O que é arte e o que é vida ? Se não existe um limite claro, os filmes de Abbas Kiarostami residem na ponte que une as duas coisas, e se não existe limite nenhum, o cinema de Kiarostami é um cinema total, que tudo embarca.
Eu não poderia dizer melhor que Godard : " O cinema começa com D. W. Griffith e termina com Kiarostami."
Realmente acho que Enlightened é a melhor série no ar nessa época do ano, episódios consistentes, Laura Dern dando um show toda semana, pena ser uma série tão 'de nicho' com um tipo de humor bem sutil, uma sátira perfeita e ao mesmo tempo complacente com sua protagonista, muita gente não entende ou não vê o apelo, isso machuca bastante a audiência.
Uma sátira irreverente e afiada, se por um lado somos repelidos pelo aspecto grotesco, por outro somos inevitavelmente atraídos pela beleza e precisão típicas do Buñuel, um filme essencial.
Jovens acolhidos pela noite, luzes neon e neblina envolvem a melancolia que aflige corações incapazes de criarem conexões verdadeiras. Cabelos negros ao vento em uma moto na velocidade máxima, os contornos do corpo de uma mulher vestida em látex, sozinha enquanto deseja na cama de um possível amor, um filho filma o pai em 8mm, todos esses permanecem entre os momentos mais tocantes e poéticos dos anos 90. Um estilo de filmagem romântico e misterioso.
"Forget him, and it's like forgetting everything. All sense of direction seems lost, like losing oneself. Forget him, and it's like forgetting the joy of life. It's like a stab in the heart, bleeding and in agony."
Quando o filme terminou, o seguinte diálogo se passou :
- E pensar que fechou o festival de Veneza em 2005 e foi a escolha oficial de Hong-Kong pro Oscar 2006 ... o que eles tinham na cabeça ? - Takeshi Kaneshiro.
Logo no início de Miami Vice, uma mulher dança na frente de uma tela de vídeo que explode em cores e formas abstratas, essa cena é uma síntese do filme : texturas, movimento e a maneira como o digital se relaciona com a luz. O tom documental sempre dando a sensação de presente, de que o filme está acontecendo ao mesmo tempo em que assistimos, assim como as inúmeras telas que aparecem durante o longa, capturando momentos ao mesmo tempo em que presenciamos. A câmera incansável de Michael Mann flutua e procura um foco nesses policias sem identidade, arrastados numa trama onde cada cena engole a anterior. Sim, o filme é uma bagunça, cheio de momentos wtf e frases de efeito ( " I'm a business woman ", diz Gong Li com o sotaque arrastado, enquanto balança a cabeça ao vento, num gesto de dignidade ), mas a maneira como Michael Mann explora os limites da mídia digital, acidentalmente - ou engenhosamente, não dá pra dizer ao certo - dá vida a um novo tipo de cinema que, julgando pelos comentários dessa página, o público não estava preparado. Nesse aspecto Miami Vice pode ser considerado um dos filmes mais importantes da década passada.
Não chega a ser um ótimo filme, na verdade está bem longe disso, mais pelas suas incongruências do que pelo conteúdo gráfico - não vejo problema nenhum em sexo explícito usado como conceito. O sexo aqui não é um plus, mas um dispositivo primordial que rompe qualquer noção de moralidade moderna, uma expressão de poder e dominância, espetáculo dos obscenamente ricos, que inebriados pelo bom vinho exercem uma opressão que inevitavelmente acaba em reação das classes dominadas, a única solução lógica. Malcolm McDowell como o desvairado Caligula tá impagável nesse filme !
Tinto Brass leva o espírito dos quadrinhos ao cinema nessa pulp fiction cheia de 'Boooms' e 'Zaaaps' e 'Poows', recheada de pop art, psicodelia e enorme inventividade visual num filme onde o protagonista é tragado por um mistério que se revela um jogo de percepção, e ao mesmo tempo, brinca com o público quando placas de rua ou um poster na parede comentam o que acontece na tela.
Os sorrisos de Setsuko Hara se tornam cada vez mais devastadores, gentilmente mascarando a tragédia de uma vida que nos separa daqueles que realmente amamos e nos importamos ...
Em algum lugar nos últimos 25 anos o Western perdeu o nível de relevância cultural que ostentava na sua época de ouro – The Wild Bunch ( 1969, Sam Peckinpah) sendo considerado o ultimo western de verdade . Alguns bons filmes do gênero foram feitos durante os anos 90 mas o melhor deles Dead Man (1995) justamente quebrava as convenções do gênero num faroeste metafísico. Apesar desses esforços, o western não foi revivido, porém na ultima década, seriados como Firefly (2002), Deadwood (2004, HBO) e filmes como Brokeback Mountain (2005), 3:10 to Yuma (2007) e No Country for Old Man (2007) trouxeram de volta esse gênero de filmes ao radar cultural, essas versões contemporâneas deram nova roupagem à desgastada fórmula herói VS vilão em favor da comunidade, subvertendo o gênero e colocando a moral dos personagens em uma área cinza. Dessa nova safra de westerns, meu favorito, de longe, é The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007), um filme que retrata não os últimos dias do western, mas que vive após a morte do gênero. Através da cinematografia e de manipulação digital o diretor Andrew Dominik, cria um filme quase monocromático que usa desfoque e natureza como forma de abstração, atingindo um visual que precede a era do cinema ( as cenas no teatro demonstram que esse também é um dispositivo da narrativa do filme), assistir The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford é como ler um livro, vai se desenrolando sem pressa, página por página, criando tensão e dando espaço pra uma desconstrução profunda da psicologia dos personagens. Jesse James anda paranóico (e com razão) isso é acentuado pela sua personalidade instável ao enfrentar uma situação onde não se pode dar um passo em falso. Se o destino de Jesse James estava selado desde que se tornou um mito do Oeste, seu instinto de sobrevivência é maior, embora no decorrer da estória ele dê dicas de que deseja a própria morte ou que já está conformado com ela. Do outro lado temos o desprezível Robert Ford ( Casey Affleck, justamente indicado ao Oscar por esse filme) que desde garoto idolatrava Jesse James através das novelas que romantizavam o ladrão e seus roubos históricos – nesse aspecto o filme dialoga com o fenômeno das celebridades na cultura ocidental, Bob não se contenta em admirar seu ídolo, ele mesmo quer ser um herói – e agora que se tornou um agregado na vida de Jesse James tem a oportunidade de cumprir o fatídico título do filme, eliminando a ameaça que esse homem imprevisível representa, e ao mesmo tempo se tornando como ele, uma lenda, e, mais profundamente, se tornando o próprio Jesse James em seu delírio de grandeza “Can't figure it out: do you want to be like me or do you want to BE me?”. Mas a realidade é diferente da mente obcecada pela fama de Robert Ford , e é nisso que o filme se foca nos últimos 40 minutos, os desdobramentos da morte de Jesse James e as conseqüências que estão por cair sobre Robert Ford. Um Oeste onde se atira pelas costas, onde o vilão é percebido como herói e o herói é um homem tão desprezível quanto o próprio vilão, The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford assassina essa falácia passada por gerações sobre a grandeza dos homens do oeste americano, ao invés de bang-bang e cavalos galopantes o filme opta por drama e introspecção, desconstruindo e ultrapassando o gênero, cimentando uma nova geração de Westerns.
Rever Damsels in Distress revela vários detalhes que antes passaram despercebidos, o humor e os diálogos ganham novas nuances, o filme segura bem em visões repetidas, uma delícia !
Assistir qualquer filme do Whit Stillman esperando encontrar uma trama intrincada e completamente amarrada, é quebrar a cara . Ao invés da narrativa, o que confere fluidez aos filmes dele são os diálogos, o diretor está interessado nas interações sociais entre classes, sexos, e entre personagens com noções de moralidade diferentes. Pense nos contos e peças de Oscar Wilde, nas comédias de costumes etc. Pessoalmente acho The Last Days of Disco o filme que coleciona os diálogos mais brilhantes dos anos 90, e algumas cenas estão entre os melhores diálogos já filmados. Você pode não simpatizar com as personagens, mas impossível não se afeiçoar com a honestidade de tudo que sai da boca delas, às vezes besteiras, às vezes coisas genuinamente interessantes, mas irremediavelmente embaladas em um humor seco. Embora seja ambientado no começo dos anos 80 e cheio de músicas da era Disco, o diretor não se utiliza de roupas caricatas ou maneirismos excessivos, ao invés disso recria a energia de uma geração de jovens auto-centrados provenientes de famílias ricas tentando ‘acontecer’ em uma metrópole, e mais do que isso, recria uma energia atemporal de diversão e celebração.
Shadow of a Doubt talvez seja o mais ambíguo dos filmes do Hitchcock, a começar pelos nomes dos personagens : Charlie e Charlie, sobrinha e tio, a garota do interior VS tio que leva vida cosmopolita. São opostos e idênticos ao mesmo tempo, compartilham um elo psíquico e química sexual, porém um é serial killer e a outra vive numa bolha de inocência. A genialidade desse filme está em surpreender nossas expectativas – o que o diretor faz sempre com maestria, diga-se de passagem – o público simpatiza com o charmoso uncle Charlie , tão admirado pela sobrinha, e quando sua verdadeira identidade é revelada de uma vez por todas, mais do que repulsa, nos sentimos culpados pela cumplicidade que compartilhamos com o personagem, e na cena do jantar quando ele fala sobre as mulheres ricas que prosperam através da morte dos maridos na guerra e como elas são um desperdício de vida, para nosso horror, racionalizamos os motivos do assassino. Já a sobrinha Charlie, após a chegada do tio é colocada em uma situação onde deve deixar os assassinatos continuarem, ou então ela mesma se tornar uma assassina, num verdadeiro jogo de gato-e-rato. No final, seria Charlie tão inocente assim ou apenas tão hipócrita quanto o seu tio ? Nesse aspecto o filme pode ser visto como um conto moral onde a heroína não encontra redenção, Hitchcock mais uma vez nos assombra pro resto da vida.
O Sol tem uma textura diferente dos outros filmes do Sokurov que já assisti, não sei se consigo apontar direito o que é, mas a mistura da estética japonesa e do tema do filme com os takes longos, câmera 'achatada' e outras obsessões do Sokurov, criou um universo extremamente fascinante. O imperador dançando sozinho ou imitando os animais aquáticos que estuda, mais parece uma criança, nesse aspecto o filme remete à Mãe e Filho (1997).
Relembra mestres como Visconti ou Antonioni, mas com uma abordagem mais contemporânea. Beijos apaixonados, roupas elegantes, culinária requintada, um filme sensual.
Vertigo é um filme divertido do Hitchcock, roteiro cheio de reviravoltas. Você começa achando que é um drama sobre um policial sofrendo de vertigem, mas aí
Kim Novak aparece e você deduz que agora é um romance, de repente um elemento paranormal é introduzido na trama : estaria Kim Novak possuída pela ancestral ? Depois descobrimos que é tudo parte de um plano : 'ahh, então na verdade é um filme de golpe ?'. Quando James Stewart reencontra Kim Novak vivendo no hotel, Vertigo se torna um drama psicológico sobre idealização e projeção, daí quando você acha que vai tudo se resolver no alto da torre, vem a freira e Hitch fecha o filme com humor-negro, fazendo referência à Black Narcissus.
Coitado do Scottie, só com uns bons anos de terapia pra se recuperar depois dessa.
Ao adotar o ponto de vista de Mia através da narrativa e da mise-en-scène, a diretora demonstra maior preocupação com as mazelas do crescimento/amadurecimento e o despertar sexual da protagonista, fazendo um retrato dessa realidade social de dentro para fora ao invés da distanciação que busca representar com certa lucidez uma sociedade caótica. Fish Tank é um estudo de personagem sobre essa garota que tenta se libertar das expectativas da classe-média britânica, então vejo o final agridoce e não-defininitivo como um acerto.O filme depende muito da atriz Katie Javis, que está na tela quase o tempo inteiro, carregando a história com uma performance sólida e meio '"hay que endurecerse, pero sin perder la ternura", realmente impressionante.
Tenho problemas com os trejeitos do Ethan Hawke, acho ele um ator bem canastrão, nem Linklater conseguiu deixar ele interessante. Agora, sobre o filme : é um drama/romance de diálogos acima da média, bem charmoso.
Close Up
4.3 117O que é arte e o que é vida ?
Se não existe um limite claro, os filmes de Abbas Kiarostami residem na ponte que une as duas coisas, e se não existe limite nenhum, o cinema de Kiarostami é um cinema total, que tudo embarca.
Eu não poderia dizer melhor que Godard :
" O cinema começa com D. W. Griffith e termina com Kiarostami."
Enlightened (2ª Temporada)
4.2 42 Assista AgoraRealmente acho que Enlightened é a melhor série no ar nessa época do ano, episódios consistentes, Laura Dern dando um show toda semana, pena ser uma série tão 'de nicho' com um tipo de humor bem sutil, uma sátira perfeita e ao mesmo tempo complacente com sua protagonista, muita gente não entende ou não vê o apelo, isso machuca bastante a audiência.
Viridiana
4.2 141Uma sátira irreverente e afiada, se por um lado somos repelidos pelo aspecto grotesco, por outro somos inevitavelmente atraídos pela beleza e precisão típicas do Buñuel, um filme essencial.
Rififi
4.3 62Um filme de roubo imbatível na sua combinação de tensão e sofisticação.
Anjos Caídos
4.0 267 Assista AgoraJovens acolhidos pela noite, luzes neon e neblina envolvem a melancolia que aflige corações incapazes de criarem conexões verdadeiras. Cabelos negros ao vento em uma moto na velocidade máxima, os contornos do corpo de uma mulher vestida em látex, sozinha enquanto deseja na cama de um possível amor, um filho filma o pai em 8mm, todos esses permanecem entre os momentos mais tocantes e poéticos dos anos 90. Um estilo de filmagem romântico e misterioso.
"Forget him, and it's like forgetting everything.
All sense of direction seems lost, like losing oneself. Forget him, and it's
like forgetting the joy of life. It's like a stab in the heart, bleeding and in
agony."
Talvez Amor
3.6 1Quando o filme terminou, o seguinte diálogo se passou :
- E pensar que fechou o festival de Veneza em 2005 e foi a escolha oficial de Hong-Kong pro Oscar 2006 ... o que eles tinham na cabeça ?
- Takeshi Kaneshiro.
Miami Vice
3.1 207 Assista AgoraLogo no início de Miami Vice, uma mulher dança na frente de uma tela de vídeo que explode em cores e formas abstratas, essa cena é uma síntese do filme : texturas, movimento e a maneira como o digital se relaciona com a luz. O tom documental sempre dando a sensação de presente, de que o filme está acontecendo ao mesmo tempo em que assistimos, assim como as inúmeras telas que aparecem durante o longa, capturando momentos ao mesmo tempo em que presenciamos. A câmera incansável de Michael Mann flutua e procura um foco nesses policias sem identidade, arrastados numa trama onde cada cena engole a anterior. Sim, o filme é uma bagunça, cheio de momentos wtf e frases de efeito ( " I'm a business woman ", diz Gong Li com o sotaque arrastado, enquanto balança a cabeça ao vento, num gesto de dignidade ), mas a maneira como Michael Mann explora os limites da mídia digital, acidentalmente - ou engenhosamente, não dá pra dizer ao certo - dá vida a um novo tipo de cinema que, julgando pelos comentários dessa página, o público não estava preparado. Nesse aspecto Miami Vice pode ser considerado um dos filmes mais importantes da década passada.
Caligula
3.1 492 Assista AgoraNão chega a ser um ótimo filme, na verdade está bem longe disso, mais pelas suas incongruências do que pelo conteúdo gráfico - não vejo problema nenhum em sexo explícito usado como conceito. O sexo aqui não é um plus, mas um dispositivo primordial que rompe qualquer noção de moralidade moderna, uma expressão de poder e dominância, espetáculo dos obscenamente ricos, que inebriados pelo bom vinho exercem uma opressão que inevitavelmente acaba em reação das classes dominadas, a única solução lógica. Malcolm McDowell como o desvairado Caligula tá impagável nesse filme !
Eliminação
3.6 10 Assista AgoraTinto Brass leva o espírito dos quadrinhos ao cinema nessa pulp fiction cheia de 'Boooms' e 'Zaaaps' e 'Poows', recheada de pop art, psicodelia e enorme inventividade visual num filme onde o protagonista é tragado por um mistério que se revela um jogo de percepção, e ao mesmo tempo, brinca com o público quando placas de rua ou um poster na parede comentam o que acontece na tela.
Pai e Filha
4.3 55 Assista AgoraOs sorrisos de Setsuko Hara se tornam cada vez mais devastadores, gentilmente mascarando a tragédia de uma vida que nos separa daqueles que realmente amamos e nos importamos ...
Intriga Internacional
4.1 348 Assista AgoraA eloquência das imagens de Hitchcock é mesmo imbatível,
numa das ultimas cenas,
CARY GRANT acaba com um COMUNISTA em cima do Monte Rushmore, no nariz de ABRAHAM LINCOLN
O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
3.6 478 Assista AgoraEm algum lugar nos últimos 25 anos o Western perdeu o nível de relevância cultural que ostentava na sua época de ouro – The Wild Bunch ( 1969, Sam Peckinpah) sendo considerado o ultimo western de verdade . Alguns bons filmes do gênero foram feitos durante os anos 90 mas o melhor deles Dead Man (1995) justamente quebrava as convenções do gênero num faroeste metafísico. Apesar desses esforços, o western não foi revivido, porém na ultima década, seriados como Firefly (2002), Deadwood (2004, HBO) e filmes como Brokeback Mountain (2005), 3:10 to Yuma (2007) e No Country for Old Man (2007) trouxeram de volta esse gênero de filmes ao radar cultural, essas versões contemporâneas deram nova roupagem à desgastada fórmula herói VS vilão em favor da comunidade, subvertendo o gênero e colocando a moral dos personagens em uma área cinza. Dessa nova safra de westerns, meu favorito, de longe, é The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007), um filme que retrata não os últimos dias do western, mas que vive após a morte do gênero. Através da cinematografia e de manipulação digital o diretor Andrew Dominik, cria um filme quase monocromático que usa desfoque e natureza como forma de abstração, atingindo um visual que precede a era do cinema ( as cenas no teatro demonstram que esse também é um dispositivo da narrativa do filme), assistir The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford é como ler um livro, vai se desenrolando sem pressa, página por página, criando tensão e dando espaço pra uma desconstrução profunda da psicologia dos personagens. Jesse James anda paranóico (e com razão) isso é acentuado pela sua personalidade instável ao enfrentar uma situação onde não se pode dar um passo em falso. Se o destino de Jesse James estava selado desde que se tornou um mito do Oeste, seu instinto de sobrevivência é maior, embora no decorrer da estória ele dê dicas de que deseja a própria morte ou que já está conformado com ela. Do outro lado temos o desprezível Robert Ford ( Casey Affleck, justamente indicado ao Oscar por esse filme) que desde garoto idolatrava Jesse James através das novelas que romantizavam o ladrão e seus roubos históricos – nesse aspecto o filme dialoga com o fenômeno das celebridades na cultura ocidental, Bob não se contenta em admirar seu ídolo, ele mesmo quer ser um herói – e agora que se tornou um agregado na vida de Jesse James tem a oportunidade de cumprir o fatídico título do filme, eliminando a ameaça que esse homem imprevisível representa, e ao mesmo tempo se tornando como ele, uma lenda, e, mais profundamente, se tornando o próprio Jesse James em seu delírio de grandeza “Can't figure it out: do you want to be like me or do you want to BE me?”. Mas a realidade é diferente da mente obcecada pela fama de Robert Ford , e é nisso que o filme se foca nos últimos 40 minutos, os desdobramentos da morte de Jesse James e as conseqüências que estão por cair sobre Robert Ford. Um Oeste onde se atira pelas costas, onde o vilão é percebido como herói e o herói é um homem tão desprezível quanto o próprio vilão, The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford assassina essa falácia passada por gerações sobre a grandeza dos homens do oeste americano, ao invés de bang-bang e cavalos galopantes o filme opta por drama e introspecção, desconstruindo e ultrapassando o gênero, cimentando uma nova geração de Westerns.
Descobrindo o Amor
2.5 97 Assista AgoraRever Damsels in Distress revela vários detalhes que antes passaram despercebidos, o humor e os diálogos ganham novas nuances, o filme segura bem em visões repetidas, uma delícia !
Os Últimos Embalos da Disco
3.5 34Assistir qualquer filme do Whit Stillman esperando encontrar uma trama intrincada e completamente amarrada, é quebrar a cara . Ao invés da narrativa, o que confere fluidez aos filmes dele são os diálogos, o diretor está interessado nas interações sociais entre classes, sexos, e entre personagens com noções de moralidade diferentes. Pense nos contos e peças de Oscar Wilde, nas comédias de costumes etc. Pessoalmente acho The Last Days of Disco o filme que coleciona os diálogos mais brilhantes dos anos 90, e algumas cenas estão entre os melhores diálogos já filmados. Você pode não simpatizar com as personagens, mas impossível não se afeiçoar com a honestidade de tudo que sai da boca delas, às vezes besteiras, às vezes coisas genuinamente interessantes, mas irremediavelmente embaladas em um humor seco. Embora seja ambientado no começo dos anos 80 e cheio de músicas da era Disco, o diretor não se utiliza de roupas caricatas ou maneirismos excessivos, ao invés disso recria a energia de uma geração de jovens auto-centrados provenientes de famílias ricas tentando ‘acontecer’ em uma metrópole, e mais do que isso, recria uma energia atemporal de diversão e celebração.
A Sombra de uma Dúvida
4.0 196 Assista AgoraShadow of a Doubt talvez seja o mais ambíguo dos filmes do Hitchcock, a começar pelos nomes dos personagens : Charlie e Charlie, sobrinha e tio, a garota do interior VS tio que leva vida cosmopolita. São opostos e idênticos ao mesmo tempo, compartilham um elo psíquico e química sexual, porém um é serial killer e a outra vive numa bolha de inocência. A genialidade desse filme está em surpreender nossas expectativas – o que o diretor faz sempre com maestria, diga-se de passagem – o público simpatiza com o charmoso uncle Charlie , tão admirado pela sobrinha, e quando sua verdadeira identidade é revelada de uma vez por todas, mais do que repulsa, nos sentimos culpados pela cumplicidade que compartilhamos com o personagem, e na cena do jantar quando ele fala sobre as mulheres ricas que prosperam através da morte dos maridos na guerra e como elas são um desperdício de vida, para nosso horror, racionalizamos os motivos do assassino. Já a sobrinha Charlie, após a chegada do tio é colocada em uma situação onde deve deixar os assassinatos continuarem, ou então ela mesma se tornar uma assassina, num verdadeiro jogo de gato-e-rato. No final, seria Charlie tão inocente assim ou apenas tão hipócrita quanto o seu tio ? Nesse aspecto o filme pode ser visto como um conto moral onde a heroína não encontra redenção, Hitchcock mais uma vez nos assombra pro resto da vida.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 430 Assista Agoraa pobreza, a cultura popular, a fé - ou negação da fé, a poesia.
Deus e o Diabo na Terra do Sol é isso, popular e inovador ao mesmo tempo.
A Caixa de Pandora
4.2 88 Assista AgoraLouise Brooks.
O Sol
4.0 21O Sol tem uma textura diferente dos outros filmes do Sokurov que já assisti, não sei se consigo apontar direito o que é, mas a mistura da estética japonesa e do tema do filme com os takes longos, câmera 'achatada' e outras obsessões do Sokurov, criou um universo extremamente fascinante. O imperador dançando sozinho ou imitando os animais aquáticos que estuda, mais parece uma criança, nesse aspecto o filme remete à Mãe e Filho (1997).
Minha Terra, África
3.7 37Retrato da África pós-colonial feito de forma crua e inspiradíssima.
Um Sonho de Amor
3.5 180Relembra mestres como Visconti ou Antonioni, mas com uma abordagem mais contemporânea. Beijos apaixonados, roupas elegantes, culinária requintada, um filme sensual.
Um Corpo que Cai
4.2 1,3K Assista AgoraVertigo é um filme divertido do Hitchcock, roteiro cheio de reviravoltas. Você começa achando que é um drama sobre um policial sofrendo de vertigem, mas aí
Kim Novak aparece e você deduz que agora é um romance, de repente um elemento paranormal é introduzido na trama : estaria Kim Novak possuída pela ancestral ? Depois descobrimos que é tudo parte de um plano : 'ahh, então na verdade é um filme de golpe ?'. Quando James Stewart reencontra Kim Novak vivendo no hotel, Vertigo se torna um drama psicológico sobre idealização e projeção, daí quando você acha que vai tudo se resolver no alto da torre, vem a freira e Hitch fecha o filme com humor-negro, fazendo referência à Black Narcissus.
Coitado do Scottie, só com uns bons anos de terapia pra se recuperar depois dessa.
Aquário
3.6 163Ao adotar o ponto de vista de Mia através da narrativa e da
mise-en-scène, a diretora demonstra maior preocupação com as mazelas do crescimento/amadurecimento e o despertar sexual da protagonista, fazendo um retrato dessa realidade social de dentro para fora ao invés da distanciação que busca representar com certa lucidez uma sociedade caótica. Fish Tank é um estudo de personagem sobre essa garota que tenta se libertar das expectativas da classe-média britânica, então vejo o final agridoce e não-defininitivo como um acerto.O filme depende muito da atriz Katie Javis, que está na tela quase o tempo inteiro, carregando a história com uma performance sólida e meio '"hay que endurecerse, pero sin perder la ternura", realmente impressionante.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraTenho problemas com os trejeitos do Ethan Hawke, acho ele um ator bem canastrão, nem Linklater conseguiu deixar ele interessante. Agora, sobre o filme : é um drama/romance de diálogos acima da média, bem charmoso.
Rocco e Seus Irmãos
4.4 125 Assista AgoraPra assistir de joelhos e chorando.