Não há como ser traduzida para algo positivo a sequência em que John Wayne arrasta Maureen O´Hara pelas ruas, com uma multidão seguindo o casal, fazendo apostas. Em outro momento, alguém oferece uma vareta para que ele “bata na adorável mulher”. É uma imagem que não envelheceu bem, e sinceramente, desvalida os méritos do filme.
Infelizmente, não é apenas a abordagem sexista da época que tira o brilho da obra. Ford teve um sério problema em decidir os caminhos tomados pelo filme. Temos um primeiro ato romântico, de tons leves e monótonos, mas logo entramos no drama da revelação de acontecimentos do passado de Thornton. Aqui há uma mudança necessária de abordagem, mais séria e sem muitas piadas. Mas logo que decide não considerar isso interessante o suficiente, volta para as picuinhas e a rivalidade entre noivo e cunhado. Ficamos com uma sequência que toma conta de quase todo o terceiro ato, com a dupla transformando a cidade inteira em um ringue de boxe. Não deixei de olhar para o relógio pelo ritmo tedioso que toma conta do filme.
Simplesmente fantástico. Concordo que não é para todo tipo de público, tendo em vista que necessita-se de sensibilidade, imaginação e compreensão aguçada, para se transportar para a imensidão que é todo o enredo. Em relação a parte técnica, fica nítido o quanto o filme é bem produzido, dirigido, sem aparas. Cada trilha sonora em seu momento, os alívios cômicos que mesmo assim conseguem passar emoção, as cenas extremamente criativas e bem construídas, tornam o filme algo que se degustado de maneira correta, envolve e instiga o expectador.
Desenhando: O tio retratado no filme, são distúrbios psiquiátricos. Filme que tem um ritmo propositalmente cadenciado e angustiante. Não veria novamente.
O sublime Udo Kier, dominou todas as cenas dessa comédia dramática, gentil e terna. Ele interpreta Pat Pitsenbarger - baseado em uma "lenda queer" da vida real de mesmo nome, de Sandusky, Ohio - com uma mistura de tristeza melancólica, irascibilidade e brilho incrustado de purpurina, que dá ao papel textura e tenacidade.
Quando conhecemos Pat, ele se assemelha a qualquer outro residente da sua casa de repouso: um idoso mal humorado. Então, ao deixar esse cenário, Todd Stephens expõe lentamente detalhes do passado agitado da vida do protagonista. Reunindo materiais e memórias pelo caminho.
Há um ex-companheiro, que parece ter falecido em circunstâncias trágicas; sua antiga casa, agora um terreno vazio; uma cabeleireira e estilista arquirrival, interpretada com o típico glamour exagerado por Jennifer Coolidge; e a falecida cliente que o colocou nesta jornada, a quem ele descreve como: “Um monstro republicano exigente”, antes de acrescentar, com um leve sorriso, “... eu a adorava”.
O roteiro de Stephens é apimentado com essas reflexões agridoces e causa impacto ao posicionar Pat como uma espécie de estadista mais velho da comunidade LGBTQ. Uma cena lindamente ambientada, mostra Pat e um velho amigo, tristemente assistindo a dois jovens pais gays, brincarem com seus filhos. Progresso antes impensável, diante de seus olhos.
Fora dessas cenas, no entanto, o filme se desenrola sem pormenores, enquanto Pat segue para seu próximo encontro nostálgico. É quase insignificante: as maiores apostas dizem respeito a rastrear uma marca antiga de xampu, mas que nos envolve em pequenas considerações. Em sua soberba atuação, Kier torna Pat simpático, apesar de suas carrancas fulminantes.
Ele oferece looks em todos os tipos de modas fabulosas - de um terno de safári pastel a um chapéu rosa de velhinha - enquanto fuma cigarros como se não houvesse amanhã. Embora nem sempre tão profundo quanto pretende, Brilho para a Eternidade é um reflexo caloroso de uma vida bem vivida.
Espero que não sejam necessários mais 200 filmes antes que Udo Kier tenha seu próximo papel principal. Se é possível para um septuagenário prolífico ser uma revelação, é exatamente isso que este surpreendente longa nos traz.
Este primoroso longa, é um retrato condolente e justo sobre o alcoolismo. Há uma cena particularmente brilhante, na qual a câmera segue em direção ao interior de um copo, como se levasse o espectador ao fundo de um poço ou para um abismo, simbolizando assim a jornada que será testemunhada a partir dali (isso sem mencionar o formato circular da borda do copo, que transmite a ideia de um ciclo vicioso).
É curioso observar também que mesmo tendo o drama como o seu principal condutor, o filme transita com desenvoltura entre outros tons, ao possuir doses notáveis de humor aplicados de maneira cirúrgica, de modo a não prejudicar a dramaticidade da narrativa e a delicadeza de seu tema. A obra também usa a linguagem do horror para retratar o verdadeiro pesadelo em que Don se encontra durante as cenas passadas na ala de alcoólicos de um hospital, e na cena em que sofre com as alucinações, provocados pela abstinência.
Mas o maior mérito do roteiro de Wilder, juntamente com Charles Brackett, está na construção do personagem principal, ligando seu alcoolismo às suas frustrações como escritor. Além disso, é triste assistirmos Don abrindo mão dos próprios princípios em nome do vício, sem ao menos perceber isso, como na cena em que tenta furtar a bolsa de uma mulher, e como a contestação de tal abdicação o atinge como uma marreta quando é chamado de ladrão. Os diálogos escritos por Wilder e Brackett são extremamente sagazes, e muitas vezes até cínicos, passando a mensagem do filme sem nenhuma aura moralista.
O filme pinta um retrato melancólico, mas honesto da vida de um viciado, pecando apenas por uma conclusão um pouco simplista. Mas isso não tira o mérito da obra de retratar os “Terríveis Fins de Semana” enfrentados não só por alcoólatras, mas por outros viciados, que continuam a acontecer de forma recorrente, até se tornarem um começo ou um fim na vida dessas pessoas.
Antes de qualquer coisa, vale dizer que este é um filme abstrato, cheio de simbolismo e significados subliminares. As obviedades das imagens e atos não são limitadas ao concreto, seus sentidos vão além do que é imediatamente percebido.
A partir de uma narrativa que por vezes assume uma estética experimental, Persona discute questões existenciais profundas, como identidade, sexualidade, trauma e a incomunicabilidade humana.
Liv Ullmann e Bibi Andersson entregam duas performances que ao mesmo tempo se contrapõem e se complementam, em um jogo de repulsa e desejo que torna este um dos filmes mais complexos da história do cinema. É considerado um adensamento do foco psicológico que Bergman costumava dar às suas obras, já que a narrativa se desenvolve, majoritariamente, a partir do embate entre duas personagens aparentemente antagônicas que confrontam experiências e posicionamentos perante o mundo.
São os dois polos das várias dicotomias que nos constituem como seres humanos: rosto/máscara, realidade/aparência, eu/outro, real/imaginário, palavra/silêncio, alma/corpo, sombra/luz. Sendo a principal delas o conflito psíquico entre Elizabeth, aquela que recalca e adoece, e Alma, aquela de onde provém a cura.
Filme competente ao mostrar o outro lado da dependência química: o da família! Não é a história do dependente, mas da irmã, do padrasto e principalmente da mãe e como eles lidam com esse retorno de alguém amado, mas que tem um problema.
Os principais momentos de angústia são por causa da atuação impecável de Julia Roberts. O que falta é justamente trazer um pouco do contexto do personagem de Lucas Hedges (Ben) e as causas que levaram a família chegar neste ponto.
O roteiro é profundo, mas não pesado e tem todo o envolvimento familiar/social. Nesse caso vemos uma direção que realmente soube usar tudo que tinha, e fez dar certo com elementos comuns. Vale a reflexão de que nossos atos impactam muito além de nós mesmos. Um filmão!
Realmente um belíssimo filme, que retrata toda a pobreza de uma Itália pós-guerra e a luta de um pai para sustentar a família de forma honesta e quando consegue um bom emprego precisa penhorar as roupas de cama para conseguir dinheiro para comprar uma bicicleta, imprescindível para o novo trabalho. Apoiado pela esposa e seu pequeno filho, tudo parece melhorar até que a bicicleta é roubada.
A busca incansável pela bicicleta, o cenário caótico de Roma, desemprego, pobreza, belas imagens e um final que mostra toda a dureza de sobreviver honestamente em um período sem perspectivas.
Apesar de diversos atores amadores, De Sicca consegue retratar com maestria toda a tristeza da época. Um clássico que merece um lugar reservado entre os melhores filmes da história do cinema.
Pra mim, o melhor filme de romance já feito. É de uma beleza poética indescritível.
Conta uma história de amor com todas as suas nuances, onde em meio a crises, paixões e preconceitos se precisa tomar uma decisão que pode afetar o resto de suas vidas.
Pode-se dizer que “As pontes de Madison” é uma ode à simplicidade. Ninguém melhor do que eles para expressar tal beleza. Como Francesca afirma, à certa altura, ela vive uma vida de “detalhes”. Detalhes, esses, que não escapam à percepção de Robert. Com seu olhar de fotógrafo, treinado para captar beleza, ele percebe a sedutora mulher que há em Francesca quando ela, do auge de sua maturidade, prepara o chá, seleciona os legumes, fala de si e dos seus com paciência e pudor.
O encontro de Robert e Francesca é um dos mais comoventes e profundos da história do cinema. A despeito dos seus contrastes, a provinciana dona de casa que não conhece muito além da cidade em que vive e o fotógrafo cosmopolita da National Geographic, com uma rica bagagem de experiências pelo mundo, o filme nos convence de que eles foram feitos um para o outro.
Uma doce melancolia atravessa todo esse cenário. Os pés no chão, o senso de responsabilidade e a pesada consciência das condições concretas, típica de quem já passou dos quarenta, deixam no ar a idéia de que já não há mais tempo para este amor. Ele chegou tarde.
Fazia tempo que não assistia um filme de terror que me surpreendesse tão positivamente. Impactante com todos os elementos para "dar aquele susto". Bem atuado, estória interessante e forte. Confira. Vale mesmo a pena!
Há meio século Stanley Kubrick levava aos cinemas: 2001 - Uma Odisseia no Espaço. Apenas me resta imaginar os espectadores, daquela época, boquiabertos com as inúmeras cenas tecnicamente impecáveis. Desde "A Aurora do Homem" até "Júpiter e Além do Infinito", quem assistiu o longa em 1968 deve ter se perdido na tênue linha que separa a ficção e a realidade graças à caracterização dos hominídeos, aos efeitos especiais pioneiros e aos cenários realistas nos mínimos detalhes.
Era um momento da história em que as duas superpotências mundiais existentes (EUA e URSS) disputavam o controle e influência política sobre o nosso planeta. Um dos principais acontecimentos científicos até aquele momento tinha sido o envio por ambos os países de foguetes tripulados para o espaço, numa luta de gigantes em cada um procurava vencer, uma maratona transformada em corrida espacial. Foi com tais ingredientes que surgiu um trabalho cinematográfico magnífico falando exatamente sobre essa matéria.
O Universo ainda era algo obscuro para nós e foi isso que Kubrick quis mostrar, propondo-nos a reflexão mais complexa que o cinema até aos dias de hoje já viu. O realizador iniciou este filme nos dizendo que se levamos anos para dominar as ferramentas ao nosso dispor e a sobreviver neste planeta Terra, no espaço sideral regressamos às origens, teremos de reaprender tudo, mas desta vez sem gravidade, pois os objetos fogem das nossas mãos e até caminhar torna-se algo muito difícil. Em conclusão Stanley Kubrick faz em 2001 Odisseia no Espaço uma abordagem para o próximo passo da evolução humana, nos fazendo questionar sobre nossa própria existência.
Aqueles que assistem este filme nos dias atuais provavelmente o chamará de monótono. Afinal, são mais de duas horas de uma história com poucos diálogos. Além disso, à primeira vista o enredo está cheio de clichês. Entretanto, justiça seja feita, é enquanto assistimos "2001" que percebemos o legado que deixou à sétima arte: os planos de sequências fora da nave; a guinada psicótica do computador HAL-9000, um tema cada vez mais explorado no gênero sci-fi; e até mesmo o formato da nave. Tudo isso vem sendo homenageado (leia-se: reciclado e plagiado), por roteiristas do mundo todo a cinco décadas.
Confesso que dormi nas duas primeiras tentativas (por causa da lentidão *rs), a música é ótima, porém os efeitos sonoros foram extremamente incômodos para mim em diversos momentos; o roteiro e a moral que o filme tenta transmitir são coisas de gênio.
Uma das experiências mais fantásticas da história do cinema. Absolutamente recomendado àqueles que gostam de um cinema mais filosófico, mas nada recomendado àqueles que gostam da ficção científica estilo Star Wars. Um orgasmo visual. Uma obra difícil de descrever por ser tão densa, profunda, ímpar. E para mim, impossível de assistir novamente.
Este filme conta a história do jovem Ephraim Winslow (Pattinson), contratado pelo veterano faroleiro Thomas Wake (Dafoe), para ajudá-lo na manutenção de uma pequena ilha próxima ao litoral britânico, no final do século XIX. Estranhando o comportamento grosseiro e arrogante de Thomas, logo Ephraim começa a ficar obcecado em querer saber o que o companheiro tanto esconde no topo do gigantesco farol da ilha – em meio a isso, sendo atormentado pelas aves do local, além de estranhas visões e sonhos misteriosos.
Creio que apenas pela sinopse, é notório captar o clima que Eggers esta disposto a passar – isso ainda é escancarado pela decisão primorosa de filmar o longa em preto e branco e no formato de imagem 1:19:1 (que é quase o mesmo das antigas Tv’s de tubo, mais próximo de um quadrado do que do retângulo da maioria das produções atuais) – é praticamente impossível não encarar O Farol como um pesadelo visual renascentista – que vai se assemelhar com pinturas famosas clássicas e do cinema italiano das décadas de 40 e 50, ou de obras como o clássico O Sétimo Selo de Ingmar Bergman e do expressionismo alemão, como no cinema mudo, com O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, como exemplos.
É preciso mencionar desde já que o trabalho sonoro aqui é valioso: os sons emitidos pelo farol e as águas batendo nos rochedos da pequena ilha não deixam de soar assustadores, como se o local fosse um ser vivo – ou um monstro mesmo – e, dentro da casa onde os dois personagens aparecem, é louvável o trabalho da direção de arte em fazer o ambiente soar sombrio e sujo, trazendo veracidade na personalidade do Thomas de William Dafoe – algo que, sem o uso de cores, poderia ser mais difícil de demonstrar – mas ao utilizar sombras nos cantos dos corredores, nas frestas entre as madeiras que formam as paredes do local ou o simples assoalho cheio de furos, estabelecem bem a insalubridade do ambiente – que só é mudada quando temos um lapso de visão do que haveria dentro do topo do tal farol – ali, obviamente, a claridade culmina – em uma representação visual.
Eggers é tão inteligente em sua abordagem, que, para apresentar os dois personagens, ele não necessita de nenhum diálogo – os dez primeiros minutos de filme praticamente não possuem nenhuma fala – tudo para vermos o início da relação dos dois, através de suas rotinas diárias no trabalho e alimentação – e, obviamente, não poderíamos deixar de falar do trabalho incrível dos dois atores – Robert Pattinson mais uma vez demonstra todo seu talento, ao mergulhar em um personagem complexo, que de uma aparente timidez e seriedade, vai aos poucos demonstrando suas reais facetas (e segredos), que formam sua real persona – enquanto que William Dafoe se mostra como um ser incrivelmente arrogante, grosseiro e vulgar – capaz de ser exigente com seu subordinado apenas por capricho e crueldade, muitas vezes.
Mas o mais bizarro é que de um contato tão errante e infernal, acaba aparecendo doses surpreendentes de amizade – uma verdadeira relação de amor e ódio (mais para o ódio, podemos dizer).
O diretor exige algum conhecimento externo por parte do espectador para a compreensão – recomendo pesquisar sobre a mitologia grega, principalmente a história de Prometheus e Zeus (ou Proteu) – enfim, O Farol é sobre solidão e autoconhecimento; mas também uma crítica ao machismo estrutural – e uma boa maneira de refletir isso é colocando dois homens heterossexuais em um ambiente fechado e obriga-los a serem o mais próximo possível de serem amigos. Sendo assim, o filme pode ser visto sob duas óticas diferentes: uma contando com a visão crítica ao machismo e sua busca por superar seu próximo na sociedade ou uma alusão alegórica que se assemelha a busca de fogo (conhecimento) por parte de Prometheus – em ambas as visões a mitologia estará presente.
O Farol é, também, um painel do que a inconsequência da masculinidade tóxica traz ao mundo – a cena em que, após as bebedeiras (outro vício do homem) e danças, os dois personagens quase se beijam, mas quase se batem antes disso, mostrando o orgulho do homem machista em manter sua masculinidade “intacta” – mesmo que sozinhos ali, sem ninguém ou a sociedade os vendo ou julgando, o pensamento fechado e destrutivo não dá espaço para evitar a homofobia – o homem preconceituoso é tão orgulhoso que não pode aceitar a homossexualidade, de nenhuma forma. Ainda é visível tais sentimentos de repulsa a mulher quando Thomas fala de sua ex esposa – ele prefere estar no mar sozinho do que estar próximo de sua mulher – representando, possivelmente, como alguns homens só sabem ver as companheiras como um mero apoio ou, lamentavelmente, como incômodos.
Todos esses simbolismos, criatividade e críticas, tornam o Farol um trabalho para agradar quem está atrás de um filme que faz pensar e, acredite, mesmo que você não pegue todas as referências do filme de uma só vez, as imagens perturbadoras e seus mistérios ficarão em sua cabeça, algo que somente as grandes obras-primas do terror conseguem fazer.
Gritos e Sussurros vem com toda dramaticidade silenciosa e cruel de Bergman: a angústia do homem sempre sozinho, amedrontado, revoltado com sua condição. Nesse acerto de contas entre irmãs, percebe-se três personalidades, três formas de lidar com o amargor, os rancores, o ódio. Karin, a mais velha, tem uma consciência ampliada, diz conseguir enxergar tudo. Nesse excesso de consciência e por características pessoais, acaba por sobrepor a feiura do mundo à beleza, assumindo atitude de luto, de ódio, de resignado sofrer. Maria segue a linha oposta de relação com a revolta: indiferença, cinismo, desprezo. Agnes por outro lado, revela-se fervorosa, numa atitude de santo. Martiriza-se para não agredir o outro. Excessivamente consciente do mundo, como todas, assume postura de otimismo resignação e autoflagelo que leva a morrer dos nervos. A empregada apara-se em total na fé, sendo supridos seus desejos pela santidade e resignação. Ótima fotografia, paisagem silenciosa e triste típica da Escandinávia emoldurando um conflito de família. Grande obra-prima!
Hitchcock nos presenteia com um filme, que nos prende na cadeira, com movimentos de câmera precisos, interpretações muito boas e com uma inversão de nossa moralidade de acordo com o desenvolvimento do filme. Logo no início já é estabelecido em um minuto que a protagonista (a exuberante Grace Kelly) é casada e tem um amante. Como é a adaptação de uma peça de teatro, ele quis fazer como tal e assim o filmou todo dentro do apartamento. Nem por isso ficamos entediados. Ele consegue que assistamos as quase duas horas de filme sem nem percebermos que estamos praticamente o tempo todo dentro de um cômodo. Com cada movimento de câmera ele quer nos mostrar detalhes dos acontecimentos. Hitchcock nos envolve de maneira que em momentos torçamos pelo bandido, indo de encontro a nossa moralidade, para depois voltarmos e ver que não é bem assim. Destaque para o figurino de Grace Kelly que Hitchcock estabelece logo uma diferença entre o que ela usa para o marido e o amante. Ele opta também em uma cena a partir de cores atrás de nossa protagonista para expressar o que está acontecendo, mais uma vez mostra que ele não quis sair do aspecto teatral do filme. Mais um acerto de um diretor que soube como ninguém usar sua habilidade cinematográfica para nos contar uma história.
OBS: Hitchcock mandou fazer um telefone enorme e um dedo também para uma cena em que ele quis dar um close no momento da discagem.
Barry Lyndon é a história de um ambicioso irlandês sem futuro, ou a esperança de que ele pretenda alcançar uma alta posição social, tornando-se parte da nobreza inglesa do século XVIII. Para Lyndon (Ryan O 'Neal), as respostas sobre como alcançar o poder e suas ambições são simples: de qualquer maneira possível. Sua ascensão à riqueza em uma suntuosa revisão realizada por Staley Kubrick baseado no romance de William Makepeace, As Memórias de Barry Lyndon. Para a criação desta inteligente sátira, ganhadora de quatro prêmios da Academia em 1975, Kubrick encontrou inspiração nas obras dos pintores da época, colocando em exposição o excelente ambiente cinematográfico que em todos os aspectos alicerçam o filme. Os aspectos técnicos, objetivos, pioneiros de utilização das câmeras foram desenvolvidos e utilizados para fotografar ao ar livre e nos interiores, obtendo um efeito de luz natural, incluindo cenas noturnas iluminadas por velas. Barry Lyndon permanece como um filme de vanguarda que recupera um período da história como nunca visto na tela grande. Uma obra-prima de um realizador cujos filmes são todos magníficos.
Muito bom, porém com falhas consideráveis. O filme foca muito nos homens de Elis e deixa passar o momento político (Ditadura militar) em que ela viveu, além de não abordar mais profundamente alguns aspectos importantes da personalidade dessa mulher: mãe e amiga. A interpretação de Andrea Horta está impecável.
Depois do Vendaval
3.7 63 Assista AgoraNão há como ser traduzida para algo positivo a sequência em que John Wayne arrasta Maureen O´Hara pelas ruas, com uma multidão seguindo o casal, fazendo apostas. Em outro momento, alguém oferece uma vareta para que ele “bata na adorável mulher”. É uma imagem que não envelheceu bem, e sinceramente, desvalida os méritos do filme.
Infelizmente, não é apenas a abordagem sexista da época que tira o brilho da obra. Ford teve um sério problema em decidir os caminhos tomados pelo filme. Temos um primeiro ato romântico, de tons leves e monótonos, mas logo entramos no drama da revelação de acontecimentos do passado de Thornton. Aqui há uma mudança necessária de abordagem, mais séria e sem muitas piadas. Mas logo que decide não considerar isso interessante o suficiente, volta para as picuinhas e a rivalidade entre noivo e cunhado. Ficamos com uma sequência que toma conta de quase todo o terceiro ato, com a dupla transformando a cidade inteira em um ringue de boxe.
Não deixei de olhar para o relógio pelo ritmo tedioso que toma conta do filme.
Noites de Circo
3.9 49“Posso não viver sozinha para sempre, mas ninguém vai tirar minha paz e liberdade!” 👏🏻👏🏻👏🏻
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraEu que não sou de chorar, terminei com uma tímida lágrima percorrendo a face esquerda.
Que filme! Senhoras e senhores! Que filme!
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraSimplesmente fantástico. Concordo que não é para todo tipo de público, tendo em vista que necessita-se de sensibilidade, imaginação e compreensão aguçada, para se transportar para a imensidão que é todo o enredo.
Em relação a parte técnica, fica nítido o quanto o filme é bem produzido, dirigido, sem aparas. Cada trilha sonora em seu momento, os alívios cômicos que mesmo assim conseguem passar emoção, as cenas extremamente criativas e bem construídas, tornam o filme algo que se degustado de maneira correta, envolve e instiga o expectador.
O Tio
1.8 10 Assista AgoraDesenhando: O tio retratado no filme, são distúrbios psiquiátricos.
Filme que tem um ritmo propositalmente cadenciado e angustiante.
Não veria novamente.
Chove Sobre Nosso Amor
3.7 30De certo um dos filmes mais lindos que já vi ❤️
O Massacre na Universidade de Idaho
2.5 6 Assista AgoraDocumentário raso... 🫤
Brilho Para a Eternidade
3.5 16 Assista AgoraO sublime Udo Kier, dominou todas as cenas dessa comédia dramática, gentil e terna.
Ele interpreta Pat Pitsenbarger - baseado em uma "lenda queer" da vida real de mesmo nome, de Sandusky, Ohio - com uma mistura de tristeza melancólica, irascibilidade e brilho incrustado de purpurina, que dá ao papel textura e tenacidade.
Quando conhecemos Pat, ele se assemelha a qualquer outro residente da sua casa de repouso: um idoso mal humorado. Então, ao deixar esse cenário, Todd Stephens expõe lentamente detalhes do passado agitado da vida do protagonista. Reunindo materiais e memórias pelo caminho.
Há um ex-companheiro, que parece ter falecido em circunstâncias trágicas; sua antiga casa, agora um terreno vazio; uma cabeleireira e estilista arquirrival, interpretada com o típico glamour exagerado por Jennifer Coolidge; e a falecida cliente que o colocou nesta jornada, a quem ele descreve como: “Um monstro republicano exigente”, antes de acrescentar, com um leve sorriso, “... eu a adorava”.
O roteiro de Stephens é apimentado com essas reflexões agridoces e causa impacto ao posicionar Pat como uma espécie de estadista mais velho da comunidade LGBTQ. Uma cena lindamente ambientada, mostra Pat e um velho amigo, tristemente assistindo a dois jovens pais gays, brincarem com seus filhos. Progresso antes impensável, diante de seus olhos.
Fora dessas cenas, no entanto, o filme se desenrola sem pormenores, enquanto Pat segue para seu próximo encontro nostálgico.
É quase insignificante: as maiores apostas dizem respeito a rastrear uma marca antiga de xampu, mas que nos envolve em pequenas considerações. Em sua soberba atuação, Kier torna Pat simpático, apesar de suas carrancas fulminantes.
Ele oferece looks em todos os tipos de modas fabulosas - de um terno de safári pastel a um chapéu rosa de velhinha - enquanto fuma cigarros como se não houvesse amanhã.
Embora nem sempre tão profundo quanto pretende, Brilho para a Eternidade é um reflexo caloroso de uma vida bem vivida.
Espero que não sejam necessários mais 200 filmes antes que Udo Kier tenha seu próximo papel principal. Se é possível para um septuagenário prolífico ser uma revelação, é exatamente isso que este surpreendente longa nos traz.
Farrapo Humano
4.2 225 Assista Agora~ Farrapo humano (1945)
~ Direção: Billy Wilder
Este primoroso longa, é um retrato condolente e justo sobre o alcoolismo.
Há uma cena particularmente brilhante, na qual a câmera segue em direção ao interior de um copo, como se levasse o espectador ao fundo de um poço ou para um abismo, simbolizando assim a jornada que será testemunhada a partir dali (isso sem mencionar o formato circular da borda do copo, que transmite a ideia de um ciclo vicioso).
É curioso observar também que mesmo tendo o drama como o seu principal condutor, o filme transita com desenvoltura entre outros tons, ao possuir doses notáveis de humor aplicados de maneira cirúrgica, de modo a não prejudicar a dramaticidade da narrativa e a delicadeza de seu tema. A obra também usa a linguagem do horror para retratar o verdadeiro pesadelo em que Don se encontra durante as cenas passadas na ala de alcoólicos de um hospital, e na cena em que sofre com as alucinações, provocados pela abstinência.
Mas o maior mérito do roteiro de Wilder, juntamente com Charles Brackett, está na construção do personagem principal, ligando seu alcoolismo às suas frustrações como escritor. Além disso, é triste assistirmos Don abrindo mão dos próprios princípios em nome do vício, sem ao menos perceber isso, como na cena em que tenta furtar a bolsa de uma mulher, e como a contestação de tal abdicação o atinge como uma marreta quando é chamado de ladrão. Os diálogos escritos por Wilder e Brackett são extremamente sagazes, e muitas vezes até cínicos, passando a mensagem do filme sem nenhuma aura moralista.
O filme pinta um retrato melancólico, mas honesto da vida de um viciado, pecando apenas por uma conclusão um pouco simplista. Mas isso não tira o mérito da obra de retratar os “Terríveis Fins de Semana” enfrentados não só por alcoólatras, mas por outros viciados, que continuam a acontecer de forma recorrente, até se tornarem um começo ou um fim na vida dessas pessoas.
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista Agora~ Persona (1966) - Ingmar Bergman
Antes de qualquer coisa, vale dizer que este é um filme abstrato, cheio de simbolismo e significados subliminares. As obviedades das imagens e atos não são limitadas ao concreto, seus sentidos vão além do que é imediatamente percebido.
A partir de uma narrativa que por vezes assume uma estética experimental, Persona discute questões existenciais profundas, como identidade, sexualidade, trauma e a incomunicabilidade humana.
Liv Ullmann e Bibi Andersson entregam duas performances que ao mesmo tempo se contrapõem e se complementam, em um jogo de repulsa e desejo que torna este um dos filmes mais complexos da história do cinema. É considerado um adensamento do foco psicológico que Bergman costumava dar às suas obras, já que a narrativa se desenvolve, majoritariamente, a partir do embate entre duas personagens aparentemente antagônicas que confrontam experiências e posicionamentos perante o mundo.
São os dois polos das várias dicotomias que nos constituem como seres humanos: rosto/máscara, realidade/aparência, eu/outro, real/imaginário, palavra/silêncio, alma/corpo, sombra/luz.
Sendo a principal delas o conflito psíquico entre Elizabeth, aquela que recalca e adoece, e Alma, aquela de onde provém a cura.
O Retorno de Ben
3.4 175 Assista AgoraFilme competente ao mostrar o outro lado da dependência química: o da família! Não é a história do dependente, mas da irmã, do padrasto e principalmente da mãe e como eles lidam com esse retorno de alguém amado, mas que tem um problema.
Os principais momentos de angústia são por causa da atuação impecável de Julia Roberts.
O que falta é justamente trazer um pouco do contexto do personagem de Lucas Hedges (Ben) e as causas que levaram a família chegar neste ponto.
O roteiro é profundo, mas não pesado e tem todo o envolvimento familiar/social. Nesse caso vemos uma direção que realmente soube usar tudo que tinha, e fez dar certo com elementos comuns.
Vale a reflexão de que nossos atos impactam muito além de nós mesmos. Um filmão!
Ladrões de Bicicleta
4.4 533 Assista AgoraRealmente um belíssimo filme, que retrata toda a pobreza de uma Itália pós-guerra e a luta de um pai para sustentar a família de forma honesta e quando consegue um bom emprego precisa penhorar as roupas de cama para conseguir dinheiro para comprar uma bicicleta, imprescindível para o novo trabalho.
Apoiado pela esposa e seu pequeno filho, tudo parece melhorar até que a bicicleta é roubada.
A busca incansável pela bicicleta, o cenário caótico de Roma, desemprego, pobreza, belas imagens e um final que mostra toda a dureza de sobreviver honestamente em um período sem perspectivas.
Apesar de diversos atores amadores, De Sicca consegue retratar com maestria toda a tristeza da época. Um clássico que merece um lugar reservado entre os melhores filmes da história do cinema.
Voltando para Casa no Escuro
2.7 55 Assista AgoraDemorei um mês pra terminar de ver esse filme. Sofrível.
A Vingança dos Zombies
2.8 3 Assista AgoraFilme de 61 minutos que se transformam em 4 horas pela chatice.
As Pontes de Madison
4.2 840 Assista AgoraPra mim, o melhor filme de romance já feito. É de uma beleza poética indescritível.
Conta uma história de amor com todas as suas nuances, onde em meio a crises, paixões e preconceitos se precisa tomar uma decisão que pode afetar o resto de suas vidas.
Pode-se dizer que “As pontes de Madison” é uma ode à simplicidade. Ninguém melhor do que eles para expressar tal beleza. Como Francesca afirma, à certa altura, ela vive uma vida de “detalhes”. Detalhes, esses, que não escapam à percepção de Robert. Com seu olhar de fotógrafo, treinado para captar beleza, ele percebe a sedutora mulher que há em Francesca quando ela, do auge de sua maturidade, prepara o chá, seleciona os legumes, fala de si e dos seus com paciência e pudor.
O encontro de Robert e Francesca é um dos mais comoventes e profundos da história do cinema. A despeito dos seus contrastes, a provinciana dona de casa que não conhece muito além da cidade em que vive e o fotógrafo cosmopolita da National Geographic, com uma rica bagagem de experiências pelo mundo, o filme nos convence de que eles foram feitos um para o outro.
Uma doce melancolia atravessa todo esse cenário. Os pés no chão, o senso de responsabilidade e a pesada consciência das condições concretas, típica de quem já passou dos quarenta, deixam no ar a idéia de que já não há mais tempo para este amor. Ele chegou tarde.
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraFazia tempo que não assistia um filme de terror que me surpreendesse tão positivamente.
Impactante com todos os elementos para "dar aquele susto". Bem atuado, estória interessante e forte. Confira. Vale mesmo a pena!
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraHá meio século Stanley Kubrick levava aos cinemas: 2001 - Uma Odisseia no Espaço.
Apenas me resta imaginar os espectadores, daquela época, boquiabertos com as inúmeras cenas tecnicamente impecáveis. Desde "A Aurora do Homem" até "Júpiter e Além do Infinito", quem assistiu o longa em 1968 deve ter se perdido na tênue linha que separa a ficção e a realidade graças à caracterização dos hominídeos, aos efeitos especiais pioneiros e aos cenários realistas nos mínimos detalhes.
Era um momento da história em que as duas superpotências mundiais existentes (EUA e URSS) disputavam o controle e influência política sobre o nosso planeta. Um dos principais acontecimentos científicos até aquele momento tinha sido o envio por ambos os países de foguetes tripulados para o espaço, numa luta de gigantes em cada um procurava vencer, uma maratona transformada em corrida espacial. Foi com tais ingredientes que surgiu um trabalho cinematográfico magnífico falando exatamente sobre essa matéria.
O Universo ainda era algo obscuro para nós e foi isso que Kubrick quis mostrar, propondo-nos a reflexão mais complexa que o cinema até aos dias de hoje já viu. O realizador iniciou este filme nos dizendo que se levamos anos para dominar as ferramentas ao nosso dispor e a sobreviver neste planeta Terra, no espaço sideral regressamos às origens, teremos de reaprender tudo, mas desta vez sem gravidade, pois os objetos fogem das nossas mãos e até caminhar torna-se algo muito difícil. Em conclusão Stanley Kubrick faz em 2001 Odisseia no Espaço uma abordagem para o próximo passo da evolução humana, nos fazendo questionar sobre nossa própria existência.
Aqueles que assistem este filme nos dias atuais provavelmente o chamará de monótono. Afinal, são mais de duas horas de uma história com poucos diálogos. Além disso, à primeira vista o enredo está cheio de clichês. Entretanto, justiça seja feita, é enquanto assistimos "2001" que percebemos o legado que deixou à sétima arte: os planos de sequências fora da nave; a guinada psicótica do computador HAL-9000, um tema cada vez mais explorado no gênero sci-fi; e até mesmo o formato da nave. Tudo isso vem sendo homenageado (leia-se: reciclado e plagiado), por roteiristas do mundo todo a cinco décadas.
Confesso que dormi nas duas primeiras tentativas (por causa da lentidão *rs), a música é ótima, porém os efeitos sonoros foram extremamente incômodos para mim em diversos momentos; o roteiro e a moral que o filme tenta transmitir são coisas de gênio.
Uma das experiências mais fantásticas da história do cinema. Absolutamente recomendado àqueles que gostam de um cinema mais filosófico, mas nada recomendado àqueles que gostam da ficção científica estilo Star Wars.
Um orgasmo visual. Uma obra difícil de descrever por ser tão densa, profunda, ímpar. E para mim, impossível de assistir novamente.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraEste filme conta a história do jovem Ephraim Winslow (Pattinson), contratado pelo veterano faroleiro Thomas Wake (Dafoe), para ajudá-lo na manutenção de uma pequena ilha próxima ao litoral britânico, no final do século XIX. Estranhando o comportamento grosseiro e arrogante de Thomas, logo Ephraim começa a ficar obcecado em querer saber o que o companheiro tanto esconde no topo do gigantesco farol da ilha – em meio a isso, sendo atormentado pelas aves do local, além de estranhas visões e sonhos misteriosos.
Creio que apenas pela sinopse, é notório captar o clima que Eggers esta disposto a passar – isso ainda é escancarado pela decisão primorosa de filmar o longa em preto e branco e no formato de imagem 1:19:1 (que é quase o mesmo das antigas Tv’s de tubo, mais próximo de um quadrado do que do retângulo da maioria das produções atuais) – é praticamente impossível não encarar O Farol como um pesadelo visual renascentista – que vai se assemelhar com pinturas famosas clássicas e do cinema italiano das décadas de 40 e 50, ou de obras como o clássico O Sétimo Selo de Ingmar Bergman e do expressionismo alemão, como no cinema mudo, com O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, como exemplos.
É preciso mencionar desde já que o trabalho sonoro aqui é valioso: os sons emitidos pelo farol e as águas batendo nos rochedos da pequena ilha não deixam de soar assustadores, como se o local fosse um ser vivo – ou um monstro mesmo – e, dentro da casa onde os dois personagens aparecem, é louvável o trabalho da direção de arte em fazer o ambiente soar sombrio e sujo, trazendo veracidade na personalidade do Thomas de William Dafoe – algo que, sem o uso de cores, poderia ser mais difícil de demonstrar – mas ao utilizar sombras nos cantos dos corredores, nas frestas entre as madeiras que formam as paredes do local ou o simples assoalho cheio de furos, estabelecem bem a insalubridade do ambiente – que só é mudada quando temos um lapso de visão do que haveria dentro do topo do tal farol – ali, obviamente, a claridade culmina – em uma representação visual.
Eggers é tão inteligente em sua abordagem, que, para apresentar os dois personagens, ele não necessita de nenhum diálogo – os dez primeiros minutos de filme praticamente não possuem nenhuma fala – tudo para vermos o início da relação dos dois, através de suas rotinas diárias no trabalho e alimentação – e, obviamente, não poderíamos deixar de falar do trabalho incrível dos dois atores – Robert Pattinson mais uma vez demonstra todo seu talento, ao mergulhar em um personagem complexo, que de uma aparente timidez e seriedade, vai aos poucos demonstrando suas reais facetas (e segredos), que formam sua real persona – enquanto que William Dafoe se mostra como um ser incrivelmente arrogante, grosseiro e vulgar – capaz de ser exigente com seu subordinado apenas por capricho e crueldade, muitas vezes.
Mas o mais bizarro é que de um contato tão errante e infernal, acaba aparecendo doses surpreendentes de amizade – uma verdadeira relação de amor e ódio (mais para o ódio, podemos dizer).
O diretor exige algum conhecimento externo por parte do espectador para a compreensão – recomendo pesquisar sobre a mitologia grega, principalmente a história de Prometheus e Zeus (ou Proteu) – enfim, O Farol é sobre solidão e autoconhecimento; mas também uma crítica ao machismo estrutural – e uma boa maneira de refletir isso é colocando dois homens heterossexuais em um ambiente fechado e obriga-los a serem o mais próximo possível de serem amigos. Sendo assim, o filme pode ser visto sob duas óticas diferentes: uma contando com a visão crítica ao machismo e sua busca por superar seu próximo na sociedade ou uma alusão alegórica que se assemelha a busca de fogo (conhecimento) por parte de Prometheus – em ambas as visões a mitologia estará presente.
O Farol é, também, um painel do que a inconsequência da masculinidade tóxica traz ao mundo – a cena em que, após as bebedeiras (outro vício do homem) e danças, os dois personagens quase se beijam, mas quase se batem antes disso, mostrando o orgulho do homem machista em manter sua masculinidade “intacta” – mesmo que sozinhos ali, sem ninguém ou a sociedade os vendo ou julgando, o pensamento fechado e destrutivo não dá espaço para evitar a homofobia – o homem preconceituoso é tão orgulhoso que não pode aceitar a homossexualidade, de nenhuma forma. Ainda é visível tais sentimentos de repulsa a mulher quando Thomas fala de sua ex esposa – ele prefere estar no mar sozinho do que estar próximo de sua mulher – representando, possivelmente, como alguns homens só sabem ver as companheiras como um mero apoio ou, lamentavelmente, como incômodos.
Todos esses simbolismos, criatividade e críticas, tornam o Farol um trabalho para agradar quem está atrás de um filme que faz pensar e, acredite, mesmo que você não pegue todas as referências do filme de uma só vez, as imagens perturbadoras e seus mistérios ficarão em sua cabeça, algo que somente as grandes obras-primas do terror conseguem fazer.
Gritos e Sussurros
4.3 472Gritos e Sussurros vem com toda dramaticidade silenciosa e cruel de Bergman: a angústia do homem sempre sozinho, amedrontado, revoltado com sua condição. Nesse acerto de contas entre irmãs, percebe-se três personalidades, três formas de lidar com o amargor, os rancores, o ódio.
Karin, a mais velha, tem uma consciência ampliada, diz conseguir enxergar tudo. Nesse excesso de consciência e por características pessoais, acaba por sobrepor a feiura do mundo à beleza, assumindo atitude de luto, de ódio, de resignado sofrer.
Maria segue a linha oposta de relação com a revolta: indiferença, cinismo, desprezo.
Agnes por outro lado, revela-se fervorosa, numa atitude de santo. Martiriza-se para não agredir o outro. Excessivamente consciente do mundo, como todas, assume postura de otimismo resignação e autoflagelo que leva a morrer dos nervos.
A empregada apara-se em total na fé, sendo supridos seus desejos pela santidade e resignação.
Ótima fotografia, paisagem silenciosa e triste típica da Escandinávia emoldurando um conflito de família. Grande obra-prima!
Disque M Para Matar
4.4 680 Assista AgoraHitchcock nos presenteia com um filme, que nos prende na cadeira, com movimentos de câmera precisos, interpretações muito boas e com uma inversão de nossa moralidade de acordo com o desenvolvimento do filme.
Logo no início já é estabelecido em um minuto que a protagonista (a exuberante Grace Kelly) é casada e tem um amante.
Como é a adaptação de uma peça de teatro, ele quis fazer como tal e assim o filmou todo dentro do apartamento. Nem por isso ficamos entediados. Ele consegue que assistamos as quase duas horas de filme sem nem percebermos que estamos praticamente o tempo todo dentro de um cômodo. Com cada movimento de câmera ele quer nos mostrar detalhes dos acontecimentos.
Hitchcock nos envolve de maneira que em momentos torçamos pelo bandido, indo de encontro a nossa moralidade, para depois voltarmos e ver que não é bem assim.
Destaque para o figurino de Grace Kelly que Hitchcock estabelece logo uma diferença entre o que ela usa para o marido e o amante. Ele opta também em uma cena a partir de cores atrás de nossa protagonista para expressar o que está acontecendo, mais uma vez mostra que ele não quis sair do aspecto teatral do filme.
Mais um acerto de um diretor que soube como ninguém usar sua habilidade cinematográfica para nos contar uma história.
OBS: Hitchcock mandou fazer um telefone enorme e um dedo também para uma cena em que ele quis dar um close no momento da discagem.
Barry Lyndon
4.2 400 Assista AgoraBarry Lyndon é a história de um ambicioso irlandês sem futuro, ou a esperança de que ele pretenda alcançar uma alta posição social, tornando-se parte da nobreza inglesa do século XVIII. Para Lyndon (Ryan O 'Neal), as respostas sobre como alcançar o poder e suas ambições são simples: de qualquer maneira possível. Sua ascensão à riqueza em uma suntuosa revisão realizada por Staley Kubrick baseado no romance de William Makepeace, As Memórias de Barry Lyndon.
Para a criação desta inteligente sátira, ganhadora de quatro prêmios da Academia em 1975, Kubrick encontrou inspiração nas obras dos pintores da época, colocando em exposição o excelente ambiente cinematográfico que em todos os aspectos alicerçam o filme.
Os aspectos técnicos, objetivos, pioneiros de utilização das câmeras foram desenvolvidos e utilizados para fotografar ao ar livre e nos interiores, obtendo um efeito de luz natural, incluindo cenas noturnas iluminadas por velas.
Barry Lyndon permanece como um filme de vanguarda que recupera um período da história como nunca visto na tela grande. Uma obra-prima de um realizador cujos filmes são todos magníficos.
A Fogueira das Vaidades
3.1 89 Assista AgoraQue filme ruim, um elenco maravilhoso envolto num enredo terrível. Que desperdício.
Elis
3.5 522 Assista AgoraMuito bom, porém com falhas consideráveis.
O filme foca muito nos homens de Elis e deixa passar o momento político (Ditadura militar) em que ela viveu, além de não abordar mais profundamente alguns aspectos importantes da personalidade dessa mulher: mãe e amiga.
A interpretação de Andrea Horta está impecável.
Os Órfãos
1.8 365Nadou e morreu na beira da praia…