O cinema mudo era uma arte sui generis. Este é um dos filmes que explicam por que Charles Chaplin não queria aderir ao cinema falado. Os atores precisavam exprimir intenções, sentimentos e emoções sem depender de verbalização. Ainda bem que não inventaram na época a legenda como é feita hoje. E nem disseminaram a leitura labial como recurso para os espectadores entenderem o que os atores estão falando. O diretor precisava recorrer a artifícios diversos para conferir veracidade à narrativa e torná-la compreensível para o espectador. Um prato cheio para quem estuda linguagem de cinema. O sorriso forçado, depois de um tempo, começa a produzir câimbras nos músculos da face. Talvez isso explique por que Conrad Veidt, na segunda parte do filme, tenha começado a cobrir parte de seu rosto. Acho que precisava relaxar os músculos parando um pouco de sorrir. Outra coisa que me chamou a atenção foi a escolha dos atores que giram ao redor dos personagens principais. Representam figuras grotescas, deformadas, bizarras, bastante expressivas. Contribuem para criar uma atmosfera invulgar para o transcurso do enredo. Atuação marcante do avô do Rin Tin Tin.
Os nórdicos não devem ter entendido nada do filme. Acho que eles se perguntaram por que os homens latinos se preocupam tanto em afirmar a sua masculinidade. Mauro Bolognini filmou com muito humor o roteiro escrito por Pasolini e Brancati que satiriza a cultura machista dos povos latinos. Achei que o pai de Antônio tinha sido o responsável pela gravidez da empregada, o que tornaria o filme mais cômico. Só não entendi por que Antônio não procurou um terapeuta. O fato dele não conseguir fazer sexo com mulheres puras como a mãe deve ter uma explicação.
O que é mais forte: o fascínio que a Ava Gardner é capaz de exercer sobre um homem ou o poder diabólico do jogo de azar sobre os viciados? Veja a resposta no filme. O grande pecador explica por que o governo não deve liberar os cassinos no Brasil. Dostoievski examinou de forma magistral o modo como o vício no jogo devasta a dignidade de um ser humano. Não sei se por culpa do escritor russo ou de Hollywood, o bem sempre vence o mal.
Os sindicatos são cruciais para a consolidação do capitalismo. Os empresários demoraram para perceber isso. A luta por salários e por melhores condições de trabalho esvazia o interesse da classe trabalhadora pelo objetivo político de construção de uma nova sociedade. Os sindicatos sempre foram antros de corrupção por envolver muito dinheiro e poder. Notei uma certa semelhança entre a história de Johnny Kovak e a história de Lula. Peguei o DVD para assistir com um pé atrás porque tinha o nome do Stallone na capa. Foi uma boa surpresa.
A bicicleta simboliza no filme o sonho de igualdade das mulheres do mundo islâmico. Um sonho legítimo, com toda a certeza. Entretanto, a luta por esse sonho merece um cuidado especial. Certamente, toda cultura é enriquecida com inovações. Mas jamais pode ter a sua essência abalada. Explico: da cultura brota a alma que ilumina todos os bebês que nascem numa dada sociedade. A família é a responsável por transmitir a cultura ancestral às crianças. Em determinadas sociedades, a religião funciona como um cofre onde a cultura de uma comunidade é preservada em forma de sabedoria. Nos presídios vemos o que acontece quando a cultura não é transmitida devidamente aos indivíduos por conta de uma família desagregada: em lugar de seres humanos temos feras selvagens. Não por conta da escolha desses indivíduos, mas por conta de uma sociedade desigual ao extremo. Vale lembrar que a verdade no estudo da sociedade não é absoluta, mas estatística. Podem existir exceções.
Após o término do filme aparece a seguinte sentença: O final desta história só você pode escrever. Pois então vou escrever: Hitler exterminou 6 milhões de judeus. O genocídio na América do Norte foi estimado em mais de 25 milhões de índios. Gostei do filme por não ser maniqueísta. Os índios não foram posicionados como os vilões selvagens e os brancos como cristãos civilizados. Afinal, os índios começaram a povoar a América do Norte há cerca de 15 mil anos. Quando os europeus chegaram na América, os índios defenderam o território que garantia a sua subsistência com unhas e dentes. Não podia ser diferente porque era uma questão de vida e morte. Precisavam lutar contra os invasores. Nunca vi nenhum filme de faroeste explicar isso. E nem as escolas americanas ensinam a triste história do Holocausto do Índio Americano. Alguns estudiosos afirmam que “foi destruído 95% dos 114 milhões de habitantes indígenas do atual território dos Estados Unidos e do Canadá”.
Gosto dos filmes do Buñuel que não abandonam a narrativa, sobretudo os da fase mexicana, em branco e preto. Não tenho grande admiração pelos seus filmes surrealistas. Em A adolescente, mesmo contando uma história, o diretor espanhol não deixou de defender uma tese. Ele sugere que o ódio racial tem suas origens na repressão sexual. O ódio racial de Miller desaparece como num passe de mágica quando o Reverendo Fleetwood lhe desperta a esperança de
Ou seja, Buñuel abandona o princípio fundamental do conservadorismo direitista segundo o qual a perversidade faz parte da natureza do ser humano. A sociedade, sim, que impede a realização do homem em diferentes sentidos — afetivo, sexual, profissional, artístico, comunitário etc. —, é a única responsável pela perversidade do indivíduo. Destaco no filme a música que aflora do clarinete tocado por Traver, bem como a fotografia em branco e preto que fica mais bela em tela maior que a de uma TV, em sala escura. Quem gosta de cinema não pode deixar de montar um home theater em sua casa.
Achei interessante a conexão entre a narrativa ficcional e os fatos históricos. É interessante ver como a tentativa do Estado de restringir a liberdade de escolha do indivíduo gera distorções maléficas para a sociedade. A Lei Seca imposta pelo governo estadunidense, a partir de 1919, favoreceu o surgimento do crime organizado no país. O crescimento da criminalidade forçou o Estado a elevar as despesas com a repressão ao comércio ilegal de bebidas alcoólicas — comércio que não gerava impostos. Por outro lado, a venda de bebidas sem a devida fiscalização do Estado, — bebidas com alto teor de toxidade —, acarretou problemas sérios de saúde na população. Constatando o grande fracasso, o governo suprimiu a Lei Seca em 1933. Em 1937, foi aprovada nos EUA a criminalização da maconha. A proibição da maconha iria causar muito mais estragos que a Lei Seca. Somente no século XXI o governo estadunidense reconheceria o fracasso da guerra contra o tráfico de drogas. Alguns Estados começaram a liberar o uso da maconha. Enfim, o filme mostra que a interferência do Estado nas escolhas do indivíduo é uma grande burrice.
O filme me causou uma forte impressão quando o assisti na infância. Sempre desejei revê-lo. Esperei o lançamento em Blu Ray. Não aguentei mais esperar e acabei saboreando uma cópia muito ruim — horrível, com formato original modificado para a tela de televisão antiga, com uma trilha serrilhada e brilhante serpenteando na parte inferior da imagem. Decepção: depois que o tráfico de drogas transformou historicamente as feições da violência, depois de conhecer o cinema do Tarantino, depois de ter visto a luta de Nat Turner no filme O nascimento de uma nação, tive a sensação de que estava assistindo a fuga de dois advogados estelionatários, budistas, com PhD em Harvard. Não sei se foi problema de tradução dos diálogos, não sei se foi problema de mau humor pessoal, mas, tirando a fotografia, achei o filme técnica e esteticamente fraco. Como Stanley Kramer, manchando a sua biografia, pode ter assinado a direção de um filme desse nível? Foi uma pena. O preconceito racial nos EUA estava pegando fogo na época. A intenção do filme era ótima, mas... o roteiro acabou descambando na pieguice sentimentaloide. Ou seja, o autor do roteiro propôs que, em lugar da luta política pelos direitos civis, a amizade fraterna entre brancos e negros seria a melhor solução para o racismo.
O filme conseguiu registrar a crítica que Dostoievski fez à sociedade de sua época. O romancista russo se incomodava com o fato de o dinheiro dominar o comportamento dos indivíduos. Ele tenta demonstrar que, se Deus deixasse de orientar a conduta das pessoas, as relações sociais ficariam caóticas. Para Dostoievski, valores como honra, dignidade, honestidade e solidariedade, — que nascem da crença em Deus —, conferem nobreza ao ser humano. O dinheiro seria o demônio. Para demonstrar a sua tese, acho que ele forçou um pouco a barra. De repente, no final, os devassos Dmitri e Grushenka se transformam em santos de alma nobre. Da mesma forma, Ivan começa a acreditar em Deus e se torna uma pessoa generosa. Assim, o leitor poderia perceber como é importante os valores fundamentais serem preservados como tesouros sagrados da humanidade. Enfim, no final feliz, Deus vence o demônio e o amor perfuma o mundo.
Uma homenagem de Robert Rodriguez ao estilo de Tarantino. O humor e algumas músicas seguem o estilo do mestre. O tema é o mesmo de Pulp Fiction: a violência envolvida no tráfico de drogas. Hollywood enfiou no meu cérebro que todo cucaracha que nasce ao Sul do Rio Grande é feio, sujo e malvado. Donald Trump confirma esse preconceito dizendo que vai construir um muro para separar os EUA do resto da América. Salma Hayek, explosiva, e Antonio Banderas, com atuações vigorosas, rechaçam o preconceito e dignificam o sangue latino. Põem Lauren Bacall e Humphrey Bogart no chinelo. Se eu tivesse dois amigos como os de El Mariachi, eu me mudaria para a Cidade Maravilhosa e não para a terra do Trump.
O filme começa com um baita spoiler que mata o interesse que o enredo poderia nos despertar. A narrativa é arrastada, mas a história não é ruim. Os faroestes produzidos na segunda metade dos anos 1960 já tinham perdido os padrões clássicos das duas décadas anteriores. Padrões que cultuo e que me causam tanto encanto.
Barbara Stanwyck bem jovem. Buffalo Bill, um dos personagens do filme, matou milhares de búfalos num curto espaço de tempo para eliminar as manadas que atravancavam os trilhos dos trens. Os búfalos foram praticamente extintos. Quem sofreu com isso foram os índios que passaram fome e frio. Ele organizou o espetáculo Wild West Show. (Wikipédia)
Você conhece o cafezinho carioquinha? Este é um faroeste carioquinha. Rory Calhoun foi um ator inexpressivo. Protagonizava uma série da TV, O texano, que era bem fraquinho, até mais do que ele.
Apesar de aparecer em todos os filmes com a mesma expressão fisionômica, James Cagney tem um carisma indiscutível. O filme consegue gerar tensão e expectativa. Gosto de fotografia em branco e preto em cópia de boa qualidade. Quem muda a expressão fisionômica de forma admirável é o espião Bill O'Connell quando ele reassume o comando militar nazista.
Hitler exterminou 6 milhões de judeus. O genocídio na América do Norte foi estimado em mais de 25 milhões de índios. Desde criança, e até depois na vida adulta, os filmes de faroeste me induzem a torcer sempre contra os índios que são pintados quase sempre como selvagens. O cinema é uma arma ideológica terrível. Mesmo quem é consciente da realidade acaba absorvendo ideias que vão contra os seus próprios princípios.
Gary Cooper aparece no filme com um papel semelhante àquele que desempenhou na vida real. Com uma diferença: no filme ele usa o dedo duro para apertar o gatilho e matar confederados; na vida real ele usou o dedo duro para delatar comunistas.
Filme água com açúcar que mostra como seria bom viver num mundo onde as pessoas se ajudam. O contexto de Os sinos de Anya é o pós guerra quando as escolas taxavam os disléxicos de retardados e a criançada aproveitava para descarregar neles toda a sua intensa frustração infantil. Passatempo para quem se dispuser a desligar o olhar crítico durante 97 minutos. Não custa nada.
O filme desenha e glorifica o amor infinito e incondicional de uma mãe por seu filho. A natureza foi sábia ao criar o instinto de perpetuação de espécie. O instinto materno é tão forte que, dizem, uma mãe avançou sobre um urso para salvar o seu filho pequeno. O filme deveria ser obrigatório no Dia das Mães. Como era obrigatório o filme Em cada coração uma saudade, na época de Natal.
O contexto em que transcorre o enredo é o alvorecer da era moderna. A imprensa está nascendo e a informação é difundida ao povo para combater a superstição e o arbítrio dos governantes. A opinião pública começa a influir nas decisões dos monarcas. Gringoire atua como uma espécie de jornalista para influenciar as massas e pressionar o rei a fim de salvar Esmeralda. A imprensa despontava junto com a democracia. O filme tem imagens belíssimas destacando o contraste entre o feio e o belo, o claro e o escuro, a bondade e a perversidade, a piedade e a crueldade, o repulsivo e o encantador, o sublime e o abominável. O filme, certamente, toca o coração de todas as pessoas que precisaram amargar na vida uma paixão impossível. Quem não se comove com o drama lacerante de Quasímodo?
A direção é fraca e o filme parece ter sido realizado por amadores. De qualquer modo, o enredo consegue entreter os amantes de faroeste. Estranhei um pouco a paisagem com excesso de vegetação de estúdio cenográfico. Somos um povo culturalmente colonizado. Conheço mais a história de Bat Masterson, Wyatt Earp e Doc Holliday do que a história de Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Joaquim Nabuco e José Bonifácio.
Vi um John Ford enferrujado. Truncada por longos e inúteis diálogos, a história não flui. O diretor ficou mais preocupado em defender teses e fazer gracinhas do que em cativar o amante de faroeste com uma narrativa envolvente. De qualquer modo, foi louvável a posição do diretor em relação aos índios estadunidenses. Valeu igualmente a crítica a um mundo em que o dinheiro passava a valer mais do que os ideais e os valores fundamentais da humanidade.
O filme conseguiu segurar o meu interesse até o fim. Comovente o amor de Ellen por suas duas irmãs com problemas mentais. O sobrinho canalha faz um bom contraponto para apimentar o enredo.
O Homem que Ri
4.3 154O cinema mudo era uma arte sui generis. Este é um dos filmes que explicam por que Charles Chaplin não queria aderir ao cinema falado. Os atores precisavam exprimir intenções, sentimentos e emoções sem depender de verbalização. Ainda bem que não inventaram na época a legenda como é feita hoje. E nem disseminaram a leitura labial como recurso para os espectadores entenderem o que os atores estão falando.
O diretor precisava recorrer a artifícios diversos para conferir veracidade à narrativa e torná-la compreensível para o espectador. Um prato cheio para quem estuda linguagem de cinema.
O sorriso forçado, depois de um tempo, começa a produzir câimbras nos músculos da face. Talvez isso explique por que Conrad Veidt, na segunda parte do filme, tenha começado a cobrir parte de seu rosto. Acho que precisava relaxar os músculos parando um pouco de sorrir.
Outra coisa que me chamou a atenção foi a escolha dos atores que giram ao redor dos personagens principais. Representam figuras grotescas, deformadas, bizarras, bastante expressivas. Contribuem para criar uma atmosfera invulgar para o transcurso do enredo.
Atuação marcante do avô do Rin Tin Tin.
O Belo Antônio
4.0 20Os nórdicos não devem ter entendido nada do filme. Acho que eles se perguntaram por que os homens latinos se preocupam tanto em afirmar a sua masculinidade.
Mauro Bolognini filmou com muito humor o roteiro escrito por Pasolini e Brancati que satiriza a cultura machista dos povos latinos.
Achei que o pai de Antônio tinha sido o responsável pela gravidez da empregada, o que tornaria o filme mais cômico.
Só não entendi por que Antônio não procurou um terapeuta. O fato dele não conseguir fazer sexo com mulheres puras como a mãe deve ter uma explicação.
O Grande Pecador
3.8 8O que é mais forte: o fascínio que a Ava Gardner é capaz de exercer sobre um homem ou o poder diabólico do jogo de azar sobre os viciados? Veja a resposta no filme.
O grande pecador explica por que o governo não deve liberar os cassinos no Brasil.
Dostoievski examinou de forma magistral o modo como o vício no jogo devasta a dignidade de um ser humano.
Não sei se por culpa do escritor russo ou de Hollywood, o bem sempre vence o mal.
F.I.S.T.
3.5 44 Assista AgoraOs sindicatos são cruciais para a consolidação do capitalismo. Os empresários demoraram para perceber isso. A luta por salários e por melhores condições de trabalho esvazia o interesse da classe trabalhadora pelo objetivo político de construção de uma nova sociedade.
Os sindicatos sempre foram antros de corrupção por envolver muito dinheiro e poder. Notei uma certa semelhança entre a história de Johnny Kovak e a história de Lula.
Peguei o DVD para assistir com um pé atrás porque tinha o nome do Stallone na capa. Foi uma boa surpresa.
O Sonho de Wadjda
4.2 137 Assista AgoraA bicicleta simboliza no filme o sonho de igualdade das mulheres do mundo islâmico.
Um sonho legítimo, com toda a certeza.
Entretanto, a luta por esse sonho merece um cuidado especial. Certamente, toda cultura é enriquecida com inovações. Mas jamais pode ter a sua essência abalada.
Explico: da cultura brota a alma que ilumina todos os bebês que nascem numa dada sociedade. A família é a responsável por transmitir a cultura ancestral às crianças. Em determinadas sociedades, a religião funciona como um cofre onde a cultura de uma comunidade é preservada em forma de sabedoria.
Nos presídios vemos o que acontece quando a cultura não é transmitida devidamente aos indivíduos por conta de uma família desagregada: em lugar de seres humanos temos feras selvagens. Não por conta da escolha desses indivíduos, mas por conta de uma sociedade desigual ao extremo.
Vale lembrar que a verdade no estudo da sociedade não é absoluta, mas estatística. Podem existir exceções.
Renegando Meu Sangue
3.9 12Após o término do filme aparece a seguinte sentença: O final desta história só você pode escrever.
Pois então vou escrever: Hitler exterminou 6 milhões de judeus. O genocídio na América do Norte foi estimado em mais de 25 milhões de índios.
Gostei do filme por não ser maniqueísta. Os índios não foram posicionados como os vilões selvagens e os brancos como cristãos civilizados. Afinal, os índios começaram a povoar a América do Norte há cerca de 15 mil anos.
Quando os europeus chegaram na América, os índios defenderam o território que garantia a sua subsistência com unhas e dentes. Não podia ser diferente porque era uma questão de vida e morte. Precisavam lutar contra os invasores.
Nunca vi nenhum filme de faroeste explicar isso. E nem as escolas americanas ensinam a triste história do Holocausto do Índio Americano. Alguns estudiosos afirmam que “foi destruído 95% dos 114 milhões de habitantes indígenas do atual território dos Estados Unidos e do Canadá”.
A Adolescente
3.8 16Gosto dos filmes do Buñuel que não abandonam a narrativa, sobretudo os da fase mexicana, em branco e preto. Não tenho grande admiração pelos seus filmes surrealistas.
Em A adolescente, mesmo contando uma história, o diretor espanhol não deixou de defender uma tese. Ele sugere que o ódio racial tem suas origens na repressão sexual.
O ódio racial de Miller desaparece como num passe de mágica quando o Reverendo Fleetwood lhe desperta a esperança de
se casar com a bela e inocente Evalyn.
Ou seja, Buñuel abandona o princípio fundamental do conservadorismo direitista segundo o qual a perversidade faz parte da natureza do ser humano.
A sociedade, sim, que impede a realização do homem em diferentes sentidos — afetivo, sexual, profissional, artístico, comunitário etc. —, é a única responsável pela perversidade do indivíduo.
Destaco no filme a música que aflora do clarinete tocado por Traver, bem como a fotografia em branco e preto que fica mais bela em tela maior que a de uma TV, em sala escura. Quem gosta de cinema não pode deixar de montar um home theater em sua casa.
Heróis Esquecidos
4.2 17 Assista AgoraAchei interessante a conexão entre a narrativa ficcional e os fatos históricos.
É interessante ver como a tentativa do Estado de restringir a liberdade de escolha do indivíduo gera distorções maléficas para a sociedade. A Lei Seca imposta pelo governo estadunidense, a partir de 1919, favoreceu o surgimento do crime organizado no país.
O crescimento da criminalidade forçou o Estado a elevar as despesas com a repressão ao comércio ilegal de bebidas alcoólicas — comércio que não gerava impostos.
Por outro lado, a venda de bebidas sem a devida fiscalização do Estado, — bebidas com alto teor de toxidade —, acarretou problemas sérios de saúde na população.
Constatando o grande fracasso, o governo suprimiu a Lei Seca em 1933.
Em 1937, foi aprovada nos EUA a criminalização da maconha. A proibição da maconha iria causar muito mais estragos que a Lei Seca. Somente no século XXI o governo estadunidense reconheceria o fracasso da guerra contra o tráfico de drogas. Alguns Estados começaram a liberar o uso da maconha.
Enfim, o filme mostra que a interferência do Estado nas escolhas do indivíduo é uma grande burrice.
Acorrentados
3.8 45 Assista AgoraO filme me causou uma forte impressão quando o assisti na infância. Sempre desejei revê-lo. Esperei o lançamento em Blu Ray. Não aguentei mais esperar e acabei saboreando uma cópia muito ruim — horrível, com formato original modificado para a tela de televisão antiga, com uma trilha serrilhada e brilhante serpenteando na parte inferior da imagem.
Decepção: depois que o tráfico de drogas transformou historicamente as feições da violência, depois de conhecer o cinema do Tarantino, depois de ter visto a luta de Nat Turner no filme O nascimento de uma nação, tive a sensação de que estava assistindo a fuga de dois advogados estelionatários, budistas, com PhD em Harvard.
Não sei se foi problema de tradução dos diálogos, não sei se foi problema de mau humor pessoal, mas, tirando a fotografia, achei o filme técnica e esteticamente fraco. Como Stanley Kramer, manchando a sua biografia, pode ter assinado a direção de um filme desse nível?
Foi uma pena. O preconceito racial nos EUA estava pegando fogo na época. A intenção do filme era ótima, mas... o roteiro acabou descambando na pieguice sentimentaloide. Ou seja, o autor do roteiro propôs que, em lugar da luta política pelos direitos civis, a amizade fraterna entre brancos e negros seria a melhor solução para o racismo.
Os Irmãos Karamazov
3.7 41O filme conseguiu registrar a crítica que Dostoievski fez à sociedade de sua época. O romancista russo se incomodava com o fato de o dinheiro dominar o comportamento dos indivíduos. Ele tenta demonstrar que, se Deus deixasse de orientar a conduta das pessoas, as relações sociais ficariam caóticas. Para Dostoievski, valores como honra, dignidade, honestidade e solidariedade, — que nascem da crença em Deus —, conferem nobreza ao ser humano. O dinheiro seria o demônio.
Para demonstrar a sua tese, acho que ele forçou um pouco a barra. De repente, no final, os devassos Dmitri e Grushenka se transformam em santos de alma nobre. Da mesma forma, Ivan começa a acreditar em Deus e se torna uma pessoa generosa. Assim, o leitor poderia perceber como é importante os valores fundamentais serem preservados como tesouros sagrados da humanidade.
Enfim, no final feliz, Deus vence o demônio e o amor perfuma o mundo.
A Balada do Pistoleiro
3.6 302 Assista AgoraUma homenagem de Robert Rodriguez ao estilo de Tarantino. O humor e algumas músicas seguem o estilo do mestre. O tema é o mesmo de Pulp Fiction: a violência envolvida no tráfico de drogas.
Hollywood enfiou no meu cérebro que todo cucaracha que nasce ao Sul do Rio Grande é feio, sujo e malvado. Donald Trump confirma esse preconceito dizendo que vai construir um muro para separar os EUA do resto da América.
Salma Hayek, explosiva, e Antonio Banderas, com atuações vigorosas, rechaçam o preconceito e dignificam o sangue latino. Põem Lauren Bacall e Humphrey Bogart no chinelo.
Se eu tivesse dois amigos como os de El Mariachi, eu me mudaria para a Cidade Maravilhosa e não para a terra do Trump.
O Revólver de um Desconhecido
3.6 11O filme começa com um baita spoiler que mata o interesse que o enredo poderia nos despertar.
A narrativa é arrastada, mas a história não é ruim.
Os faroestes produzidos na segunda metade dos anos 1960 já tinham perdido os padrões clássicos das duas décadas anteriores. Padrões que cultuo e que me causam tanto encanto.
A Bandoleira
3.5 7 Assista AgoraBarbara Stanwyck bem jovem.
Buffalo Bill, um dos personagens do filme, matou milhares de búfalos num curto espaço de tempo para eliminar as manadas que atravancavam os trilhos dos trens. Os búfalos foram praticamente extintos. Quem sofreu com isso foram os índios que passaram fome e frio. Ele organizou o espetáculo Wild West Show. (Wikipédia)
Época Sem Lei
3.4 6O enredo consegue entreter embora o filme seja fraco. Achei legal a cena final.
Dinastia do Terror
3.0 6Você conhece o cafezinho carioquinha? Este é um faroeste carioquinha.
Rory Calhoun foi um ator inexpressivo. Protagonizava uma série da TV, O texano, que era bem fraquinho, até mais do que ele.
Rua Madeleine 13
3.2 6Apesar de aparecer em todos os filmes com a mesma expressão fisionômica, James Cagney tem um carisma indiscutível.
O filme consegue gerar tensão e expectativa.
Gosto de fotografia em branco e preto em cópia de boa qualidade.
Quem muda a expressão fisionômica de forma admirável é o espião Bill O'Connell quando ele reassume o comando militar nazista.
Emboscada Selvagem
3.2 1Hitler exterminou 6 milhões de judeus. O genocídio na América do Norte foi estimado em mais de 25 milhões de índios. Desde criança, e até depois na vida adulta, os filmes de faroeste me induzem a torcer sempre contra os índios que são pintados quase sempre como selvagens.
O cinema é uma arma ideológica terrível. Mesmo quem é consciente da realidade acaba absorvendo ideias que vão contra os seus próprios princípios.
Renegado Heróico
3.2 4Gary Cooper aparece no filme com um papel semelhante àquele que desempenhou na vida real. Com uma diferença: no filme ele usa o dedo duro para apertar o gatilho e matar confederados; na vida real ele usou o dedo duro para delatar comunistas.
Os Sinos de Anya
4.4 40Filme água com açúcar que mostra como seria bom viver num mundo onde as pessoas se ajudam.
O contexto de Os sinos de Anya é o pós guerra quando as escolas taxavam os disléxicos de retardados e a criançada aproveitava para descarregar neles toda a sua intensa frustração infantil.
Passatempo para quem se dispuser a desligar o olhar crítico durante 97 minutos. Não custa nada.
Só Resta Uma Lágrima
4.0 24O filme desenha e glorifica o amor infinito e incondicional de uma mãe por seu filho.
A natureza foi sábia ao criar o instinto de perpetuação de espécie. O instinto materno é tão forte que, dizem, uma mãe avançou sobre um urso para salvar o seu filho pequeno.
O filme deveria ser obrigatório no Dia das Mães. Como era obrigatório o filme Em cada coração uma saudade, na época de Natal.
O Corcunda De Notre Dame
4.0 43 Assista AgoraO contexto em que transcorre o enredo é o alvorecer da era moderna. A imprensa está nascendo e a informação é difundida ao povo para combater a superstição e o arbítrio dos governantes. A opinião pública começa a influir nas decisões dos monarcas.
Gringoire atua como uma espécie de jornalista para influenciar as massas e pressionar o rei a fim de salvar Esmeralda. A imprensa despontava junto com a democracia.
O filme tem imagens belíssimas destacando o contraste entre o feio e o belo, o claro e o escuro, a bondade e a perversidade, a piedade e a crueldade, o repulsivo e o encantador, o sublime e o abominável.
O filme, certamente, toca o coração de todas as pessoas que precisaram amargar na vida uma paixão impossível. Quem não se comove com o drama lacerante de Quasímodo?
Ases do Gatilho
3.4 6A direção é fraca e o filme parece ter sido realizado por amadores. De qualquer modo, o enredo consegue entreter os amantes de faroeste. Estranhei um pouco a paisagem com excesso de vegetação de estúdio cenográfico.
Somos um povo culturalmente colonizado. Conheço mais a história de Bat Masterson, Wyatt Earp e Doc Holliday do que a história de Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Joaquim Nabuco e José Bonifácio.
Terra Bruta
3.5 22 Assista AgoraVi um John Ford enferrujado. Truncada por longos e inúteis diálogos, a história não flui. O diretor ficou mais preocupado em defender teses e fazer gracinhas do que em cativar o amante de faroeste com uma narrativa envolvente.
De qualquer modo, foi louvável a posição do diretor em relação aos índios estadunidenses. Valeu igualmente a crítica a um mundo em que o dinheiro passava a valer mais do que os ideais e os valores fundamentais da humanidade.
Mistério de uma Mulher
3.7 9O filme conseguiu segurar o meu interesse até o fim. Comovente o amor de Ellen por suas duas irmãs com problemas mentais.
O sobrinho canalha faz um bom contraponto para apimentar o enredo.