souza, o pai de Vitória. Um repórter esteve na casa do homem enquanto a apresentadora, no estúdio, fazia interlocuções com o link ao vivo. Em certo momento, ela diz: “acabei de receber a notícia aqui, seu Carlos, que a Polícia Civil disse agora há pouco ter esclarecido o assassinato da sua filha. Foi um ‘crime passional’, segundo a polícia o assassino é um homem chamado Daniel, que tinha um relacionamento amoroso com o ex-namorado da Vitória”. Em seguida, confronta-o para saber se ele conhece esse acusado e o que acha dessa informação.
A entrevista do Encontro foi severamente criticada nas redes sociais, seja por outros jornalistas quanto pelos usuários que dão seus pitacos de forma aleatória. Houve quem a categorizasse, de maneira debochada, de “chá revelação de assassinato”, uma vez que a apresentadora fez que o pai recebesse informações (e o mais importante aqui: reagisse a elas) que deveriam ter vindo até ele pela polícia, em outro contexto.
Matérias que circularam na imprensa afirmam que todo o episódio também traz à tona atritos nos bastidores entre a apresentadora e a direção do programa sobre a decisão de agir de tal maneira. Também aventou-se que a TV Globo orientou Patrícia Poeta a não pedir desculpas à família, de modo a assumir publicamente o erro, optando por tentar fazer a polêmica rumar ao esquecimento.
São muitas questões aqui que iriam além de apenas uma análise. Mas penso que há pelo menos duas que poderiam ser destacadas. A primeira, conforme já explorei, diz respeito à dificuldade do Encontro de achar o seu caminho, transitando de maneira oscilante entre o entretenimento familiar e o policialesco de mais baixa estirpe. É difícil de entender qual seria o interesse da Globo em investir nisso (além da resposta mais óbvia, que são melhores índices de audiência).
Mas chamo também a atenção para algo menos óbvio, que é esse fetiche televisivo pelo ao vivo – o que, ao fim das contas, é o elemento mais essencial desse veículo: a possibilidade de transmitir um fato no exato momento que ele acontece no mundo.
Mas não há fato jornalístico aqui, mas sim apenas a sede de explorar ao máximo que for possível a emoção de um pai ao ser assoberbado pela pior das tragédias, a perda de um filho. Por que a Globo, em pleno 2025, resolve utilizar um link ao vivo para uma entrevista desse tipo?
A marca da maior emissora do país não seria justamente a de jamais utilizar estratégias sensacionalistas desta qualidade, como é feito com tanta frequência pelas emissoras de menor reputação? São perguntas que merecem uma avaliação da própria empresa. Até que isso ocorra, o Encontro poderia talvez ser chamado de Encontro Urgente ou algo nessa linha.
A edição especial de "Cabocla" chega ao fim nesta sexta-feira, dia 14. O remake exibido em 2004 foi a terceira adaptação da obra de Benedito Ruy Barbosa, após a versão de 1959 da TV Rio e a de 1979 da própria Globo. A reprise ocupou a faixa 'pós-Jornal Hoje', preenchida anteriormente pelo extinto "Vídeo Show", que até hoje a emissora não nomeou. Então segue mantendo a classificação de 'edição especial', sendo que de especial não tem nada, já que tem a mesma duração das reexibições do "Vale a Pena Ver de Novo".
"Cabocla" é inspirada no romance homônimo de Ribeiro Couto – escritor da primeira fase do Modernismo - e se passa no fictício município rural de Vila da Mata, em 1918. De um lado da história, a disputa por terras entre os coronéis Boanerges e Justino e, do outro, a paixão de Zuca, personagem que revelou a atriz Vanessa Giácomo na TV, pelo "almofadinha" Luís Jerônimo, primo de Boanerges. No começo da trama, a jovem está noiva do peão Tobias - vivido por Malvino Salvador, também em sua estreia na TV - mas acaba se encantando pelo bon-vivant depois de o rapaz passar uma noite no hotel de seus pais, Zé da Estação e Sinhá Bina. Luís, filho do exportador de açúcar Joaquim e um assíduo frequentador de festas no Rio de Janeiro, é aconselhado pelo doutor Edmundo a se mudar para o Interior ao ser diagnosticado com tuberculose. As paisagens arejadas e frescas da simples Vila da Mata parecem ser o destino ideal ao rapaz. Basta uma noite no hotel para Luís se encantar com a tímida Zuca e mudar radicalmente seu comportamento. Mas, para viver esse grande amor, eles enfrentarão muita resistência por conta das diferenças sociais e do fato de Zuca ser noiva do teimoso e encrenqueiro Tobias.
A outra trama central da novela trata da rivalidade entre os dois chefes políticos da região de Vila da Mata, os coronéis Boanerges e Justino. A disputa entre ambos pelo poder da cidade é clara, bem como a impossibilidade de entendimento. O tom político é uma marca forte na trama, que também enfatiza a questão agrária. Logo nas primeiras cenas, o vigário, de olho em dinheiro para sua igreja, comanda uma aposta de corrida de cavalos dos dois fazendeiros – representados por seus peões Tobias e Tomé – que ilustra bem essa oposição.
O coronel Boanerges é um político muito estimado pela população local. Ele e a mulher, Emerenciana (Patrícia Pillar), são os padrinhos de Zuca. Os dois têm uma filha, Belinha (Regiane Alves), que está de volta à casa dos pais após estudar na capital. O coronel Justino também é um forte líder político na região. Viúvo, ele vive com seus dois filhos, Neco (Danton Mello) e Mariquinha (Carolina Kasting), que não concordam com a postura do pai e com a forma como cuida de seus interesses. Enquanto Boanerges e Justino se enfrentam fortemente na política, seus herdeiros Belinha e Neco se apaixonam. Eles se conhecem voltando do Rio de Janeiro e, sem imaginar de quem são filhos, encantam-se um pelo outro. O amor do casal desperta uma guerra entre as famílias rivais.
Além da trama envolvente, com diversos personagens que se destacam, "Cabocla" também ficou marcada pela grandiosidade da produção, fotografia, figurinos, arte e cenografia. As primeiras gravações aconteceram em uma fazenda em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, e passaram por Visconde de Mauá, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais; Bananal, no interior de São Paulo; e por Campinas, onde a estação de trem Carlos Gomes foi a principal locação. Duas cidades cenográficas, de dez mil metros quadrados no total, foram construídas nos Estúdios Globo para as gravações. A cidade de Vila da Mata, rústica e bucólica, com ruas de terra e muito verde, foi inspirada em locações de Minas Gerais. O município vizinho, Pau d'Alho, um povoado mais antigo e menos desenvolvido, também foi colocado de pé pela equipe da obra. O espaço contava com uma estação de trem e um hotel, com interior decorado. O trabalho artesanal deu a tônica do figurino, quase todo confeccionado para a novela.
A trilha sonora também foi destaque, trazendo músicas sertanejas e modas de viola, representadas por nomes como Rio Negro e Solimões, Rick e Renner, Cleiton e Camargo, Roberta Miranda e a dupla Zezé di Camargo e Luciano, cuja canção 'Nosso Amor é Ouro' virou um dos temas românticos da trama. A segunda versão de "Cabocla" ganhou o Prêmio Qualidade Brasil SP 2004 de melhor novela do ano, e Benedito Ruy Barbosa, Edmara Barbosa e Edilene Barbosa, o de melhores autores de novelas. Tony Ramos foi eleito melhor ator; Danton Mello, o melhor ator coadjuvante; e Jussara Freire, consagrada como a melhor atriz coadjuvante. Vanessa Giácomo e Malvino Salvador foram eleitos atriz e ator revelação; e Ricardo Waddington, o melhor diretor. Tony Ramos também foi agraciado com o troféu de melhor ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
A novela realmente fez jus ao sucesso. Um remake bem adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, que auxiliaram Benedito, que manteve quase tudo idêntico ao original, como é de seu costume. E também como é uma tradição em suas obras não há grandes acontecimentos ao longo dos meses e nem viradas, mas o autor sabe contar uma boa história de fazendeiros rivais. Tony Ramos e Mauro Mendonça foram escalações certeiras, assim como a então revelação Vanessa Giácomo na pele da tímida Zuca. Aliás, o elenco todo é um primor, vide Vera Holz, Sebastião Vasconcelos, Maria Flor, Umberto Magnani, Elena Toledo, Mareliz Rodrigues, Claudio Galvan, Rogério Falabella, Cosme dos Santos, Aisha Jambo, Roberta Rodrigues, entre outros. A trama tem a cara da faixa das seis e é aquele folhetim que dá vontade de assistir tomando um café e comendo um bolo. A abertura também merece elogios pela animação muito bem realizada e contemplada ao som de "Madrigal", de Lazza, Schiavon & Deluque.
"Cabocla" ainda teve uma missão complicada em 2004: substituir o fenômeno "Chocolate com Pimenta", um dos maiores sucessos de Walcyr Carrasco no horário. A produção tem texto de Benedito Ruy Barbosa, adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, com direção de núcleo de Ricardo Waddington e direção geral de José Luís Villamarim e Rogério Gomes. A reprise apresentou bons índices na faixa e quem viu novamente não se arrependeu.
O remake da melhor novela da história da teledramaturgia vem cercado de polêmicas, muito por conta das declarações de Manuela Dias, que vai adaptar a obra icônica de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brassères. A escalação do elenco também foi alvo de muitos questionamentos e já era previsível esse tipo de consequência. Mexer em um folhetim tão aclamado é uma tarefa muito complicada, ainda mais diante dos fracassos dos remakes recentes da Globo, vide "Elas por Elas" e "Renascer". Mas Amauri Soares quis outro remake para 'comemorar' os 60 anos da emissora e colocou Manuela como responsável pela adaptação. Taís Araújo como Raquel, Bella Campos como Maria de Fátima, Debora Bloch como Odete Roitman e Cauã Reymond como César são alguns atores que estarão na trama. O imenso fiasco de "Mania de Você" acaba sendo uma boa notícia para a escritora, afinal, não terá pressão para segurar uma audiência elevada e qualquer índice acima será comemorado. E dar menos Ibope que a produção atual é quase impossível. Resta aguardar.
Mais uma novela da HBO Max. Mas, ao contrário de Beleza Fatal", a trama é um remake da obra original exibida na TV Manchete em 1986 e vem enfrentando vários problemas nos bastidores. Muitos atores reclamaram das condições precárias de trabalho e de métodos controversos do diretor Hugo de Souza, principalmente Grazi e Bianca Bin. Protagonizada por Grazi Massafera, a trama tem o argumento de Renata Jhin (filha de Elizabeth Jhin) e adaptação de António Barrera e Daniel Berlinsky. Em Araxá, no ano de 1815, Beja (Grazi) é criada pelo avô José Alves (Roberto Bomtempo), ouvidor do imperador, deixando para trás seu grande amor, Antônio (David Jr), que, ao voltar ao Brasil, acredita ter sido abandonado e acaba se casando com Angélica (Bianca Bin), pressionado pela mãe diabólica, Ceci (Deborah Evelyn). Após alguns anos, José é promovido à Corte e liberta Beja, que está milionária devido aos vários amantes que teve em troca de joias e terras. Ela então retorna a Araxá e, desiludida diante do casamento de Antônio, funda um bordel. Já Antônio fica obcecado em tê-la de volta, especialmente quando Beja se envolve com João (André Luiz Miranda), até então prometido para sua irmã, Maria (Indira Nascimento). Rejeitado, Antônio manda chicotear Beja até quase a morte e, para se vingar, Beja manda matá-lo e deixa Araxá. A novela também sofreu vários adiamentos, mas até agora ainda não ganhou data de estreia. Pode ser em 2025 ou não.
Primeira novela original da Max em parceria com o estúdio Coração da Selva.
Criada e escrita por Raphael Montes, a trama conta a história de Sofia, uma jovem que vê a mãe ser presa e morta injustamente por culpa de sua tia, Lola (Camila Pitanga), uma mulher ambiciosa e sem escrúpulos. Sem rumo, a garota é acolhida pela família Paixão, que também se encontra no sofrimento porque a filha Rebeca (Fernanda Marques) parou no hospital por conta de uma cirurgia mal-sucedida. O responsável pela operação foi Benjamin Argento, um cirurgião plástico herdeiro de um império da beleza. Sofia e sua nova família se unem na indignação e na dor contra os culpados por suas tragédias. Anos se passam e Sofia, agora vivida por Camila Queiroz, traça seu plano de vingança. Com a ajuda da família, Sofia quer destruir Lola e todos que lhe fizeram mal. Durante o percurso encontra seu amor de infância, Gabriel, filho de Lola, cujo sonho é ser policial que nem o pai.
Já dizia Seu Madruga "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena"!...
Camila Pitanga fez de Lola o maior acerto de "Beleza Fatal"
A estreia de "Beleza Fatal" (no dia 27 de janeiro, na Max) mostrou que Raphael Montes, além de um ótimo escritor de livros e séries, também sabe fazer uma novela. O primeiro folhetim da plataforma de streaming da HBO, dirigido por Mária de Médicis, vem despertando atenção através de bons ganchos e muitos clichês típicos do gênero. E o maior acerto da trama vem sendo a carismática Lola, vilã vivida por Camila Pitanga.
Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque. Ao lado de Benjamin Argento, a vilã projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou.
A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos. É um perfil cheio de possibilidades que proporciona excelentes momentos e todos são abraçados por uma atriz em total estado de graça. A novela apresenta uma trama clássica de vingança, tanto que há inúmeros elementos similares, para não dizer iguais, aos já vistos em obras como "Avenida Brasil" e a serie de TV "Revenge". E Lola tem um quê de Carminha (Adriana Esteves), mas que Camila consegue diferenciar e adequar ao seu modo de atuar, aproveitando também alguns momentos de fragilidade da personagem que lembram o lado inocente e até ingênuo da Bebel, seu papel de maior sucesso na carreira televisiva, revisto ano passado na reprise de "Paraíso Tropical" no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas também há uma terceira faceta, essa inédita, em que a crueldade se faz presente, assim como a frieza para contornar os muitos obstáculos que surgem em seu caminho. E impressiona como a intérprete domina todas as cenas em que aparece. Até porque não são poucas. Está praticamente em todos os atos da história, é o perfil com mais destaque e que norteia o enredo, sendo o pilar de sustentação.
É uma delícia ver Camila Pitanga em "Beleza Fatal". Tanto que a vilã pode ser facilmente considerada a personagem mais querida da história e justamente porque tem suas sensibilidades expostas em determinados momentos. Embora seja uma assassina, interesseira, oportunista, corrupta e muitas vezes cruel, é uma mulher que veio de uma vida difícil e no fundo só queria ser bem-sucedida e amada de verdade. É nessa vulnerabilidade que o telespectador se apoia e até se compadece. O choro da empresária diante da péssima relação que tem com o filho Gabriel comove, assim como sua solidão diante de um desabafo com sua funcionária Júlia (Camila Queiroz), sua então desconhecida algoz Sofia. É necessário destacar também a despedida de Viviane (Naruna Costa) com uma última transa,
Em meio a um folhetim repleto de perfis maniqueístas (o que não é um demérito), Lola sobressai através de suas múltiplas camadas. E uma profissional mais limitada não conseguiria passar veracidade nas fragilidades da vilã, o que prejudicaria até a intenção do autor em humanizar sua vilã. Grande parte do público acharia as situações forçadas ou até piegas. Mas não é o que acontece. Camila diverte e emociona com a mesma facilidade e empresta o seu carisma para a personagem, que vem tomando conta da novela desde o primeiro capítulo. É inegável que o melhor texto também é o dela, com direito a algumas tiradas impagáveis e repletas de deboche. Vale citar ainda os instantes em que a ricaça surta de ódio quando algum plano dá errado, o que vem acontecendo com cada vez mais frequência. O desempenho da atriz é visceral.
Camila Pitanga estava afastada dos folhetins desde "Velho Chico", exibida em 2016, na Globo, em virtude de seu trauma com a morte trágica de Domingos Montagner, que se afogou no Rio São Francisco durante as gravações da novela, que, além de colega, era seu grande amigo pessoal. Voltou a trabalhar na dramaturgia em 2019 em "Juntos a Magia Acontece", um especial de fim de ano da Globo, e "Aruanas", série do Globoplay. "Beleza Fatal" marca sua volta aos folhetins, ainda que seja uma novela de apenas 40 capítulos. E seu retorno não poderia ter sido melhor. Lola valoriza o seu talento e a sua grandiosidade, já entrando para a galeria de grandes personagens da sua carreira
A edição comemorativa do "Big Brother Brasil" não terá Boninho, o diretor que implementou e foi o responsável pelo formato do maior reality do país até ano passado. É uma baixa significativa. Mas a temporada apresentou chamadas com vários ex-BBBs marcantes celebrando a história da atração e neste ano os novos participantes entraram em duplas. A decoração da casa é inspirada na teledramaturgia da Globo em comemoração aos seus 60 anos, mas o resultado ficou genérico e pouco inspirado. Já a apresentação segue de Tadeu Shimidt e a estreia, nesta segunda-feira, dia 13, foi movimentada. Resta torcer para que a vigésima quinta edição tenha bons competidores, ótimas rivalidades e boas brigas, mas sem crimes e polêmicas envolvendo o código penal...
Daniel Ortiz vinha de uma tríade vitoriosa no horário das sete da Globo com "Alto Astral", "Haja Coração" e "Salve-se Quem Puder". Mas errou feio em sua nova história. A trama dos cinco netos que precisavam de unir para herdar a fortuna da avó era uma premissa criativa e deliciosa. Tinha tudo para angariar uma leva de elogios. No entanto, a proposta do folhetim foi jogada fora ao longo dos meses e o roteiro se resumiu a vários triângulos amorosos forçados e repetitivos. Vendida como protagonista, Arlete Salles foi desrespeitada pelo autor e virou uma mera figurante com aparições semanais. Somente na reta final ganhou mais cenas na pele das gêmeas Frida e Catarina. Vale citar ainda a fraca direção da equipe Fred Mairynk e equipe, que piorou o que já era ruim. Várias cenas viraram chacota nas redes sociais diante de tamanho amadorismo. Os erros eram tantos que até mesmo atores conhecidos pelo ótimo trabalho ficaram devendo em diversas sequências, que soavam caricatas e artificiais. O corte de custos da emissora também ficou perceptível com a novela diante de cenários mal acabados e praticamente nenhuma cena gravada fora das vielas dos Estúdios Globo, o que deixava qualquer momento de ação ridículo. Nem mesmo os casais que funcionaram tiveram um desenvolvimento atrativo, vide a destruição do arco de Lupita (Daphne Bozaski), que na reta final acabou colocada como uma indecisa até o último capítulo só para forçar um mistério a respeito da identidade do seu escolhido.
Após o sucesso de "Todas as Flores" no Globoplay, João Emanuel Carneiro voltou ao horário nobre da Globo e com a missão de elevar a audiência das nove, após o fracasso do remake de "Renascer". Mesmo diante de uma segunda parte muito mal desenvolvida de sua novela na plataforma de streaming, havia uma boa expectativa para sua nova história. E as chamadas eram convidativas. Porém, a produção vem se mostrando uma completa catástrofe. A primeira fase apresentou ótimos conflitos e personagens ambíguos, mas a correria dos acontecimentos prejudicou a construção do enredo e a compreensão do público. Para culminar, Amauri Soares ordenou o corte de várias cenas, a ponto de dois capítulos serem jogados no lixo. O todo poderoso do setor de teledramaturgia achou que aumentaria a audiência a antecipação do assassinato de Molina (Rodrigo Lombardi). Mas foi a partir daí que a trama mergulhou em um poço sem fundo.
A segunda fase afastou ainda mais o público por conta de péssimos núcleos secundários e situações cada vez mais absurdas, que colocam o telespectador como idiota. O que se vê atualmente é um amontoado de reviravoltas sem impacto e qualquer lógica, além de um roteiro exaustivo que sempre volta para o mesmo lugar. Os atores vêm tirando leite de pedra, mas não há mais nada o que fazer. O objetivo do autor parece ser a destruição total de seu folhetim e até a direção de Carlos Araújo resulta em algumas cenas dignas de um produto amador. A cada capítulo tudo fica pior.
Maior fracasso da história da Globo, "Mania de Você" foi uma novela catastrófica Nesta sexta-feira (28/03), para o alívio dos telespectadores, do elenco e da Globo, chegou ao fim "Mania de Você", o maior fracasso de público e crítica do horário nobre da emissora. A novela de João Emanuel Carneiro, dirigida por Carlos Araújo, foi uma das piores já escritas na história da teledramaturgia e se mostrou uma avalanche de equívocos, onde absolutamente nada se salvou. É um caso que jamais será esquecido e servirá para análises futuras do quão catastrófica foi essa produção.
Um dos graves problemas da obra foi o péssimo desenvolvimento do amor dos mocinhos, agravado ainda mais com os vários cortes na primeira fase, realizados através da intervenção de Amauri Soares, atual todo poderoso do setor de teledramaturgia da Globo, que só enfia os pés pelas mãos desde que assumiu o cargo. O amor avassalador que Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) sentiam um pelo outro teve um desenvolvimento sem qualquer cuidado. Amor à primeira vista de mocinhos quase sempre fracassa nos tempos atuais, ainda mais quando a relação tem como consequência uma dupla traição, sofrida por Luma (Agatha Moreira) e Mavi (Chay Suede).
Viola traiu Luma, tendo um caso com o namorado da amiga e sem nunca ter apresentado qualquer tipo de remorso, uma vez que a traiu novamente depois que foi perdoada. Rudá nunca demonstrou qualquer cuidado com Luma, mesmo diante de uma relação que teve seu início ainda na infância. Tanto que a traía várias vezes sem peso algum na consciência. E nem a passagem de tempo serviu para amadurecer o personagem.
Isso porque o rapaz escapou de um esquema de prostituição em Portugal graças a Filipa (Joana de Verona) e logo depois os dois iniciaram um namoro. Dez anos se passaram com ambos em uma relação estável. Mas Rudá viu Viola em um programa de culinária na televisão e foi o bastante para motivá-lo a voltar para o Brasil e deixar sua esposa sozinha, que tinha acabado de descobrir que a mãe estava muito doente. Ainda recebeu o apoio da tia, Moema (Ana Beatriz Nogueira), que o incentivou a largar a mulher para ficar com a protagonista. Se o autor achou que algum telespectador compraria um enredo assim, das duas uma: ou foi amador ou ingênuo demais.
No entanto, mesmo com um casal de mocinhos muito mal construído, a primeira fase da novela despertou interesse pelo potencial do enredo, que até lembrava um pouco "A Favorita", um dos maiores sucessos de João Emanuel. Isso porque Viola e Luma aparentavam ser duas mocinhas dúbias, o que permitiria uma virada para a vilania de qualquer uma delas. A sequência envolvendo o assassinato de Molina (Rodrigo Lombardi) também gerou impacto e curiosidade a respeito dos desdobramentos daquele crime. Mas a verdade é que as inúmeras falhas da obra já estavam todas ali, a começar pela propaganda enganosa do pôster de divulgação da novela. A majestosa imagem tinha o quarteto central, além de Molina, Mércia (Adriana Esteves), Berta (Eliane Giardini) e Isis (Mariana Ximenes). Só que, ao longo dos meses, foi ficando claro que Berta e Isis não tinham qualquer conexão com o núcleo principal e foram jogadas em um núcleo terciário e repetitivo, onde a comicidade provocava vergonha alheia.
Isis aparentava ser uma daquelas vilãs inesquecíveis do autor. Mas em "Mania de Você" o escritor fracassou até no que fazia de melhor. Isis iniciou a história como responsável pela morte o marido e do amante, mas virou uma personagem cômica que passou a novela toda aceitando a chantagem de Leide (Thalita Carauta) e Sirlei (David Jr), que levaram a filha, Evelyn (Gi Fernandes), para morar na mansão junto com eles em uma situação igual a do filme "Parasita", só que com uma construção rasa e cheia de absurdos. As cenas eram tão repetitivas que Berta ficou a novela inteira sendo feita de idiota e descobriu a verdade apenas na reta final. O pior é que as cenas da revelação não tiveram impacto. Foram momentos tão mornos que nem as atrizes talentosas foram beneficiadas. Aliás, uma falta de respeito com a grandeza de Eliane Giardini e Mariana Ximenes, que foram duas figurantes de luxo. Mais desrespeitados que elas somente Ana Beatriz Nogueira, Ângelo Antônio e Bukassa Kabengele. A veterana tentou dar dignidade na atuação como Moema, mas a personagem nunca teve função e parecia uma maluca. Ana precisou deixar o elenco por problemas de saúde e nem um desfecho digno foi dado. Ângelo ficou avulso ao longo de todo o enredo e mal apareceu, enquanto Bukassa foi perdendo espaço junto com Gabz.
É até impossível citar algum ator que não tenha sido desrespeitado na trama. Todos ganharam personagens frágeis, mal construídos e com conflitos que não despertaram qualquer interesse. Quase todos os integrantes dos núcleos paralelos foram caindo na irrelevância ao longo dos meses, a ponto de alguns sumirem ou serem assassinados de forma gratuita. É verdade que o autor nunca foi bom em tramas secundárias e todas representavam seu ponto fraco em obras anteriores, com exceção do fenômeno "Avenida Brasil". Mas em "Mania de Você" houve um fiasco generalizado. Até no que tinha potencial para conquistar o público, como o romance de Diana (Vanessa Bueno) e Fátima (Mariana Santos), que foi cancelado por conta da intervenção de Amauri Soares. A proximidade cada vez maior das amigas encantava e gerava uma repercussão positiva nas redes sociais. Ambas com casamentos tóxicos e que precisavam lidar com maridos abusivos, ciumentos e machistas. Com medo de uma rejeição ainda maior, foi ordenado o fim de qualquer a possibilidade do casal homoafetivo ser formado. A solução do autor foi a transformação de Hugo (Danilo Grangheia) em perfil cômico e a criação de um plano bobo em que Robson (Eriberto Leão) fingia ser um admirador secreto para humilhar Fátima ---- o que gerou como consequência um novo pretendente para a mulher, no caso o recepcionista Gael (Igor Cosso). Duas alterações nada sutis e que destruíram o único núcleo atrativo. Tanto que os personagens foram sumindo do enredo e só voltaram a ter algum destaque na reta final por conta de uma vingança de Robson, que trocou os exames de Hugo para que o ex-amigo achasse que estava com poucos meses de vida. Uma besteira que não alcançou dramaticidade e nem comicidade.
Nem mesmo o momento feliz de Dhu (Ivy Souza), após uma saga de sofrimento com o marido canalha Edmilson (Érico Brás), despertou interesse. A cozinheira ficou com Wagner (Bruno Quixotte) e os dois eram até bonitos juntos, mas perderam a função ao longo dos meses. O núcleo familiar, que contava com Iarley (Lucas Wickhaus), Lorena (Liza Del Dala) e depois Bruna (Duda Batsow), tinha como objetivo provocar risos, mas nunca cumpriu sua missão. Aliás, o que foi a súbita escolha de Iberê (Jaffar Bambirra) como o pai do filho de Lorena? Os dois nem se falavam na história e o improviso do autor ficou visível. O cúmplice de Mavi tinha uma sintonia perfeita com o vilão em cena, mas a relação foi destruída porque parte do público começou a torcer por um possível romance nas redes sociais. Iberê acabou jogado no núcleo desinteressante de Viola, teve sua personalidade alterada e no final ainda acabou assassinado por Molina.
E o que analisar do triângulo amoroso formado por Michele (Alanis Guillen), Cristiano (Bruno Montaleone) e Daniel (Samuel de Assis)? Uma situação repleta de absurdos e cenas que tiravam qualquer telespectador do sério. Cristiano passou a novela quase toda preso em Portugal e sendo espancado, enquanto sua namorada flertava com o patrão e fingia que estava ajudando o rapaz a sair da prisão. O ex-presidiário só voltou perto da reta final e passou a morar na mansão de Daniel. Qualquer desconfiança de uma traição era rebatida com indignação e a descoberta não teve qualquer catarse. Os três personagens andaram em círculos e não despertaram qualquer empatia de quem assiste. Até o fato de Michele e Cristiano terem sido traficados por Mavi acabou esquecido.
A novela foi piorando a cada capítulo e nem soluções dramatúrgicas comuns em qualquer folhetim funcionaram. Tanto que a virada da história envolvendo a falsa morte de Viola (Gabz) aniquilou o pouco que tinha de enredo e mínima lógica no folhetim. E o posterior retorno de Molina deixou tudo ainda mais equivocado na narrativa. Além da vingança da mocinha ter se mostrado ridícula e sem qualquer efeito prático, já que foi desmascarada em duas semanas, o todo poderoso empresário serviu de pretexto para a transformação de Mavi em um completo imbecil. Parece que o autor tinha uma 'cota' de vilão em "Mania de Você" e só podia um por vez. Mavi era um agente do caos. Um hacker imparável capaz de erguer um império, roubando a fortuna do pai e de Luma, para colocar Viola sob os seus domínios. Tudo o que ele fez desde o início da história teve como objetivo a conquista da mulher que era o fruto de sua obsessão. E ninguém conseguia pegá-lo.
Somando inúmeros furos e conveniências de roteiro, o personagem era invencível. Apesar de todos os equívocos da produção, o vilão transbordava carisma graças ao talento de Chay e aos seus improvisos deliciosos, que desconcertavam Adriana Esteves e Agatha Moreira, que não conseguiam esconder a surpresa diante de alguns diálogos, o que não impedia que também embarcassem nas brincadeiras. Diante de uma obra tão ruim e com um texto tão sem sentido, era um alívio para os atores e também para o público. Tanto que ao longo dos meses a sintonia dos três só aumentou. Era o único trunfo do roteiro. Mas o autor preferiu emburrecer o vilão para que o plano de Viola tivesse um mínimo desenvolvimento, ainda que sem qualquer nexo. E o pior é que a obsessão que ele tinha pela mocinha sumiu feito um passe de mágica. Tudo para forçar um romance com Luma. Chay e Agatha têm química, mas nada funciona sem uma construção crível. Poderiam ter rendido muito mais como um par de vilões. E Luma não foi nem mocinha e nem vilã. O que foi a Luma? Uma apaixonada por gastronomia que desaprendeu a cozinhar assim que roubou o restaurante da Viola e ficou com o cara que roubou sua fortuna sem qualquer amor próprio. Uma personagem sem rumo, assim como os demais protagonistas. Até porque o que aconteceu com Viola e Rudá foi de uma covardia sem precedentes com os intérpretes. O mocinho passou a história toda fugindo da polícia por um crime que nem tinha acontecido e foi assassinado em uma cena constrangedora. A mocinha sonhava em ser cozinheira profissional, conseguiu seu objetivo, perdeu tudo em uma armação idiota, desapareceu, retornou, fracassou em sua vingança, nunca mais voltou a cozinhar e sumiu da história na reta final.
Vale citar ainda o péssimo arco de Mércia. Adriana Esteves engrandece qualquer elenco e a atriz ganhou uma vilã que nunca teve um mínimo sentido. Inicialmente, parecia que a governanta de Molina era um tipo complexo e enigmático. Mas depois ficou claro que só era mal escrito mesmo. Mércia começou a história sendo uma mulher fria e calculista, a ponto de ignorar qualquer vínculo afetivo com o filho. A mulher apenas manipulava tudo e todos para atingir seus objetivos. Depois, foi transformada em uma mãe leoa e obcecada por Mavi, a ponto de cometer atrocidades para manter o filho perto dela. A outra fase da personagem foi uma tentativa de encobrir seu passado porque se chamava Sônia e trocou de nome com uma freira, vivida por Jussara Freire. E nunca foi explicado, de fato, nada sobre os pecados escusos de Mércia. Ou o autor esqueceu ou desistiu. Já na última semana de novela o lado explorado de Mércia foi o sonho em ter uma família de verdade, a ponto de promover um piquenique com Molina, Luma, Mavi e um cachorro que adestrou em tempo recorde para protegê-la. Lendo parece absurdo, mas assistindo fica pior.
Por sinal, os momentos derradeiros da novela foram um circo dos horrores. Cristiano, que tinha reatado com Michele, viu que a namorada estava com ele por remorso e a levou de moto até Daniel, que se preparava para viajar em um jatinho. Os dois ficaram juntos e se entregaram ao amor, enquanto o corno foi embora resiliente. Uma cena que tinha o objetivo de emocionar e só causou vergonha pelo roteiro preguiçoso. Já no núcleo central, após a reunião familiar fracassada, Mércia acabou dopada e o tal cachorro não a salvou em nada. Molina tentou fugir com o quadro valioso que tanto cobiçava, mas Luma se recusou a partir com ele sem Mavi. Mavi pegou o cachorro de Mércia e deu um comando para avançar em Molina, que obedeceu prontamente e sabia quem era o Molina. Luma foi embora levando o quadro e teve a ajuda de um personagem que surgiu gratuitamente no capítulo anterior apenas para elogiá-la durante uma breve conversa sobre um passado que ninguém sabia. Ainda apareceram capangas, vindo do mais absoluto nada, que iniciaram um tiroteio, sem feridos. Houve uma cena de luta muito mal coreografada entre Molina e Mavi, enquanto Mércia surgiu com uma arma e atirou em Molina para salvar o filho. Uma sequência que teve ação, catarse e drama, mas ainda assim conseguiu fracassar em tudo, o que evidenciou outro grave problema perceptível ao longo do folhetim: a direção.
O último capítulo fez jus ao conjunto catastrófico da produção. Não teve um desfecho minimamente digno. Mércia foi inocentada pelo assassinato de Molina, mas foi julgada como Mércia e não como Sônia. A Justiça brasileira é uma vergonha, mas não a esse ponto. Ninguém checou se a assassina tinha uma identidade falsa? Bem, não checaram e não descobriram que seu nome era na verdade de uma freira. E por qual razão a troca ocorreu? Porque Mércia cometeu um crime no passado. Qual crime? Nunca foi contado para o público. A personagem terminou feliz da vida ao lado de Mavi e Luma. Ah, Mavi foi condenado por tráfico humano a nove anos de cadeia. E por tráfico de animais silvestres? E pelo crime de stalker? E por tentativa de assassinato? Bem, esses não foram muito relevantes para o juiz. O vilão ainda teve direito a um último encontro com Viola, que recusou a fortuna de seu algoz e quase se desculpou por ter sido vítima de sua obsessão e por quase ter sido assassinada por ele. Ainda torceu para a sua felicidade com Luma. Um desfecho vergonhoso para uma mocinha que foi sacaneada pelo autor a novela inteira. Já nos núcleos secundários, o final de Fátima teve direito a um sequestro promovido por Robson, pouco antes de seu casamento com Gael. A mulher, que sofreu inúmeras violências do início ao fim da história, conseguiu escapar e teve seu final feliz. E Isis? Surgiu maquiada em um presídio que parecia um estacionamento e recebeu a visita de Leide. Rhodes (Leonardo Bittencourt) ficou se humilhando para Luma até o último minuto e a chamou para ir ao Uruguai. Não foi mostrado se recebeu alguma resposta, mas surgiu anos depois no país ao lado de Viola em um restaurante. Já Luma surgiu com uma criança junto de Mavi e Mércia, formando uma família de comercial de margarina. Mavi levou a bebê até sua sala de espionagem e na tela surgiu a palavra 'Fim'. Mais de quinze anos se passaram e todos seguiram exatamente iguais. Não teve um final sequer interessante ou crível.
"Mania de Você" chegou ao fim com a pior média de audiência da história do horário nobre da Globo: 21 pontos. A detentora do título até o momento era "Um Lugar ao Sol", novela da competente Lícia Manzo, que foi ao ar toda gravada por conta da pandemia. A obra da autora nunca mereceu índices tão baixos. O final se mostrou decepcionante, mas o conjunto teve muitas qualidades, tanto no texto quanto nos personagens complexos. Ao menos agora a justiça foi feita e um folhetim repleto de equívocos passou a ocupar o nada honroso posto. Apesar da segunda fase sofrível, João Emanuel Carneiro tinha dado a volta por cima com "Todas as Flores" em 2022, após os fracassos de "A Regra do Jogo" (2015) e "Segundo Sol" (2018). Mas o autor encarou sua pior fase na carreira com uma história de manias que não se sustentavam nem por três semanas. Infelizmente, todos saíram perdendo diante de um produto tão desastroso: a emissora, a teledramaturgia, o elenco e principalmente o público.
Sharon Stone é uma verdadeira rainha! O documentário mais completo desse filme cult que mudou a sua vida. Eu poderia escutar Sharon Stone falar por horas.
Instinto Selvagem (1992): Este suspense erótico dirigido por Paul Verhoeven é provavelmente o filme mais famoso de Sharon Stone. Ela interpreta a misteriosa escritora Catherine Tramell, cuja relação com o detetive Nick Curran (interpretado por Michael Douglas) se torna intensamente perigosa. A cena da cruzada de pernas durante um interrogatório é lendária!
DOCUMENTÁRIO QUE EXPLORA A CRIAÇÃO E IMPACTO DOS CLÁSSICOS “BASIC INSTINCT”, ATRAVÉS DE ENTREVISTAS COM PAUL VERHOEVEN, SHARON STONE, MICHAEL DOUGLAS, ENTRE OUTROS ENVOLVIDOS. UMA DAS COISAS QUE MAIS GOSTEI EM "INSTINTO SELVAGEM: SEXO, MORTE E STONE" SÃO AS ANEDOTAS DA EQUIPE SOBRE AS BRIGAS INICIAIS PELO SCRIPT, O LANÇADO PEDRA, O ASSÉDIO DA COMUNIDADE LGBTQ À PRODUÇÃO DEVIDO À BISSEXUALIDADE DO PROTAGONISTA , A ESTREIA FENOMENAL E MAIS.
A OUTRA É A HONESTIDADE DOS ENTREVISTADOS QUANDO FALAM, POR EXEMPLO, SOBRE SEU TRABALHO EM EQUIPE, A FILMAGEM DAS VIBRANTES CENAS DE SEXO OU COMO COM SUA ATUAÇÃO, STONE FEZ O FILME REVOLTAR EM TORNO DE SEU PERSONAGEM. ALTAMENTE RECOMENDADO PARA FÃS DESTA JÓIA.
Este documentário sobre o incrível clássico cult Instinto Selvagem apresenta Sharon Stone, Paul Verhoeven, o editor Frank J. Urioste, o diretor de fotografia Jan de Bont, o roteirista Joe Eszterhas e o especialista em sexo violento Michael Douglas.
Eu gosto mais de mulheres do que de homens. Muito melhor. - Paul Verhoeven
O especialista em sexo violento Michael Douglas afirma que os filmes dessa época se tornaram muito conservadores, e ele queria fazer o que ele chama de filme "slam dance".
Joe Eszterhas disse que trabalhou como jornalista fazendo reportagens policiais. Ele disse que um cara que ele conhecia "gostava de tiroteios um pouco demais" e que ele provavelmente gostava.
Paul Verhoeven tentou dizer a Joe Eszterhas que ele faria tudo o que ele dissesse porque Paul é o diretor, então Joe ameaçou dar um soco nele se ele falasse com ele daquele jeito novamente. Então, mais tarde, Verhoeven descobriu que ele estava errado e que eles deveriam manter o roteiro igual.
Eu não tinha ideia de que Sharon Stone tinha 32 anos em Instinto Selvagem (1992). Neste documentário de 2020, ela parece mais jovem do que muitas pessoas na faixa dos 30 e 40 anos.
Todos falam sobre a cena, mas aparentemente naquela época, as mulheres não tinham permissão para mostrar as axilas (muito sexy, sabe?), então foi bem progressivo.
Eu nunca tinha ouvido falar disso até este documentário, mas aparentemente as pessoas na comunidade LGBTQ+ não gostaram que o vilão fosse bissexual e protestaram. O especialista em sexo violento Michael Douglas diz que não entendeu a controvérsia:
E quando o filme foi lançado, a comunidade LGBT se acalmou muito, muito rápido. É um grande sucesso. E todo mundo meio que disse, "Por que, do que você está reclamando? É uma linda jovem que é bissexual e é uma ótima personagem. . . .
Também recebemos algumas palavras sábias de Sharon Stone:
Primeiro de tudo, nunca acredite nos críticos, porque eles são apenas o cara que faz sexo e não compra o ingresso. Você sabe o que quero dizer? . . . Então, no dia seguinte, quando a crítica saiu dizendo que era um filme meio ruim e eles não disseram que seria tão bom. Meu melhor amigo e eu estávamos tendo serviço de quarto tipo ovos Benedict, todo esse serviço de quarto chique. E nós estávamos chorando de rir. Nós pensamos, "É, esse filme é tão ruim que vai ser o maior sucesso do ano. Porque nós pensamos, 'Sinto muito, senhor, mas nós estávamos lá. Não importa o que você esteja dizendo. Este filme é um sucesso. E 🖕🖕.'"
Eu também nunca soube que Sharon Stone perdeu a custódia do filho porque ela estava em Instinto Selvagem. Como se essa fosse uma razão válida que eles usaram. Droga. Ela realmente se abre sobre sua vida nisso e os problemas que ela teve sendo atriz.
Ninguém parece estar se segurando — muito pelo contrário — e os comentários de Douglas, Stone, Debont, Urioste e Verhoeven se juntam como uma história que corre paralela à contada pelo filme.
PS: Este documentário não teve nada de especial em termos de performance e foi apenas uma conversa, mas os assuntos que foram investigados foram muito bons. Desde as diferenças de roteiro e o conflito de longa data entre os atores para escolher a atriz, até a dificuldade de filmar a cena de sexo do século, e os problemas que esse filme causou para Sharon Stone em sua vida real e até afetou a custódia de seu filho.
Eu gostaria que esses documentários fossem feitos para todos os filmes populares ou filmes com pontuações altas. Nós realmente não sabemos quais histórias estão acontecendo por trás de cada filme, e conhecer todos esses detalhes é muito emocionante, pelo menos para mim pessoalmente.
Fracasso de “Renascer” não é uma surpresa, é um aviso
Apesar de bela e muito bem dirigida, Renascer teve um desempenho apático e esquecível.
Quando os rumores sobre o remake de Renascer começaram a surgir, a possibilidade parecia inicialmente descabida. Não apenas porque as imagens da primeira versão, de 1993, ainda são completamente passáveis do ponto de vista estético; mas também porque parecia uma loucura comercial praticamente repetir o universo de Pantanal com apenas duas outras novelas de intervalo (Travessia e Terra e Paixão) e menos de dois anos de seu último capítulo.
Aparentemente, alguns setores dentro da TV Globo – e até mesmo uma parte da cobertura especializada – não acham que essa urgência com os remakes é um problema ou um reflexo do atual cenário da teledramaturgia. A empresa em si (e não só ela) vive um momento em que grandes investimentos no setor são problematizados por conta de seus conteúdos superficiais, disfarçados com uma roupagem “cinematográfica” vazia. É como se o imagético tivesse amadurecido e o narrativo estivesse empacado. Basta ver os recentes devaneios das temporadas vigentes de Justiça e Os Outros.
No caso das novelas, o recurso do remake virou a muleta defendida com o argumento da história. Sempre tivemos remakes, é fato. Nunca tivemos tantos ao mesmo tempo ou tão seguidos um do outro; ou mesmo no horário das 21. E quando Vale Tudo chegar, terão sido 3 remakes no horário nobre em um espaço de menos de 3 anos. A história da TV aqui não deveria ser a tutela do “sempre foi assim” e sim a evidência de que sim, tem alguma coisa fora do eixo nos domínios da vênus.
Em Renascer, Bruno Luperi tinha – como em Pantanal – a segurança do texto de Benedito Ruy Barbosa. A trama do Coronelzinho José Inocêncio – que chegava a Ilhéus para criar do nada seu império do Cacau – era bem construída, tinha seu universo lúdico próprio e personagens carismáticos… que eram reproduções quase EXATAS do que o autor já tinha feito em Pantanal. Contudo, Pantanal era uma produção da Manchete e quando ele foi para a Globo, sentiu-se à vontade para seguir a encomenda da casa, criando para eles a sua orgulhosa Pantanal 2.
Agora, entre 2022 e 2024, a recepção acaba sendo outra. Pantanal e Renascer têm o mesmo DNA; tem um grupo imenso de personagens parecidos; tem a mesma vibe regional-lúdica; e eles ainda cometeram o desatino de usar o mesmo ator para viver os dois protagonistas. Marcos Palmeira foi uma escolha acertada para Leôncio, mas com Inocêncio passou toda a novela lutando para sentir-se confortável no papel. Entendemos que Luperi quis criar a emocional virada do ator que fez o filho rejeitado agora vivendo pai que rejeita; contudo, a imagem de Marcos Palmeira à frente do mesmo personagem precisava de descanso. Diante de uma interpretação tão minimalista, esse intervalo era ainda mais necessário. Antonio Fagundes fez Mezenga logo depois de Inocêncio, mas, além do intervalo ter sido muito maior, os dois eram completamente diferentes.
Luperi – conhecido por não ter mudado praticamente nada do texto do avô – tomou mais liberdades em Renascer. Não mexeu em praticamente nada nos núcleos centrais, mas acertou principalmente com Zinha, que teve nos capítulos finais da novela uma abertura romântica incomum para casais de mulheres na TV. Samantha Jones defendeu a personagem com muito humor e carisma; o que a tornou, possivelmente, uma das melhores alterações já feitas em remakes na nossa teledramaturgia. De fato, depois de ter falhado miseravelmente na reconstrução do peão Zaqueu de Pantanal, Luperi corrigiu o curso e investiu forte na representatividade LGBTQIA+. Infelizmente, a Buba de Gabriela Medeiros foi um grande equívoco de direção. Houve a inserção da família da moça – que foi acertada – mas o detalhe acabou não sendo suficiente para livrar a personagem de uma constante apatia e insipidez.
Enquanto decisões como a quebra de quarta parede do maravilhoso Norberto – criado com paixão por Matheus Natchtergaele – deram o mínimo de identidade para a novela; abordagens como a de Tião Galinha foram na contramão, provando-se ineficazes diante de um público já cansado de ser “forçado” a se emocionar. Irandhir é um ator especial, mas seu Tião era excessivamente solene; e em comparação com a ingenuidade quase infantil da versão de Osmar Prado, perdia sensibilidade (o que parece, vejam só, completamente irônico). Já a Joana de Alice Carvalho era um desbunde de carisma em cena.
Houve outras escalações que definharam no caminho, mas alguns personagens já nasceram com a necessidade de mudança; e não mudaram. Dona Patroa precisava de um upgrade sobre empoderamento; as “qualidades” da Eliana de Sophie Charlotte pareciam não conseguir muito bem vazar pelas laterais de seus defeitos; Teca, Padre Lívio, Morena, Professora Lu, Ritinha, entre outros, já eram personagens esquecidos na primeira versão e dessa vez foram ainda mais esvaziados.
Em seus últimos dias, a novela apresentou suas mudanças de desfechos, que culminaram em algumas decisões malucas, como o parentesco sem sentido entre Mariana e Teca; e a inocência de Inocêncio na morte de Belarmino, que fez o escopo emocional da primeira fase perder impacto; já que, de uma hora para outra, o pai de Maria Santa não era mais um estuprador incestuoso e sim um justiceiro.
É aquilo… não mexeram onde deviam e mexeram onde não precisava.
Com sequências lindas, cinematográficas, a novela amargou uma completa irrelevância midiática. Nenhum dos personagens viralizou; nenhuma das viradas se tornou marcante para a história da teledramaturgia – sobretudo porque as mesmas possíveis viradas marcantes já tinham feito sua marca em 1993. O investimento em estética era inegável, mas isso não foi o suficiente para impedir Renascer de parecer um genérico sofisticado. Linda direção, lindas atuações, ótimo roteiro-base… e nenhum carisma. Assistir Renascer era como assistir a uma orquestra tocar por 5 horas: uma teoria erudita substancial, mas entediante.
O fracasso não é estrutural. A novela era bonita e bem-feita, mas ela não era o que a audiência queria ver agora. Forçaram essa quase réplica de Pantanal goela abaixo; e o espectador só está regurgitando o resultado. Todos os envolvidos devem ficar muito orgulhosos de terem criado uma novela muito bonita. Mas, o recado é duro e foi dado: nem todas as coisas precisam ver a luz do dia… nem todas as coisas têm a capacidade de renascer.
Enquanto a novela esteve no ar, tive a oportunidade de visitar os estúdios e aqui abaixo vocês podem ter uma noção de como o trabalho dos artistas que levantam uma novela é lindo e admirável. Independente de como julgamos o andamento de uma trama, o que está por trás dela merece toda a nossa reverência.
"Cheias de Charme" é uma delícia de novela, mas perde o fôlego pelo caminho
A novela foi um dos maiores fenômenos da Globo. "Cheias de Charme" marcou a estreia de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira como autores fez um baita sucesso em 2012, recebeu uma avalanche de elogios, tanto de público quanto da crítica, e sua repercussão foi a melhor possível. Até hoje é lembrada com carinho. Sua primeira reprise foi exibida entre 2016 e 2017 no "Vale a Pena Ver de Novo" e a segunda reexibição entrou na faixa chamada de 'especial' da emissora --- pertencente ao extinto "Vídeo Show" --- em março deste ano, chegando ao fim nesta sexta (06/09/2024).
A novela, dirigida por Denise Saraceni, foi uma trama colorida, recheada de personagens carismáticos e soube utilizar a internet a seu favor, fazendo da dita 'concorrente' da televisão uma aliada poderosa. O clipe 'Vida de Empreguete' foi colocado no site da novela ao mesmo tempo que 'vazou' na história e o resultado foi simplesmente mais de doze milhões de acessos, em uma época onde o termo chamado 'transmídia' ainda era novidade. A própria Globo não tinha muita familiaridade com o uso de redes sociais e os sites das novelas eram precários. O Gshow nem existia. A produção inaugurou uma nova era para a empresa e deu muito certo. As músicas 'Vida de Empreguete', 'Maria Brasileira', 'Xote da Brabuleta', entre outras, fizeram sucesso dentro e fora da ficção.
A saga de Cida (Isabelle Drummond), Rosário (Leandra Leal) e Penha (Taís Araújo) caiu na boca do povo. Os autores souberam aproveitar os programas da emissora e as empreguetes se apresentaram em quase todas as atrações da casa --- "Domingão do Faustão", "Mais Você" e "Encontro com Fátima Bernardes" foram alguns deles. Ainda na mistura de ficção e realidade, no último capítulo, Cida lançou um livro baseado nos contos do seu diário e a obra também foi vendida em todas as livrarias do país, em uma época em que as lojas físicas não eram ameaçadas pelo mercado online.
Eram outros tempos e a trama foi aquele caso raro onde tudo funcionou. O único 'azar' foi sua exibição junto com o fenômeno "Avenida Brasil", um dos maiores sucessos da história da teledramaturgia, que arrebatou o país no horário nobre. A história de João Emanuel Carneiro faturou praticamente todos os prêmios disputados, o que acabou tirando a produção das sete do páreo. Caso contrário, o enredo das empregadas que chegam ao estrelato teria vencido várias categorias com facilidade.
Os atores foram muito bem escalados e deram um show. Isabelle Drummond emocionou com sua doce Cida; Taís Araújo brilhou na pele da determinada Penha; Leandra Leal convenceu com sua tão esperada protagonista; Cláudia Abreu foi o maior destaque da trama e fez de Chayene uma das personagens mais marcantes da teledramaturgia e Titina Medeiros foi uma grata revelação vivendo a totalmente louca Socorro. Malu Galli interpretou com maestria a íntegra advogada Lygia; Tato Gabus Mendes (Ernani), enquanto Alexandra Ritcher (Sônia), Simone Gutierrez (Ariela), Rodrigo Pandolfo (Humberto) e Giselle Batista (Isadora) foram ótimos representando a Família Sarmento. Já Chandelly Braz divertiu na pele da periguete Brunessa. Uma pena que Leopoldo Pacheco (Otto), Tainá Muller e Aracy Balabanian (Máslova) tenham sido pouco aproveitados.
Entretanto, a novela das sete teve problemas de desenvolvimento. A história começou com um ritmo ágil e vários acontecimentos, mas, após a ascensão das empreguetes, houve uma imensa queda de qualidade. Núcleos perderam a função, personagens sumiram, as protagonistas perderam o charme, e a 'barriga' se fez presente até a penúltima semana da obra. O roteiro perdeu o fôlego e passou a andar em círculos. Um dos principais atrativos da novela eram as protagonistas e suas características marcantes. Só que a separação do grupo não causou uma virada interessante na obra. O ritmo decaiu após o término do trio e as personagens ficaram irreconhecíveis. Cida, de ingênua e doce, virou uma tonta a ponto de acreditar piamente no homem que a humilhou desde a infância e no rapaz que a abandonou na primeira oportunidade que teve. Penha deixou a fibra de lado e passou a se preocupar o tempo todo com Sandro (Marcos Palmeira), a ponto de ter reatado com o ex no final, o que foi algo inconcebível. E Rosário passou a viver em função de seu dueto com Fabian (Ricardo Tozzi), o que implicou em situações repetitivas. Até Chayene perdeu a sua potência diante da falta de acontecimentos na história.
Além da queda de ritmo, furos dispensáveis ficaram perceptíveis. O primeiro foi a falsa paternidade do Sarmento (Tato Gabus Mendes). Quando o mistério foi revelado para o público, Valda (Dhu Moraes) teve uma longa conversa com o patrão, onde ambos confirmavam o caso do mau-caráter com a mãe de Maria Aparecida e a própria madrinha da empreguete já demonstrava que havia um segredo na vida da menina. Ou seja, os autores se arrependeram da redenção do vilão e resolveram alterar a trama. Outro erro foi a revelação da cirurgia de Inácio (Ricardo Tozzi). A ideia foi criativa, mas no início da novela, quando o personagem contou uma parte do seu drama pessoal, uma cena de flashback foi exibida, onde Dália (Maria Helena Chira) ficava em choque quando via a semelhança de Inácio com Fabian. Mas se ela tinha mandado o cirurgião modificar o rosto do seu 'amado', como pode aquilo ter acontecido? Outro erro foi Ariela não ter descoberto que era traída por Humberto com Brunessa. O saldo geral, todavia, é o melhor possível.
A reprise de "Cheias de Charme" no "Vale a Pena Ver de Novo" não repetiu o sucesso da época e a sua segunda reexibição teve uma audiência abaixo do esperado. Isso em nada afeta a qualidade da produção, mas expõe que os problemas observados em 2012 ficaram mais perceptíveis anos depois. E há também casos de histórias que só funcionam em determinado período. Teledramaturgia nunca foi uma ciência exata. Ainda assim, o folhetim merece todo reconhecimento e está na galeria de obras inesquecíveis do audiovisual brasileiro.
A verdade é que Além da Ilusão (2022) foi uma das melhores novelas das 18h dos últimos anos, mas muita gente crítica sem nem ao menos ter assistido, ou por simples implicância com a Larissa Manoela, que aliás atuou muito bem. Teve um desfecho emocionante, uma trilha sonora impecável e contou com grandes atores da teledramaturgia, como por exemplo Paloma Duarte e Antônio Calloni, que roubaram a cena diversas vezes durante a novela.
PS: Foi perfeita, Antônio Caloni sem dúvida foi o melhor ator. Achei uma história linda e cativante.
Fracasso de remake expôs que "Renascer" nunca foi uma obra prima
A Globo anunciou com pompa e circunstância o remake de "Renascer". Em todas as chamadas, a novela era classificada como 'a obra prima de Benedito Ruy Barbosa'. Tamanha pretensão tinha um objetivo: chamar atenção para repetir o sucesso do remake de "Pantanal", copiado a colado por Bruno Luperi em 2022 e que caiu na boca do povo. Mas a adaptação da trama de 1993 diminuiu em um ponto a média geral de "Terra e Paixão", que tinha elevado em três pontos a média do fiasco "Travessia". Só se falou em outra coisa enquanto a trama estava no ar. Ou seja, a emissora queria um novo êxito e conseguiu um novo fracasso.
As razões são muitas para explicar a baixa audiência da produção e a repercussão praticamente nula. "Renascer" apresentou diversos problemas quando foi exibida e nenhum deles foi corrigido pelo neto do autor na nova leitura. A ausência de carisma de vários personagens, a falta de enredo para 213 capítulos, o ritmo modorrento, a total falta de acontecimentos relevantes ao longo dos meses e os raros e pouco atrativos conflitos já eram percebidos em 1993. Mas, como o folhetim foi um fenômeno há 31 anos, apenas os acertos foram aclamados, enquanto os erros acabaram convenientemente ignorados. A história original está longe de ser muito significativa na teledramaturgia em comparação a outros sucessos de Benedito, como a já citada "Pantanal", além de "O Rei do Gado" e "Terra Nostra". A própria concepção dela se mostra controversa porque a criação se deu a um pedido da Globo, após o fenômeno de "Pantanal" na extinta Rede Manchete. A emissora queria uma "Pantanal" para chamar de sua e pediu ao autor para criá-la. A trama marcou o retorno de Benedito à líder, após o êxito na concorrência.
Talvez isso ajude a explicar a falta de criatividade do escritor ao longo dos meses e até no desenvolvimento de determinados personagens, como Teodoro (Herson Capri) e Iolanda (Eliane Giardini), que eram cópias menos atrativas de Tenório (Antônio Petrin) e Maria Bruaca (Ângela Leal). Entre as poucas cenas emblemáticas da produção, estão o suicídio de Tião Galinha (Osmar Prado) e a morte de Zé Inocêncio (Antônio Fagundes) diante de João Pedro (Marcos Palmeira). O resto sempre foi pouco lembrado, com exceção da carismática Buba (Maria Luiza Mendonça), que protagonizou a então inédita abordagem a respeito de sua condição (era hermafrodita, hoje classificada como intersexo) e da polêmica em torno da saga de Mariana, cuja rejeição de público e crítica provocou depressão em Adriana Esteves.
Ou seja, diante de uma obra com tantos problemas perceptíveis, valeria a pena um remake? Ainda mais um remake de uma história rural logo após "Terra e Paixão" e menos de dois anos depois do remake de "Pantanal"? A resposta é não. Mas a Globo enfrenta a sua pior gestão em teledramaturgia, onde a criatividade anda cada vez mais em falta e a maioria das apostas está em cima de releituras ou até continuação de novelas. Crise semelhante enfrenta o audiovisual mundial, vide a quantidade de filmes baseados também em remakes e continuações, além de muito 'live action' (versão atuada de desenhos animados clássicos).
A primeira fase de "Renascer" arrebatou o público em 1993 e teve apenas três capítulos. Boni, então todo poderoso da emissora, teve medo que o telespectador se apegasse demais ao elenco jovem e fez a recomendação a Benedito Ruy Barbosa. Já no remake houve uma mudança porque Bruno Luperi decidiu transformar os três capítulos em treze e ainda criou dois novos personagens interpretados por Maria Fernanda Cândido (que apareceu apenas na estreia) e Enrique Diaz. Foi o melhor decisão do neto do autor e o maior acerto da nova versão. No entanto, o pai de Boninho tinha razão na época. A audiência em 2024 se apegou demais aos perfis e aos atores da primeira fase, mas com razão. Humberto Carrão brilhou como Zé Inocêncio; Duda Santos emocionou como Maria Santa; Enrique Diaz deu um show como Firmino; Fábio Lago e Belize Pombal foram viscerais como Venâncio e Quitéria; Juliana Paes fez de sua Jacutinga um sucesso; Evaldo Macarrão divertiu na pele de Jupará; e Antônio Calloni roubou a cena como Belarmino e sua obsessão com 'sua carroça e dois burrinhos da melhor qualidade'. Além dos citados, Uiliana Lima (Morena), Quitéria Quelly (Helena), Adanilo (Deocleciano), Julia Lemos (Flor) e Flavia Barros (Juliette) também se destacaram.
O grande apego aos personagens e intérpretes da primeira fase fez jus ao conjunto da obra. Foram cenas de intensa carga dramática, conflitos densos e muitos embates empolgantes com dois vilões de alto nível que tiveram desfechos catárticos. Aquele caso raro em que a adaptação se mostrou melhor que a original. Mas parou ali. O início da segunda fase provocou uma queda de ritmo abrupta e os novos personagens passaram longe do carisma visto anteriormente. E foi algo que aconteceu em 1993. Houve um estranhamento do público, até porque a história muda quase que por completo. Mas, há 31 anos, a audiência seguiu alta, enquanto agora os números foram caindo gradativamente e a repercussão foi minguando ao longo dos meses. A nova saga ---- de um Inocêncio amargurado e que não se dá bem com seus filhos ---- não apresenta dramas atrativos e dá para contar nos dedos quantos são os acontecimentos relevantes na segunda fase. Para culminar, os novos personagens também não têm conflitos convidativos e o enredo se arrasta. A missão de Luperi era apenas criar novas situações para movimentar a história. Ainda que o autor tenha promovido pequenas mudanças em relação ao trabalho preguiçoso que fez na adaptação de "Pantanal", nada do que foi alterado provocou algo significativo na narrativa a ponto de despertar atenção. Tanto que a novela nunca chegou aos famigerados 30 pontos e patinou em torno dos 25 pontos, chegando a 28 quando a trama apresentava alguma rara tensão, vide a morte de Venâncio.
Até os trunfos da versão original fracassaram no remake, como a figura de Zé Inocêncio. Antônio Fagundes emprestou seu carisma ao protagonista e fez muito sucesso, mas o mesmo não aconteceu com Marcos Palmeira. O ator teve um bom desempenho, é importante ressaltar, e protagonizou boas cenas, mas a sua escalação foi um grave erro. Zé Leôncio, do remake de "Pantanal", tem inúmeras similaridades com o Inocêncio e a trama está fresca na memória do público. A escalação do mesmo ator em um espaço tão curto de tempo afetou a recepção da audiência. Parecia uma reprise. Leonardo Vieira é até hoje lembrado pela sua atuação como Inocêncio na primeira fase em 1993. Era a melhor opção possível e desperdiçaram a chance. Outro êxito da original que não deu certo no remake foi a trajetória de Buba (Gabriela Medeiros).
A personagem necessitava de melhores conflitos porque a obsessão em ser mãe, a ponto de abrigar uma moradora de rua em casa para ficar com o bebê que a menina estava esperando, não é lá uma história que desperta torcida de quem assiste. Mas, na época, a vivacidade de Buba encantou. Maria Luisa Mendonça adotou um tom intempestivo para aquela mulher, a ponto de enfiar os pés pelas mãos diante de sua avalanche de emoções. Gabriela optou pelo oposto. A atriz ficou contida em cena, o que deixou a personagem sem vida, apática, conformada e até sonsa. Sua falta de química com Rodrigo Simas também ficou visível e era impossível não ficar do lado de Eliana (Sophie Charlotte) em vários momentos, já que foi traída pelo marido e ainda escutava da amante que ela não era amante. A rapidez com que Buba se envolveu com Zé Augusto, após a morte do então marido, também não contribuiu para uma melhor aceitação e havia tempo para Luperi construir o novo amor, já que não acontecia quase nada na novela.
Também foi um tiro no pé a extinção da abordagem da intersexualidade. A única trama que abordou o tema até hoje foi "Renascer" e era a chance do remake aprofundar a questão, mas houve a decisão de colocá-la como uma mulher trans. O único acerto do autor no núcleo foi a inserção dos pais de Buba e de um amigo de infância, que não existiam em 1993. Interpretados por Guilherme Fontes, Malu Galli e Miguel Rômulo, os personagens engrandeceram a trama com boas cenas e mereciam mais destaque. Vale citar que Buba ficou avulsa durante toda a reta final e mal apareceu no último capítulo.
O núcleo de Tião Galinha (Irandhir Santos) e Joaninha (Alice Carvalho) foi mais um caso de um enredo que fez sucesso na versão original, mas não funcionou no remake. Os atores foram viscerais em cena e brilharam do início ao fim. São aqueles profissionais que engrandecem qualquer cena. No entanto, o casal que tinha uma vida miserável sofreu uma sucessão de desgraças ao longo de toda a história, sem um minuto sequer de respiro. Na teledramaturgia, todos sabem que felicidade não provoca interesse e a base é sempre o conflito, mas é necessário saber dosar. Para piorar, os personagens tiveram pouco destaque em boa parte do tempo e ficaram avulsos.
Toda a fase em que Tião estava obcecado em chocar um diabinho, graças ao deboche de Inocêncio, era sempre a mesma cena que ia ao ar, com quase o mesmo texto, apenas em cenários diferentes. Era maçante. Mas mesmo depois que deixou sua fixação de lado, o pobre homem seguiu passando por inúmeras dores. Luperi ao menos decidiu mudar o final, já que na versão de 1993 o sem terra se suicida na prisão em uma sequência brilhante de Osmar Prado.
Foi a forma que o autor encontrou para se redimir.
Outros problemas visíveis na trama merecem citação. A novela foi ambientada na Bahia, mas poderia ter sido em qualquer outro lugar. Não fez diferença. Não havia praticamente nenhuma externa e tudo era gravado dentro dos Estúdios Globo. O público não viu nada do lugar.
A história de Teca nunca chegou a engrenar e a personagem passou quase a produção inteira grávida e avulsa na fazenda. Para culminar, depois que teve seu bebê perdeu a pouca função que tinha e praticamente sumiu da novela. Nem mesmo o fato da criança ser intersexo (em uma tentativa de inserir o tema na história) provocou uma abordagem digna.
Cada vez que explicavam o significado de intersexualidade parecia uma aula do extinto Tele-curso 2000.
A súbita aproximação de Teca com Zé Inocêncio, a ponto de chamá-lo de 'voinho', também ficou difícil de engolir, mesmo com a explicação posterior sobre a origem da menina: era sobrinha neta de Maria Santa, uma revelação que em nada impactou no roteiro. Nem o casal formado com Pitoco despertou torcida.
É preciso mencionar também o equívoco em torno de Iolanda. Luperi errou quando transformou Dona Patroa em uma crente fanática. A personagem tinha uma pureza na versão original que foi perdida e Camila Morgado, que é uma excelente atriz, exagerou no tom. A mulher ficou histriônica e viveu algumas situações tratadas como cômicas que na verdade eram constrangedoras. O fato de ser uma religiosa não serviu nem para a comicidade e muito menos como uma crítica aos que se deixam cegar pela religião. E vale destacar ainda o pouco destaque dado aos grandes Jackson Antunes e Ana Cecília Costa, que brilharam como Deocleciano e Morena, mas ficaram boa parte da história servindo apenas como 'orelha' para o desabafo dos demais personagens ----
Lívio com Joana e foi compreensível, já que quando mudou a condição do personagem, de padre (em 1993) para pastor, tirou qualquer futuro conflito do possível romance. O pastor acabou ficando com a professora Lu no final, outra personagem que nunca teve conflitos e desperdiçou o talento de Eli Ferreira.
Mais um para o time dos avulsos foi Pedro Neschiling, que passou boa parte da história sumido ou fazendo propaganda de um carro elétrico. Ao longo dos meses, ganhou a companhia de Juliane Araújo, que foi perdendo a relevância com sua Kika, até desaparecer. No entanto, no caso dos dois atores, Bruno se redimiu na reta final e os trouxe de volta, algo que não aconteceu na versão original,
e juntou o rapaz com Ritinha (Mell Muzillo), que há 31 anos terminava com Zé Bento, e reatou a relação da advogada com seu ex.
Já a participação de Malu Mader como Aurora se mostrou irrelevante e muito aquém do talento da atriz, que estava longe das novelas há 8 anos.
E o que falar sobre a saga de Mariana? Público e crítica rejeitaram a personagem em 1993, que era colocada como uma 'ninfeta' (termo machista que nem é mais usado), o que causou depressão em Adriana Esteves. O mínimo era um cuidado maior no desenvolvimento no remake. Mas Luperi praticamente copiou e colou tudo o que aconteceu em 1993, até o controverso termo 'painho', usado por ela para chamar carinhosamente Zé Inocêncio. O amor entre Mariana e o protagonista não teve qualquer construção e muito menos a paixão que João Pedro criou por ela. A força do triângulo amoroso com pai e filho disputando a mesma mulher nunca existiu. Pelo contrário, era rasa demais qualquer situação vivida pelos três.
A personagem veio para vingar a morte do avô, Belarmino, mas desistiu no segundo capítulo da segunda fase e contou tudo para Inocêncio. Depois, se casaram na semana seguinte
e a história acabou. Mariana ficou sem espaço e foi perdendo o destaque ao longo dos meses. Isso aconteceu na época por conta da rejeição e não tinha motivo para manter algo assim. Era a chance de colocá-la como uma mulher vingativa, o que renderia um leque de novos conflitos que movimentariam o enredo, mas Luperi desperdiçou.
O autor só resolveu mexer no antepenúltimo capítulo, quando a colocou como autora do tiro dado em Egídio (Vladimir Brichta) e responsável pelo assassinato do vilão em uma sequência irretocável em que Mariana seduziu o fazendeiro e o levou para um enforcamento realizado por Damião ---- ela também foi a assassina de Teodoro em 1993, mas foi algo que ficou no ar.
Custava tê-la mostrado assim ao longo da história? O enredo teria um novo gás e Theresa Fonseca ganharia ótimas cenas. A impressão é que Luperi tentou se desculpar com a atriz no último momento, já que não conseguiu destacá-la nos meses anteriores.
Porém, o remake teve êxitos que precisam ser mencionados. A direção de Gustavo Fernandez se mostrou o grande trunfo da produção. Em meio a tantas direções que deixam a desejar atualmente na Globo, foi um presente para o telespectador o trabalho do diretor, que extraiu o melhor das poucas cenas de ação da história e promoveu filmagens belíssimas em momentos importantes,
como o assassinato de Venâncio, a morte de Marçal ---- queimado vivo ----, o desfecho trágico de Egídio e as visões aterrorizantes do boi bumbá.
A fotografia de Walter Carvalho, que também trabalhava na direção de várias cenas, foi merecedora de todos os elogios. Já Luperi foi feliz na mudança em cima da religiosidade de Inácia, que deixou de ser católica (como era em 1993) e virou candomblecista. Todas as cenas da personagem falando de sua religião e explicando o significado de todos os orixás eram emocionantes e protagonizadas lindamente por Edvana Carvalho. Aliás, o elenco teve nomes que se destacaram, como Juan Paiva, que mais uma vez emocionou como João Pedro, mais um papel sofredor em sua carreira. Sua química com Giullia Buscacio foi visível e os dois formaram um bonito casal, apesar da condução equivocada do autor, a ponto da menina ter sua personalidade alterada na reta final. A atriz fez de Sandra um dos raros atrativos do folhetim e tem tudo para viver a Maria de Fátima no remake de "Vale Tudo", com mérito de sobra. Vale citar ainda Sophie Charlotte, que fez de Eliana uma safada carismática e apaixonante. As gratas surpresas ficaram nas mãos de Mell Muzillo como Ritinha, Alice Carvalho como Joana, Xamã como Damião e Samantha Jones como Zinha, que protagonizou momentos cômicos deliciosos e
formou um bonito casal com Lucy Alves (Lilith) na reta final.
Vladimir Britcha é mais um ator que convenceu em cena e fez de Egídio um vilão repugnante, enquanto Almir Sater mostrou uma nova faceta na pele do libanês Rachid ---- estava irreconhecível. Já Matheus Nachtergaele foi roubando a cena aos poucos, através do carisma que emprestou ao simpático Norberto, e sua ideia de 'quebrar a quarta parede' (quando o personagem fala com o telespectador olhando para a câmera), sugerida e acatada pelo autor logo no início, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o dono do bar. Deixou uma marca.
A última semana da novela seguiu com audiência baixa e sem qualquer repercussão em virtude da quase ausência de desfechos relevantes. A melhor cena da reta final foi a já mencionada
morte de Egídio e a sequência em que Mariana revelou a Zé Inocêncio que foi a responsável pelo atentado e depois pela morte de Egídio
. Já os demais finais deixaram muito a desejar, pois o autor optou pelo recurso preguiçoso de colocar uma pessoa narrando tudo o que aconteceu. Tudo bem que Norberto sempre falou com o público, mas não justificou a exibição de momentos com cerca de dez segundos dos demais personagens, como
Eliana e Damião vivendo na fazenda com o filho. A queda de Zé Inocêncio da cadeira de rodas, que impactou em 1993, se mostrou falha nos dias de hoje. Afinal, como pode um sujeito milionário e conhecido como o rei do cacau não ter uma cadeira automática? Ele caiu e não tinha um celular para pedir ajuda? Não tinha um carro adaptado?
É um contexto que não existia na versão original e por isso mesmo deveria ter sido melhor solucionado.
O último capítulo foi prejudicado pelo horário antecipado por conta do jogo da seleção brasileira, mas nem tinha muito mais o que mostrar e seguiu sem ver a cor dos 30 pontos de audiência. A novela nunca marcou o almejado índice da Globo durante toda a sua exibição. Os únicos folhetins pós-pandemia que ultrapassaram os 30 pontos foram o remake de "Pantanal" e "Terra e Paixão". Mas, voltando aos desfechos, a cena da despedida de Zé Inocêncio, que fez as pazes com o filho rejeitado, foi brilhantemente interpretada por Juan Paiva, que demonstrou toda a dor de João Pedro, e Marcos Palmeira, que também brilhou. Todavia, não foi melhor que a sequência original. É inevitável a comparação. O impacto foi bem menor.
Já o desfecho inédito de Mariana foi o mais divertido. A neta de Belarmino ganhou de João Pedro e Sandra a fazenda que era de seu avô e ainda foi para lá com uma carroça e dois burrinhos da melhor qualidade, fazendo jus ao bordão do vilão.
Ponto para Luperi, que também foi feliz na encerramento do mistério da identidade do assassino de Belarmino. Ao contrário
da versão de 1993, não foi Inocêncio o responsável e, sim, Venâncio, que se vingou do coronel que violentou sua filha. Porém, Marianinha jamais saberia que o pai tinha matado Belarmino porque já estava longe de casa há anos quando o crime aconteceu (um furo perceptível). O outro senão ficou por conta da emoção de Teca e Mariana sabendo a verdade através da carta que Marianinha deixou. Tudo bem que se descobriram primas, mas viram que o elo parental delas era um estuprador.
Tião Galinha e Joana com seus filhos diante de uma terrinha que tanto sonharam foi bonito, enquanto o último momento primou pela delicadeza com imagens de Inocêncio e Maria Santa sendo felizes diante de uma paisagem deslumbrante. A imagem final foi a manta de Santinha (que o protagonista tanto usou sentado em sua cadeira) pendurada em um varal, mas sem o famigerado 'fim'.
O fracasso do remake de "Renascer" desnudou as falhas da original e expôs que a novela de Benedito Ruy Barbosa nunca foi uma obra prima. É verdade que audiência e qualidade muitas vezes não andam juntas. Há folhetins de imenso sucesso que foram péssimos e outros que fracassaram, mas eram primorosos. No entanto, no caso da releitura de Bruno Luperi, os baixos números e a repercussão ínfima foram condizentes com a história arrastada e sem maiores atrativos, exibida no horário nobre da Globo desde o dia 22 de janeiro e encerrada nesta sexta-feira, dia 6 de setembro, após maçantes 197 capítulos. Finalmente acabou.
OBS: Enquanto especulam quem será a nova Odete Roitman, quem interpretará a Maria de Fátima ou quem será a escolhida para ser a Heleninha no remake de 2025, além de como será a rivalidade entre as protagonistas Luma (Agatha Moreira) e Viola (Gabz), de "Mania de Você", "Renascer" passa em brancas nuvens e por culpa exclusivamente do roteiro entediante, que já precisava de mudanças em 1993. Zé Inocêncio segue em conflito com seus filhos e preocupado com sua safra de cacau , mas só se fala em outra coisa.
PS: Impressionante como não acontece NADA nessa novela. Semanas e semanas passam e tudo segue exatamente na mesma, onde até os diálogos se repetem. E a Globo jurou que seria um sucesso baseada no resultado de 31 anos atrás. Caiu do cavalo. Bem feito.
A Metamorfose de Malcolm X: Uma Viagem Através dos Livros
Nascido Malcolm Little em 1925, em Omaha, Nebraska, a vida de Malcolm X foi um testemunho do poder da transformação através da auto educação. Seus primeiros anos foram marcados por dificuldades e delinquência, levando a uma sentença de prisão onde ele iria passar por uma profunda metamorfose. Foi dentro dos limites de uma cela de prisão que Malcolm X descobriu o poder transformador dos livros, uma descoberta que não só remodelaria a sua própria consciência, mas também deixaria uma marca indelével no mundo.
O despertar na prisão
O encarceramento de Malcolm X tornou-se o crucível improvável para o seu renascimento intelectual. Sentindo-se sem educação e incapaz de se expressar em letras, ele embarcou em um rigoroso programa autodidacta para dominar a palavra escrita . Ele começou por copiar todo o dicionário, uma tarefa meticulosa que expandiu seu vocabulário e melhorou suas habilidades de escrita. Esta disciplina lançou as bases para os seus vorazes hábitos de leitura.
No silêncio da sua cela, Malcolm X leu tudo o que podia colocar as mãos. Sua lista de leitura era extensa, variando da história à filosofia, abrangendo as lutas das comunidades africanas e o impacto do racismo. Juntou-se às aulas educacionais para promover os seus estudos e participou de debates na prisão, onde o seu conhecimento recém-descoberto lhe deu uma vantagem sobre os seus oponentes.
O poder da auto-educação
A jornada de auto educação de Malcolm X foi um farol de esperança para aqueles que se sentiram marginalizados e sem voz. Ele demonstrou que aprender e falar a mente eram ferramentas poderosas para a libertação pessoal. Sua experiência na prisão ensinou-lhe mais sobre o mundo, e especificamente sobre a história negra, do que ele acreditava que alguma vez teria aprendido num ambiente de educação formal.
Através de sua busca incansável pelo conhecimento, Malcolm X emergiu como um principal porta-voz do separatismo negro, defendendo que os americanos negros cortassem os laços com a comunidade branca. A sua visão radical dos direitos civis foi moldada pelos livros que leu, o que o ajudou a articular uma filosofia que combinava conhecimento político com uma profunda compreensão da discriminação racial.
A transformação e o legado
A transformação de Malcolm X de um bandido para um ministro muçulmano é vividamente narrada em sua autobiografia, co-autoria com Alex Haley . Sua conversão ao verdadeiro Islã durante uma peregrinação a Meca ajudou-o a confrontar sua raiva e a reconhecer a irmandade de toda a humanidade, levando-o a renunciar a muitas de suas crenças antigas. A autobiografia tem sido celebrada como um trabalho crucial para a compreensão da justiça social e da discriminação racial.
O legado de Malcolm X não está apenas nas suas ideias e discursos radicais, mas também na sua demonstração de como a mudança é possível a partir de dentro. A sua história de vida, contada através da sua autobiografia, continua a inspirar e desafiar os leitores, oferecendo uma visão radical para os direitos civis que permanece relevante hoje. A história de Malcolm X é um lembrete poderoso de como os livros podem moldar o destino de uma pessoa. Sua transformação de Malcolm Little para Malcolm X foi alimentada pelas palavras e ideias que ele encontrou em suas leituras. Aprendeu a ler, escrever, falar e inspirar outros, tornando-se um símbolo do poder da auto-educação e da busca da verdade.
A novela também teve erros incontestáveis. A saga da Aline não empolgou e andou em círculos ao longo dos meses. A mocinha sempre era ameaçada por Antônio,
enfrentava o vilão, acabava sofrendo alguma consequência grave (prisão, incêndio da plantação e perda das terras)
e depois o ciclo vicioso recomeçava. Barbara Reis esteve incrível e mostrou que estava preparada, sim, para uma protagonista. Mas o enredo não ajudou. Também não deu para engolir a redenção de Andrade. Espancador de mulher não merece final feliz, ainda que todo mundo tenha o direito a uma segunda chance. A situação não repetiu o grave equívoco de "O Outro Lado do Paraíso" (2017), quando Gael (Sérgio Guizé) foi transformado quase em um herói no final, e Walcyr ao menos aprendeu a lição, mas não precisava. Outro problema visível foi a perseguição exaustiva de Tadeu a Anely. O contexto envolvendo a Rainha Delícia divertiu no começo, mas depois perdeu a graça. Muito tempo de cena perdido em uma sucessão de bobagens. Ao invés de ter focado nisso, daria para criar um enredo interessante para Odilon, que ficou avulso no roteiro depois que Anely se juntou a Luigi. Jonathan Azevedo foi sendo empurrado para vários núcleos até parar no bordel. A trama envolvendo Yandara (Rafaela Cocal) também merecia mais destaque, enquanto a entrada na reta final de Natercinho (Daniel Rocha) pouco acrescentou. O ponto negativo fica em cima da fuga da Irene,
depois de ter sequestrado Danielzinho, que beirou o absurdo já que a vilã estava desarmada diante de vários policiais. Vale destacar ainda o final de Irene, rica e plena ao lado de um milionário interpretado por Rodrigo Lombardi. E com um filho adotado. Mas a dúvida permaneceu: adotado mesmo ou roubado?
o fim do mistério do assassinato de Agatha. A vilã teve um final apoteótico, digno de sua participação, e já tinha sido desvendado que Irene tinha dado os três tiros na rival, que agonizava na escada. Mas quem empurrou ainda era dúvida. Só que no final das contas, até o envenenamento provocado por Angelina foi criminoso. Ao contrário do que disse em seu depoimento, a governanta não trocou as xícaras. Ela botou veneno para Agatha tomar, mas a vilã logo sentiu o gosto e foi correndo pegar o antídoto. E na escada estava Gentil, que a empurrou. Um plot twist que não foi vazado pela imprensa, fazendo jus a vários finais do Walcyr que surpreendem o público, vide César (Antônio Fagundes) com Félix (Mateus Solano) em "Amor à Vida". A troca de risadas entre Angelina e Gentil encerrou o enigma com chave de ouro. Vale lembrar que os dois eram os únicos que sabiam que Agatha estava na prisão e não morta durante os anos que ficou sumida.
Ou seja, um novo segredo guardado a sete chaves pela dupla.
Infelizmente, os mocinhos perderam espaço. Aline sempre será lembrada como a protagonista do Walcyr que não teve uma baita guinada — e acho que se apagou mais que a Filó de “Êta Mundo Bom” —, mas a Bárbara Reis é competente e a gente ainda torcia por ela de alguma forma. Do Caio não dá para dizer o mesmo. O personagem era inverossímil nos primeiros capítulos,
além daquele amor louco pela Aline que chegava a forçar as coisas. Ela não tinha obrigação de gostar dele porque ele gostava dela, muito menos o Daniel merecia toda aquela humilhação da parte do irmão porque era com ele que a Aline queria ficar naquele momento. Para alguém que nasceu “jogado às traças”, eram lampejos de egoísmo insuportáveis. O Caio era boa pessoa, mas não dá pra dizer que ele cresceu com a trama. Deu pena que a mãe que ele amava era uma vaca? Deu.
E só! O personagem pra mim deu uma derrubada na visão do Cauã como ator, que tinha brilhado em ULAS. Além do mais, mesmo ele parecendo mais jovem, chega de fazer personagens tão mais novos que ele! Vai ser pai de adolescente, um quarentão que não aceita a idade, alguma coisa assim! Se mexe, Globo!
Agora uma coisa que eu nunca vou esquecer dessa novela é: TODAS as crianças eram um amor! A Rosa foi a que menos apareceu, ainda assim era legal. O Christian era um doce e encarou coisas pesadas em casa e na escola, e o João era um querido também, minha criança favorita da novela (e a relação dele com o Caio era bonito de ver).
"Angélica: 50 & Tanto" é um programa que merece ser visto
O programa aborda a trajetória de Angélica através de imagens de arquivo enquanto a apresentadora conta um pouco da sua vida para o público e suas convidadas. Ao contrário do que parece, a atração não soa egocêntrica porque Angélica mescla muito bem as suas vivências com as histórias de suas 'visitas'. Isso porque as experiências da dona da casa são usadas para incentivar cada uma a expor suas intimidades e funciona. Claro que o fato de todas as escolhidas para o especial serem amigas de Angélica ajuda bastante na desenvoltura do papo, mas ainda assim havia o risco de parecer algo artificial ou até piegas. O formato deu muito certo. A sensação é de observar tudo o que é falado pelo buraco da fechadura, como se fosse quase um reality. Angélica está tão à vontade que deixa todas as convidadas igualmente relaxadas a ponto de contarem situações que até hoje não falaram em entrevistas.
A própria apresentadora contou casos que nunca havia mencionado antes, como o dia em que foi assediada por um diretor de televisão quando era apenas uma criança e a ordem que uma diretora da Xuxa (quem poderia ser?) exigiu que ela deixasse de ser loira porque só poderia ter uma na TV. Xuxa, Anitta, Eliana, Ivete Sangalo, Susana Vieira, Fernanda Souza, Preta Gil, Paolla Oliveira, Marina Ruy Barbosa, Maisa, Carolina Dieckmann, Giovanna Ewbank, Bárbara Paz e Paula Lavigne foram as convidadas do programa e todas protagonizaram bons momentos e abriram suas intimidades com a loira. Um bate-papo tão gostoso que faz o telespectador maratonar o especial sem qualquer esforço. Cada episódio tem cerca de 40 minutos e todos passam voando. E cada um é iniciado com uma apresentação de Angélica contando a respeito de algo que aconteceu em sua vida baseado no título de cada episódio. É muito interessante.
"Angélica: 50 & Tanto" tem criação e direção de conteúdo de Chico Felitti, direção artística de Isabel Nascimento Silva e produção executiva de Luísa Barbosa e Renata Brandão. O programa é produzido ainda pela Conspiração e Hysteria. É um programa despretensioso e deixa um gostinho de quero mais. Vale a pena ver.
"Falas Negras - Histórias Impossíveis" fecha o ciclo com um episódio de impacto
No Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi ao ar o último episódio da série "Histórias Impossíveis". Após "Falas Femininas" (em homenagem ao Dia Internacional da Mulher), "Falas da Terra" (em homenagem ao Dia dos Povos Indígenas), "Falas de Orgulho" (em homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQIAP+) e "Falas da Vida" (em homenagem ao Dia Internacional das Pessoas Idosas), a TV aberta exibiu "Falas Negras" nesta segunda, após o último capítulo de "Todas as Flores".
A trama propôs uma discussão sobre os estereótipos criados para personagens negros ao longo da história do audiovisual a partir de uma narrativa ficcional carregada de mistérios. No centro do enredo, Janaína (Grace Passô), uma roteirista negra, tem um encontro com a equipe de autores, todos brancos, de um novo projeto audiovisual, cuja imersão é realizada em uma fazendo do interior, herança da época colonial. Sua chegada gera desconforto tanto aos demais roteiristas ---- o que provoca conflitos na equipe ----, quanto aos funcionários da fazenda, como Benê (Neusa Borges), Justino (Leandro Firmino) e Dita (Dandara Abreu), que aos olhos de Janaína, apresentam comportamentos estranhos.
A história, com o título de "Levante", fala sobre a representação de personagens negros na TV ao longo de várias décadas. Até porque pouco se falava do fato dos pretos só aparecem em novelas como empregados, motoristas ou porteiros. A realidade só começou a mudar recentemente com a inserção de maior diversidade nos elencos, incluindo um importante protagonismo negro, e sem profissões estereotipadas. A série aborda a questão através de um amontoado de situações que instigam o telespectador, que não identifica muito bem no início se a produção é de suspense, terror ou um drama comum. Depois de perceber que há algo incomum no lugar, Janaína passa a investigar e descobre coisas inimagináveis sobre o verdadeiro propósito da fazenda e dos planos de seus funcionários. Personagens imprescindíveis no desenrolar da história, Benê e Justino, guardam um segredo que mexe com a cabeça de Janaína e dos outros roteiristas que estão na casa. A trama é bem conduzida e consegue prender a atenção de quem está assistindo até o final. E um dos atrativos é ver Grace Passô, uma das roteiristas da série e responsável pelos outros episódios de "Histórias Impossíveis", atuando como protagonista e vivendo uma personagem que tem tudo a ver com ela.
Após muitas dúvidas ao longo da trama, perto do final o intuito do enredo é revelado e o plot provoca um impacto gigantesco em quem assiste. Vários personagens negros e indígenas estereotipados ganham vida e resolvem dar um basta diante de tantos anos protagonizando roteiros escritos por brancos que desrespeitam suas vivências e histórias. O diálogo da representação do traficante, da empregada doméstica, da sambista, do 'preto véio', da ama de leite, entre tantos outros tipos, provoca reflexão e indignação. Neusa Borges, Thalma de Freitas, Ju Colombo, MV Bill e Leandro Firmino são alguns dos que brilham. Já a cena final, da fazenda sendo incendiada pelos personagens com a ajuda de Janaína, arrepia, assim como o encerramento das gravações com a protagonista sendo aclamada por todos da produção. Tudo ao som de "Promessas do Sol", cantada por Milton Nascimento. Uma metalinguagem genial e também uma autocrítica pra Globo que por muitos anos reproduziu o que a série critica.
A antologia "Histórias Impossíveis", apresentadas nos especiais "Falas" deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luisa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fabio Rodrigo, com produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e direção de gênero de José Luiz Villamarim. O melhor episódio foi o que justamente fechou o ciclo.
Há uma frase de Dora, personagem de Fernanda Montenegro em Central do Brasil, de Walter Salles, que até hoje me emociona e perturba.
Sem se despedir do menino Josué, vivido por Vinicius de Oliveira, ela embarca, no desfecho do filme, em um ônibus caindo aos pedaços, de volta ao Rio de Janeiro, e lhe escreve uma carta de despedida. Nela, fala de sua já distante infância, e conta sobre quando o pai, maquinista ferroviário, a deixou, ainda pequena, fazer soar o apito do trem. Um momento perdido no tempo. Mas único, inesquecível para ela.
Dora pede ao garoto que, quando sentir falta dela, dê uma olhada no retratinho que tiraram juntos, e arremata a carta: “Eu digo isso porque tenho medo que um dia você também me esqueça. Tenho saudade do meu pai. Tenho saudade de tudo.”
Esse epílogo, embora triste, melancólico, embute uma ponta de esperança. Josué, órfão de mãe, encontra os irmãos mais velhos, e ganha a perspectiva de ter, enfim, uma família. E ela, antes uma mulher amarga, desesperançada e egoísta, parece reencontrar a sua humanidade.
Mas voltemos à frase de Dora, aquela em que a personagem diz ter medo do esquecimento e, ao mesmo tempo, sentir saudade de tudo. Quem já viveu um tanto, e tem, como eu, o hábito de olhar com frequência pelo retrovisor, de revisitar estradas percorridas, em busca de novos significados para antigas paisagens, sente, como a personagem de Fernanda Montenegro, o temor de que essa jornada seja, no fim das contas, uma longa estrada solitária. E, além da nostalgia, a tal “saudade de tudo” seja o único legado da existência quando finalmente chegarmos ao destino, seja ele qual for.
E, revi meio ao acaso, na televisão, trechos de Aquarius, longa-metragem do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho estrelado por Sonia Braga. A atriz paranaense, em estado de graça, é Clara, crítica de música aposentada que se recusa a deixar o apartamento onde viveu boa parte da vida, apesar de toda a pressão que sofre da construtora que pretende demolir o antigo edifício na orla de Recife para construir um grande empreendimento imobiliário. O filme fala de resistência e memória, tema que me é muito caro.
A Sonia chegou ao estrelato na televisão brasileira quando protagonizou, em 1975, a novela Gabriela - quando a histórica adaptação do romance de Jorge Amado estreou na TV aberta. O folhetim, escrito por Walter George Durst e dirigida por Walter Avancini, virou em pouco tempo um fenômeno cultural – e um acontecimento de grandes proporções na minha família. Só se falava das ousadas – e sensualíssimas, para os daquela, ou de qualquer época – cenas de amor entre a personagem-título, uma desinibida retirante do interior da Bahia, de pele morena e pés descalços, e o turco Nacib, que na verdade é sírio-libanês.
Gabriela e Nacib se deitavam e se amavam diante das câmeras – e do Brasil inteiro – ao som de temas de Dori Caymmi e de “Alegre Menina”, cujos belos versos eram cantados por um ainda quase desconhecido compositor alagoano chamado Djavan. E o país, em plena era da pornochanchada, se chocava e se deleitava, encantado em ver tudo aquilo no conforto do lar.
Talvez por causa desse alto teor erótico, considerado uma temeridade nos anos de chumbo de ditadura militar, eu era, digamos, “proibido” de ficar acordado até as 10 horas da noite para assistir ao folhetim. “Não é programa para criança”, cansei de ouvir. Mesmo assim, a maioria desafiava as regras domésticas e lembra de ter visto, escondido, muitos dos 130 e poucos capítulos de Gabriela.
Você se lembra disso: "Esperava minha mãe, que entrava no trabalho muito cedo, pegar no sono e, pé ante pé, saía do quarto sem fazer qualquer barulho. Sentava-me no tapete da sala de nosso apartamento em Copacabana, a dois, três palmos do primeiro aparelho de televisão em cores que tivemos, e mergulhava na Ilhéus dos anos 20. Inebriado."
E, logo em seguida, me levaram até ela: Sonia Braga, já com os cabelos alisados e bem mais curtos, à altura do ombro, se transmutando em Gabriela(1983) ou Dona Flor(1975) ou Solange(1978). Linda, de grandes olhos castanhos e muito simpática, Sônia Braga, Gabriela, Dona Flor e Solange tinham me beijado. E agora as quatro te afagavam os cabelos.
Vai Na Fé: A “trilogia” de superação feminina de Rosane Svartman chega ao apogeu
Autora da novela das 19 reforça seu lugar em sua “mitologia suburbana”, que inclui talento, fama, adolescentes, revelações, música… e sempre um deslizezinho no final.
Quando Vai Na Fé foi anunciada pela TV ela quase sofreu do recorrente equívoco de marketing que o braço streaming da empresa vive cometendo: foi “vendida” do jeito errado, como uma “novela evangélica”, provavelmente para que essa informação atravessasse a mídia e fosse buscar alguns espectadores perdidos para as terras bíblicas da Record. Na ocasião, fiz um texto sobre o quanto essa era uma estratégia equivocada, uma vez que por uma questão de compromisso artístico, a Globo jamais faria uma novela seguindo os padrões conservadores de uma novela da Record e, evidentemente, jamais interessaria o público que está lá buscando produtos de natureza estritamente gospel.
A culpa não era de Rosane Svartman e sua equipe, é preciso dizer. Por tradição crítica, os evangélicos apresentados em novelas da casa eram sempre personagens sem likeability, extremistas, castradores. A partir do momento em que a protagonista seria uma mulher evangélica, era natural pensarmos até que ponto a questão religiosa apareceria com destaque na trama. Estaríamos diante de evangélicos “esterilizados” ou simplesmente de pessoas realistas, que podem seguir uma doutrina religiosa sem que isso signifique excluir ou julgar quem não faz parte dela?
A segunda opção se tornou uma evidência assim que a novela começou. A família de Sol (Sheron Menezes) era uma família suburbana, preta, pobre, evangélica; ou seja, muito próxima da realidade da maioria dos brasileiros desse país. Contudo, a maneira elegante, delicada e justa com a qual a religiosidade desses personagens foi retratada aproximava o núcleo daquele mundo “como deveria ser”, muito mais do que como ele realmente é (e como pessoa gay criada dentro do seio de uma família evangélica, atesto o que quero dizer). Rosane Svartman estava fazendo aqui na nossa teledramaturgia o que já vem sendo feito em algumas narrativas estrangeiras nos últimos anos: naturalizar questões sociais sem polemizar sobre elas.
Nunca vimos uma cena em que um dos membros da família de Sol repreendesse outros personagens por não serem evangélicos como eles. A melhor amiga e a afilhada não eram convertidas; o melhor amigo era gay; o amor de infância era de uma religião de matriz africana… E nunca houve a conversa sobre estar cada um numa ponta desse quadrado (forçado, essencialmente, pelo organismo religioso como um todo). Todo mundo convivia bem, tudo era natural; não havia necessidade de discutir as diferenças, porque elas não eram o centro da narrativa. E assim, a primeira família evangélica simpática – e empática – da TV foi guiada por Rosane e sua equipe com extrema competência.
Svartmanverso
A autora, aliás, parece ter encontrado em Vai Na Fé o resultado quase completo de uma progressão ideológica que já aparecia discretamente em Totalmente Demais, sua primeira novela. Seu texto esperto e inteligente já estava lá, mas ainda era preciso que a mocinha pobre tivesse o rosto europeu de Marina Ruy Barbosa e o galã seguisse esses passos, estampado na beleza de Fábio Assunção. Mas, quando Bom Sucesso chegou, um tempo depois, apesar da protagonista ainda precisar dos olhos azuis de uma Grazi Massafera, ela já tinha uma família inter-racial. Houve uma tentativa um pouco fracassada de dar a David Júnior o destaque de um verdadeiro protagonista; mas o curso foi corrigido com o Ben de Samuel de Assis. Passo a passo, as transformações foram sendo feitas.
Contudo, assim como qualquer autor, Rosane tem suas recorrências. As protagonistas perdidas à margem e que sempre tem algum talento e uma pretensão artística; a mulher executiva complexa, que faz coisas ruins por bons motivos (Juliana Paes, Fabíola Nascimento, Carolina Dieckman); o vilão de terno que tem senso de humor (Armando Babbaioff, Emílio Dantas) e por aí vai… Apesar de amarmos Bruna (Carla Cristina Cardoso), foi até um pouco de exagero coloca-la para fazer uma personagem quase igual a que fez em Bom Sucesso.
Em Vai Na Fé esse mundo próprio do estilo de Rosane parece ter encontrado uma sintonia especial. Se em Totalmente Demais ela – por estar chegando – não podia ousar demais; em Bom Sucesso já começou a incutir elementos lúdicos particulares, ligados sempre a questões artísticas e clássicas. Na novela de Paloma foram os livros; com cenas e cenas inspiradas em grandes títulos da literatura e citações elegantes de autores de todas as nacionalidades. Em Vai Na Fé a estrela foi a música. Canções originais ganharam o país através de Sol e Lui (José Loreto); mas numa virada interessante (e um pouquinho mal dosada) personagens começaram a cantar clássicos, em sequências musicais que costuravam a história.
E tivemos espaço para a celebração da teledramaturgia também. Embora infelizmente a autora tenha escolhido o cinema para colocar a inesquecível Vilma (Renata Sorrah) em ação; a personagem passou a novela citando personagens da nossa história teledramatúrgica e fazendo com que o coração dos noveleiros batesse com um carinho especial por esse projeto. Não só Rosane e seu fantástico time estavam escrevendo uma novela divertida, esperta e coerente, como também estavam aproveitando para festejar esse gênero (que com o crescimento do streaming passou a ser desprezado, precisando cada vez mais de honrarias).
A Fé Não Costuma Falhar
Outro aspecto recorrente da obra de Rosane é a perda de fôlego na reta final, que atingiu toda sua trilogia e que acaba atrapalhando um pouco a experiência. Assim como em Totalmente Demais e Bom Sucesso, a protagonista estava em busca da realização de um sonho artístico. No caso de Sol é possível que no intuito de manter a situação sob controle, o sucesso da personagem tenha demorado demais para acontecer; questão essa que atribuo justamente a esse descarrilho nos 40 capítulos finais.
A progressão da carreira de Sol foi bloqueada pelo longo e penoso enredo envolvendo o julgamento de Téo; uma trama que durou muitos capítulos, trouxe discussões importantes, mas que foi encerrado sem o mesmo apuro comum ao texto da novela. Téo vencer o processo é totalmente coerente com a realidade, mas a falta de uma amarração narrativa para que ele pagasse por isso em seguida não é coerente com a ficção. A questão dos abusos foi esquecida na reta final, ele não passou por novo processo, não houve um encerramento digno para essa questão; e o que causou sua “falsa morte” e sua prisão foram as arestas do contrabando. Sempre tive a sensação de que Érika (Letícia Salles) se aproximaria dele, defendendo-o, para ser uma outra vítima; e que isso a acordaria (já que ela tinha um ótimo enredo como contraponto para as questões etaristas levantadas por Vilma). Mas, essa foi uma oportunidade perdida.
Mel Maia foi outra que sofreu com um planejamento difícil. A patricinha influencer tinha um grande potencial, já que estudava em meio a uma porção de bolsistas e tinha zero referência familiar. Os embates com Jennifer (Bella Campos) eram ótimos, a aproximação com a maravilhosa Dora (Claudia Ohana) também foi um acerto… Mas, no meio da novela Guiga foi desviada para um enredo estapafúrdio que foi parar no fim do fofíssimo casal gay formado por Guthierry Sotero e Jean Paulo Campos. Uma mancada quase imperdoável, que encerrou uma bem-vinda trama LGBTQ guiada por atores pretos e terminou por destruir a relevância dos que sobreviveram aos escombros.
É claro que estamos falando de uma novela, uma obra aberta, passível de interferências e pormenores que desconhecemos. Mas, ficamos nos perguntando por que a trama de adoção para o personagem de Marcos Veras não veio antes? Por que não exploraram a relação de Bruna com o filho da fofoqueira? Por que Vitinho (Luis Lobianco) nunca teve uma vida própria…? Talvez jamais saibamos quais as engrenagens que levaram a essas decisões. Elas estão aí e cada um decide qual vai ser o tamanho do pano que passará.
O meu “pano” eu precisei torcer bem para que ele desse conta do absurdo que foi o enredo do sequestro falso armado por Kate (Clara Moneke) e da maluquice que foi ver Jennifer e Rafael (Caio Manhente) achando que enganariam Téo. A maluquice dos irmãos atrapalhados ainda resultou nas acusações de contrabando, mas o falso sequestro não teve absolutamente NENHUM desdobramento coerente. Foi uma decisão narrativa tão ruim, mas tão ruim, que passou um bom tempo circulando pela internet como razão para o descrédito na novela. Rosane ainda tentou defender a ideia usando o passado de Kate para justificar sua irresponsabilidade; traindo a evolução da própria personagem.
E Kate foi o fenômeno que todos nós estávamos precisando. O trabalho de Clara foi comovente de tão especial. Kate era divertida, debochada, mas eram lindas a sensibilidade e a afetuosidade vislumbradas de um simples olhar, vazando de seus escudos de petulância. Se não fosse pelo famigerado sequestro falso, ela teria passado pela novela sem um arranhão sequer; já que, até mesmo na reta final, sua persona empresária foi simplesmente deliciosa de assistir. O trabalho de Clara e o de Carolina Dieckman (como Lumiar), fulguram entre os traços mais inesquecíveis de Vai Na Fé; uma pela expansão, outra pela introversão; mas ambas imperfeitas, humanas, adoráveis.
Apesar dos tropeços (que incluem um último capítulo abaixo da média), está consagrado que quando Rosane Svartman aparece no horário das sete, seremos presenteados com uma novela bem escrita, cuidadosa, com cara de Brasil, com o doce da mentira e a força que supera as realidades. A linda canção de abertura (talvez uma das melhores da história da teledramaturgia), diz perfeitamente que queremos ver nossa família bem, nossos amigos bem, todo mundo bem… E Vai Na Fé passou por nós como uma oração delicada, só fazendo bem, cheia daquele otimismo que acessamos na dúvida, porque o que nos move é o bom e velho “graças a Deus que eu não choro mais”.
Tudo sobre "No Limite - Amazônia" com o apresentador Fernando Fernandes, os diretores Rodrigo Giannetto e Gabriel Jacome, e o vice-presidente de criação da Endemol Allan Lico.
Fernando Fernandes falou do novo ambiente do reality: "Tudo é muito difícil, mas muito lindo. A Amazônia encanta e amedronta. É o 'No Limite' mesmo. Isso que é bonito daqui. A gente vem preparado achando que conhece alguma coisa da floresta, mas quando cai dentro dela... É uma mistura de amor com beleza e medo. Os desafios são interessantes e vários serão dados aos participantes para eles se resolverem na convivência, no acampamento, enfim. O que eles vão fazer com cada conquista e cada derrota. Como farão as estratégias para isso. Vamos dar ênfase a essas estratégias. Minha vida é me adaptar o tempo inteiro e podem ter certeza que essa temporada está diferente e radicalmente nova e intensa.", se empolgou o apresentador.
O diretor Gabriel Jacome soltou alguns spoilers: "Um dos grandes diferenciais da Globo é escutar seu público. A gente tá sempre observando os comentários, faz muita pesquisa e tá sempre buscando incorporar. O entretenimento está sempre em transformação e vou aproveitar para dar um spoiler. A final sempre foi algo polemizado porque são várias finais no mundo no 'Survivor' e uma das coisas que escutávamos muito era sobre a votação ao vivo com participação do público e que isso tirava a justiça em torno da trajetória do participante.
A gente optou nessa temporada em não ter a participação do público. A final agora será definida por uma prova e são as habilidades que farão o vencedor do 'No Limite - Amazônia'. Escutamos o público. Vamos nos aproximar mais do formato original do 'Survivor'. Vai ter Ídolo de Imunidade escondido!", adiantou.
O vice-presidente de criação da Endemol, Allan Lico, complementou: "Estamos trabalhando essa edição há aproximadamente um ano. Também escutamos o público sobre a convivência dos participantes. Muitos reclamavam que não tinha muito esse foco e agora vamos ter. Vamos ter muitas referências ao 'Survivor'. Vai ter gente identificando 'ah, mas isso é referência da temporada tal', enfim. Estamos muito feliz em trazer de volta a origem, ao 'No Limite' raiz. Quem é fã do formato vai reconhecer muitos momentos do clássico. A gente tá trazendo esse ano muito forte a questão da convivência.", ressaltou.
O diretor geral da Endemol, Rodrigo Giannetto, também fez questão de acrescentar: "É importante mesmo que os participantes terminem a trajetória deles de uma forma mais justa. E uma grande novidade é como inserimos o telespectador na experiência agora. O público não tem a força mais da decisão do voto, mas ele segue se sentindo dentro do programa e terá uma nova experiência assistindo ao 'No Limite'. Vão se sentir andando com o Fernando, uma experiência mais imersiva nas provas, enfim, uma inovação trazer essa sensação para o público. A escolha da Amazônia é porque é um dos maiores centros do mundo e temos todo o respeito que esse espaço merece ter. A gente escolheu uma região de um dos maiores fenômenos naturais que é a inundação da floresta. Um dos ambientes mais desafiadores do mundo. Nos adaptamos e também na cultura das provas. Um trabalho feito em conjunto. As provas serão desafios amazônicos. Estamos emocionados com o que está acontecendo no programa. É a produção mais desafiadora das nossas vidas. Só tenho a agradecer todo mundo que topou, desde os profissionais até os participantes. É algo realmente novo. Todos nós só temos a ganhar, inclusive o público.", finalizou.
O "No Limite - Amazônia" estreia no dia 18 de julho de 2023, nesta terça. E pela primeira vez sem a direção de Boninho.
Exibida originalmente de 10 de maio de 1999 a 28 de janeiro de 2000, com 226 capítulos, "Força de um Desejo" foi uma novela das seis marcada pelo capricho e grande elenco. No entanto, não é um folhetim muito lembrado pelo grande público e nunca tem seus personagens citados em homenagens televisivas sobre a história da teledramaturgia. A reprise de 2005, no "Vale a Pena Ver de Novo" já tinha provado que o 'esquecimento' é injusto e a reexibição no Canal Viva, iniciada em outubro de 2022 e encerrada nesta quinta-feira (13/07/2023), comprovou o fato.
Escrita por Gilberto Braga, Alcides Nogueira e Sérgio Marques (dirigida por Marcos Paulo e Mauro Mendonça Filho), a novela foi a terceira mais longa da Globo nos anos 90 ----- ficou atrás de "Barriga de Aluguel" (243) e "Quatro por Quatro" (233). Planejada para 179 capítulos, a história acabou esticada a pedido da emissora, o que resultou em reclamações de Gilberto e sua equipe na época. Porém, o esticamento não se deu em virtude do sucesso e, sim, por conta de planejamentos na grade do canal. A produção teve 26 pontos de média geral, índice considerado baixo na época. É até compreensível o certo afastamento do público porque a história tem uma energia pesada e algumas vezes parece as extintas minisséries que eram exibidas após as 23h. Não é um enredo leve e tem pouco humor.
Todavia, o conjunto da obra transborda qualidades. Os autores conseguiram criar personagens densos e um enredo que não caía no marasmo, mesmo em uma época onde a agilidade dos folhetins praticamente inexistia. Era comum toda novela ter longos meses de ritmo arrastado.
Além dos conflitos atrativos, a história tinha os maiores acertos de um bom roteiro: vilões bem construídos e um casal de mocinhos com química. Aliás, a junção de Gilberto com Alcides e Sergio teve grande importância neste quesito. Gilberto sempre foi expert na criação de personagens desprezíveis, mas falhava constantemente na parte dos protagonistas. Com a ajuda de Alcides e Sergio conseguiu construir seu melhor par de mocinhos na carreira: Ester Delamare (Malu Mader) e Inácio Sobral (Fábio Assunção).
Aliás, o enredo é um dos clichês mais conhecidos: pai e filho se envolvendo com a mesma mulher, ainda que na teledramaturgia o mais comum seja mãe e filha se apaixonando pelo mesmo homem. Ambientada no século XIX, Vale da Paraíba, Rio de Janeiro, a novela conta a história do amor vivido por Inácio e Ester. O rapaz é o filho predileto de um dos maiores fazendeiros da região e conhece a mulher de sua vida quando a encontra no salão mais famoso da Corte. A elegante proprietária do local é uma cortesã que provoca a admiração de todos os homens do lugar. Os dois se apaixonam perdidamente a ponto da personagem aceitar largar aquela vida para ser a esposa de Inácio.
Porém, os planos são arruinados quando o estudante recebe a notícia da morte de sua mãe, a baronesa Helena (Sônia Braga em uma breve participação), e volta para a fazenda para ajudar o pai nos negócios da produção de café. Ele acaba contando que está apaixonado, mas a conversa é ouvida pela sua avó, a perversa Idalina (Nathalia Timberg), que forja uma carta e envia para a tal pretendente mesmo sem saber a sua identidade. Afinal, o objetivo da vilã é casar o neto com a fútil Alice (Lavínia Vlasak), filha de Higino Ventura (Paulo Betti), rival e grande inimigo do Barão Henrique Sobral (Reginaldo Faria), o genro que sempre detestou. Vale ressaltar também todos os meandros que envolvem a patricinha, que engravida de Aberlado porque sempre soube que não eram irmãos e usa a criança para prender Inácio.
Os mocinhos acabam se separando e passam a se odiar a ponto de Ester iniciar uma procura para se vingar do rapaz, já que pensa que foi abandonada.
Enquanto planeja a vingança, acaba conhecendo Henrique, que se encontra de luto pela perda da esposa, a quem nunca perdoou pela única traição que originou Abelardo (Selton Mello), filho da falecida baronesa com Higino. Um se torna o apoio emocional do outro até que o barão se apaixona por Ester, que se casa com o poderoso fazendeiro, ainda que mais por admiração e amizade do que por amor. Obviamente, quando vai morar com o novo marido se depara com Inácio e tudo vem à tona, incluindo a armação que vitimou o amor de ambos. Os dois passam a ter que lidar com a dolorosa convivência diária e Ester precisando engolir a arrogância e o deboche de Idalina, que nem imagina que era a pessoa que afastou de seu neto.
O enredo vai se entrelaçando de uma forma muito habilidosa e dá gosto de acompanhar, incluindo as vilanias de Idalina e Higino. Nathalia Timberg e Paulo Betti ---- que ganhou o seu melhor personagem da carreira ---- estão irretocáveis.
Há ainda uma ótima trama protagonizada por Cláudia Abreu, que vive Olívia
, uma golpista que surge na cidade e depois todos descobrem que se trata de uma escrava branca fugida. O enredo é claramente inspirado no clássico "Escrava Isaura", novela de 1976, baseada no livro "A Escrava Isaura" e adaptada pelo mesmo Gilberto Braga em 1976.
É quase um folhetim paralelo, já que a personagem é uma espécie de mocinha que se torna vítima da obsessão de Higino Ventura. E a personagem ainda tem um lindo romance com o médico Mariano, vivido por Marcelo Serrado. Também há um núcleo dos escravizados, cujas cenas quase sempre são bastante pesadas, com direito a surras de chicote e muitas humilhações. Chico Diaz está brilhante como o feitor Clemente, enquanto Chica Xavier (Rosália), Sérgio Menezes (Jesus) e Ana Carbatti (Zulmira) emocionam. Já Isabel Fillardis é responsável pelos raros momentos cômicos da trama na pele da interesseira Luzia. Aliás, outra atriz que dá show na comicidade é Louise Cardoso, que rouba a cena como Guiomar, ex-cafetina e braço direito de Ester. A veterana forma uma divertida dupla com Daniel Dantas, intérprete do jornalista Bartolomeu.
O elenco ainda tem vários outros nomes que se destacam, como Júlia Feldens (Juliana), José de Abreu (em uma breve participação na pele do português Pereira), José Lewgoy (Felício), Cláudio Correa e Castro (Leopoldo), Nelson Dantas (Dr. Xavier), Antônio Grassi (Vitório), André Barros (Trajano), Dira Paes (Palmira), Luiz Magnelli (o barbeiro Gaspar), Rosita Tomaz Lopes (Fabíola), Alexandre Moreno (Cristóvão), Carlos Eduardo Dolabella (Comendador Queiroz), Nill Marcondes (Zelito), Otávio Augusto (Dr. Eurico), Yaçanã Martins (Socorro), Mário Lago (em uma luxuosa participação como Dr. Teodoro), Helena Fernandes (Clara), Delma Silva (Diva), Clemente Viscaíno (Inspetor Bustamante), entre outros. Vale uma menção especial ao talento de Denise Del Vecchio, que brilha na pele da desbocada Bárbara, esposa de Higino, que transborda burrice e falta de educação. A personagem ainda é a responsável pelo maior 'plot' do enredo porque é vista ao longo de toda história
como uma completa idiota e no final é revelado que foi a assassina de Henrique Sobral e responsável por todas as mortes suspeitas que ocorreram ao longo do folhetim ----- a produção tem um 'quem matou?'
na reta final, fazendo jus ao estilo de Gilberto Braga.
"Força de um Desejo" é uma novela que esbanja capricho e merecia ser mais lembrada pelos telespectadores. Embora transborde qualidades, está na lista de produções injustiçadas, tanto na audiência quanto na memória do grande público. A reprise no Viva foi um presente para quem assistiu e esqueceu de muitos detalhes e para quem ainda não tinha prestigiado uma obra tão bem escrita, atuada e desenvolvida.
Beleza Fatal
4.1 109"Beleza Fatal" foi um show de 40 capítulos
A primeira telesserie da Max, plataforma de streaming da HBO, estreou no dia 27 de janeiro, após muitos adiamentos e incertezas. As gravações dos 40 capítulos duraram por volta de sete meses e mesmo depois da finalização dos trabalhos não havia uma data certa para sua exibição. Chegou a ser anunciada para 2024, mas a produtora decidiu deixar para 2025. Na sexta-feira (21/03), foi exibido o último capítulo, após o esquema de 5 capítulos semanais disponibilizados toda segunda-feira --- estratégia quase igual a do Globoplay.
Com criação e roteiro de Raphael Montes e direção geral de Maria de Médicis, a produção marca a aposta da Warner Bros.Discovery no gênero, sendo a primeira novela original nacional da plataforma na América Latina. "Beleza Fatal" traz no enredo uma história clássica de busca por justiça que se passa no agitado mundo da beleza e dos tratamentos estéticos.
Sofia (Camila Queiroz) viu sua mãe ser presa injustamente por causa de sua tia Lola (Camila Pitanga). Acolhida pela amorosa família Paixão, liderada por Elvira (Giovanna Antonelli), que está sofrendo porque a filha Rebeca (Fernanda Marques) foi parar em um hospital e morreu, após uma cirurgia plástica mal sucedida, se unem na dor e indignação contra os culpados pelas suas tragédias.
Com a ajuda da família Paixão, Sofia quer destruir Lola e todos aqueles que lhe fizeram mal. Em sua obsessão, ela reencontra um amor de infância, questiona os próprios passos e descobre que fazer justiça custa um preço muito alto.
A produção lembra muito o fenômeno "Avenida Brasil", de João Emanuel Carneiro, exibido na Globo em 2012, que por sua vez também é bastante parecido com a série americana "Revenge". E realmente há inúmeras similaridades ao longo da história, ainda que a saga de vingança seja um dos maiores clichês da teledramaturgia. Tanto que, assim como na obra de sucesso protagonizada por Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves), apenas as crianças crescem com a passagem de tempo, já os demais personagens continuam exatamente iguais, sem qualquer caracterização de envelhecimento. E a mocinha também se aproxima da vilã e cria um falso vínculo de amizade e confiança para poder traí-la na melhor oportunidade. A estruturação é igual até mesmo nos tons acima de vários perfis da história, que algumas vezes mergulham na caricatura. Mas não chega a ser um demérito porque o autor conduziu seu roteiro com competência através de ótimos ganchos e conflitos deliciosos.
O grande atrativo da trama é justamente a vilã. Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque. Ao lado de Benjamin Argento, ela projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou. A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos.
A novela coloca logo no início o foco no embate entre Sofia e Lola, cujas vidas se cruzam em um turbilhão de injustiças e ambições conflitantes. O autor equilibra bem o protagonismo entre as duas. Até a metade da novela é de Lola o maior destaque e Camila Pitanga rouba todas as cenas. Depois começa uma ascensão de Sofia e quanto mais se aproxima de sua algoz, mais se parece com ela e tem seu caráter moldado ao longo de seu plano de vingança. É através da mudança de arco dramático da mocinha que Camila Queiroz sobressai e mostra uma faceta até então desconhecida do público: o de vilã. Já Elvira nunca consegue o tamanho do protagonismo que as outras duas têm, apesar de estar presente na abertura e dividir o espaço na logo da obra. Ainda assim, Giovanna Antonelli brilha e domina todas as aparições da personagem, que é carregada no drama e no humor. A intérprete se sai bem em ambas situações e forma uma dupla harmônica com Augusto Madeira. Aliás, o Lino é o melhor coadjuvante da trama. O ator é uma figura quase onipresente em filmes, séries e folhetins, mas ganhou seu melhor papel até hoje em "Beleza Fatal".
Há também uma gama de bons conflitos nos demais núcleos, que se conectam com o central e em nenhum momento parecem avulsos ou utilizados apenas para preencher o tempo dos capítulos. Toda a engenharia envolvendo a família Argento desperta interesse desde o início e ao longo do tempo os segredos obscuros daquelas pessoas vão sendo expostos através de ótimas viradas, com direito a ganchos de impacto. A personagem que mais conquistou o público foi Gisela (Júlia Stockler), uma mulher que vivia uma relação abusiva e tinha transtorno de imagem por culpa do marido, Rog. A sua volta por cima é de lavar a alma, com direito a uma vingança satisfatória e um final feliz. O patriarca Átila também é outra figura que proporciona excelentes cenas ao grande Herson Capri, há tempos afastado das novelas. O vilão que transbordou transfobia e encobriu inúmeros crimes do filho, Benjamin, sempre sofreu com a culpa pela morte da filha e era um homossexual enrustido. Para culminar, ainda precisou lidar com a volta da esposa, Ana (Monica Torres), que se fingiu de morta por anos. Vale destacar ainda a ousadia do autor em colocar um clima de flerte constante entre Benjamin e Rog, a ponto da última cena juntos ter resultado em um beijo. Algo impossível de ser visto na atual gestão conservadora da Globo. Aliás, a própria transa de Sofia e Lola foi um dos momentos mais corajosos da narrativa por se tratar de um quase incesto lésbico.
O único conflito um pouco repetitivo foi o romance de Tomás e Andrea (Kiara Felippe). O plot do seu passado com a sogra também se mostrou um ponto fora da curva. Soou gratuito e apenas para provocar uma surpresa a mais na reta final. Outro fator que precisa ser mencionado é a quantidade de furos no roteiro. O telespectador precisou voar muito para engolir diversas situações. A principal delas foi a abertura de portas sem a verificação no chamado 'olho mágico'. É verdade que o recurso é amplamente utilizado na teledramaturgia porque há a necessidade do fator surpresa e muitos autores até brincam no texto quando citam que o 'porteiro nunca avisa no interfone' ou algo do tipo. Porém, houve um excesso na trama. Praticamente em todos os capítulos tinha alguma cena assim. E o que foi a motivação de Cléo (Vanessa Giácomo) para ter assumido o crime cometido por Lola? Ela achou mais vantajoso ir para a cadeia e deixar a filha órfã, mas estudando em um colégio particular pago pela Lola? Não era bem melhor ter ficado livre e ao lado da menina, ainda que a deixasse em uma escola pública? Outra situação foi o conflito de interesses de Gabriel. O filho de Lola jamais poderia investigar os crimes da mãe, da Sofia ou da própria família por razões óbvias. Se ao menos tivesse feito tudo de forma ilegal, dava para relevar. Mas o rapaz fazia seu trabalho usando toda a estrutura da Polícia Civil porque esbanjava integridade. O mais absurdo foi quando o policial conseguiu tirar a Sofia da cadeia com um telefonema. Não dá para esquecer também da sequência em que Elvira roubou toda a fortuna de Lola do banco. A cena foi divertida, mas absurda. No entanto, todas essas falhas são amenizadas diante da boa condução do autor, que criou personagens atrativos e se preocupou em preencher todos os capítulos com bons embates, viradas bem amarradas e ganchos que mantiveram o interesse do telespectador. Tanto que dava para maratonar a novela com facilidade.
O último capítulo deixou algumas pontas soltas, vide o desfecho a respeito da fortuna no exterior deixada por Átila, com direito a uma espécie de corrida de golpistas atrás do tesouro. Com quem Ramona (Patricia Gasppar) falava ao telefone? Por que Nara (Georgette Fadel) apareceu do nada no mesmo local? Ana era mãe de Benjamin e não herdou parte da clínica? Marcelo ia para Roma por pura coincidência? Enfim, ficou em aberto. Os demais finais fecharam seus respectivos ciclos. Elvira e Lino finalmente tiveram paz com a morte dos responsáveis pela perda de Rebeca (Fernanda Marques) e Carol (Manu Morelli) herdou a clínica Argento em memória ao legado de sua falecida mãe. Tomás se casou com Andrea e a cena emocionou. Já o clássico final feliz de folhetim não aconteceu com a mocinha, o que foi mais um acerto do autor. Sofia se 'fantasiou' de Lola e matou Benjamin para que a vilã fosse julgada e condenada por um crime que não cometeu, exatamente como aconteceu com sua mãe, Cléo. A melhor punição possível. Porém, Sofia não ficou com Gabriel e nem com a sua família. Ficou sozinha e infeliz. O confronto final das personagens foi a melhor cena de Camila Queiroz e Camila Pitanga. A mocinha debochou da vilã, que devolveu a ironia a respeito da solidão que irá persegui-las até o fim. Afinal, uma estará para sempre ligada a outra. A última sequência da novela também merece menção: Sofia vendo uma menina vendendo quentinhas ao lado do presídio e logo depois se deparando com a sua figura na infância, representada por Melissa Fernandes. Ela viu a sua inocência perdida.
"Beleza Fatal" foi uma telesserie de 40 capítulos. Após o sucesso conquistado através de muitos livros lançados e da série "Bom Dia, Verônica", o autor provou que também sabe fazer novela. É importante ressaltar que produção teve supervisão de Silvio de Abreu, o que fez toda diferença diante de sua experiência como novelista em mais de 40 anos de Globo. A direção de Maria de Médicis (outra profissional experiente que trabalhou por muitos anos na líder) foi mais um êxito da trama, que ainda teve a supervisão de Mariano Cesar, Monica Albuquerque e Anouk Aaron por parte da Warner Bros.Discovery.
PS: Final perfeito,
a vingança quando te consome só leva a isso mesmo, solidão, rejeição...,custou tudo oq ela tinha,ficou só e sem nada
Final como deveria ser, Lola foi incriminada por um assassinato que não fez ok,mais de alguma forma paga pelo assassinato do primeiro marido e deixar a prima na cadeia por um crime que não cometeu,Sofia ficou sozinha também foi merecido,porque perdeu a noção da vingança e ficou na obsessão, na minha opinião no momento que ela foi para cama com Benjamin e tbm com Lola ela passou do limite não havia necessidade, não deu valor aos pais adotivos ao amor de infância então era o mínimo ficar só.
Beleza Fatal
4.1 109Beleza Fatal: como se mede o sucesso sem números?
Beleza Fatal não é nem uma obra do realismo fantástico nem é canonicamente alegórica, mas ela foi aceita por grande parte do público como se fosse. A distensão de realismo a que a novela se propôs foi proporcionalmente equivalente ao desejo dos espectadores de se permitirem esse “voo”. E para conseguir esse voto de confiança, Raphael e Maria atacaram com elementos eficazes, como uma trama de vingança entre mulheres (que ajuda a construir expectativa), uma vilã cômica, núcleos paralelos interconectados e momentos que poderiam viralizar pela internet.
Desde seu primeiro capítulo, Beleza Fatal cometeu erros grosseiros de condução. Mas, quando a receita do “ela vai voltar para se vingar” se ajusta corretamente entre o texto e a direção, o público se compromete a perdoar. Quando esse processo é ajudado por personagens limítrofes dizendo barbaridades e injustiças sendo cometidas com a promessa da revanche, o acerto é quase uma certeza. Quando Raphael Montes decidiu-se por uma Lola em descontrole; uma Elvira carismática e uma Sofia justiceira; ele apostou nesse “pacto”.
Com um material na mão que era sempre excessivo, Camila Pitanga brincou como se a novela fosse um playground. Dosou corretamente com as dores de Lola, mas quando pesou a mão nunca foi por muito tempo. Giovana Antonelli não foi sempre bem-sucedida em imprimir uma suburbana, mas a parceria com Augusto Madeira funcionou para além do esperado. Ele foi a doçura que a novela precisava. E liderando tudo isso, Camila Queiroz sustentou Sofia com maturidade; e fez uma transição segura entre a mulher que busca justiça e a mulher que viciou-se na adrenalina da farsa.
Em volta, a novela acertou em sempre fazer personagens se cruzarem e se conectarem. Foi uma ótima oportunidade para Herson Capri sair do lugar comum; para Caio Blat e Marcelo Serrado se divertirem com um homoerotismo que orgulharia Ryan Murphy; para Julia Stockler construir uma Gisela surpreendente e para Manu Morelli sustentar uma Carol que era a única verdadeira “mocinha” da história. A trama de Murilo Rosa carecia de certo apelo emocional e tanto Enzo Ramoní quanto Breno Ferreira talvez precisassem de uma direção mais severa. Enzo, principalmente, não tinha maturidade ainda para sustentar o peso de Gabriel. Mesmo assim, nada foi suficientemente problemático para comprometer o andamento da novela.
O trabalho de Raphael Montes foi carimbado por uma infinidade de influências que todos os fãs de novela conhecem bem. Ali havia a trajetória de vingança feminina simbiótica típica de João Emanuel Carneiro; a família trambiqueira típica de Sílvio de Abreu; as questões sociais típicas de Gloria Perez; o exagero vilanesco visual e textual típico de Aguinaldo Silva e as personalidades inescrupulosas da elite carioca, típicas de Gilberto Braga. E tudo isso com a assinatura do próprio Raphael, mais conectado à linguagem das redes que todos eles; e aproveitando a liberdade do streaming para fazer o que a TV aberta jamais faria.
Maria de Medicis reconheceu essa receita e tirou tudo que pôde dela. É verdade que a novela penou um pouco com baixo orçamento (ela saiu pouco do estúdio e tinha dificuldades de representar corretamente o tamanho da Lolaland). E com o último capítulo, avançou tão rápido que acabou sendo menos convincente que em qualquer outro de seu bloco de capítulos. Os capítulos, aliás, provaram que uma quantidade menor é bem-vinda. Porém, talvez 10 a mais tivessem ajudado a novela a fluir melhor na reta final. 100 é muito, 40 é pouco. 60 talvez seja o número mágico.
E sim, a trama teve dezenas de “furos” no roteiro. Mas, não; eles não seriam “criticados se estivessem numa novela do Walcyr”, porque eles já estiveram e foram perdoados da mesma maneira (A Dona do Pedaço e O Outro Lado do Paraíso foram gigantes). A questão é que talvez Beleza Fatal dialogue um pouco melhor com as exigências do internauta, que se sente menos, dessa vez, o voyer de uma linguagem feita para o “sofá”. Se isso representa sucesso, não há como dizer com toda certeza. Há, claramente, uma quentura diferente, uma inquietação e uma excitação suficientemente grandes para provocar os esperados posts de “ah como esse povo é emocionado”.
Mais do que tentar desvendar o sucesso de Beleza Fatal, talvez devêssemos só abraçar a dúvida como uma evidente demonstração de êxito. Sim, porque se há uma coisa sobre a qual não se tem dúvida nenhuma, é de que o fracasso é sempre indiscutível.
PS: O triunfo do invisível.
O momento de estrear Beleza Fatal na Max não poderia ter sido mais propício. A Rede Globo, grande produtora de novelas do país, tem enfrentado momentos difíceis com o gênero desde que a pandemia acabou. Que fique claro que essa suposta “dificuldade” é muito mais em termos de alcance popular do que mercadologicamente falando. As novelas da casa ainda rendem bons contratos publicitários, uma audiência estável (em quase todos os casos); mas, falham num setor que pode ser preocupante a longo prazo: crítica e repercussão.
Vejam só… os títulos do pós-pandemia dos três horários principais dizem bastante sobre o atual momento da empresa.
- Às 18 as obras foram:
Nos Tempos do Imperador (um fracasso retumbante e traumático)
Além da Ilusão (respeitada pela crítica e com um público pequeno, mas fiel)
Mar do Sertão (não causou nenhum barulho, mas era correta)
Amor Perfeito (outro título esquecível)
Elas Por Elas (mais um fracasso de proporções traumáticas)
No Rancho Fundo (uma sequência inexplicável, mesmo que digna)
- No horário das 19 as obras foram:
Quanto Mais Vida Melhor (um acerto que passou despercebido)
Cara e Coragem (completamente esquecível)
Vai na Fé (essa sim, um sucesso de público e crítica)
Fuzuê (um desastre em todas as esferas)
Família é Tudo (nada nem minimante marcante)
- No horário das 21 as obras foram:
Um Lugar ao Sol (uma promessa que se diluiu no meio do caminho)
Pantanal (uma acertada decisão de remake, que funcionou bastante)
Travessia (uma novela inexplicavelmente ruim, quase um delírio)
Terra e Paixão (sustentou-se em um ou dois núcleos populares)
Renascer (uma novela bem-feita, mas inexpressiva)
Atualmente, os horários das 18 e 19 vivem momentos de fôlego, com Garota do Momento e Volta por Cima. Contudo, o horário das 21 amarga aquela que talvez seja a pior novela de sua história, a tenebrosa Mania de Você. Além disso, em retrospectiva, não há muitas cenas ou personagens marcantes saídos dessa lista. Talvez a Kate de Vai Na Fé e o casal Kelmiro de Terra e Paixão resistam ao tempo; mas, é seguro dizer que dentro de uma pequena margem de erro, a teledramaturgia enfrenta mais obstáculos na hora de ser marcar no imaginário popular.
Entre remakes e fracassos, ficou a sensação de que o departamento enfrenta uma “crise”. Geralmente, a ideia que as pessoas têm de uma boa novela se divide em duas vertentes: a primeira considera que precisamos de mais realismo, textos apurados e atuações dramáticas, mas sóbrias; tal qual se podia encontrar em Manoel Carlos no passado e em Licia Manzo e Rosane Svartman no presente. A outra já considera que o que precisamos é do exagero visual e do delírio cômico de Aguinaldo Silva, Silvio de Abreu e Walcyr Carrasco. Mas, é geralmente assim: ou é bom porque soa intelectual ou é bom porque é mais alegoria.
Uma olhada rápida em Beleza Fatal já adianta que Raphael Montes e Maria de Medicis escolheram a alegoria. As pessoas conhecem essa expressão do carnaval, em que fantasias e carros expressam a verdade por uma ótica lúdica, não-precisa, que ainda desperta emoções, mas que não vem do literal. Na dramaturgia, mesmo que enraizada em bosques diferentes, a alegoria é parte do DNA do realismo fantástico ou mesmo da simples “licença poética”. Não é para ser “de verdade”, mas o que provoca é absolutamente verdadeiro.
Curiosidades sobre Scars of Beauty (Cicatrizes da Beleza):
A primeira novela brasileira a se tornar um sucesso estrondoso no streaming.
A produção foi temporariamente suspensa em setembro de 2022, devido à fusão da Warner Bros. e Discovery +. No entanto, o criador Raphael Montes continuou escrevendo todos os episódios e já havia entregue a série completa quando ela finalmente recebeu sinal verde. Muitos atores saíram do elenco durante esse hiato, como Daniel de Oliveira (substituído por Caio Blat) e Alice Wegmann.
O criador Raphael Montes supostamente teve a ideia para a história quando chegou em casa e viu seu marido usando uma máscara facial de LED. Assim, ele decidiu criar uma história sobre a indústria da beleza, particularmente o mundo da cirurgia plástica.
Giovanna Antonelli substituiu Karine Teles no papel de Elvira.
O criador Raphael Montes é um grande fã de Silvio de Abreu, ex-supervisor de telenovelas do Max e famoso criador de sucessos da TV brasileira como Rainha da Sucata (1990), The Next Victim (1995) e Torre de Babel (1998).
A repercussão desta série causou mudanças na exibição de Vale Tudo (2025), da Globo. A Globo decidiu disponibilizar os seis primeiros episódios da série gratuitamente em seu próprio streaming, o Globoplay.
Originalmente intitulado "Segundas Intenções".
Encontro com Patrícia Poeta
1.0 1‘Encontro com Patrícia Poeta’ ruma ao abismo dos programas policiais!
No programa 'Encontro', a apresentadora Patrícia Poeta foi duramente criticada por ter revelado, ao vivo, detalhes de um assassinato para o pai da vítima.
Há um buraco atualmente na grade da TV Globo pela manhã. Isso pode ter começado em 2022, com a decisão de inversão de dois programas matutinos de perfil mais destinado a mulheres que estão em casa. O Encontro (outrora Encontro com Fátima Bernardes, que passou a ser apresentado por Patrícia Poeta e Manoel Soares em 2022 e, depois, só por Patrícia) foi invertido em seu horário com o Mais Você, programa que Ana Maria Braga apresenta desde 1999.
Na época, a alteração foi justificada assim pela emissora: “a mudança do local de transmissão do programa para a capital paulista vai possibilitar maior sinergia com a produção do Mais Você, em busca de uma pauta matinal mais integrada. ‘Com isso, estamos reforçando a complementaridade dessas produções, cujas equipes poderão trabalhar ainda mais entrosadas'”, destacou o diretor de gênero de variedades, Mariano Boni, em matéria do G1.
Ao longo dos últimos três anos decorridos desde então, pode-se dizer que a atração criada para Fátima Bernardes quando ela resolveu migrar para o entretenimento se desconfigurou tanto que acabou virando uma espécie de Frankenstein em que as partes não se conectam. Quem acompanha a pauta do Encontro, vai notar que os assuntos policiais têm se tornado cada vez mais recorrentes, e Patrícia Poeta é com constância colocada para adentrar em uma editoria que, historicamente, nunca foi de interesse da Globo.
Só que há várias nuances nessa escolha de programação que simplesmente não se encaixam. Para começar, o Encontro ainda mantém o seu cenário leve de entrevista em sofá, enquadramento normalmente explorado pelos matutinos dedicados às donas de casa. Há ainda fofocas de celebridades, cobertura de BBB, e tudo isso é escalonado com enorme facilidade com a exploração de casos policiais que, outrora, pareciam só aparecer nos Brasil Urgente e Balanço Geral mais típicos de outras emissoras.
Nada faz sentido ali, mas o mais complicado é que o programa parece disposto a caminhar para destinos ainda piores.
Patrícia Poeta e o “chá revelação de assassinato”
Caso pode ajudar a explicitar os atuais problemas do ‘Encontro’. Imagem: Reprodução.
Na semana passada, um episódio envolvendo Patrícia Poeta e seu programa gerou uma repercussão nacional extremamente negativa. O Encontro embarcou (é claro) na cobertura do assassinato da adolescente Vitória, ocorrido na cidade de Cajamar, no interior de São Paulo. Trata-se de uma tragédia horrorosa repleta de elementos que a tornam um “produto” perfeito para o sensacionalismo: uma morte de uma jovem com requintes de crueldade e várias peças faltando, fazendo com o que o jornalismo tenha pistas novas todos os dias para continuar explorando.
O programa de Patrícia Poeta conseguiu uma entrevista ao vivo na sexta-feira, dia 7 de março, com Carlos Alberto Souza, o pai de Vitória. Um repórter esteve na casa do homem enquanto a apresentadora, no estúdio, fazia interlocuções com o link ao vivo. Em certo momento, ela diz: “acabei de receber a notícia aqui, seu Carlos, que a Polícia Civil disse agora há pouco ter esclarecido o assassinato da sua filha. Foi um ‘crime passional’, segundo a polícia o assassino é um homem chamado Daniel, que tinha um relacionamento amoroso com o ex-namorado da Vitória”. Em seguida, confronta-o para saber se ele conhece esse acusado e o que acha dessa informação.
A entrevista do Encontro foi severamente criticada nas redes sociais, seja por outros jornalistas quanto pelos usuários que dão seus pitacos de forma aleatória. Houve quem a categorizasse, de maneira debochada, de “chá revelação de assassinato”, uma vez que a apresentadora fez que o pai recebesse informações (e o mais importante aqui: reagisse a elas) que deveriam ter vindo até ele pela polícia, em outro contexto.
Matérias que circularam na imprensa afirmam que todo o episódio também traz à tona atritos nos bastidores entre a apresentadora e a direção do programa sobre a decisão de agir de tal maneira. Também aventou-se que a TV Globo orientou Patrícia Poeta a não pedir desculpas à família, de modo a assumir publicamente o erro, optando por tentar fazer a polêmica rumar ao esquecimento.
São muitas questões aqui que iriam além de apenas uma análise. Mas penso que há pelo menos duas que poderiam ser destacadas. A primeira, conforme já explorei, diz respeito à dificuldade do Encontro de achar o seu caminho, transitando de maneira oscilante entre o entretenimento familiar e o policialesco de mais baixa estirpe. É difícil de entender qual seria o interesse da Globo em investir nisso (além da resposta mais óbvia, que são melhores índices de audiência).
Mas chamo também a atenção para algo menos óbvio, que é esse fetiche televisivo pelo ao vivo – o que, ao fim das contas, é o elemento mais essencial desse veículo: a possibilidade de transmitir um fato no exato momento que ele acontece no mundo.
Mas não há fato jornalístico aqui, mas sim apenas a sede de explorar ao máximo que for possível a emoção de um pai ao ser assoberbado pela pior das tragédias, a perda de um filho. Por que a Globo, em pleno 2025, resolve utilizar um link ao vivo para uma entrevista desse tipo?
A marca da maior emissora do país não seria justamente a de jamais utilizar estratégias sensacionalistas desta qualidade, como é feito com tanta frequência pelas emissoras de menor reputação? São perguntas que merecem uma avaliação da própria empresa. Até que isso ocorra, o Encontro poderia talvez ser chamado de Encontro Urgente ou algo nessa linha.
Cabocla
3.4 85"Cabocla" foi um remake saboroso
A edição especial de "Cabocla" chega ao fim nesta sexta-feira, dia 14. O remake exibido em 2004 foi a terceira adaptação da obra de Benedito Ruy Barbosa, após a versão de 1959 da TV Rio e a de 1979 da própria Globo. A reprise ocupou a faixa 'pós-Jornal Hoje', preenchida anteriormente pelo extinto "Vídeo Show", que até hoje a emissora não nomeou. Então segue mantendo a classificação de 'edição especial', sendo que de especial não tem nada, já que tem a mesma duração das reexibições do "Vale a Pena Ver de Novo".
"Cabocla" é inspirada no romance homônimo de Ribeiro Couto – escritor da primeira fase do Modernismo - e se passa no fictício município rural de Vila da Mata, em 1918. De um lado da história, a disputa por terras entre os coronéis Boanerges e Justino e, do outro, a paixão de Zuca, personagem que revelou a atriz Vanessa Giácomo na TV, pelo "almofadinha" Luís Jerônimo, primo de Boanerges.
No começo da trama, a jovem está noiva do peão Tobias - vivido por Malvino Salvador, também em sua estreia na TV - mas acaba se encantando pelo bon-vivant depois de o rapaz passar uma noite no hotel de seus pais, Zé da Estação e Sinhá Bina. Luís, filho do exportador de açúcar Joaquim e um assíduo frequentador de festas no Rio de Janeiro, é aconselhado pelo doutor Edmundo a se mudar para o Interior ao ser diagnosticado com tuberculose. As paisagens arejadas e frescas da simples Vila da Mata parecem ser o destino ideal ao rapaz. Basta uma noite no hotel para Luís se encantar com a tímida Zuca e mudar radicalmente seu comportamento. Mas, para viver esse grande amor, eles enfrentarão muita resistência por conta das diferenças sociais e do fato de Zuca ser noiva do teimoso e encrenqueiro Tobias.
A outra trama central da novela trata da rivalidade entre os dois chefes políticos da região de Vila da Mata, os coronéis Boanerges e Justino. A disputa entre ambos pelo poder da cidade é clara, bem como a impossibilidade de entendimento. O tom político é uma marca forte na trama, que também enfatiza a questão agrária. Logo nas primeiras cenas, o vigário, de olho em dinheiro para sua igreja, comanda uma aposta de corrida de cavalos dos dois fazendeiros – representados por seus peões Tobias e Tomé – que ilustra bem essa oposição.
O coronel Boanerges é um político muito estimado pela população local. Ele e a mulher, Emerenciana (Patrícia Pillar), são os padrinhos de Zuca. Os dois têm uma filha, Belinha (Regiane Alves), que está de volta à casa dos pais após estudar na capital. O coronel Justino também é um forte líder político na região. Viúvo, ele vive com seus dois filhos, Neco (Danton Mello) e Mariquinha (Carolina Kasting), que não concordam com a postura do pai e com a forma como cuida de seus interesses. Enquanto Boanerges e Justino se enfrentam fortemente na política, seus herdeiros Belinha e Neco se apaixonam. Eles se conhecem voltando do Rio de Janeiro e, sem imaginar de quem são filhos, encantam-se um pelo outro. O amor do casal desperta uma guerra entre as famílias rivais.
Além da trama envolvente, com diversos personagens que se destacam, "Cabocla" também ficou marcada pela grandiosidade da produção, fotografia, figurinos, arte e cenografia. As primeiras gravações aconteceram em uma fazenda em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, e passaram por Visconde de Mauá, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais; Bananal, no interior de São Paulo; e por Campinas, onde a estação de trem Carlos Gomes foi a principal locação. Duas cidades cenográficas, de dez mil metros quadrados no total, foram construídas nos Estúdios Globo para as gravações. A cidade de Vila da Mata, rústica e bucólica, com ruas de terra e muito verde, foi inspirada em locações de Minas Gerais. O município vizinho, Pau d'Alho, um povoado mais antigo e menos desenvolvido, também foi colocado de pé pela equipe da obra. O espaço contava com uma estação de trem e um hotel, com interior decorado. O trabalho artesanal deu a tônica do figurino, quase todo confeccionado para a novela.
A trilha sonora também foi destaque, trazendo músicas sertanejas e modas de viola, representadas por nomes como Rio Negro e Solimões, Rick e Renner, Cleiton e Camargo, Roberta Miranda e a dupla Zezé di Camargo e Luciano, cuja canção 'Nosso Amor é Ouro' virou um dos temas românticos da trama. A segunda versão de "Cabocla" ganhou o Prêmio Qualidade Brasil SP 2004 de melhor novela do ano, e Benedito Ruy Barbosa, Edmara Barbosa e Edilene Barbosa, o de melhores autores de novelas. Tony Ramos foi eleito melhor ator; Danton Mello, o melhor ator coadjuvante; e Jussara Freire, consagrada como a melhor atriz coadjuvante. Vanessa Giácomo e Malvino Salvador foram eleitos atriz e ator revelação; e Ricardo Waddington, o melhor diretor. Tony Ramos também foi agraciado com o troféu de melhor ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
A novela realmente fez jus ao sucesso. Um remake bem adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, que auxiliaram Benedito, que manteve quase tudo idêntico ao original, como é de seu costume. E também como é uma tradição em suas obras não há grandes acontecimentos ao longo dos meses e nem viradas, mas o autor sabe contar uma boa história de fazendeiros rivais. Tony Ramos e Mauro Mendonça foram escalações certeiras, assim como a então revelação Vanessa Giácomo na pele da tímida Zuca. Aliás, o elenco todo é um primor, vide Vera Holz, Sebastião Vasconcelos, Maria Flor, Umberto Magnani, Elena Toledo, Mareliz Rodrigues, Claudio Galvan, Rogério Falabella, Cosme dos Santos, Aisha Jambo, Roberta Rodrigues, entre outros. A trama tem a cara da faixa das seis e é aquele folhetim que dá vontade de assistir tomando um café e comendo um bolo. A abertura também merece elogios pela animação muito bem realizada e contemplada ao som de "Madrigal", de Lazza, Schiavon & Deluque.
"Cabocla" ainda teve uma missão complicada em 2004: substituir o fenômeno "Chocolate com Pimenta", um dos maiores sucessos de Walcyr Carrasco no horário. A produção tem texto de Benedito Ruy Barbosa, adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, com direção de núcleo de Ricardo Waddington e direção geral de José Luís Villamarim e Rogério Gomes. A reprise apresentou bons índices na faixa e quem viu novamente não se arrependeu.
Vale Tudo
3.6 5 Assista AgoraO remake da melhor novela da história da teledramaturgia vem cercado de polêmicas, muito por conta das declarações de Manuela Dias, que vai adaptar a obra icônica de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brassères. A escalação do elenco também foi alvo de muitos questionamentos e já era previsível esse tipo de consequência. Mexer em um folhetim tão aclamado é uma tarefa muito complicada, ainda mais diante dos fracassos dos remakes recentes da Globo, vide "Elas por Elas" e "Renascer". Mas Amauri Soares quis outro remake para 'comemorar' os 60 anos da emissora e colocou Manuela como responsável pela adaptação. Taís Araújo como Raquel, Bella Campos como Maria de Fátima, Debora Bloch como Odete Roitman e Cauã Reymond como César são alguns atores que estarão na trama. O imenso fiasco de "Mania de Você" acaba sendo uma boa notícia para a escritora, afinal, não terá pressão para segurar uma audiência elevada e qualquer índice acima será comemorado. E dar menos Ibope que a produção atual é quase impossível. Resta aguardar.
Dona Beja
1Mais uma novela da HBO Max. Mas, ao contrário de Beleza Fatal", a trama é um remake da obra original exibida na TV Manchete em 1986 e vem enfrentando vários problemas nos bastidores. Muitos atores reclamaram das condições precárias de trabalho e de métodos controversos do diretor Hugo de Souza, principalmente Grazi e Bianca Bin. Protagonizada por Grazi Massafera, a trama tem o argumento de Renata Jhin (filha de Elizabeth Jhin) e adaptação de António Barrera e Daniel Berlinsky. Em Araxá, no ano de 1815, Beja (Grazi) é criada pelo avô José Alves (Roberto Bomtempo), ouvidor do imperador, deixando para trás seu grande amor, Antônio (David Jr), que, ao voltar ao Brasil, acredita ter sido abandonado e acaba se casando com Angélica (Bianca Bin), pressionado pela mãe diabólica, Ceci (Deborah Evelyn). Após alguns anos, José é promovido à Corte e liberta Beja, que está milionária devido aos vários amantes que teve em troca de joias e terras. Ela então retorna a Araxá e, desiludida diante do casamento de Antônio, funda um bordel. Já Antônio fica obcecado em tê-la de volta, especialmente quando Beja se envolve com João (André Luiz Miranda), até então prometido para sua irmã, Maria (Indira Nascimento). Rejeitado, Antônio manda chicotear Beja até quase a morte e, para se vingar, Beja manda matá-lo e deixa Araxá. A novela também sofreu vários adiamentos, mas até agora ainda não ganhou data de estreia. Pode ser em 2025 ou não.
Beleza Fatal
4.1 109Primeira novela original da Max em parceria com o estúdio Coração da Selva.
Criada e escrita por Raphael Montes, a trama conta a história de Sofia, uma jovem que vê a mãe ser presa e morta injustamente por culpa de sua tia, Lola (Camila Pitanga), uma mulher ambiciosa e sem escrúpulos.
Sem rumo, a garota é acolhida pela família Paixão, que também se encontra no sofrimento porque a filha Rebeca (Fernanda Marques) parou no hospital por conta de uma cirurgia mal-sucedida. O responsável pela operação foi Benjamin Argento, um cirurgião plástico herdeiro de um império da beleza. Sofia e sua nova família se unem na indignação e na dor contra os culpados por suas tragédias.
Anos se passam e Sofia, agora vivida por Camila Queiroz, traça seu plano de vingança. Com a ajuda da família, Sofia quer destruir Lola e todos que lhe fizeram mal. Durante o percurso encontra seu amor de infância, Gabriel, filho de Lola, cujo sonho é ser policial que nem o pai.
Já dizia Seu Madruga "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena"!...
Camila Pitanga fez de Lola o maior acerto de "Beleza Fatal"
A estreia de "Beleza Fatal" (no dia 27 de janeiro, na Max) mostrou que Raphael Montes, além de um ótimo escritor de livros e séries, também sabe fazer uma novela. O primeiro folhetim da plataforma de streaming da HBO, dirigido por Mária de Médicis, vem despertando atenção através de bons ganchos e muitos clichês típicos do gênero. E o maior acerto da trama vem sendo a carismática Lola, vilã vivida por Camila Pitanga.
Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque.
Ao lado de Benjamin Argento, a vilã projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou.
A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos. É um perfil cheio de possibilidades que proporciona excelentes momentos e todos são abraçados por uma atriz em total estado de graça.
A novela apresenta uma trama clássica de vingança, tanto que há inúmeros elementos similares, para não dizer iguais, aos já vistos em obras como "Avenida Brasil" e a serie de TV "Revenge". E Lola tem um quê de Carminha (Adriana Esteves), mas que Camila consegue diferenciar e adequar ao seu modo de atuar, aproveitando também alguns momentos de fragilidade da personagem que lembram o lado inocente e até ingênuo da Bebel, seu papel de maior sucesso na carreira televisiva, revisto ano passado na reprise de "Paraíso Tropical" no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas também há uma terceira faceta, essa inédita, em que a crueldade se faz presente, assim como a frieza para contornar os muitos obstáculos que surgem em seu caminho. E impressiona como a intérprete domina todas as cenas em que aparece. Até porque não são poucas. Está praticamente em todos os atos da história, é o perfil com mais destaque e que norteia o enredo, sendo o pilar de sustentação.
É uma delícia ver Camila Pitanga em "Beleza Fatal". Tanto que a vilã pode ser facilmente considerada a personagem mais querida da história e justamente porque tem suas sensibilidades expostas em determinados momentos. Embora seja uma assassina, interesseira, oportunista, corrupta e muitas vezes cruel, é uma mulher que veio de uma vida difícil e no fundo só queria ser bem-sucedida e amada de verdade. É nessa vulnerabilidade que o telespectador se apoia e até se compadece. O choro da empresária diante da péssima relação que tem com o filho Gabriel comove, assim como sua solidão diante de um desabafo com sua funcionária Júlia (Camila Queiroz), sua então desconhecida algoz Sofia. É necessário destacar também a despedida de Viviane (Naruna Costa) com uma última transa,
pouco antes de assassiná-la.
Em meio a um folhetim repleto de perfis maniqueístas (o que não é um demérito), Lola sobressai através de suas múltiplas camadas. E uma profissional mais limitada não conseguiria passar veracidade nas fragilidades da vilã, o que prejudicaria até a intenção do autor em humanizar sua vilã. Grande parte do público acharia as situações forçadas ou até piegas. Mas não é o que acontece. Camila diverte e emociona com a mesma facilidade e empresta o seu carisma para a personagem, que vem tomando conta da novela desde o primeiro capítulo. É inegável que o melhor texto também é o dela, com direito a algumas tiradas impagáveis e repletas de deboche. Vale citar ainda os instantes em que a ricaça surta de ódio quando algum plano dá errado, o que vem acontecendo com cada vez mais frequência. O desempenho da atriz é visceral.
Camila Pitanga estava afastada dos folhetins desde "Velho Chico", exibida em 2016, na Globo, em virtude de seu trauma com a morte trágica de Domingos Montagner, que se afogou no Rio São Francisco durante as gravações da novela, que, além de colega, era seu grande amigo pessoal. Voltou a trabalhar na dramaturgia em 2019 em "Juntos a Magia Acontece", um especial de fim de ano da Globo, e "Aruanas", série do Globoplay. "Beleza Fatal" marca sua volta aos folhetins, ainda que seja uma novela de apenas 40 capítulos. E seu retorno não poderia ter sido melhor. Lola valoriza o seu talento e a sua grandiosidade, já entrando para a galeria de grandes personagens da sua carreira
Big Brother Brasil (25ª Temporada)
1.9 8A edição comemorativa do "Big Brother Brasil" não terá Boninho, o diretor que implementou e foi o responsável pelo formato do maior reality do país até ano passado. É uma baixa significativa. Mas a temporada apresentou chamadas com vários ex-BBBs marcantes celebrando a história da atração e neste ano os novos participantes entraram em duplas. A decoração da casa é inspirada na teledramaturgia da Globo em comemoração aos seus 60 anos, mas o resultado ficou genérico e pouco inspirado. Já a apresentação segue de Tadeu Shimidt e a estreia, nesta segunda-feira, dia 13, foi movimentada. Resta torcer para que a vigésima quinta edição tenha bons competidores, ótimas rivalidades e boas brigas, mas sem crimes e polêmicas envolvendo o código penal...
Família é Tudo
2.8 11Daniel Ortiz vinha de uma tríade vitoriosa no horário das sete da Globo com "Alto Astral", "Haja Coração" e "Salve-se Quem Puder". Mas errou feio em sua nova história. A trama dos cinco netos que precisavam de unir para herdar a fortuna da avó era uma premissa criativa e deliciosa. Tinha tudo para angariar uma leva de elogios. No entanto, a proposta do folhetim foi jogada fora ao longo dos meses e o roteiro se resumiu a vários triângulos amorosos forçados e repetitivos. Vendida como protagonista, Arlete Salles foi desrespeitada pelo autor e virou uma mera figurante com aparições semanais. Somente na reta final ganhou mais cenas na pele das gêmeas Frida e Catarina. Vale citar ainda a fraca direção da equipe Fred Mairynk e equipe, que piorou o que já era ruim. Várias cenas viraram chacota nas redes sociais diante de tamanho amadorismo. Os erros eram tantos que até mesmo atores conhecidos pelo ótimo trabalho ficaram devendo em diversas sequências, que soavam caricatas e artificiais. O corte de custos da emissora também ficou perceptível com a novela diante de cenários mal acabados e praticamente nenhuma cena gravada fora das vielas dos Estúdios Globo, o que deixava qualquer momento de ação ridículo. Nem mesmo os casais que funcionaram tiveram um desenvolvimento atrativo, vide a destruição do arco de Lupita (Daphne Bozaski), que na reta final acabou colocada como uma indecisa até o último capítulo só para forçar um mistério a respeito da identidade do seu escolhido.
Mania de Você
2.4 11Após o sucesso de "Todas as Flores" no Globoplay, João Emanuel Carneiro voltou ao horário nobre da Globo e com a missão de elevar a audiência das nove, após o fracasso do remake de "Renascer". Mesmo diante de uma segunda parte muito mal desenvolvida de sua novela na plataforma de streaming, havia uma boa expectativa para sua nova história. E as chamadas eram convidativas. Porém, a produção vem se mostrando uma completa catástrofe. A primeira fase apresentou ótimos conflitos e personagens ambíguos, mas a correria dos acontecimentos prejudicou a construção do enredo e a compreensão do público. Para culminar, Amauri Soares ordenou o corte de várias cenas, a ponto de dois capítulos serem jogados no lixo. O todo poderoso do setor de teledramaturgia achou que aumentaria a audiência a antecipação do assassinato de Molina (Rodrigo Lombardi). Mas foi a partir daí que a trama mergulhou em um poço sem fundo.
A segunda fase afastou ainda mais o público por conta de péssimos núcleos secundários e situações cada vez mais absurdas, que colocam o telespectador como idiota. O que se vê atualmente é um amontoado de reviravoltas sem impacto e qualquer lógica, além de um roteiro exaustivo que sempre volta para o mesmo lugar. Os atores vêm tirando leite de pedra, mas não há mais nada o que fazer. O objetivo do autor parece ser a destruição total de seu folhetim e até a direção de Carlos Araújo resulta em algumas cenas dignas de um produto amador. A cada capítulo tudo fica pior.
Mania de Você
2.4 11Maior fracasso da história da Globo, "Mania de Você" foi uma novela catastrófica
Nesta sexta-feira (28/03), para o alívio dos telespectadores, do elenco e da Globo, chegou ao fim "Mania de Você", o maior fracasso de público e crítica do horário nobre da emissora. A novela de João Emanuel Carneiro, dirigida por Carlos Araújo, foi uma das piores já escritas na história da teledramaturgia e se mostrou uma avalanche de equívocos, onde absolutamente nada se salvou. É um caso que jamais será esquecido e servirá para análises futuras do quão catastrófica foi essa produção.
Um dos graves problemas da obra foi o péssimo desenvolvimento do amor dos mocinhos, agravado ainda mais com os vários cortes na primeira fase, realizados através da intervenção de Amauri Soares, atual todo poderoso do setor de teledramaturgia da Globo, que só enfia os pés pelas mãos desde que assumiu o cargo. O amor avassalador que Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) sentiam um pelo outro teve um desenvolvimento sem qualquer cuidado. Amor à primeira vista de mocinhos quase sempre fracassa nos tempos atuais, ainda mais quando a relação tem como consequência uma dupla traição, sofrida por Luma (Agatha Moreira) e Mavi (Chay Suede).
Viola traiu Luma, tendo um caso com o namorado da amiga e sem nunca ter apresentado qualquer tipo de remorso, uma vez que a traiu novamente depois que foi perdoada. Rudá nunca demonstrou qualquer cuidado com Luma, mesmo diante de uma relação que teve seu início ainda na infância. Tanto que a traía várias vezes sem peso algum na consciência. E nem a passagem de tempo serviu para amadurecer o personagem.
Isso porque o rapaz escapou de um esquema de prostituição em Portugal graças a Filipa (Joana de Verona) e logo depois os dois iniciaram um namoro. Dez anos se passaram com ambos em uma relação estável. Mas Rudá viu Viola em um programa de culinária na televisão e foi o bastante para motivá-lo a voltar para o Brasil e deixar sua esposa sozinha, que tinha acabado de descobrir que a mãe estava muito doente. Ainda recebeu o apoio da tia, Moema (Ana Beatriz Nogueira), que o incentivou a largar a mulher para ficar com a protagonista. Se o autor achou que algum telespectador compraria um enredo assim, das duas uma: ou foi amador ou ingênuo demais.
No entanto, mesmo com um casal de mocinhos muito mal construído, a primeira fase da novela despertou interesse pelo potencial do enredo, que até lembrava um pouco "A Favorita", um dos maiores sucessos de João Emanuel. Isso porque Viola e Luma aparentavam ser duas mocinhas dúbias, o que permitiria uma virada para a vilania de qualquer uma delas. A sequência envolvendo o assassinato de Molina (Rodrigo Lombardi) também gerou impacto e curiosidade a respeito dos desdobramentos daquele crime. Mas a verdade é que as inúmeras falhas da obra já estavam todas ali, a começar pela propaganda enganosa do pôster de divulgação da novela. A majestosa imagem tinha o quarteto central, além de Molina, Mércia (Adriana Esteves), Berta (Eliane Giardini) e Isis (Mariana Ximenes). Só que, ao longo dos meses, foi ficando claro que Berta e Isis não tinham qualquer conexão com o núcleo principal e foram jogadas em um núcleo terciário e repetitivo, onde a comicidade provocava vergonha alheia.
Isis aparentava ser uma daquelas vilãs inesquecíveis do autor. Mas em "Mania de Você" o escritor fracassou até no que fazia de melhor. Isis iniciou a história como responsável pela morte o marido e do amante, mas virou uma personagem cômica que passou a novela toda aceitando a chantagem de Leide (Thalita Carauta) e Sirlei (David Jr), que levaram a filha, Evelyn (Gi Fernandes), para morar na mansão junto com eles em uma situação igual a do filme "Parasita", só que com uma construção rasa e cheia de absurdos. As cenas eram tão repetitivas que Berta ficou a novela inteira sendo feita de idiota e descobriu a verdade apenas na reta final. O pior é que as cenas da revelação não tiveram impacto. Foram momentos tão mornos que nem as atrizes talentosas foram beneficiadas. Aliás, uma falta de respeito com a grandeza de Eliane Giardini e Mariana Ximenes, que foram duas figurantes de luxo. Mais desrespeitados que elas somente Ana Beatriz Nogueira, Ângelo Antônio e Bukassa Kabengele. A veterana tentou dar dignidade na atuação como Moema, mas a personagem nunca teve função e parecia uma maluca. Ana precisou deixar o elenco por problemas de saúde e nem um desfecho digno foi dado. Ângelo ficou avulso ao longo de todo o enredo e mal apareceu, enquanto Bukassa foi perdendo espaço junto com Gabz.
É até impossível citar algum ator que não tenha sido desrespeitado na trama. Todos ganharam personagens frágeis, mal construídos e com conflitos que não despertaram qualquer interesse. Quase todos os integrantes dos núcleos paralelos foram caindo na irrelevância ao longo dos meses, a ponto de alguns sumirem ou serem assassinados de forma gratuita. É verdade que o autor nunca foi bom em tramas secundárias e todas representavam seu ponto fraco em obras anteriores, com exceção do fenômeno "Avenida Brasil". Mas em "Mania de Você" houve um fiasco generalizado. Até no que tinha potencial para conquistar o público, como o romance de Diana (Vanessa Bueno) e Fátima (Mariana Santos), que foi cancelado por conta da intervenção de Amauri Soares. A proximidade cada vez maior das amigas encantava e gerava uma repercussão positiva nas redes sociais. Ambas com casamentos tóxicos e que precisavam lidar com maridos abusivos, ciumentos e machistas. Com medo de uma rejeição ainda maior, foi ordenado o fim de qualquer a possibilidade do casal homoafetivo ser formado. A solução do autor foi a transformação de Hugo (Danilo Grangheia) em perfil cômico e a criação de um plano bobo em que Robson (Eriberto Leão) fingia ser um admirador secreto para humilhar Fátima ---- o que gerou como consequência um novo pretendente para a mulher, no caso o recepcionista Gael (Igor Cosso). Duas alterações nada sutis e que destruíram o único núcleo atrativo. Tanto que os personagens foram sumindo do enredo e só voltaram a ter algum destaque na reta final por conta de uma vingança de Robson, que trocou os exames de Hugo para que o ex-amigo achasse que estava com poucos meses de vida. Uma besteira que não alcançou dramaticidade e nem comicidade.
Nem mesmo o momento feliz de Dhu (Ivy Souza), após uma saga de sofrimento com o marido canalha Edmilson (Érico Brás), despertou interesse. A cozinheira ficou com Wagner (Bruno Quixotte) e os dois eram até bonitos juntos, mas perderam a função ao longo dos meses. O núcleo familiar, que contava com Iarley (Lucas Wickhaus), Lorena (Liza Del Dala) e depois Bruna (Duda Batsow), tinha como objetivo provocar risos, mas nunca cumpriu sua missão. Aliás, o que foi a súbita escolha de Iberê (Jaffar Bambirra) como o pai do filho de Lorena? Os dois nem se falavam na história e o improviso do autor ficou visível. O cúmplice de Mavi tinha uma sintonia perfeita com o vilão em cena, mas a relação foi destruída porque parte do público começou a torcer por um possível romance nas redes sociais. Iberê acabou jogado no núcleo desinteressante de Viola, teve sua personalidade alterada e no final ainda acabou assassinado por Molina.
E o que analisar do triângulo amoroso formado por Michele (Alanis Guillen), Cristiano (Bruno Montaleone) e Daniel (Samuel de Assis)? Uma situação repleta de absurdos e cenas que tiravam qualquer telespectador do sério. Cristiano passou a novela quase toda preso em Portugal e sendo espancado, enquanto sua namorada flertava com o patrão e fingia que estava ajudando o rapaz a sair da prisão. O ex-presidiário só voltou perto da reta final e passou a morar na mansão de Daniel. Qualquer desconfiança de uma traição era rebatida com indignação e a descoberta não teve qualquer catarse. Os três personagens andaram em círculos e não despertaram qualquer empatia de quem assiste. Até o fato de Michele e Cristiano terem sido traficados por Mavi acabou esquecido.
A novela foi piorando a cada capítulo e nem soluções dramatúrgicas comuns em qualquer folhetim funcionaram. Tanto que a virada da história envolvendo a falsa morte de Viola (Gabz) aniquilou o pouco que tinha de enredo e mínima lógica no folhetim. E o posterior retorno de Molina deixou tudo ainda mais equivocado na narrativa. Além da vingança da mocinha ter se mostrado ridícula e sem qualquer efeito prático, já que foi desmascarada em duas semanas, o todo poderoso empresário serviu de pretexto para a transformação de Mavi em um completo imbecil. Parece que o autor tinha uma 'cota' de vilão em "Mania de Você" e só podia um por vez. Mavi era um agente do caos. Um hacker imparável capaz de erguer um império, roubando a fortuna do pai e de Luma, para colocar Viola sob os seus domínios. Tudo o que ele fez desde o início da história teve como objetivo a conquista da mulher que era o fruto de sua obsessão. E ninguém conseguia pegá-lo.
Somando inúmeros furos e conveniências de roteiro, o personagem era invencível. Apesar de todos os equívocos da produção, o vilão transbordava carisma graças ao talento de Chay e aos seus improvisos deliciosos, que desconcertavam Adriana Esteves e Agatha Moreira, que não conseguiam esconder a surpresa diante de alguns diálogos, o que não impedia que também embarcassem nas brincadeiras. Diante de uma obra tão ruim e com um texto tão sem sentido, era um alívio para os atores e também para o público. Tanto que ao longo dos meses a sintonia dos três só aumentou. Era o único trunfo do roteiro. Mas o autor preferiu emburrecer o vilão para que o plano de Viola tivesse um mínimo desenvolvimento, ainda que sem qualquer nexo. E o pior é que a obsessão que ele tinha pela mocinha sumiu feito um passe de mágica. Tudo para forçar um romance com Luma. Chay e Agatha têm química, mas nada funciona sem uma construção crível. Poderiam ter rendido muito mais como um par de vilões. E Luma não foi nem mocinha e nem vilã. O que foi a Luma? Uma apaixonada por gastronomia que desaprendeu a cozinhar assim que roubou o restaurante da Viola e ficou com o cara que roubou sua fortuna sem qualquer amor próprio. Uma personagem sem rumo, assim como os demais protagonistas. Até porque o que aconteceu com Viola e Rudá foi de uma covardia sem precedentes com os intérpretes. O mocinho passou a história toda fugindo da polícia por um crime que nem tinha acontecido e foi assassinado em uma cena constrangedora. A mocinha sonhava em ser cozinheira profissional, conseguiu seu objetivo, perdeu tudo em uma armação idiota, desapareceu, retornou, fracassou em sua vingança, nunca mais voltou a cozinhar e sumiu da história na reta final.
Vale citar ainda o péssimo arco de Mércia. Adriana Esteves engrandece qualquer elenco e a atriz ganhou uma vilã que nunca teve um mínimo sentido. Inicialmente, parecia que a governanta de Molina era um tipo complexo e enigmático. Mas depois ficou claro que só era mal escrito mesmo. Mércia começou a história sendo uma mulher fria e calculista, a ponto de ignorar qualquer vínculo afetivo com o filho. A mulher apenas manipulava tudo e todos para atingir seus objetivos. Depois, foi transformada em uma mãe leoa e obcecada por Mavi, a ponto de cometer atrocidades para manter o filho perto dela. A outra fase da personagem foi uma tentativa de encobrir seu passado porque se chamava Sônia e trocou de nome com uma freira, vivida por Jussara Freire. E nunca foi explicado, de fato, nada sobre os pecados escusos de Mércia. Ou o autor esqueceu ou desistiu. Já na última semana de novela o lado explorado de Mércia foi o sonho em ter uma família de verdade, a ponto de promover um piquenique com Molina, Luma, Mavi e um cachorro que adestrou em tempo recorde para protegê-la. Lendo parece absurdo, mas assistindo fica pior.
Por sinal, os momentos derradeiros da novela foram um circo dos horrores. Cristiano, que tinha reatado com Michele, viu que a namorada estava com ele por remorso e a levou de moto até Daniel, que se preparava para viajar em um jatinho. Os dois ficaram juntos e se entregaram ao amor, enquanto o corno foi embora resiliente. Uma cena que tinha o objetivo de emocionar e só causou vergonha pelo roteiro preguiçoso. Já no núcleo central, após a reunião familiar fracassada, Mércia acabou dopada e o tal cachorro não a salvou em nada. Molina tentou fugir com o quadro valioso que tanto cobiçava, mas Luma se recusou a partir com ele sem Mavi. Mavi pegou o cachorro de Mércia e deu um comando para avançar em Molina, que obedeceu prontamente e sabia quem era o Molina. Luma foi embora levando o quadro e teve a ajuda de um personagem que surgiu gratuitamente no capítulo anterior apenas para elogiá-la durante uma breve conversa sobre um passado que ninguém sabia. Ainda apareceram capangas, vindo do mais absoluto nada, que iniciaram um tiroteio, sem feridos. Houve uma cena de luta muito mal coreografada entre Molina e Mavi, enquanto Mércia surgiu com uma arma e atirou em Molina para salvar o filho. Uma sequência que teve ação, catarse e drama, mas ainda assim conseguiu fracassar em tudo, o que evidenciou outro grave problema perceptível ao longo do folhetim: a direção.
O último capítulo fez jus ao conjunto catastrófico da produção. Não teve um desfecho minimamente digno. Mércia foi inocentada pelo assassinato de Molina, mas foi julgada como Mércia e não como Sônia. A Justiça brasileira é uma vergonha, mas não a esse ponto. Ninguém checou se a assassina tinha uma identidade falsa? Bem, não checaram e não descobriram que seu nome era na verdade de uma freira. E por qual razão a troca ocorreu? Porque Mércia cometeu um crime no passado. Qual crime? Nunca foi contado para o público. A personagem terminou feliz da vida ao lado de Mavi e Luma. Ah, Mavi foi condenado por tráfico humano a nove anos de cadeia. E por tráfico de animais silvestres? E pelo crime de stalker? E por tentativa de assassinato? Bem, esses não foram muito relevantes para o juiz. O vilão ainda teve direito a um último encontro com Viola, que recusou a fortuna de seu algoz e quase se desculpou por ter sido vítima de sua obsessão e por quase ter sido assassinada por ele. Ainda torceu para a sua felicidade com Luma. Um desfecho vergonhoso para uma mocinha que foi sacaneada pelo autor a novela inteira. Já nos núcleos secundários, o final de Fátima teve direito a um sequestro promovido por Robson, pouco antes de seu casamento com Gael. A mulher, que sofreu inúmeras violências do início ao fim da história, conseguiu escapar e teve seu final feliz. E Isis? Surgiu maquiada em um presídio que parecia um estacionamento e recebeu a visita de Leide. Rhodes (Leonardo Bittencourt) ficou se humilhando para Luma até o último minuto e a chamou para ir ao Uruguai. Não foi mostrado se recebeu alguma resposta, mas surgiu anos depois no país ao lado de Viola em um restaurante. Já Luma surgiu com uma criança junto de Mavi e Mércia, formando uma família de comercial de margarina. Mavi levou a bebê até sua sala de espionagem e na tela surgiu a palavra 'Fim'. Mais de quinze anos se passaram e todos seguiram exatamente iguais. Não teve um final sequer interessante ou crível.
"Mania de Você" chegou ao fim com a pior média de audiência da história do horário nobre da Globo: 21 pontos. A detentora do título até o momento era "Um Lugar ao Sol", novela da competente Lícia Manzo, que foi ao ar toda gravada por conta da pandemia. A obra da autora nunca mereceu índices tão baixos. O final se mostrou decepcionante, mas o conjunto teve muitas qualidades, tanto no texto quanto nos personagens complexos. Ao menos agora a justiça foi feita e um folhetim repleto de equívocos passou a ocupar o nada honroso posto. Apesar da segunda fase sofrível, João Emanuel Carneiro tinha dado a volta por cima com "Todas as Flores" em 2022, após os fracassos de "A Regra do Jogo" (2015) e "Segundo Sol" (2018). Mas o autor encarou sua pior fase na carreira com uma história de manias que não se sustentavam nem por três semanas. Infelizmente, todos saíram perdendo diante de um produto tão desastroso: a emissora, a teledramaturgia, o elenco e principalmente o público.
Basic Instinct: Sex, Death & Stone
4.0 1Sharon Stone é uma verdadeira rainha!
O documentário mais completo desse filme cult que mudou a sua vida. Eu poderia escutar Sharon Stone falar por horas.
Instinto Selvagem (1992): Este suspense erótico dirigido por Paul Verhoeven é provavelmente o filme mais famoso de Sharon Stone. Ela interpreta a misteriosa escritora Catherine Tramell, cuja relação com o detetive Nick Curran (interpretado por Michael Douglas) se torna intensamente perigosa. A cena da cruzada de pernas durante um interrogatório é lendária!
DOCUMENTÁRIO QUE EXPLORA A CRIAÇÃO E IMPACTO DOS CLÁSSICOS “BASIC INSTINCT”, ATRAVÉS DE ENTREVISTAS COM PAUL VERHOEVEN, SHARON STONE, MICHAEL DOUGLAS, ENTRE OUTROS ENVOLVIDOS.
UMA DAS COISAS QUE MAIS GOSTEI EM "INSTINTO SELVAGEM: SEXO, MORTE E STONE" SÃO AS ANEDOTAS DA EQUIPE SOBRE AS BRIGAS INICIAIS PELO SCRIPT, O LANÇADO PEDRA, O ASSÉDIO DA COMUNIDADE LGBTQ À PRODUÇÃO DEVIDO À BISSEXUALIDADE DO PROTAGONISTA , A ESTREIA FENOMENAL E MAIS.
A OUTRA É A HONESTIDADE DOS ENTREVISTADOS QUANDO FALAM, POR EXEMPLO, SOBRE SEU TRABALHO EM EQUIPE, A FILMAGEM DAS VIBRANTES CENAS DE SEXO OU COMO COM SUA ATUAÇÃO, STONE FEZ O FILME REVOLTAR EM TORNO DE SEU PERSONAGEM. ALTAMENTE RECOMENDADO PARA FÃS DESTA JÓIA.
Este documentário sobre o incrível clássico cult Instinto Selvagem apresenta Sharon Stone, Paul Verhoeven, o editor Frank J. Urioste, o diretor de fotografia Jan de Bont, o roteirista Joe Eszterhas e o especialista em sexo violento Michael Douglas.
Eu gosto mais de mulheres do que de homens. Muito melhor.
- Paul Verhoeven
O especialista em sexo violento Michael Douglas afirma que os filmes dessa época se tornaram muito conservadores, e ele queria fazer o que ele chama de filme "slam dance".
Joe Eszterhas disse que trabalhou como jornalista fazendo reportagens policiais. Ele disse que um cara que ele conhecia "gostava de tiroteios um pouco demais" e que ele provavelmente gostava.
Paul Verhoeven tentou dizer a Joe Eszterhas que ele faria tudo o que ele dissesse porque Paul é o diretor, então Joe ameaçou dar um soco nele se ele falasse com ele daquele jeito novamente. Então, mais tarde, Verhoeven descobriu que ele estava errado e que eles deveriam manter o roteiro igual.
Eu não tinha ideia de que Sharon Stone tinha 32 anos em Instinto Selvagem (1992). Neste documentário de 2020, ela parece mais jovem do que muitas pessoas na faixa dos 30 e 40 anos.
Todos falam sobre a cena, mas aparentemente naquela época, as mulheres não tinham permissão para mostrar as axilas (muito sexy, sabe?), então foi bem progressivo.
Eu nunca tinha ouvido falar disso até este documentário, mas aparentemente as pessoas na comunidade LGBTQ+ não gostaram que o vilão fosse bissexual e protestaram. O especialista em sexo violento Michael Douglas diz que não entendeu a controvérsia:
E quando o filme foi lançado, a comunidade LGBT se acalmou muito, muito rápido. É um grande sucesso. E todo mundo meio que disse, "Por que, do que você está reclamando? É uma linda jovem que é bissexual e é uma ótima personagem. . . .
Também recebemos algumas palavras sábias de Sharon Stone:
Primeiro de tudo, nunca acredite nos críticos, porque eles são apenas o cara que faz sexo e não compra o ingresso. Você sabe o que quero dizer? . . .
Então, no dia seguinte, quando a crítica saiu dizendo que era um filme meio ruim e eles não disseram que seria tão bom. Meu melhor amigo e eu estávamos tendo serviço de quarto tipo ovos Benedict, todo esse serviço de quarto chique. E nós estávamos chorando de rir. Nós pensamos, "É, esse filme é tão ruim que vai ser o maior sucesso do ano. Porque nós pensamos, 'Sinto muito, senhor, mas nós estávamos lá. Não importa o que você esteja dizendo. Este filme é um sucesso. E 🖕🖕.'"
Eu também nunca soube que Sharon Stone perdeu a custódia do filho porque ela estava em Instinto Selvagem. Como se essa fosse uma razão válida que eles usaram. Droga. Ela realmente se abre sobre sua vida nisso e os problemas que ela teve sendo atriz.
Ninguém parece estar se segurando — muito pelo contrário — e os comentários de Douglas, Stone, Debont, Urioste e Verhoeven se juntam como uma história que corre paralela à contada pelo filme.
PS: Este documentário não teve nada de especial em termos de performance e foi apenas uma conversa, mas os assuntos que foram investigados foram muito bons. Desde as diferenças de roteiro e o conflito de longa data entre os atores para escolher a atriz, até a dificuldade de filmar a cena de sexo do século, e os problemas que esse filme causou para Sharon Stone em sua vida real e até afetou a custódia de seu filho.
Eu gostaria que esses documentários fossem feitos para todos os filmes populares ou filmes com pontuações altas. Nós realmente não sabemos quais histórias estão acontecendo por trás de cada filme, e conhecer todos esses detalhes é muito emocionante, pelo menos para mim pessoalmente.
Renascer
3.4 9Fracasso de “Renascer” não é uma surpresa, é um aviso
Apesar de bela e muito bem dirigida, Renascer teve um desempenho apático e esquecível.
Quando os rumores sobre o remake de Renascer começaram a surgir, a possibilidade parecia inicialmente descabida. Não apenas porque as imagens da primeira versão, de 1993, ainda são completamente passáveis do ponto de vista estético; mas também porque parecia uma loucura comercial praticamente repetir o universo de Pantanal com apenas duas outras novelas de intervalo (Travessia e Terra e Paixão) e menos de dois anos de seu último capítulo.
Aparentemente, alguns setores dentro da TV Globo – e até mesmo uma parte da cobertura especializada – não acham que essa urgência com os remakes é um problema ou um reflexo do atual cenário da teledramaturgia. A empresa em si (e não só ela) vive um momento em que grandes investimentos no setor são problematizados por conta de seus conteúdos superficiais, disfarçados com uma roupagem “cinematográfica” vazia. É como se o imagético tivesse amadurecido e o narrativo estivesse empacado. Basta ver os recentes devaneios das temporadas vigentes de Justiça e Os Outros.
No caso das novelas, o recurso do remake virou a muleta defendida com o argumento da história. Sempre tivemos remakes, é fato. Nunca tivemos tantos ao mesmo tempo ou tão seguidos um do outro; ou mesmo no horário das 21. E quando Vale Tudo chegar, terão sido 3 remakes no horário nobre em um espaço de menos de 3 anos. A história da TV aqui não deveria ser a tutela do “sempre foi assim” e sim a evidência de que sim, tem alguma coisa fora do eixo nos domínios da vênus.
Em Renascer, Bruno Luperi tinha – como em Pantanal – a segurança do texto de Benedito Ruy Barbosa. A trama do Coronelzinho José Inocêncio – que chegava a Ilhéus para criar do nada seu império do Cacau – era bem construída, tinha seu universo lúdico próprio e personagens carismáticos… que eram reproduções quase EXATAS do que o autor já tinha feito em Pantanal. Contudo, Pantanal era uma produção da Manchete e quando ele foi para a Globo, sentiu-se à vontade para seguir a encomenda da casa, criando para eles a sua orgulhosa Pantanal 2.
Agora, entre 2022 e 2024, a recepção acaba sendo outra. Pantanal e Renascer têm o mesmo DNA; tem um grupo imenso de personagens parecidos; tem a mesma vibe regional-lúdica; e eles ainda cometeram o desatino de usar o mesmo ator para viver os dois protagonistas. Marcos Palmeira foi uma escolha acertada para Leôncio, mas com Inocêncio passou toda a novela lutando para sentir-se confortável no papel. Entendemos que Luperi quis criar a emocional virada do ator que fez o filho rejeitado agora vivendo pai que rejeita; contudo, a imagem de Marcos Palmeira à frente do mesmo personagem precisava de descanso. Diante de uma interpretação tão minimalista, esse intervalo era ainda mais necessário. Antonio Fagundes fez Mezenga logo depois de Inocêncio, mas, além do intervalo ter sido muito maior, os dois eram completamente diferentes.
Luperi – conhecido por não ter mudado praticamente nada do texto do avô – tomou mais liberdades em Renascer. Não mexeu em praticamente nada nos núcleos centrais, mas acertou principalmente com Zinha, que teve nos capítulos finais da novela uma abertura romântica incomum para casais de mulheres na TV. Samantha Jones defendeu a personagem com muito humor e carisma; o que a tornou, possivelmente, uma das melhores alterações já feitas em remakes na nossa teledramaturgia. De fato, depois de ter falhado miseravelmente na reconstrução do peão Zaqueu de Pantanal, Luperi corrigiu o curso e investiu forte na representatividade LGBTQIA+. Infelizmente, a Buba de Gabriela Medeiros foi um grande equívoco de direção. Houve a inserção da família da moça – que foi acertada – mas o detalhe acabou não sendo suficiente para livrar a personagem de uma constante apatia e insipidez.
Enquanto decisões como a quebra de quarta parede do maravilhoso Norberto – criado com paixão por Matheus Natchtergaele – deram o mínimo de identidade para a novela; abordagens como a de Tião Galinha foram na contramão, provando-se ineficazes diante de um público já cansado de ser “forçado” a se emocionar. Irandhir é um ator especial, mas seu Tião era excessivamente solene; e em comparação com a ingenuidade quase infantil da versão de Osmar Prado, perdia sensibilidade (o que parece, vejam só, completamente irônico). Já a Joana de Alice Carvalho era um desbunde de carisma em cena.
Houve outras escalações que definharam no caminho, mas alguns personagens já nasceram com a necessidade de mudança; e não mudaram. Dona Patroa precisava de um upgrade sobre empoderamento; as “qualidades” da Eliana de Sophie Charlotte pareciam não conseguir muito bem vazar pelas laterais de seus defeitos; Teca, Padre Lívio, Morena, Professora Lu, Ritinha, entre outros, já eram personagens esquecidos na primeira versão e dessa vez foram ainda mais esvaziados.
Em seus últimos dias, a novela apresentou suas mudanças de desfechos, que culminaram em algumas decisões malucas, como o parentesco sem sentido entre Mariana e Teca; e a inocência de Inocêncio na morte de Belarmino, que fez o escopo emocional da primeira fase perder impacto; já que, de uma hora para outra, o pai de Maria Santa não era mais um estuprador incestuoso e sim um justiceiro.
É aquilo… não mexeram onde deviam e mexeram onde não precisava.
Com sequências lindas, cinematográficas, a novela amargou uma completa irrelevância midiática. Nenhum dos personagens viralizou; nenhuma das viradas se tornou marcante para a história da teledramaturgia – sobretudo porque as mesmas possíveis viradas marcantes já tinham feito sua marca em 1993. O investimento em estética era inegável, mas isso não foi o suficiente para impedir Renascer de parecer um genérico sofisticado. Linda direção, lindas atuações, ótimo roteiro-base… e nenhum carisma. Assistir Renascer era como assistir a uma orquestra tocar por 5 horas: uma teoria erudita substancial, mas entediante.
O fracasso não é estrutural. A novela era bonita e bem-feita, mas ela não era o que a audiência queria ver agora. Forçaram essa quase réplica de Pantanal goela abaixo; e o espectador só está regurgitando o resultado. Todos os envolvidos devem ficar muito orgulhosos de terem criado uma novela muito bonita. Mas, o recado é duro e foi dado: nem todas as coisas precisam ver a luz do dia… nem todas as coisas têm a capacidade de renascer.
Enquanto a novela esteve no ar, tive a oportunidade de visitar os estúdios e aqui abaixo vocês podem ter uma noção de como o trabalho dos artistas que levantam uma novela é lindo e admirável. Independente de como julgamos o andamento de uma trama, o que está por trás dela merece toda a nossa reverência.
Cheias de Charme
3.8 302"Cheias de Charme" é uma delícia de novela, mas perde o fôlego pelo caminho
A novela foi um dos maiores fenômenos da Globo. "Cheias de Charme" marcou a estreia de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira como autores fez um baita sucesso em 2012, recebeu uma avalanche de elogios, tanto de público quanto da crítica, e sua repercussão foi a melhor possível. Até hoje é lembrada com carinho. Sua primeira reprise foi exibida entre 2016 e 2017 no "Vale a Pena Ver de Novo" e a segunda reexibição entrou na faixa chamada de 'especial' da emissora --- pertencente ao extinto "Vídeo Show" --- em março deste ano, chegando ao fim nesta sexta (06/09/2024).
A novela, dirigida por Denise Saraceni, foi uma trama colorida, recheada de personagens carismáticos e soube utilizar a internet a seu favor, fazendo da dita 'concorrente' da televisão uma aliada poderosa. O clipe 'Vida de Empreguete' foi colocado no site da novela ao mesmo tempo que 'vazou' na história e o resultado foi simplesmente mais de doze milhões de acessos, em uma época onde o termo chamado 'transmídia' ainda era novidade. A própria Globo não tinha muita familiaridade com o uso de redes sociais e os sites das novelas eram precários. O Gshow nem existia. A produção inaugurou uma nova era para a empresa e deu muito certo. As músicas 'Vida de Empreguete', 'Maria Brasileira', 'Xote da Brabuleta', entre outras, fizeram sucesso dentro e fora da ficção.
A saga de Cida (Isabelle Drummond), Rosário (Leandra Leal) e Penha (Taís Araújo) caiu na boca do povo. Os autores souberam aproveitar os programas da emissora e as empreguetes se apresentaram em quase todas as atrações da casa --- "Domingão do Faustão", "Mais Você" e "Encontro com Fátima Bernardes" foram alguns deles. Ainda na mistura de ficção e realidade, no último capítulo, Cida lançou um livro baseado nos contos do seu diário e a obra também foi vendida em todas as livrarias do país, em uma época em que as lojas físicas não eram ameaçadas pelo mercado online.
Eram outros tempos e a trama foi aquele caso raro onde tudo funcionou. O único 'azar' foi sua exibição junto com o fenômeno "Avenida Brasil", um dos maiores sucessos da história da teledramaturgia, que arrebatou o país no horário nobre. A história de João Emanuel Carneiro faturou praticamente todos os prêmios disputados, o que acabou tirando a produção das sete do páreo. Caso contrário, o enredo das empregadas que chegam ao estrelato teria vencido várias categorias com facilidade.
Os atores foram muito bem escalados e deram um show. Isabelle Drummond emocionou com sua doce Cida; Taís Araújo brilhou na pele da determinada Penha; Leandra Leal convenceu com sua tão esperada protagonista; Cláudia Abreu foi o maior destaque da trama e fez de Chayene uma das personagens mais marcantes da teledramaturgia e Titina Medeiros foi uma grata revelação vivendo a totalmente louca Socorro. Malu Galli interpretou com maestria a íntegra advogada Lygia; Tato Gabus Mendes (Ernani), enquanto Alexandra Ritcher (Sônia), Simone Gutierrez (Ariela), Rodrigo Pandolfo (Humberto) e Giselle Batista (Isadora) foram ótimos representando a Família Sarmento. Já Chandelly Braz divertiu na pele da periguete Brunessa. Uma pena que Leopoldo Pacheco (Otto), Tainá Muller e Aracy Balabanian (Máslova) tenham sido pouco aproveitados.
Entretanto, a novela das sete teve problemas de desenvolvimento. A história começou com um ritmo ágil e vários acontecimentos, mas, após a ascensão das empreguetes, houve uma imensa queda de qualidade. Núcleos perderam a função, personagens sumiram, as protagonistas perderam o charme, e a 'barriga' se fez presente até a penúltima semana da obra. O roteiro perdeu o fôlego e passou a andar em círculos. Um dos principais atrativos da novela eram as protagonistas e suas características marcantes. Só que a separação do grupo não causou uma virada interessante na obra. O ritmo decaiu após o término do trio e as personagens ficaram irreconhecíveis. Cida, de ingênua e doce, virou uma tonta a ponto de acreditar piamente no homem que a humilhou desde a infância e no rapaz que a abandonou na primeira oportunidade que teve. Penha deixou a fibra de lado e passou a se preocupar o tempo todo com Sandro (Marcos Palmeira), a ponto de ter reatado com o ex no final, o que foi algo inconcebível. E Rosário passou a viver em função de seu dueto com Fabian (Ricardo Tozzi), o que implicou em situações repetitivas. Até Chayene perdeu a sua potência diante da falta de acontecimentos na história.
Além da queda de ritmo, furos dispensáveis ficaram perceptíveis. O primeiro foi a falsa paternidade do Sarmento (Tato Gabus Mendes). Quando o mistério foi revelado para o público, Valda (Dhu Moraes) teve uma longa conversa com o patrão, onde ambos confirmavam o caso do mau-caráter com a mãe de Maria Aparecida e a própria madrinha da empreguete já demonstrava que havia um segredo na vida da menina. Ou seja, os autores se arrependeram da redenção do vilão e resolveram alterar a trama. Outro erro foi a revelação da cirurgia de Inácio (Ricardo Tozzi). A ideia foi criativa, mas no início da novela, quando o personagem contou uma parte do seu drama pessoal, uma cena de flashback foi exibida, onde Dália (Maria Helena Chira) ficava em choque quando via a semelhança de Inácio com Fabian. Mas se ela tinha mandado o cirurgião modificar o rosto do seu 'amado', como pode aquilo ter acontecido? Outro erro foi Ariela não ter descoberto que era traída por Humberto com Brunessa. O saldo geral, todavia, é o melhor possível.
A reprise de "Cheias de Charme" no "Vale a Pena Ver de Novo" não repetiu o sucesso da época e a sua segunda reexibição teve uma audiência abaixo do esperado. Isso em nada afeta a qualidade da produção, mas expõe que os problemas observados em 2012 ficaram mais perceptíveis anos depois. E há também casos de histórias que só funcionam em determinado período. Teledramaturgia nunca foi uma ciência exata. Ainda assim, o folhetim merece todo reconhecimento e está na galeria de obras inesquecíveis do audiovisual brasileiro.
Além da Ilusão
3.7 10 Assista AgoraA verdade é que Além da Ilusão (2022) foi uma das melhores novelas das 18h dos últimos anos, mas muita gente crítica sem nem ao menos ter assistido, ou por simples implicância com a Larissa Manoela, que aliás atuou muito bem.
Teve um desfecho emocionante, uma trilha sonora impecável e contou com grandes atores da teledramaturgia, como por exemplo Paloma Duarte e Antônio Calloni, que roubaram a cena diversas vezes durante a novela.
PS: Foi perfeita, Antônio Caloni sem dúvida foi o melhor ator. Achei uma história linda e cativante.
Renascer
3.4 9Fracasso de remake expôs que "Renascer" nunca foi uma obra prima
A Globo anunciou com pompa e circunstância o remake de "Renascer". Em todas as chamadas, a novela era classificada como 'a obra prima de Benedito Ruy Barbosa'. Tamanha pretensão tinha um objetivo: chamar atenção para repetir o sucesso do remake de "Pantanal", copiado a colado por Bruno Luperi em 2022 e que caiu na boca do povo. Mas a adaptação da trama de 1993 diminuiu em um ponto a média geral de "Terra e Paixão", que tinha elevado em três pontos a média do fiasco "Travessia". Só se falou em outra coisa enquanto a trama estava no ar. Ou seja, a emissora queria um novo êxito e conseguiu um novo fracasso.
As razões são muitas para explicar a baixa audiência da produção e a repercussão praticamente nula. "Renascer" apresentou diversos problemas quando foi exibida e nenhum deles foi corrigido pelo neto do autor na nova leitura. A ausência de carisma de vários personagens, a falta de enredo para 213 capítulos, o ritmo modorrento, a total falta de acontecimentos relevantes ao longo dos meses e os raros e pouco atrativos conflitos já eram percebidos em 1993. Mas, como o folhetim foi um fenômeno há 31 anos, apenas os acertos foram aclamados, enquanto os erros acabaram convenientemente ignorados.
A história original está longe de ser muito significativa na teledramaturgia em comparação a outros sucessos de Benedito, como a já citada "Pantanal", além de "O Rei do Gado" e "Terra Nostra". A própria concepção dela se mostra controversa porque a criação se deu a um pedido da Globo, após o fenômeno de "Pantanal" na extinta Rede Manchete. A emissora queria uma "Pantanal" para chamar de sua e pediu ao autor para criá-la. A trama marcou o retorno de Benedito à líder, após o êxito na concorrência.
Talvez isso ajude a explicar a falta de criatividade do escritor ao longo dos meses e até no desenvolvimento de determinados personagens, como Teodoro (Herson Capri) e Iolanda (Eliane Giardini), que eram cópias menos atrativas de Tenório (Antônio Petrin) e Maria Bruaca (Ângela Leal). Entre as poucas cenas emblemáticas da produção, estão o suicídio de Tião Galinha (Osmar Prado) e a morte de Zé Inocêncio (Antônio Fagundes) diante de João Pedro (Marcos Palmeira). O resto sempre foi pouco lembrado, com exceção da carismática Buba (Maria Luiza Mendonça), que protagonizou a então inédita abordagem a respeito de sua condição (era hermafrodita, hoje classificada como intersexo) e da polêmica em torno da saga de Mariana, cuja rejeição de público e crítica provocou depressão em Adriana Esteves.
Ou seja, diante de uma obra com tantos problemas perceptíveis, valeria a pena um remake? Ainda mais um remake de uma história rural logo após "Terra e Paixão" e menos de dois anos depois do remake de "Pantanal"? A resposta é não. Mas a Globo enfrenta a sua pior gestão em teledramaturgia, onde a criatividade anda cada vez mais em falta e a maioria das apostas está em cima de releituras ou até continuação de novelas. Crise semelhante enfrenta o audiovisual mundial, vide a quantidade de filmes baseados também em remakes e continuações, além de muito 'live action' (versão atuada de desenhos animados clássicos).
A primeira fase de "Renascer" arrebatou o público em 1993 e teve apenas três capítulos. Boni, então todo poderoso da emissora, teve medo que o telespectador se apegasse demais ao elenco jovem e fez a recomendação a Benedito Ruy Barbosa. Já no remake houve uma mudança porque Bruno Luperi decidiu transformar os três capítulos em treze e ainda criou dois novos personagens interpretados por Maria Fernanda Cândido (que apareceu apenas na estreia) e Enrique Diaz. Foi o melhor decisão do neto do autor e o maior acerto da nova versão. No entanto, o pai de Boninho tinha razão na época. A audiência em 2024 se apegou demais aos perfis e aos atores da primeira fase, mas com razão. Humberto Carrão brilhou como Zé Inocêncio; Duda Santos emocionou como Maria Santa; Enrique Diaz deu um show como Firmino; Fábio Lago e Belize Pombal foram viscerais como Venâncio e Quitéria; Juliana Paes fez de sua Jacutinga um sucesso; Evaldo Macarrão divertiu na pele de Jupará; e Antônio Calloni roubou a cena como Belarmino e sua obsessão com 'sua carroça e dois burrinhos da melhor qualidade'. Além dos citados, Uiliana Lima (Morena), Quitéria Quelly (Helena), Adanilo (Deocleciano), Julia Lemos (Flor) e Flavia Barros (Juliette) também se destacaram.
O grande apego aos personagens e intérpretes da primeira fase fez jus ao conjunto da obra. Foram cenas de intensa carga dramática, conflitos densos e muitos embates empolgantes com dois vilões de alto nível que tiveram desfechos catárticos. Aquele caso raro em que a adaptação se mostrou melhor que a original. Mas parou ali. O início da segunda fase provocou uma queda de ritmo abrupta e os novos personagens passaram longe do carisma visto anteriormente. E foi algo que aconteceu em 1993. Houve um estranhamento do público, até porque a história muda quase que por completo. Mas, há 31 anos, a audiência seguiu alta, enquanto agora os números foram caindo gradativamente e a repercussão foi minguando ao longo dos meses. A nova saga ---- de um Inocêncio amargurado e que não se dá bem com seus filhos ---- não apresenta dramas atrativos e dá para contar nos dedos quantos são os acontecimentos relevantes na segunda fase. Para culminar, os novos personagens também não têm conflitos convidativos e o enredo se arrasta. A missão de Luperi era apenas criar novas situações para movimentar a história. Ainda que o autor tenha promovido pequenas mudanças em relação ao trabalho preguiçoso que fez na adaptação de "Pantanal", nada do que foi alterado provocou algo significativo na narrativa a ponto de despertar atenção. Tanto que a novela nunca chegou aos famigerados 30 pontos e patinou em torno dos 25 pontos, chegando a 28 quando a trama apresentava alguma rara tensão, vide a morte de Venâncio.
Até os trunfos da versão original fracassaram no remake, como a figura de Zé Inocêncio. Antônio Fagundes emprestou seu carisma ao protagonista e fez muito sucesso, mas o mesmo não aconteceu com Marcos Palmeira. O ator teve um bom desempenho, é importante ressaltar, e protagonizou boas cenas, mas a sua escalação foi um grave erro. Zé Leôncio, do remake de "Pantanal", tem inúmeras similaridades com o Inocêncio e a trama está fresca na memória do público. A escalação do mesmo ator em um espaço tão curto de tempo afetou a recepção da audiência. Parecia uma reprise. Leonardo Vieira é até hoje lembrado pela sua atuação como Inocêncio na primeira fase em 1993. Era a melhor opção possível e desperdiçaram a chance. Outro êxito da original que não deu certo no remake foi a trajetória de Buba (Gabriela Medeiros).
A personagem necessitava de melhores conflitos porque a obsessão em ser mãe, a ponto de abrigar uma moradora de rua em casa para ficar com o bebê que a menina estava esperando, não é lá uma história que desperta torcida de quem assiste. Mas, na época, a vivacidade de Buba encantou. Maria Luisa Mendonça adotou um tom intempestivo para aquela mulher, a ponto de enfiar os pés pelas mãos diante de sua avalanche de emoções. Gabriela optou pelo oposto. A atriz ficou contida em cena, o que deixou a personagem sem vida, apática, conformada e até sonsa. Sua falta de química com Rodrigo Simas também ficou visível e era impossível não ficar do lado de Eliana (Sophie Charlotte) em vários momentos, já que foi traída pelo marido e ainda escutava da amante que ela não era amante. A rapidez com que Buba se envolveu com Zé Augusto, após a morte do então marido, também não contribuiu para uma melhor aceitação e havia tempo para Luperi construir o novo amor, já que não acontecia quase nada na novela.
O núcleo de Tião Galinha (Irandhir Santos) e Joaninha (Alice Carvalho) foi mais um caso de um enredo que fez sucesso na versão original, mas não funcionou no remake. Os atores foram viscerais em cena e brilharam do início ao fim. São aqueles profissionais que engrandecem qualquer cena. No entanto, o casal que tinha uma vida miserável sofreu uma sucessão de desgraças ao longo de toda a história, sem um minuto sequer de respiro. Na teledramaturgia, todos sabem que felicidade não provoca interesse e a base é sempre o conflito, mas é necessário saber dosar. Para piorar, os personagens tiveram pouco destaque em boa parte do tempo e ficaram avulsos.
Toda a fase em que Tião estava obcecado em chocar um diabinho, graças ao deboche de Inocêncio, era sempre a mesma cena que ia ao ar, com quase o mesmo texto, apenas em cenários diferentes. Era maçante. Mas mesmo depois que deixou sua fixação de lado, o pobre homem seguiu passando por inúmeras dores. Luperi ao menos decidiu mudar o final, já que na versão de 1993 o sem terra se suicida na prisão em uma sequência brilhante de Osmar Prado.
Outros problemas visíveis na trama merecem citação. A novela foi ambientada na Bahia, mas poderia ter sido em qualquer outro lugar. Não fez diferença. Não havia praticamente nenhuma externa e tudo era gravado dentro dos Estúdios Globo. O público não viu nada do lugar.
A história de Teca nunca chegou a engrenar e a personagem passou quase a produção inteira grávida e avulsa na fazenda. Para culminar, depois que teve seu bebê perdeu a pouca função que tinha e praticamente sumiu da novela. Nem mesmo o fato da criança ser intersexo (em uma tentativa de inserir o tema na história) provocou uma abordagem digna.
A súbita aproximação de Teca com Zé Inocêncio, a ponto de chamá-lo de 'voinho', também ficou difícil de engolir, mesmo com a explicação posterior sobre a origem da menina: era sobrinha neta de Maria Santa, uma revelação que em nada impactou no roteiro. Nem o casal formado com Pitoco despertou torcida.
nem com um lugar para morar o casal ficou no último capítulo, já que perdeu a fazenda para Mariana.
Lívio com Joana e foi compreensível, já que quando mudou a condição do personagem, de padre (em 1993) para pastor, tirou qualquer futuro conflito do possível romance. O pastor acabou ficando com a professora Lu no final, outra personagem que nunca teve conflitos e desperdiçou o talento de Eli Ferreira.
e juntou o rapaz com Ritinha (Mell Muzillo), que há 31 anos terminava com Zé Bento, e reatou a relação da advogada com seu ex.
E o que falar sobre a saga de Mariana? Público e crítica rejeitaram a personagem em 1993, que era colocada como uma 'ninfeta' (termo machista que nem é mais usado), o que causou depressão em Adriana Esteves. O mínimo era um cuidado maior no desenvolvimento no remake. Mas Luperi praticamente copiou e colou tudo o que aconteceu em 1993, até o controverso termo 'painho', usado por ela para chamar carinhosamente Zé Inocêncio. O amor entre Mariana e o protagonista não teve qualquer construção e muito menos a paixão que João Pedro criou por ela. A força do triângulo amoroso com pai e filho disputando a mesma mulher nunca existiu. Pelo contrário, era rasa demais qualquer situação vivida pelos três.
A personagem veio para vingar a morte do avô, Belarmino, mas desistiu no segundo capítulo da segunda fase e contou tudo para Inocêncio. Depois, se casaram na semana seguinte
O autor só resolveu mexer no antepenúltimo capítulo, quando a colocou como autora do tiro dado em Egídio (Vladimir Brichta) e responsável pelo assassinato do vilão em uma sequência irretocável em que Mariana seduziu o fazendeiro e o levou para um enforcamento realizado por Damião ---- ela também foi a assassina de Teodoro em 1993, mas foi algo que ficou no ar.
Porém, o remake teve êxitos que precisam ser mencionados. A direção de Gustavo Fernandez se mostrou o grande trunfo da produção. Em meio a tantas direções que deixam a desejar atualmente na Globo, foi um presente para o telespectador o trabalho do diretor, que extraiu o melhor das poucas cenas de ação da história e promoveu filmagens belíssimas em momentos importantes,
como o assassinato de Venâncio, a morte de Marçal ---- queimado vivo ----, o desfecho trágico de Egídio e as visões aterrorizantes do boi bumbá.
formou um bonito casal com Lucy Alves (Lilith) na reta final.
A última semana da novela seguiu com audiência baixa e sem qualquer repercussão em virtude da quase ausência de desfechos relevantes. A melhor cena da reta final foi a já mencionada
morte de Egídio e a sequência em que Mariana revelou a Zé Inocêncio que foi a responsável pelo atentado e depois pela morte de Egídio
Eliana e Damião vivendo na fazenda com o filho. A queda de Zé Inocêncio da cadeira de rodas, que impactou em 1993, se mostrou falha nos dias de hoje. Afinal, como pode um sujeito milionário e conhecido como o rei do cacau não ter uma cadeira automática? Ele caiu e não tinha um celular para pedir ajuda? Não tinha um carro adaptado?
O último capítulo foi prejudicado pelo horário antecipado por conta do jogo da seleção brasileira, mas nem tinha muito mais o que mostrar e seguiu sem ver a cor dos 30 pontos de audiência. A novela nunca marcou o almejado índice da Globo durante toda a sua exibição. Os únicos folhetins pós-pandemia que ultrapassaram os 30 pontos foram o remake de "Pantanal" e "Terra e Paixão". Mas, voltando aos desfechos, a cena da despedida de Zé Inocêncio, que fez as pazes com o filho rejeitado, foi brilhantemente interpretada por Juan Paiva, que demonstrou toda a dor de João Pedro, e Marcos Palmeira, que também brilhou. Todavia, não foi melhor que a sequência original. É inevitável a comparação. O impacto foi bem menor.
Já o desfecho inédito de Mariana foi o mais divertido. A neta de Belarmino ganhou de João Pedro e Sandra a fazenda que era de seu avô e ainda foi para lá com uma carroça e dois burrinhos da melhor qualidade, fazendo jus ao bordão do vilão.
da versão de 1993, não foi Inocêncio o responsável e, sim, Venâncio, que se vingou do coronel que violentou sua filha. Porém, Marianinha jamais saberia que o pai tinha matado Belarmino porque já estava longe de casa há anos quando o crime aconteceu (um furo perceptível). O outro senão ficou por conta da emoção de Teca e Mariana sabendo a verdade através da carta que Marianinha deixou. Tudo bem que se descobriram primas, mas viram que o elo parental delas era um estuprador.
Tião Galinha e Joana com seus filhos diante de uma terrinha que tanto sonharam foi bonito, enquanto o último momento primou pela delicadeza com imagens de Inocêncio e Maria Santa sendo felizes diante de uma paisagem deslumbrante. A imagem final foi a manta de Santinha (que o protagonista tanto usou sentado em sua cadeira) pendurada em um varal, mas sem o famigerado 'fim'.
O fracasso do remake de "Renascer" desnudou as falhas da original e expôs que a novela de Benedito Ruy Barbosa nunca foi uma obra prima. É verdade que audiência e qualidade muitas vezes não andam juntas. Há folhetins de imenso sucesso que foram péssimos e outros que fracassaram, mas eram primorosos. No entanto, no caso da releitura de Bruno Luperi, os baixos números e a repercussão ínfima foram condizentes com a história arrastada e sem maiores atrativos, exibida no horário nobre da Globo desde o dia 22 de janeiro e encerrada nesta sexta-feira, dia 6 de setembro, após maçantes 197 capítulos. Finalmente acabou.
OBS: Enquanto especulam quem será a nova Odete Roitman, quem interpretará a Maria de Fátima ou quem será a escolhida para ser a Heleninha no remake de 2025, além de como será a rivalidade entre as protagonistas Luma (Agatha Moreira) e Viola (Gabz), de "Mania de Você", "Renascer" passa em brancas nuvens e por culpa exclusivamente do roteiro entediante, que já precisava de mudanças em 1993. Zé Inocêncio segue em conflito com seus filhos e preocupado com sua safra de cacau , mas só se fala em outra coisa.
PS: Impressionante como não acontece NADA nessa novela. Semanas e semanas passam e tudo segue exatamente na mesma, onde até os diálogos se repetem. E a Globo jurou que seria um sucesso baseada no resultado de 31 anos atrás. Caiu do cavalo. Bem feito.
Grandes Livros: Autobiografia de Malcolm X
3.5 1A Metamorfose de Malcolm X: Uma Viagem Através dos Livros
Nascido Malcolm Little em 1925, em Omaha, Nebraska, a vida de Malcolm X foi um testemunho do poder da transformação através da auto educação. Seus primeiros anos foram marcados por dificuldades e delinquência, levando a uma sentença de prisão onde ele iria passar por uma profunda metamorfose. Foi dentro dos limites de uma cela de prisão que Malcolm X descobriu o poder transformador dos livros, uma descoberta que não só remodelaria a sua própria consciência, mas também deixaria uma marca indelével no mundo.
O despertar na prisão
O encarceramento de Malcolm X tornou-se o crucível improvável para o seu renascimento intelectual. Sentindo-se sem educação e incapaz de se expressar em letras, ele embarcou em um rigoroso programa autodidacta para dominar a palavra escrita . Ele começou por copiar todo o dicionário, uma tarefa meticulosa que expandiu seu vocabulário e melhorou suas habilidades de escrita. Esta disciplina lançou as bases para os seus vorazes hábitos de leitura.
No silêncio da sua cela, Malcolm X leu tudo o que podia colocar as mãos. Sua lista de leitura era extensa, variando da história à filosofia, abrangendo as lutas das comunidades africanas e o impacto do racismo. Juntou-se às aulas educacionais para promover os seus estudos e participou de debates na prisão, onde o seu conhecimento recém-descoberto lhe deu uma vantagem sobre os seus oponentes.
O poder da auto-educação
A jornada de auto educação de Malcolm X foi um farol de esperança para aqueles que se sentiram marginalizados e sem voz. Ele demonstrou que aprender e falar a mente eram ferramentas poderosas para a libertação pessoal. Sua experiência na prisão ensinou-lhe mais sobre o mundo, e especificamente sobre a história negra, do que ele acreditava que alguma vez teria aprendido num ambiente de educação formal.
Através de sua busca incansável pelo conhecimento, Malcolm X emergiu como um principal porta-voz do separatismo negro, defendendo que os americanos negros cortassem os laços com a comunidade branca. A sua visão radical dos direitos civis foi moldada pelos livros que leu, o que o ajudou a articular uma filosofia que combinava conhecimento político com uma profunda compreensão da discriminação racial.
A transformação e o legado
A transformação de Malcolm X de um bandido para um ministro muçulmano é vividamente narrada em sua autobiografia, co-autoria com Alex Haley . Sua conversão ao verdadeiro Islã durante uma peregrinação a Meca ajudou-o a confrontar sua raiva e a reconhecer a irmandade de toda a humanidade, levando-o a renunciar a muitas de suas crenças antigas. A autobiografia tem sido celebrada como um trabalho crucial para a compreensão da justiça social e da discriminação racial.
O legado de Malcolm X não está apenas nas suas ideias e discursos radicais, mas também na sua demonstração de como a mudança é possível a partir de dentro. A sua história de vida, contada através da sua autobiografia, continua a inspirar e desafiar os leitores, oferecendo uma visão radical para os direitos civis que permanece relevante hoje.
A história de Malcolm X é um lembrete poderoso de como os livros podem moldar o destino de uma pessoa. Sua transformação de Malcolm Little para Malcolm X foi alimentada pelas palavras e ideias que ele encontrou em suas leituras. Aprendeu a ler, escrever, falar e inspirar outros, tornando-se um símbolo do poder da auto-educação e da busca da verdade.
Terra e Paixão
2.8 18 Assista AgoraA novela também teve erros incontestáveis. A saga da Aline não empolgou e andou em círculos ao longo dos meses. A mocinha sempre era ameaçada por Antônio,
enfrentava o vilão, acabava sofrendo alguma consequência grave (prisão, incêndio da plantação e perda das terras)
depois de ter sequestrado Danielzinho, que beirou o absurdo já que a vilã estava desarmada diante de vários policiais. Vale destacar ainda o final de Irene, rica e plena ao lado de um milionário interpretado por Rodrigo Lombardi. E com um filho adotado. Mas a dúvida permaneceu: adotado mesmo ou roubado?
O ponto alto do último capítulo foi
o fim do mistério do assassinato de Agatha. A vilã teve um final apoteótico, digno de sua participação, e já tinha sido desvendado que Irene tinha dado os três tiros na rival, que agonizava na escada. Mas quem empurrou ainda era dúvida. Só que no final das contas, até o envenenamento provocado por Angelina foi criminoso. Ao contrário do que disse em seu depoimento, a governanta não trocou as xícaras. Ela botou veneno para Agatha tomar, mas a vilã logo sentiu o gosto e foi correndo pegar o antídoto. E na escada estava Gentil, que a empurrou. Um plot twist que não foi vazado pela imprensa, fazendo jus a vários finais do Walcyr que surpreendem o público, vide César (Antônio Fagundes) com Félix (Mateus Solano) em "Amor à Vida". A troca de risadas entre Angelina e Gentil encerrou o enigma com chave de ouro. Vale lembrar que os dois eram os únicos que sabiam que Agatha estava na prisão e não morta durante os anos que ficou sumida.
Infelizmente, os mocinhos perderam espaço. Aline sempre será lembrada como a protagonista do Walcyr que não teve uma baita guinada — e acho que se apagou mais que a Filó de “Êta Mundo Bom” —, mas a Bárbara Reis é competente e a gente ainda torcia por ela de alguma forma. Do Caio não dá para dizer o mesmo. O personagem era inverossímil nos primeiros capítulos,
além daquele amor louco pela Aline que chegava a forçar as coisas. Ela não tinha obrigação de gostar dele porque ele gostava dela, muito menos o Daniel merecia toda aquela humilhação da parte do irmão porque era com ele que a Aline queria ficar naquele momento. Para alguém que nasceu “jogado às traças”, eram lampejos de egoísmo insuportáveis. O Caio era boa pessoa, mas não dá pra dizer que ele cresceu com a trama. Deu pena que a mãe que ele amava era uma vaca? Deu.
Agora uma coisa que eu nunca vou esquecer dessa novela é: TODAS as crianças eram um amor! A Rosa foi a que menos apareceu, ainda assim era legal. O Christian era um doce e encarou coisas pesadas em casa e na escola, e o João era um querido também, minha criança favorita da novela (e a relação dele com o Caio era bonito de ver).
Angélica: 50 & Tanto
3.8 9"Angélica: 50 & Tanto" é um programa que merece ser visto
O programa aborda a trajetória de Angélica através de imagens de arquivo enquanto a apresentadora conta um pouco da sua vida para o público e suas convidadas. Ao contrário do que parece, a atração não soa egocêntrica porque Angélica mescla muito bem as suas vivências com as histórias de suas 'visitas'. Isso porque as experiências da dona da casa são usadas para incentivar cada uma a expor suas intimidades e funciona. Claro que o fato de todas as escolhidas para o especial serem amigas de Angélica ajuda bastante na desenvoltura do papo, mas ainda assim havia o risco de parecer algo artificial ou até piegas.
O formato deu muito certo. A sensação é de observar tudo o que é falado pelo buraco da fechadura, como se fosse quase um reality. Angélica está tão à vontade que deixa todas as convidadas igualmente relaxadas a ponto de contarem situações que até hoje não falaram em entrevistas.
A própria apresentadora contou casos que nunca havia mencionado antes, como o dia em que foi assediada por um diretor de televisão quando era apenas uma criança e a ordem que uma diretora da Xuxa (quem poderia ser?) exigiu que ela deixasse de ser loira porque só poderia ter uma na TV.
Xuxa, Anitta, Eliana, Ivete Sangalo, Susana Vieira, Fernanda Souza, Preta Gil, Paolla Oliveira, Marina Ruy Barbosa, Maisa, Carolina Dieckmann, Giovanna Ewbank, Bárbara Paz e Paula Lavigne foram as convidadas do programa e todas protagonizaram bons momentos e abriram suas intimidades com a loira. Um bate-papo tão gostoso que faz o telespectador maratonar o especial sem qualquer esforço. Cada episódio tem cerca de 40 minutos e todos passam voando. E cada um é iniciado com uma apresentação de Angélica contando a respeito de algo que aconteceu em sua vida baseado no título de cada episódio. É muito interessante.
"Angélica: 50 & Tanto" tem criação e direção de conteúdo de Chico Felitti, direção artística de Isabel Nascimento Silva e produção executiva de Luísa Barbosa e Renata Brandão. O programa é produzido ainda pela Conspiração e Hysteria. É um programa despretensioso e deixa um gostinho de quero mais. Vale a pena ver.
Falas Negras Apresenta Histórias (Im)possíveis
3.8 8"Falas Negras - Histórias Impossíveis" fecha o ciclo com um episódio de impacto
No Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi ao ar o último episódio da série "Histórias Impossíveis". Após "Falas Femininas" (em homenagem ao Dia Internacional da Mulher), "Falas da Terra" (em homenagem ao Dia dos Povos Indígenas), "Falas de Orgulho" (em homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQIAP+) e "Falas da Vida" (em homenagem ao Dia Internacional das Pessoas Idosas), a TV aberta exibiu "Falas Negras" nesta segunda, após o último capítulo de "Todas as Flores".
A trama propôs uma discussão sobre os estereótipos criados para personagens negros ao longo da história do audiovisual a partir de uma narrativa ficcional carregada de mistérios. No centro do enredo, Janaína (Grace Passô), uma roteirista negra, tem um encontro com a equipe de autores, todos brancos, de um novo projeto audiovisual, cuja imersão é realizada em uma fazendo do interior, herança da época colonial. Sua chegada gera desconforto tanto aos demais roteiristas ---- o que provoca conflitos na equipe ----, quanto aos funcionários da fazenda, como Benê (Neusa Borges), Justino (Leandro Firmino) e Dita (Dandara Abreu), que aos olhos de Janaína, apresentam comportamentos estranhos.
A história, com o título de "Levante", fala sobre a representação de personagens negros na TV ao longo de várias décadas. Até porque pouco se falava do fato dos pretos só aparecem em novelas como empregados, motoristas ou porteiros. A realidade só começou a mudar recentemente com a inserção de maior diversidade nos elencos, incluindo um importante protagonismo negro, e sem profissões estereotipadas. A série aborda a questão através de um amontoado de situações que instigam o telespectador, que não identifica muito bem no início se a produção é de suspense, terror ou um drama comum.
Depois de perceber que há algo incomum no lugar, Janaína passa a investigar e descobre coisas inimagináveis sobre o verdadeiro propósito da fazenda e dos planos de seus funcionários. Personagens imprescindíveis no desenrolar da história, Benê e Justino, guardam um segredo que mexe com a cabeça de Janaína e dos outros roteiristas que estão na casa. A trama é bem conduzida e consegue prender a atenção de quem está assistindo até o final. E um dos atrativos é ver Grace Passô, uma das roteiristas da série e responsável pelos outros episódios de "Histórias Impossíveis", atuando como protagonista e vivendo uma personagem que tem tudo a ver com ela.
Após muitas dúvidas ao longo da trama, perto do final o intuito do enredo é revelado e o plot provoca um impacto gigantesco em quem assiste. Vários personagens negros e indígenas estereotipados ganham vida e resolvem dar um basta diante de tantos anos protagonizando roteiros escritos por brancos que desrespeitam suas vivências e histórias. O diálogo da representação do traficante, da empregada doméstica, da sambista, do 'preto véio', da ama de leite, entre tantos outros tipos, provoca reflexão e indignação. Neusa Borges, Thalma de Freitas, Ju Colombo, MV Bill e Leandro Firmino são alguns dos que brilham. Já a cena final, da fazenda sendo incendiada pelos personagens com a ajuda de Janaína, arrepia, assim como o encerramento das gravações com a protagonista sendo aclamada por todos da produção. Tudo ao som de "Promessas do Sol", cantada por Milton Nascimento. Uma metalinguagem genial e também uma autocrítica pra Globo que por muitos anos reproduziu o que a série critica.
A antologia "Histórias Impossíveis", apresentadas nos especiais "Falas" deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luisa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fabio Rodrigo, com produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e direção de gênero de José Luiz Villamarim. O melhor episódio foi o que justamente fechou o ciclo.
Gabriela
3.9 17Um beijo de Gabriela
Há uma frase de Dora, personagem de Fernanda Montenegro em Central do Brasil, de Walter Salles, que até hoje me emociona e perturba.
Sem se despedir do menino Josué, vivido por Vinicius de Oliveira, ela embarca, no desfecho do filme, em um ônibus caindo aos pedaços, de volta ao Rio de Janeiro, e lhe escreve uma carta de despedida. Nela, fala de sua já distante infância, e conta sobre quando o pai, maquinista ferroviário, a deixou, ainda pequena, fazer soar o apito do trem. Um momento perdido no tempo. Mas único, inesquecível para ela.
Dora pede ao garoto que, quando sentir falta dela, dê uma olhada no retratinho que tiraram juntos, e arremata a carta: “Eu digo isso porque tenho medo que um dia você também me esqueça. Tenho saudade do meu pai. Tenho saudade de tudo.”
Esse epílogo, embora triste, melancólico, embute uma ponta de esperança. Josué, órfão de mãe, encontra os irmãos mais velhos, e ganha a perspectiva de ter, enfim, uma família. E ela, antes uma mulher amarga, desesperançada e egoísta, parece reencontrar a sua humanidade.
Mas voltemos à frase de Dora, aquela em que a personagem diz ter medo do esquecimento e, ao mesmo tempo, sentir saudade de tudo. Quem já viveu um tanto, e tem, como eu, o hábito de olhar com frequência pelo retrovisor, de revisitar estradas percorridas, em busca de novos significados para antigas paisagens, sente, como a personagem de Fernanda Montenegro, o temor de que essa jornada seja, no fim das contas, uma longa estrada solitária. E, além da nostalgia, a tal “saudade de tudo” seja o único legado da existência quando finalmente chegarmos ao destino, seja ele qual for.
E, revi meio ao acaso, na televisão, trechos de Aquarius, longa-metragem do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho estrelado por Sonia Braga. A atriz paranaense, em estado de graça, é Clara, crítica de música aposentada que se recusa a deixar o apartamento onde viveu boa parte da vida, apesar de toda a pressão que sofre da construtora que pretende demolir o antigo edifício na orla de Recife para construir um grande empreendimento imobiliário. O filme fala de resistência e memória, tema que me é muito caro.
A Sonia chegou ao estrelato na televisão brasileira quando protagonizou, em 1975, a novela Gabriela - quando a histórica adaptação do romance de Jorge Amado estreou na TV aberta. O folhetim, escrito por Walter George Durst e dirigida por Walter Avancini, virou em pouco tempo um fenômeno cultural – e um acontecimento de grandes proporções na minha família. Só se falava das ousadas – e sensualíssimas, para os daquela, ou de qualquer época – cenas de amor entre a personagem-título, uma desinibida retirante do interior da Bahia, de pele morena e pés descalços, e o turco Nacib, que na verdade é sírio-libanês.
Gabriela e Nacib se deitavam e se amavam diante das câmeras – e do Brasil inteiro – ao som de temas de Dori Caymmi e de “Alegre Menina”, cujos belos versos eram cantados por um ainda quase desconhecido compositor alagoano chamado Djavan. E o país, em plena era da pornochanchada, se chocava e se deleitava, encantado em ver tudo aquilo no conforto do lar.
Talvez por causa desse alto teor erótico, considerado uma temeridade nos anos de chumbo de ditadura militar, eu era, digamos, “proibido” de ficar acordado até as 10 horas da noite para assistir ao folhetim. “Não é programa para criança”, cansei de ouvir. Mesmo assim, a maioria desafiava as regras domésticas e lembra de ter visto, escondido, muitos dos 130 e poucos capítulos de Gabriela.
Você se lembra disso: "Esperava minha mãe, que entrava no trabalho muito cedo, pegar no sono e, pé ante pé, saía do quarto sem fazer qualquer barulho. Sentava-me no tapete da sala de nosso apartamento em Copacabana, a dois, três palmos do primeiro aparelho de televisão em cores que tivemos, e mergulhava na Ilhéus dos anos 20. Inebriado."
E, logo em seguida, me levaram até ela: Sonia Braga, já com os cabelos alisados e bem mais curtos, à altura do ombro, se transmutando em Gabriela(1983) ou Dona Flor(1975) ou Solange(1978). Linda, de grandes olhos castanhos e muito simpática, Sônia Braga, Gabriela, Dona Flor e Solange tinham me beijado. E agora as quatro te afagavam os cabelos.
E que voltei dormindo, feliz da vida, no carro.
Vai na Fé
3.8 23Vai Na Fé: A “trilogia” de superação feminina de Rosane Svartman chega ao apogeu
Autora da novela das 19 reforça seu lugar em sua “mitologia suburbana”, que inclui talento, fama, adolescentes, revelações, música… e sempre um deslizezinho no final.
Quando Vai Na Fé foi anunciada pela TV ela quase sofreu do recorrente equívoco de marketing que o braço streaming da empresa vive cometendo: foi “vendida” do jeito errado, como uma “novela evangélica”, provavelmente para que essa informação atravessasse a mídia e fosse buscar alguns espectadores perdidos para as terras bíblicas da Record. Na ocasião, fiz um texto sobre o quanto essa era uma estratégia equivocada, uma vez que por uma questão de compromisso artístico, a Globo jamais faria uma novela seguindo os padrões conservadores de uma novela da Record e, evidentemente, jamais interessaria o público que está lá buscando produtos de natureza estritamente gospel.
A culpa não era de Rosane Svartman e sua equipe, é preciso dizer. Por tradição crítica, os evangélicos apresentados em novelas da casa eram sempre personagens sem likeability, extremistas, castradores. A partir do momento em que a protagonista seria uma mulher evangélica, era natural pensarmos até que ponto a questão religiosa apareceria com destaque na trama. Estaríamos diante de evangélicos “esterilizados” ou simplesmente de pessoas realistas, que podem seguir uma doutrina religiosa sem que isso signifique excluir ou julgar quem não faz parte dela?
A segunda opção se tornou uma evidência assim que a novela começou. A família de Sol (Sheron Menezes) era uma família suburbana, preta, pobre, evangélica; ou seja, muito próxima da realidade da maioria dos brasileiros desse país. Contudo, a maneira elegante, delicada e justa com a qual a religiosidade desses personagens foi retratada aproximava o núcleo daquele mundo “como deveria ser”, muito mais do que como ele realmente é (e como pessoa gay criada dentro do seio de uma família evangélica, atesto o que quero dizer). Rosane Svartman estava fazendo aqui na nossa teledramaturgia o que já vem sendo feito em algumas narrativas estrangeiras nos últimos anos: naturalizar questões sociais sem polemizar sobre elas.
Nunca vimos uma cena em que um dos membros da família de Sol repreendesse outros personagens por não serem evangélicos como eles. A melhor amiga e a afilhada não eram convertidas; o melhor amigo era gay; o amor de infância era de uma religião de matriz africana… E nunca houve a conversa sobre estar cada um numa ponta desse quadrado (forçado, essencialmente, pelo organismo religioso como um todo). Todo mundo convivia bem, tudo era natural; não havia necessidade de discutir as diferenças, porque elas não eram o centro da narrativa. E assim, a primeira família evangélica simpática – e empática – da TV foi guiada por Rosane e sua equipe com extrema competência.
Svartmanverso
A autora, aliás, parece ter encontrado em Vai Na Fé o resultado quase completo de uma progressão ideológica que já aparecia discretamente em Totalmente Demais, sua primeira novela. Seu texto esperto e inteligente já estava lá, mas ainda era preciso que a mocinha pobre tivesse o rosto europeu de Marina Ruy Barbosa e o galã seguisse esses passos, estampado na beleza de Fábio Assunção. Mas, quando Bom Sucesso chegou, um tempo depois, apesar da protagonista ainda precisar dos olhos azuis de uma Grazi Massafera, ela já tinha uma família inter-racial. Houve uma tentativa um pouco fracassada de dar a David Júnior o destaque de um verdadeiro protagonista; mas o curso foi corrigido com o Ben de Samuel de Assis. Passo a passo, as transformações foram sendo feitas.
Contudo, assim como qualquer autor, Rosane tem suas recorrências. As protagonistas perdidas à margem e que sempre tem algum talento e uma pretensão artística; a mulher executiva complexa, que faz coisas ruins por bons motivos (Juliana Paes, Fabíola Nascimento, Carolina Dieckman); o vilão de terno que tem senso de humor (Armando Babbaioff, Emílio Dantas) e por aí vai… Apesar de amarmos Bruna (Carla Cristina Cardoso), foi até um pouco de exagero coloca-la para fazer uma personagem quase igual a que fez em Bom Sucesso.
Em Vai Na Fé esse mundo próprio do estilo de Rosane parece ter encontrado uma sintonia especial. Se em Totalmente Demais ela – por estar chegando – não podia ousar demais; em Bom Sucesso já começou a incutir elementos lúdicos particulares, ligados sempre a questões artísticas e clássicas. Na novela de Paloma foram os livros; com cenas e cenas inspiradas em grandes títulos da literatura e citações elegantes de autores de todas as nacionalidades. Em Vai Na Fé a estrela foi a música. Canções originais ganharam o país através de Sol e Lui (José Loreto); mas numa virada interessante (e um pouquinho mal dosada) personagens começaram a cantar clássicos, em sequências musicais que costuravam a história.
E tivemos espaço para a celebração da teledramaturgia também. Embora infelizmente a autora tenha escolhido o cinema para colocar a inesquecível Vilma (Renata Sorrah) em ação; a personagem passou a novela citando personagens da nossa história teledramatúrgica e fazendo com que o coração dos noveleiros batesse com um carinho especial por esse projeto. Não só Rosane e seu fantástico time estavam escrevendo uma novela divertida, esperta e coerente, como também estavam aproveitando para festejar esse gênero (que com o crescimento do streaming passou a ser desprezado, precisando cada vez mais de honrarias).
A Fé Não Costuma Falhar
Outro aspecto recorrente da obra de Rosane é a perda de fôlego na reta final, que atingiu toda sua trilogia e que acaba atrapalhando um pouco a experiência. Assim como em Totalmente Demais e Bom Sucesso, a protagonista estava em busca da realização de um sonho artístico. No caso de Sol é possível que no intuito de manter a situação sob controle, o sucesso da personagem tenha demorado demais para acontecer; questão essa que atribuo justamente a esse descarrilho nos 40 capítulos finais.
A progressão da carreira de Sol foi bloqueada pelo longo e penoso enredo envolvendo o julgamento de Téo; uma trama que durou muitos capítulos, trouxe discussões importantes, mas que foi encerrado sem o mesmo apuro comum ao texto da novela. Téo vencer o processo é totalmente coerente com a realidade, mas a falta de uma amarração narrativa para que ele pagasse por isso em seguida não é coerente com a ficção. A questão dos abusos foi esquecida na reta final, ele não passou por novo processo, não houve um encerramento digno para essa questão; e o que causou sua “falsa morte” e sua prisão foram as arestas do contrabando. Sempre tive a sensação de que Érika (Letícia Salles) se aproximaria dele, defendendo-o, para ser uma outra vítima; e que isso a acordaria (já que ela tinha um ótimo enredo como contraponto para as questões etaristas levantadas por Vilma). Mas, essa foi uma oportunidade perdida.
Mel Maia foi outra que sofreu com um planejamento difícil. A patricinha influencer tinha um grande potencial, já que estudava em meio a uma porção de bolsistas e tinha zero referência familiar. Os embates com Jennifer (Bella Campos) eram ótimos, a aproximação com a maravilhosa Dora (Claudia Ohana) também foi um acerto… Mas, no meio da novela Guiga foi desviada para um enredo estapafúrdio que foi parar no fim do fofíssimo casal gay formado por Guthierry Sotero e Jean Paulo Campos. Uma mancada quase imperdoável, que encerrou uma bem-vinda trama LGBTQ guiada por atores pretos e terminou por destruir a relevância dos que sobreviveram aos escombros.
É claro que estamos falando de uma novela, uma obra aberta, passível de interferências e pormenores que desconhecemos. Mas, ficamos nos perguntando por que a trama de adoção para o personagem de Marcos Veras não veio antes? Por que não exploraram a relação de Bruna com o filho da fofoqueira? Por que Vitinho (Luis Lobianco) nunca teve uma vida própria…? Talvez jamais saibamos quais as engrenagens que levaram a essas decisões. Elas estão aí e cada um decide qual vai ser o tamanho do pano que passará.
O meu “pano” eu precisei torcer bem para que ele desse conta do absurdo que foi o enredo do sequestro falso armado por Kate (Clara Moneke) e da maluquice que foi ver Jennifer e Rafael (Caio Manhente) achando que enganariam Téo. A maluquice dos irmãos atrapalhados ainda resultou nas acusações de contrabando, mas o falso sequestro não teve absolutamente NENHUM desdobramento coerente. Foi uma decisão narrativa tão ruim, mas tão ruim, que passou um bom tempo circulando pela internet como razão para o descrédito na novela. Rosane ainda tentou defender a ideia usando o passado de Kate para justificar sua irresponsabilidade; traindo a evolução da própria personagem.
E Kate foi o fenômeno que todos nós estávamos precisando. O trabalho de Clara foi comovente de tão especial. Kate era divertida, debochada, mas eram lindas a sensibilidade e a afetuosidade vislumbradas de um simples olhar, vazando de seus escudos de petulância. Se não fosse pelo famigerado sequestro falso, ela teria passado pela novela sem um arranhão sequer; já que, até mesmo na reta final, sua persona empresária foi simplesmente deliciosa de assistir. O trabalho de Clara e o de Carolina Dieckman (como Lumiar), fulguram entre os traços mais inesquecíveis de Vai Na Fé; uma pela expansão, outra pela introversão; mas ambas imperfeitas, humanas, adoráveis.
Apesar dos tropeços (que incluem um último capítulo abaixo da média), está consagrado que quando Rosane Svartman aparece no horário das sete, seremos presenteados com uma novela bem escrita, cuidadosa, com cara de Brasil, com o doce da mentira e a força que supera as realidades. A linda canção de abertura (talvez uma das melhores da história da teledramaturgia), diz perfeitamente que queremos ver nossa família bem, nossos amigos bem, todo mundo bem… E Vai Na Fé passou por nós como uma oração delicada, só fazendo bem, cheia daquele otimismo que acessamos na dúvida, porque o que nos move é o bom e velho “graças a Deus que eu não choro mais”.
No Limite (7ª Temporada)
3.7 8Tudo sobre "No Limite - Amazônia" com o apresentador Fernando Fernandes, os diretores Rodrigo Giannetto e Gabriel Jacome, e o vice-presidente de criação da Endemol Allan Lico.
Fernando Fernandes falou do novo ambiente do reality: "Tudo é muito difícil, mas muito lindo. A Amazônia encanta e amedronta. É o 'No Limite' mesmo. Isso que é bonito daqui. A gente vem preparado achando que conhece alguma coisa da floresta, mas quando cai dentro dela... É uma mistura de amor com beleza e medo. Os desafios são interessantes e vários serão dados aos participantes para eles se resolverem na convivência, no acampamento, enfim. O que eles vão fazer com cada conquista e cada derrota. Como farão as estratégias para isso. Vamos dar ênfase a essas estratégias. Minha vida é me adaptar o tempo inteiro e podem ter certeza que essa temporada está diferente e radicalmente nova e intensa.", se empolgou o apresentador.
O diretor Gabriel Jacome soltou alguns spoilers: "Um dos grandes diferenciais da Globo é escutar seu público. A gente tá sempre observando os comentários, faz muita pesquisa e tá sempre buscando incorporar. O entretenimento está sempre em transformação e vou aproveitar para dar um spoiler. A final sempre foi algo polemizado porque são várias finais no mundo no 'Survivor' e uma das coisas que escutávamos muito era sobre a votação ao vivo com participação do público e que isso tirava a justiça em torno da trajetória do participante.
A gente optou nessa temporada em não ter a participação do público. A final agora será definida por uma prova e são as habilidades que farão o vencedor do 'No Limite - Amazônia'. Escutamos o público. Vamos nos aproximar mais do formato original do 'Survivor'. Vai ter Ídolo de Imunidade escondido!", adiantou.
O vice-presidente de criação da Endemol, Allan Lico, complementou: "Estamos trabalhando essa edição há aproximadamente um ano. Também escutamos o público sobre a convivência dos participantes. Muitos reclamavam que não tinha muito esse foco e agora vamos ter. Vamos ter muitas referências ao 'Survivor'. Vai ter gente identificando 'ah, mas isso é referência da temporada tal', enfim. Estamos muito feliz em trazer de volta a origem, ao 'No Limite' raiz. Quem é fã do formato vai reconhecer muitos momentos do clássico. A gente tá trazendo esse ano muito forte a questão da convivência.", ressaltou.
O diretor geral da Endemol, Rodrigo Giannetto, também fez questão de acrescentar: "É importante mesmo que os participantes terminem a trajetória deles de uma forma mais justa. E uma grande novidade é como inserimos o telespectador na experiência agora. O público não tem a força mais da decisão do voto, mas ele segue se sentindo dentro do programa e terá uma nova experiência assistindo ao 'No Limite'. Vão se sentir andando com o Fernando, uma experiência mais imersiva nas provas, enfim, uma inovação trazer essa sensação para o público. A escolha da Amazônia é porque é um dos maiores centros do mundo e temos todo o respeito que esse espaço merece ter. A gente escolheu uma região de um dos maiores fenômenos naturais que é a inundação da floresta. Um dos ambientes mais desafiadores do mundo. Nos adaptamos e também na cultura das provas. Um trabalho feito em conjunto. As provas serão desafios amazônicos. Estamos emocionados com o que está acontecendo no programa. É a produção mais desafiadora das nossas vidas. Só tenho a agradecer todo mundo que topou, desde os profissionais até os participantes. É algo realmente novo. Todos nós só temos a ganhar, inclusive o público.", finalizou.
O "No Limite - Amazônia" estreia no dia 18 de julho de 2023, nesta terça. E pela primeira vez sem a direção de Boninho.
Força de um Desejo
3.6 38 Assista Agora"Força de um Desejo": um novelão injustiçado
Exibida originalmente de 10 de maio de 1999 a 28 de janeiro de 2000, com 226 capítulos, "Força de um Desejo" foi uma novela das seis marcada pelo capricho e grande elenco. No entanto, não é um folhetim muito lembrado pelo grande público e nunca tem seus personagens citados em homenagens televisivas sobre a história da teledramaturgia. A reprise de 2005, no "Vale a Pena Ver de Novo" já tinha provado que o 'esquecimento' é injusto e a reexibição no Canal Viva, iniciada em outubro de 2022 e encerrada nesta quinta-feira (13/07/2023), comprovou o fato.
Escrita por Gilberto Braga, Alcides Nogueira e Sérgio Marques (dirigida por Marcos Paulo e Mauro Mendonça Filho), a novela foi a terceira mais longa da Globo nos anos 90 ----- ficou atrás de "Barriga de Aluguel" (243) e "Quatro por Quatro" (233). Planejada para 179 capítulos, a história acabou esticada a pedido da emissora, o que resultou em reclamações de Gilberto e sua equipe na época. Porém, o esticamento não se deu em virtude do sucesso e, sim, por conta de planejamentos na grade do canal. A produção teve 26 pontos de média geral, índice considerado baixo na época. É até compreensível o certo afastamento do público porque a história tem uma energia pesada e algumas vezes parece as extintas minisséries que eram exibidas após as 23h. Não é um enredo leve e tem pouco humor.
Todavia, o conjunto da obra transborda qualidades. Os autores conseguiram criar personagens densos e um enredo que não caía no marasmo, mesmo em uma época onde a agilidade dos folhetins praticamente inexistia. Era comum toda novela ter longos meses de ritmo arrastado.
Além dos conflitos atrativos, a história tinha os maiores acertos de um bom roteiro: vilões bem construídos e um casal de mocinhos com química. Aliás, a junção de Gilberto com Alcides e Sergio teve grande importância neste quesito. Gilberto sempre foi expert na criação de personagens desprezíveis, mas falhava constantemente na parte dos protagonistas. Com a ajuda de Alcides e Sergio conseguiu construir seu melhor par de mocinhos na carreira: Ester Delamare (Malu Mader) e Inácio Sobral (Fábio Assunção).
Aliás, o enredo é um dos clichês mais conhecidos: pai e filho se envolvendo com a mesma mulher, ainda que na teledramaturgia o mais comum seja mãe e filha se apaixonando pelo mesmo homem. Ambientada no século XIX, Vale da Paraíba, Rio de Janeiro, a novela conta a história do amor vivido por Inácio e Ester. O rapaz é o filho predileto de um dos maiores fazendeiros da região e conhece a mulher de sua vida quando a encontra no salão mais famoso da Corte. A elegante proprietária do local é uma cortesã que provoca a admiração de todos os homens do lugar. Os dois se apaixonam perdidamente a ponto da personagem aceitar largar aquela vida para ser a esposa de Inácio.
Porém, os planos são arruinados quando o estudante recebe a notícia da morte de sua mãe, a baronesa Helena (Sônia Braga em uma breve participação), e volta para a fazenda para ajudar o pai nos negócios da produção de café. Ele acaba contando que está apaixonado, mas a conversa é ouvida pela sua avó, a perversa Idalina (Nathalia Timberg), que forja uma carta e envia para a tal pretendente mesmo sem saber a sua identidade. Afinal, o objetivo da vilã é casar o neto com a fútil Alice (Lavínia Vlasak), filha de Higino Ventura (Paulo Betti), rival e grande inimigo do Barão Henrique Sobral (Reginaldo Faria), o genro que sempre detestou. Vale ressaltar também todos os meandros que envolvem a patricinha, que engravida de Aberlado porque sempre soube que não eram irmãos e usa a criança para prender Inácio.
Os mocinhos acabam se separando e passam a se odiar a ponto de Ester iniciar uma procura para se vingar do rapaz, já que pensa que foi abandonada.
Enquanto planeja a vingança, acaba conhecendo Henrique, que se encontra de luto pela perda da esposa, a quem nunca perdoou pela única traição que originou Abelardo (Selton Mello), filho da falecida baronesa com Higino. Um se torna o apoio emocional do outro até que o barão se apaixona por Ester, que se casa com o poderoso fazendeiro, ainda que mais por admiração e amizade do que por amor. Obviamente, quando vai morar com o novo marido se depara com Inácio e tudo vem à tona, incluindo a armação que vitimou o amor de ambos. Os dois passam a ter que lidar com a dolorosa convivência diária e Ester precisando engolir a arrogância e o deboche de Idalina, que nem imagina que era a pessoa que afastou de seu neto.
Há ainda uma ótima trama protagonizada por Cláudia Abreu, que vive Olívia
, uma golpista que surge na cidade e depois todos descobrem que se trata de uma escrava branca fugida. O enredo é claramente inspirado no clássico "Escrava Isaura", novela de 1976, baseada no livro "A Escrava Isaura" e adaptada pelo mesmo Gilberto Braga em 1976.
O elenco ainda tem vários outros nomes que se destacam, como Júlia Feldens (Juliana), José de Abreu (em uma breve participação na pele do português Pereira), José Lewgoy (Felício), Cláudio Correa e Castro (Leopoldo), Nelson Dantas (Dr. Xavier), Antônio Grassi (Vitório), André Barros (Trajano), Dira Paes (Palmira), Luiz Magnelli (o barbeiro Gaspar), Rosita Tomaz Lopes (Fabíola), Alexandre Moreno (Cristóvão), Carlos Eduardo Dolabella (Comendador Queiroz), Nill Marcondes (Zelito), Otávio Augusto (Dr. Eurico), Yaçanã Martins (Socorro), Mário Lago (em uma luxuosa participação como Dr. Teodoro), Helena Fernandes (Clara), Delma Silva (Diva), Clemente Viscaíno (Inspetor Bustamante), entre outros. Vale uma menção especial ao talento de Denise Del Vecchio, que brilha na pele da desbocada Bárbara, esposa de Higino, que transborda burrice e falta de educação. A personagem ainda é a responsável pelo maior 'plot' do enredo porque é vista ao longo de toda história
como uma completa idiota e no final é revelado que foi a assassina de Henrique Sobral e responsável por todas as mortes suspeitas que ocorreram ao longo do folhetim ----- a produção tem um 'quem matou?'
"Força de um Desejo" é uma novela que esbanja capricho e merecia ser mais lembrada pelos telespectadores. Embora transborde qualidades, está na lista de produções injustiçadas, tanto na audiência quanto na memória do grande público. A reprise no Viva foi um presente para quem assistiu e esqueceu de muitos detalhes e para quem ainda não tinha prestigiado uma obra tão bem escrita, atuada e desenvolvida.